You are on page 1of 3

Por se tratar de uma questão que precisa ser fundamentalmente

pensada, e necessariamente por aqueles que se dedicam ao estudo da


filosofia, é imprescindível que o paradigma do modo de entender, e do modo de
como se deve viver, corresponda ao limite onde a própria filosofia se afirma
entre a tensão que se busca atingir, que vai do plano do conhecer ao plano do
ser.

O ser humano é um ser para o qual, em seu próprio ser, ergue-se a


questão de seu ser. Ou seja, não há e nem houve, nenhum momento em que a
filosofia não estivesse presente na vida do ser humano. A filosofia vem
justamente ao mundo através da realidade humana. Deste modo, trata-se de
uma atitude perante a vida, uma conduta interrogativa pelo sentimento de falta,
é uma procura que nos move, nos impulsiona, em busca de sabedoria.

O interesse primordial da razão, da filosofia em sentido universal é


buscar a sabedoria em que se conjuguem hoje e sempre o “discurso
filosófico” e “maneira de viver”. E para se conseguir a sabedoria é necessária
esta conjugação, este ponto unificador entre os próprios pensamentos e ações.

Tal pólo unificador é a pedra de toque da própria filosofia. È alvo de sua


procura. Entretanto o que deve ser entendido quando se afirma acerca da
filosofia na reflexão antiga e mesmo na moderna, quando se reporta a ela
como uma maneira de viver, e viver com sabedoria, é que não se trata de uma
maneira de estar ou se comportar, isto é, de uma moral, mas do modo de como
cada sujeito humano deve conduzir sua existência, esta busca de certo modo
de ser, saber viver, é uma ética que se inclina à ontologia. Segundo Hadot:

A filosofia aparece, assim, como exercício do pensamento, da


vontade, que compromete o ser na sua totalidade, como uma
tentativa de chegar a um estado, a sabedoria, no entanto quase
inacessível ao ser humano. A filosofia era um método de progresso
espiritual que exigia uma conversão radical, uma transformação na
maneira de ser (HADOT, 1987, p.218).

Neste sentido, a filosofia é tida como uma maneira de viver, uma arte,
pois exige uma recriação, transmutação de si, pois ela mesma como afirmação
nesta tensão primordial da busca pelo saber, já se constitui ela própria neste
movimento, como sabedoria de vida. Ela se apresenta como uma artífice que
procura discernir através da razão, a distância que a cada momento nos separa
deste ponto unificador, abrindo um leque de possibilidades, para diferentes
formas de resolver os problemas.

Buscar respostas é uma forma de viver, e encontrar respostas que se


adaptem as nossas necessidades e que possamos colocá-las em prática, e
experimentar a melhoria em nossas vidas, é o que nos converte em filósofos
independente de títulos.

Mas o problema em questão é como explicar a contradição entre o rigor


teórico dos discursos filosóficos, e justamente a dificuldade de encontrar a
sabedoria, ou seja, viver em conformidade com aquilo que se pensa e se
ensina?.Tal fato acontece progressivamente assim como acontece com a
religião, que a filosofia deixou de ser um exercício, uma prática, para se reduzir
a um discurso sobre a vida, deixou de ser uma experiência humana, para se
cristalizar em tratados sobre a existência. E, sobretudo para dar certeza e
legitimação psicológica de quem o produz.

Deste modo os discursos filosóficos devem estar a serviço da vida, pois


viver é uma arte delicada, tão delicada quanto difícil, pois é um constante
exame de si, um cuidado extremamente consciente das intenções e ações,
uma tarefa de auto-aperfeiçoamento que exige rigor tanto o quanto como nas
exigências teóricas. È preciso praticar,

A luz destas reflexões é que entra em cena a figura do sábio, como


paradigma desta atitude em que se conjuga a escolha de uma maneira de ser,
e o referido discurso, para dar conta desta experiência constante do exame e
cuidado de si, pois como afirma Platão à luz de seu protagonista Sócrates, que
simboliza o modelo de filósofo, “uma vida que não se examina a si mesma não
é digna de ser vivida” (PLATÃO, 2003, p.26).
É neste cuidado e exame de si, que se unem as vertentes especulativas
e prática.

You might also like