Professional Documents
Culture Documents
Ano III
www.texturadoabismo.blogspot.com.br
-1-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
A força por detrás desses três conceitos é mais do que energia, é uma pulsão motriz:
O abismo pode conter tudo, nele o vão se arroga como aberto do mundo, devorador de
horizontes, profundeza composta por paredões que ao invés de reprimir dá o sentido de
inescrutabilidade maior, dá o sentido de grandeza que abarca, o abismo é pois como um Titã
que em constante ação para realizar sua impassiva intenção, como si revelando-se igual à
consciência desvela também a grandiosidade do espírito do artista e o pacto que este tem com a
própria poesia.
O poeta então, este pactuado com o a língua, este sedutor que usa como arma o imagético
condensado, o qual extrai de dentro de si (pois dentro de si há o enorme aberto onde pode
passar, abrigar e conter tudo).
Desde tudo isso... para mim, o poeta, muitas coisas estão se revelando e velando, emanando
do abismo e para ele refluindo, em forma de sincronias, distonias e amor!
Esse fluir & refluir surge muitas vezes através de pistas no caminho que a atenção é
essencial para pegar as dicas, mas mais ainda, o deixar-se levar se mostra valioso quando se
-2-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
decide então pular no abismo, saltar dentro da noite escura, lançar-me na intermedialidade,
com a gratificação e as dádivas do abismo e da consciência que vai se auto-revelando com o
passar do tempo e do espaço cobrado.
O abismo se mostra como destino, mas como ponto de partida também, abismo-universo, e a
consciência diminui na medida de que essas amplidões se insinuam.
emt.
-3-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Ano III
2010 e.v.
- Citações no abismo:
-4-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Todas as Nuvens
Fotografando nuvens
Um passatempo niilista
que fala de azul & branco
vento, água & sol
-5-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
-6-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Três Árvores
-7-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Árvore
Como gente de pernas para o ar
Doando ao céu
Suas genitálias expostas
-8-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
-9-
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Véspera de Carnaval
Tal noite
passei em horas já escuras
colhendo o lixo dos canteiros das ruas
terrenos baldios, esquinas abandonadas, muros sem porquês
E reguei com lágrimas & suor
os espinhos acesos & eretos
das plantas soturnas
para podar dos passeios
intempéries de afinco & embriaguez
Pelas ruas
através das trilhas dos bares abarrotados
no caminho que cala a vontade imensa
Com o álcool das ilusões
eu posso sentir
o silêncio para além dos medos
Alienação ou libertação?
Vespertina espera libertina
Chegou...
- 10 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
A Estratégia de Rosana
Rosa
...riso
Ana
...água
Intensa
Rosa
...lua nova
Ana
...angélica
Intensa
espinho ameno
Sede sedação
Tua contagiante
imensa fome
de sentir
compartilhar
Amor.
- 11 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Sombras de Árvores
Fotografando sombras
Rasgando caminho por mais essa ausência
Sombra de árvores
Sombra de gente
Prédios em sombra
Sobras de alinhamentos & interposições
Quase ausência de luz & querências de visões
- 12 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Nas sombras
um repouso de silêncio não solicitado
e o esforço dos olhos por mais um significado.
- 13 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Wabi-Sabi
na boca, no canto
o olho, dissidentes
em pele
feridas na alma
trincados na parede
discreta ranhura
quase incomodo
em minha memória.
- 14 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Consciência
Consciência
Espaço/Tempo Universal;
Consciência
Distância/Duração Local;
Consciência
Flor-da-Pele Abismal;
...sentir
ser/estar
ir...
- 15 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 16 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 17 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Dois Caminhos
Caminhos retos
de quente negro asfalto
que conduz a riqueza alheia
Caminho reto
construído para chegar mais perto, mais rápido
toda a ganância ereta
- 18 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Caminho de ferro
de antiga passagem
e duro segmento
Na suas orlas me contaminou uma doença
que um dia tive que esquecer
Caminho de ferro
aguda reta
passando por toda lugar
onde pés não vão
Só ferro & Fogo & Cães.
- 19 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
22 de Julho de 2010
- 20 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Meu Vegetal
Minha Janela
Meu Plural
Minha Ayahuasca
Meu Mestre
Minha Irmã
Sincera Dissolução
Do Meu Mal
Do Meu Bem
Lembranças & Esquecimento
De Mim
De Tudo
Das Sendas do Universo
Entre Vidas
Nossas Vidas
De Todas as Dores
De Todo Amor.
- 21 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Buddhas Vegetais
O Cipó ensina:
- 22 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
...
não igual às outras noites
nesta a gata Kalkii dormiu
quieta & silente,
do meu lado.
...
& de manhã se agitou
externando um sentimento profundo dela
quando do asfalto de frente de casa
tirei esfolado outro gato.
...
& em seu luto-felino
ela chorou, com sua dor & seu medo,
uma forma de oração
para não mais cheirar a morte por ali.
...
morte que os ventos do último dia de agosto
não conseguiram levar daqui,
& ela, noite adentro,
em seu sono de luto & desalento...
- 23 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
Dia de Eleição
Sonhei
que um boi pastava grama rala em meio à areia de um deserto;
e ele defecava por ali seu esterco verde que ia adubando o deserto;
e no esterco havia um grande verme.
E havia também um cão que ficava em cima de um monte de areia
vigiando o boi,
e o cão descia e rolava no esterco e dele comia
e comia o verme também,
mas o verme não morria e vivia dentro do boi e do cão.
Sonhei então
que nesse deserto haviam se formado três filas de pessoas;
Uma fila era enorme, uma fila era grande e uma outra fila era pequena,
e as três filas pareciam rumar cada uma à uma porta diferente.
Na fila enorme
haviam homens e mulheres
e pareciam ter eles bilhetes na mão
e iam felizes como quem está na fila para ir à um show,
a maioria eram alegres e brincalhões, alguns estavam entediados e uns poucos sérios;
mas todos eles estavam sem calças porque as haviam perdido,
fato que à alguns constrangiam, mas à maioria era motivo de brincadeiras,
ao que em suas nádegas estava escrito
como se à força de correiadas e chibatadas:
“ordem e progresso”.
E lá à frente da fila enorme ia o boi,
e o boi mugia: “diiiveeeersão!”
Na fila grande
haviam homens e mulheres
e eram como palhaços, estavam fantasiados e coloridos,
uns eram mímicos, outros agiam como marionetes,
uns eram irônicos, alguns cômicos, outros estúpidos...
e eles estavam todos sem camisas
porque as tiraram para poder trocar,
e tinham no corpo escrito como com tinta de propaganda:
no peito escrito “promessa”, e nas costas escrito “interesse”.
E lá na frente dessa fila grande ia o cão,
e o cão latia: “sufrágio! sufrágio! sufrágio!”
Na fila pequena
haviam homens e mulheres
e eram como se fosse pessoas importantes e sérias,
todos vestiam roupas caras e faziam poses de enorme dignidade,
mas não mostravam o rosto, coberto que estavam por véus negros
onde se podia ler escrito em letras douradas:
“Poder e Respeito”.
E na frente dessa fila pequena estava o verme.
- 24 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
E sonhei
que as três filas seguiam para três portas:
A fila enorme rumava para a porta de um abatedouro disfarçado de curral.
A fila grande rumava para a porta de um tribunal disfarçado de circo.
A fila pequena não rumava, mas já havia atravessado a porta de um luxuoso palácio.
E na porta dos primeiros estava inscrito: “trabalho, família, pão”;
E na porta dos segundos estava inscrito: “teatro, força, propriedade”;
E na porta dos terceiros estava inscrito: “tradição, fartura, poder”.
E no sonho
eu me aproximei de uma praça no meio daquele deserto,
e lá havia uma urna funerária
e de dentro dela suas cinzas falava com uma voz digital, dizendo:
“Tudo na normalidade...
Estes são os caminhos da república...
Estas filas representam democracia...
Festa do povo...
A política é o espelho da sociedade...
A palavra de hoje é „pragmatia‟...”
- 25 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
E no sonho então
o boi com seus chifres atacou o estranho
e mugiu: “subversivo, rebelde, satânico...”,
o cão com suas presas defendeu a urna atacando o estranho
e latiu: “anarquista, desordeiro, irreverente...”,
o verme com sua astúcia penetrou no corpo estraçalhado do estranho
e verbalizou: “ridículo, desinformado, rancoroso...”
E depois de ter feito isso os três alegres de seu jeito comemoraram, em festa,
e o verme com seriedade contou ao boi em forma de noticiário:
que o verme é servo do boi e o nutre e preserva;
e o cão com carinho contou ao boi em forma de novela:
que o cão é quem defende o boi dos perigos do deserto e lida com seus dejetos;
e então o boi com canções grotescas e piadas agradeceu à eles
e pediu ao cão e ao verme em forma de oração:
que lhe desse a educação para trabalhar e ganhar dinheiro,
e a amizade para com aqueles que estavam próximos dele,
e a prosperidade do saneamento das fomes...
E no fim do sonho já
me vi só na praça deserta com o cadáver despedaçado e corroído do estranho,
enquanto uma enorme tempestade de poeira e lixo se levantava no céu;
Então o cadáver ainda murmurou para mm:
“É certo estar errado? É errado estar certo?”
E ainda em um último suspiro indagou:
“É justo ser injusto?...”
E era um dia triste, feio e onde não havia respostas para nada...
- 26 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
-Se mil platôs não formam um montanha, então porque todos meus órgãos & meus
pensamentos deveriam formar alguém? Sei de algumas coisas dispersas, que tento
ajuntar e fazer uma síntese, um suco de húmus:
- 27 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 28 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 29 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 30 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 31 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 32 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 33 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 34 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
E saio por aí
nesse curral mal asfaltado
e cimentado com a falácia da má-fé geral
que está na cidade
que é o país
que é o mundo inteiro,
E ouço o ensurdecedor ruído
dos urros bestiais
de todo este povo brasileiro
dos seres humanos em geral
Agonizando em involução;
- 35 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
RetroEspectativas
2010
Um ano para se lembrar e agradecer,
promessas de novidades para a próxima década.
20
10
11
...
Diversos „adeuses‟,
Muitos „olás‟!
- 36 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 37 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 38 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
- 39 -
A Textura desse Abismo chamado Consciência – Ano III e.m.tronconi
(Obs.: No dia 17 de Junho de 2010 foi postado no blog o panfleto-poético ‘Um Vento Bom que Sopra’,
essa micro-obra será disponibilizada em separado, como obra individual. Para acesso à esse material vide
link no Index Texturial do blog. )
Contato:
emtronconi@hotmail.com
- 40 -