PESSOAS
I N F O R M
Em palestra interessante e divertida, recheada de boas histórias, consultor Antônio Roberto ensina como ser feliz no processo de mudanças
Felicidade é uma das palavras-
chave da nossa época. Todos nós
nascemos exclusivamente para ser
felizes. O único objetivo do trabalho,
do dinheiro e do prestígio é a felici-
dade. Trata-se, porém, de um proje-
to pessoal, no qual não contamos
com ajuda da sociedade. Para reali-
zá-lo temos de superar as armadilhas
que encontramos no caminho, co-
mo o apego ao passado e o compro-
misso excessivo com o futuro. E
compreender o processo de mudan-
ças pelo qual estamos passando.
Estas idéias foram apresenta-
das pelo consultor em comporta-
mento Antônio Roberto Soares,
ao proferir a palestra Ser feliz no
processo de mudanças, para exe-
cutivos do Banco Rural. A pales-
tra, realizada no dia 24 de julho,
fez parte do Rural Competências /
Pessoas, programa de Desenvolvi-
mento de Executivos do Banco
Rural. “Só agora as pessoas come-
çam a aprender que podem ser
felizes dentro da organização,
que o trabalho é um meio para
ser feliz”, disse o consultor.
Ao começar sua palestra para
um auditório lotado, Antônio Ro-
berto disse que se sentia feliz por
dois motivos, o primeiro deles era
ver pessoas reunidas buscando o
Aprendendo a não olhar para trás
Há, fundamentalmente, três
comportamentos diante das mu-
danças, segundo Antônio Rober-
to. O primeiro deles, o mais radi-
cal, é o alienado. “A pessoa se ins-
talou em sono profundo, não
quer nem enxergar a mudança”,
descreveu o consultor. As frases
típicas desse indivíduo são: “casa-
mento é assim mesmo”, “meu fi-
lho está assim porque é aborre-
cente”, “não mexe com isso não”,
“já vi esse filme”.
Tal comportamento, no entan-
to, tem certo apoio da sociedade,
porque ela dá ênfase à conserva-
ção. As pessoas sentem orgulho de
dizer coisas como “tenho trinta
anos casado” ou “tenho vinte e cin-
co anos de banco” – e a sociedade
valoriza isso. O tempo, porém, não
quer dizer nada, é preciso ver a
qualidade dos anos de casado ou
no emprego. Segundo o consultor,
essa postura alienada faz sofrer as
pessoas que estão em volta.
Antônio Roberto explicou
que a sociedade nos ensinou tru-
Viver é resolver problemas
Para mudar, é preciso saber em
qual direção. Numa organização isso
é consensado internamente, mas e nas
relações pessoais? A direção da mu-
dança, segundo Antônio Roberto, é a
da felicidade, outra palavra-chave da
nossa época. “O único objetivo do tra-
balho, do dinheiro, do prestígio e do
status é a felicidade. Toda pessoa nas-
ce absolutamente feliz, depois é que
vão nos ensinando macetes para so-
frer”, disse o consultor.
“Precisamos, primeiro, saber
que a sociedade não quer que seja-
mos felizes, e sim que sejamos obe-
dientes; a felicidade é um projeto
pessoal”, explicou. Quando protege-
mos a nossa alegria, passamos a nos
preocupar com a alegria do outro,
porque ela nos dá alegria.
Antônio Roberto criticou os am-
bientes organizacionais que não
permitem a alegria, não permitem
que se brinque, onde há apenas se-
riedade. Segundo ele, o grande obje-
tivo das organizações é contribuir
para felicidade de alguém.
Um dos motivos pelos quais não
somos felizes é que nos ensinaram tru-
2
E E S P
Mudar para ser feliz
crescimento pessoal. O segundo
motivo era o tema da palestra,
“mudanças e ser feliz”, pois consi-
dera que o avanço do processo so-
cial depende das pessoas e que
são as relações que fazem hoje o
diferencial nas organizações.
“Toda época tem suas
palavras-chave e quem
compreende seu significado
é vanguarda e tem sucesso.
A primeira palavra-chave da
nossa época é mudança.”
Antônio Roberto explicou que a
mudança faz parte da natureza hu-
mana, queiramos ou não. “As trans-
formações acontecem em nós, nas
organizações, nas instituições”, dis-
se. Não compreender isso nos faz
sofrer. E não é mesmo fácil com-
preender, porque somos fascina-
dos pela permanência, pela estabi-
lidade e pela segurança.
“Neste auditório, se alguém
sair, quando voltar vai querer sentar
ques para negar as mudanças, o
primeiro deles é olhar para trás.
“Nós adoramos olhar pelo retro-
visor, adoramos coisa que já aca-
bou”, disse. Mas o passado é fon-
te do sofrimento. As pessoas sen-
tem saudade, mágoa, culpa, tris-
teza, remorso.
Esse tipo de comportamento
afeta também as empresas. “Nas
empresas, quanta coisa se guar-
da!”, comentou o consultor, cor-
rigindo um ditado famoso: “Em
time que está ganhando tem que
mexer, sim”, advertiu, esclarecen-
do que, se a empresa bem-suce-
dida não muda, seu concorrente
muda e toma sua posição.
Ele citou a saudade como
um sentimento usado para não
se mudar o presente. Explicou
que as pessoas devem sofrer
quando acontece um infortúnio.
“Depois que passou um dia,
uma semana, um ano, têm que
ressuscitar”, ensinou. A mágoa é
outro sentimento contrário à
mudança. Como não somos per-
ques para sofrer. Pensamos que as coi-
sas têm que estar todas certinhas para
que estejamos felizes, se houver um
problema, atrapalha. Dizemos: “se
não fosse por isso”. Queremos um
mundo ideal. “Ser feliz é ser feliz ape-
sar de, é um projeto pessoal, só você
pode conseguir”, ensinou.
Ele disse que o grande pecado
das teorias americanas de motivação
é pretender que uma pessoa motive
outra. “Motivação tem que ser auto-
motivação, é preciso permitir que a
alegria que está dentro de cada um
apareça”, explicou. “Todos estamos
com problemas. É sempre assim. Viver
é resolver problemas, até morrer. Te-
mos que aprender a ter humildade
com as imperfeições”, disse.
Assim como o passado, o com-
promisso excessivo com o amanhã é
outra fonte de infelicidade. Ele ob-
servou que fomos treinados para o
amanhã e para o ontem, e que isso
gera ansiedade e medo de perder;
pessoas ansiosas são extremamente
beligerantes. “A gente pode planejar,
mas faz as coisas hoje. Só se vive no
presente”, disse.
E C I A
na mesma cadeira, porque a cadei-
ra já é dele. Se somos assim com
uma cadeira, imagina com a nossa
mulher, com os nossos filhos”,
exemplificou Antônio Roberto.
Toda dor psicológica, como an-
gústia, depressão e ansiedade, sig-
nifica que alguma coisa devia ter
mudado na nossa vida. “As pessoas
conservadoras levam esse compor-
tamento para seu ambiente de tra-
balho”, disse, aconselhando as pes-
soas a aproveitar o que têm. “A vida
é para viver, não é para manter, e o
trabalho é para construir”, ensinou.
Antônio Roberto explicou que,
ao pregar a mudança quer dizer
que as pessoas têm que ser flexí-
veis. Isto porque até algum tempo
era possível ter a sensação de per-
manência, mas de 30, 35 anos para
cá, não é mais. “O mundo está mu-
dando com muita rapidez. Estamos
no meio do furacão, a instabilidade
é muito grande”, disse.
Os adultos de hoje foram pre-
parados para um mundo que não
existiu. “Diziam-nos que se estu-
dássemos, se casássemos, se tivés-
semos dois filhos – de preferên-
cia um menino e uma menina –,
se trabalhássemos, se tivéssemos
dinheiro, seríamos felizes. Mas o
mundo mudou”, analisou.
feitos, os conflitos e ofensas
acontecem, as pessoas as guar-
dam e não resolvem. Da mesma
forma, acontece com a culpa. As
pessoas ficam guardando o que
fizeram de errado, as oportuni-
dades que perderam.
Ele frisou que a função do pas-
sado é possibilitar que aprenda-
mos com ele, não que nos torne-
mos seus escravos. “O passado não
é para a gente sofrer. Quer dizer
que temos de esquecê-lo? Não, te-
mos de resolvê-lo”, ensinou.
MUDANÇA
Consideramos inimigo quem pensa diferente de nós, mas é na discordância que se evolui
Cultivar o perdão e a esperança
Outra palavra-chave do proces-
so de mudança, segundo Antônio
Roberto, é emocionalidade. Somos
nossas emoções, nossos sentimen-
tos. “Vocês vão levar desta palestra
o que sentiram, não o que entende-
ram”, explicou. O pensamento não
liga ninguém, o sentimento liga. O
consultor observou que a idéia da
inteligência emocional, tão falada
há alguns anos, pode ser resumida
em duas frases. “Primeiro: eu sou
minhas emoções. Segundo: tenho
de gerenciá-las.”
Antônio Roberto ressaltou que
não tratamos dos nossos sentimen-
tos negativos e temos muitos pre-
conceitos contra emoções. Consi-
deramos que o homem maduro é
racional, embora não o seja no ínti-
mo, o que é um erro, pois somos o
que somos e não o que aparenta-
mos. “Socialmente somos adultos:
sabemos combinar roupas, sabe-
w w w. r u r a l . c o m . b r
L
FELICIDADE
Ser feliz é o principal objetivo da vida do ser humano. É preciso tolerar a alegria, mais do que isso: querê-la, ensina Antônio Roberto
É inútil tentar mudar o outro
O segundo comportamento
diante da mudança é: tem que ha-
ver mudança, mas quem tem de mu-
dar é o outro. “Nós gastamos muita
energia tentando mudar o outro.
Nas empresas, todas as áreas sabem
em que a outra está errada. Sempre
se pode esconder a resistência à mu-
dança tentando mudar o outro”,
disse Antônio Roberto. Ele ressaltou
que toda competição humana vem
de se tentar mudar o outro.
“Qual é o problema dessa postu-
ra? É que ninguém consegue mudar
mos nos cumprimentar. Mas emo-
cionalmente somos muito infantis”,
comparou.
Ele observou que é preciso tra-
tar das pessoas emocionalmente
para que tenham abertura para a
mudança. Isto significa resolver
dois fantasmas: o passado e o futu-
ro. “Como resolver o passado? Pelo
perdão. Eu me perdôo pelas mi-
nhas imperfeições, e de quebra
perdôo o que fizeram comigo. E o
futuro, como resolvê-lo? Desenvol-
vendo o sentimento da esperança”,
ensinou Antônio Roberto.
Ele explicou que a esperança
não é um sentimento passivo. “É
preciso fazer a mudança agora e
deixar o futuro para quando ele
chegar. Quando chegar, é óbvio
que vou dar conta”, analisou. “Vai
sobrar alegria no coração, vou estar
apto para ser feliz e ser capaz nas
organizações”, concluiu.
o outro. A mudança é um desejo in- mas das organizações estão mudan-
terno”, ensinou o consultor. do, as empresas estão mudando e eu
Ele observou que as discussões in- quero mudar. “Não quer dizer que
termináveis em mesas de reuniões, as tem de concordar com tudo, pode dis-
brigas entre marido e mulher são sem- cordar. Mas resistir não é discordar”,
pre para cada um mostrar que tem ra- explicou. Ele disse que o grande cha-
zão. Antônio Roberto revelou que 90% mado do mundo hoje é: “mude!”.
das consultas que recebe são sobre re- Antônio Roberto observou que a
lacionamento afetivo e sexual. “Esta é comunidade se estabelece a partir
a relação mais importante, a relação do aprendizado e que temos de co-
primária, a mais prazerosa. Por que meçar aceitando nossa ignorância,
então o casal se trata tão mal? Por que tendo humildade para isso. “Quem
há tanta briga? Por causa da intole- disse que sabe ser pai? Tem que
rância com as diferenças”, explicou. aprender”, ensinou. Para o consul-
A terceira postura diante da mu- tor, a pior coisa é quando uma pes-
dança, segundo Antônio Roberto, é: o soa está num cargo em que não po-
mundo está mudando, os paradig- de perguntar, porque tem que saber.
Quem é Antônio Roberto
Antônio Roberto Soares é
consultor de empresas, espe-
cialista em comportamento,
profissão que vem desempe-
nhando há mais de trinta anos.
Publica artigos aos domingos
no jornal Estado de Minas, no
caderno Bem Viver. Tem tam-
bém programas de aconselha-
mento na TV Alterosa, na TV
Horizonte e na Rádio Itatiaia.
Nascido há sessenta anos
em Montes Claros, município
do Norte de Minas, Antônio
Roberto teve infância muito
Paralelamente, estudou fi-
losofia, direito, administração
pobre; perdeu o pai cedo e sua de empresas e fez vários cursos
mãe trabalhava como servente de psicologia organizacional e
em um grupo escolar. Aos de- do comportamento. Trabalhou
zoito anos veio para Belo Hori- também na Mannesmann, co-
zonte, onde reside. Foi locutor mo gerente, e na Acesita, como
de rádio, vendedor de enciclo- diretor. Ele é casado com a psi-
pédia, escrevente de cartório e cóloga Noemi Gelape e tem se-
funcionário no Instituto de Ad- te filhos, quase todos atuando
ministração Pública. na área de psicologia.
O que é o Rural Competências
Rural Competências é um programa de desenvolvimento
de executivos do Banco Rural que promove regularmente pa-
lestras de especialistas em gestão de pessoas, processos e ne-
gócios, liderança, finanças e economia. Por acreditar que o
principal capital do século XXI é o conhecimento, o Banco Ru-
ral, em parceria com o jornal Estado de Minas, disponibiliza
para seus clientes e leitores o conteúdo das palestras.
O conteúdo das palestras está disponível pela internet
no seguinte endereço: www.rural.com.br