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ocorre cerceamento de defesa quando o juiz acolhe a contradita de testemunhas, se estas,


perquiridas a respeito, declaram ter ação em curso contra a mesma reclamada e com o mesmo
Maio de 2006 objeto, pois, em casos que tais, flagrante o seu interesse no sucesso da demanda, o que lhes
A prova testemunhal no processo do trabalho: novos paradigmas acarreta a suspeição para depor, consoante a previsão contida no inciso IV do art. 405, do
CPC."
interpretativos da Súmula nº 357, do TST.
Fernanda Martorelli
Na prática, geralmente o Juízo tende a aceitar as contraditas formuladas pela parte ré quando
Sabe-se em matéria processual que, de acordo com o art. 818 da CLT e art. 331 do CPC, a
há a troca de favores, ou seja, quando o autor foi ou será testemunha do depoente. Basta a
prova das alegações cabe às partes que as fizer. Assim, em princípio, cabe ao autor, no
simples alegação de que o autor não será testemunha na ação do depoente para o
processo do trabalho, produzir toda a prova necessária para comprovar o alegado na prefacial,
indeferimento da contradita.
caso o réu não apresente fato impeditivo ao direito do autor, hipótese em que se inverte o ônus
da prova. A troca de favores, conforme entendido pelos juizes trabalhistas, torna suspeita a testemunha,
não sendo válida como meio regular de prova. A caracterização da troca de favores é
A fase do processo de conhecimento na Justiça Trabalhista mais esclarecedora para o juiz é,
extremamente fácil de ser burlada, bastando que um grupo de três empregados, que litiga contra
sem dúvida, a instrução processual, na qual são colhidas as provas necessárias à elucidação da
a mesma empregadora, se reveze em seus depoimentos. Assim, jamais se comprovará a troca
lide. E, dentre os meios de prova disponíveis para as partes, a testemunhal é a mais utilizada e
de favores, já que o reclamante (1) de uma ação será testemunha de outro reclamante (2), que,
aceita para provar os fatos descritos na inicial, além de ser o mais acessível para o reclamante,
por sua vez, servirá de prova testemunhal para o outro autor (3), que testemunhará em favor do
já que, geralmente, não possui documentos suficientes para comprovar o postulado.
reclamante (1), fechando-se o ciclo.
É bem verdade que a prova testemunhal é de extrema importância para a formação do
É evidente que, na hipótese, também está presente a troca de favores e o Juízo só saberá se a
convencimento do juiz, e tem grande relevância para o direito instrumental. Tanto é assim que,
testemunha tem interesse no litígio se a empregadora formular contradita, bem como provar a
apesar das disposições contidas no art. 405 do CPC e art. 829 da CLT, o C. Tribunal Superior
identidade das demandas. Dizer que testemunha arrolada pelo empregado é imparcial e possui
do Trabalho editou a Súmula 357, a fim de proteger o meio de prova mais utilizado pelos
isenção de ânimo para depor, nesse caso, é, claramente, aplicar erroneamente a Súmula 357
empregados, tradicionalmente parte mais fraca no litígio. In litteris:
do C. TST, ao arrepio do art. 829 da CLT e art. 405, §3º do CPC.
“Súmula nº: 357. Não torna suspeita a testemunha o simples fato de estar litigando ou ter litigado A Quarta Turma do C. TST, em recente acórdão publicado em 09/09/2005, entendeu ser inválida
contra o mesmo empregador”. a oitiva da testemunha que possuir ação contra a mesma empresa reclamada, com pedidos
semelhantes. Vejamos:
Tal súmula tem sido aplicada irrestritamente nas instruções processuais. Geralmente, os juízes
indeferem contraditas formuladas pela parte ré, que sabem o interesse da potencial testemunha TESTEMUNHA - SUSPEIÇÃO - AÇÃO CONTRA O MESMO EMPREGADOR COM IGUAL
na lide, respaldados no entendimento sumulado acima, apenas indagando se o reclamante OBJETO TOMADA DE DEPOIMENTO DIREITO DA PARTE QUE ARROLA - INTERPRETAÇÃO
servirá também de prova testemunhal no processo em que a potencial testemunha é parte. E ALCANCE DA SÚMULA Nº 357 DO TST E DA CLT, ART. 829. A ratio legis do art. 829 da CLT
Entretanto, o dispositivo retro deve ser interpretado cautelosamente, por duas razões: a uma, é de que a pessoa que comparece a Juízo para depor como testemunha, sendo parente até o
porque as súmulas são utilizadas apenas para casos em que não há norma específica ou para terceiro grau civil, amigo íntimo ou inimigo da parte, deve ser ouvida na condição de mera
pacificar uma interpretação da norma; a duas, porque, se a testemunha inquirida litiga com a informante. Não pode o juiz recusar-se a ouvi-la, nessa condição, havendo requerimento da
mesma reclamada e com o mesmo pedido, não é de se duvidar ela será parcial, pois, parte, sob pena de se caracterizar ofensa ao devido processo legal e cerceamento de defesa
independentemente de “troca de favores”, ela terá interesse na vitória obreira. (CF/88, art. 5º, LIV e LV). A força probante desse tal depoimento, porém, será objeto de
valoração pelo juiz, por ocasião da decisão, nos termos do art. 131 do CPC. Na hipótese, o e.
Da análise sistemática do ordenamento posto, exsurge, da própria Carta Política de 1988, que a
Regional mantém a sentença que havia indeferido a oitiva de testemunha, sob o fundamento de
tripartição dos poderes, externada por norma constitucional de primeiro grau, figura como uma
troca de favores, em razão de a reclamante ter prestado depoimento em processo movido pela
das verdades fundantes de toda sistemática jurídica.
ora testemunha, com o mesmo objeto, contra o mesmo empregador. Neste contexto, impõe-se
Por conseguinte, as Súmulas Jurisprudenciais emanadas do Poder Judiciário têm o objetivo de dar provimento ao recurso de revista, para anular o processo e determinar a sua oitiva, como
preencher as lacunas porventura existentes ou pacificar a correta interpretação acerca de informante, ante o disposto nos artigos 829 da CLT, 228, IV, e Parágrafo Único, do Código Civil
determinado dispositivo legal. Não podem, entretanto, ser utilizadas como instrumentos e 405, § 4º, do CPC. Recurso de revista provido.
legislativos, pois a prerrogativa de criar e aprovar as leis é originária de outro Poder. (grifos apostos)

Nessa trilha, a Súmula 357 do TST, conforme já explicitado, foi criada para fornecer ao julgador Por conseguinte, no caso de necessidade extrema, a testemunha arrolada, que tenha ação
uma interpretação do art. 829 da CLT, não devendo ser aplicada indiscriminadamente para trabalhista contra as mesmas reclamadas e com pedidos semelhantes, deve ser ouvida tão
todas as lides. somente na qualidade de informante, pela aplicação do art. 405, § 4º, do CPC, interpretando-se,
adequadamente, a súmula multimencionada do TST.
Assoma-se ao “simples fato” de que trata a súmula, a identidade do objeto da ação. Assim, em
verdade, não será considerada suspeita a testemunha que litiga ou já litigou com a mesma Diante de todo o exposto, fica cristalino que o judiciário trabalhista deve ser cauteloso ao
reclamada do processo que irá depor, mas, se o objeto de sua demanda é ou foi o mesmo, ela interpretar a súmula 357 do C. TST, aplicando-o para aqueles casos em que a testemunha
tem interesse na vitória do empregado. arrolada pelo autor possui ação contra a mesma reclamada, mas com pedidos diferentes.
Assim, poderá a testemunha prestar compromisso e seu depoimento servir como prova válida. A
Esse é o entendimento da doutrina, equiparando, inclusive, ao inimigo capital da parte ré aquela aplicação da súmula para todos os casos, a torto e a direito, prejudica a parte contrária e
testemunha que demanda em juízo, com semelhante pedido, contra a mesma reclamada. beneficia, de forma injusta, os empregados.
Vejamos:

“A testemunha que está em litígio contra a mesma empresa deve ser equiparada ao inimigo
capital da parte; o embate litigioso é mau ambiente para a prudência e isenção de ânimo que se
exigem da testemunha; entender de outra forma é estimular à permuta imoral de vantagens em
falsidades testemunhais mútuas, mesmo sobre fatos verdadeiros; extremamente fácil;
‘reclamante hoje, testemunha amanhã’”.

“Tem a testemunha interesse na solução do litígio quando são idênticos os pedidos que faz em
sua ação e na do processo do autor, ainda que parcialmente, não tendo isenção de ânimo para
depor, pois seu envolvimento irá influir em sua visão da realidade, externando aquilo que
entende para si devido e não o que realmente ocorreu; deixando, portanto, de haver
imparcialidade, resultando no interesse na solução da demanda que em relação a ela pretenda
ser igual”.

Aliás, acertadamente, a jurisprudência dos Tribunais Regionais, antes da edição da súmula 357,
dava conta pela suspeição da testemunha na questão em comento. Vejamos a seguinte decisão:

“Acolhimento de contradita de testemunhas, que têm em curso ação contra a mesma reclamada
e com o mesmo objetivo. Inocorrência. Interesse evidente. Suspeição destas caracterizada. Não

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