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DIRETORIA DA ABEAS
Presidente
José Geraldo de Vasconcelos Baracuhy
Universidade Federal de Campina Grande - UFCG
1º Vice-Presidente
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Universidade Estadual Paulista - UNESP/Botucatu
2º Vice-Presidente
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1º Tesoureiro
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Universidade Federal de Santa Maria - UFSM
2º Tesoureiro
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1º Secretário
Geraldo Andrade de Araújo
Universidade Federal de Viçosa - UFV
2º Secretário
Moacir Cerqueira da Silva
Universidade Federal Rural da Amazônia UFRA
Coordenação Geral
Engº. Agrº. Ronaldo Pereira de Sousa
Coordenação Pedagógica
Profª. Thelma Rosane de Souza
Esp. em Educação a Distância
APOIO AO CURSO
_____________________________________________________________________________________________
PROTEÇÃO DE PLANTAS
Módulo 7
Controle de Doenças de Plantas
7.4 - Fungicidas Sistêmicos, Modo de Ação,
Translocação e Uso
Tutor:
Profº. Laércio Zambolim (UFV)
Brasília - DF
2006
Ficha Catalográfica
Sumário
Introdução, 06
Significado de um composto sistêmico, 06
Penetração, 09
Movimento dentro da Planta, 09
Toxicidade Seletiva, 12
Estabilidade metabólica, 13
Vantagens do uso de fungicidas sistêmicos, 13
Comparação entre os fungicidas sistêmicos e os protetores, 14
Vias de penetração de fungicidas sistêmicos, 15
Folhas, 15
Caule, 17
Raiz, 18
Semente, 20
Conseqüência do uso de fungicidas sistêmicos, 21
Mecanismos de resistência, 22
Como resistência surge em condições de campo, 23
Literatura consultada, 25
Questões para discussão, 28
Introdução
Muitos esforços foram feitos com o objetivo de desenvolver compostos químicos que, após
serem aplicados nas raízes, nas folhas e nas sementes, possuíssem a capacidade de serem
absorvidos, translocados na planta, erradicarem os patógenos já estabelecidos, e por fim proteger as
plantas contra novas infecções. Os compostos que acumulam estas características são denominados
de fungicidas sistêmicos, cuja era foi iniciada em 1964 com a publicação das propriedades
sistêmicas do Thiabendazol e de alguns antibióticos. Mas o grande impulso no uso de fungicidas
sistêmicos teve início com a descoberta do Carboxin e do Benomyl, no fim da década de 1960.
Desde então, grande número de compostos sistêmicos aparecem no mercado. Atualmente, mais de
50 fungicidas sistêmicos e mais de 100 fungicidas protetores são usados no mundo inteiro, no
controle de doenças de plantas.
Os fungicidas sistêmicos pertencem a uma classe de produtos diferentes, pois, geralmente,
são muito específicos quanto ao modo de ação, e fungitóxicos em baixas concentrações, quando
comparados com os produtos de contato. Quando foram descobertos, a dose recomendada era de
aproximadamente 1 a 2 kilogramas ou litros por hectare. Hoje, cerca de trinta anos após a
descoberta desses produtos, é comum encontrar fungicidas sistêmicos recomendados na dose de 250
ml por ha, ou seja, dose de 4 a 8 vezes menor.
Os fungicidas protetores são, geralmente, fitotóxicos às células das plantas; por este motivo
são seletivos e devem permanecer na superfície da planta. Quando penetram na cutícula, podem
causar injúrias às plantas. Os fungicidas sistêmicos devem coexistir com as células da planta
hospedeira viva, requerendo, portanto, um tipo diferente de seletividade, que deve discriminar entre
as células do hospedeiro e do patógeno. Os fungicidas sistêmicos, portanto, penetram na planta e
são tóxicos, seletivamente, aos processos vitais pertencentes dos fungos. O processo da seletividade
é, geralmente, tão específico que, entre centenas de diferentes fungos que atacam as plantas,
somente certos grupos taxonômicos são afetados particularmente por cada fungicida sistêmico. O
composto químico sistêmico deve ser prontamente assimilado pela planta, translocado, e inibir
infecções no local e à distância do local de aplicação, sem afetar os tecidos do hospedeiro; deve
matar o patógeno no interior dos tecidos, resistir à rápida degradação e, se for decomposto nos
tecidos da planta, seus subprodutos devem ser tóxicos ao patógeno. Nas plantas, os fungicidas
sistêmicos podem ser metabolizados sofrendo oxidações, reduções, hidrólises, demetilação,
deacetilação ou formação de compostos conjugados, podendo ser inativados na molécula, ou
mesmo na degradação total a compostos simples tais como: CO2, H2O, nitrogênio orgânico, etc.
Em certos casos, a aplicação de fungicidas sistêmicos induz a produção de compostos químicos na
planta, que atuam como defesa à invasão do patógeno.
Em síntese, o que se requer de um produto sistêmico é ação à distância do local da aplicação
e persistência no interior da planta. Os produtos que possuem ação sistêmica local não apresentam
esta propriedade.
O sítio de ação biológica varia, portanto, entre os fungicidas sistêmicos e protetores e entre
os diferentes grupos de fungicidas sistêmicos (Figura 1). O sítio de ação biológica das fenilamidas
no ciclo de infecção de vários Oomicetos, tem sido estudado. No caso da Plasmopara viticola, o
Metalaxyl não inibe a germinação do esporo e a penetração inicial do fungo nas folhas da parreira.
Por outro lado, ele apresenta grande efeito inibidor a qualquer crescimento fúngico dentro da folha,
após a formação do haustório. Os fungicidas protetores atuam apenas sobre a germinação dos
esporos e sobre o tubo germinativo (Figura 1).
Outra característica dos compostos sistêmicos é a translocação ao longo da rota de
transpiração das plantas. As folhas são os órgãos primários de transpiração e o movimento dentro
da planta é no sentido do sistema radicular para as folhas em expansão. Folhas muito jovens, flores
e frutos, por não transpirarem quantidades significantes de água, recebem pequena quantidade de
fungicidas aplicados ao solo ou às sementes. É de se esperar também que os frutos não recebam
resíduos desses produtos.
Figura 1. Sítio de ação de diferentes grupos de fungicidas Antioomicetos no ciclo de vida de Phytophthora infestans.
(Schwinn e Staub, 1995)
Penetração
No primeiro passo da translocação, o fungicida deve penetrar dentro da planta, seja por via
foliar, radicular, através do caule ou da semente. A cutícula foliar obviamente atua impedindo que
muitos fungicidas penetrem na planta, como ocorre no caso dos fungicidas protetores. O sucesso da
penetração do fungicida depende de sua solubilidade relativa em lipídios. O fungicida deve, ainda
assim, ser dissolvido num solvente, sendo o mais comumente usado a água. Portanto, alterando a
solubilidade em lipídios, obtém-se maior penetração do produto através da cutícula. Mas deve-se ter
em mente que a adição de grupos alquil ou grupos lipofíbeos ao composto pode alterar sua
fungitoxicidade. Em alguns casos, como o Tiofanato Metílico, que na superfície foliar se degrada
em Metil Benzimidazole Carbamato, pela ação de luz ultravioleta e pH acima de 7,0, o fungicida
pode atuar como protetor e sistêmico.
Por outro lado, o uso de formulações em concentrado emulsionável e dispersão em óleo, ao
invés de alterar a estrutura química dos compostos, tem sido muito efetivo no aumento da absorção
e translocação.
Sementes e frutos de plantas herbáceas possuem cutícula semelhante à das folhas, por isto
apresentam os mesmos problemas de penetração de fungicidas.
A penetração pelas raízes é muito eficiente devido ao fato destas não apresentarem barreiras
como as existentes nas folhas. Obviamente, a penetração via raízes vai depender das características
de cada fungicida sistêmico considerado.
fluxo livre dentro dos vasos. Há produtos que se aderem à parede do xilema, enquanto outros
parecem permanecer livres. As rotas percorridas pelos fungicidas, que penetram ou pelas folhas ou
pelas raízes das plantas, estão esquematizadas na Figura 2.
Figura 2. Caminhos percorridos pelos fungicidas que penetram pelas folhas (a) ou pela superfície das radicelas (b). 1.
absorção pelas células externas; 2. transporte via simplasto; 3. transporte via apoplasto; 4a. absorção pelos
tubos do floema; 4b. transferência para os vasos; 5. absorção pelas camadas cuticulares. (Lyr, 1995)
Por questões práticas, é importante que seja conhecida a extensão com que um determinado
produto pode ser translocado em ambos caminhos, e se ele é capaz de atingir o órgão desejado, por
exemplo, um fungicida aplicado com o objetivo de proteger folhas ou frutos jovens, deve ser capaz
de ser translocado pelo floema após a aplicação em folhas completamente expandidas.
As evidências de movimento de fungicidas no simplasto não têm sido muito convincentes,
embora vários trabalhos já tenham sido publicados tentando provar este fato. A primeira condição
para movimento no simplasto é que o produto químico seja capaz de atravessar a plasmalema e
entrar no protoplasma. Nos últimos 30 anos, vários estudos têm sido feitos sobre a absorção e
translocação de substâncias químicas pelas plantas superiores. Um interesse especial, contudo, foi
dispensado aos herbicidas, pois sua distribuição nas plantas se processa não somente pelo xilema,
como também pelo floema.
O transporte por meio do simplasto acompanha as relações fonte e dreno da planta. As
folhas verdes e totalmente expandidas produzem e exportam assimilados, sendo conseqüentemente
consideradas como fonte; enquanto órgãos em crescimento ou de armazenamento, com demanda
por fotoassimilados, são os drenos. O movimento dos fungicidas no simplasto é inevitavelmente
conectado com o transporte de fotoassimilados. Logo, é dependente da relação fonte-dreno presente
em determinado estádio de desenvolvimento da planta. Assim, não existe exportação de fungicidas
a partir de folhas muito jovens. Quando o transporte de assimilados cessa, o transporte de
fungicidas é interrompido também.
Os trabalhos tentando provar movimento de fungicidas tanto no simplasto como apoplasto
em sua grande maioria envolvem estudos de controle de doenças. O transporte no apoplasto
raramente é específico de uma planta em particular; em geral, o sucesso no tratamento de uma
planta herbácea indica que se pode ter o mesmo efeito no tratamento de outras plantas herbáceas.
Poucos são os trabalhos que mostram translocação do produto químico ativo da folha tratada
para outras partes da planta, incluindo folhas, gemas terminais, frutos etc. Embora isto possa
ocorrer em alguns casos, o movimento no simplasto não foi ainda claramente demonstrado, devido
talvez à dificuldade da realização destes testes.
O modelo de distribuição e a extensão do movimento no xilema é determinado pelo
gradiente do potencial hídrico entre a água e o solo. Então, o transporte se processa usualmente
direto das raízes para as áreas em que ocorre a transpiração, principalmente para as folhas. Os
fungicidas transportados pelo xilema não apresentam movimento descendente a partir das folhas
expandidas. Se eles são aplicados na base de uma folha, são preferencialmente transportados para o
topo. O transporte na direção oposta é extremamente raro.
O uso de produtos químicos com baixa fitotoxidez abre a possibilidade para o controle de
patógenos no solo e para tratamento de infecções internas já estabelecidas, como as murchas
vasculares. Como os fungicidas movem-se no apoplasto, o tratamento de enfermidades pode ser
feito via aplicação do produto no solo; mas caso os produtos químicos sejam distribuídos pelo
simplasto, esses poderiam ser usados no controle de doenças vasculares e de raiz com aplicação do
fungicidas nas folhas. Os produtos químicos que se movessem no simplasto poderiam abrir novo
campo de controle de doenças, uma vez que seriam translocados das folhas tratadas para os tecidos
jovens em crescimento, com possibilidade de redução do número de aplicações de fungicidas e de
atingir locais inacessíveis aos fungicidas aplicados por via foliar.
Tem-se observado também que o produto ativo dos fungicidas apresenta a tendência de
acumular-se nas lesões de parasitas obrigatórios, nos tecidos afetados e no micélio fúngico.
Toxicidade seletiva
A toxicidade seletiva é condição requerida aos fungicidas sistêmicos, pois estes devem
coexistir em íntimo contato com as organelas e os sistemas bioquímicos das plantas. Essa
propriedade varia também com a espécie de planta envolvida. Carboxin, por exemplo, é muito mais
tóxico à desidrogenase do ácido succínico de Ustilago maydis do que a do cultivar de feijão Pinto
111 (Phaseolus vulgaris). Outro produto análogo ao Carboxin, o 2,4-dimetilthiazole-5-
carboxanilide, é mais tóxico a Pinto 111 do que ao U. maydis. Na prática este produto não é usado
devido sua alta fitotoxidez.
A seletividade entre os sistemas do patógeno e da planta é devida a vários fatores, entre os
quais destacam-se a sensibilidade diferencial das organelas dos dois sistemas, diferenças na
permeabilidade das organelas etc. Mas além de os fungicidas apresentarem seletividade entre a
planta e o fungo, podem ser seletivos também para fungos (Quadro 1). Esta propriedade não é
evidente entre os fungicidas protetores, mas é marcante entre os sistêmicos. Os fungicidas
sistêmicos podem ser específicos para determinados grupos de fungos e/ou doenças, como
ferrugens, carvões, míldios pulverulentos etc.
Estabilidade metabólica
Quando o fungicida penetra nas células da planta, está sujeito à degradação por muitas
enzimas. Para que seja efetivo, o fungicida deve resistir à degradação.
Em resumo, para que um fungicida sistêmico tenha sucesso no controle de uma dada
doença, deve possuir uma estrutura química que permita sua entrada e translocação na planta, sua
penetração nas células da planta, onde deverá seletivamente inibir ou matar o patógeno, sem afetar
a planta. Por fim, seu efeito na planta deve ser duradouro, sem se degradar, para manter a planta
sadia.
Atingir locais inacessíveis aos fungicidas protetores. Certos fungos transmitidos pela semente,
como Diaporthe phaseolorum em soja, podem ser controlados pelo tratamento das sementes com
produtos sistêmicos como o Benomyl, porque o ingrediente ativo do produto penetra no interior
dos tecidos das sementes, o que não acontece aos protetores.
Certos fungicidas sistêmicos, como o Proconazole, Triadimenol, controlam eficientemente a
ferrugem do cafeeiro pelo fato de, entre outros fatores, translocar-se para a face inferior (local de
penetração do fungo), quando o produto é aplicado na face superior das folhas. A face inferior
das folhas do cafeeiro quase sempre não é atingida em aplicações normais de fungicidas.
Matar o patógeno no interior dos tecidos da planta após o processo infeccioso já ter sido iniciado
(efeito curativo-erradicante). Por exemplo, o agente causal da ferrugem do feijoeiro (Uromyces
phaseoli var. typica) pode ser erradicado até 3 dias após a penetração nos tecidos da planta, pela
aplicação de Oxycarboxin.
Conferir proteção de partes dos tecidos da planta por período de tempo maior que os protetores.
Quando sementes de determinadas plantas são tratadas com produtos sistêmicos, o fungicida é
absorvido e translocado para a região do hipocótilo, após a germinação, dando proteção às
mudinhas, nos primeiros dias de vida, contra fungos que causam o tombamento como, por
exemplo, Rhizoctonia solani. Há certos produtos que, quando são aplicados às sementes,
protegem as plantas por um período de até 30 dias após a germinação, o que pode proporcionar a
economia de uma pulverização.
Possibilita o emprego de menor dose do produto. Devido os produtos sistêmicos serem tóxicos
em baixas concentrações, possibilitam redução de 50 a 75% na dose, em relação aos fungicidas
protetores.
Translocação do produto na planta. A translocação dos compostos químicos denominados de
sistêmicos, na planta, é influenciada por uma série de fatores. As vias normais de movimentação
desses produtos ou de seus subprodutos formados podem processar-se no sentido ascendente,
translaminar, dentro da folha (base para o ápice) e entre folhas.
A translocação ascendente é aquela que se processa quando o produto é aplicado no solo,
absorvido pelas raízes e se movimenta para a parte aérea das plantas. É considerada também
translocação ascendente quando o produto é aplicado nas folhas inferiores ou basais da planta e
se movimenta para as outras folhas situadas num plano superior. Na translocação translaminar, a
mais comum, o produto move-se da face superior para a inferior, ou vice-versa. É importante
ressaltar que nem todo fungicida sistêmico movimenta-se na planta em todos os sentidos
descritos anteriormente. Outro ponto comum entre os produtos sistêmicos é que dificilmente
translocam no sentido descendente (folhas superiores para as inferiores ou raízes), muito embora
alguns pesquisadores já tenham encontrado evidências que comprovam este fato, em pelo menos
um grupo de fungicidas, o Efosite-Al.
A translocação do produto na planta ou nas folhas possibilita a proteção de locais não
atingidos pela pulverização, redistribuindo o ingrediente ativo dentro da planta.
Característica Fungicida
Sistêmico Protetor
Efeito erradicante Sim Não
Fitotoxidez Alta Baixa
Penetração no tecido da planta Rápida Não penetra
Depósito - Facilmente removido por chuva e água de
irrigação
Persistência na superfície das plantas Maior, mas é função da formulação e da
Menor superfície da planta
Persistência interna Sim Não
Intervalo de aplicação Maior Menor
Número de aplicações Menor Maior
Resíduos Comum Raro
Agente de decomposição Luz, umidade, temperatura,
microrganismos, pH, misturas
Usos Atomização ou pulverização, tratamento de sementes, solo, pós-colheita
Formulação PM, CE, Flowable (Susp. concentrada), PS, Granulada
Folhas
Caule
Raiz
Outro sítio de absorção de fungicidas sistêmicos é através das raízes. As raízes funcionam
como órgãos de absorção de água e de nutrientes minerais do solo. Grande quantidade de água e
substâncias dissolvidas são absorvidas pelas raízes e transportadas para as partes superiores da
planta.
No campo, os fungicidas podem ser aplicados às raízes das plantas através do tratamento no
sulco de plantio, durante o semeio, ou em cobertura, porém em sulcos, durante o crescimento das
plantas. Eles são absorvidos junto com a água, principalmente na região capilar das raízes, região
esta, localizada entre 5 e 50 mm do ápice da raiz. Em contraposição às folhas, a rizoderme não é
coberta por um cutícula bem desenvolvida.
As raízes de diferentes espécies de plantas variam em sua estrutura e permeabilidade à água
e aos solutos. Uma raiz individual também mostra variação em permeabilidade ao longo de sua
extensão. A região de maior absorção ocorre nas áreas mais jovens das raízes. Nas regiões mais
velhas das raízes de muitas plantas, a epiderme torna-se suberizada ou forma-se a casca. Ambos
eventos conduzem a uma progressiva perda da permeabilidade. As raízes das monocotiledôneas,
que não apresentam ramificações secundárias e suberização, são mais uniformemente permeáveis à
água ao longo de sua extensão.
A epiderme de raízes jovens, ao contrário das partes aéreas das plantas, não é coberta com
cutícula bem desenvolvida. Portanto, os fungicidas em solução possuem relativamente fácil acesso
ao apoplasto das raízes. Muitos íons inorgânicos são absorvidos ativamente pelas raízes, num
processo requerendo energia metabólica. Mas as evidências indicam que os fungicidas são
absorvidos pelas raízes num processo passivo. Há também a possibilidade de um produto químico
penetrar nas raízes passivamente, decompor-se posteriormente, ou ligar-se a outros produtos dentro
das raízes.
Diferentes espécies de plantas absorvem quantidades variáveis de fungicidas. As raízes de
plantas lenhosas, como macieira e videira, tendem a concentrar os fungicidas, enquanto que as
raízes de plantas herbáceas, como o trigo e cucurbitáceas, não apresentam esta tendência. O
aumento da absorção de fungicidas em raízes de plantas lenhosas pode ser parcialmente explicado
por reações de ligação do ingrediente ativo dos fungicidas dentro das raízes das plantas.
A penetração nas raízes pode ocorrer via apoplasto, acima da endoderme. Aí, a faixa de
Caspary e a deposição de suberina e de lignina na parede das células da endoderme (assim como na
lamela média conectando as células) podem impedir o movimento de substâncias no apoplasto. Em
alguns casos, a absorção de certos produtos químicos (Metil Benzimidazole Carbamato) processa-se
por difusão através da faixa de Caspary ou penetram a plasmalema das células da endoderme,
movendo-se através do simplasto para alcançar o xilema das raízes.
Outro fator que pode interferir na absorção de fungicidas pelas raízes é a sua solubilização
em lipídios. A fim de que um produto químico seja transportado para o resto da planta, após o
tratamento das raízes, esse deve atravessar a barreira de lipídios, através da plasmalema das células
da endoderme ou pela própria faixa de Caspary. Por outro lado, os produtos químicos que são muito
solúveis em lipídios não são prontamente liberados na rota de transpiração, mas são retidos pelos
lipídios das raízes.
A quantidade de fungicidas translocada pelas raízes é função da concentração aplicada. À
medida que a concentração aumenta, obtém-se, proporcionalmente, maior quantidade de
substâncias transportadas.
As pesquisas têm mostrado atualmente que determinados fungicidas sistêmicos
comprovadamente na parte aérea das plantas, comporta-se como tal quando são aplicados também
no solo, na região da rizosfera. Dentre esses, destacam-se as formulações em pó-molhável e
granulada do Cyproconazol, e do Triadimenol quando aplicados em sulcos de cerca de 3-5 cm de
profundidade na região de projeção da "saia" do cafeeiro. A aplicação destes produtos no solo, no
início do período das chuvas em plantas de café, tem mostrado ser eficiente no controle da ferrugem
do cafeeiro (Hemileia vastatrix Berk. et Br.). Isto demonstra que os produtos penetram nas raízes,
atingem a região do apoplasto e seguem a rota da transpiração, acumulando-se nas folhas. Pesquisas
no Departamento de Fitopatologia da Universidade Federal de Viçosa revelaram que, se as
condições de precipitação pluviométrica são adequadas, os produtos citados, resíduos ou
metabólitos destes podem ser encontrados nas folhas, trinta dias após a aplicação no solo. É
possível que outros produtos sistêmicos sejam translocados do solo para parte aérea das plantas;
entretanto, dados de pesquisas neste campo ainda são escassos, até mesmo em outras culturas.
Vários inconvenientes surgem quando compostos químicos são aplicados ao solo; há
problemas de distribuição, absorção e decomposição dos fungicidas no solo, que influenciam a sua
efetividade. Sempre que o produto é aplicado ao solo, somente pequena porção do ingrediente ativo
é absorvida pelas raízes, para ser transportada para as partes superiores da planta.
A absorção dos fungicidas é independente da concentração do produto na solução externa do
solo, já que a entrada do produto é efetuada por difusão. Por outro lado, ela é dependente do pH.
Fungicidas catiônicos como Carbendazim, Tiabendazol e Ethirimol têm sua absorção dependente
do pH, que pode ser inibida pela adição de cátions bivalentes (Ca+2 e Mg+2)
Semente
produto permaneça intacto, poderá perder sua efetividade, devido ser transportado para a margem
das folhas. A porção do fungicida que permanecer no solo, ao redor das sementes, está também
sujeita à degradação e absorção. Portanto, o tratamento de sementes visa o controle dos organismos
transmitidos pelo solo e sementes, erradicando os fitopatógenos e protegendo contra o tombamento
de mudinhas, apodrecimento de sementes, raízes e hipocótilo e proteção às plantas nos primeiros
dias de vida.
Mecanismos de resistência
Decréscimo na Permeabilidade
Fenômeno que ocorre em certos grupos de compostos como os antibióticos, onde o produto
químico não atinge o local de ação, devido ao decréscimo na permeabilidade da membrana do
protoplasma do organismo resistente.
Aumento na Detoxificação
A detoxificação pode ocorrer por modificações na molécula com concomitante perda da
ação fungicida após a entrada na célula fúngica.
Em alguns casos pode ocorrer o inverso da desintoxicação. O organismo pode converter um
composto inativo num produto ativo (com ação fungicida), que se denomina síntese letal. Este tipo
de conversão tem sido observado "in vitro".
dos fitopatógenos pode ser influenciada pela presença de outros microrganismos que competem por
espaço, nutrientes ou que produzem antibióticos.
Quando tais organismos são eliminados, os fitopatógenos que são relativamente insensíveis
ao fungicida podem ser favorecidos e causar novos problemas para a planta. Os desequilíbrios
podem acontecer também quando dois organismos fitopatogênicos, sendo um sensível e outro
insensível a um determinado fungicida sistêmico, estão envolvidos. Uma pergunta que surge é se as
raças resistentes desapareceriam da população, quando a aplicação do produto é suspensa e se o
mesmo fungicida poderia ser novamente usado? Acredita-se que as raças resistentes podem persistir
na população por determinado tempo, sendo muito difícil de se prever com exatidão; mas,
eventualmente, a população das raças resistentes tenderá a decrescer, tão logo a pressão de seleção
seja eliminada. Por esta razão não deve ser excluída a possibilidade da reutilização do fungicida,
mas, neste caso, também se sugere que um produto que tenha múltiplo sítio de ação seja incluído no
programa de controle.
Literatura consultada
DEKKER, J. Resistence. In: MARSH, R. W. ed. Systemic fungicides. 2 ed. Longeman, London. Pp
176-197, 1977.
DELP, C. J. Coping with resistance to plant disease control agents. Plant Disease 64: 652-657,
1980.
DELP, C. J. Strategies for dealing with fungicide resistance problems. In.: British Crop Protection
Conference - Pest and Diesases. Bringhton, England. Proceeding. British Crop Protection
Cuncil, Croydon, v. 3. Pp 865-871, 1981.
HUBELE, A ; KUNZ, W.; ECKHARD, W. e STURM, E. The fungical activity of acylalanines. In:
DAYLE, P. e FUJITA, T. ed. Pesticide chemistry, Luman welfare and the environment.
Oxford, London. Pp 233-342, 1983.
3-Como é que os fungicidas sistêmicos são absorvidos e translocados do solo para a parte aérea da
planta? Cite as partes da planta (vias) pelas quais a molécula química deve ser translocada
na planta.
5-Como evitar que ocorra resistência na população de fungos pela aplicação de fungicidas
sistêmicos?