You are on page 1of 11

UM NOVO PODER LEGISLATIVO

Companheiros, neste ano de 2008 eu conclui uma pesquisa acadêmica


monográfica iniciada em 2007, na qual busco compreender qual é “O papel do poder
legislativo na construção do Estado Democrático de Direito na cidade de Sete
Lagoas”.

Muitos não sabem, mas a cidade de Sete Lagoas, em sua Lei Orgânica,
coloca-se como participante do Estado Democrático de Direito1, seguindo assim, a
Constituição Federal que estabelece este modelo político para o Brasil2.

Para Rafael da Silva Marques, o Estado Democrático de Direito é uma forma


de governo:

“...onde o poder deve vir do povo, sendo exercido em proveito deste tão-
somente, por representantes eleitos ou diretamente, participando o mesmo
povo nos atos decisórios do governo, sendo respeitada a pluralidade de
idéias, culturas e raças, em um local onde haja ampla possibilidade de se
discutirem idéias e pensamentos, mesmo que divergentes, se possibilitando
a convivência pacífica destas diferentes formas de pensamento, liberando a
pessoa humana das formas de opressão e repressão, para que possam ter
condições econômicas favoráveis, a fim de exercerem estes mesmos
direitos de forma ampla e plena.” (MARQUES, 2006, p.14)

Dentro desta visão e após finalizar a pesquisa, pude concluir que precisamos
criar a cultura da democracia em Sete Lagoas e ela deve ser iniciada dentro do
poder legislativo.

Uma das conclusões que cheguei com a pesquisa é que o Poder Legislativo e
a própria legislação de Sete Lagoas tem mecanismos que ajudam na construção do
Estado Democrático de Direito, porém a eficácia destes é limitada e não são
utilizados plenamente.

1
Art. 1º. O Município de Sete Lagoas, Estado de Minas Gerais integra, com autonomia político-
administrativa, a República Federativa do Brasil, como participante do Estado Democrático de Direito.
2
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios
e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
Muito destes mecanismos necessitam de uma profunda revisão e
reformulação, tanto no método, quanto na forma de realizarem-se. Para isto, vale à
pena o PT fomentar junto com a sociedade Setelagoana um grande debate a
respeito de suas instituições.

Com relação aos mecanismos existentes e as sugestões que irei propor a


seguir, estes só conseguirão uma verdadeira efetivação a partir do momento que
todos possam compreender o verdadeiro papel do poder legislativo, bem como o
seu funcionamento.

Hoje, o vereador em Sete Lagoas assume o papel de um benfeitor, ou então


um pai, que busca atender as vontades de seus eleitores.

É preciso coragem para romper com este ciclo vicioso, onde vigora o
clientelismo e o assistencialismo, típicos do Estado Paternalista.

Devemos lutar para construirmos um novo vereador. Ele será orientado pelo
pensamento do Estado Democrático de Direito, sendo o seu papel de um
organizador social.

Através, deste novo modelo de legislador municipal, os grandes debates e


decisões serão levados até a sociedade que através de uma humana, ética e
participativa, construirá novos rumos para a cidade.

Somente quando tivermos os pilares da sociedade erguidos sobre pela ética,


justiça social e participação popular é que teremos uma sociedade verdadeiramente
livre e justa.

A seguir apresento a análise dos mecanismos existentes e sugestões de


aperfeiçoamento para serem discutidas e implantas pelos vereadores do PT.
PODER LEGISLATIVO E A PARTICIPAÇÃO POPULAR

Introdução

O Poder Legislativo é o mais perto do povo e por conseqüência, deve ter um


papel principal na construção do Estado Democrático de Direito.

É por isso que apresentarei de forma simples os mecanismos oferecidos pela


Constituição Federal, pela Lei Orgânica e pelo Regimento Interno da Câmara
Municipal de Sete Lagoas que possibilitem um Poder Legislativo mais democrático.

Por fim, apresentarei alguns modelos e sugestões que possam colaborar para
que cada vez mais o Poder Legislativo seja democrático.

Mecanismos oferecidos pela Legislação Federal

A Constituição Federal estabelece três principais mecanismos de participação


popular – fora o voto -, conforme dispõe o art. 14, incisos I a III de nossa
Constituição Federal:

“A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e


pelo voto direto e secreto, com igual valor para todos, e, nos
termos da lei, mediante: I – plebiscito; II – referendo; III –
iniciativa popular.”

Com relação a estes três mecanismos, existe uma lei que regulamenta a sua
execução que é a Lei 9.709/98.
Plebiscito

O plebiscito é uma consulta prévia feita a população sobre algum assunto de


interesse coletivo que segundo a Lei 9.709/98, poderá tratar de matéria de
“acentuada relevância constitucional, administrativa ou legislativa”, podendo,
também, aprovar ou não atos normativos.

A Lei 9.709/98, regulamentou a participação popular no Brasil, previstos nos


incisos I, II e III, do art. 14 da Constituição Federal. Foi estabelecido que o plebiscito
será convocado antes do ato legislativo ou administrativo e que cabe a população
aprovar ou não, pelo voto, o que lhe foi questionado.

Conforme estabelece o art. 3° da Lei 9.709/98, para que o plebiscito seja


convocado é necessário ser aprovado um decreto legislativo, aprovado por no
mínimo, 1/3 da Câmara ou Senado.

Com relação ao nível estadual e municipal, o plebiscito será convocado


conforme a Constituição Estadual ou a Lei Orgânica Municipal.

Referendo

O referendo, conforme estabelece a Lei 9.709/98, é similar ao plebiscito,


sendo que suas regras são as mesmas. A diferença entre os dois mecanismos está
no aspecto temporal dos mesmos, sendo o plebiscito antes do ato e o referendo
após o mesmo.

O referendo é portanto, um mecanismo criado para validar ou não, um


determinado ato legislativo ou administrativo já aprovado previamente.
Iniciativa popular

A iniciativa popular confere aos cidadãos direito de elaborarem projetos de lei,


que serão submetidos à apreciação do Poder Legislativo, após cumprido vários
pressupostos legais.

Segundo a Constituição Federal Brasileira:

“A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara dos


Deputados de projeto de lei subscrito por, no mínimo, um por cento do
eleitorado nacional, distribuído pelo menos por cinco Estados, com não
menos de três décimos por cento dos eleitores de cada um deles.” (Art. 61,
§ 2º, CF/88)

Mecanismos oferecidos pela Lei Orgânica

Plebiscito

O Município de Sete Lagoas delegou à Câmara Municipal a iniciativa de


convocar plebiscito, através de seu Art. 44, inciso XIV e Regimento Interno da
Câmara Municipal no Artigo 8º, inciso XIV.

Entretanto as críticas que se fazem é que tanto na Lei Orgânica, quanto no


Regimento Interno do Legislativo, é necessária a regulamentação destes
dispositivos e o fato deles nunca terem sido usados..

Referendo

A iniciativa do referendo também foi delegada à Câmara Municipal, sendo


está previsto no Art. 44, inciso XIV da Lei Orgânica de Sete Lagoas e no Regimento
Interno da Câmara Municipal no Artigo 8º, inciso XIV.

Assim como o plebiscito, a crítica que se faz é o fato de não existir uma
melhor regulamentação que possibilite maior clareza destes institutos e o fato do
mesmo nunca ter sido utilizado até o presente momento.
Iniciativa Popular

O instituto da Iniciativa Popular está previsto no Artigo 78 da Lei Orgânica


Municipal e no Artigo 168, Parágrafo Único do Regimento Interno da Câmara
Municipal.

Segundo a legislação municipal, para que seja exercida a iniciativa popular é


necessário que seja apresentado à Câmara Municipal, um projeto de lei subscrito
por, no mínimo, cinco por cento do eleitorado do Município, salvo nas hipóteses de
matérias cuja iniciativa seja de competência privativa do Prefeito e da Câmara
Municipal.

A crítica que tenho é o fato de ser necessário 5% de assinaturas do eleitorado


para apresentação do projeto. O número de eleitores do município é 142.775 3, o
que representa a necessidade de 7.138 assinaturas para que seja admitido o projeto
de lei pela Câmara Municipal

Audiências públicas

Um dos mecanismos mais interessantes para a democracia é a audiência


pública. Trata-se do poder público criar um espaço de aproximarem do cidadão,
onde este pode expressar-se livremente sobre determinado tema.

A critica que faço é que na Legislação Municipal de Sete Lagoas não existe
qualquer previsão que discipline o instituto, sendo este apenas citado de forma
aleatória em três artigos.

O primeiro é o artigo 70, parágrafo 2º, que faculta as comissões permanentes


e temporárias da Câmara Municipal realizarem audiências públicas.

O segundo é o artigo 197, parágrafo 1º, que estabelece a necessidade de


realização de audiências públicas para divulgação dos estudos de impacto ambiental
cujos efeitos são potencialmente degradadores do meio ambiente.

3
Fonte TSE – Eleitorado referente a junho de 2008
E o terceiro é o artigo 238, inciso III, parágrafo 4º da Lei Orgânica de Sete
Lagoas que estabelece a obrigatoriedade do Município prestar todas as informações
e colher subsídios nas audiências públicas que envolvam a lei orçamentária na área
da seguridade social.

Mecanismos oferecidos Câmara Municipal de Sete Lagoas

Audiências públicas

A Câmara Municipal de Sete Lagoas é o poder municipal que mais realizas


audiências públicas. Muito dessas audiências são convocadas pelas comissões da
casa que tem essa prerrogativa, sendo estas autorizadas pelo Artigo 76, inciso II do
Regimento Interno.

Existe inclusive a indicação de algumas audiências pelo próprio regimento


interno. A primeira é da Comissão de Fiscalização Financeira e Orçamentária,
quando for tratar de Lei de Responsabilidade Fiscal 4. Também temos a indicação
pela realização de audiência pública por parte das Comissões de Educação, Cultura,
Desporto e Turismo e da Comissão de Saúde e Meio Ambiente quando forem tratar
de assuntos que tenham alcance e reflexo social5

Neste ano tivemos várias audiências como por exemplo a da “Segurança


Pública e Privada” realizada no dia 27/04/08, que debateu sobre a segurança pública
e privada em Sete Lagoas e municípios da região. O principal objetivo desta
audiência foi identificar os problemas do setor e buscar alternativas de solução dos
mesmos, além de discutir a discutir a implementação da Lei Municipal nº 7.489/07,
de 05/10/07, que estabeleceu normas sobre o serviço de segurança especializada
em eventos particulares realizados no município.

A crítica que faço com relação às audiências públicas da Câmara Municipal


são duas. A primeira é com relação aos horários e dias marcados. As audiências

4
SETE LAGOAS. Regimento Interno da Câmara Municipal de Sete Lagoas, promulgada em 05 de
julho de 1995. Sete Lagoas, MG, 1995, Artigo 83, § 2º.
5
Ibidem, Artigo 83, § 4º.
públicas da Câmara Municipal sempre são marcadas em dias úteis e durante o
período da tarde, horário na qual a maioria das pessoas está trabalhando. A
segunda crítica é a metodologia usada. O numero de falas e o tempo reservado as
pessoas é muito pequeno, comparado ao dos vereadores e palestrantes. Como
podemos em uma audiência pública, termos a população como ator coadjuvante?

Tribuna do Povo

A Tribuna do Povo é um espaço criado pela Câmara Municipal de Sete


Lagoas onde um cidadão na última reunião ordinária do mês, poderá fazer
apresentar durante 10 minutos ao final da reunião, matéria de interesse social.6

Este espaço também pode ser utilizado na segunda reunião ordinária do mês,
por uma entidade filantrópica que presta serviços sociais diversos no 3º setor
durante vinte e cinco minutos. Neste caso o espaço é chamado de Tribuna do 3º
Setor. 7

Para que um cidadão ou entidade possam falar na Tribuna do Povo é


necessário que ele inscreva-se com antecedência mínima de dois dias úteis, através
de requerimento dirigido à Mesa Diretora da casa, protocolado na Secretaria Geral
da Câmara, descrevendo a matéria a ser apresentada.8

As críticas que faço são várias. A primeira é que, pelo fato da Tribuna ser
realizada após a pauta do dia, alguns vereadores vão embora da reunião enquanto o
cidadão ou entidade estão falando, quando em muito das vezes não prestam
atenção na pessoa que está com a palavra.

A segunda crítica é o fato de ser apenas um orador por mês, acaba


desestimulando as pessoas e entidades, já que precisam esperar meses para terem
sua vez.

6
Ibidem, Artigo 284, § 1º.
7
Ibidem, Artigo 284-A, § 2º.
8
Ibidem, Artigo 284, § 1º.
E a terceira e última critica é que segundo regimento interno, o cidadão só
pode apresentar a matéria, não podendo discuti-la9 e no caso da entidade do 3º
setor, só é possível apresentar assunto institucional da entidade e seu trabalho,
deixando assim de fora a discussão sobre um determinado tema relacionado com
sua atuação.10

SUGESTÕES

Plebiscito e Referendo

Em Sete Lagoas é necessária uma reforma na Lei Orgânica, para que esta
tenha um processo mais claro e democrático do plebiscito e referendo.

Segundo a Lei Orgânica da cidade São Paulo:

Art. 44, II: “Para requerer à Câmara Municipal a realização do plebiscito


sobre questões de relevante interesse do Município, da cidade ou de
bairros, bem como para a realização de referendo sobre lei, será necessária
a manifestação de pelo menos 1% (um por cento) do eleitorado”. 11

Conforme podemos ver, em São Paulo o plebiscito e referendo podem ser


requeridos a Câmara Municipal por iniciativa dos cidadãos.

No caso de plebiscito, o assunto deve ser de relevante interesse do Município


ou do Bairro e conter a assinatura de pelo menos 1% do eleitorado municipal.

Com relação a referendo, aplica-se o mesmo Artigo 44, inciso II, porém sua
abrangência só vale a lei e não inclui atos administrativos.

Segundo o Artigo 44, parágrafo 1º, esta solicitação tem tramitação especial
assegurada na Câmara Municipal e a possibilidade de defesa oral por parte do
representante dos requerentes.

9
Ibidem, Artigo 284, § 2º.
10
Ibidem, Artigo 284-A § 2º.
11
SÃO PAULO. Lei Orgânica, promulgada em 04 de abril de 1990. São Paulo, SP, 1990.
Para Sete Lagoas, eu sugiro uma alteração na Lei Orgânica, onde plebiscito e
referendo podem ser requeridos nos mesmos termos que a Cidade de São Paulo.

Iniciativa Popular

Com relação ao projeto de iniciativa popular, a única sugestão que faço é que
seja estabelecida na Lei Orgânica e no Regimento Interno da Câmara Municipal, a
diminuição de 5% para 1% do eleitorado, como requisito de apresentação.

Audiências Públicas

Com relação às audiências públicas é preciso rever sua metodologia. Em


primeiro lugar a população deve ser o ator principal do processo e não os
vereadores ou órgãos que a convocam. Isso se faz através de um tempo maior e
número de inscrições para o povo, ou pelos, a paridade de voz entre população e
pode público.

Também é preciso rever os horários, locais e dias. Em Belo Horizonte, por


exemplo, temos várias experiências de audiências públicas realizadas em finais de
semana ou então após o horário de expediente dos trabalhadores.

Audiências públicas itinerantes que rondam os bairros da cidade, como as


que foram feitas durante o trabalho de elaboração do plano diretor de Sete Lagoas ,
também são um bom exemplo de processo democrático.

Tribuna do Povo

Com relação à Tribuna do Povo, esta deveria ocorrer toda reunião da


Câmara, com pelo menos três oradores escritos, sendo esta realizada antes do
início dos trabalhos. Além disso o orador inscrito poderá falar livremente sobre o
assunto na qual escolheu.
No caso da Tribuna do 3º Setor, além da participação mensal, deveria ocorrer
pelo menos um dia de seminário a cada 2 meses, onde várias entidades têm a
liberdade de debater sobre um determinado tema.

You might also like