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JT - SP - 3 - 22/01/11 3A -

JORNAL DA TARDE
3A
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SÁBADO, 22 . 1 . 11

WWW.JT.COM.BR
JTCIDADE Veja vídeo que apresenta a rainha da bateria da Mancha Verde,
Aline Bernardes, de 24 anos, em www.jt.com.br/cidade

Cortiçoétãoprecário
hojequantonoséculo19
Livrodescreveasmoradiascoletivasem1893ecaracterísticassãomuitosemelhantesàsqueseencontramem
habitaçõesconjuntadasencravadasnaregiãocentraldeSãoPaulo,ondefaltadehigieneedeespaçosãoaregra
J.F.DIORIO/AE

SUZANEG.FRUTUOSO
suzane.frutuoso@grupoestado.com.br

“Casario de um andar, composto


de duas filas de aposentos baixos,
sujos, úmidos, minúsculos, pou-
co arejados(...) Eis como se apre-
sentaumcortiço.Emcadacubícu-
lo, verdadeira colmeia humana,
com frequência se comprime to-
da uma família...”
O trecho descrito foi notícia em
um jornal da comunidade italia-
na da capital no fim do século 19.
O registro está no livro Os cortiços
de Santa Ifigênia: sanitarismo e ur-
banização (1893), publicado pelo
Arquivo Público do Estado de São
Paulo no fim de 2010. Atualmen-
te, a cena não mudou em bairros
centraisdacidade.Hoje,além dos
casarios divididos por diversas fa-
mílias, há também em edifícios as
tais“colmeiashumanas”,sobrevi-
vendo sem o mínimo de comodi-
dade e condições adequadas de
saúde. São 15 mil famílias viven-
doemcortiçosnocentroexpandi-
do da capital, segundo a Secreta-
ria Municipal de Habitação.

Apesardascondições
precárias,Prefeitura
reduziumetaspara
combateroproblema
Apublicação éumareprodução
do documento que deu origem ao
primeirocódigosanitáriodoEsta-
do.“O relatório,elaboradopor es-
pecialistas como o engenheiro
Teodoro Sampaio, indicou pela
primeira vez grandes problemas
urbanos relacionados ao sanea- Irene (a esq.) ao lado de uma das três filhas que moram com ela em um quarto alugado na Baixada do Glicério há 10 anos; imóvel tem mais quatro cômodos ocupados por outras famílias
mento,àlimpezapúblicaeàhabi-
tação”, diz a historiadora Simone
Cordeiro, diretora do Centro de
Acervo Permanente do Arquivo EM MÁS CONDIÇÕES PINGUE-PONGUE
Público e organizadora da obra. Faltam políticas culaçãoimobiliária”
RicardoPereiraLeite
Mas constatar os problemas
não significou, ao longo do tem-
Ninguém Oque dizaSecretaria Municipal
deHabitação(SEHAB) de habitação Rodrigues,autor deumdos
artigosdo livro “Oscortiços de ,SecretáriomunicipaldeHabitação
po, solucioná-los. Pelo contrário. respeitao >> 15mil famílias vivemem eficientes SantaIfigênia: sanitarismo e
Nesta semana, o prefeito Gilberto
Kassabreduziuasmetasprevistas
rodíziodelimpeza. 1.000lcortiçosno centro
expandidodacapital Aexistência dos cortiçosé
urbanização(1893)”, publicado
peloArquivoPúblico do Estado ‘São cerca de
Asujeitae
para serem cumpridas até o fim
de seu mandato, em 2012. Houve ocheirosão >> 30mil famílias moravam em
aprova daincapacidade
dosgovernantes emimplantar
deSãoPaulo,dizqueasautorida-
desdeveriamconsultar obras 1.000 cortiços’
corte de 25% no número de famí- 2mil cortiçosem2001 políticaspúblicas dehabitação e comoessa paranãorepetirerros
lias atendidas no programa de re- insuportáveis” urbanismoeficientes. Essaé a anteriores.“A Históriatemrele- Por que haverá uma redução
cuperação de cortiços, segundo o >> 70%do total defamílias deixa- opiniãodo historiadorJaimeRo- vânciapara osplanejamentos de 25% no número de famílias
GIOVANAMOTEZANO,MORADORA
MovimentoNossaSãoPaulo.ASe- DECORTIÇONABAIXADADOGLICÉRIO rãodeviver emcortiçosaté2012 drigues,professordaUniversida- urbanos.Pode apontar soluções atendidas no programa de re-
habrebate,afirmandoquejáredu- deFederaldeSão Paulo indicandoo quenão funcionou”, cuperação de cortiços?
ziu em 50% o número de famílias Oque dizo Movimento (Unifesp).“Ascondições demo- diz.“Quem está no poderse Naverdade,houveaumentono
nessas condições desde 2001. NossaSãoPaulo radiasão,nãosó semelhantes, achamuitooriginal. Bastaolhar número de famílias atendidas.
OJTvisitouumcortiçonaBaixa- xiliar de limpeza Giovana Monte- >> 12 milfamílias seriam retiradas comopioresdo que no passado. acidadeque vivemoseosproble- Não redução. Em 2001, cadas-
da do Glicério, região central, on- zano,27 anos,quedivideo espaço decortiçosaté2012 Oespaço dividido por famílias, masquejá sãocomuns, como os tramos2milimóveiscomcarac-
de sete famílias dividem o que um (umavelhacozinha)comdoispri- hoje,écada vezmenor.Especial- alagamentosdejaneiro, econs- terísticas de cortiços no centro
dia foi uma casa de cinco cômo- mos. Os três filhos dela também >> 9 mil famíliasserão atendidas menteemSãoPaulo, comespe- tatarque nãoestá dandocerto.” expandido de São Paulo, com
dos e um quintal. A dona de casa passam os finais de semana ali. comarevisãodo Plano deMetas cerca de 30 mil famílias. Hoje,
Irene Ferreira, 49 anos, mora há "Ninguém respeita o rodízio de são cerca de 1.000 cortiços,
uma década com os três filhos em limpeza. A sujeira e o cheiro são com15milfamílias.Seesseuni-
umquarto.PagaalugueldeR$220 insuportáveis". verso diminuiu pela metade, o
pelo local onde estão duas camas, A doméstica Maria Alexandre, atendimento aumentou.
guarda-roupa, armário de cozi- 52 anos, mora em outro cortiço,
nha, mesa, fogão, geladeira e TV.
A iluminação é ruim. “Qualquer
quitinete alugada custa três vezes
na Bela Vista. No terreno compar-
tilhado por 11 famílias, cada um
tem a sua casa. “O terreno era
Relatóriode1893foibaseparalivro Éaceitávelqueaindahojeexis-
tam famílias vivendo em con-
dições precárias iguais as do
esse valor. Não tenho condições. bomeaspessoasforamconstruin- O livro Os Cortiços de Santa Ifi- região foi cenário de uma epide- desejável” de moradias insalu- século 19?
O banheiro e o tanque de lavar do seus imóveis”. O orgulho de gênia: sanitarismo e urbaniza- mia de febre amarela. bres, em locais centrais da cidade. Gostaria que todos tivessem
roupa,comonopassado,sãocole- Mariaéopequenobanheirosóde- ção foi elaborado com dados do O texto permite estudar as con- Quem acompanhou casos como condições de moradia. Sou de
tivos.Éoquemaisincomodaaau- la e dos dois filhos. :: Relatório de 1893 da Comissão de dições e as técnicas urbano-sani- o da demolição do Edifício São Vi- solução,nãodecrítica.Nosúlti-
Exame e Inspeção das habitações tárias, além da escala espacial das to - apelidado de favela vertical - mos 100 anos tivemos uma
operárias e cortiços no distrito de ações do poder público; o projeto vai reconhecer alguns pontos em enormemigraçãoparaSãoPau-
Santa Efigênia, De uma popula- decidadequesequeriaconstruir/ comum com o cenário do livro. A lo, muita gente veio de fora. A
ção de 69.934 habitantes em 1890, remodelar; e os habitantes das alternativa proposta - como lem- infraestrutura não acompa-
Localpropícioparadoenças a cidade saltou para 239.820 em
1900.Novasconstruções,ilumina-
moradias dessa parte da popula-
ção paulistana, em sua maioria
bra o Professor Jaime Rodrigues
em seu artigo - é a construção de
nhou a migração.

çãoelétricaelinhadebondessina- imigrantes. Em suas conclusões, moradias populares em bairros Em quanto tempo as atuais 15
No lugar do tifo agora tem a he- cozinha é apenas entre familia- lizavamoprojetodeigualaracida- o relatório propôs a erradicação distantes. O que, por sua vez, cria mil famílias vivendo em corti-
patite. A febre amarela foi substi- res. Isso diminui a proliferação de de às grandes capitais europeias. daquele tipo de moradia, e sua novos e graves problemas para a ços terão moradias dignas na
tuída pela dengue. As viroses, que doenças." Mas estas iniciativas não resol- substituição por casas adequadas cidade. ::CristianeBomfim cidade?
causam vômitos e diarreias, e Psicologicamente, dividir o do- viam problemas como a falta de para os trabalhadores (constam A meta é atender 70% do total
doençasrespiratórias,comobron- micíliotambémnãoéfácil.“Acon- saneamento básico ou as péssi- do livro, inclusive, algumas plan- até 2012. Não queremos nin-
quite e tuberculose, são as mes- vivência tão próxima com estra- mas condições de higiene nas ha- tas para essas futuras vilas operá- guém morando em cortiço. Fa-
masdopassado.Nocortiço,osris- nhos tira a privacidade e deixa bitações populares. rias).Maisimportanteainda,otra- A OBRA zemos o máximo. Meta é um
cos de enfermidades são grandes uma sensação de não ser capaz de Foi por causa destes problemas balho feito pela comissão resul- norte.Pior é não ter meta. S.G.F.
devido à falta de higiene, o com- conquistar um espaço próprio.” queo entãodiretor doSetordeSa- tou, no ano seguinte, no Código OsCortiçosde SantaIfigênia:
partilhar do banheiro, a falta de Adona de casaFabiana Fernan- neamento de Estado, engenheiro Sanitário Estadual. Com ele, a ci- sanitarismoe urbanização
iluminação e de ventilação. des, de 20 anos, que mora em um Theodoro Sampaio, escreveu em dadedeSão Paulopassouadispor
“Apesar da localização em área cortiço na Baixada do Glicério, re- 1892 um ofício ao Secretário de de leis capazes de prever e regular Preço:R$45
urbana, o cortiço é um lugar pior gião central, é mãe de Fernanda, NegóciosdoInterior,CesarioMot- asmatériasdehigiene esaúdepú- Livrariado
Muitagenteveio
para a saúde do que uma moradia de 4, que acaba no hospital várias ta Junior, propondo a criação de blica de forma rígida. ArquivoPúblico defora.Ainfraestrutura
nafavela”,dizosanitaristaOswal- vezes ao ano por causa da bron- uma infraestrutura urbano-sani- Apartirdesseolharparaopassa- doEstadodeSão nãoacompanhou
do Yoshimi Tanaka, professor da quite. As paredes do cômodo es- tária na cidade. Em um segundo do, o livro permite construir algu- Paulo(Av. amigração”
Faculdade de Saúde Pública da tãomofadasedescascando.Aúni- ofício, Sampaio delimitava o bair- mas projeções no presente. São CruzeirodoSul,
Universidade de São Paulo (USP). ca janela é pequena. “Aqui não é ro de Santa Ifigênia como a área Paulosedebate,atéhoje,compro- RICARDOPEREIRALEITE,
1777,Santana) SECRETÁRIODEHABITAÇÃO
“Nafavela,adivisãodebanheiro e lugar para criar filho”, diz.:: S.G.F. de atuação. Três meses depois, a blemascomo o adensamento“in-

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