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Ano II - Número 6
Junho de 2009

PARCERIA
de R$ 1,7 milhão
Prefeitura atrasa reembolso de salários de servidores cedidos pela UFSM
Universidade não reivindica o retorno de seus técnicos-administrativos e docentes
Dívidas acumulam-se nas administrações de Osvaldo Nascimento,
Valdeci Oliveira e Cezar Schirmer
sumário
entrevista 4
Felipe Müller fala à .txt.
geral 6 Ação rápida
Centro de Convenções sai do papel. Na edição anterior, a .txt ques-
tionou como seria feita a limpeza
geral 7 dos materiais de campanha para
Os limites do cigarro no campus. a Reitoria. A chapa 2 respondeu
com ações: às 18h30min do dia
geral 8 16 de junho, a equipe de Felipe
Universidade tem dificuldades para e Dalvan iniciou a coleta das pro-
pagandas que auxiliaram na sua
estocar material. eleição. Os apoiadores da chapa
comIncidência 11 percorreram a UFSM de ponta
a ponta retirando bandeiras,
UFSM supera federais do sul do pirulitos, folders e faixas que fiz-
país. eram parte da Universidade nos
últimos dois meses. Meia hora
capa 12 depois do fechamento das urnas,
Entenda o processo de cedência de o último resquício de campanha
servidores. era retirado do arco de entrada.
A chapa 1 também retirou os ma-
de dentro para fora 16 teriais de campanha dentro do
UFSM conquista medalhas nos prazo estabelecido em edital.
Jogos Universitários. Tentativa frustrada
de fora para dentro 17 Outra consulta ocorrida no
Os intercambistas que estudam na campus nos últimos dias foi para
Universidade. saber quem a comunidade do Cen-
tro de Educação (CE) quer na sua
categorias 18 Direção para os próximos quatro
Investigação do Concurso Público anos. A preferência foi pela Chapa
da UFSM vai para a gaveta. 1, que teve 369 votos, contra 283
votos obtidos pela Chapa 2 – além
cultura 20 de 10 votos em branco e 10 votos
As passagens de Iberê Camar- nulos. Após o resultado, houve
go pela UFSM. rumores de que um recurso seria
interposto para anular a consulta.
cultura 22 Entretanto, a ideia não foi adiante.
Festival de Inverno chega a sua 24ª
edição.
perfil 24
O primeiro aluno cego da UFSM.
expediente
Revista Laboratório do 5º semestre de Jornalismo O que será do Jornalismo brasileiro?
UFSM
Edição: Luiz Henrique Coletto
Sub-Edição: Laura Gheller No dia 17 de junho, o Supremo Tribunal Federal (STF)
Diagramação: Maiara Alvarez, Paolla Wanglon, Paula derrubou a exigência de diploma para o exercício do jorna-
Pötter e Rafael Salles lismo. O relator do caso e presidente do Supremo, Gilmar
Revisão: Gabrielli Dala Vechia, Juliana Frazzon e Rafael Mendes, valeu-se do argumento de que exigir o diploma é
Salles contra a Constituição Federal, que garante a liberdade de
Professor Responsável: Jorge Castegnaro - DRT/RS:
5458 expressão.
Arte de Capa: Rafael Salles Fica a dúvida: será que as empresas de comunicação
Endereço: Campus UFSM, prédio 21, sala 5234 irão valorizar e contratar profissionais que passaram quatro
Telefone: (55) 3220 8811 anos estudando em uma faculdade de Jornalismo ou optarão
Impressão: Imprensa Universitária por pessoas sem formação acadêmica?
Data de fechamento: 29 de junho de 2009
Tiragem: 500 exemplares
redacao.txt@gmail.com

2 .txt Junho de 2009


carta ao leitor
Entre a pauta e a
reportagem

D esde que os leitores tiveram


em mãos a 1ª edição da .txt de
2009, já se passou mais de um
mês. Esse tempo foi de muito trabalho
para a equipe que agora disponibiliza a
A eleição em números 2ª edição da revista.
Entre o prazo e a gráfica, estão
• Em relação à última eleição, o número de votantes as pautas: assuntos a lapidar, primeiros
diminuiu nas três categorias: 10% entre os alunos, enfoques, fontes a entrevistar. A equipe
17% entre os servidores e 13% entre os docentes. tinha as matérias pré-definidas quando
foi em busca dos dados e das entrevistas.
Logo voltamos quase à estaca zero – fe-
• Dentre as três mesas onde os índices de compare- lizmente! A pauta “sem muito sal” trouxe
cimento foram maiores, duas estão no campus de polêmicas: será a nova capa. Mais apura-
Frederico Westphalen. ções, mais textos redigidos e mais modi-
ficações: dados importantes surgem em
outra matéria. Vamos trocar a capa nova-
• A vitória mais expressiva de Felipe e Dalvan aconteceu mente.
no Centro de origem do vice, o Centro de Ciên- Os bastidores acima retratados
cias Rurais, em que 92% dos votantes escolhe- dimensionam quão complexo é dispor
ao leitor a .txt. As onze reportagens e a
ram a chapa 2. entrevista que trazemos nesta edição fo-
ram diariamente rediscutidas, modifica-
• O Centro de Artes e Letras (CAL), o Centro de Ciências das ou acrescidas de novos enfoques.
Os frutos desse último mês de
Sociais e Humanas (CCSH) e o Centro de Educação Física
apuração trazem, na Capa, a revelação
e Desportos (CEFD) foram os menos expressivos em de que a Prefeitura de Santa Maria deve
número de votantes, todos com índices menores de mais de 1,7 milhão de reais à UFSM –
50% de participação. dívidas que foram acumuladas há mais
de uma década. Na matéria da editoria
Geral, sob falas contraditórias, consta-
• Dos 17 locais de votação, a chapa 2 venceu em 13 . tamos que há muito patrimônio público
A chapa 1 venceu apenas nos Centro de Educação (CE), largado em corredores ou entulhado em
de Ciências Naturais e Exatas (CCNE), de Ciências da salas de aula da UFSM.
Na editoria ComIncidência, os
Saúde (CCS) e no Hospital Universitário de Santa Maria
números do REUNI que farão da Uni-
(HUSM). versidade a maior da região sul do país.
Pergunta recorrente, mas necessária:
Democracia relativa essa expansão de cursos e alunos virá
acompanhada de melhor infraestrutura?
Um questionamento presente na última edição da .txt tem resposta agora. A resposta virá das próximas gestões da
Os alunos da Educação a Distância (EaD) tiveram, sim, o direito de votar em seus Instituição.
favoritos a reitor e vice-reitor da UFSM . Porém, o acesso deles ao voto estava Com essas e outras matérias,
restrito, já que os interessados tiveram que se deslocar até o campus de Santa Ma- o que aqui se apresenta tenta cumprir
ria. Como consequência, apenas 2% dos estudantes da EaD votaram (apenas 74 com um imperativo social do jornalis-
de 3.446). É possível supor que os alunos do pólo de Fortaleza não tenham nem mo: trazer informação e pluralidade de
sabido da existência da consulta realizada aqui... opiniões. Ainda que conscientes da difi-
culdade de dar voz igualitária a todos “os
lados”, seguimos nesse norte. Ao leitor,
cabe a avaliação.

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Luiz Henrique Coletto

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Fotos: Larissa Drabeski

entrevista

COM A PALA Felipe Viero

no novo Restaurante Universitário e nas


quatro novas Casas do Estudante, aqui
em Frederico.
Há mais R$ 35 milhões que estão vindo
e existe uma promessa de outros R$ 25
milhões para algumas estruturas maio-
res, como obras de acesso e uma grande
barragem. Todos os cursos que foram
criados estão sendo implantados e toda
a necessidade que foi colocada dentro
de seus projetos pedagógicos está sen-
do analisada e implantada. É claro que
vamos fazer uma ampla revisão do que
já foi gasto, em que foi aplicado e como
será aplicado no futuro, para fazer um
bom planejamento do uso desses recur-
sos restantes.

.txt: Como o senhor já disse, um novo


Restaurante Universitário está sendo
construído e a Casa do Estudante está
passando por reformas e ampliações.
Além dessas obras, iniciadas na ges-
tão do professor Clóvis Lima, o que
será feito agora, em relação à assistên-
cia estudantil?

FM: Eu acho que o aprimoramento


das ações de assistência estudantil são
contínuas. Nós estamos trabalhando na
melhora da qualidade da alimentação e
tentando, ao máximo, manter os níveis
de valores cobrados das refeições. Es-
Felipe Martins Müller, candidato eleito com 61% dos votos válidos. tamos, também, trabalhando no senti-
do de organizar os projetos pedagógicos

N o dia 16 de junho, dia em que a comunidade dos cursos para que eles contemplem algumas ações: bons
universitária foi às urnas para escolher os seus horários para todos os estudantes, que possam priorizar a
novos dirigentes, a .txt conversou com o atual qualidade do ensino e também possam oportunizar a me-
reitor , Clóvis Silva Lima. Nessa ocasião, antes de saber lhor distribuição dos horários de aula para que não exista
quem seria o seu sucessor, Clóvis Lima destacou alguns sobrecarga de trabalho e nem de filas em horários de pico.
desafios que marcariam a próxima administração da
UFSM. Com base nessa entrevista, e em mais alguns .txt: Em entrevista concedida à .txt, o atual Reitor sa-
pontos, foram elaboradas algumas perguntas para o lientou que um desafio para a nova gestão diz respeito
candidato eleito. à luta pela contratação de novos funcionários e à me-
A entrevista com Felipe Martins Müller foi feita na lhoria de suas condições de trabalho. Existe, na nova
quarta-feira, dia 17 de junho, às 10h30min. gestão, um plano de ações que objetive aumentar as
contratações e ainda dar melhores condições de traba-
.txt: A UFSM está criando novos cursos e aumen- lho aos funcionários da Instituição?
tando o número de vagas oferecidas devido à ade-
são ao REUNI. Quais serão as ações da nova gestão FM: Não há dúvida. A qualidade em gestão de pessoas é
no sentido de sanar a necessidade de novas salas de uma meta da nossa gestão. Nós estamos tentando obter,
aula e de laboratórios específicos? junto ao Governo Federal, a mesma situação que nós temos
para os docentes: certa autonomia na gestão de recursos
Felipe Müller: As ações já estão sendo tomadas. Já humanos para os técnicos-administrativos em educação.
foi feito um investimento de R$ 35 milhões, em obras Fazendo isso, nós vamos poder sanar algumas carências
como salas de aula, salas de professores e laboratórios, históricas para, aí, podermos dar um salto qualitativo e

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LAVRA: O NOVO REITOR


quantitativo na parte de técnicos-administrativos. Ape- serviços que funcionam no Hospital, de quais os que não
sar de o REUNI ter proporcionado a contratação de 326 funcionam e de por que não funcionam.
professores e 300 técnicos-administrativos em educação,
nós ainda temos problemas no HUSM e em uma série de .txt: Sobre as fundações presentes na UFSM, o senhor
laboratórios que, por exigirem técnicos muito específicos, defende que elas sejam recompostas com maior parti-
acabam tendo uma dificuldade grande de renovação. cipação da comunidade universitária e que sejam mais
transparentes em suas ações. De que modo isso será
.txt: Sobre o Hospital Universitário, o Reitor Clóvis efetivado na nova gestão?
Lima ressaltou a necessidade do aumento dos recursos
humanos e financeiros para que assim o hospital possa FM: Nós sempre defendemos uma rigidez de controle pú-
atender à demanda de pacientes de toda a região. Exis- blico nas ações da Fundação. E, para isso, o conselho tem
tem propostas para alcançar essas metas? que ser ampliado. Então, defendemos a maior participação
do Conselho Universitário no Conselho da Fundação, in-
FM: Nós estamos trabalhando no sentido de, realmen- dicando representantes de técnicos-administrativos, de
te, aproximar o HUSM do Centro de Ciências da Saúde docentes, de estudantes e de coordenadores de projeto. O
(CCS). Mas, principalmente, de “dar uma profissionaliza- Conselho teria melhores condições de analisar a prestação


da” em alguns pontos de gestão do Hospital Universitário. de contas da Fundação, e nós teríamos uma maior tranqui-
Nós não podemos mais admitir que o HUSM lidade nas relações. Enquanto a autono-
não tenha o conhecimento específico sobre o mia financeira e a de recursos humanos
que cada paciente traz de recursos e traz de e administrativos não existir, enquanto
despesas. Temos que fazer um acompanha- ELAS TÊM O SEU PA- chegar o final do ano e os meus saldos
mento muito sério do processo de gestão. orçamentários voltarem para o cofre da
São questões simples, de bom senso, e que
PEL E CUMPREM O União, fica muito difícil não contar com
poderiam trazer uma melhoria no serviço e SEU PAPEL QUANDO as Fundações para algumas ações.
até mesmo uma melhoria das condições de SERVEM À UNIVER-
trabalho das pessoas. Muitas vezes, uma pes- SIDADE E NÃO SE .txt: Supondo, portanto, que essa au-
soa deixa de atender a um ser humano para SERVEM DELA. tonomia fosse atingida, as Fundações


descer seis andares do Hospital e buscar um deixariam de ser necessárias e, aí, dei-
remédio na farmácia. Então nós temos que xariam de existir?
batalhar juntos com a direção do hospital
para atacar os problemas específicos. Muitas FM: Existe uma série de coisas que envol-
vezes, o HUSM não consegue fazer o traba- sobre as Fundações vem essa gradual extinção das Fundações.
lho de um hospital-escola por ter que prestar Mas, se nós obtivermos a real autonomia
assistência à população. E isso aí fica sendo financeira, se eu não tiver mais um teto
um dilema grande de qualquer administrador. Eu vou dei- de empenho para recursos extraorçamentários buscados e
xar uma pessoa morrer? Eu vou deixar uma pessoa mal nem essa situação de ter que recompor saldos de exercí-
atendida? Ou eu vou atendê-la bem e deixar, às vezes, o cios anteriores no exercício atual, as fundações vão acabar
ensino, que seria prioritário, para um segundo momento? tendo um gradual enxugamento e, eventualmente, até uma
Nós tentamos fazer as duas coisas. revisão da necessidade de seu papel. As fundações, basica-
mente, foram impostas às universidades quando só se po-
.txt: Outra forma de resolver isso seria a contratação deriam obter recursos extraorçamentários através delas. Só
de funcionários específicos? que, agora, nós estamos vendo que, como elas foram mal
usadas por algumas universidades e por algumas pessoas,
FM: Não. Nós temos que trabalhar sempre na otimização elas estão em xeque. Vamos analisando, gradualmente,
dos recursos que existem no Hospital. Então, hoje, as pes- como é que essa situação se comporta no decorrer destes
soas estão sobrecarregadas de trabalho por, muitas vezes, anos de mandato ou até mesmo bem breve. O que nós te-
situações que não estão bem equacionadas no Hospital. O mos que “sentar em mente” é que hoje temos 400 projetos
que é que tem que ser feito? Uma priorização do serviço. dentro da Fundação e que são projetos importantes para
Quando se começa a colocar metas e algumas situações a Instituição. Nós temos que ter certo cuidado quando se
em que as pessoas são cobradas por não terem feito aquele implica em simplesmente dizermos “Olha, as fundações
serviço, as coisas passam a andar. E também, aí sim, nós não têm necessidade nenhuma, elas podem ser extintas”.
poderemos identificar onde os servidores são realmente Elas têm o seu papel e cumprem o seu papel quando ser-
necessários. Não adianta a gente só chegar e dizer “Faltam vem à Universidade e não se servem dela. Nós temos que
servidores”. Onde faltam servidores? Por que esses servi- estabelecer até que ponto nós podemos chegar com as fun-
dores faltam? Esse é o grande desafio antes de sair contra- dações. .txt
tando. Tem que se fazer um diagnóstico sério, de quais os

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geral .txt

Centro de Convenções começa a virar realidade

O auditório do futuro Centro de Convenções da UFSM


deve estar pronto na metade de 2011 e será um
espaço para a realização de eventos e formaturas.
Letícia de la Rue

Q uem passa perto da dia 5 de janeiro deste ano e,


Reitoria ou do Pla- O que haverá no Centro de Convenções? embora a previsão de térmi-
netário da Univer- no seja de 540 dias, esta data
Quando a obra do Centro estiver totalmente pronta, abrigará
sidade já percebe a edificação deve sofrer alguns atrasos. O
as seguintes edificações:
que começa a se erguer nos - Auditório, com capacidade para 1.200 lugares.
engenheiro civil Tiago Ho-
arredores. Em breve, estará - Centro Multiuso, com cerca de dez salas multiuso para a re- ppe, chefe do setor de obras
pronto no local o Centro de alização de cursos, simpósios, seminários, etc.; duas salas e fiscalização da Pró-Reitoria
Convenções da UFSM, uma para videoconferência; espaço para exposições; e espaço de Infraestrutura e responsá-
obra há muito aguardada pela para a instalação de um restaurante. vel pela fiscalização da obra,
comunidade acadêmica e que, - Edifício para a imprensa, que irá abrigar a Coordenadoria afirma que não é possível fixar
enfim, começa a tomar forma. de Comunicação Social da UFSM, a Rádio Universidade e a uma data exata para o término
Quando estiver pronto, serão TV Campus. da construção. Desde o início,
- Centro Ecumênico.
realizadas no local as colações imprevistos como fatores cli-
- Museu da UFSM ou Loja da Editora da UFSM.
de grau dos cursos da Institui- - O projeto prevê também um estacionamento e um parque
máticos atrasaram o prazo ini-
ção, espetáculos teatrais e mu- no entorno das edificações cial de conclusão da obra.
sicais, congressos e simpósios. O contrato também
A aluna do 5º semes- prevê a duplicação da rua que
tre do curso de Farmácia, Clarissa de Oli- iluminação foram desenvolvidos pela Pró- fica em frente ao Centro. Esta é a rua que
veira, acredita que um espaço como este Reitoria de Infraestrutura da UFSM (an- dá acesso ao prédio do Centro de Ciências
já devia ter sido construído antes, pois os tes denominada Prefeitura Universitária). Sociais e Humanas (CCSH) do campus, ao
estudantes acabam gastando muito com o Os demais projetos, como o hidráulico, o Hospital Veterinário e ao Colégio Politéc-
aluguel de salões para a cerimônia de for- de ar-condicionado e o de prevenção de nico. A duplicação está sendo feita princi-
matura. Ela afirma ainda que “a maioria dos incêndios, foram elaborados por equipes palmente devido ao aumento do fluxo de
congressos acontece em hotéis da região, e especializadas contratadas pela Instituição. veículos que deve ocorrer com a inaugura-
muitas vezes, pela limitação do espaço, não O projeto da obra ficou pronto ção do local.
se pode realizar eventos mais abrangentes”. em março de 2008 e, então, iniciou-se a ela- O Centro de Convenções permiti-
O projeto do Centro de Conven- boração do edital para contratação de uma rá que muitos alunos sem recursos para pa-
ções começou a ser desenvolvido em 2006, empresa. gar a cerimônia de colação de grau possam
por um pedido da administração central da participar das formaturas, como acredita o
Universidade feito ao curso de Arquitetu- mestrando do Programa de Pós-Graduação
ra e Urbanismo da Instituição. No mesmo Prazos e expectativas em Farmacologia, Rodrigo Buske: “pode-
ano, professores do curso iniciaram a ela- rá diminuir o monopólio de indústrias de
boração do projeto arquitetônico da obra. A empresa contratada para iniciar formaturas que existe por fora da Univer-
A professora do Curso de Arqui- a execução do projeto foi a Construtora sidade”. Segundo o engenheiro civil Tiago
tetura e Urbanismo Lucienne Limberger, D.Zanco Ltda., da cidade de Frederico Wes- Hoppe, durante a execução da obra do au-
coordenadora do projeto, ressalta que, para tphalen, a qual irá construir apenas o pré- ditório, pretende-se fazer a licitação para as
o desenvolvimento da proposta do Centro, dio que abrigará o auditório do Centro de cadeiras e o equipamento de ar-condicio-
foram realizadas diversas entrevistas com Convenções. O valor desta parte inicial da nado. Caso isso aconteça, será possível re-
profissionais das áreas a serem atendidas obra é de R$ 8.861.402, 47. As demais edi- alizar as colações de grau – há muitos anos
pelo local, além de visitas a edificações ficações do local, como o Centro Multiuso feitas apenas em clubes da cidade – no final
com objetivos semelhantes. Ela acrescenta e o Edifício para a imprensa, ainda não têm do primeiro semestre de 2011 na própria
também que, além do projeto arquitetôni- data prevista de construção e ficarão para o UFSM. .txt
co, formaram-se equipes para os projetos futuro.
complementares. Os projetos elétrico e de As obras do auditório iniciaram

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geral .txt

DIVIDINDO O AR
E OS RISCOS
O tabagismo é a principal causa de morte evitável no mundo. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), são mais de 4,9 milhões de óbitos por ano, o que corresponde
a mais de 10 mil mortes por dia.
Milena Jaenisch

A exposição passiva à fumaça do


cigarro pode ocasionar os mes-
mos malefícios trazidos pelo
uso ativo do tabaco. Na UFSM, a falta de
lugares apropriados para fumantes, como
A Lei Antifumo é discriminatória?

A Lei Antifumo (n° 577), aprovada no


Estado de São Paulo no ano passado, trou-
Todavia, pode-se entender a lei como
uma medida que trará benefícios à socieda-
de. O professor Gustavo Trindade Michel,
não fumante, entende que a restrição de
lugares para o consumo do tabaco é uma
xe à discussão o direito individual dos fu-
os chamados “fumódromos”, faz com que mantes à liberdade, já que, de acordo com forma de respeito às pessoas que não são
tabagistas convivam com não tabagistas em a lei, eles só podem fumar em casa, na rua, fumantes: “temos que considerar a liberda-
um mesmo espaço físico. ou em lugares específicos para fumantes – de da pessoa que não fuma de poder estar
O consumo do cigarro transporta para como as tabacarias. Além dela, existem leis em lugares nos quais não há o consumo de
o corpo humano mais de cinco mil subs- em âmbito federal (nº 9.294/96), estadual tabaco”.
tâncias tóxicas, causadoras de doenças e (nº7.813/83) e municipal (nº 2.210/98) Na UFSM, não existem delimitações
de lesões. Entre esses compostos químicos, que limitam os espaços permitidos para o de espaços de fumantes e de não fuman-
está a nicotina, principal geradora da de- consumo do cigarro. tes, nem restrições a locais de consumo do
pendência química no usuário. A aprovação de leis que definem locais fumo. O Pró-Reitor de Infraestrutura, Val-
Observa-se, em algumas instalações da em que se pode ou não fumar traz diver- mir Brondani, acha que não devem ser cria-
UFSM e também em espaços de socializa- gências de opiniões. O estudante do 6º se- dos “fumódromos” na Universidade, pois a
ção, como Diretórios Acadêmicos e lanche- mestre do Curso de Medicina Veterinária legislação federal prevê que não é permiti-
rias, que fumantes e não fumantes dividem da UFSM, Lucas Zanuzo, é fumante e diz do fumar em recinto público. “Nós somos
o mesmo ambiente; entretanto, nem sem- que a lei antifumo é uma demonstração de uma instituição pública, portanto não se
pre em comum acordo. preconceito. “A lei [antifumo paulista] fere pode fumar aqui dentro”, acredita Valmir
Segundo o professor de Pneumologia a dignidade do fumante e transforma o ato Brondani. .txt
do Curso de Medicina da UFSM, Gusta- de fumar em uma infração e em uma afron-

Ilustração: Thiago Krening


vo Trindade Michel, todos os danos que ta à ordem pública”.
envolvem os tabagistas ativos podem atin-
gir os tabagistas passivos, “o paciente que
convive em um lugar de alta carga tabágica
fica sujeito aos mesmos problemas causa-
dos pelo tabaco ativo. A exposição passiva
ao tabaco por um período de quatro horas
é comparada ao consumo de quatro a seis
cigarros”.

Os Malefícios do Fumo
O tabagismo aumenta os índi-
ces de lesões vasculares, derra-
me, enfisema pulmonar, pressão
alta, infarto e problemas cardía-
cos, especialmente em pacientes
que já tenham alguma doença de
base como a asma. A doença pul-
monar obstrutiva crônica (DPOC),
que tem como principal causa o
consumo do cigarro, representará
a quarta causa de morte no mun-
do até 2030, de acordo com a Or-
ganização Mundial de Saúde.
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NÃO TEM ESPAÇO?

Divisões do Departamento de Material e Patrimônio da UFSM “matam


um leão a cada dia” para desempenhar suas funções, mesmo sem
poder realizar uma delas: o recolhimento de materiais em desuso.

Não há data prevista para a DIPAT desocupar o prédio do Parque de Exposições.

Gabriela Loureiro
Entenda as divisões

O DEMAPA é o órgão responsá-

A
vel por todas as licitações, contra-
o entrar em um dos prédios do Patrimônio (DEMAPA): o Almo-
tações, estoques de mercadoria de
Almoxarifado Central, é impos- xarifado e a Divisão de Patrimônio
uso comum no Almoxarifado Cen-
sível não notar a pilha de caixas (DIPAT).
tral, controle patrimonial e com-
de papéis, computadores e até liquidificado- Desde a fundação da Universi-
pras em geral da Universidade.
res. Pelos Centros de Ensino, são cadeiras dade, as duas divisões do DEMA-
A DIPAT é encarregada de com-
quebradas, mesas velhas e computadores PA ocuparam os dois prédios e um
prar, armazenar e distribuir mate-
obsoletos. Falta espaço na Universidade para extinto galpão atrás do Centro de
riais de patrimônio, como mesas,
armazenar materiais que não são utilizados Educação (CE). A partir de 2005,
cadeiras e computadores.
e também materiais novos, boa parte vindos quando a UFSM implantou os
Já o Almoxarifado compra, ar-
pelo Programa de Apoio ao Plano de Rees- campi do Centro de Educação Su-
mazena e distribui materiais de
truturação e Expansão das Universidades Fe- perior do Norte do Rio Grande do
consumo, como papel higiênico,
derais (REUNI). Os dois prédios do Almo- Sul (CESNORS) e da, agora au-
óleo para motores e cartuchos de
xarifado Central (também conhecidos como tônoma, Universidade Federal do
tinta para impressora.
“tocas”) são repartidos para comportar as Pampa (UNIPAMPA), foi neces-
duas divisões do Departamento de Material e sário um local maior para abrigar
Fonte: DEMAPA

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os materiais que vi- lher, ou se atrasa a entrega ou se atrasa o re- Eu pensei que aquele prédio nunca ia lotar,
nham para a Institui- colhimento. É muito complicado”, desabafa o é muito grande, mas quando eu o vi naquele
ção e que deveriam diretor da DIPAT, Gilson Peres. estado, avisei meus superiores”, expõe Gilson
ser entregues a essas Atualmente, a Divisão de Patrimônio Peres.
novas unidades. não se envolve mais com o recolhimento. Os Assim que o novo edifício ficar pronto, o
Em 2006, ini- Centros armazenam seus materiais obsoletos Almoxarifado será transferido para o local e
ciou-se a construção como podem. Veja, na próxima página, um a DIPAT ocupará os dois prédios que atual-
de um novo prédio quadro sobre a situação em alguns Centros mente são utilizados pelas duas divisões. Um
para o Almoxari- da UFSM. desses prédios, a princípio, será o depósito de
fado. Para isso, foi Sem recolhimento há quase três anos, materiais não utilizados, que poderão ser rea-
destruído o galpão os chefes de departamento da Universidade proveitados, doados ou virar sucata.
onde, antigamente, não estão muito contentes com a situação. Apesar do aumento de espaço, Gilson Pe-
eram depositados os De acordo com o diretor do DEMAPA, José res acredita que será insuficiente: “O prédio
materiais não utili- Carlos Segalla, “todo mundo está brigando atual vai ficar para a Divisão de Patrimônio.
zados pelos Centros conosco, chamando-nos de incompetentes Estão dizendo que vão reformar, mas essa
e que deveriam ser para fora, dizendo que vão despejar um ca- reforma vai demorar, não é para já, eles de-
reaproveitados por minhão de coisas aqui [na sala da direção do pendem de dinheiro. Tem todo um recolhi-
remanejo, doados ou DEMAPA] porque não têm onde colocar. Só mento de material para ser feito e onde será
descartados. que eu não posso pegar um material, tirar da colocado? O REUNI não é para este ano
“O galpão que carga da unidade e dar um destino qualquer. apenas; é até 2012 e tem material que tu não
nós tínhamos lotou; Tem todo um regulamento na lei”. fazes ideia”.
tivemos que come-
çar a nos desfazer das Uma solução provisória foi a doação, fora
coisas, a fazer doa- dos padrões normais, no começo desse ano. À ESPERA DE UM MILAGRE
ções porque ficava “Esse tipo de doação só num caso de muita
até certo tempo [até urgência, como foi o do Colégio Tiradentes, O novo prédio do Almoxarifado Central
um ano] à disposição da Brigada Militar. A governadora autorizou pertencerá apenas ao Almoxarifado e as “to-
da Universidade. Não a criação da escola, mas os caras não tinham cas” ficarão para a Divisão de Patrimônio, se-
havendo interesse, nem cadeira para sentar. Aí o Reitor autori-
nós temos uma pasta zou que eles viessem e ficassem uma semana
na qual são feitos pe- aqui, recolhendo material de vários Centros”,
didos de escolas, pre- relata Gilson Peres.
feituras, até mesmo
da Brigada. Então a
gente chamava esse OS MATERIAIS NÃO PARAM DE CHEGAR
pessoal para eles ve-
rem o que queriam. Com a implantação do REUNI, a situação
Até que chegou um foi agravada. A Divisão de Patrimônio tem
determinado dia em muito material novo para receber (às vezes,
que não tínhamos de prédios que ainda estão em construção) e
mais como recolher não possui local para estocá-los. Como o últi-
porque não havia mais prédio”, explica o dire- mo prazo para conclusão do novo prédio do
tor da Divisão de Patrimônio do DEMAPA, Almoxarifado é no início de julho desse ano,
Gilson Peres. a divisão passou a ocupar um prédio do Par-
que de Exposições desde novembro passado.
“Para conseguir esse prédio no Parque de Ex-
SOLUÇÕES PROVISÓRIAS posições, a gente passou avisando que estava
saturando, e o Segalla levando as informações
Com a destruição do galpão, surgiu um aos superiores. Um dia, liguei para o Segalla:
problema: onde armazenar esses materiais ‘a partir de amanhã, eu não recebo mais ne-
que não são usados? Como eles são patrimô- nhuma transportadora’. Para completar,
nios federais, não é possível apenas descartá- quando chovia aqui, alagava todo esse salão.
los, é preciso prestar contas com documentos Então conseguiram o prédio, mas agora está
para que a DIPAT tome as providências ne- chegando a Expofeira”, relata Gilson.
cessárias para o descarte. Além de o local não pertencer ao DEMA-
Sem galpão para armazenar esses mate- PA, ele já não é suficiente para armazenar a
riais, não existe mais recolhimento por parte quantidade de materiais do REUNI. “Em
da Divisão de Patrimônio. “Agora não tem questão de vinte dias, o prédio que é utiliza- O novo prédio do Almoxarifado conta com
como, são quatro pessoas para entrega e re- do para a Feira das Profissões no Parque de 1.500 m² e mezaninos para armazenamen-
colhimento. Com a quantidade de coisas que Exposições foi completamente lotado. Lota- to de materiais. Foram gastos 1,7 milhão de
está sendo comprada, para entregar e reco- do de haver apenas um corredor para andar. reais ao todo.

.txt Junho de 2009 9


geral .txt
nossa estrutura não comporta, se nos ti- ALTERNATIVAS
rarem aquele prédio [do Parque de Exposi-
ções], eu não sei o que vai ser”, sustenta. Existem duas ideias para amenizar a so-
Por outro lado, o diretor do DEMAPA, brecarga das duas divisões do DEMAPA.
José Carlos Segalla, afirma que o novo edifício Uma delas é criar uma central de compras
do Almoxarifado também irá abrigar os mate- que irá centralizar e organizar o planejamen-
riais da Divisão de Patrimônio. “Tem espaço to de compras da Universidade. A outra é a
suficiente para tudo; se eu necessitar, eu vou criação de “classificados” de remanejo inter-
atrás, vou buscar outros lugares da Universi- no para materiais em desuso, o qual ficaria no
dade. Por enquanto, a gente vai alocar tudo lá. site da UFSM.
Vai ter espaço para alocar esses materiais, isso Em virtude do REUNI, a crescente de-
eu te garanto!”, assegura Segalla. manda por novos materiais continuará até
Sem consenso entre o diretor da DIPAT e 2012. As duas propostas serão colocadas em
o diretor do DEMAPA, fica impossível definir prática e solucionarão o problema de infraes-
ao certo o destino dos materiais permanentes trutura da Universidade? Essa é uma situação
da Universidade – tanto os que chegam quan- delicada com a qual os dirigentes da Institui-
to os que estão em desuso. ção terão que lidar. .txt
Os únicos materiais em desuso que permane-
cem com a Divisão de Patrimônio são carros
antigos que deverão ser leiloados, mas ainda
não há previsão para isso.

Situação de alguns Centros de Ensino


Cada departamento do Centro de Tec-
nologia (CT) lida com seus materiais
em desuso. Muitas vezes, eles acabam
ficando pelos corredores do Centro por
não haver outro local para depósito.

Os computadores obsoletos
do Centro de Artes e Letras
(CAL) ficam na sala do chefe
do laboratório de informática
do Centro, Sergio Luis May.

O Centro de Ciências Rurais


(CCR) utiliza uma sala como
depósito dos materiais que
Fotos: Gabriela Loureiro/Marcelo de Franceschi/Rafael Salles

não são mais usados no


Centro.

O Centro de Educação (CE) conseguiu o galpão da Casa


do Veterinário no Parque de Exposições para estocar uma
parte de seus materiais. O restante fica espalhado pelos
cantos do Centro. Alguns alunos ou professores acabam
se interessando pelo material e fazem transferência inter-
na de bens. É também uma forma de reciclagem.

10 .txt Junho de 2009


comIncidência .txt

A GIGANTE DO INTERIOR
Através da implementação do REUNI, a Universidade Federal de Santa Maria se tornará a maior Instituição
de ensino do sul do Brasil, no número de cursos oferecidos e no número de acadêmicos.
Murilo Matias

D esde seu lançamento, o Pro-


grama de Apoio ao Plano de
Reestruturação e Expansão
das Universidades Federais (REUNI) foi
motivo de divergências dentro das univer-
centes e técnicos-administrativos, além de
outras nuances próprias de cada Institui-
ção. A UFSM irá superar, ainda, as outras
duas grandes universidades federais do sul
do Brasil, situadas em capitais: a Universi-
tempo, sanar os problemas”.
Segundo Jorge Cunha, as promessas
com relação às verbas do REUNI, foram
cumpridas. O Pró-Reitor também garante
que os recursos planejados são suficientes
sidades públicas. Apesar de todo o debate dade Federal de Santa Catarina (UFSC), para a construção de salas e de laboratórios
gerado, o fato é que as 53 universidades fe- de Florianópolis; e a Universidade Federal e para a compra de equipamentos. Sobre
derais brasileiras aderiram ao programa. do Paraná (UFPR), de Curitiba (confira o a relação quantidade/qualidade, acredita
Inseridas nesse contexto, estão as maio- quadro abaixo). que “não há nenhum indicador de que esse
res universidades do Rio Grande do Sul: O Pró-Reitor de Graduação da UFSM, crescimento quantitativo não venha acom-
a Universidade Federal do Rio Grande do Jorge Cunha, comenta a expansão e defen- panhado de um crescimento qualitativo”.
Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de de a escolha da Universidade: “A UFSM é
Santa Maria (UFSM). Apesar de ter entra- parte do Estado Brasileiro, que pertence
do somente na segunda fase do projeto – aos cidadãos brasileiros. Perder o bonde da A composição do orçamento
em agosto de 2008 –, a UFSM é a univer- história não participando de uma oportuni-
sidade do Estado que mais recebeu verbas dade como o REUNI, de expandir o ensino Atualmente, a UFSM opera com dois
pelo REUNI. Somente este ano, são 34 mi- público gratuito é, no mínimo, irresponsa-
orçamentos: um provindo do REUNI –
lhões de reais para investimentos em salas bilidade política”. para estruturação e expansão – e outro en-
de aula, laboratórios e construção de pré- Apesar de defender a implantação do
viado pelo Ministério da Educação (MEC).
dios. Por sua vez, a UFRGS recebeu menos REUNI, o Pró-Reitor de Planejamento da
Com relação às verbas provindas do MEC,
da metade desse valor (16,4 milhões de re- UFSM, Charles Jacques Prade, adverte: “O
para manutenção e investimento, o princi-
ais), de acordo o Diretor do Departamento ideal seria aumentar a estrutura e o dinhei-
pal fator na distribuição do dinheiro entre
de Orçamento da UFRGS, José Vanderlei ro mais do que duplicar. Com o aumento
as universidades é o produto final, ou seja,
Ferreira. dessa estrutura, é lógico que se tenha uma
o número de alunos formados a cada ano.
A disparidade entre os valores recebi- contrapartida financeira para isso. Agora eu
Além desse critério, são considerados: a
dos se explica pelo crescimento que cada pergunto: essa contrapartida é suficiente?
área física da universidade, o número de
universidade pretende realizar. Enquanto a Talvez não”. E complementa, sobre os obje-
cursos, o numero de docentes e suas titu-
UFSM criou 28 novos cursos – realizando, tivos da Universidade de atender, por meio
lações.
inclusive, um vestibular extraordinário –, a do REUNI, à demanda que não tem acesso Para 2009, a UFRGS recebeu cerca de
UFRGS criou apenas seis novos cursos em ao ensino superior: “Se vai ser eficiente, se
58 milhões de reais oriundos do MEC, en-
2009. Essa diferença acarreta uma substan- vamos conseguir responder a isso, o futu-
quanto a UFSM ficou com 36 milhões de
cial diferença de necessidades em termos ro vai nos dizer, mas temos que pensar em
reais. Levando em consideração os critérios
de infraestrutura e de contratação de do- atender a essa demanda reprimida e, com o
para a divisão dos recursos, espera-se que
em pouco tempo a UFSM
UNIVERSIDADES EM NÚMEROS supere a UFRGS em mais
esse quesito, uma vez que
Mesmo situada no interior, a UFSM se transformará na maior Universidade da Região Sul do Brasil,
a UFSM se tornará a
superando inclusive as universidades situadas nas capitais: Universidade Federal do Rio Grande
maior do Estado no que
do Sul (UFRGS); Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e Universidade Federal do Paraná
diz respeito ao número
(UFPR).
de cursos e de alunos.
UFSM UFRG UFSC UFPR “Isso é uma decorrência
Alunos na Graduação 20.747* 24.567* 19.354* 21.604* natural da própria fór-
Fotos: Marcelo de Franceschi

mula de distribuição dos


Cursos 92 69 54 77 recursos orçamentários,
Docentes 1.203* 2.114* 1.610* 2.011* que é combinada entre
% de Docentes Doutores 67% 77% 81% 65% as universidades federais.
Técnicos-administrativos 2.675* 2.380* 2.874* 3.527* Então não há como ima-
ginar que seja diferente”,
Recursos do REUNI R$ 34 mi R$ 16,4 mi R$ 22,5 mi R$ 41,5 mi assegura Jorge Cunha.
Recursos da Matriz R$ 36 mi R$ 58 mi R$ 56 mi R$ 118 mi .txt
Orçamentária do MEC
* Dados referentes a 2008
.txt Junho de 2009 11
Fonte: sites da UFSM, UFRGS, UFSC e UFPR
capa

O QUE VOCÊ FARIA


COM QUEM LHE DEVE
MAIS DE UM MILHÃO
DE REAIS?
Política de parceira da Universidade com a Prefeitura Municipal se mantém mesmo com uma
dívida que, em apenas três anos, ultrapassou R$ 1,4 milhão. O débito acumulado supera R$ 1,7
milhão.
Charles Almeida

O empréstimo de servidores da
UFSM à Prefeitura de Santa
Maria proporciona espaços
de interação, desenvolvimento de projetos
de pesquisa e troca de experiências. A ce-
reção monetária, excede 200 mil reais [pro-
cesso judicial número 2001.71.02.001455-4
do Tribunal Regional Federal de Santa Ma-
ria]. E a gestão Cezar Schirmer (PMDB),
empossada em janeiro deste ano, também
Uma vez não ressarcida, a Universidade
poderia requerer seus servidores de volta,
cancelando o processo de cedência. Mas
essa prática fere a política de boa vizinhan-
ça estabelecida entre a Instituição e a esfe-
dência possibilita à Instituição de ensino está com o pagamento atrasado. ra municipal. Entre 2006 e 2008, mesmo
inserir-se na comunidade por meio dos ser- Segundo a Pró-Reitoria de Recursos vendo a dívida crescer e ultrapassar a cifra
vidores e à Prefeitura contar com quadros Humanos, a cedência de servidores é re- de um milhão, a UFSM não interrompeu
qualificados. Mas nem só de louros vive gulamentada pela Lei 8.112 de 1990, que a parceria. Segundo o Chefe de Gabine-
essa relação. Nas últimas administrações possibilita o afastamento de funcioná- te do Reitor, João Manoel Espina Rossés,
municipais, o valor relativo ao salário dos rios para ocupar funções de confiança. O o retorno dos professores não foi requisi-
servidores não está voltando aos cofres da ônus da remuneração do servidor passa tado para não atrapalhar o andamento da
Universidade. a ser do órgão que o requer. Deste modo, administração municipal. “Toda vez que o
Durante o triênio 2006-2008, no gover- um professor que chefia uma secretaria de TCU [Tribunal de Contas da União] audi-
no de Valdeci Oliveira (PT), o Município município continua recebendo seu salário ta as contas da UFSM, é de praxe verificar
deixou de pagar à UFSM R$1.473.295,00 normalmente, pela Universidade. Cabe à a cedência entre órgãos. Ele detectou o não
em salários de servidores cedidos. No go- Prefeitura repassar mensalmente o valor recebimento e determinou que a Universi-
verno de Osvaldo Nascimento (PMDB), de integral aos cofres da Instituição, por meio dade cobrasse”, explica o Chefe de Gabine-
1997 a 2000, o montante, com juros e cor- de uma guia bancária. te. Naquele período, a Instituição enviou
Fotos: Charles Almeida / Marcelo de Franceschi / Arquivo Pessoal

ofícios cobrando o montante


do prefeito Valdeci Oliveira,
que garantiu honrar o débito.
O Pró-Reitor de Admi-
nistração, André Luis Kieling
Ries, conta que a Universi-
dade tentou acertar a dívida
com a Prefeitura: “Foi feito
um acordo para pagamento
em três vezes e não foi pago”.
Valdeci Oliveira afirma que o
valor estava em “restos a pa-
gar”, previsto no orçamento
de 2009. Contudo, a UFSM
ainda não foi ressarcida e es-
tuda uma cobrança judicial.
Vamos ingressar

na justiça ”, confirma o
Pró-Reitor.

12 .txt Junho de 2009


.txt
O Pró-Reitor de Administração, André considera que o não pagamento foi uma
DÍVIDAS HERDADAS Luis Kieling Ries, diz que as cobranças es-
tão sendo enviadas e que a Prefeitura “não
deselegância com a Instituição que cedeu
os servidores. Contudo, o acionamento
paga porque não paga. Não foi recolhido judicial, segundo ele, prejudicaria o acerto
Esperar a troca do governante para in-
nada [esse ano], a gente manda a cobrança porque geraria um precatório. “Eu já falei
gressar na Justiça tornou-se regra. A dívida
e eles não recolhem”. Segundo o secretário com o doutor Athos [Athos Renner Diniz,
de R$ 96.575,10 (hoje mais de R$ 200 mil
de finanças, Antônio Carlos de Lemos, o procurador geral da UFSM] para não pôr
com juros e correção monetária), gerada
ressarcimento não está em dia porque a na justiça porque nós vamos contestar. A
na administração de Osvaldo Nascimento
UFSM não tem remetido as faturas. “Quan- Universidade tinha que ter criado caso pe-
(1997-2000), só foi cobrada judicialmente
em 2001, após o fim do mandato. O pro-
Se for
do vier a nossa, vou pagar tudo. dindo a volta dos servidores cedidos [na
curador federal Paulo Roberto Brum, que
cem mil, vou pagar ”, pro- época]”. O procurador geral da UFSM,
mete Lemos, cuja secretaria é responsável Athos Renner Diniz, diz que “a Procurado-
acompanha esse processo, aponta inúme-
pelo pagamento. ria Jurídica não foi informada oficialmente
ras petições movidas pela Universidade re-
Com relação ao valor deixado pela ad- sobre essa dívida” e que não pode tomar
querendo o pagamento. Segundo o procu-
ministração Valdeci Oliveira, o secretário providências antes dessa comunicação.
rador, já foi solicitado inclusive o sequestro
de verbas da Prefeitura para liquidar a dívi-
da. Mesmo com decisão judicial favorável
à UFSM, que gerou um precatório, o mon- ENTENDA O QUE É PRECATÓRIO E AS ALTERAÇÕES PROPOSTAS
tante não foi pago. “O Brasil é mesmo o país
da impunidade”, comenta Brum, lembran- • Precatório: é a requisição expedida pelo Poder Judiciário contra a
do que tramita na Câmara dos Deputados a Fazenda Pública nas esferas federal, estadual ou municipal, para que
Proposta de Emenda Constitucional (PEC essa efetue o pagamento de débitos que já possuam condenação em
nº 351/2009) que altera a cobrança de pre-
decisões já julgadas.
catórios [quadro ao lado].
Mesmo com histórico de não pagadora,
a Prefeitura Municipal continua recebendo • PEC 351/2009: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC
servidores cedidos pela UFSM. Desde que 351/2009), que tramita na Câmara dos Deputados, tem o objetivo de
tomou posse, o prefeito Cezar Schirmer alterar as cobranças de precatórios. O relator da emenda é o deputado
conta com dois professores em função de federal Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da Comissão de Constituição e Jus-
confiança. João Luiz de Oliveira Roth, do tiça e de Cidadania. A proposta quer limitar o valor gasto pela União,
departamento de Ciências da Comunica- pelos estados e pelos municípios para pagamento de precatórios. Além
ção, e Antônio Carlos de Lemos, do de- disso, discute-se a criação de uma espécie de leilão da dívida em que o
partamento de Ciências Administrativas, credor que oferecesse maior desconto receberia primeiro. Atualmente
comandam as secretarias de Cultura e de
o pagamento é feito com base na cronologia da dívida, quanto mais
Finanças respectivamente. A Universidade
cedeu os servidores, mas não tem recebido
antiga maior a prioridade.
o valor de seus salários.

.txt: Qual o papel da UFSM nesta sua jornada na secretaria?

“A universidade pública se confunde com a ideia de nação. Neste sentido, uma integração pro-
funda com a comunidade é o seu grande desafio, portanto, também é sua função administrar o
saber produzido e imediatamente disseminar este conhecimento. Assim, a participação de servi-
dores da Universidade na construção do projeto de desenvolvimento harmônico da comunidade
é um processo que temos de ver como natural e como uma contribuição efetiva. A sala de aula
na agenda do século XXI é sistemática e assistemática. Talvez consiga contribuir para a cultura
da cidade com tudo aquilo que aprendi ao longo destes quase 35 anos de UFSM.”
João Luiz de Oliveira Roth (Secretário de Cultura)

“Nós temos sempre dito que a Universidade tem uma responsabilidade muito grande no ambien-
te onde ela está inserida; por isso ela tem sido procurada para contribuir com seu conhecimento
para o desenvolvimento local. E isso motivou, já há algum tempo, muitos servidores a fazerem
parte das administrações, tanto em nível municipal, estadual e federal. Existem alguns projetos
da Universidade da área administrativo-financeira que a gente aproveita aqui. Todos os Centros
de Ensino possuem os gabinetes de projeto, de vez em quando a gente vai lá e se socorre.”
Antônio Carlos de Lemos (Secretário de Finanças)

.txt Junho de 2009 13


capa
mes em afirmar que a Instituição tem sido [Museu de Artes de Santa Maria] e a um
procurada para a resolução de problemas programa de bibliotecas comunitárias em
VIA DE MÃO DUPLA públicos que envolvem suas pastas. Segun- todas as vilas e bairros de Santa Maria. Esse
do Sérgio Medeiros, os professores que es- é apenas o começo”, afirma ele. O secretá-
A presença constante de servidores da tão no atual governo têm a incumbência de rio prevê ainda a inserção dos cursos do
UFSM na Prefeitura Municipal, segundo buscar as universidades para a resolução de Centro de Ciências Sociais e Humanas nas
a chefe do departamento de Ciências da questões municipais. “O próprio prefeito atividades de sua pasta.
Comunicação, Ada Machado da Silveira, é pediu para a gente desenvolver essa capa- Na Secretaria de Transporte, a UFSM
inevitável porque “a Universidade contém cidade de intercâmbio com as universida- discutirá o Plano Diretor de Mobilidade
quadros qualificados com ampla experiên- des”, completa. Urbana de Santa Maria a ser desenvolvido
cia em administração pública”. A professora A presença de professores nas secre- empregando recursos do Banco Mundial.
defende que a presença de um professor na tarias tem motivado a criação de vínculos “A Universidade vai desempenhar um pa-
Secretaria de Cultura, por exemplo, pode beneficiando alunos e projetos de pesqui- pel fundamental neste planejamento, prin-
gerar o engajamento dos cursos de Rela- sa. O secretário e vice-prefeito José Farret cipalmente no apoio técnico”, prevê Sérgio
ções Públicas e Publicidade e Propaganda afirma que, em todas as secretarias, a ten- Renato de Medeiros. A Instituição partici-
em projetos municipais. Para o chefe do dência é buscar convênios com a Univer- pará também do planejamento da próxima
departamento de Ciências Administrati- O primeiro lugar
sidade. “ Conferência Nacional da Educação (CO-
vas, Ronaldo Morales, a cedência de ser- que procuramos foi a NAE 2010), juntamente com a Secretaria
vidores é um processo normal e uma ma- Universidade. Quem não busca de Educação. “Na CONAE 2010, vamos
neira da UFSM participar da comunidade é porque sabe demais”, argumenta. Farret discutir os eixos da qualidade de ensino, da
santa-mariense, ou seja, “uma resposta à diz que está construindo, juntamente com justiça social na educação e os sistemas na-
sociedade”. a Universidade, o projeto Residência Multi- cional, estadual e municipal de educação.
Além dos professores cedidos, o go- profissional, que envolverá recém-formados O Centro de Educação está indo às cidades
verno municipal conta com três docentes em nove graduações da área de saúde. da Associação dos Municípios do Centro
aposentados da UFSM na coordenação de Na pasta de Cultura, João Luiz de Oli- do Estado para mobilizar os trabalhadores
secretarias. Compõem o governo, os se- veira Roth apresenta propostas inovadoras de educação a participar das discussões”.
cretários de Educação, Pedro Aguirre; de para integrar o Município com a Universi- Outra característica das cedências na
Saúde, José Farret; e de Transporte, Sérgio dade. “O Centro de Artes e Letras já está atual administração é que, mesmo ocu-
Renato de Medeiros, todos com longa pas- bem avançado no estabelecimento de um pando cargos na Prefeitura, os professores
sagem pela Universidade. Eles são unâni- protocolo de ações direcionadas ao MASM mantêm atividades em sala de aula. Roth

O QUE VOCÊ FARIA COM R


“Compraria uma lavanderia semi-industrial para a CEU. Construiria, com o
apoio do curso de Arquitetura e Urbanismo, uma casa ecologicamente cor-
reta. Além de investimento em esporte e lazer, recreação e a construção
de um cinema no campus.”
José Francisco Silva Dias, Pró-Reitor de Assuntos Estudantis

“Faria uma reforma no prédio da Biblioteca. Deixaria ele novi-


nho. É muito dinheiro que precisa para colocar o prédio todo
novamente em condições ideais. Também investiria na revitali-
zação do jardim de inverno.”
Débora Dimussio, diretora da Biblioteca Central da UFSM

14 .txt Junho de 2009


.txt
leciona no curso de Publicidade e Propa-
ganda, e Lemos no curso de Administra-
ção. Pedro Aguirre defende a dupla função:
“Eu acho que a Universidade não deve ce-
der o professor em tempo integral porque
ele deve ficar ministrando aula. Deve pegar
os conhecimentos aqui da sociedade e le-
var para dentro da Universidade”, afirma o
secretário de educação, que foi cedido ao
Município, entre 1989 e 1992, para o mes-
mo cargo. .txt

Justiça já determinou o pagamento de dívidas


do período 1997-2000

R$ 1,7 MILHÃO?
“Compraria um planetário digital, avaliado em 700 mil reais.
Já está na hora de substituir os equipamentos, que datam
de 1970, e mudar a visão do planetário. O equipamento
novo permitiria, por exemplo, fazer uma viagem dentro do
corpo humano ou ainda entrar nos prédios do Antigo Egito.”
Francisco M. da Rocha, diretor do Planetário

“Primeiramente, adquiriria um aparelho de ressonância magnética (estimado


em 800 mil reais) para ser usado pelo sistema público de saúde. Também
nos falta uma UTI Móvel para pacientes graves, que custa em torno de 200
mil reais.”
Carlos Amaral, diretor administrativo do HUSM

.txt Junho de 2009 15


de dentro para fora .txt

ACADÊMICOS NO ALTO DO PÓDIO


A judoca Bruna Borin e a equipe masculina de handebol vencem os JUGs e conquistam vagas para a competi-
ção nacional. Além disso, os atletas de jiu-jitsu conquistaram três medalhas de ouro.
Saul Pranke

A UFSM mostrou sua força es-


portiva na 30ª edição dos Jo-
gos Universitários Gaúchos
( JUGs), disputada de 23 de maio a 7 de
junho, em Canoas e Porto Alegre. Alian-
vaga para os JUBs 2008 em três provas:
50m, 100m e 200m nado peito, mas, este
ano, não repetiu o mesmo desempenho.
Além dele, somente Bruna Borin dispu-
tou a competição nacional em Maceió
do mentes e corpos sãos, como sugere o (AL) no ano passado.
conhecido verso da Sátira X, do poeta ro-
mano Juvenal, a delegação da Universidade Cobertura completa da participação
trouxe o título em uma modalidade coleti- da UFSM em outras modalidades no
va e em quatro categorias das modalidades site www.ufsm.br/radar
individuais. Assim, o handebol masculino,
que volta a participar de competições na- Tatames que formam campeões
cionais, e a judoca Bruna Borin conquis-
taram vagas para os Jogos Universitários Bruna Borin, que havia vencido a
Brasileiros ( JUBs). categoria médio (até 70 kg) em 2008,
subiu de categoria este ano. Na catego-
JUBs: 14 a 23 de agosto em Fortaleza ria meio-pesado, ela volta a conquistar o
(CE). direito de participar da principal compe-
tição universitária do Brasil e, desta vez,
O grande destaque da UFSM nos JUGs melhor preparada: “iniciamos os trei-
foi a participação nos tatames. É deles que namentos em janeiro, preparando para
vêm quatro medalhas de ouro. A judoca os Jogos, e agora vamos intensificá-los.
Bruna Borin venceu a categoria meio- Além disso, eu faço diversas atividades
pesado (até 78 kg). Já a equipe de jiu-jitsu complementares, como musculação e
voltou de Canoas com três ouros. Felipe jiu-jitsu. Tudo para melhorar o desem-
Trindade, um dos monitores da equipe, penho”.
conquistou a categoria faixa roxa – peso Assim como a modalidade que é
médio (até 82,3 kg). Marcelo Marques e nova nos JUGs, a equipe de jiu-jitsu foi
Rafael Porto também venceram nas suas formada este ano. Os treinos, realizados
categorias, faixa azul – peso pena (até 70 nas segundas e quartas-feiras no Ginásio
kg) e faixa branca – peso pesado (até 94,3 Didático II do campus, acontecem desde
Bruna Borin conseguiu, pelo segundo ano
kg) respectivamente. março. As medalhas conquistadas foram
seguido, vaga para os Jogos Brasileiros.
Essas conquistas fizeram o desempe- os primeiros frutos do projeto e deram à
nho deste ano superar os resultados obti- UFSM a terceira colocação geral na mo-
dos na edição anterior. Na natação, o aluno dalidade, atrás da Unisinos e da UFRGS. Ulbra/SM, por 21 a 17, trouxeram o título.
Gustavo Menna Barreto havia conquistado Em 2008, a equipe foi a terceira colocada
Retomando a hegemonia na competição. Segundo o treinador da
equipe, Luiz Osório Cruz Portela, o desem-
Um título nos esportes penho foi muito bom. Durante os jogos, o
coletivos foi o que faltou no time ficou sempre à frente dos adversários
ano passado. Neste ano, veio no placar.
com o handebol masculino, Essa conquista representa muito mais
modalidade tradicional na do que a participação nos JUBs. Para Luiz
Universidade. A conquista Osório, “a ideia é tornar a equipe estável,
não acontecia há mais de pois com os resultados e com a participa-
20 anos. “Naquela época, ção em competições nacionais, é possível
iam para os JUBs as seleções pleitear recursos por meio de projetos para
estaduais. Agora o campeão essa finalidade”, afirma o professor.
leva o nome da universidade Nos JUBs, a equipe vai disputar a Di-
para todo o Brasil”, afirma visão Especial, torneio que reúne as oito
o coordenador do Núcleo principais equipes. O atleta Cristiano
Universitário de Esportes Grabner ressalta “que vencer é sempre o
e Lazer, Antonio Schmitz objetivo, ainda mais para garantir uma vaga
Filho. para os JUBs e jogar contra as melhores
As vitórias sobre a Fe- equipes universitárias do país”. .txt
Marcelo, Rafael, Felipe e Fernando trouxeram a 3ª
colocação geral no jiu-jitsu. evale, por 13 a 9, e sobre a

Fotos: Divulgação
16 .txt Junho de 2009
de fora para dentro .txt

VIAGEM AO CENTRO DA
TERRA GAÚCHA
Os universitários estrangeiros que fizeram as malas e vieram
estudar na UFSM. Sarah Quines

E lizabeth Andrea estuda arquite-


tura na Universidad de Santiago
de Chile na capital do país. José
Carlos nasceu no arquipélago de Cabo Ver-
de a 640 km da costa africana. O que há em
bem uma bolsa de 300 reais que ajuda tam-
bém no transporte para o campus.
O convênio da AUGM funciona de
modo recíproco, isto é, se a UFSM envia
um aluno do curso de Geografia, deve re-
comum entre os dois? ceber um estudante do mesmo curso. Nem
Ambos fazem intercâmbio na UFSM. A sempre essa regra é cumprida, caso em que
jovem chilena conta que nunca tinha pen- o argentino Luis Alfredo se encontra. Em-
sado em estudar em outro país até o ano bora o jovem estude Administração, preen-
passado, quando um colega, que já tinha cheu a vaga de Matemática, pois não havia
feito a viagem para cá, contou a ela sobre nenhum estudante deste curso interessado
a experiência. Conhecido pelas iniciais de em vir.
Cabo Verde, José Carlos ou “CV” veio estu- Laura Grötter, que cursa Veterinária,
dar no Brasil para ter um diploma do exte- e Fiorella Gini, estudante de Arquitetura,
rior. Ele retornará ao seu país natal quando vieram da Universidad Nacional del Litoral
concluir o curso de Relações Públicas na na Argentina. As duas jovens, que retornam
UFSM. ao seu país no fim do semestre, ressaltam
O cabo-verdiano tem primos que mo- não apenas a importância do intercâmbio
ravam em Fortaleza (CE) quando veio na carreira profissional, mas o crescimento
estudar no Brasil. Já Elizabeth conhecia o como pessoa na convivência com uma cul-
país pelas telenovelas. A facilidade de um tura diferente.
foi o percalço de outro. A língua, já familiar A resposta das estudantes argentinas é
para “CV”, foi uma dificuldade inicial para unânime entre os seis entrevistados. Maria
a adaptação de Elizabeth. Catalina, estudante de Artes Visuais que
– É um desafio ter que entender as lei- veio do Uruguai, acrescenta:
turas, e o que os colegas e os professores – Serviu para abrir a mente, ter capaci-
falam. Mas agora já estou acostumada. dade de entender outras culturas diferentes
O custo de uma viagem costuma ser o daquela a qual estamos acostumados.
entrave para muitos jovens que têm von- Todos os jovens estudantes repetiriam
tade de fazer intercâmbio. Atualmente, os a dose. A experiência de conhecer o centro
estudantes têm a oportunidade de viajar do Rio Grande do Sul despertou neles a
através de convênios mantidos entre as vontade de viajar para outros lugares. .txt
universidades. A Secretaria de Apoio Inter-
nacional (SAI) é o órgão encarregado de
enviar e receber universitários na UFSM.
Entre os convênios com instituições de
outros países, está a Associação das Univer-
sidades do Grupo Montevidéu (AUGM),
da qual participam Argentina, Bolívia, Bra-
sil, Chile, Paraguai e Uruguai. No primeiro
semestre de 2009, a UFSM recebeu 13 alu-
nos pela AUGM. A secretária da SAI, Li-
liane Della Méa, explica as facilidades que
propiciam a vinda dos estudantes.
– Esse é um convênio atrativo porque
o aluno não tem gasto. A gente aluga apar-
tamento para ele, ele toma café, almoça e
janta no RU, inclusive no sábado. Para as
refeições do domingo, os estudantes rece-

Fotos: Sarah Quines / arquivo pessoal


.txt Junho de 2009 17
categorias .txt
TRÂNSITO DEU SINAL AMARELO
PARA SERVIDORES, MAS MPF
DEU SINAL VERDE
Trâmites para a contratação de funcionários concursados, pela
UFSM, ficaram suspensos por 31 dias. O motivo: as supostas
irregularidades causadas por problemas nos trânsito.
Larissa Drabeski e Marcelo de Franceschi

T erminou a angústia de mais de

datos do concurso público para


servidores da UFSM aguardavam a decisão
Para apurar as reclamações recebidas, o
MPF recomendou à Universidade que sus-
dezesseis mil pessoas. Os candi-
pendesse os trâmites do concurso por 30
dias. A medida atrasou a contratação dos ser-
vidores selecionados para ocupar as 112 va-
do Ministério Público Federal (MPF) sobre
gas oferecidas. Nesse período, a procuradora
supostas irregularidades que teriam ocorri-
analisou as atas das salas de prova, ouviu 37
do em 19 de abril, dia da realização da pro- Em Silveira Martins, os professores Ever-
fiscais e mais de dez candidatos.
va. Depois das investigações, a procuradora ton Behr, Marilise Krügel e outros cinco
Agora, com o aval do MPF, a Universida-
responsável pelo caso, Jerusa Burman Vicieli, docentes realizam as tarefas de adminis-
de vai dar prosseguimento aos processos de
analisou o caso. Segundo ela, os incidentes tração da Unidade da UFSM. Eles vão ser
substituídos por nove vagas do concurso
contratação. “Nós tínhamos parado na ava-
não possuíam gravidade a ponto de “macular público.
liação médica dos candidatos que apontaram
a transparência, a igualdade e o caráter uni-
serem deficientes físicos. Vai ser agendado
versal do concurso”, permitindo que a Uni- O andamento no dia do concurso
versidade homologasse a seleção. novamente com a perícia médica e vamos re-
tomar esses exames”, informou o Pró-Reitor
O que deu início à investigação no MPF Buscando melhor remuneração ou a
de Recursos Humanos, João Pillar Pacheco
foi o atraso de 15 minutos no início das pro- estabilidade de um cargo público, 16.255
de Campos.
vas. O tempo de tolerância foi a solução en- candidatos se inscreveram para a seleção de
contrada pela Universidade para que os can- Para alguns setores da UFSM que aguar- servidores. O número de inscritos é quase
didatos presos em um congestionamento dedam a chegada de novos servidores, o arqui- o mesmo de um vestibular: o de 2009 da
vamento do processo é uma boa notícia. Na
trânsito pudessem chegar aos seus locais de UFSM, por exemplo, teve 19.991 candida-
Unidade Descentralizada de Silveira Martins
prova. Durante esses 15 minutos, candidatos tos. As vagas oferecidas eram para cargos de
(UDESSM), os serviços administrativos es-
que já estavam nas salas teriam conversado, níveis médio e superior distribuídas entre
tão sendo operados por sete professores vin-
saído e falado ao celular. Esse era o teor das todas as unidades da UFSM (Santa Maria,
várias reclamações que chegaram ao MPF: dos de outras unidades da UFSM. Das vagas Frederico Westphalen, Palmeira das Missões
do concurso, nove são destinadas para a Uni-
“recebemos diversos e-mails, telefonemas e e Silveira Martins).
dade. O diretor da UDESSM, José Lannes de
algumas pessoas vieram prestar declarações”, A prova estava marcada para começar às
explica a procuradora da República. Melo, espera que até agosto os funcionários 8h30min, mas devido a um engarrafamento
já estejam contrata- no acesso ao campus da UFSM, o início foi
dos. adiado em 15 minutos. Entretanto, nem to-
Até o fecha- dos os fiscais ficaram sabendo da prorrogação
mento desta edição, antes das 8h30min. Por isso, em alguns locais
o reitor Clóvis Lima de prova, os cadernos de questões foram dis-
iria à Brasília, no dia tribuídos, recolhidos e entregues novamente,
24 de junho, tratar 15 minutos mais tarde.
com o Ministério da O Pró-Reitor de Recursos Humanos,
Educação (MEC) João Pillar Pacheco de Campos, explica o
sobre a liberação dos motivo do atraso: “houve um acidente no
códigos de vaga para acesso à Universidade e de 35% a 40% dos
efetivar a nomeação candidatos estavam se deslocando para o
dos candidatos. “A campus”. O acidente em questão ocorreu na
expectativa”, disse RSC 287 (Faixa Nova), Km 240, próximo ao
ainda o Pró-Reitor Park Hotel Morotin. Conforme a 2ª Compa-
de Recursos Huma- nhia Rodoviária da Brigada Militar Estadual,
nos, “é que de 20 a às 7h45min, um choque entre um automóvel
30 dias nós homo- e uma motocicleta resultou no ferimento dos
O diretor da UDESSM, José Lannes de Melo, trabalha nas loguemos esse con- dois ocupantes da moto.
questões administrativas, juntamente com mais seis profes- curso”. Depois de optar pelo atraso, a Comissão
sores. Com o concurso público, a Unidade receberá nove ser-
vidores técnicos-administrativos. Permanente de Vestibular (COPERVES),

18 .txt Junho de 2009


categorias .txt
responsável por aplicar as provas, passou a 30 minutos de antecedência, muitos deixa- COPERVES, as Polícias Rodoviárias Esta-
comunicar os fiscais da decisão. O responsá- ram para se dirigir ao campus na última hora. dual e Federal, a Brigada Militar e o Departa-
vel pela logística da COPERVES, Luis Felipe “Faltou divulgação e se dar conta que esse mento Municipal de Trânsito. O comandante
Lopes, explica por que nem todos foram avi- público não era o de vestibulandos” avalia o do 2º Batalhão Rodoviário da Brigada Mili-
sados antes do horário previsto: “como o en- Sargento do 2º Batalhão Rodoviário da Bri- tar, Elton Colussi, explica por que não houve
rosco do trânsito era no campus, a gente não gada Militar, Rois Machado. O policial ressal- a liberação: “nós entendemos que, por ser um
se deu conta de avisar a cidade. Teve lugares ta que algumas pessoas sequer sabiam onde domingo e por ser um dia só, não haveria ne-
que chegou 8h30min e abriram as provas”. era a sua prova: “o pessoal procurava o local cessidade. As pessoas têm que entender que
No centro da cidade, havia dez locais de pro- de prova na hora. O vestibulando dias antes elas precisam se antecipar. Elas não podem
va, nos quais foram alocados 8.220 candida- vai verificando onde é essa prova. Pessoas de depender do sentido único”. .txt
tos. A comunicação com os fiscais, segundo mais idade também chegavam ao
Lopes, era feita por telefone. “Houve um caso primeiro prédio perguntando onde
[no campus] em que o coordenador da área era determinado local”. Declarações
não estava com o telefone na hora e foi comu- Outro fator determinante para
nicado só depois de ter dado início à prova”, o engarrafamento foi o pouco uso “Eu fiquei até o fim da prova, até quinze
salienta Luis Felipe. do transporte coletivo. “O movi-
para meio-dia, e a fiscal do concurso dei-
O Vice-Reitor, Felipe Müller, acompa- mento de carros foi bem maior do
xou uma menina passar a limpo no cader-
nhou de perto o desenrolar dos fatos. O carro que o normal. A gente esperava um
dele era um dos que tentavam se dirigir à Uni- grande movimento nos ônibus, no de resposta depois desse tempo. Mais
versidade pouco antes do início das provas. mas foi bem fraco” descreve o Ge- ou menos uns cinco minutos após o sinal
Müller argumenta que, se não fosse o atraso, rente de Tráfego da ATU, Alcidinei do término da prova.”
muitos candidatos poderiam ter entrado com Barcellos. Candidato ao cargo de Técnico em Assuntos
Educacionais, fez a prova no Instituto Estadu-
reclamações ao MPF por terem sido impe- Uma medida adotada nos três
didos de fazer a prova em decorrência do últimos vestibulares para evitar al de Educação Olavo Bilac.
trânsito. Ele afirma que a falha foi em tomar problemas com o trânsito é tornar
a decisão muito perto do horário estipulado a Faixa Nova mão única, ou seja, “Foi tudo tranquilo. Achamos estranho o
para o início das provas, não havendo tempo nas duas vias trafega-se no sentido primeiro sinal, para começar as provas,
hábil para comunicar o adiamento a todos os centro-campus. Segundo o Pró- que demorou a tocar. Nós não distribu-
fiscais de prova. Reitor de Recursos Humanos, essa ímos nenhuma prova, mantivemos o
O acidente ocorrido da RSC 287, pelo atitude só foi tomada depois que já pessoal em ordem, todo mundo já tinha
que indica a apuração do caso, foi apenas um havia engarrafamento: “mas aí já era
entrado. Todo mundo ficou conformado
agravante no congestionamento do trânsito. tarde, era 8h20min ou 8h25min da
e dentro desse período de espera não en-
Os principais responsáveis teriam sido os manhã”.
candidatos. Embora instruídos de que de- O funcionamento do trânsi- trou mais ninguém.”
veriam chegar aos seus locais de prova com to é definido em reuniões entre a Fiscal de prova no campus.

“A concentração ficou comprometida, tu te


perguntas o que está acontecendo. Ficou
todo aquele cochicho que de certa forma
complicou. O edital é claro: o início é às
8h30min e os candidatos devem chegar
com uma antecedência mínima de 30 mi-
nutos. O edital tem que ser respeitado em
qualquer circunstância.”
Candidato ao cargo de Técnico em Assuntos
Educacionais para a UDESSM, fez a prova na
Faculdade Integrada de Santa Maria.

“Deu o sinal, recebemos as provas e con-


ferimos o número de páginas e questões.
Nós abrimos e começamos a fazer. Pedi-
ram para fechar e, nesse tempo, alguns
candidatos começaram a ficar nervosos.
O pessoal conversava, mas aquela con-
Fotos: Marcelo de Franceschi

versa rápida: o que será que houve? O


que aconteceu? Por que vamos ter que
O uso intenso de veículos por parte dos candidatos provocou um con-
esperar?”
Candidata ao cargo de Técnico em Assuntos
gestionamento no acesso ao campus. A grande movimentação fez a Educacionais, fez a prova no Colégio Estadual
Universidade atrasar o início das provas.
Manoel Ribas.

.txt Junho de 2009 19


cultura
PARA ALÉM DE QUADROS E PAREDES:
As breves passagens de Iberê Camargo pela UFSM.
Luciana Rosa

P elos caminhos que levaram os


ferroviários Adelino Alves de
Camargo e Doralice Bassani de
Camargo a uma cidade conhecida por
ter suas encostas cortadas pelos trilhos,
dentro das dependências da Universi-
dade. Além disso, a inexistência desse
documento não deixa garantia nenhuma
de que as obras estejam ainda sob a
tutela da UFSM, nem o conhecimento
férrea. E foi ali, sob o desenrolar da
primeira infância, que a turma de amigos
se constituiu, com Jorge Lafon, Harry
Albertani, José Borin, Edmundo Car-
doso e Iberê Camargo.
passaram também os pincéis de um sobre o estado de conservação delas. Além das brincadeiras de guri,
renomado artista: Iberê Camargo. A .txt Existe uma esperança de que Edmundo e Iberê começavam também
foi em busca de parte dessa história, com a construção do Centro de Con- a trocar as primeiras impressões sobre o
seguindo os rastros deixados nas breves venções haja uma sala especial para mundo das artes. “Ele tinha uma ligação
passagens de Iberê pela UFSM e, conse- expor essas pinturas: “Está se pensando com o Edmundo no sentido artístico. Se
quentemente, por Santa Maria. na catalogação desse material para mais tu olhares algumas das pinturas daquela
adiante, pois existe a possibilidade de época, tu vais ver que ele fez um quadro
O futuro aos idiotas pertence haver um espaço no centro de conven- no qual coloca o trilho do trem (pais
As telas cobertas por grossas ções que está sendo construído, para ferroviários), a casinha do guarda-freio
camadas de tinta fizeram de Iberê Ca- abrigar essas obras”, afirma Alfonso e, por fim, um palco, em função de Ed-
margo um dos artistas brasileiros mais Benetti. mundo ser uma pessoa ligada ao teatro”,
reconhecidos internacionalmente. Ao lembra Gilda May. Esses tempos dos car-
longo de seus 79 anos, o menino nascido Carretéis de lembranças retéis se passaram, e o artista mudou-se
em Restinga Seca e criado em Santa O século XX anunciava suas para Porto Alegre, junto com sua família,
Maria produziu mais de sete mil obras. primeiras revoluções, quando em 1928, para estudar. Muitas coisas ficariam para
Alguns de seus quadros en- o menino Iberê teve suas primeiras trás, menos a vontade de sempre voltar
contram-se aqui na UFSM, os quais são lições de arte na extinta Escola de Artes àquela Estação cheia de saudades.
fruto de uma doação feita pelo pintor na e Ofícios de Santa Maria, localizada no
década de 1980. Embora se conheça a prédio hoje ocupado por uma conhecida Um ciclista pelas curvas do
importância dessas peças, o fato de elas rede de supermercados. Foi no bairro passado
não estarem reunidas faz com que se Itararé, junto de sua avó Chica, que Iberê Iberê continuou estudando
perca o controle sobre esse patrimônio, firmou raízes e consumou amizades que pintura em Porto Alegre, sob as lições de
colocando-o sob risco. “A gente não tem lhe acompanhariam por toda a vida. João Fahrion. No entanto, na década de
um controle sobre a localização dessas Uma dessas foi com o teatrólogo santa- 1940, o artista se cansa da capital gaúcha
obras, elas estão espalhadas pela Univer- mariense, Edmundo Cardoso, com quem e vai em busca de novos horizontes para
sidade”, constata o professor do Centro Iberê nunca deixou de manter contato, sua arte, na então capital nacional, Rio
de Artes e Letras, Alfonso Benetti. mesmo estando longe. de Janeiro. Lá, Iberê estuda na Escola
É visível o descaso que a Algumas das histórias desses Nacional de Belas Artes, porém sua
Instituição tem para com o seu acervo tempos remotos, em que o menino cheio mente sempre irrequieta não se adapta à
histórico-cultural. A simples tentativa de personalidade começava a rabiscar metodologia da Escola. O resultado foi
de obter um documento oficial, no qual seus primeiros desenhos, são trazidas a sua união com outros artistas para a
conste a lista de obras doadas, é tarefa pelas herdeiras intelectuais de Edmundo criação do Grupo Guignar, encabeçado
praticamente impossível. Fato este que Cardoso: Therezinha de Jesus Pires dos pelo seu professor de gravura, o mineiro
inviabiliza a localização das obras doadas Santos, viúva de Edmundo e Gilda May Alberto da Veiga Guignard. Iberê passa,
Cardoso Santos, filha do teatrólogo. então, a dar aulas no Instituto de Belas
Gilda May revela que os artistas Artes do Rio de Janeiro em 1953.
se conheceram em função da avó Para comemorar os 111 anos
de Iberê, que criou um tio de de Santa Maria, Iberê foi convidado
Edmundo. Além disso, o menino pelo professor Carlos Scarinci, em nome
Edu – apelido de infância de da Prefeitura Municipal, para trazer
Edmundo – estava sempre algumas de suas obras a serem expostas.
transitando pelas ruas do Foi a primeira
bairro Itararé. Vó Chica vez em que o
morava na rua Visconde artista voltou
Ferreira Pinto, muito oficial-
próxima da viação mente

20 .txt Junho de 2009


.txt
à cidade na qual rabiscou seus a comunidade universitária, vista a
primeiros traços. profundeza das raízes que o ligam
Em 1977, acontece a a Santa Maria e particularmente à
exposição Cadernos de desenhos na UFSM”.
galeria Iberê Camargo. Esse espaço Como forma de retribuição à
cultural foi uma homenagem que homenagem recebida, o pintor
o Diretório Central do Estudantes realizou a doação de algumas de
(DCE) resolveu prestar ao pintor, suas obras à Universidade. Lem-
dando-lhe o seu nome em 1974. brando que esse não era um hábito
Como lembra o professor de Artes para Iberê, que só se desfazia de
Visuais, Alfonso Benetti: “Ele fez, suas peças mediante a venda, como
ainda nos anos 1970, uma ex- relata Alfonso Benetti: “Ele não
posição de guaches e desenhos em era uma pessoa de doar trabalhos
uma galeria que se chamava Iberê para museus. Se a pessoa quisesse
Camargo. Onde hoje funciona a uma obra dele, tinha que comprar.
Casa do Estudante, lá embaixo, lá Isso é interessante, no sentido da
na galeria Iberê Camargo”. conservação, pois às vezes o artista
Porém, é apenas nos anos doa uma obra e ela acaba não rece-
1980 que o reconhecimento da bendo o cuidado que necessita”
importância de Iberê para a cidade Ainda na década de 1980, Iberê
é manifestado oficialmente pela en- realizou duas exposições em Santa
trega do título de Doutor Honoris Maria, a primeira no Salão de Ex-
Causa pela UFSM. Em documento posições Professor Hélios Homero
de 14 de julho de 1986, o então Bernardi, em 1984. E a segunda,
reitor na Universidade, Gilberto uma exposição de desenhos, gravu-
Aquino Benetti, informa a Iberê ras e pinturas em homenagem aos
que o Egrégio Conselho Univer- Iberê Camargo sendo condecorado pelo Reitor 60 anos de arte, na antiga galeria
Gilberto Benetti em 1986.
sitário aprova por unanimidade Matiz – localizada na rua Floriano
a outorga a “V. Sa. o título de Dr. Peixoto – em 1987.
Honoris Causa da Universidade se mudou para Porto Alegre. Lá con- Em 1991, o artista participou
Federal de Santa Maria”. viveu com o pintor até a morte dele”, de uma Exposição Coletiva de Guaches
No mesmo documento, o reitor reiteram Therezinha e Gilda May sobre na Universidade Federal de Santa Maria,
explica que a proposta de conceder o a grande amizade de Mariza Carpes que ficaria marcada como sua última
título teria partido da professora Mariza e Iberê. Ainda no documento em que passagem pela cidade. Em agosto de
Carpes de Barros. “Mariza Carpes era comunica a homenagem, Aquino Ben- 1994, Iberê morre vítima de um câncer.
amiga do Iberê, antiga professora da netti reafirma a importância do artista: .txt
Universidade. Depois de aposentada ela “Trata-se de uma homenagem que honra

As três principais fases da pintura do artista:


Os carretéis
Em 1958, uma hérnia de disco obrigou o pintor a permanecer deitado por um longo período. De cama, o artista estava
impossibilitado de observar as paisagens que reproduzia em suas obras. Foi das memórias de infância que ele resgatou
sua nova fonte de inspiração. Os carretéis, que eram encontrados na caixa de costuras de sua mãe, passaram a constituir o
elemento principal de seus quadros.
Ciclistas
Um incidente ocorrido no Rio de Janeiro, na década de 1980, marcaria a volta do artista para Porto Alegre e a entrada de
sua pintura em uma fase sombria. Iberê foi morar nas proximidades do Parque da Redenção. Por lá, ele passava várias
horas de seu dia, observando os ciclistas, velozes e, muitas vezes sem rumo, como estava o próprio artista naquele
momento. Essas personagens sobre rodas passaram a figurar uma nova fase em sua arte. Os ciclistas de Iberê
andam em direção à esquerda – como aponta a estudiosa do artista Lisette Lagnado –
indicando uma busca ao passado, às lembranças da infância.
As idiotas
A tardezinha nas pequenas cidades do interior do Rio Grande do Sul está repleta de
moças, um pouco rechonchudas, sentadas em frente a suas casas, com as mãos
sobre as pernas e o olhar no horizonte.Essas moças são as protagonistas da
pintura de Iberê em sua terceira e última fase artística. As idiotas, como
foram denominadas, são quadros que trazem essas figuras idiotizadas,
sentadas esperando a vida passar, marcam a fase
mais obscura da arte do pintor.

Fonte:
Fundação Iberê Camargo. Colaboração: Elisa Malcon, integrante da equipe do acervo da Fundação Iberê
Camargo. Foto: divulgação. Detalhe de obra de Iberê Camargo.
.txt Junho de 2009 21
cultura
DE VALE VÊNETO PA

Violino, trompete, contrabaixo, percussão. Os sons desses e de vários outros instrumentos tomam conta de Vale
Vêneto, Distrito de São João do Polêsine, durante uma semana inteira. Dias em que, há 24 anos, acontece o
Festival Internacional de Inverno da UFSM. Neste ano, o evento acontece de 26 de julho a 2 de agosto.
Andressa Quadro

O Festival Internacional de Inverno


é promovido, há 24 anos, pelo
departamento de música da
UFSM, com o apoio da Prefeitura de São
João do Polêsine, da comunidade de Vale
músicos do exterior é um dos fatores que são Organizadora do Festival da UFSM,
despertam o interesse dos estudantes
em participar do evento, pois ocorre um
intenso intercâmbio de conhecimento
entre professores e alunos. “Inúmeros
Antonina Enelita da Silva.
São ofertadas 16 oficinas para
estudantes de universidades, escolas
de música e conservatórios, que serão
Vêneto e da University of Georgia, dos foram os casos de alunos que, ao fazerem ministradas por músicos da América do
Estados Unidos. as oficinas durante a graduação, seguiram Norte, da Europa e da América do Sul.
A tradição do Festival se con- para o mestrado em universidades do ex- Além dessas aulas, também vão aconte-
solida a cada ano, tanto nacional como terior com professores que participaram cer as tradicionais oficinas para as crian-
internacionalmente. Desde a primeira do Festival”, conta uma das criadoras do ças da comunidade, em que os bolsistas
edição, em 1984, são convidados profes- Festival, Alzira Severo. Outro fator que do curso de Música da UFSM atuam
sores de diferentes instrumentos e de atrai os estudantes de música é a possi- como professores.
vários lugares do Brasil e do mundo para bilidade de aprender a tocar novos O clima perfeito
ministrar oficinas. O resultado é que es- instrumentos. “Nesta edição, por exem- Idealizado pela professora Alzi-
ses profissionais levam aos seus estados plo, teremos oficina de fagote (é o mais ra Severo, do departamento de Música
e países de origem a experiência de par- grave da família dos instrumentos de da UFSM, o Festival nasceu por meio de
ticiparem do Festival. “Isso, nos meios sopro e entra predominantemente em or- uma parceria com o padre Clementino
musicais internacionais, é uma grande questras), com Isabel Jeremias, da Costa Marcuzzo, que pretendia criar a Semana
propaganda para o Festival”, esclarece Rica. São instrumentos diferentes como Cultural Italiana. Desde então os dois
Milton Masciadri, professor da University esse que queremos implantar no nosso eventos ocorrem paralelamente.
of Georgia, dos Estados Unidos, e diretor curso de música”, explica a Coordena- A escolha por Vale Vêneto foi
artístico do Festival. Masciadri conta dora Geral do Festival, Ângela Maria inspirada em outros festivais como o
ainda que, neste ano, além de profes- Ferrari. de Campos do Jordão, em São Paulo,
sores, também participarão da semana A possibilidade de aprimorar o e o de São João Del Rei, em Minas
erudita de Vale Vêneto estudantes da conhecimento em determinados instru- Gerais: cidades pequenas, com clima
Europa e dos Estados Unidos. mentos com professores renomados faz aconchegante e sem muita badalação.
A escolha dos convidados é com que as vagas para as oficinas sejam Como explica Angela Maria
realizada por meio de indicação dos pro- bastante disputadas. Os alunos devem Ferrari, esse ambiente interiorano pos-
fessores do curso de música da UFSM e passar por um processo de seleção para sibilita uma maior comunicação entre
por Milton Masciadri, que também faz conseguirem participar das aulas, o professores e alunos, além de oferecer a
o contato com os indicados. O objetivo que inclui enviar o currículo junto com infraestrutura necessária ao público do
da comissão organizadora é não repetir uma carta de indicação de um profes- Festival. “Nós temos ali as salas de aula,
a participação do mesmo professor por sor. E isso ainda não é garantia de uma uma sala só para concertos no seminário,
três anos seguidos. Assim, há variedade vaga. “Há muitos alunos que não são a hospedagem, a segurança, enfim, tudo
e os alunos têm contato com diferentes aceitos, até porque todas as oficinas têm do que precisamos em um vilarejo que,
nomes do cenário musical brasileiro e apenas 15 alunos, já que se tratam de além de ter uma comunidade acolhe-
internacional. Nesta 24ª edição, virão trabalhos individuais,
professores como Josete Silveira Mello com exceção da de O padre Clementino Marcuzzo, um dos criadores do Festival
Feres (Brasil), Roberto Tubaro (Argen- educação musical, que e da Semana Cultural Italiana, faleceu durante os dias
tina), Angela Jones (EUA) e John Lynch oferece um pouco mais de fechamento desta edição. A comissão organizadora do
(EUA), entre outros. de vagas”, afirma a Festival informou que ele também será homenageado.
A opção de sempre trazer integrante da Comis-

22 .txt Junho de 2009


.txt
PARA O MUNDO

dora, é um lugar muito bonito”, afirma a Milton Masciadri, pai do diretor de arte As inscrições para o 24º Festival Inter-
coordenadora. do Festival, Milton Masciadri Filho. O nacional de Inverno vão até o dia 14 de
A 24ª edição do Festival Inter- pai do atual diretor de arte do Festival julho. O formulário a ser preenchido se
nacional de Inverno terá valor especial era colaborador e frequentador assíduo encontra no site www.ufsm.br/festivalde-
para quem já o acompanha há algum do Festival. Vivia em Porto Alegre e inverno. Outras informações podem ser
tempo. O motivo é o recente falecimento recepcionava os professores que vinham obtidas através do e-mail: fiiufsm@smail.
do contrabaixista aposentado da Orques- do exterior, facilitando a chegada deles ufsm.br ou pelo telefone do Departamen-
tra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA), até Vale Vêneto. .txt to de Música da UFSM: (55) 3220-8088.

Internacional
internacionais, é uma grande repercussão para o Festival. Este
O responsável pela direção ano, contaremos com a participação de estudantes da Europa
artística do Festival de Inverno e dos Estados Unidos.
há 24 anos, Milton Masciadri,
O senhor participa da organização de outros festivais de
nasceu em Montevidéu, no
música?
Uruguai, mas foi criado no
MM – Como professor de Música, tenho participado de
Brasil. O contrabaixista iniciou
muitos festivais na América do Sul, na Europa e na América
seus estudos com o pai, Milton
do Norte, e também como artista para a paz da UNESCO.
Masciadri. Vive há 27 anos nos
Além disso, tenho participação ativa na organização de alguns
Estados Unidos, onde é profes-
desses festivais.
sor de contrabaixo da University
of Georgia. É também acadêmico O seu pai também era músico?
da Sociedade Filarmônica de Bolonha, na Itália, a mais antiga MM – Meu pai era contrabaixista e também meu profes-
escola de música da Europa. Desde 1998, o músico foi desig- sor. Ele provavelmente tenha sido um dos professores mais
nado Artista da Unesco para a Paz, representando as Nações ativos no mundo ‘contrabaixístico’ da América do Sul, e uma
Unidas como solista em diversos países. Confira trechos da pessoa importantíssima na didática do contrabaixo no Brasil.
entrevista concedida por Milton Masciadri à .txt. Existem músicos que foram alunos dele e que hoje exercem a
vida profissional por todo o Brasil e mundo afora.
Como é o trabalho na direção de arte do Festival mesmo
morando nos EUA? Como foi a colaboração do seu pai nesses 24 anos do
Milton Masciadri – Há mais de vinte anos temos um acordo Festival?
internacional entre a UFSM e a University of Georgia. Isto tem MM – O meu pai sempre foi uma pessoa ativa no Festival aju-
facilitado o meu trabalho na preparação do Festival já que é um dando na organização no início. Ele morava em Porto Alegre,
processo que começa poucos meses depois do final do festival então recepcionava os professores e os encaminhava à Santa
anterior. É um trabalho cuidadoso e recebe ajuda de diversos Maria. Depois de sua aposentadoria da OSPA, ele passou a
fundos internacionais e organizações, o que propicia trazer tan- participar do evento em Vale Vêneto sempre estendendo uma
tos professores internacionais para o Festival de Vale Vêneto. ajuda a todos nós da comissão. Foi uma figura característica
No final de cada Festival, a comissão se reúne para decidir do Festival nestes últimos anos.
as oficinas do ano seguinte e, praticamente neste momento,
O seu pai faleceu em abril deste ano. O que muda para o
começa a planificação do próximo Festival.
Festival?
O Festival é bem reconhecido aí nos EUA? E em outros MM – A presença dele será sempre recordada por nós. Ele
países? nos inspirou muito nestes anos e isso continuará sendo
MM – Ele já tem uma tradição muito grande tanto aqui nos levado pelos músicos do Festival, pelos professores da comis-
Estados Unidos quanto na Europa, não só pela publicidade do são e por todos aqueles que tiveram a oportunidade de estar
Festival, mas também pelos 24 anos da participação de profes- em contato com ele. Este ano, nós, contrabaixistas do Vale
sores europeus e norte-americanos que transportam com eles Vêneto, dedicaremos uma apresentação em seu nome em
a sua fascinação pelo Vale Vêneto. Isso, nos meios musicais homenagem ao grande legado que ele nos deixou.

.txt Junho de 2009 23


UMA HISTÓRIA
SEM IMAGENS
NEM CORES
Rodrigo da Silva já viajou para o exterior, adora esportes, joga futebol, gosta de literatura latina e está
se formando em Letras neste semestre. Você diria que ele tem uma deficiência? Provavelmente não,
mas tem. Ele é cego.

João Pedro Amaral

E m 2004, quatro anos antes das


cotas, Rodrigo Gonçalves da
Silva ingressou no curso de
Letras – Habilitação em Espanhol e é o
primeiro aluno cego da UFSM. No cam-
rádios esportivas argentinas que Rodrigo
interessou-se pelo espanhol. Depois de três
vestibulares (um para Direito e dois para
Ciências Sociais), ele ingressou no curso
de Letras – Espanhol.
dificuldades. Rodrigo já está no último se-
mestre de Letras e sua monografia é a trans-
crição para o braile do audiobook Memória
de Minhas Putas Tristes, de Gabriel García
Márquez. Quando se formar, pretende fa-
pus, ele teve que se adaptar a algumas de- Ao entrar no curso, Rodrigo já estava zer mestrado em Literatura Comparada e,
ficiências da Universidade. Fora da UFSM, à frente de todos por ser o primeiro aluno talvez, trabalhar com Educação Especial.
Rodrigo também enfrentou dificuldades cego da UFSM. Como a Universidade não Assim segue a vida de Rodrigo,
desde cedo. se adaptou à vinda dele, foi ele quem se guiada pela aventura. Ele já viajou para vá-
Rodrigo nasceu com deficiência visu- adaptou à Instituição. Familiares e colegas rios lugares sozinho e, recentemente, foi
al total em 1982. Na infância, ele foi uma gravavam as aulas em fita cassete, escre- com o curso de Letras para a Argentina,
criança serelepe: “eu corria, brigava, pulava viam os conteúdos e liam a matéria para ele onde impressionou sua hospedeira pela
janela, subia em árvore e apanhava bastante no início da faculdade. Agora, com avanços independência. “A menina achou que sem-
porque aprontei todas”. Órfão de mãe, Ro- tecnológicos, há softwares que o ajudam pre alguém tinha que ficar comigo” – conta
drigo é natural de Canoas. Veio com seu pai nas aulas, livros falados (audiobooks) e a Rodrigo. A coragem, a simpatia e a alegria
da cidade natal até Santa Maria aos 11 anos possibilidade de gravar as aulas em CD. do rapaz são aspectos que só podemos ver
para os avós ajudarem a criá-lo. Os avós de Mas as dificuldades não são só no com o coração. E sob a óptica desse olhar,
Rodrigo influenciaram muito no desenvol- aprendizado: apesar de Rodrigo vir do Re- feito através dos sentimentos, Rodrigo fala
vimento dele: trataram-no como alguém sidencial Lopes (bairro Pinheiro Macha- que sua maior emoção é sentir “a recepti-
sem deficiência e sempre tentaram incluí- do) até a Universidade sozinho, ele não se vidade dos colegas nos lugares por onde
lo junto das pessoas ‘normais’. arrisca a caminhar pelo prédio do Centro passei”. .txt
Logo que veio para Santa Maria, Rodri- de Educação (CE) sem companhia. Se é
Foto: Rafael Salles

go matriculou-se no colégio Coronel Pilar comum ouvir de outros estudantes que o


com um acompanhante: o pioneirismo. Ele prédio do CE é um labirinto, imagine para
foi o primeiro aluno cego a ingressar nessa Rodrigo. Ele reclama que não há sinaliza-
Escola, que hoje tem vários deficientes vi- ção em braile nos corredores, que as pare-
suais matriculados. E para ajudar Rodrigo, des são estreitas e que as portas das passa-
o Colégio contratou uma professora apta relas deveriam ser abertas dos dois lados.
a transcrever o material didático para o O caminho da parada do ônibus até o CE é
braile. Desde então, Rodrigo não vê limites irregular, o que é outro problema. Rodrigo
para seu aprendizado. Colorado fanático, precisa de algo que o guie, como um cami-
o estudante adora esportes, principalmen- nho de concreto ou um corrimão.
te futebol e automobilismo. Foi ouvindo O crescimento é mais notável nas

24 .txt Junho de 2009

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