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Cronologia
Johan Gutenberg
inventa a
impressão de
caracteres móveis
1440
1. Transformações tecnológicas e científicas do Renascimento (século XV).
1.1. A revolução na informação: a impressão com caracteres móveis de Johannes Gutenberg.
No culminar da Idade Média e dealbar do Renascimento surgiu uma das mais notáveis invenções
de todos os tempos: a impressão com tipos móveis.
Outras invenções foram necessárias para que ela tivesse sido possível, nomeadamente:
‐ o papel, inventado na China
‐ um alfabeto adequado: o romano, universal na Europa, com 26 letras.
Dois grandes motivos parecem estar na base da sua invenção:
‐ uma assimetria entre a enorme e crescente procura de livros e a fraca capacidade dos escribas e
copistas (poucos em número e com fortes limitações de execução prática) para conseguirem
satisfazê‐la
‐ o objectivo estabelecido pelas autoridades eclesiásticas de que cada igreja possuísse pelo menos
um exemplar da Bíblia.
O seu inventor foi Johannes Gutenberg (1394/99‐1467), um ourives e artesão metalúrgico de
Mainz, Alemanha.
Mas para ter conseguido ser bem sucedido, teve de enfrentar dois problemas:
‐ um teórico: decidir organizar o processo de impressão dos textos
‐ a solução que adoptou foi:
‐ criar peças individuais, em grande número, para cada carácter (letra, sinal de pontuação,
outros símbolos, espaços em branco), em vez de peças para cada página ou cada palavra a
imprimir, colocadas em caixas apropriadas classificadas por tipos (“A” maiúsculo, “a”
minúsculo, etc.)
‐ montar páginas
‐ seleccionando os caracteres necessários para realizar as sequências desejadas
‐ colocando‐os juntos numa moldura apertados por um grampo
‐ banhar as páginas com tinta
‐ pressionar as páginas contra folhas de papel o número de vezes necessário para realizar as
cópias pretendidas
‐ quando o processo terminasse
‐ desmantelar o molde
‐ recolocar as peças nas caixas dos tipos respectivos, até serem necessárias para nova
impressão
‐ outros práticos: conseguir realizar com eficácia o processo idealizado
‐ o principal foi o seguinte
‐ para que a impressão fosse eficiente era preciso que todos os caracteres fossem uniformes
à face, ou seja, que tivessem a mesma altura
‐ se, ao serem mantidas juntas num molde, algumas peças individuais sobressaíssem em
relação a outras, isso provocaria variações acidentais na folha de papel, fazendo com que
umas letras se apresentassem muito nítidas, outras bastante pálidas e outras mesmo não
fossem impressas
GGG T
T E
T E N
E N B
N B E
B EE G
G
G
U
U
U RR
R
G T E N B E G
‐ para que a impressão fosse eficiente era igualmente preciso que todos os caracteres
tivessem o mesmo comprimento
‐ se isso não ocorresse, surgiriam desarranjos no posicionamento dos caracteres, de tal
modo que, em poucas linhas a impressão tornar‐se‐ia incoerente
JJJ OO H
O H A
H A N
A N
N
GGG T
T
T N
N B
N B E
B EE G
G
G
U
U
U E
E
E RR
R
J O H A N
G T N B E G
U E R
‐ uma solução possível teria sido remover as peças que não satisfizessem os requisitos mínimos
de precisão; mas isso encareceria muito os custos e contrariaria a principal vantagem da
invenção
‐ a solução escolhida por Gutenberg foi:
‐ preterir peças feitas de madeira ou qualquer outra substância orgânica
‐ realizá‐las todas em metal, a partir de um mesmo molde – isso permitiria, supostamente,
obter a mesma precisão todas as peças
‐ o molde de caracteres era ajustável, consistindo em duas peças separadas em forma de L,
capazes de deslizar uma sobre a outra
‐ isso tinha duas vantagens:
‐ as duas peças, sendo independentes, podiam ser facilmente removidas
‐ o molde, sendo ajustável, permitia tornar variável a largura de cada carácter, de tal
modo que um “i” minúsculo ocupasse menos espaço que um “W” maiúsculo,
provocando benefícios óbvios na legibilidade
M
M aaa
M iii nnn zzz M
M
M aaa iii nnn zzz
‐ a extremidade inferior do molde era fechada com uma matriz, i.e., uma peça de metal
maleável – como o cobre – com um carácter esculpido
‐ recebia, então, metal líquido – uma liga de estanho, zinco e chumbo, para não aderir às
peças – que, quando solidificava, era retirado dele, dando origem a peças homogéneas.
‐ os restantes foram mais facilmente resolvidos:
‐ a tinta apropriada – negro de fumo + óleo de linhaça – foi obtida empiricamente
‐ o processo para espalhar a tinta processou‐se recorrendo a uma bola de couro
‐ o princípio da prensagem – pressionar do papel contra os caracteres – por torniquete surgiu
pela inspiração na milenar arte de esmagamento das uvas.
Problemas práticos soluções
‐ uniformidade das peças com os ‐ moldes em forma de L
caracteres individuais ajustáveis
‐ matriz em metal com o carácter
esculpido
‐ metal líquido (uma liga de
estanho, zinco e chumbo, para
não aderir)
‐ tinta ‐ negro de fumo + óleo de linhaça
‐ instrumento para aplicar a tinta ‐ bola de couro
‐ modo de pressionar o papel ‐ prensagem com torniquete
contra os caracteres
O prelo – impressão mecânica manual – de Gutenberg revolucionou a publicação de livros. O
primeiro livro impresso que se conhece foi produzido em Mainz em 1455, a chamada Bíblia de
Gutenberg.
Estima‐se que foram publicados mais livros desde a sua invenção até ao final do século XV que nos
mil anos anteriores.
A sua invenção provocou a primeira revolução tecnológica da informação.
2. A mecanização do tempo.
Para além do prelo, outra grande inovação surgida no final da Idade Média e início do
Renascimento, foi a do relógio mecânico.
O seu aparecimento deu‐se na sequência da busca de materialização de um sonho antigo:
construir uma máquina com movimento perpétuo.
A influente concepção naturalista de Aristóteles (384‐322 a.C.), fortemente baseada na
experiência comum, sustentava que:
‐ no domínio das coisas terrestres:
‐ os corpos apenas se movem por acção de uma causa externa
‐ os corpo cessam o seu movimento quando a sua causa externa deixa de actuar sobre ele
‐ no domínio das coisas celestes:
‐ os corpos movem‐se perpetuamente.
Observaram alguns, contudo, que também no domínio das coisas terrestres existiam fenómenos
de aparente movimento perpétuo:
‐ as marés
‐ as correntes dos rios
‐ os ventos.
A construção de moinhos de água e de vento, aproveitando essas notáveis regularidades naturais,
constituíram as primeiras versões de máquinas de movimento perpétuo.
Isso, por si só, mostra como uma nova atitude do Homem em relação à Natureza está já a formar‐
se: compreender a Natureza para aproveitar os seus poderes e, em última instância transformá‐la.
Um produto notável desse esforço será o da mecanização do tempo
‐ aquele que vai deixando de ser estabelecido pela percepção de ritmos naturais
‐ e que passa a ser fornecido objectivamente – quantificado, dividido matematicamente em
horas e minutos com durações iguais – a partir de relógios
que se imporá crescentemente
‐ na organização dos acontecimentos humanos
‐ e na sincronização dos comportamentos individuais.
3. A descoberta de novos mundos.
Ao mesmo tempo que estas transformações ocorriam no norte da Europa, iniciava‐se a sul um
episódio ímpar da história mundial: a primeira globalização.
No início do século XV, o conhecimento do mundo fora da Europa era muito limitado. Viajantes
audaciosos tinham trazido informações várias no decurso dos séculos anteriores sobre paragens
relativamente remotas. Mas o mundo trans‐europeu permanecia sobretudo conjectural ou
fantasista.
No final desse século, ambições de expansão comercial e uma nova atitude exploratória em
relação à Natureza, impulsionaram grandes empreendimentos de procura de novos mundos,
sobretudo por via marítima.
O seu sucesso dependeu bastante da inovação tecnológica, nomeadamente no domínio da
construção naval e na arte da navegação.
Em meados do século XV, Henrique o Navegador estabeleceu a primeira escola técnica de
navegação do mundo em Sagres e encorajou os seus marinheiros a irem sucessivamente mais
além ao longo da costa africana e pelo Atlântico dentro.
O culminar dessa aventura foi o retorno a Portugal, em 1520, três anos após ter partido e depois
de ter circum‐navegado o globo terrestre, de Fernão de Magalhães.
Em menos de um século os europeus tinham extravasado completamente os limites do seu
continente – conhecidos desde tempos imemoriais – e descoberto novos continentes, novos
mares, novos povos, novas raças, novas espécies animais e botânicas, etc.
Tinham‐se certificado de que as leis da natureza permaneciam as mesmas em todo a parte e que a
sul do Equador, nas antípodas, os corpos não se desligavam da superfície terrestre; tinham
constatado, também, que, embora os céus apresentassem estrelas e constelações diferentes em
paragens remotas, os fenómenos físicos eram basicamente os mesmos.
Em suma, aquilo que não passava de hipóteses sustentadas por académicos na segurança e no
conforto dos seus gabinetes de estudo – que o mundo era esférico e que as leis da natureza eram
uniformes em todo o lado – recebia agora o apoio da confirmação empírica, obtida pela audácia
dos navegadores.
As consequências sociais, políticas, económicas e culturais das descobertas foram imensas. Cabe
apenas registar que, desse momento em diante, homens de negócios, políticos, embaixadores,
intelectuais, viajantes, homens do mundo, etc. passaram a fazer‐se acompanhar, para além de
mapas, documentos legais e tratados, com modelos em pequena escala de globos que pretendiam
representar realisticamente o mundo em que vivemos.