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A ARBITRAGEM INTERNACIONAL: UMA ALTERNATIVA NÃO-JUDICIÁRIA PARA

SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS

Hérica Grazielly Vaz[1]

RESUMO: A arbitragem internacional surgiu como um processo inovador na


dinâmica das transações empresariais, constituindo um meio de solução
pacifica de controvérsias cada vez mais utilizado pelos investidores,
comerciantes e importadores ou exportadores em suas disputas envolvendo ou
não direito estrangeiro. O presente artigo busca demonstrar a seguridade, a
rapidez e a transparência do sistema jurídico privado para empresas
brasileiras privadas e estatais, que estão cada vez mais se inserindo no
cenário internacional.

Palavras-chave: Comércio internacional; arbitragem; e solução de conflitos.

ABSTRACT: The international arbitration appeared as an innovative process in


the companies transactions. It is a pacific way to solve the controversies more
and more used by the investors, traders and importers or exporters in their
disputes involving or not foreign law. The main objective of the present study
is o demonstrate the effectiveness, efficiency and importance of the private
legal system for private and state Brazilian companies, wich are frequently
inserted in the international scene.

Keywords: International trade; Arbitration; and solution of conflicts.

A arbitragem internacional é um meio de solução pacífica de controvérsias


utilizada para resolução de conflitos, sejam eles no âmbito nacional ou
internacional, sendo ela uma via jurisdicional (reconhecida pelo Estado),
porém, não-judiciária.

Na perspectiva do tempo, a arbitragem internacional é uma instituição muito


antiga. Já na Idade Média era o método que regulava divergências entre
comerciantes, com adoção de usos e costumes que permitiram o
desenvolvimento da moderna lex mercatória[2] (STRENGER, 1996).

A arbitragem como jurisdição privada antecedeu a jurisdição estatal, sendo


que a solução de controvérsias, por meio da arbitragem, aconteceu de
diversas formas e esteve presente na sociedade humana desde os primórdios.

No Brasil, a arbitragem é reconhecida desde os tempos da colonização


portuguesa, expressa nas Ordenações Filipinas e Manuelinas, como uma via de
pacificação adequada para solução de conflitos, sendo que a primeira
Constituição Brasileira, a Constituição do Império[3], outorgada em 1824,
trazia expressamente em seu artigo 160, a utilização da arbitragem.

O Código Comercial[4] de 1850, em seu artigo 294, mencionava a arbitragem


como obrigatória nas questões de natureza mercantil. O Código Civil brasileiro
de 1916 trazia, em sua redação, artigo relacionado à arbitragem, assim como
o Código de Processo Civil de 1939 e de 1973, que adotava a arbitragem em
sua modalidade facultativa de "juízo arbitral", onde as partes poderiam
submeter seu litígio a árbitros, mediante compromisso que o instituía,
observando os requisitos da lei.

Em 1923, o Brasil assinou o Protocolo de Genebra, foi também um dos


contratantes do Código Bustamante[5] e signatário da Convenção
Interamericana sobre Arbitragem Comercial Internacional, ocorrida no
Panamá em 1975, que foi promulgada para ser executada e cumprida no Brasil
em 9 de maio de 1996 e, mais recentemente, reconheceu-se a Convenção de
Nova York.

Cumpre salientar que em 23 de setembro de 1996 o processo de arbitragem


comercial no Brasil recebeu um novo tratamento jurídico com a Lei de
Arbitragem 9.307, tornando-se compatível com o dinamismo do comércio e
em harmonia com a arbitragem internacional.

Dentre os mecanismos alternativos de solução de controvérsias como a


mediação e a conciliação, o de maior eficácia e aceitação é a arbitragem
(MUNIZ, 2000). Atualmente, a comunidade internacional de negócios se utiliza
em 80% da arbitragem como método de solução de conflitos, com destaque
para o transporte marítimo, indústria de petróleo e dos contratos
internacionais de complexos industriais, caso em que se chega a empregar a
arbitragem em aproximadamente 100% dos litígios (GARCEZ, 2003).

Em relação ao sistema judiciário, a arbitragem apresenta elementos mais


vantajosos e atraentes aos olhos dos contratantes internacionais que, por
desconhecerem a legislação nacional de outro país, as regras processuais a
este inerente, a língua corrente e até mesmo os costumes, preferem recorrer
à neutralidade a correr o risco de verem seus litígios solucionados pelo
sistema judiciário de um país estrangeiro (BRANCO, 2005).

É imprescindível esclarecer que âmbito das relações comerciais


internacionais, a adoção e a implementação de um instituto como a
arbitragem para a solução de conflitos denota clara tendência de
aprimoramento das relações comerciais que envolvem empresas e
comerciantes de países estrangeiros, refletindo também uma adequação
diante de uma situação irremediável, que é a formação de blocos econômicos,
fusões empresariais e desenvolvimento de mercados consumidores.

Magalhães (1982) afirma que a arbitragem comercial internacional constitui


meio de solução pacífica de controvérsias cada vez mais utilizado pelos
investidores, comerciantes e importadores ou exportadores em suas disputas
envolvendo ou não direito estrangeiro.

Para Magalhães o crescente uso da arbitragem no comércio internacional


justifica-se principalmente pelo seu caráter confidencial, onde o assunto em
questão não padece de divulgação, como ocorre no judiciário.
Enquanto que no procedimento arbitral a controvérsia fica restrita às partes e
aos árbitros, sem que terceiros conheçam a natureza das pretensões
deduzidas, no judiciário a obrigatoriedade da publicidade e o registro da
demanda frequentemente impedem a transação, tornando-a morosa e
burocrática.

Também deve ser lembrado, como fator de fomento da arbitragem


internacional, o progressivo reconhecimento das sentenças arbitrais pelos
Estados. Tal reconhecimento é atestado pela Convenção de Genebra de 1961,
a Convenção de Nova Iorque, de 1958 e a Convenção do Panamá, de 1975.

Magalhães (1982) concorda com René David (apud MAGALHÂES, 1982), que
afirma que a arbitragem cria um clima propício à conciliação e ao
acolhimento pacífico da sentença arbitral, pois ao escolherem os árbitros, as
partes demonstram que estão predispostas a aceitar o laudo que estes vierem
produzir.

Neste momento é possível observar a diferença fundamental entre a sentença


judiciária e o laudo arbitral. A primeira é imposta pelo Juiz, que não foi
escolhido pelas partes e com as quais ele não possui nenhuma vinculação. A
segunda provém do árbitro indicado consensualmente pelos litigantes e a eles
ligados pelo compromisso. Magalhães observa que, enquanto o judiciário vive
da obediência, a arbitragem lastreia-se na confiança das partes.

Silva e Fleig (2004) afirmam que a arbitragem internacional visa dirimir um


conflito cujas partes envolvidas são domiciliadas em países diversos, sendo
que a arbitragem é considerada uma atividade em expansão na seara de uma
economia globalizada, que se transformou em uma jurisdição de direito
comum nas relações econômicas internacionais.

Segundo Silva e Fleig (2004) os sujeitos internacionais possuem várias razões


para recorrem à arbitragem, entre elas a necessidade de esquivar-se de
justiças estatais inaptas e morosas; a possibilidade de realizar a arbitragem
em um país neutro; a liberdade de optar por quem irá decidir a causa,
podendo o árbitro ser um especialista na área; resolver o conflito com base
nas regras de comércio internacional, equidade ou costumes; afastar a
publicidade, mantendo o conhecimento do litígio restrito às partes e aos
árbitros.

Buratto (2005) atenta que as barreiras nacionais tornam-se obstáculos à


crescente demanda de circulação de mercadorias. As relações comerciais
internacionais consubstanciam-se formalmente através dos contratos
internacionais, que muitas vezes vêm acrescidos de cláusulas compromissórias
quanto à adoção da arbitragem como tentativa de alcance da solução de
conflitos dele decorrentes.

Algumas das características da arbitragem como meio pacífico de solução de


controvérsias expostas por Buratto (2005) é que a arbitragem é reconhecida
pela ordem jurídica; tem por finalidade a solução definitiva dos conflitos;
baseia-se numa convenção de arbitragem prévia e válida; suas decisões
produzem efeitos jurídicos semelhantes às decisões proferidas pelos tribunais
estatais.

De acordo dom Kalichsztein (2002), a sociedade internacional organizou-se,


estruturando-se por intermédio de tratados multilaterais que traduzem a
tentativa de criação de um direito internacional uniformizado como o mais
poderoso instrumento para tornar realidade o sonho de uma sociedade
derrotada ao ideal da paz e diminuição de desequilíbrios regionais.

Com isso, torna-se necessário demonstrar o movimento global em prol das


arbitragens, materializado por meio dos Diplomas Convencionais e inserido na
legislação dos mais variados Estados, incluindo o Brasil como membro ativo.

É de grande importância reconhecer que o Brasil é um país que está cada vez
mais envolvido na estrutura de um comércio internacional, não podendo,
portanto se colocar em uma posição de esplêndido isolamento e muito menos
colocar em perigo a habilidade dos empresários, dificultando a entrada dos
mesmos no contexto dos acordos internacionais.

BIBLIOGRAFIA

Livros

CÂMARA, Alexandre F. Arbitragem, Lei nº 9.307/96, 3 ed. Rio de Janeiro:


Lúmen Júris, 2002.

JESUS, Edgar A. de. Arbitragem: questionamentos e perspectivas. São Paulo:


Juarez de Oliveira, 2003.

GARCEZ, José M. R. Negociação, adrs, mediação, conciliação e arbitragem. 2.


ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

MUNIZ, Tânia L. Arbitragem no Brasil e a Lei 9.307/96. Curitiba: Juruá 2000.

KALICHSZTEIN, Juliana. Homologação de Sentenças e Laudos Estrangeiros no


Brasil. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2002.

SILVA, José A. da S. Arbitragem dos Contratos Comerciais no Brasil. Belo


Horizonte: Del Rey, 1997.

MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual penal, vol. I.


Campinas: Millennium, 2000.

Periódicos

MAGALHÃES, José C. de A. A Arbitragem Internacional Privada. Revista


Forense, v.78, n.279, p.99-104,jul./set. 1982.

CARDOSO, Antônio P. Justiça Alternativa: arbitragem. Ajuris, v.24, n.69,


p.375-378, mar. 1997.
GOMES, Luiz F. A. A Intervenção do Estado na Arbitragem. A júris, v.24, n.69,
p.369-374, mar. 1997.

Revista

REVISTA de Arbitragem e Mediação. São Paulo: Revista dos Tribunais Ltda.


set.-dez. 2004. p.321.

Internet

BRANCO, Luizella G. B. A. A Arbitragem nos Contratos Internacionais.


Disponível em:
<http://cbsg.com.br/pdf_publicacoes/arbitragem_nos_contratos_internacion
ais.pdf>. Acesso em 5 mai. 2005.

BURATTO, Vicente O. O Papel da Arbitragem nas Relações Internacionais.


Disponível em:
<http://www.juspodivm.com.br/novo/arquivos/artigos/outros/o_papel_da_a
rbitragem_nas_relacoes_internacionais.pdf> Acesso em: 17 abr. 2005.

LEMES, Selma F. O Desenvolvimento da Arbitragem no Brasil e no Exterior.


Valor Econômico. 1º ago. 2003. Caderno Legislação e Tributos, p. ed.2.
Disponível em:
<http://www.mundojuridico.adv.br/html/artigos/documentos/text602.htm>.
Acesso em: 15 mar. 2005.

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[1] Estudante do 9º semestre do Curso de Direito da Universidade Católica de


Brasília.

[2] Lex Mercatoria: Teve origem na Idade Média, em resposta aos direitos
feudais, plenos de privilégios, que entravavam as relações de comércio.
Surgida nas feiras, como ordenamento a reger as relações entre os
comerciantes, de modo uniforme, através da aplicação obrigatória dos usos e
costumes comerciais. Matias 2004: Conjunto de regras, princípios e costumes
oriundos da prática comercial, sem vinculação a qualquer direito nacional.

[3] Constituição do Império – art. 160: "nas cíveis, e nas penais, civilmente
intentadas, poderão as partes nomear juízes árbitros. Suas sentenças serão
executadas sem recurso, se assim convencionarem as mesmas partes".

[4] Código Comercial (1850) – art. 294:"todas as questões sociais que se


suscitarem entre sócios durante a existência da sociedade ou companhia, sua
liquidação ou partilha, serão decididas em juízo arbitral".
[5] Código Bustamante – Decreto N. 18.871 de 13 de agosto de 1929: Promulga
a Convenção de Direito Internacional Privado de Havana.

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