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O episódio, até hoje, não foi totalmente esclarecido. Desconfia-se que Harris e Klebold
teriam tomado tal atitude como forma de se vingar dos colegas pela exclusão escolar
que ambos teriam sofrido durante muito tempo. No entanto, o acontecimento gerou uma
série de discussões sobre maus-tratos aos adolescentes nas escolas, entre eles o
Bullying. E Columbine se transformou em referência quando o assunto é violência
escolar.
Por isso, é importante que os diversos profissionais tenham pleno entendimento de sua
existência e seu funcionamento para que não haja equívocos nos encaminhamentos,
atendimentos e procedimentos aos envolvidos", explica Cléo Fante, pedagoga pioneira
no estudo do tema no Brasil e autora de Bullying Escolar (Artmed).
"No entanto, por ser um tema de extrema relevância social, que conquista cada vez mais
visibilidade nos debates públicos, vários equívocos vem ocorrendo em relação à
aplicabilidade do termo. É por essa razão que, entre os estudiosos brasileiros,
convencionou-se empregá-lo somente quando ocorre na relação entre estudantes, seja
no ambiente escolar ou virtual."
Programa de intervenção
Os primeiros resultados sobre o diagnóstico do Bullying de que se tem notícia foi registrado pelo professor
norueguês Dan Olweus, em 1989. Numa pesquisa feita com cerca de 84 mil estudantes, 300 a 400
professores e mil pais verificou-se que 1 em cada 7 alunos estava envolvido nesta prática.
Com a publicação de seu livro Bullying at School, em 1993, Olweus apresentou ao mundo os resultados de
seu trabalho de pesquisa, além de sugerir projetos de intervenção e uma relação de sinais ou sintomas que
poderiam ajudar a identificar possíveis agressores e vítimas. Essa obra deu origem a uma campanha
nacional anti-bullying, que contou com o apoio do governo norueguês e que ajudou a reduzir em cerca de
50% os casos de Bullying nas escolas locais.
Além de desenvolver regras claras contra o Bullying, o programa de intervenção proposto por Olweus tinha
como características principais alcançar um envolvimento ativo por parte de professores e pais, aumentar a
conscientização do problema, eliminando alguns mitos sobre o tema e provendo apoio psicológico e
proteção para as vítimas. Sua repercussão em outros países, como o Reino Unido, Canadá e Portugal,
incentivou essas nações a desenvolverem as suas próprias ações.
Cada caso deve ser considerado isoladamente e rotular os envolvidos pode significar a
simplificação de uma questão que deve ser avaliada com cautela e carinho. No entanto,
os especialistas apontam algumas características padrão no perfil dos agentes
participantes dos casos de Bullying.
Os alvos, por sua vez, não dispõem de recursos, status ou habilidade para reagir ou fazer
cessar os atos danosos contra si. Geralmente têm poucos amigos, são passivos, quietos e
não se opõem, efetivamente, aos atos de agressividade sofridos.
Exemplo europeu
Sintomas psicóticos
Os sintomas psicóticos são variados, incluem alucinações, delírios - como acreditar que está sendo observado - ou
percepções fora do normal - como crer que os seus pensamentos estão sendo verbalizados e ouvidos pelos outros. Os
cientistas explicam que as vítimas podem sofrer efeitos sérios que levam a alteração da percepção do mundo. Isto
indicaria que os relacionamentos sociais perturbados com colegas é um fator de risco importante no desenvolvimento
destes sintomas de psicose na adolescência e pode aumentar o risco de desenvolver no indivíduo adulto.
As crianças que integraram o estudo, divulgado pelo Science Daily, foram submetidas a entrevistas presenciais, a
partir dos sete anos e meio, bem como a testes físicos e psicológicos. Os pais também participaram, respondendo a
questionários sobre a saúde, o desenvolvimento e o comportamento dos seus filhos. Quando chegaram aos 13 anos,
foram entrevistados sobre as experiências de sintomas psicóticos nos seis meses anteriores.
"Ao contrário do que se supõe, os danos não são comuns apenas em quem está passando
pelo problema. Geralmente, os pacientes chegam ao consultório para tratar de algum
transtorno decorrente do Bullying, como fobia social, transtorno de ansiedade,
transtorno obsessivo compulsivo e transtorno do pânico, sentimentos negativos,
problemas de relacionamento e até mesmo agressividade, ansiedade, dificuldades de
relacionamento interpessoal, dificuldade de concentração, mudanças de humor súbitas,
choro, insônias, medo do escuro, ataques de pânico sem motivo, sensação de aperto no
coração, automutilação, estresse e tentativa de suicídio. No decorrer do processo
percebemos que a causa foi ou é o Bullying", diz.
Um estudo feito com 6437 crianças desde o nascimento até aos 13 anos, realizado pela
Universidade de Warwick, no Reino Unido, também revelou que as vítimas podem
sofrer efeitos sérios que levam a alteração da percepção do mundo, como alucinações,
delírios ou pensamentos bizarros.
Uma pesquisa realizada pela Plan Brasil, em 2009, e divulgada em abril deste ano,
pretendeu conhecer as situações de violência entre estudantes e Bullying nas escolas
brasileiras. Ao todo, foram selecionadas cinco escolas de cada região do país, das quais
20 eram públicas municipais e 5 eram particulares. Participaram do estudo 5.168 alunos
de 11 a 15 anos, além de pais e responsáveis, técnicos, professores ou gestores de
escolas pesquisadas. Segundo o assessor de pesquisa e avaliação da Plan Brasil,
Tarcísio Silva, os dados revelaram que 70% da amostra de estudantes responderam ter
presenciado cenas de agressões entre colegas, enquanto 30% deles declararam ter
vivenciado ao menos uma situação violenta no mesmo período. "A pesquisa mostrou,
ainda, que o Bullying é mais comum nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do país e que a
incidência maior está entre os adolescentes alocados na sexta série do ensino
fundamental", afirma.
Políticas públicas
A seriedade do tema promoveu a criação de políticas públicas anti-bullying por alguns municípios do
Brasil. Em março, a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou, por unanimidade, o projeto que tem como
objetivo combater este fenômeno.
De acordo com a proposta, ficou definido como Bullying as ameaças e agressões físicas como bater, socar,
chutar, agarrar, empurrar, submeter o outro por força à condição humilhante; furto, roubo, vandalismo e
destruição proposital de bens alheios; extorsão e obtenção forçada de favores sexuais; insultos ou atribuição
de apelidos vergonhosos ou humilhantes; comentários racistas, homofóbicos ou intolerantes quanto às
diferenças econômico-sociais, físicas, culturais, políticas, morais e religiosas. Também estão listados como
Bullying a exclusão ou isolamento proposital do outro, pela fofoca e disseminação de boatos ou de
informações que deponham contra a honra e a boa imagem das pessoas; e envio de mensagens, fotos ou
vídeos por meio de computador, celular ou assemelhado, bem como sua postagem em blogs ou sites cujo
conteúdo resulte em sofrimento psicológico a alguém.
O projeto pretende disseminar conhecimento sobre esse fenômeno nos meios de comunicação e nas escolas,
entre os responsáveis legais pelas crianças e adolescentes nelas matriculados; identificar concretamente, em
cada instituição, a incidência e a natureza das práticas de Bullying e desenvolver planos locais para a
prevenção e o combate às práticas violentas nas escolas, oferecendo às vítimas e familiares apoio técnico e
psicológico, de modo a garantir a recuperação da autoestima das vítimas e a minimização dos eventuais
prejuízos em seu desenvolvimento escolar.
Outros estados já mostram interesse de seguir o exemplo gaúcho. É o caso do Espírito Santo, cuja
Assembleia Legislativa rejeitou, recentemente, o parecer da Comissão de Justiça que vetava o projeto anti-
bullying nas escolas públicas e privadas do Estado. Um substitutivo do projeto prevê a inclusão de medidas
no projeto pedagógico, das escolas públicas e privadas, de educação fundamental para a conscientização,
prevenção, diagnóstico e combate ao Bullying.
Medidas insuficientes
Projeto de Lei
De acordo com o pedagogo William Sanches, algumas atitudes podem mitigar o fenômeno nas escolas. Segundo ele,
resgatar os jovens excluídos e promover neles o sentimento de pertencer à comunidade pode ser incentivado pelos
educadores através de discussões, oficinas e projetos de integração como forma de trazer pais e filhos para dentro do
ambiente escolar. Além de integrar escola e família, essas ações podem ajudar a criança a:
Edição nº 58
http://portalcienciaevida.uol.com.br/esps/edicoes/58/artigo187584-5.asp.
Acesso em 20/10/2010.