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À Exma. Sra.

Presidente da

Comissão Administrativa Provisória

do Agrupamento de Escolas de Alpendorada

Nós, abaixo assinados, recentemente nomeados relatores neste Agrupamento, vimos


por este meio dar conhecimento do nosso protesto pelo desempenho do cargo a que somos
obrigados, visto não concordarmos com este modelo de avaliação.

De facto, consideramos que o actual sistema de Avaliação do Desempenho Docente


(ADD) – conforme estabelecido no Estatuto da Carreira Docente, Decreto – Lei nº 75/2010 de
23 de Junho, e regulamentado pelos Decreto Regulamentar nº 2/2010 de 23 de Junho, pelo
Despacho nº14420/2010 de 15 de Setembro e pelo Despacho 16034/2010 de 22 de Outubro –
não garante imparcialidade nem transparência no processo avaliativo, permitirá a
subjectividade e a arbitrariedade, será gerador de injustiças, conduzirá à degradação do
ambiente na escola, não avaliará a qualidade didáctica e pedagógica dos professores e,
sobretudo, não contribuirá para a melhoria da qualidade do serviço educativo e das reais
aprendizagens dos alunos.

Passamos a justificar:

1. O facto de a designação do relator não ser norteada por quaisquer princípios de mérito
e competência, a não ser pelo critério de ‘pertencer ao mesmo grupo de recrutamento
do avaliado e ter posicionamento na carreira e grau académico iguais ou superiores ao
deste, sempre que possível’ (3 do art.13º, DR 2/2010) não confere legitimidade aos
avaliadores. Prova disso é a circular B10015847T, da DGHRE, que estabelece inúmeras
situações de excepção às condições previstas na lei para o exercício das funções de
relator, e que põe em causa o único (questionável) critério da senioridade defendido
no Decreto nº2/2010 (possibilitando que praticamente qualquer professor mesmo de
grupo diferente possa assistir a aulas de outro desde que este concorde). Prova disso é
também o facto de entre nós haver mesmo quem seja simultaneamente avaliador e
avaliado!

2. Ainda que o avaliador deva ‘ser preferencialmente, detentor de formação


especializada em avaliação do desempenho’ (alínea b, ponto 3, art. 13º, DR 2/2010),
essa formação, da exclusiva responsabilidade do Ministério, e àqueles em exclusivo
destinada – isto num momento de contenção, em que não há dinheiro para os salários
dos professores – não foi facultada, o que, mesmo que se possa compreender, acentua
as deficiências do sistema.
3. As tarefas burocráticas exigidas ao professor tendem a ocupar o tempo destinado à
preparação das actividades lectivas, à construção de materiais didácticos que se
querem adequados, ao acompanhamento de projectos diversos e ao estudo que
garantiria a sua formação e actualização. Na realidade, se os avaliandos com aulas a
assistir forem muitos, não apenas o tempo de preparação e acompanhamento das
actividades lectivas fica em causa, como a própria leccionação ficará em causa, vendo-
se o relator na situação de ter que faltar às suas actividades lectivas para assistir às do
avaliado.

4. A promoção do ‘trabalho de cooperação entre docentes’ é posta em causa pelo


estabelecimento de cotas, tornando-se estas num factor de degradação do clima de
trabalho nas escolas. Quanto à contribuição “para a valorização do trabalho e da
profissão docente”, como poderia este modelo de avaliação – em que se é relator de
um seu parceiro e em que se concorre com ele por meio de cotas – contribuir para a
melhoria da função docente, se na prática, apenas vai assoberbar os professores com
tarefas extra, de modo algum didáctico-pedagógicas, a realizar em simultâneo com o
cumprimento do respectivo horário de trabalho?

5. Como é sabido, após a conclusão do processo de avaliação, apenas ‘são divulgados na


escola os resultados globais da avaliação por menção qualitativa, mediante informação
não nominativa’ (artº 33 do DR 2/2010). Isto quer dizer que há um carácter rigorosa e
estritamente confidencial e sigiloso das classificações finais de cada professor, a quem
é comunicada, por escrito, apenas a menção qualitativa. Este carácter rigorosamente
confidencial das classificações finais de cada professor revela a convicção da tutela
quanto aos efeitos arrasadores que podem advir do conhecimento de a quem foi
atribuído Muito Bom ou Excelente e do rigor quantitativo com que foram seriados.
Mais. Enquanto, no anterior modelo, o avaliado inconformado com a classificação
podia reclamar, sendo o avaliador obrigado a pedir um parecer vinculativo à comissão
de coordenação de avaliação de desempenho, entidade que (em princípio) nada tinha
a ver com a decisão, agora a apreciação da reclamação cabe unicamente aos mesmos
que tomaram a decisão reclamada. Ora, considerando que a classificação, a
reclamação e o recurso são decididos pelo mesmo círculo de pessoas (artº 22º, 23º e
24º do DR 2/2010), não estão de todo garantidas ao avaliado quaisquer possibilidades
de defesa contra classificações injustas. Deste modo, mais uma vez, fica patente o
desrespeito de quem elaborou estas normas, pelas leis gerais que regulam os
princípios da justiça, da transparência e da imparcialidade que devem presidir a todos
os actos de um Estado de Direito.

6. Parece-nos que o único objectivo deste modelo é a introdução de obstáculos à


progressão na carreira docente; como essa progressão está neste momento posta em
causa, por via do designado “congelamento”, é indicado que agora se suspenda este
modelo, até que se encontre um outro que seja justo, exequível e, sobretudo, gerador
de utilidade reconhecida.
Solicitamos à Presidente da Comissão Administrativa Provisória que se digne dar
conhecimento do presente documento às seguintes entidades:

- Gabinete da Exma. Sr.ª Ministra da Educação

- Comissão Nacional de Avaliação

- Conselho Científico para a Avaliação de Professores

- Exmo. Sr. Director da Direcção Regional do Norte

- Gabinete de Avaliação Docente da DREN

- Conselho Pedagógico do Agrupamento

- Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento

Alpendorada, 07 de Fevereiro de 2011

Os professores:

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