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GUERRAS CULTURAIS E

RELATIVISMO CULTURAL*

Mauro W. Barbosa de Almeida

Sokal e Bricmont, em debates recentes co- mento consistiu no seguinte: Sokal submeteu para
nhecidos como as “guerras da cultura”, criticaram o publicação em uma revista humanística norte-
que chamaram de “fraude intelectual” promovida americana, Social Text, um artigo em que colou
por cientistas sociais, filósofos e críticos literários uma série de exemplos de “absurdo e preguiça
que se referem a temas científicos para defender mental” (“nonsense and sloppy thinking”), todos
posições relativistas. Um exemplo paradigmático extraídos de autores como Derrida e outros avata-
de “fraude intelectual” seria a afirmação de que o res do pós-modernismo — paródia do pós-moder-
número π é uma construção social. A partir da nismo em uma revista pós-modernista. O artigo
discussão desse exemplo, defendo um ponto de paródico foi aceito e publicado simultaneamente à
vista alternativo baseado no que chamo de versão publicação de outro trabalho do autor, na revista
moderada do relativismo. Essa versão repousa Lingua Franca, em que descreveu a “experiên-
sobre a noção de que é sempre possível a tradução cia”, pensando ter demonstrado com ela a “pregui-
entre ontologias distintas, o que garante a intersub- ça mental” dos pós-modernistas. O assunto virou
jetividade e, conseqüentemente, a objetividade. matéria de primeira página do New York Times.2
Essa posição é inspirada no relativismo estrutural O objetivo geral de Sokal, expresso em um
de Claude Lévi-Strauss, e também na teoria da livro mais recente escrito conjuntamente com o
ciência de Newton da Costa.1 Finalmente, critico também físico Bricmont, seria o de criticar “abusos”
o intento de Sokal e Bricmont de estabelecer regras
para o uso lícito de metáforas que envolvam
referências à Matemática e à ciência. * Versão revista de palestra proferida no simpósio Visões
de Ciência: Encontros com Sokal e Bricmont, organiza-
do pelo Instituto de Estudos Avançados, a Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas e o Instituto de
Pluralismo Matemática da USP em 27-28 de abril de 1998. Agradeço
a Guilherme Magnagni o convite para esse debate com
O físico Alan Sokal levou as “guerras da
Sokal e Bricmont. A presente versão beneficiou-se
ciência” para as manchetes de jornal ao realizar o muito dos comentários de dois pareceristas anônimos
que chamou de “experimento cultural”. O experi- desta Revista, aos quais agradeço.

RBCS Vol. 14 no 41 outubro/99


6 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 41

do pós-modernismo, dentre os quais “importar escapam a qualquer “jogo de linguagem”, enfim,


noções das ciências exatas para as ciências huma- que não são uma construção cultural. Tal tipo de
nas sem dar a mínima justificativa empírica ou argumento encerra a discussão quando ela deveria
conceitual para esse procedimento” e “manipular começar, e contudo a discussão poderia ter tratado
frases sem sentido e entregar-se a jogos de lingua- de temas como os seguintes: qual é a relação entre
gem” (Sokal e Bricmont, 1997, introdução). objetos matemáticos, objetos físicos e objetos soci-
Um dos exemplos do nonsense de que os ais? Eles pertencem a uma mesma ordem? De uma
literatos são capazes quando se referem a temas maneira geral, qual é a ontologia da Matemática? E
científicos, no artigo-paródia de Sokal, é a afirma- de uma maneira particular, o que são números?
ção de que “o π de Euclides, antes imaginado como Todo mundo sabe o que é π. É a medida da
constante e universal, [é] agora percebido em sua circunferência tomando-se o seu diâmetro como a
inelutável historicidade”.3 unidade de medida. Uma professora cuidadosa
Esse exemplo, contudo, ilustra a razão por poderia ilustrar o conceito utilizando uma fita
que inicio esses comentários em desacordo tático métrica e um pneu de bicicleta, obtendo da expe-
com Sokal e por que defendo o direito dos huma- riência um número como 3,1 ou 3,2. O aluno
nistas à anarquia metafórica, isto é, à liberdade de acreditará então quando a professora lhe disser
usar criativamente imagens e alusões. A defesa da que um valor mais exato é 3,14. Todo engenheiro
anarquia metafórica significa que a discussão inte- também sabe o que é π; ele consulta sua calculado-
lectual não deve utilizar argumentos de autorida- ra de bolso e obtém π com quatro casas decimais,
de, e sim travar-se sobre questões reais ainda que talvez oito. Todo físico que se preze também sabe
estas estejam formuladas de maneira não-técnica e o que é o número π, mas o físico, em vez de
alusiva. Para isso é preciso um esforço de interpre- consultar a calculadora, utilizará um programa de
tação generoso de parte a parte. O tema reapare- computador baseado em diferentes fórmulas com-
cerá mais adiante. Aqui, ele tem a seguinte forma, putacionais; dessa forma, obterá um número com
que todo antropólogo reconhecerá: quando ouvi- um número arbitrário de casas decimais. A essa
mos do interlocutor algo que parece obviamente altura, ele começará a falar de π como um número
um absurdo, um nonsense como quer o físico com infinitas casas decimais, como um objeto
Sokal, devemos adotar a hipótese provisória de familiar embora nebuloso. O físico estatístico Oriol
que o interlocutor diz algo, sob a condição de que Bohigas (1991) afirma, assim, casualmente, que a
nos esforcemos para descobrir as condições sob as seqüência 0123456789 ocorrerá infinitas vezes no
quais a fala do interlocutor faz sentido. desenvolvimento decimal de π, mas outro físico, o
Ora, a paródia de Sokal tem a força da brasileiro Antônio Carlos Dória, afirmou em co-
autoridade de um físico matemático contra um mentário à apresentação oral do presente texto
literato. Que literato ou sociólogo ousaria discutir que a afirmação de Bohigas é falsa.5
com um físico matemático sobre as “constantes da Certamente essas dúvidas irão dissipar-se.
matemática” depois que Derrida teve suas orelhas Ou bem 0123456789 ocorre “infinitas vezes” no
puxadas e não defendeu suas idéias?4 Para efeito desenvolvimento decimal de π, ou não ocorre.
de diálogo através de fronteiras culturais, vou fazer Por que não resolver a questão experimental-
precisamente esse exercício. Isso porque o patru- mente? Podemos aqui formular uma pergunta mais
lhamento lingüístico, a meu ver, tem o seguinte simples: será que 0123456789 ocorre pelo menos
efeito: fazer crer aos relutantes, com o argumento alguma vez na escrita decimal de π? Quando essa
do ridículo, que a proposição segundo a qual pergunta foi formulada pela primeira vez, ninguém
existem objetos absolutos, como “o π de Euclides”, tinha encontrado um exemplo afirmativo. A dificul-
que não têm historicidade não pode ser contesta- dade é que π tem infinitas casas decimais, mas nós
da. O argumento da autoridade poupa a Sokal o somos finitos. Poderíamos calcular eternamente
esforço de convencer o leitor de que constantes da novas casas decimais de π sem encontrar a seqüên-
matemática como π não têm “historicidade”, que cia mencionada. Mas ela poderia estar bem à frente.
GUERRAS CULTURAIS E RELATIVISMO CULTURAL 7

Assim, o experimentador poderia procurar para 0123456789 foi computada. Apenas a partir de
sempre, sem jamais obter a resposta. De repente 1997 o gato morreu — antes disso nem estava
começamos a pensar em situações borgianas. morto, nem estava vivo. Entretanto, para outros
A essa altura o leitor poderá estar sentindo matemáticos essa proposição sempre foi verdadei-
certa inquietação. Certamente os matemáticos te- ra — antes mesmo que os homens começassem a
rão respostas definitivas para problemas como existir e antes que o próprio universo começasse a
esse. Ou bem π tem certa propriedade, ou não a existir. Para estes, o gato de Brower estava morto
tem — reza a lógica. Mas não há acordo entre os desde 1990. Brower é um matemático intuicionista
matemáticos sobre a lógica. para quem números são essencialmente atividade
Para o matemático Luitzen Jan Brower, fun- humana — no que concorda com os matemáticos
dador do intuicionismo, é falso dizer que, de duas construtivistas —, mas há matemáticos platônicos
uma: ou bem 01232456789 ocorre mais cedo ou como Gödel para quem os números existem como
mais tarde no desenvolvimento de π, ou bem não uma realidade independente da existência humana
ocorre nunca — segundo ele, enquanto não cons- (essa parecia ser também a posição de Sokal e
truirmos essa ocorrência, não podemos afirmar Bricmont). 7
que a seqüência ocorre, e por outro lado não Note-se que a proposição de Brower é mais
podemos afirmar que ela não ocorre, porque fácil de verificar do que a de Oriol Bohigas. Para
sempre é possível que ela ocorra mais adiante. Em mostrar que a proposição de Bohigas é verdadeira,
outras palavras, passamos do problema de saber se seria preciso, pelos critérios de Brower, exibir
certos “fatos” são verdadeiros sobre π para o infinitos casos de ocorrência de 0123456789 no
problema de saber quais são as leis da lógica desenvolvimento de π. Mas isso é impossível para
(Brower, 1981, p. 337).6 nós, mortais.8
O problema fica mais claro com o seguinte A pergunta inicial sobre o que é π conduz,
exemplo. Há um gato que não podemos espiar assim, a uma pergunta sobre a natureza do infinito.
diretamente porque ele está dentro de uma caixa Não apenas π, mas todo número real se constrói
fechada. Se 0123456789 ocorrer após 30 bilhões de como uma seqüência infinita de números racio-
casas decimais de π, uma cápsula com cianureto nais.9 Qual é o estatuto ontológico desses objetos
abre-se automaticamente no primeiro dia do ano infinitos?10
1990 no interior da caixa; caso contrário ela não se Só Deus poderia contemplar simultânea ou
abre. Pergunta: o gato estará vivo ou morto no temporalmente o conjunto dos números naturais
segundo dia do ano 1990? Segue-se da posição de que é requerido pela crença em π como uma
Brower que, se ninguém tiver computado 30 bi- seqüência de Cauchy concluída, isto é, como um
lhões de casas decimais até o primeiro dia do ano objeto infinito em ato, e não apenas em potência.
1990, o gato nem estará morto nem estará vivo a Admitindo essa crença (expressa detalhadamente
partir dessa data. no “axioma do infinito” da teoria dos conjuntos),
Nesse caso especial, os experimentadores podemos ainda admitir a existência simultânea de
obtiveram afinal a respota. Em 1997, Yasumada todos os números reais, e estamos em pleno
Kanada e Daisuke Takahashi, da Universidade de paraíso de Cantor. Mas para os intuicionistas e
Tóquio, produziram a primeira ocorrência da se- construtivistas o número π não é um objeto final
qüência 0123456789 depois de computarem 17 mas é um ato — um processo. Segundo uma
bilhões de casas decimais de π (Borwein e Jona- vertente radical dessa visão construtivista, repre-
than, 1997). Depois de 30 bilhões de casas, segun- sentada pelo construtivismo soviético, só existem
do os mesmos autores, a referida seqüência tam- aqueles números reais que podem ser construídos
bém ocorrre várias vezes. A proposição de Bro- mediante regras finitas. Quem diria: há materialis-
wer, que antes não era nem verdadeira nem falsa, tas e idealistas na Matemática. Isso nos leva de
segundo o próprio autor, tornou-se então verda- novo aos gregos, para quem as idéias dos contru-
deira no momento exato em que a seqüência tivistas não seriam novidade.
8 REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS - VOL. 14 No 41

Arquimedes descreveu um processo para teologia dos conjuntos infinitos acreditam também
construir π que consistia em um algoritmo para na realidade ontológica de objetos matemáticos
medir polígonos que encerravam por dentro e por externos à ação humana, ao passo que matemáti-
fora um círculo, deixando-o inscrito em um anel cos construtivistas recusam a objetividade e mes-
poligonal cada vez mais fino.11 Podemos dizer que mo a necessidade da teoria dos conjuntos como
o processo de Arquimedes é construtivo e finitista. requisito para a Matemática.14
Ele pode ser descrito como o sistema de regras O que tudo isso sugere é que números têm
seguinte: (1) há um objeto inicial; (2) dado um uma existência ontológica variável — segundo
objeto previamente construído, é possível cons- diferenças culturais, religiosas, e talvez políticas.
truir um novo objeto a partir do anterior; (3) os Nesse sentido, π e outros números são criações
objetos sucessivos guardam entre si a propriedade culturais, com analogias na poesia e na teologia.
de serem encaixados. Sua existência como objeto finalizado depende
Uma propriedade desses objetos é que eles tanto de um ato de fé quanto a existência de Deus.
se afinam sucessivamente — mas Arquimedes
evitou sempre afirmar que haveria um número
Limites do relativismo
único ao final do processo sem fim de aproxima-
ção. Ora, para os gregos tal limite não existia no Na Idade Média, submergiam-se bruxos na
caso de processos utilizados para calcular a raiz água. Se sobrevivessem, isso provava que eram
quadrada de dois. É por isso que Aquiles jamais bruxos, e devia-se queimá-los. Se morressem, isso
alcançou a Tartaruga — o instante do relógio em provava que não eram bruxos. Há um modo
que se daria tal encontro, assim como o ponto da análogo de calar a boca dos que defendem a idéia
estrada, não é um número racional; ele não existia de que todos os objetos, incluisive π, são social-
na ontologia dos matemáticos gregos. mente contruídos Se um construcionista social
O papel essencial da teoria dos conjuntos acha que as leis de Newton são “socialmente
para a fundamentação da Matemática foi introduzir construídas”, por que é que ele não salta da janela
uma ontologia infinitista desmesurada, na qual, de um prédio de dez andares? Chamemos esse
essencialmente, se postula que Aquiles atinge a teste de Ordálio da Ciência. Proponho uma adap-
Tartaruga e assim se refuta Zenão. Ponto que tação desse teste ao caso de π. O construcionista
vários livros de Cálculo ocultam ao afirmarem que social é desafiado a colocar-se a três metros e
o Cálculo teria mostrado o “erro” de Zenão com o catorze centímetros de distância (medida por ele
auxílio da noção de limite...12 Nem sempre o com uma trena) do eixo dianteiro de um trator cujo
estudante que lê isso pergunta: como é que sabe- diâmetro mede um metro (também medido por
mos que o limite em questão existe? A resposta ele), permanecendo deitado enquanto a roda do
poderia levar o professor a construir os números trator completa uma revolução completa. Que fará
reais como seqüências de Cauchy. Mas a essa o “construcionista social”? Sabendo aproximada-
altura o aluno poderia notar uma estranha seme- mente o valor de π, ele fugirá da morte certa,
lhança entre a infinitude de seqüências de Cauchy esquecendo por um momento seu relativismo.
e a corrida de Aquiles... (cf. Carroll, 1976). Ora, o que isto realmente prova? Que há uma
O preço para dispensar esse jogo é aceitar possibilidade de acordo pragmático entre partici-
como axioma a existência do infinito atualizado; pantes de diferentes ontologias. O engenheiro
daí em diante, a porta estará aberta não apenas egípcio, para quem π é uma “construção social”
para os números reais, mas também para o paraíso com apenas duas casas decimais — 3,14 —, o
da teoria dos conjuntos onde, além dos números matemático platônico, para quem π existe na
naturais, dos números reais, das funções e de esfera das idéias com todas as suas infinitas casas
muitos outros objetos matemáticos, habitam tam- decimais, e ainda Sokal, para quem a representa-
bém conjuntos inacessíveis, inefáveis e ridicula- ção de π pode não existir acabada, mas π enquanto
mente grandes.13 Assim, não é à-toa que crentes na coisa em si existiu sempre, adotariam a mesma
GUERRAS CULTURAIS E RELATIVISMO CULTURAL 9

conduta: todos os três fugiriam da roda. Eles ontologias distintas, mas podemos passar de uma
concordariam pragmaticamente embora discor- a outra por meio do aprendizado; a capacidade de
dando ontologicamente (cf. Da Costa, 1992, 1993 e fazer tais passagens é um universal humano. Medi-
1997; Almeida, 1998). Ontologias distintas podem ante essa capacidade podemos, por assim dizer,
ser compatíveis quanto a suas implicações pragmá- modelar uma ontologia no interior da outra e
ticas. É verdade que nem sempre existe tal concor- torná-la inteligível mesmo sem acreditarmos no
dância pragmática. Em uma defesa heróica de sua que o outro diz.
ontologia, um construtivista radical poderia atirar- A possibilidade dessa passagem, ou, para
se debaixo do trator argumentando que o que para usar de uma metáfora, a possibilidade de mudança
outros pareceria ser sua morte constituiria, em sua de coordenadas ao passarmos de uma ontologia a
própria visão do mundo, uma metamorfose. Essa outra, é o que garante a intersubjetividade. Mas a
argumentação é um primeiro passo para moderar o intersubjetividade é, por sua vez, a garantia da
relativismo cultural com o reconhecimento de uma objetividade. Sem ela não podemos sequer fazer
objetividade que resulta da concordância pragmá- distintos sujeitos discutirem sobre cursos de ação
tica parcial entre sujeitos que adotam diferentes alternativos apoiados em suas ontologias respecti-
ontologias. O fato de que medidas de peso sejam vas. A passagem de uma ontologia para outra não
muito variáveis entre as culturas não é uma barreira precisa ser ponto a ponto. Há ontologias mais
para que comerciantes que mal se entendem lin- pobres e ontologias mais ricas, e diferentes ontolo-
güisticamente possam encontrar regras de tradu- gias não são equivalentes em suas conseqüências
ção entre suas medidas — sem que precise haver pragmáticas e éticas. Esta é uma segunda razão
a adoção de um único padrão de medida, mas para moderar o relativismo.
chegando-se a aproximações satisfatórias para Ora, infelizmente, alguns antropólogos e
ambas as partes — ou acordos no plano pragmáti- “construcionistas sociais” acreditam que o relativis-
co. Mas semelhante concordância seria muito me- mo significa, ao contrário, que “cada um tem seu
nos esperada no caso de outras “construções soci- ponto de vista” e que tais pontos de vista são
ais” como aquelas relacionadas à fé religiosa — irredutíveis uns aos outros. Levada ao extremo,
embora também aí seja possível. Esse ponto essa posição afirma a impossibilidade da tradução.
forneceria um critério para distinguir a objetivida- Com isso, condenam-se os participantes de dife-
de da massa da objetividade de estilos de vestir e rentes sistemas culturais ao fechamento comunica-
da objetividade das crenças religiosas. tivo; chega-se também ao paradoxo que é um
Arquimedes seria capaz de acompanhar o antropólogo não poder falar do outro, o que é sua
raciocínio da matemática infinitista de Cantor e missão.
Dedekind, embora provavelmente, se os conhe- Contra esse ponto de vista apresento dois
cesse, tivesse continuado adepto dos métodos argumentos: o da possibilidade de acordo pragmá-
mais frugais da matemática finitista; conversamen- tico, ainda que parcial, sobre as conseqüências da
te, os matemáticos modernos podem entender ação sobre o mundo (argumentação de Newton da
Arquimedes e suas construções rigorosas e finitis- Costa), e o da possibilidade de intersubjetividade
tas, regressando depois ao paraíso metafísico. Por que decorre do pressuposto de unidade da mente
hipótese, antropólogos são capazes de aprender humana (argumentação de Lévi-Strauss).
línguas estranhas e códigos de etiqueta, mas tam- Todos nós sabemos, intuitivamente, transfor-
bém hábitos e sentimentos. Lévi-Strauss enxergou mar um objeto visto de diferentes ângulos e de
a condição de possibilidade da Antropologia nessa diferentes perspectivas, unificando essas aparênci-
“interseção de duas subjetividades” que resulta de as na idéia de um objeto invariante. Deveríamos
um processo através do qual um sujeito é sempre também ser capazes de nos transformarmos em
capaz de ocupar a posição de um objeto — diferentes sujeitos, e assim olharmos para um
convertendo-se vicariamente em um outro sujeito mesmo objeto de diferentes ângulos. Trata-se de
(Lévi-Strauss, 1973, pp. 16, 35 et passim). Existem reconhecer a diversidade juntamente com a inva-
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riância. Quanto a isso, a lição do relativismo co, a metáfora não depende de regras precisas de
matemático e físico seria muito útil e teria algo a correspondência. A metáfora é um abuso de lin-
ensinar aos antropólogos. Essa lição é a de que guagem cuja fecundidade criadora consiste em sua
podemos formular leis objetivas, significando isso capacidade para transpor domínios semânticos
que observadores diferentes podem pôr-se de determinados por regras, para atuar “fora de con-
acordo sobre suas diferentes observações, desde texto” por definição. Esse processo de abuso da
que saibam como convertê-las umas nas outras linguagem tem efeitos poéticos — isto é, produto-
através do grupo de transformações adequado (cf. res de sentido — tão mais expressivos quanto mais
Almeida, 1990). A noção de identidade que daí distantes são os domínios semânticos assim vincu-
resulta deveria interessar aos antropólogos, e per- lados: imagens geológicas aplicadas à história;
mitir que eles abandonassem a confusão autodes- imagens culinárias aplicadas ao amor; metáforas
truidora de falar de “relativismo” ali onde só há matemáticas aplicadas à poesia etc.
solipsismo. Primeiro, Sokal (1996b) denunciou como
“nonsense and sloppy thinking” (“absurdo e pre-
guiça mental”) o uso das idéias matemáticas e
Metáforas
físicas fora de seu contexto original por literatos.
Ah, compactness! A wonderful property. Mas, em escritos posteriores, Sokal percebeu que
(Klaus Jänich) os enunciados “físicos” e “matemáticos” encontra-
dos por ele em textos literários poderiam ter ali um
Físicos como Sokal poderiam adquirir a capa- uso metafórico. Passou então a distinguir um “bom
cidade de também eles transitarem entre ontologias uso de metáforas” do mau delas, com regras do
diversas sem serem tomados de pânico por objetos seguinte tipo: “O papel de uma metáfora é esclare-
não familiares. Nesse exercício, a capacidade de cer uma idéia pouco familiar ligando-a a uma outra
reconhecer objetos não familiares deve incluir a de que é mais familiar, ou vice-versa” (Sokal, 1997e,
conceber interpretações generosas para metáforas p. 8).
e outras formas de comunicação que parecem à Depreendem-se dessas e de outras observa-
primeira vista absurdas. Em particular, mas não ções as seguintes regras de Sokal para o uso de
apenas, metáforas matemáticas e físicas. metáforas:
Objetos matemáticos possuem uma existên- (S1) o objeto-metáfora deve ser mais claro do
cia múltipla, ou porque os matemáticos utilizam que o objeto metaforizado;
constantemente o que Nicolas Bourbaki chamou (S2) o objeto-metáfora não deve ser utilizado
de “abusos de linguagem”, ou porque o uso mate- em sentido estranho a seu campo semântico origi-
mático existe ao lado do uso de físicos, de enge- nal;
nheiros e do senso comum. Para Bourbaki, os (S3) deve-se distinguir sempre a ocorrência
abusos de linguagem em Matemática são aceitáveis de um objeto-metáfora da ocorrência de um objeto
e mesmo indispensáveis para permitir que, em vez não-metafórico. (Deve-se afixar a cada metáfora:
de definições rigorosas, o matemático se utilize de “Isso é uma metáfora”.)
termos que evocam intuições. Mas eles só são Se alguém diz “a crise econômica é um
admissíveis quando é possível, ao menos em prin- buraco negro”, está violando (S1), (S2) e (S3). O
cípio, substituí-los pelas definições rigorosas. Nes- mesmo ocorre quando alguém diz à namorada:
se caso, eles são uma espécie de notação abreviada “Você é uma flor”. Se digo, porém, “você, metafo-
e intuitiva que permite agilidade ao pensamento, ricamente falando, é semelhante a uma rosa sob o
sem prejuízo do rigor. O abuso de linguagem é, na aspecto da beleza”, já não há metáfora...
matemática bourbakiana, uma ponte entre o for- Em outras palavras, as regras de Sokal tornam
malismo e a intuição. inviável a metáfora. Quando as usamos obtemos
A metáfora constitui-se em uma forma de analogias, modelos. Ora, metáforas não-sokalianas
abuso de linguagem. Mas, no domínio humanísti- podem ser produtivas (Almeida, 1990).
GUERRAS CULTURAIS E RELATIVISMO CULTURAL 11

Consideremos a afirmação seguinte de Sokal Se tudo isso estiver muito abstrato, por que
(1997e), com a qual ele critica Deleuze, Kristeva e não introduzirmos dois parceiros? Eles podem ser
outros pelo mau uso de metáforas: “Em que a Aquiles e a Tartaruga. Aquiles deseja a Tartaruga e
hipótese do contínuo, a geometria não-euclideana busca alcançá-la. Sob que condições Aquiles en-
ou a topologia dos espaços compactos podem contrará seu objeto de desejo? Os espaços compac-
servir de metáforas úteis quando se analisam a tos são o ambiente ideal para isso. Pois considere-
poesia, a guerra ou a psicologia humana?” mos o que poderia dar errado para Aquiles: ele e a
Eis algumas respostas, auxiliadas pelas su- Tartaruga poderiam aproximar-se para sempre sem
gestões contidas nas metáforas mencionadas. Bro- que, contudo, Aquiles jamais atingisse a Tartaruga,
wer descreveu números reais — e a natureza do seja porque ela estaria sempre mais além,15 seja
contínuo de números reais — em termos de esco- porque no lugar para onde conduz sua corrida
lhas criativas da mente humana. A palavra poíesis convergente há um buraco. No primeiro caso, o
é, nesse caso, um campo comum à poesia e à espaço não seria limitado; no segundo, o espaço
criação matemática. Atos de criação mental, e não seria completo. Mas se Aquiles e a Tartaruga se
portanto de poíesis, foram empregados por De- perseguirem em um espaço que é ao mesmo
dekind para demonstrar a existência de um con- tempo limitado e fechado, então para qualquer
junto infinito. Passemos, contudo, aos espaços seqüência de atos de perseguição (em que Aquiles
compactos. e a Tartaruga se aproximam a cada passo) será
Sokal diz-se incapaz de compreender a su- possível extrair dos seus infinitos atos uma subse-
gestão deleuziana de que a “jouissance” tem a qüência convergente para um mesmo limite: ocor-
propriedade de espaços compactos. Isso não rerá o encontro.16
demonstra certa falta de imaginação? Pois dessa Algumas técnicas desejantes (tântricas e ou-
metáfora inocente se deduz, após uma escolha tras) renunciam a alguma dessas propriedades, e
adequada de termos, a seguinte proposição: num assim levam a espaços que não são compactos no
espaço de jouissance, toda seqüência de atos sentido deleuziano: ou por permitirem uma corrida
desejantes tem uma subseqüência que atinge o dispersiva e cada vez mais afastada da origem, ou
gozo. A noção de compacidade, transferida ao por permitirem sucessões que convergem sem que
domínio do desejo, sugere idéias e imagens inte- haja nada ali para onde aponta o convergir. É
ressantes. Nada impede continuarmos a pensar preciso imaginação para ouvir e compreender
metaforicamente. estrelas, como disse o poeta brasileiro Olavo Bilac.
Espaços de atos desejantes não são difíceis
de imaginar, bem como uma noção de distância
Pós-escrito: relativismo e
entre atos de desejo (pensemos em eventos no
Antropologia 17
tempo). É natural, então, concluir que uma se-
qüência de atos desejantes é convergente se a Tratamos do assunto das “guerras da ciência”
distância entre dois deles se torna arbitrariamente com exemplos estranhos à experiência dos antro-
pequena à medida que os atos se sucedem. Uma pólogos, e com poucas referências à enorme tradi-
seqüência convergente pode ou não ter um limite. ção da Antropologia, disciplina que, no entanto,
Se esse limite existe, ele é chamado de jouissance. tem como objeto privilegiado justamente o estudo
Ora, o que um possível mock-theorem (um teore- da relatividade cultural. Essa estratégia foi proposi-
ma brincalhão, no espírito de Lewis Carroll) diz tal. Em primeiro lugar, quis me ater aos exemplos
então é que em um espaço desejante, uma seqüên- utilizados por Sokal e Bricmont, disputando-os em
cia qualquer de atos (uma sucessão infinita de atos, vez de me refugiar nos domínios familiares à
ainda que sem qualquer regra) acumula-se em Antropologia. Em segundo lugar, a estratégia adota-
algum ponto em torno de um ponto-jouissance. da resulta de uma posição de princípio segundo a
Esse teorema-metáfora vale se e somente se o qual, se a Antropologia pretende ser uma ciência
espaço em questão for limitado e fechado... comparativa das sociedades e das culturas, ela deve
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incluir no seu campo de interesse não apenas forma simples em Raça e história, foi menos explo-
cosmologias e sistemas de parentesco, mas também rado do ponto de vista da filosofia da ciência. Para
sistemas científicos e burocracias. Haveria assim fazer essa aproximação, apoiei-me no filósofo bra-
uma Antropologia de números,18 à qual interessa sileiro Newton da Costa, cujas teorias, inspiradas,
tanto a visão platônica sobre os números expressa entre outros, na filosofia de Charles Sanders Peirce,
por Frege e Russell, como as teorias construtivistas e por um lado (e assim adotando um ponto de vista
materialistas da escola russa, como os sistemas semiótico generalizado), e também na matemática
numéricos “selvagens” em que os números não se de Nicolas Bourbaki (com seu ponto de vista
dissociam de suportes sensíveis e concretos. radicalmente estrutural), não ficam deslocadas em
Colocamo-nos em um ponto de vista que um artigo dedicado ao relativismo estrutural.
vem essencialmente de Lévi-Strauss, e segundo o
qual o “pensamento selvagem” e o “pensamento
NOTAS
domesticado” (separados, conforme Goody, pela
revolução da escrita) não diferem essencialmente,
mas sim quanto ao suporte técnico (ausência ou 1 Sobre o relativismo estrutural de Lévi-Strauss ver Almei-
presença de uma linguagem escrita e especializa- da (1990). Sobre a filosofia da ciência de Newton da
Costa ver o seu O conhecimento científico (1997), com
da) e quanto às suas regras (produção “construti- comentários em Almeida (1998).
va” de estruturas a partir de objetos sensíveis; 2 O texto-paródia é Sokal (1996a). O texto em que ele
dedução abstrata de objetos a partir de estruturas descreve a experiência é Sokal (1996b). Ambos os
axiomáticas conhecidas, no segundo caso). E fo- textos foram republicados em Sokal e Bricmont (1997).
mos levados a pensar que essa oposição divide 3 Em um debate oral, Derrida teve registrada a seguinte
também correntes contemporâneas da Matemática. fala (em sua versão inglesa utilizada por Sokal): “The
Einsteinian constant is not a constant, is not a center [...]
Essa divisão ilustraria a existência de uma “histori- it is not the concept of something [...] but the very concept
cidade inelutável” de objetos aparentemente tão of the game.” O texto de Sokal continua: “[...] the π of
estabelecidos como números. Euclid and the G of Newton, formerly thought to be
constant and universal, are now perceived in their
Não foi possível detalhar as contribuições ineluctable historicity [...]”. Cf. Sokal (1996a).
variadas a esses debates. Caberia, porém, ressaltar 4 Derrida (1997) não insistiu na sua afirmação sobre
que a posição de Lévi-Strauss é a de um relativismo números e procurou minimizar a sua importância.
estrutural — que não se confunde com o relativis- 5 Agradeço a Pedro Ricardo del Santoro a referência a
mo cultural da Antropologia norte-americana. Pois, esse livro de Bohigas.
enquanto o relativismo cultural pós-boasiano chega 6 Neste artigo, Brower define um número real que nem é
ao extremo (na conhecida posição de Whorf e igual a zero, nem é maior do que zero, nem é menor do
que zero — porque essas possibilidades dependem de
Sapir) de negar a mútua inteligibilidade das culturas se saber se a seqüência 0123456789 ocorre ou não a
(posição que será fundamentada a partir dos escri- partir de um certo ponto do desenvolvimento decimal
tos de Wittgenstein na sua fase dos “jogos de de π .
linguagem”), o relativismo estrutural de Lévi-Strauss 7 A ontologia platônica é a mais difundida e ensinada
enfatiza a unidade e mútua inteligibilidade das (começa quando criancinhas aprendem a enxergar com
os olhos da mente “conjuntos vazios”, “conjuntos de um
culturas humanas — desde que vejamos os diferen- elemento”; é acabada quando, no final da graduação, o
tes sistemas culturais como transformações que estudante de Matemática aprende a enxergar “conjuntos
operam segundo princípios mentais que são univer- infinitos”). Para uma exposição de visões construtivistas
da Matemática, que não utilizam conjuntos e recusam o
sais. O relativismo cultural é, assim, profundamente infinito atual, veja-se Troelsta (1983) e Bridges e Rich-
divergente do relativismo estrutural. O primeiro man (1987).
tipo de relativismo, associado às teorias de jogos de 8 Há uma piada, contada por matemático. O físico prova
linguagem (wittengensteinianos) ou à filosofia de estatisticamente que todos os números ímpares são
Quine, levou as discussões antropológicas para as primos: “Bem, 1 é ímpar e é primo. Mas 3, 5, 7 e 13 são
ímpares e primos. O 9 é um erro experimental; logo
fronteiras com a filosofia da linguagem e da lógica. todos os números ímpares são primos”.
O segundo tipo de relativismo, que está exposto de
GUERRAS CULTURAIS E RELATIVISMO CULTURAL 13

9 Mais precisamente, um número real é uma família de ARONOWITZ, Stanley. (1997), “Alan Sokal’s ‘trans-
seqüências de Cauchy que são “equivalentes” entre si; a gression’”. Dissent, Winter: 107-110.
outra definição baseia-se na noção de “corte” no sentido
definido por Dedekind. BARWISE, Jon (ed.). (1983), Handbook of mathemati-
10 Algumas referências sobre os dilemas da teoria dos cal logic. Amsterdã, North-Holland.
conjuntos na enorme literatura especializada são: Fra- BOHIGAS, Oriol. (1991), “Random matrix theories
enkel, Bar-Hillel e Levy (1984), Hallet (1986) e Pollard and chaotic dynamics”, in M.J. Giannomi, A.
(1990).
Voros e J. Zinn-Justin (orgs.), Chaos et Physi-
11 Arquimedes, utilizando o método de exaustão, encerra que Quantique/Chaos and Quantum Physics,
a circunferência de um círculo de diâmetro d entre os Paris, Elsevier Science Publishers.
limites 3 + 10/71 e 3 + 10/70. Para isso, ele construiu um
polígono regular inscrito e um polígono regular circuns- BORWEIN, M. e JONATHAN, M. (1997), “Brower-
crito ao círculo, e dobrou sucessivamente os lados, Heyting sequences converge”. The Mathemati-
parando ao obter um polígono com 96 lados. O proce- cal Intelligencer, 20, 1: 14-21.
dimento contém um método iterativo para continuar
indefinidamente o cálculo, utilizando uma fórmula na BRICMONT, Jean e SOKAL, Alan. (1997a), “What is all
qual intervêm raízes quadradas. Cf. Archimède the fuss about?”. Times Literary Supplement,
(1970,Tomo I, pp. 134-143). 17, October.
12 Sobre a “grosseria” das supostas refutações dos argu- __________. (1997b), “Les critiques de Derrida et de
mentos “immeasurably subtle and profound” de Zenão,
Dorra ratent leur cible”. Le Monde, 12/12/
ver Bertrand Russell (1963, pp. 347ss).
1997, p. 23.
13 Sobre conjuntos infinitos “ridiculamente grandes”, ver
no volume editado por Barwise (1983) o apêndice de K. BRIDGES, Douglas e RICHMAN, Fred. (1987), Varie-
Kunen, à página 399, e o livro de Prisco (1997). ties of constructive mathematics. Cambridge,
14 Uma síntese das posições construtivistas e intuicionistas Cambridge University Press.
sobre números está contida em Bridges e Richman BROWER, Luitzen J. (1981[1923]), “On the significan-
(1987).
ce of the principle of excluded middle in
15 Imaginemos uma seqüência de atos A1, A2 etc. A cada Mathematics, especially in function theory”, in
ato a Tartaruga percorre um metro a partir da origem (a L.J. Brower, From Frege to Gödel: a source book
Tartaruga estará à distância de 1 metro, de 2 metros etc. in Mathematical logic 1879-1931, Cambridge,
da origem). Aquiles diminui pela metade a distância
Mass., Harvard University Press, pp. 334-345.
entre ele e a Tartaruga (Aquiles estará a uma distância de
(1 – 0,5) metro, de (2 – 0,25) metros etc., sempre em CARROLL, Lewis. (1976), “What the Tortoise said to
relação à origem). Então Aquiles somente encontrará a Achilles”, in L. Carroll, Collected works, Nova
Tartaruga no infinito — mas a reta não contém tal ponto, York, Vintage Books, pp. 1.225-1.229.
a não ser que seja compactificada.
16 Cf. Elon Lages de Lima (1982, cap. V, particularmente o CRUMP, Thomas. (1990), The anthropology of num-
Teorema 11, p. 144), que justifica a definição de conjun- bers. Cambridge, Cambridge University Press.
to compacto aqui utilizada.
DA COSTA, Newton. (1992), Introdução aos
17 Esta seção não constou da palestra original. fundamentos da Matemática. 3a ed., São Paulo,
18 Por exemplo, Crump (1990) ou Mimica (1988), e ainda Hucitec.
a obra de Jack Goody, e muito mais.
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