Em pleno século XXI, o impacto da tecnologia na sociedade já é facilmente
notado, mas o problema é como entidades totalmente enraizadas, como a imprensa, podem se adaptar a essa nova realidade. A Internet permitiu a criação de blogs, sites que podem possuir qualquer conteúdo que o internauta deseje, podendo manifestar opiniões e divulgar notícias e dados que contrariem os anunciantes dos grandes jornais. E é nesse aspecto que mora o problema, afinal é a primeira vez que o cidadão pode interferir na divulgação de informações, já que a Internet elimina a distância entre o público e jornalismo. Foi baseado nesses méritos que o jornalista espanhol Ignácio Ramonet propôs a criação de um 5º poder, como uma alternativa à dominação midiática globalizada. Afinal se o executivo, o legislativo e o judiciário constituem os três poderes, a mídia seria o 4º, responsável direto pela fiscalização dos três primeiros, trabalhando assim diretamente a serviço do cidadão. Mas o problema é que se a mídia fiscaliza todos, afinal quem fiscaliza a mídia? Porque é fácil perceber que a imprensa, ao basear-se na publicidade e no dinheiro para manter-se como corporação, tornou-se exatamente isso, uma entidade que possui interesses comerciais e empresariais que por vezes superam sua ética editorial, o vulgo rabo preso com o leitor. A imprensa nega essa condição comercial para afirmar seu prestígio e o nome de seu jornal perante os leitores, já que esta só sobrevive graças à sua credibilidade, mas mais importante que isso, para que haja algum controle sobre o que é publicado, o essencial é que o jornalista seja observado e sua credibilidade ameaçada, pois em um âmbito pessoal é assim que o profissional acaba mantendo sua função social sem “vender-se” ao jornalismo corporativista. O 5º poder seria uma alternativa à dominação midiática globalizada, já que o público passa a ter voz, e com isso em longo prazo talvez a instituição da mídia tenha que se transformar, especialmente em aspectos éticos, para manter o respeito e interesse de seus leitores. Afinal, o que é o jornalismo se não a observação de um fato e a publicação deste para o público? Os blogs são justamente uma ferramenta de libertação, que torna a divulgação de notícias algo benéfico para o público, pois não tem ambições maiores que isso. É o jornalismo cidadão, que regula a notícia ao impedir que somente um grupo seleto de profissionais seja responsável por noticiar fatos, já que blogueiros de credibilidade acabam sendo jornalistas (ou cidadãos) que mantêm sua “visão”, ética, e opiniões livremente, sem interferência das linhas e posições editoriais dos veículos. Um exemplo de como o mercado editorial brasileiro é altamente influenciado pelas cúpulas do poder, e como isso tem influência em seus artigos, é a cobertura das eleições presidenciais nesse ano. Os grandes veículos de mídia nacional são (e sempre foram) comandados por famílias (Frias, Marinho, Sarney...) que transformam seus jornais e revistas em verdadeiras plataformas políticas de seus candidatos de preferência, acabam contaminando o jornaA com artigos praticamente opinativos, mas com um viés de neutralidade. A ética acaba se perdendo no jogo de mercado e interesses, e com isso o leitor é forçado acreditar em informações que, por ser usadas por profissionais da linguagem, conseguem influenciar a sociedade com opiniões. Outro caso que mostra o poder de influência da mídia pode ser visto no filme Cidadão Kane, de Orson Welles. Kane, representado por Welles, é um grande magnata da mídia, e dá um grande jantar com belas dançarinas somente para convencer os poderosos do país e da mídia a serem favoráveis à uma guerra contra a Espanha, por puro interesse próprio. A partir do momento em que a notícia para de ser somente reportada para atingir ambições das famílias midiáticas brasileiras uma intervenção é necessária, pois é claro que tanto poder não pode residir apenas nas mãos de alguns. Um exemplo de ética a ser seguida, especialmente em tempos de eleição, é o de grandes jornais americanos como o New York Times. Os jornais possuem uma postura exemplar, de apresentar sua visão e opinião política nos editoriais, mas impedir que isso influencie qualquer notícia publicada. Isso deveria acontecer no Brasil, porém o controle político que as famílias da mídia exercem é muito grande, e por isso o 5º poder acaba sendo essencial. É através da Internet que sites como “O observatório da imprensa”, podem criticar matérias tendenciosas e mal apuradas, na tentativa de manter o 4º poder e fazê-lo voltar ao seu compromisso de origem. Nos Estados Unidos, a dita “mídia progressista” é um desses avanços do século XXI em sua postura com a mídia. São blogs que recebem milhões de acessos e funcionam na base de doações, vendas de anúncios e parceiros do setor de ativismo. São blogs ideologicamente diversos, que praticam o jornalismo de opinião e investigativo, ou agitação e propagando, organizando táticas para chamar a atenção para questões e causas representados por eles. A grande sacada da mídia progressista é justamente não depender de uma única fonte de receita (os anúncios), fato que impediu que esses veículos afundassem com a crise e lhes mantém o poder de denúncia. São rumos assim que a mídia tem que encontrar e ajeitar aos seus moldes, para continuar como entidade chave na sociedade. Pois o leitor não é burro, e o jornalismo-cidadão já se tornou uma realidade. No Brasil isso ficou mais claro com a queda do diploma de jornalismo, permitindo que qualquer indivíduo possa trabalhar na mídia. É preciso aproveitar a maré de inovação que os Tablets e toda a plataforma multimídia da Internet fornece para mudar o posicionamento e retornar à possibilidade de um jornalismo que atende o público, e não se tornou apenas mais uma empresa com lucros estratosféricos. Porque no fim das contas, se nem o jornal tem o rabo preso com o leitor, pode chegar o dia em que simplesmente o leitor vai fazer o jornal. E será em seu próprio benefício.