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Senhor
Director da Escola S/3 de S. Pedro,
Dr. Manuel Conceição Coutinho
VILA REAL
1. Como V. Ex.a sabe, as competências avaliativas, assim como outras, não são
exclusivamente matéria do domínio da forma, são, antes de mais, matéria do
domínio da substância. Deste modo, como V. Ex.a igualmente sabe, não é
condição suficiente a lei determinar que alguém tem competência para realizar
uma determinada função para que esse alguém passe a ter, substantivamente,
essa competência. Neste domínio, como em vários outros, aquilo que é
determinado pela lei constitui uma condição necessária, mas não constitui, de
modo algum, uma condição suficiente.
2. As senhoras professoras e o senhor professor do meu Grupo Disciplinar que
solicitaram a observação de aulas têm, seguramente, – como todos nós temos - o
direito a uma avaliação «justa, séria e credível», como é referido na lei vigente.
Todavia, para que esse direito se possa concretizar, é necessário que estejam
reunidas as condições objectivas que possibilitem a realização efectiva de uma
avaliação justa, séria e credível. Nomeadamente:
a) que os professores relatores tenham tido uma formação que os capacite para
essa função. É sabido que avaliar alunos não é o mesmo que avaliar
professores, nem isso confere competência para tal. Toda a literatura
científica, nacional e internacional, sobre a matéria o confirma e o próprio
Conselho Científico para a Avaliação de Professores também já o fez,
quando explicitou que os professores avaliadores devem ser objecto de
«uma formação especializada de carácter científico, técnico e profissional
certificado, de média ou longa duração, realizada em parceria com
instituições de ensino superior» (Recomendações N.º 5/CCAP/2009);
b) que o professor relator, a quem lhe são delegadas competências, considere
possível e se sinta capacitado para realizar uma avaliação justa, séria e
credível, através da observação de duas (ou três) aulas, num reduzido espaço
de tempo, que será tida como avaliação de um biénio.
Estas são as condições substantivas que permitem cumprir o dever de avaliar e
satisfazer o direito de ser avaliado, com justiça, seriedade e credibilidade. Não são as
condições formais (ser professor posicionado num escalão superior e ter sido objecto de
delegação de competências) que, só por si, capacitam para avaliar com justiça, seriedade
e credibilidade.
10. Reconhecerá V. Ex.a que ter-me-ia sido cómodo e fácil não me dar ao trabalho
de expor e fundamentar o problema existente e, como acima referi, fazer de
conta que tudo estava ou está bem. Teria sido cómodo e fácil, mas não seria
ética e deontologicamente aceitável.
Procedo assim, como também V. Ex.a sabe, porque tenho em alta conta os
deveres profissionais, e exactamente porque os tenho em alta conta é que não os
adultero por mais cómodo e fácil que isso possa ser.
Deste modo, com fundamento no acima exposto, solicito a V. Ex.a se digne
aceitar este meu pedido de escusa das funções de relator para que fui designado.
Respeitosos cumprimentos.