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1. INTRODUÇÃO....................................................................................................2
2. HISTÓRICO.........................................................................................................4
3. LIBERDADE SEXUAL......................................................................................7
3.1. Conduta de natureza sexual.....................................................................9
3.2. Assédio sexual e Abuso sexual.............................................................11
3.3. Variantes culturais..................................................................................12
4. ASSÉDIO SEXUAL- O CONCEITO SEGUNDO O CÓDIGO
PENAL.............14
4.1. CONSTRANGIMENTO.............................................................................14
4.2. HIERARQUIA............................................................................................15
4.3. SUJEITOS.................................................................................................16
5. CONCEITO DE ASSÉDIO SEXUAL SEGUNDO A
DOUTRINA.....................18
6. CLASSIFICAÇÃO............................................................................................21
6.1.1. Quanto ao sexo..........................................................................21
6.1.2. Quanto à hierarquia...................................................................21
6.1.3. Quanto à forma..........................................................................22
6.1.4.Quanto ao modo.........................................................................23
a) Assédio Sexual por chantagem..........................................23
b) Assédio Sexual por intimidação.........................................25
6.1.5. Consequências do Assédio Sexual.........................................27
7. ASSÉDIO SEXUAL NO DIREITO DO TRABALHO........................................29
7.1. Breves considerações..................................................................29
7.2. Extinção do contrato de trabalho................................................30
7.3. Extinção do contrato de trabalho por ato do empregador.......31
7.3.1. Consequências da justa causa...................34
7.4. Extinção do contrato de trabalho por ato do
empregado..............................................................36
7.4.1. Conseqüência da rescisão indireta............39
8. RESPONSABILIDADE CIVIL...........................................................................41
8.1. Responsabilidade civil-trabalhista-penal.................................44
1
8.3. distinção entre dano moral e dano material.........................................48
8.4. reparação do dano...........................................................................50
8.5. competência......................................................................................54
9. O PROCESSO JUDICIAL.....................................................................................60
9.1. Segredo de justiça...........................................................................60
9.2. Denunciação à Lide.........................................................................60
9.3. Regime de Prova..............................................................................61
9.4. Litigância de má-fé...........................................................................63
10. CULPA CONCORRENTE....................................................................................64
11. PREVENÇÃO......................................................................................................66
12. ASSÉDIO MORAL..............................................................................................69
13. CONCLUSÃO.....................................................................................................72
14. BIBLIOGRÁFIA CITADA E CONSULTADA......................................................75
15. ANEXOS.............................................................................................................79
2
RESUMO
3
1. INTRODUÇÃO
Como bem observa Aloysio Santos1, “o assédio sexual é hoje uma preocupação
generalizada e a tendência é agravar-se, com a revelação de novos casos, porque a
discussão aberta do assunto estimula as vítimas a denunciarem os assediadores”.
1
Aloysio Santos, Assédio Sexual nas Relações Trabalhistas e Estatutárias, p.24.
4
Comentar-se-á ainda sobre as consequências do assédio sexual, tanto para o
assediador, quanto para o assediado, bem como a responsabilização do empregador
pelos atos de seus funcionários.
Intentar-se-á por fim, após análise dos tópicos anteriores, enquadrar o assédio
sexual na legislação trabalhista, principalmente nos incisos do artigo 482 e 483 da
Consolidação das Leis do Trabalho, que trata da extinção do contrato de trabalho.
5
2. HISTÓRICO
2
Alice Monteiro de Barros, A Mulher e o Direito do Trabalho, p.27.
6
Faz-se mister no entanto, que deixemos bem claro que a questão do assédio
sexual não é privativa das mulheres, fato que confirma tal assertiva é o que vem
relatado no Antigo Testamento, na história de José, filho de Jacob, que após ter sido
vendido pelos seus irmãos, foi trabalhar como escravo na casa de um Ministro do
Egito. Lá José começa a ser importunado pela esposa de seu senhor, sendo que por
repudiar as investidas sexuais da mulher do patrão, acabou na cadeia por vários anos.
Diz a Bíblia em Gênesis 39:7: “Aconteceu, depois destas coisas, que a mulher
de seu senhor pôs os olhos em José e lhe disse: Deita-te comigo”.
Com o Iluminismo, e posteriormente a revolução industrial, surgiram os primeiros sinais de avanço no que
toca aos direitos femininos. Por ser considerada mão-de-obra barata, a mulher passou a compor o quadro funcional
das industrias que começavam a eclodir, conseqüentemente sua participação no mercado de trabalho, trouxe a tona
uma nova realidade, não pelo abuso que sofriam ao trabalhar horas e horas e receber muito menos que os homens,
mas pelo fato de representarem uma grande economia às industrias.
Começam a surgir, nos apitos das fábricas, um impulso aos direitos femininos, não pela intenção de proteger
a trabalhadora, mas sim para que os industriais auferissem maiores lucros.
Mais tarde, já no século XX, a revolução feminina dá a oportunidade que a mulher precisava para a partir de
então, surgir com força total e ocupar de forma indelével seu lugar na sociedade.
Silvia Regina Rocha, sobre o assunto preleciona: “A tradicional diferença entre homens e mulheres não é
devida a fatores congênitos, mas sim, aos condicionantes culturais a que o indivíduo é forçosamente enquadrado no
processo do seu desenvolvimento”3.
Percebe-se a mudança de pensamento principalmente nas legislações ocidentais, inclusive pela nossa
Constituição Federal de 1988, onde se preceitua no artigo 5º, I, a igualdade entre homens e mulheres.
3
Silvia Regina Rocha, O Trabalho da Mulher à luz da Constituição Federal de 1988, p. 17.
7
Silvia Generali da Costa4 observa:
“(...) Se houve um tempo em que as mulheres não se sentiam constrangidas por propostas sexuais, este
tempo era quando as mulheres contavam apenas com seu poder de atrair os homens para a garantia de sua
segurança econômica. Hoje, muitas mulheres encontram outras formas de obter valorização e status e isso mudou
sua maneira de encarar as investidas sexuais. Agora, tais investidas são freqüentemente interpretadas como falta de
respeito”.
No entanto a conquista da liberdade sexual trouxe uma solução para a discriminação sexual, mas por outro
lado, criou um novo problema, ou melhor, pelo dizer de Michel Rubinstein5, “trata-se de um termo novo para
descrever um velho problema”, a questão do assédio sexual.
4
Silvia Generali da Costa, Assédio Sexual uma versão brasileira, p. 25, apud, Larouche, Janice & ryan, Regina.
Estratégias para mulheres no trabalho. São Paulo, Makron Books, 1991, p. 427.
5
Julio J. Martinez Vivot, Acoso Sexual en las relaciones laboreles, p. 39.
8
3. LIBERDADE SEXUAL
6
Maria Helena Diniz, Dicionário Jurídico, p.122.
7
Alice Monteiro de Barros, op.cit, p. 135.
9
Porém mesmo que normatizada e teoricamente superada, a questão da
liberdade sexual encontra entraves quando tal situação envolve as relações de
trabalho. Uma das principais razões deve-se ao fato, da vulnerabilidade feminina no
trabalho, principalmente nos chamados empregos tipicamente femininos, como os de
secretárias, enfermeiras, empregadas domésticas, etc, onde a própria função inclui
atividades que se confundem com favores pessoais.
A Convenção 111 da OIT, artigo 1º, define discriminação em relação ao sexo nos
seguintes termos, toda distinção, exclusão ou preferência fundada na raça, cor, sexo,
religião, opinião política, ascendência nacional ou origem social que tenham por efeito
destruir ou alterar a igualdade de oportunidade ou de tratamento em matéria de
emprego ou profissão.
Como assevera Sérgio Damiam, “a triste realidade é que o assédio faz parte de nossa cultura e vem
enraizado em nossas tradições desde a origem da sociedade brasileira, quando homens tratavam as mulheres como
coisas, principalmente as menos afortunadas8”.
8
Sergio A.S Damian., Joabe T Oliveira, Assédio Sexual Dano e Indenização, p. 21.
9
Manuel Jorge e Silva Neto, Proteção Constitucional dos interesses trabalhistas: Difusos, coletivos e individuais
homogêneo, p.191.
10
3.1. CONDUTA DE NATUREZA SEXUAL
Complementa ainda Aloysio Santos11, que “em termos de atos sexuais sadios, a
outra pessoa sempre deve ter a chance de dizer não; caso contrário o sexo estará
sendo praticado com violência”.
10
Rodolfo Pamplona Filho, O assédio sexual na relação de emprego, p.42.
11
Aloysio Santos, Assédio Sexual nas relações trabalhistas e estatutárias, p. 12.
12
Luiz Carlos Robortella, Assédio Sexual e Dano Moral nas Relações do Trabalho, p. 158..
11
razão consideram-se condutas de assédio, as investidas não correspondidas pelo
assediado e imposta pelo assediador de forma perturbadora.
Juliana Lightle e Elizabeth H. Doucet, elencam algumas condutas que podem ser
consideradas como assédio, lembrando que, a conduta deve vir acompanhada de
demais requisitos, tais como a chantagem e a intimidação:
13
Ermesto Lippmann, Assédio Sexual na s Relações de Trabalho, p. 18.
14
Juliana Lightle, Elizabeth Doucet H., Assédio sexual no local de trabalho: um guia para a prevenção,, tradução
Isabel Paquet de Araripe, p.
12
3.2. ASSÉDIO SEXUAL E ABUSO SEXUAL
15
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, op.cit., p. 68.
16
Rodolfo Pamplona Filho, op. cit., p. 54.
17
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, op.cit, p. 68.
13
3.3. VARIANTES CULTURAIS
Para exemplificar podemos citar a pesquisa realizada por José Pastore e Luiz
Carlos A. Robortella18, no I Seminário sobre Assédio Sexual, realizado em São Paulo,
no ano de 1996, para determinar quais condutas podem ser caracterizadas como
assédio sexual.
18
José Pastore e Luiz Carlos A. Robortella, op.cit., p.29.
14
Os chamados traços “latinos” são comportamentos naturais destas sociedades,
que comportam em suas origens históricas e sociais a exaltação ao sexo masculino em
detrimento do feminino.
19
José Pastore e Luiz Carlos A. Robortella, op.cit., p.26.
15
4. ASSÉDIO SEXUAL SEGUNDO O CÓDIGO PENAL
O assédio sexual tornou-se parte de nosso ordenamento pela Lei nº. 10.224/01,
originária do projeto de lei nº. 14/01 ou nº. 61/99 na Câmara dos Deputados, que inseriu
o crime de assédio no Código Penal, no artigo 216, alínea “a”, in verbis:
Muito embora a incidência do assédio sexual ocorra na maioria das vezes nas
relações de trabalho, somente temos previsão penal para este crime, sendo que a CLT
ainda não contempla o assunto, deixando a cargo dos operadores do direito a missão
de adequá-lo ao rol dos artigos 482 e 483 da CLT, que define as hipóteses de extinção
do contrato de trabalho.
4.1. CONSTRANGIMENTO
20
De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, p. 396.
16
que, se admite todas as formas de constranger, incluindo neste rol a fraude e a
simulação.
O ato de constranger requer a perseguição, à insistência de toda ordem, a
imposição de algo contra a vontade, por palavras, gestos, fotografias, e-mails, etc, atos
que importunem o ofendido cerceando-lhe seu direito à liberdade, devendo o
constrangimento ser eficaz, impedindo a resistência.
4.2 HIERARQUIA
Segundo a nova norma jurídica, o agente deve ser superior hierárquico ou ter
ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função em relação ao
ofendido. Hierarquia, para Plácido e Silva, é “abstração feita do sentido religioso;
hierarquia quer exprimir o poder maior ou a autoridade preeminente”.22
21
De Plácido e Silva, Vocabulário Jurídico, p. 209.
22
Op.cit., p.396.
23
Rodolfo Pamplona Filho, O Assédio na Relação de Emprego, p.41.
17
ainda, diz que podem ser sujeitos ativos do assédio, o empregador, o preposto, o
colega de trabalho, clientes, não havendo nos dois últimos casos nenhuma relação de
hierarquia entre assediador e assediado.
4.3 SUJEITOS
Tanto o homem quanto a mulher podem ser sujeitos do assédio sexual, contudo
para que seja caracterizado, há necessidade de pelo menos dois indivíduos, o sujeito
ativo, o assediador, e o sujeito passivo, o assediado.
24
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, op.citi., p.68.
25
Paulo Viana Albuquerque Jucá, O Assédio Sexual como Justa Causa Típica, Revista LTr,p.177.
18
dignidade, limitado com relação a expressão emocional, agressivo - ativo”.
Por fim, devemos lembrar que, segundo o tipo definido na lei, o sujeito deve
comportar uma característica especial, ser o agente superior hierárquico ou ter
ascendência inerente ao exercício de emprego, cargo ou função.
A objetividade jurídica que tal dispositivo visa a proteger é a liberdade sexual do
indivíduo, que submetido a uma relação de poder tem-se tolhido de tal direito.
Sobre a consumação basta que o sujeito ativo constranja o outro, por qualquer
meio, para que se perfaça, sendo necessário apenas que este constrangimento tenha
finalidade ilícita, com o intuito de obter a vantagem sexual.
19
pode ser feito de forma livre, já que o legislador não o especificou, independentemente
de obter ou não os favores sexuais buscados.
Sobre a tentativa a possibilidade embora rara pode ocorrer, e conforme
exemplifica Mirabete29, é o caso de uma carta escrita que não chega ao conhecimento
da vítima.
Observa-se que, a previsão legal contida no ordenamento penal, por ser ainda
recente, desponta grandes discussões pela doutrina sendo que algumas discussões já
29
Julio Fabbrini Mirabete, op.cit., p. 426.
30
TACrimSP - Rel. Valentim Silva- JUTACrim 38/139.
31
Ernesto Lippmann, Assédio Sexual nas Relações de Trabalho, p. 50.
20
estão surgindo, principalmente em relação ao quantum da pena, que para alguns é
extremamente excessiva, equiparando-se a penas de crimes de maior potencial
ofensivo, tal entendimento é defendido por Damásio de Jesus32.
Outra situação também objeto de divergências doutrinárias, refere-se ao silêncio
do legislador em definir o meio que se perfará o constrangimento, que é o elemento do
tipo. Tal ausência de definição abre a possibilidade de entendermos que serve para
todas as formas de constranger, inclusos por exemplo gestos, palavras, ou insinuações,
como entende Mirabete33.
A inserção do assédio no direito penal revela-se um grande avanço em nossa
legislação, abrindo precedentes para que outros segmentos do direito, tais como o civil
e o trabalhista façam o mesmo o mais breve possível.
32
Damásio E. de Jesus, Direito Penal, Parte Especial, p.124.
33
Julio Fabbrini Mirabete, Manual de Direito penal, p. 426.
21
5. CONCEITO DE ASSÉDIO SEXUAL SEGUNDO A DOUTRINA
Para Marly Cardone, “assédio sexual é a atitude de alguém que, desejando obter
favores libidinosos de outra pessoa, causando a esta constrangimento, por não haver
reciprocidade”.36
Maria Helena de Diniz, conceitua assédio, em seu Dicionário Jurídico, como: “ato
de constranger com gestos, palavras ou com emprego de violência, prevalecendo-se de
suas relações de confiança, de autoridade ou empregatícia, com o escopo de obter
vantagem sexual” 37.
Aloysio Santos, define assédio sexual, sob o ponto de vista da moral e da ética,
como: “uma espécie de violência contra a liberdade sexual da pessoa e um
comportamento socialmente indesejável, que deve ser desestimulado e punido, para a
defesa do equilíbrio das relações sociais no trabalho”.38
22
especial (vantagem ou favorecimento sexual); (c) abuso de uma posição de
superioridade laboral”39.
Maurice Drapeau42, citado por Pastore e Robortella, define assédio como: ”toda
conduta de natureza sexual não solicitada, que tem um efeito desfavorável no ambiente
39
Luiz Flávio Gomes. Lei do Assédio Sexual(10.224/01):Primeiras Notas Interpretativas, in
www.direitocriminal.com.br, 06/06/2001.
40
Ernesto Lippmann, Assédio Sexual nas Relações de Trabalho, p. 16.
41
Silvia Generali da Costa, Assédio Sexual uma versão brasileira, p.49.
42
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, O assédio sexual no trabalho: o que fazer?p. 69, apud Drapeau, Maurice.
Le Harcélement sexuael ou travail. (Québec) Canadá: Les Editions Jons Blas Inc. Cowansviller, 1991.
23
de trabalho ou consequências prejudiciais no plano do emprego para as vítimas”. Para
fins deste estudo considera-se assédio sexual, a atividade reiterada e indesejável, de
cercear o direito à liberdade sexual de alguém, utilizando para tanto de constrangimento
constante e eficaz, tendo por sujeitos ambos os sexos.
24
6.1. CLASSIFICAÇÃO
O assédio poderá ter como sujeitos pessoas do sexo oposto, homem para
mulher, mulher para homem, e também, pessoas do mesmo sexo, em relações
homossexuais.
25
preposto da empresa ou um colega de trabalho com o mesmo nível de hierarquia da
vítima. Portanto classificamos assédio quanto à hierarquia da seguinte forma:
4. QUANTO AO MODO
44
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, op.cit. p. 2-3.
26
Grande parte da doutrina classifica o assédio quanto ao modo em assédio por
chantagem e assédio por intimidação, vejamos abaixo o que são e como se
diferenciam.
27
vezes não denuncia o assediador suportando até não mais poder, e quando não mais
pode abandona o emprego, levando consigo humilhação e injustiça, que normalmente
nunca serão reveladas.
Aloysio Santos45 define assédio sexual por chantagem como: “a prática de ato,
físico ou verbal, de alguém visando a molestar outrem, do mesmo sexo ou do sexo
oposto, no trabalho ou em razão dele, aproveitando-se o assediador da condição de
superior hierárquico ou de ascensão econômica sobre o assediado, que não deseja ou
considera uma molestação tal iniciativa, com a promessa de melhorar, manter ou de
não modificar o status funcional da vítima ou, mediante ameaça de algum prejuízo
profissional, com a finalidade de obter satisfação sexual.”
45
Aloysio Santos, op.cit., p.31.
46
Robert Husbands, Analisis internacional de lãs leyes que sancionan el acoso sexual, in Revista Internacional Del
Trabajo, p. 134, 1992, OIT, Genebra.
28
b) ASSÉDIO SEXUAL POR INTIMIDAÇÃO
O verbo intimidar, tem a conotação de obrigar por meio de força, exigir, coagir.
47
Rodolfo Pamplona Filho, op.cit., p.53.
9
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, op.cit., p.68.
48
Julio J. Martinez Vivot, op. cit., p. 123, apud Rubstein, Michel, “ Dealing With sexual harassment at work: the
experience of industrialized countrien, em OIT “condution of work digest. Comating sexual harassment, V.11,
p.19.
29
finalidade interferir no desempenho funcional do indivíduo e da criar um ambiente
laboral hostil e ofensivo ao trabalhador.
Julio Vivot49, sobre esse assunto, diz que a diferenciação deste tipo de assédio
sexual do assédio realizado por chantagem, antes citado, se dá em razão de que a
assediada não tem que sofrer a dispensa do emprego ou não obter uma ascensão
funcional ou aumento de salário, aproximado da definição que temos do Direito
Espanhol do “acosso sexual ambiental”.
Outra definição sobre o assunto nos dá Tereza Pérez Del Rio50, conceituando
assédio por intimidação como “conduta de companheiros de trabalho da vítima,
desfrutando, portanto, tanto assediador como assediado da mesma posição hierárquica
na empresa ou na repartição pública, que produz um prejuízo nas condições de
trabalho da vítima, por intimidação não precisa necessariamente da condição de
hierarquia, pois poderá ocorrer entre colegas que ocupam a mesma condição funcional
do assediado.”
O assédio sexual deve ser combatido tanto pelas entidades públicas quanto
privadas, tanto para proteção dos interesses de seus funcionários, ao propiciar um
ambiente de trabalho saudável, como também para proteger seus próprios interesses.
Pois, a empresa que tenha servido de palco para o assédio sexual e que não tomou as
devidas medidas de responsabilização, poderá sofrer prejuízos de ordem financeira,
49
Julio J. Martinez Vivot, op.cit, p.10.
50
Tereza Pérez Del Rio, in Revista Relaciones Laborales, nº 17, 1990, Madri, Espanha.
30
com indenizações onerosas e diminuição de seu crescimento, publicidade negativa que
renderá o descrédito de seus clientes, a desconfiança dos próprios funcionários a cerca
do interesse do empregador em possibilitar um ambiente de trabalho favorável e sadio,
gerando diminuição da produção, enfim, é interessante ao empregador investir em
projetos que oportunizem a identificação de potenciais problemas desta ordem,
possibilitando dentro de seu empreendimento canais de denuncia.
Como dado informativo lembramos que, existem outras classificações que não
serão tratadas nesta pesquisa por não se referir ao objetivo deste trabalho, como por
exemplo à classificação de Pinho Pedreira, classificando o assédio como Laboral e
Extralaboral, e a de Valentin Carrion51, que separa o assédio em: fatal, comportamental
e ameaçador.
Sobre o assedio ameaçador comenta Carrion que este se dará pela, “coação por
ameaça de algum malefício”.
1.5
CONSEQUÊNCIAS DO ASSÉDIO SEXUAL
51
Valentin Carrion, Comentários a Consolidação das Leis do Trabalho, p. 368.
31
Segundo o Instituto de Desenvolvimento Psyko-Universal, em Congresso
realizado em parceria com o Sinsesp, as consequências para a vítima vão muito além
dos danos de ordem patrimonial gerados pela extinção do contrato de trabalho, atingem
também a esfera extrapatrimonial.
Observa-se que o campo atingido pelo assédio sexual, vai além da esfera
patrimonial pelo rompimento do contrato de trabalho, atinge-se também a esfera
extrapatrimonial, que se refere à agressão à intimidade do indivíduo, sendo este dano o
de difícil reparação.
32
7. ASSÉDIO SEXUAL NO DIREITO DO TRABALHO
O assédio ocorre na maioria das vezes dentro das relações laborais, por isso
intenta-se delimitar qual a base legal para fundamentar a rescisão do contrato de
trabalho, nos casos em que o assédio é o motivo ensejador e, ainda, quais as
penalidades para os envolvidos nesta relação. Sendo que por fim apresente-se qual é o
posicionamento doutrinário e jurisprudencial sobre o assunto.
52
Mozart Victor Russomano, Curso de Direito do Trabalho, p.
33
EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO
Neste estudo estaremos nos atendo a extinção de contrato de trabalho por ato
unilateral tanto do empregador quanto do empregado, com base nos artigos 482 e 483
da CLT.
53
Mozart Victor Russomano, op. cit., p.
34
7.3. EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO POR ATO DO
EMPREGADOR
O assédio sexual ainda não está previsto na CLT, portanto cabe ao juiz e
aos operadores do direito a sua adequação no ordenamento legal trabalhista. Tal
adequação causa atualmente certa divergência doutrinária, principalmente sobre a
aplicação das alíneas do 483 da CLT.
54
Amauri Mascaro Nascimento, Curso de Direito do Trabalho, p. 607.
55
Ibid., p. 607.
35
anterior e determinativa do despedimento do empregado.
Wagner Giglio56 denomina tal situação como ‘determinância’, “a prática
faltosadeve ser, realmente, a causa efetiva do despedimento, deve ser conseqüência
do ato faltoso”.’
Outra consideração a ser feita, refere-se a taxatividade do artigo 482 da
CLT. No Brasil adota-se o critério taxativo, embora como cita Mozart Victor Russomano,
o juiz terá que fazer a adequação da justa causa no artigo supre citado, “facultando ao
juiz lato poder de deliberação57”.
Para José Affonso Dallegrave Neto e Claudia Salles Vilela Vianna60, tem-se por
incontinência de conduta “a pessoa que se comporta de forma imoderada em relação a
sua vida sexual. É, pois, o caso em que a perversão libidinosa do empregado no
56
Wagner Giglio, Justa causa para despedimento do empregado p.79,.
57
Mozart Victor Russomano, op.cit., p. 169.
58
Paulo Viana de Albuquerque Jucá, O Assédio Sexual como Justa Causa Típica, p. 178-180.
59
Amauri Mascaro Nascimento,
60
José Affonso Dallegrave Neto, Claudia Salles Vilela Vianna, Rescisão do Contrato de Trabalho, p.50-51.
36
ambiente de trabalho seja capaz de incomodar a moralidade-média dos colegas de
trabalho, de seu empregador ou mesmo da clientela ou vizinhança da empresa”.
Segundo a jurisprudência:
61
Sérgio Pinto Martins, Direito do Trabalho, p.337.
62
Wagner Giglio, op.cit, p. 79.
63
Alice Monteiro de Barros, A mulher e o Direito do Trabalho, p.191.
64
TRT 05ª Região, RO 009892722-50, Ac. 3ª T, 4.613/92, 7.7.1992, Rel. Juiz Ronaldo Souza, in Revista LTr, p. 57.
65
TRT 12ªRegião, RO 596/85, julgado em 12.11.85, Rel. Juiz Câmara Rufino, pág. 684
37
FALTA GRAVE66. A reiteração de propostas sexuais a colegas de serviço,
no local de trabalho e durante a jornada laboral, perfeitamente comprovada nos autos,
por caracterizar mau procedimento e incontinência de conduta, constitui falta grave que
enseja a despedida do empregado, dirigente sindical, detentor de estabilidade
provisória.
Conforme o entendimento majoritário da doutrina, o empregado assediador, será
dispensado por justa causa, com fulcro na alínea “b” do artigo 482 da CLT,
caracterizando a incontinência de conduta.
66
TRT 02ª Região, A.C 01717.201/96-2 (RO) 02/08/1999 Juiz Relator: NIRES MACIEL DE OLIVEIRA
67
Amauri Mascaro Nascimento, Curso de Direito do Trabalho,p. 618.
38
7.4 EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO POR ATO DO EMPREGADO
Justifica sua posição no seguinte sentido que, “ao empregador cabe estabelecer
e manter a relação de confiança, o comportamento respeitoso ao seu empregado, o
que não ocorrendo abre a possibilidade do empregado ingressar com demanda
requerendo as verbas rescisórias como se injustamente fosse desligado do emprego”.
68
Wilson de Souza Campos Batalha e Silvia Marina L. Batalha de Rodrigues Neto, Rescisão Contratual
Trabalhista, p.129.
69
TRT 12ª Região, Acórdão 7086/1997 - Juiz João Cardoso - Publicado no DJ/SC em 14-07-1997.
70
Marly A. Cardone, “Assédio Sexual como Justa Causa”, In Reportório IOB de jurisprudência, nº 2/9588, 1ª
quinz. Dez/1994, nº 23/94, p. 392.
39
Já Ernesto Lippmann71 defende que, no caso de rescisão indireta aplicam-se as
alíneas b e c do artigo 483, da CLT, “pois o assédio não contido tipifica ato lesivo aos
direitos de personalidade do empregado, levando a que o empregado tenha o direito de
se recusar a continuar trabalhando no estabelecimento.” Ainda justifica que, não deverá
ser aplicado à alínea a, deste mesmo artigo, por considerar que esta hipótese legal
restringe-se a exigência de serviço alheio ao contrato, ou contra os bons costumes, que
não é o caso do assédio.
71
Ernesto Lippmann, Assédio Sexual nas Relações de Trabalho, p.25.
72
José Janguiê Bezerra Diniz, op. cit., p. 40.
73
José Pastore, Luiz Carlos Amorim Robortella, op.cit,.p.74.
74
José Wilson Ferreira Sobrinho, Assédio Sexual e Justa Causa, In Repertório IOB de Jurisprudência, nº 2/10980,
2ª quinz. De fev/1996,nº 4/96, p.62.
75
Rodolfo Pamplona Filho, op.cit., p.109.
40
Das três alíneas do 483 da CLT que causam divergência doutrinária,
podemosdelimitar o enquadramento jurídico, por exclusão, pois nas alíneas “a” e “d”
fala-se em serviços alheios ao contrato, ou obrigação do contrato.
Bem, não podemos admitir que seja considerado favor de natureza sexual como
serviço ou como cláusula contratual, tais situações constituem verdadeiras afrontas à
legalidade e a moralidade.
Neste sentido, Paulo Viana de Albuquerque Jucá76, “não vemos como poder
enquadrar o assédio sexual como espécie de serviço, já que não o encaramos como
objeto de contrato de trabalho e sim como conseqüência do ambiente de trabalho e da
cultura de um povo”. Continua ainda, o citado autor, “logo, pelas razões acima, o
assédio sexual cometido pelo empregador ou preposto seu pode ensejar a rescisão
indireta do contrato de trabalho por subsunção do fato à norma contida no artigo 483,
alínea “e”, da Consolidação das Leis do Trabalho”.
“Pensamos que qualquer das faltas, mesmo com a previsão do Código Penal
(que pode gerar outra e distinta ação do ofendido). Não necessita, para sua plena
proclamação, a existência da ação penal. O âmbito da insatisfação e resposta do
ofendido pode ficar, exclusivamente, no campo de Direito do Trabalho, com a
proclamação da despedida indireta embasada apenas na alínea em questão”.
76
Paulo Viana de Albuquerque Jucá, O Assédio Sexual como Justa Causa Típica, p.180.
77
José Luiz Ferreira Prunes, Justa Causa e Despedida Indireta , p. 262.
41
Havia certa divergência a respeito da necessidade da saída efetiva do
empregado para postular a rescisão indireta. A Lei 4.825 de 05.11.1965, veio para por
fim a controvérsia.
Segundo o disposto na referida lei, o empregado, tendo ou não estabilidade,
poderá permanecer no emprego e ajuizar ação requerendo a rescisão do contrato de
trabalho nos casos em que a falta cometida pelo empregador refere-se a não
cumprimento de obrigações contratuais ou a redução de salários, nas demais alíneas o
empregado só poderá postular a rescisão indireta quando estiver desligado do
emprego. Conforme entende Wilson de Souza Campos Batalha e Silvia Marina L.
Batalha de Rodrigues Netto, “a despedida indireta tem como condição sine qua non a
saída do emprego78”.
O empregador terá que arcar com despesas com indenizações por danos morais
e materiais, responder nos juízos cíveis, trabalhistas e criminais. E, além de honorários
advocatícios, demais prejuízos de ordem econômica, reflexos da imagem negativa que
a empresa poderá a ter com o conhecimento público do fato.
42
indireta do contrato de trabalho. Em ambas as situações, o pleito versará também sobre
indenização por dano material ou moral, dada a violação do direito à intimidade,
assegurado no art. 5º, X, da Constituição Federal”
O assediado como assevera Ernesto Lippmann80, terá “a possibilidade de
transferência imediata, ou da rescisão indireta do contrato de trabalho (pedido de
dispensa com indenização pela empresa), bem como a possibilidade de uma
indenização por dano moral”.
O art. 477, § 8º, da CLT prevê que a multa ali estipulada somente não será
devida quando o empregado der causa à mora. Na hipótese de reconhecimento de o
contrato de trabalho ter sido rescindido por culpa do empregador é devida a multa pelo
atraso no pagamento das http://brs02.tst.gov.br/cgi-bin/nph-brs?d=BLNK&s1=rescis
%E3o+indireta+verbas+rescis%F3rias&s2=ju01.base.&s3=&u=http://intranet/brs/ -
h1http://brs02.tst.gov.br/cgi-bin/nph-brs?d=BLNK&s1=rescis
%E3o+indireta+verbas+rescis%F3rias&s2=ju01.base.&s3=&u=http://intranet/brs/ -
h3verbas rescisórias. Recurso de Embargos conhecido em parte e provido81.
80
Ernesto Lippmann, Assédio Sexual nas Relações de Trabalho, p. 22.
81
TST-E-RR-375547/97.2, Juiz Relator José Luciano de Castilho Pereira.
43
primaria82. Segundo o Instituto de Desenvolvimento Psyko-Universal, em Congresso
realizado em parceria com o Sinsesp, as consequências para a vítima vão muito além
dos danos de ordem patrimonial gerados pela extinção do contrato de trabalho, atingem
também a esfera extrapatrimonial.
Observa-se que o campo atingido pelo assédio sexual, vai além da esfera
patrimonial pelo rompimento do contrato de trabalho, atinge-se também a esfera
extrapatrimonial, que se refere à agressão à intimidade do indivíduo, sendo este dano o
de difícil reparação.
INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL83. Assédio sexual pode
ser conceituado como o ato do empregador, de um superior hierárquico ou de outra
pessoa que, abusando da autoridade que lhe conferem suas funções, dá ordens,
exerce pressão de qualquer natureza sobre um empregado ou empregada, com o fim
de obter favores de índole sexual, para si mesmo ou para uma terceira pessoa. A vítima
de assédio sexual faz jus à indenização prevista no artigo 1548, inciso II, do Código
Civil, sem prejuízo da indenização prevista no artigo 5º, inciso X, da Constituição
Federal de 1988. Entendimento consubstanciado na Súmula nº 37 do STJ.
82
TST - AC: 8136- Decisão: 17-09-1997 03ª T, Relator Ministro Jose Zito Calasãs Rodrigues)
83
A. C. 96.029334-5 (RO) - 20/04/1998 Juiz Relator: Pedro Luiz Serafin.
44
8. RESPONSABILIDADE CIVIL
Para que haja a responsabilidade civil, é necessário que o agente faça ou deixe
de fazer um determinado ato, sendo que a incidência de tal situação acarrete um dano
de natureza patrimonial ou extrapatrimonial.
84
Caio Tácito, Responsabilidade do Estado por Dano Moral, p. 23.
85
Rodolfo Pamplona Filho, O dano moral na relação de emprego, p. 18.
86
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, op. cit. p. 75.
45
Conforme dispõe o Código Civil atual, no artigo 1521, III, e o Código novo no
artigo 932:
87
Rodolfo Pamplona Filho, O assédio sexual na relação de emprego, p. 118.
46
8.1 RESPONSABILIDADE CIVIL -TRABALHISTA - PENAL
E ainda,
“a ilicitude é uma só, do mesmo modo que um só, na sua essência, é o dever
jurídico. Em seus aspectos fundamentais há uma perfeita coincidência entre o ilícito civil
e o ilícito penal, pois ambos constituem uma violação da ordem jurídica, acarretando,
em conseqüência, um estado de desequilíbrio social. Mas, enquanto o ilícito penal
acarreta uma violação da ordem jurídica, que por sua gravidade ou intensidade, a única
sanção adequada é a imposição da pena, no ilícito civil, por ser menor a extensão da
perturbação social, são suficientes as sanções civis (indenização, restituição in specie,
anulação do ato, execução forçada, etc.). A diferença entre o ilícito civil e o ilícito penal
é, assim, tão-somente, de grau ou de quantidade”.
“Paulo Eduardo V. Oliveira90, distingue a responsabilidade civil da
88
Paulo Eduardo V Oliveira, O Dano Pessoal no Direito do Trabalho, p.117.
89
Wladimir Valler, A Reparação do Dano Moral no Direito Brasileiro p.17.
90
Paulo Eduardo V. de Oliveira, op. cit., P.116-117.
47
responsabilidade penal da seguinte forma: em ambas há uma infração por parte do
agente: na penal, o crime é a infringência de uma norma de ordem pública, e o
responsável recebe uma pena, sendo indiferente que a vítima tenha experimentado
dano; na civil, o interesse diretamente lesado é privado, e o dano causado à pessoa
lesada é punido com a reparação in natura ou com a indenização”
48
8.2. DANO MORAL
Wilson Melo da Silva91, define dano moral como: “aquele que causa lesão não-
patrimonial a pessoa, física ou jurídica, como, v.g., os decorrentes das ofensas à honra,
ao decoro, às crenças internas, à liberdade, à vida, à integridade corporal, à paz
interior”.
Wilson de Souza Campos Batalha e Silvia Mariana Batalha92, entendem por dano
moral: “o prejuízo sofrido pela pessoa, física ou jurídica, por ofensas à dignidade, ao
decoro ou à reputação e à imagem, mesmo que não se configurem estritamente os
requisitos essenciais das figuras dos delitos de injúria, calúnia ou difamação. O uso
indevido do nome ou da imagem alheia pode caracterizar o dano moral como ofensa à
imagem de pessoa física ou jurídica”.
Dano moral segundo acórdão proferido pelo Juiz Arion Mazurkevic93 : ”configura-
se quando demonstrada efetiva violação ao patrimônio moral do empregado, gerada no
âmbito da relação de trabalho, com a invasão e agressões à intimidade e à dignidade
da pessoa humana, as quais são valores de inestimável importância protegidos por
91
Wilson Melo da Silva, O dano moral e sua reparação, p.1.
92
Wilson de Souza Batalha, Silvia Mariana Batalha, Rescisão Contratual Trabalhista, p.
93
AC. 33101/2001-2ªT- TRT/PR 9ª REGIÃO)
49
disposição constitucional entre os direitos e garantias fundamentais.
Rodolfo Pamplona, ao referir-se sobre o dano moral comenta: “A esfera
extrapatrimonial dos indivíduos é profundamente violentada com a prática do assédio
sexual. De fato, o valor liberdade, quando cerceado, fere profundamente um âmbito da
personalidade do ser humano que não pode ser redutível pecuniariamente”.
50
8.3. DISTINÇÃO ENTRE DANO MORAL E DANO MATERIAL
94
Rodolfo Pamplona Filho, O dano moral na relação de emprego, p. 34.
51
8.4. REPARAÇÃO DO DANO
“Ainda que não se possa dizer, com plena certeza que nos casos de
ressarcimento por danos morais, haja a restitutio in integrum, não se pode olvidar, por
outro lado, que a solução encontrada pelos civilistas de indenizar a vítima em dinheiro,
chega bem próximo daquilo que se pode socialmente desejar em termos de reparação
por ao ilícito”.
Para chegarmos a esse quantum devido, João Oreste Dalazen97 elenca algumas
considerações que devem ser feitas para fazer o arbitramento mais acertado do valor.
52
maior ou menor poder econômico do ofensor;
5) não desprezar a conjuntura econômica do país;6) pautar-se pela razoabilidade
e equitatividade na estipulação, evitando-se: de um lado, um valor exagerado e
exorbitante, a ponto de levar a uma situação de enriquecimento sem causa, ou à
especulação, ou conduzir à ruína financeira o ofensor; de outro, evitando-se um valor
um valor tão baixo que seja irrisório e desprezível, a ponto de não cumprir a função
inibitória”.
Nesse sentido ensina Ernesto Lippmann100 que, “pelo dano moral, o critério é
mais subjetivo, sendo aceita a idéia do “valor suficiente para compensar o agredido dos
danos sofridos e suficiente para dissuadir o agressor de nova e igual tentativa”
98
Washington de Barros Monteiro, Curso de Direito Civil – Direito das Obrigações, p. 414.
99
Rodolfo Pamplona Filho, O dano moral na relação de emprego, p. 122.
100
Ernesto Lippmann, Assédio Sexual nas Relações de Trabalho, p. 45.
53
decorrente de sua violação e no Código Civil de 1916, no artigo 1.548 e no Novo
Código Civil no artigo 1.549, que tratam sobre a devida reparação à mulher agravada
em sua honra. A Lei 9029/1995 veda a discriminação no trabalho, nos seguintes
termos:Art. 4º O rompimento da relação de emprego por ato discriminatório, nos moldes
desta lei, faculta ao empregado optar entre:
No caso do dano material, o valor atribuído para condenação deve ser apurado
mediante a avaliação dos prejuízos materiais sofridos pelo assediado, compreendendo
nesta avaliação o “dannum emergens e o lucrum cesssans”.
E como bem lembra o mestre Caio Mário101, “se em qualquer caso se dá a vítima
uma reparação de damno vitando, e não de lucro copiendo, mais que nuca há de estar
presente a preocupação de conter a reparação dentro do razoável, para que jamais se
converta em fonte de enriquecimento”.
101
Caio Mário da Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, p. 215.
102
Jorge Pinheiro Castelo, Da Competência da Justiça do Trabalho para Apreciação do Dano Moral Trabalhista,
p.1078.
54
Sobre a questão da natureza de sanção do dano moral Yussef Said Cahali
103
esclarece:
103
Yussef Said Cahali, Dano Moral, p. 42.
104
Processo:00886.901/97-9 (Ro/Ra) 21/02/2000- Juiz Relator: Denis Marcelo de Lima Molarinho
55
8.5. COMPETÊNCIA
105
STJ, 2ªSeção, Conflito de Competência/3931-8, Rel. Min. Waldemar Zveiterm, p. 4501.
106
STJ, 2ªSeção, Conflito de Competência/6141-5, Rel. Min. Fontes de Alencar , p. 3612.
107
STJ , 2ª Seção, AC. 94/0037430-5, Rel. Min. Sálvio Figueiredo Teixeira.
56
Contudo, observa-se que, tal posicionamento vem sendo substituído pelas novas
tendências, que atribuem a Justiça Especial à competência para apreciar e julgar
questões relativas a indenizações por danos morais e materiais.
Aqueles que defendem a competência da Justiça do Trabalho, fundamentam
seu posicionamento com base no art. 114, da Constituição Federal:
108
STJ, 2 ª Seção, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, Autuação: 05/02/1998.
57
pedido, tenha sido feito em razão da relação de emprego, inserido-se no contrato de
trabalho109 O Acórdão
proferido pelo TST110 confirma o mesmo entendimento:
109
STF, CJ 6.959-6, Rel. Des., Min. Sepúlveda Pertence, m.v., j. 23.5.90, DJ 22.2.91.
110
TST, RR Número: 468580 - ANO: 1998 PROC. Nº TST-RR-468.580/98.2 - 2ª Turma CB/am/jr)
111
TRT-PR - RO 5.560/96 - Acórdão 5.360/97 - 1ª T- Juiz Abraão Jose Melhem, em 07/03/1997.
112
TRT-9ª R., RO 59.996/91, Rel. Juiz Pedro Ribeiro Tavares.
58
conhecer, processar e julgar as ações visando ao recebimento de indenização por dano
moral113” . “
É competente a justiça do Trabalho para apreciar demandas envolvendo indenização
por dano moral decorrente de relação de emprego114”.
“se em algum âmbito de direito o conceito de dano moral pode ter alguma
aplicação é, precisamente, no do trabalho. A razão de subordinação a que está sujeito
o trabalhador na satisfação de seu débito leva a que a atuação da outra parte, que
dirige .esta atividade, possa menoscabar a faculdade de atuar que diminui ou até
frustra totalmente a satisfação de um interesse não patrimonial”.
59
inteiramente inócuo o preceito contido no artigo 8º, parágrafo único, da CLT, pelo qual a
Justiça do Trabalho pode socorrer-se do ‘direito comum’ como ‘fonte subsidiária do
Direito do Trabalho’. Se assim é, resulta evidente que a competência da Justiça do
Trabalho não se cinge a dirimir dissídios envolvendo unicamente a aplicação do Direito
do Trabalho, mas todos aqueles, não criminais, em que a disputa se dê entre
empregador e empregado nessa qualidade jurídica.
118
José Pastore, Luiz Carlos A. Robortella, op.cit. 1998, pg.77.
119
Antonio Carlos Amaral Leão, A questão do Dano Moral na Justiça do Trabalho, Revista dos Tribunais, vol.
701, março/94,p. 284/249.
120
Gislene A.Sanches, Dano Moral e suas implicações no Direito do Trabalho, p.49,50.
60
presunção juris tantum de que as decisões tendam a ser mais acertadas ou adequadas
à realidade; c) a adoção deste critério de competência atende aos princípios da
economia e celeridade processual, pois seria oneroso às partes, além de moroso
esperar o pronunciamento de dois órgãos jurisdicionais distintos, o que ensejaria, na
prática, a suspensão da demanda na esfera civil até o julgamento no âmbito trabalhista;
d) evitar-se a ocorrência de decisões conflitantes” .
Para este estudo entende-se que a competência para apreciar e julgar os danos
morais provenientes da relação de laboral é da Justiça do Trabalho. Posiciona-se neste
sentido, pautando-se no entendimento de nossos tribunais, na doutrina acima
mencionada, na disposição constitucional inserta no artigo 114, e por fim no princípio da
celeridade processual, o qual pode ser obstado pela exceção de incompetência.
61
9.O PROCESSO JUDICIAL
Não temos legislação expressa que determina que processos envolvendo tal
matéria, devam ser processados em segredo de justiça, como ocorre com a França e a
Finlândia. Contudo segundo o Código de Processo Civil, no seu art. 155, que trata
sobre os processos que correm em segredo de justiça temos a possibilidade, por
analogia de inserirmos o assédio neste procedimento.
“III- àquele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato,a indenizar, em ação
regressiva, o prejuízo do que perder a demanda”.
Este inciso pode ser aplicado ao caso do assédio sexual, em que a empresa
responsabilizada pela indenização por ato do empregado assediante, em ação proposta
pelo empregado assediado, pode em ação regressiva denunciar o assediador, pedindo
62
a sua responsabilização subsidiária. Contudo
sendo visível o intuito do empregado em prejudicar dolosamente o empregador, poderá
o empregador restituir os valores gastos com indenizações por atos exclusivamente do
empregado, com base no art. 462, § 1º, promovendo o desconto correspondente ao
dano causado pelo empregado.
Outra ressalva feita por Rodolfo Pamplona, refere-se ao fato de que, não sendo
feita à denunciação da lide no processo original, mesmo sendo este recomendável,
poderá ser efetuado em ação autônoma, não perdendo a oportunidade do empregador
exercitar esse direito.
Mesmo sendo difícil a comprovação do assédio, não se pode aceitar tal motivo
para não realização da justiça.
A prova121 do assédio sexual fica dificultada porque o ato, via de regra, ocorre
quando assediador e assediado estão a sós. No entanto, a suposta vítima há que trazer
pelo menos indícios do alegado assédio, mormente quando a parte contrária nega
tenha ocorrido o fato e que a dispensa imotivada se deu por motivo diverso, qual seja,
baixa produtividade, desse ônus se desincumbindo satisfatoriamente.
63
Canadá, a prova indireta.
Como observa Pinho Pedreira122, “principalmente pela jurisprudência da Corte
Suprema do Canadá, o recurso à prova indireta, ou seja, a prova por indícios,
presunções, ou prima facie, fundada esta última na probabilidade, invertendo-se, assim,
o ônus da prova”.
“Desta forma, para que o juiz se convença da existência dos fatos narrados na
122
Luiz de Pinho Pedreira da Silva, A reparação do Dano moral na Direito do Trabalho, p.558.
123
Manoel Jorge e Silva Neto, Proteção Constitucional dos Interesses Trabalhistas: Difusos, Coletivos e
Individuais Homogêneos, p.182.
124
Manuel Antonio Teixeira Filho, A prova no Processo do Trabalho, p.99-100.
125
Rodolfo Pamplona Filha, O assédio sexual na relação de emprego, p. 149.
64
Sobre este tópico, há o interesse em impedir o conluio entre assediador e
assediado, no intuito de lesar o empregador, tal situação já foi objeto de apreciação
neste estudo.
Rodolfo Pamplona126 assevera: “este temos, embora razoável, pode ser
dissipado com o direito de ação regressiva contra o assediador empregado, admissível,
em alguns casos, até mesmo nos próprios autos, através do instituto processual da
denunciação da lide”.
126
Rodolfo Pamplona Filho, O assédio sexual na relação de emprego, p. 118.
127
Ernesto Lippmann, ob.cit, p. 28.
65
10. CULPA CONCORRENTE
Para finalizar esse tópico não podemos deixar de lado a questão da culpa
concorrente. Como bem se sabe, para efeitos penais não há compensação de culpa, só
se exime da culpa o lesante que comprovar a culpa exclusiva da vítima. Contudo para
efeitos civis há relevância no papel do lesado, quando este deu causa ou participou do
resultado lesivo.
128
Maria Helena Diniz, Curso de Direito Civil, p.79.
66
alguém contribua com algo que fira sua própria liberdade de escolha, portanto devemos
nos acautelar, para que não estendamos a todos os casos, a hipótese de concorrência
da vítima, visto a eventualidade da situação.
Outra hipótese, que devemos considerar, embora também não ocorra com muita
freqüência, é a possibilidade de conluio entre assediado e assediador, esta situação
lembrada por Rodolfo Pamplona Filho129, tem por finalidade a obtenção de somas
milionárias a título de indenizações, que posteriormente será dividida entre os
cúmplices. Por essa razão, como adverte o citado autor, deve o juiz acautelar-se nos
valores arbitrados a título de indenização por assédio sexual, para que tais condutas
sejam inibidas e, não acarrete a incidência de outro crime, o enriquecimento ilícito.
129
Rodolfo Pamplona Filho, O assédio sexual na relação de emprego, p.51-52.
67
11. PREVENÇÃO
68
sexual, quais as consequências que gera, para vítima, assediador e para a empresa, e
também qual a forma de punição para conduta.
130
Silvia Generali da COSTA, Assédio Sexual uma versão brasileira, p. 58-59, apud, HARBRECHT, Douglas,
Smart, Tim & Garland, Susan B., Sexual Harasment> out of shdowa. Business Week, Woshington, 20-25, oct.1991.
69
que seja possível uma prevenção que gere efeitos positivos tanto para empregador
quanto para empregado.
70
12. ASSÉDIO MORAL NO TRABALHO
Uma nova discussão que vem tomando força nos meios jurídicos que atine ao
Direito do Trabalho, mais precisamente a Saúde do trabalho, é a questão do assédio
moral.
131
Marie-France Hirigoyen, Mal-Estar no Trabalho – Redefindo o Assédio Moral, p.64.
132
Luis Salvador, assediomoral.org.
71
responsabilizar os trabalhadores pela formação/qualificação e culpabilizá-los pelo
desemprego, aumento da pobreza urbana e miséria, desfocando a realidade e impondo
aos trabalhadores um sofrimento perverso.
72
dignidade”.
O Assédio Moral é tratado pela doutrina como uma forma de doença de trabalho,
que gera efeitos na saúde mental e física do trabalhador, por essa razão cabe ao
empregador a tomada de atitudes que impeçam tal conduta e propicie um ambiente de
trabalho saudável e seguro para os seus trabalhadores. Tal medida além de beneficiar
o trabalhador, é também uma forma de prevenir prováveis gastos com indenizações. E
conforme preconiza o artigo 157 da Consolidação das Leis do Trabalho cabe ao
empregador estabelecer as regras de segurança e medicina de trabalho.
Difere-se do assédio sexual por sua conduta não estar ligada com a intenção de
se obter vantagem sexual, o assédio moral tem a objetividade de causar um ambiente
desfavorável e hostil ao trabalhador, por situações diversas das que causam o mesmo
mal no assédio sexual.
136
Priscila Bueno, Cobrança Profissional ou assédio moral, p 01.
73
13. CONCLUSÃO
137
Simone de Beauvoir, O segundo sexo, p.500.
74
privada, da honra e da imagem, sendo tais direitos oponíveis erga omnes.
Como assevera Alice Monteiro de Barros: ”Não é o fato de um empregado
encontrar-se subordinado ao empregador ou de deter este último o poder diretivo que
irá justificar a ineficácia da tutela à intimidade no local de trabalho, do contrário, haveria
degeneração da subordinação jurídica em um estado de sujeição do empregado”.
75
com muita cautela, devendo sua decisão pautar-se nos princípios da razoabilidade e da
proporcionalidade, não tornando a indenização um meio de enriquecimento da vítima, o
que não é a intenção do instituto.
O texto da lei penal vem sendo muito criticado por não conter previsão do meio
que se dará o constrangimento, se por violência ou grave ameaça. Pelo silêncio do
legislador neste sentido, vêm-se admitindo todos os meios de constrangimento,
inclusive a fraude e a simulação.
76
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
ALBUQUERQUE JUCÁ, Paulo Viana de, O Assédio Sexual como Justa Causa
Típica, Revista LTr, Vol. 61, nº 02,FEV/1997.
77
LOPES, Adriano Almeida; PONTES, Ana Flávia Richard; Iandy Medeiros de
Oliveira Junior, Jéssica Batista Gonçalves, José Carlos Rodrigues Oliveira, Neide
Aparecida
BAROS, Alice Monteiro de, A Mulher e o Direito do trabalho. Editora LTr, São
Paulo, 1995.
José Luiz Ferreira Prunes, Justa Causa e Despedida Indireta, Curitiba, 1994,
Editora Juruá.
78
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Janeiro: Forense, 1983.
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SILVA PEREIRA, Caio Mário, Instituições de Direito Civil, vol. II, Rio de
Janeiro, Forense, 2001, 19ª edição.
79
CAHALI, Yussef Said, Dano Moral, 2ª edição, atualizada e ampliada, editora
RT, São Paulo, 2000, 5ª tiragem.
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DINIZ, Maria Helena, Dicionário Jurídico, São Paulo, Editora Saraiva, 1998,
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Tereza Pérez Del Rio, in Revista Relaciones Laborales, nº 17, 1990, Madri,
Espanha.
80