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NOTAS DE AULA

SEQÜENCIAS E SÉRIES DE FUNÇÕES

Cláudio Martins Mendes

Primeiro Semestre de 2006


Sumário

1 Seqüências e Séries de funções 2


1.1 Seqüências de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.2 Séries de Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3 Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.4 Representação de funções como séries de potências . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.5 Série Binomial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41

1
Capı́tulo 1

Seqüências e Séries de funções

1.1 Seqüências de Funções


Definição 1.1.1. Seja A um subconjunto de R. Se a cada natural n fizermos corresponder
uma função fn , definida em A ( isto é, fn : A → R), então (fn ) será dita seqüência de funções
.
x
Exemplo 1. Considere A = [0, ∞) e fn : A → R dadas por fn (x) = , cujos gráficos dos
n
quatro primeiros termos estão na figura a seguir.

y 6
f1
¡
¡
¡
¡ f2
¡
¡ f3
¡ f4
¡
¡ -
x0 x

Exemplo 2. Considere A = R e fn : R → R dadas por fn (x) = xn , x ∈ R cujos gráficos de


f1 , f2 e f3 encontram-se na figura a seguir.

2
f3
f2
f1
y6 ¡
¡
¡
¡
1 ¡
¡
¡
¡
¡ -
1 x

¡
¡

Observação: Para cada x0 ∈ A fixado, obtemos uma seqüência numérica (fn (x0 )) que
pode ou não ser uma seqüência numérica convergente.

Definição 1.1.2. Seja (fn ) uma seqüência de funções definidas em A, subconjunto de R.


Seja B ⊂ A e f uma função com valores reais, definida em um conjunto contendo B. Di-
zemos que a seqüência (fn ) converge sobre B para f se para cada x ∈ B, fixo, a seqüência
numérica (fn (x)) converge para f (x). Neste caso chamaremos a função f de limite, sobre B,
da seqüência (fn ).

Notação: (fn ) → f sobre B ou lim fn = f sobre B.


n→∞
Observação 1: Notemos que f está univocamente determinada, isto é, é de fato uma função.
Observação 2: [(fn ) → f sobre B ] ⇔ [ Para cada x ∈ B e para cada ² > 0, ∃N0 ∈ N,
N0 = N0 (², x), tal que para n ≥ N0 temos |fn (x) − f (x)| < ² ]
Observação 3: Este tipo de convergência de seqüência de funções é chamado também de
convergência ponto a ponto.
x
Exemplo 1. Consideremos A = R e fn : R → R dadas por fn (x) = .
x n
Fixado x ∈ R temos que lim fn (x) = lim = 0. Logo, tomando-se f : R → R dada por
n→∞ n→∞ n
f (x) = 0, temos que (fn ) → f sobre R, ponto a ponto.

3
y 6
f1
¡
¡
¡
¡ f2
¡
¡ f3
¡ f4
¡
¡ f -
¡ x0 x
¡
¡
¡

Exemplo 2. Consideremos A = [0, 1] e fn : A → R dadas por fn (x) = xn .


Fixado x ∈ A temos que
(i) Se x = 1 então lim fn (1) = lim 1n = 1.
n→∞ n→∞

(ii) Se 0 ≤ x < 1 então lim fn (x) = lim xn = 0.


n→∞ n→∞ 
 0 , se x 6= 0
Logo, tomando-se f : A → R dada por f (x) =
 1 , se x = 1
temos que (fn ) → f sobre B = A = [0, 1], ponto a ponto.

y6

1 ¡
¡
f1 ¡
¡
¡
¡ f2
¡
¡
¡ f3
¡
¡
¡ -
x0 1 x

x2 + nx
Exemplo 3. Consideremos A = R e fn : R → R dadas por fn (x) = .
n
x2
Fixado x ∈ R temos que lim fn (x) = lim + x = x. Logo, tomando-se f : R → R dada
n→∞ n→∞ n
por f (x) = x, temos que (fn ) → f sobre R, ponto a ponto.

4
y
6
f1 f2

¡f
¡
¡
¡
¡
¡
¡
¡ -
¡ x0 x
¡
¡
¡
¡

1
Exemplo 4. Consideremos A = R e fn : R → R dadas por fn (x) = sen (nx + n).
n
1
Fixado x ∈ R temos que lim fn (x) = lim sen (nx + n) = 0. Logo, tomando-se f : R → R
n→∞ n→∞ n
dada por f (x) = 0, temos que (fn ) → f em B = R, ponto a ponto.

f1

f2
f
-
x0 x
f3

Trabalharemos agora com um outro tipo de convergência para seqüências de funções.

Definição 1.1.3. Uma seqüência de funções (fn ) definidas em A ⊂ R ( isto é, fn : A → R),
converge uniformente em B ⊂ A para uma função f : B → R se para cada ² > 0 dado, existe
N0 = N0 (²) ∈ N tal que se n ≥ N0 então |fn (x) − f (x)| < ², ∀x ∈ B.

Observação 1. Notemos que escrever |fn (x) − f (x)| < ² é equivalente a escrever
−² < fn (x) − f (x) < ² ou ainda f (x) − ² < fn (x) < f (x) + ². Assim, fn satisfaz a condição
acima se e somente se seu gráfico está contido no ”tubinho”de raio ² em torno do gráfico da
função f (vide figura a seguir).

5
y 6

²6

?
6 fn
²
f
?

-
x

Observação 2. Segue imediatamente das definições que convergência uniforme implica em


convergência ponto a ponto. A recı́proca é falsa, como mostram os exemplos a seguir.

x
Exemplo 1. Sejam A = R e fn : R → R dada por fn (x) = .
n
Observemos que (fn ) → 0 quando n → ∞, isto é, a seqüência (fn ) converge ponto a ponto
para a função f (x) = 0 em R. Porém a convergência não é uniforme em R. De fato,
suponhamos, por absurdo, que (fn ) → 0 uniformemente em R. Então, dado por exemplo,
x
² = 1, deveria existir um N0 ∈ N tal que se n ≥ N0 então | − 0| < 1, para todo x ∈ R. Em
x n
particular | | < 1, ∀x ∈ R ou equivalentemente |x| < N0 , ∀x ∈ R, o que é um absurdo.
N0
Portanto não existe um N0 ∈ N tal que |fn (x) − f (x)| < ² = 1, ∀x ∈ R. Logo a convergência
não é uniforme.

y6 f1
¡
¡
¡ f2
¡ fn
¡
¡
¡ ²6
¡ ? -
n² x0 6 x
¡ ²
¡ ?
¡
¡
¡
¡

x
Exemplo 2. Consideremos A = [0, 10] e fn : A → R dada por fn (x) =
.
n
Observemos que como no caso anterior (fn ) → f = 0, ponto a ponto sobre A = [0, 10].
Analisemos se a convergência é uniforme. Para isto, dado ² > 0 tomemos N0 ∈ N tal que

6
10 x 10 10
N0 > . Então, se n > N0 temos |fn (x) − f (x)| = | | ≤ ≤ < ² mostrando que
² n n N0
(fn ) → f , uniformemente sobre A = [0, 10].
Notemos aqui que o mesmo tipo de raciocı́nio poderia ser usado para o caso de A = [a, b]
qualquer.

y6 ¡ f1
¡
¡
¡
¡ f2
¡
¡ f3
¡
¡ fn 6
²
¡ ? -
10 6 x
²
?

Exemplo 3. Consideremos
 A = [0, 1], fn : A → R, dada por fn (x) = xn e f : A → R,
 0 , se x < 1
definida por f (x) =
 1 , se x = 1
Observemos que (fn ) → f pontualmente em A = [0, 1], mas a convergência não é uniforme.
De fato, suponhamos, por absurdo, que a convergência seja uniforme.
Dado ² tal que 0 < ² < 1.
Por maior que seja n tomamos x0 ∈ [0, 1] tal que ²1/n < x0 < 1
Logo, |fn (x0 ) − f (x0 )| = |xn0 − 0| = xn0 > ²
Portanto, a convergência não é uniforme.

y6

1 ¡ fn (x) = xn
¡
¡ ¡µ
¡ ¡
¡ ¡
¡
¡
¡
¡ 6
¡ ²
¡ ? -
1/n
² x0 1 6 x
²
?

7
Mais adiante, usando outro argumento, veremos que esta convergência não pode ser uni-
forme.
x2 + nx
Exemplo 4. Consideremos A = R, fn : R → R dada por fn (x) = ef :R→R
n
definida por f (x) = x.
Observemos que (fn ) → f ponto a ponto em R mas não converge uniformemente (exercı́cio).

y6
fn f1
¡
¡
¡ ¡f
¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡ -
¡ ¡ ¡ x0 x
¡ ¡ ¡
¡ ¡ ¡
¡
¡² 6
¡ ¡
¡ ¡
?
¡ 6¡
¡²
¡
?
¡
¡ 1
Exemplo 5. Consideremos A = R, fn : R → R, dada por fn (x) = sen (nx + n)
n
e f : R → R, definida por f (x) = 0.
Então (fn ) → f uniformemente em A = R (exercı́cio).
1 1
Sugestão: | sen (nx + n)| ≤ , ∀x ∈ R.
n n

f1

6
² f2
f
? -
6 x
² fn
?

Exemplo 6. Sejam  A = [0, ∞), fn : A → R, dadas pelos gráficos a seguir e f : A → R


 0 , se x 6= 0
definida por f (x) =
 1 , se x = 0

8
Neste caso, (fn ) → f ponto a ponto sobre A, mas a convergência não é uniforme (Tente veri-
ficar). Mais adiante teremos uma outra maneira de comprovar que neste caso a convergência
não pode ser uniforme.

y 6
1
@
@
@
@ f
@1
f2 @
@
f3 @
@
6 @
² @
? @ f -
6 x0 1 1 1
x
3 2
²
?

 1 − 1 |x| , se |x| < n
n
Exemplo 7. Sejam A = R e fn : R → R, definida por f( x) =
 0 , se |x| ≥ n

e f : R → R dada por f (x) = 1, ∀x ∈ R.


Então (fn ) → f ponto a ponto sobre R, mas não uniformemente em R. (Tente resolver)

y6

1 6²
? f
¡@ 6²
¡ @ ?
¡ f1@ f2 fn
¡ @ -
−n −2 −1 1 x0 2 n x

1
Exemplo 8. Consideremos A = (0, 1], fn : A → R, dada por fn (x) = e f : A → R,
nx
definida por f (x) = 0, para todo x ∈ A.
Então (fn ) → f pontualmente em A, mas não converge uniformemente em A.
De fato, suponhamos, por absurdo, que a convergência fosse uniforme. Logo, dado por
1
exemplo ² = , existiria um N0 ∈ N tal que para todo n ≥ N0 terı́amos |fn (x) − f (x)| < 1/2,
2
1 1
para todo x ∈ A = (0, 1], isto é, | | < , ∀x ∈ A = (0, 1].
nx 2
1 1
Assim, em particular, | | < , ∀x ∈ A = (0, 1] .
N0 x 2

9
1 N0
Logo, 0 < x< , ∀x ∈ (0, 1], o que é um absurdo. Portanto não existe tal N0 , isto é, a
x 2
convergência não é uniforme.

y6

f1

f2
² 6
? f fn
-
x0 1 x
² 6
?

A seguir vamos apresentar algumas resultados baseados na noção de convergência uni-


forme.

Teorema 1.1.4. Suponhamos que (fn ) seja uma seqüência de funções integráveis sobre [a, b]
e que (fn ) → f uniformemente sobre [a, b], com f integrável sobre [a, b]. Então
Z b Z b
f (x) dx = lim fn (x) dx
a n→∞ a

ou seja Z Z
b b
lim fn (x) dx = lim fn (x) dx
a n→∞ n→∞ a
Prova:

Dado ² > 0, como (fn ) → f uniformemente sobre [a, b], existe N0 = N0 (²) ∈ N tal que se
²
n ≥ N0 então |fn (x) − f (x)| < para todo x ∈ [a, b]. Logo, se n ≥ N0 , temos:
b−a
Z b Z b Z b
| fn (x) dx − f (x) dx| = | (fn (x) − f (x)) dx|
a a a
Z b Z b
²
≤ |fn (x) − f (x)| dx ≤ dx = ²
a a b−a

Assim, Z Z
b b
lim fn (x) dx = f (x) dx
n→∞ a a
¤

10
Teorema 1.1.5. Suponhamos que (fn ) seja uma seqüência de funções contı́nuas sobre [a, b]
convergindo uniformemente sobre [a, b] para f . Então f é também contı́nua sobre [a, b].

Prova:

Precisamos mostrar que f é contı́nua para cada x ∈ [a, b]. Faremos a demonstração quando
x ∈ (a, b). Os casos x = a ou x = b são simples adaptações do caso que faremos,por isso
serão deixados como exercı́cio.
Dado ² > 0, do fato que fn → f uniformemente em [a, b], segue que existe N0 = N0 (²) ∈ N
²
tal que se n ≥ N0 temos |fn (y) − f (y)| < , ∀y ∈ [a, b].
² 3
Em particular, |fN0 (y) − f (y)| < , ∀y ∈ [a, b].
3 ²
Como fN0 é contı́nua em x, existe δ > 0 tal que se |h| < δ então |fN0 (x + h) − fN0 (x)| < .
3
Assim, se |h| < δ temos:

|f (x + h) − f (x)| = |f (x + h) − fN0 (x + h) + fN0 (x + h) − fN0 (x) + fN0 (x) − f (x)|

≤ |f (x + h) − fN0 (x + h)| + |fN0 (x + h) − fN0 (x)| + |fN0 (x) − f (x)|


² ² ²
< + + = ².
3 3 3

Portanto, lim f (x + h) = f (x), isto é, f é contı́nua em x. ¤


h→0

Observação: Tendo em vista os dois teoremas anteriores, podemos pensar que algo se-
melhante vale para funções diferenciáveis. Isto é: se (fn ) é uma seqüência de funções dife-
renciáveis sobre [a, b] convergindo uniformemente para f sobre [a, b] então f é diferenciável
em [a, b] e f 0 = lim fn0 . Isto não é verdadeiro em geral, como mostram os dois exemplos a
n→∞
seguir.

Exemplo 1. Consideremos a seqüência (fn ) dadas pelos seus gráficos a seguir, definidas
em R e f (x) = |x| , x ∈ R.
Observemos que (fn ) → f uniformemente sobre R e que apesar das fn serem todas dife-
renciáveis f não é.

11
@ ¡
²6
@ y6 ¡ f
@
@? @ ¡ ¡
²6
@ ¡ ¡
@ @ ¡ ¡ ¡
@? @ @ ¡ ¡
@ f1 ¡
@ @ ¡ ¡ ¡
@ @ @ f2
@ ¡ ¡ ¡
@ @ f3 ¡ ¡ ¡
@ @ @
@ f ¡ ¡ ¡
@ n@¡ ¡ ¡
@ @ ¡ ¡
@ @¡ ¡ -
@ x
@ ¡

Exemplo 2. Mesmo se f for diferenciável, podemos não ter a igualdade f 0 (x) = lim fn0 (x).
n→∞
1 2
De fato, consideremos fn : R → R dada por fn (x) = .sen (n x) e f : R → R definida
n
por f (x) = 0, x ∈ R.
Observemos que apesar de fn → f uniformemente em R e f ser diferenciável, não temos
lim fn0 (x) = f 0 (x), pois fn0 (x) = n cos(n2 x) e este limite nem sempre existe ( por exemplo,
n→∞
ele não existe quando x = 0).

y6 f1

6 fn
²

? f-
x f2
6
²
?

Vejamos então qual é o resultado que permanece para o caso da diferenciabilidade.

Teorema 1.1.6. Suponhamos que (fn ) seja uma seqüência de funções diferenciáveis sobre
[a, b] e que (fn ) converge ponto a ponto sobre [a, b] para f . Suponhamos ainda que (fn0 )
converge uniformemente sobre [a, b] para alguma função g e que fn0 seja contı́nua, ∀n ∈ N.
Então f é diferenciável sobre [a, b] e

f 0 (x) = lim fn0 (x)


n→∞

12
ou seja,
[ lim fn (x)]0 = lim fn0 (x)
n→∞ n→∞

Prova:

Do teorema anterior, g é contı́nua sobre [a, b]. Aplicando o teorema 1.2.4 ao intervalo [a, x]
temos:
Z x Z x
g(t) dt = lim fn0 (t) dt = lim [fn (x) − fn (a)]
a n→∞ a n→∞

= f (x) − f (a)

onde, na segunda igualdade aplicamos o Teorema Fundamental do Cálculo.


Agora, Z x
f (x) − f (a) = g(t) dt = G(x) − G(a)
a

onde G(x) é tal que G0 (x) = g(x) (Teorema Fundamental do Cálculo).


Assim
f 0 (x) = G0 (x) = g(x) = lim fn0 (x), ∀x ∈ [a, b]
n→∞

. ¤

1.2 Séries de Funções


Definição 1.2.1. Dada a seqüência de funções (fn ) definidas em A ⊂ R podemos construir
n
X
uma outra seqüência de funções (Sn (x)) tal que Sn (x) = f1 (x) + · · · + fn (x) = fk (x). Tal
k=1

X
seqüência é denominada série de funções associada à seqüência (fn ) e indicada por fn .
n=1

Observação: Para cada x0 ∈ A a série (Sn (x0 )) é uma série numérica.



X
Definição 1.2.2. Diremos que a série de funções fn converge pontualmente para
n=1
f em A se a seqüência de funções (Sn ) converge pontualmente para f , isto é, se para cada

X
x ∈ A a série numérica fn (x) converge para f (x).
n=1

X
Definição 1.2.3. Diremos que a série de funções fn converge uniformemente para
n=1
f em A se a seqüência de funções (Sn ) converge uniformemente para f em A.

13
Antes de exibirmos alguns exemplos de convergência de séries de funções daremos alguns
resultados que serão úteis em várias situações. O primeiro deles é conseqüência imediata dos
teoremas anteriores, a saber:

X
Corolário 1.2.4. Seja fn série de funções uniformemente convergente sobre [a, b] para
n=1

X
f , isto é, f = fn .
n=1
(i) Se cada uma das funções fn for contı́nua sobre [a, b] então f é contı́nua sobre [a, b].
(ii) Se f e as fn forem integráveis em [a, b], então
Z b ∞ Z
X b
f (t) dt = fn (t) dt
a n=1 a

isto é,
Z bX
∞ ∞ Z
X b
fn (t) dt = fn (t) dt
a n=1 n=1 a

ou seja, a série pode ser integrada termo a termo.


Ainda:

X ∞
X
(iii) Se fn converge (ponto a ponto) para f sobre [a, b] e fn0 converge uniformemente
n=1 n=1
sobre [a, b] para alguma função, com fn0 contı́nuas sobre [a, b], então

X
0
f (x) = fn0 (x), ∀x ∈ [a, b]
n=1

isto é,
X∞ ∞
X
( fn )0 (x) = fn0 (x)
n=1 n=1

ou seja, a série pode ser derivada termo a termo.

Prova:

De (i):
f será o limite uniforme da seqüência de funções contı́nuas f1 , f1 + f2 , f1 + f2 + f3 , · · · . Pelo
teorema 1.1.5 f será contı́nua.

De (ii):
Como f1 , f1 + f2 , f1 + f2 + f3 , · · · , converge uniformemente sobre [a, b] para f temos:

14
Z b Z bX
∞ Z b k
X Teo.1.1.4
f (t) dt = fn (t) dt = lim fn (t) dt =
a a n=1 a k→∞ n=1
Z bX
k Xk Z b
= lim fn (t) dt = lim fn (t) dt =
k→∞ a n=1 k→∞ a
n=1
∞ Z
X b
= fn (t) dt
n=1 a

De (iii):
Cada função f1 + · · · + fn é diferenciável, com derivada f10 + · · · + fn0 contı́nua.
Por hipótese, a seqüência f10 , f10 + f20 , f10 + f20 + f30 , · · · converge uniformemente sobre [a, b]
para uma função.
Pelo Teorema 1.1.6:

X
f 0 (x) = lim (f10 (x) + f20 (x) = · · · + fn0 (x)) = fn0 (x)
n→∞
1

isto é,
X∞ ∞
X
0
( fn ) (x) = fn0 (x)
n=1 n=1

Observação: Até aqui este corolário pode ter restrições em suas aplicações, desde que temos
dificuldades para dizer quando a seqüência f1 , f1 + f2 , f1 + f2 + f3 , · · · converge uniforme-
mente. O resultado a seguir fornecerá a mais importante condição que assegura convergência
uniforme.

Teorema 1.2.5. (Critério de Weierstrass ou Teste M de Weierstrass)


Seja (fn ) uma seqüência de funções definidas em A ⊂ R. Suponhamos que exista uma
seqüência numérica (Mn ), tal que

|fn (x)| ≤ Mn , ∀x ∈ A

X ∞
X
Se a série numérica Mn for convergente, então a série de funções fn converge absoluta
n=1 n=1
e uniformemente para uma função f em A.

15
Prova:

X
Como a série numérica Mn converge, segue, do critério da comparação, que para cada
n=1

X ∞
X
x ∈ A a série |fn (x)| converge. Logo, a série fn converge absolutamente para uma
n=1 n=1

X
função f em A, isto é, f (x) = fn (x).
n=1
Para todo x ∈ A temos:

X N
X ∞
X
|f (x) − SN (x)| = | fn (x) − fn (x)| = | fn (x) |
n=1 n=1 n=N +1
X∞ ∞
X
≤ |fn (x)| ≤ Mn
n=N +1 n=N +1


X ∞
X
Como Mn converge, o número Mn pode ser tomado arbitrariamente pequeno, to-
1 n=N +1
X∞ ∞
X
mando N suficientemente grande. ( Mn − (M1 + · · · + Mn ) = Mn )
n=1 n=N +1

X
ou seja: dado ² > 0 existe N0 ∈ N tal que se n ≥ N0 , então Mn < ², assim, para n ≥ N0
n=N +1
temos:

X
|f (x) − SN (x)| ≤ Mn < ² , ∀x ∈ A
n=N +1

X
o que implica que a série fn converge uniformemente para f em A. ¤
n=1

xn
Exemplo 1. Consideremos A = [−1, 1] e fn : R → R dada por fn (x) = 2n
, n = 0, 1, 2, · · · .
Observemos que para todo x ∈ A = [−1, 1] temos
xn 1
|fn (x)| = | n
|≤ n
2 2
P∞ 1
Mas a série numérica n=0 2nconverge (série geométrica de razão 12 ). Então, pelo Critério de
P xn
Weierstrass, a série de funções ∞ n=0 2n converge uniforme e absolutamente para uma função

f em [−1, 1].
Neste caso particular podemos obter a função f explicitamente observando que

X X∞
xn x 1 2
n
= ( )n = x =
n=0
2 n=0
2 1− 2
2−x

16

X xn
Exemplo 2. A série de funções converge uniformemente em qualquer intervalo da
n=1
n!
forma [−a, a].
xn
De fato, se fn (x) = n!
temos
xn an
|fn (x)| = |
|≤ , ∀x ∈ [−a, a]
n! n!
X∞
an
Do Critério da razão a série numérica converge. Assim segue do Critério de Weiers-
n!
P n=1
trass que a série de funções ∞ xn
n=1 n! converge uniformemente em [−a, a].

X∞
sen (nx)
Exemplo 3. A série n
converge uniformemente em R.
n=1
3

sen (nx)
De fato, se fn (x) = temos:
3n
sen (nx) 1
| n
| ≤ n , ∀x ∈ R e ∀n ∈ N
3 3

X 1
A série numérica converge ( série geométrica de razão 1/3). Logo, do Critério de
n=1
3n
X∞
sen (nx)
Weierstrass, segue que a série de funções converge uniformemente em R.
n=1
3n
X ∞
sen (nx)
Exemplo 4. A série pode ser derivada termo a termo em R.
n=1
n3
sen (nx)
Consideremos fn (x) = , x ∈ R.
n3
cos(nx)
Observemos que as fn são diferenciáveis em R e que fn0 (x) = 2
, são contı́nuas em R.

n
X sen (nx)
Observemos também que a série converge sobre R. Para tal, notemos que
n=1
n3
sen (nx) 1
| | ≤ , ∀x ∈ R.
n3 n3
X∞ X∞
1 sen (nx)
e que 3
converge. Assim, pelo Critério de Weierstrass, temos que a série
n=1
n n=1
n3
converge (absolutamente) em R.


X cos(nx)
Ainda, a série converge uniformemente sobre R.
n=1
n2
De fato:
cos(nx) 1
| 2
| ≤ 2 , ∀x ∈ R.
n n
17
X∞
1
Sabemos também que a série converge. Assim, pelo Criério de Weierstrass, a série
n=1
n2
X∞
cos(nx)
2
converge uniformemente sobre R
n=1
n

Com todas estas verificações, a série dada inicialmente pode ser derivada termo a termo,
ou seja
X ∞ ∞ ∞
sen (nx) 0 X sen (nx) 0 X cos(nx)
( ) = ( ) =
n=1
n3 n=1
n3 n=1
n2
para todo x ∈ R.

Exercı́cios propostos

1. Seja (fn ) sequência de funções definidas em [0, 1] de tal modo que:




 2n2 x, se 0 ≤ x ≤ 1/2n


1
fn (x) = −2n2 (x − ), se 1/2n ≤ x ≤ 1/n

 n

 0, se 1/n ≤ x ≤ 1

(a) Desenhe o gráfico de fn


(b) Mostre que lim fn (x) existe para cada x ∈ [0, 1], fixo arbitrariamente.
n→∞
Z 1 Z 1
(c) Calcule lim ( fn (x) dx) e ( lim fn (x)) dx
n→∞ 0 0 n→∞
(d) Deduza de (c) que a convergência de (fn (x)) não é uniforme em [0, 1]

2. Verifique a convergência e a convergência uniforme da série



X x
S(x) = , x≥0
0
(1 + x)n

X∞
sen (nx)
3. Seja F (x) = 3
. Prove que:
1
n
(a) F (x) é contı́nua, para todo x ∈ R
(b) lim F (x) = 0.
x→0

X cos(nx)
(c) F 0 (x) = 2
é contı́nua, para todo x ∈ R
1
n
2
4. Seja Sn (x) = nxe−nx Z ,1 x ∈ [0, 1]. Z 1
(a) Verificar se lim ( Sn (x) dx) = ( lim Sn (x)) dx
n→∞ 0 0 n→∞
(b) A convergência é uniforme ?

18
nx
5. Seja fn (x) = 2 2
, x ∈ [0, 1]. Pede-se:
Z 1 1+n x
(a) lim ( fn (x) dx)
n→∞ 0
Z 1
(b) ( lim fn (x)) dx)
0 n→∞

(c) Mostre que a convergência não é uniforme.

1.3 Séries de Potências


Nesta seção iremos trabalhar com um tipo especial de séries de funções, chamadas séries de
potências.
1
Vimos que: 1 + x + x2 + · · · + xn + · · · = , |x| < 1 .
1−x
1
Fazendo f (x) = 1−x , então f (x) = 1 + x + · · · + xn + · · · .
Dizemos: f é representada por esta série de potências. Por exemplo:
µ ¶ µ ¶n
1 1 1 1
f = 1 + + ··· + + ··· = = 2.
2 2 2 1 − 12

X
Definição 1.3.1. Uma série de funções da forma an (x − c)n , x ∈ R é dita uma
n=0
série de potências centrada em c . c é dito centro da série e a0 , a1 , . . . são ditos
coeficientes da série.

Por comodidade iremos trabalhar com séries de potências centradas em 0 , mas os resultados

X
que obteremos serão gerais. Temos então an xn .
0


X
Teorema 1.3.2. Se an xn converge em x1 , x1 6= 0 , então ela é absolutamente conver-
0
gente em todo x tal que |x| < |x1 | .

Prova: Seja x fixado tal que |x| < |x1 |.

?
−|x1 | 0 x |x |
1


X
an xn1 converge ⇒ (an xn1 ) → 0 ⇒ ∃ M tal que |an xn1 | < M , para todo n .
0

19
¯ ¯ ¯ ¯n ¯ ¯n
¯ n¯
n x1 ¯
¯x¯ ¯x¯
0 ≤ |an x | = ¯an x n ¯ = |an x1 | · ¯ ¯ < M ¯¯ ¯¯ .
n ¯ n ¯ ¯
x1 x1 x1
X∞ ¯ ¯
¯ x ¯n
Ainda M ¯¯ ¯¯ converge (série geométrica de razão com módulo < 1).
0
x1
X X
Pelo Critério da Comparação |an xn | converge. Assim an xn converge absoluta-
mente. ¤

X
Corolário 1.3.3. Se an xn diverge em x1 então ela diverge para todo x tal que |x| > |x1 | .

Prova: Por absurdo

?
−|x1 | 0 |x1 | x

Se fosse convergente no ponto x , pelo Teorema anterior, também seria no ponto x1 (contra
hipótese). ¤

Pelos 2 resultados anteriores temos então 3 possibilidades:


X
(a) A série an xn só é convergente em x = 0 .
X∞
Exemplo: n!xn = 1 + x + 2!x2 + 3!x3 + 4!x4 + · · ·
0
para x = 0
1 + 0 + 0 + 0··· temos convergência.

para x 6= 0
(n + 1)! |xn+1 |
= (n + 1) · |x| → ∞ .
n! |xn | |{z}
6= 0

Pelo Critério da Razão Geral temos que a série é divergente em x , ∀ x 6= 0 .


Portanto só é convergente em x = 0 .

X
(b) A série an xn converge em R .
0

X xn
Exemplo:
0
n!

20
Seja x fixo, x 6= 0 (o caso x = 0 é trivial)
|xn+1 |
(n + 1)! |x|
n = → 0.
|x | n+1
n!
Pelo Critério da Razão temos convergência absoluta e então convergência.
Portanto converge em R .

(c) Existe um número real R tal que a série converge sobre (−R, R) e diverge sobre
(−∞, −R) ∪ (R, ∞).
X∞
Exemplo: xn
0
Série Geométrica de razão x . Logo:

convergente se |x| < 1


divergente se |x| ≥ 1 .

No caso (a) dizemos que a série de potências tem raio de convergência zero ou intervalo
de convergência reduzido a um ponto

Notação: R = 0

No caso (b) dizemos que a série de potências tem raio de convergência infinito ou
intervalo de convergência igual a reta toda

Notação: R = ∞
P
No caso (c) temos que o conjunto {x ; an xn converge} é limitado e ainda contém um
ponto 6= 0.
P
Seja R = sup {x ; an xn converge}. Dizemos que R é o raio de convergência.

div. conv. abs. div. conv. abs. ¾ conv. abs. -


A¢ A¢ ?
−R 0 R 0 0

R>0 R=0 R=∞

21
Obs. Não temos informação sobre o comportamento da série em −R e R . Temos que
verificar isto diretamente, se quisermos concluir alguma coisa a este respeito.

Exemplos:

X
1. xn . R = 1. Em x = ±1 diverge.
0


X xn
2. . Seja x fixo arbitrariamente.
1
n

|x|n+1
n + 1 = n · |x| → |x| quando n → ∞ .
|x|n n+1
n
Assim, pelo Critério da Razão Geral, temos:
|x| < 1 - série absolutamente convergente.
|x| > 1 - série divergente.
X1
Em x = 1 temos a série - divergente.
n
X (−1)n
Em x = −1 temos a série - convergente.
n
Portanto, raio de convergência: R = 1 ; intervalo de convergência: [−1, 1) .

X xn
3. (−1)n . Análogo ao anterior.
1
n
Intervalo de convergência: (−1, 1] .

X xn
4. . R = 1.
1
n2
X 1
Em x = 1 temos a série - absolutamente convergente.
n2
X (−1)n
Em x = −1 temos a série - absolutamente convergente.
n2
Intervalo de convergência: [−1, 1] .

Exercı́cios:

X
1. Encontre o intervalo de convergência da série 4n x2n .
0
Resolução: Seja x fixo arbitrariamente.
4n+1 x2(n+1)
Temos uma série numérica de termos ≥ 0 , = 4x2 .
4n x2n
Pelo Critério da Razão:

22
4x2 < 1 - série absolutamente convergente.
4x2 > 1 - série divergente.
∞ µ ¶2n X ∞
1 1 X n 1
Logo, R = . Em x = ± : 4 ± = 1 - divergente.
2 2 0 2
µ ¶ 0
1 1
Portanto, intervalo de convergência: − , .
2 2

X ∞
X
n 2n
¡ ¢n
Obs. Poderia ter sido feito assim: 4 x = 4x2 - série geométrica de razão
0 0
1
4x2 . Logo convergente ⇔ |4x2 | < 1 ⇔ |x| < .
2

X 1
2. Determine o intervalo de convergência da série (−1)n n (2x + 1)n .
1
n5
Resolução: Façamos a mudança 2x + 1 = y .

X yn
Então: (−1)n n .
1
n5
Seja y ∈ R , fixado.
|y|n+1
(n + 1) · 5n+1 n |y| |y|
n = → , com n → ∞ .
|y| n+1 5 5
n · 5n
Pelo Critério da Razão Geral temos:
|y|
• Série absolutamente convergente se < 1,
5
|y|
• Série divergente se > 1,
5
mas y = 2x + 1 e assim |2x + 1| < 5 ⇔ −5 < 2x + 1 < 5 ⇔ −6 < 2x < 4 ⇔
−3 < x < 2 .

Logo:
−3 < x < 2 - temos série absolutamente convergente.
x < −3 ou x > 2 - temos série divergente.
P n P1
n (−1)
Em x = −3 temos a série (−1) = - divergente.
n
n n
P (−1)
Em x = 2 temos a série - convergente.
n
Portanto, intervalo de convergência = (−3, 2] .

23
// //

X
A soma de uma série de potências é uma função f (x) = an (x − c)n , cujo domı́nio é o
0
intervalo de convergência da série.
Podemos perguntar: f é integrável ? f é contı́nua ? f é diferenciável ? Os Teoremas
a seguir fornecem as respostas.


X
Teorema 1.3.4. Se a série de potências an xn tem raio de convergência R > 0, então ela
0
converge uniformemente em qualquer intervalo limitado [a, b] contido em (−R, R).,

Prova

É possı́vel escolher x0 ∈ (−R, R ) tal que |x| < |x0 | , ∀x ∈ [a, b]


X
n
Assim: |an x | < |an xn0 |, ∀x ∈ [a, b]. Como an xn0 converge temos, pelo Critério de
0

X
Weierstrass, que an xn converge uniformemente sobre [a, b]. ¤
0


X
Teorema 1.3.5. Se a série de potências an xn tem raio de convergência R > 0, então a
0

X
sua função soma S(x) = an xn é contı́nua em (−R, R ).
0
Prova

Fixemos x0 ∈ (−R, R ). Existe h > 0 tal que I = [x0 − h, x0 + h] ⊂ (−R, R ).


Pelo Teorema anterior, a convergência é uniforme em I.
Pelo Corolário 1.2.4 S(x) é contı́nua em I, em particular em x0 . Como x0 foi tomado arbi-
trariamente em (−R, R) temos que S(x) é contı́nua em (−R, R ). ¤

Teorema 1.3.6. (Integrabilidade da soma)



X ∞
X
Se an xn tem raio de convergência R > 0 então a sua função soma S(x) = an xn é
0 0
integrá vel sobre qualquer intervalo [a, b] contido em (−R, R) e
Z b X ∞ X∞
n an
( an x ) dx = (bn−1 − an−1 )
a 0 0
n + 1

24
Prova

Basta aplicarmos o corolário 1.2.4 e o teorema anterior. ¤


X ∞
X
n
Teorema 1.3.7. Se a série de potências an x converge para |x| < R então nan xn−1
0 1
também converge para |x| < R

Prova

Seja x0 fixado tal que 0 6= |x0 | < R. Tomemos x1 tal que |x0 | < |x1 | < R
|x0 |
Consideremos r = <1
|x1 |

X
n
Observemos que (nr ) → 0, uma vez que nxn tem raio de convergência R = 1
0
nrn
Logo existe N0 ∈ N tal que n ≥ N0 ⇒ ( ≤1)
|x0 |
¯ ¯
¯ nan xn1 x ¯ nrn
Assim: |nan x0 | = ¯¯ . ( ) ¯¯ =
n−1 0 n
. |an xn1 | < |an xn1 |, para n ≥ N0
x0 x1 |x0 |

X X∞
n
Como ainda |an x1 | converge, temos pelo Critério da Comparação que nan x0n−1 con-
0 1
verge absolutamente. ¤

Teorema 1.3.8. (Diferenciabilidade da soma)



X ∞
X
n
Se an x tem raio de convergência R > 0 então a função soma S(x) = an xn é dife-
0 0
renciável em (−R, R ) e

X
S 0 (x) = nan xn−1 , ∀x ∈ (−R, R )
1
Prova

Seja x0 ∈ (−R, R ). Tomemos I = [x0 − h, x0 + h] ⊂ (−R, R ).


X∞ ∞
X
n
Então an x e nan xn−1 são uniformemente convergentes em I e assim podemos derivar
0 1
termo a termo em I, em particular em x0 . Portanto, temos diferenciabilidade em I. ¤

Observação : O Teorema anterior afirma que o raio de convergência permanece o mesmo. Isto
não significa que o intervalo de convergência permaneça o mesmo.

25

X xn
Exemplo: Considere f (x) = .
1
n2
0 00
Encontre o intervalo de convergência para f , f e f .

// //

Suponhamos que f seja uma função que possa ser representada por uma série de potências
com centro em c ∈ R. (Voltaremos a trabalhar com séries de potências de centro em c)

(∗) f (x) = a0 + a1 (x − c) + a2 (x − c)2 + a3 (x − c)3 + · · · , |x − c| < R


Perguntamos: an = ?
Vejamos:
Colocando x = c , obtemos f (c) = a0 .
Derivando (∗):

0
(∗∗) f (x) = a1 + 2a2 (x − c) + 3a3 (x − c)2 + · · · ; |x − c| < R
0
Colocando x = c , obtemos f (c) = a1 .
Derivando (∗∗):
00
f (x) = 2a2 + 2 · 3a3 (x − c) + · · · ; |x − c| < R
00
Colocando x = c , obtemos f (c) = 2a2 .
Assim sucessivamente, teremos
f (n) (c)
f (n) (c) = 2 · 3 · · · n · an = n ! an , ou seja : an =
n!
expressão que continua válida mesmo para n = 0 se convencionarmos que 0 ! = 1 e
f (0) = f .
Temos assim provado o:

X f (n) (c)
Teorema 1.3.9. Se f (x) = an (x − c)n , |x − c| < R então an = .
0
n!

Corolário 1.3.10. (unicidade de representação por séries de potências)



X X∞
n
Se S(x) = an (x − c) e S(x) = bn (x − c)n em (c − R , c + R) então an = bn ;
0 0
n = 0, 1, 2, · · ·

Prova:
S (n) (c)
an = = bn .
n!

26
¤

Exercı́cios resolvidos
X∞
1 1
1. A partir da série geométrica = = (−1)n tn , kt| < 1, obter uma
1+t 1 − (−t) 0
representação por meio de série de potências de ln(1 + x) , |x| < 1
Resolução: Temos uma série de potências, centrada em 0, com ráio de convergência
igual a 1. Considerando o intervalo [0, x], onde |x| < 1 e aplicando o Teorema de Inte-
gração Termo a Termo obtemos:

Z x ∞
X Z x ∞
X
dt n n xn+1
ln(1 + x) = = (−1) t dt = (−1)n . , |x| < 1
0 1+t 0 0 0
n+1

1
2. Use a série geométrica do exercı́cio anterior para obter uma representação de
(1 + x)2
em série de potências.
Resolução:
1
= 1 − x + x2 − x3 = · · · + (−1)n xn + · · · , |x| < 1
1+x
1 −1
Seja f (x) = , |x| < 1. Então f 0 (x) =
1+x (1 + x)2

Pelo Teorema de Derivação termo a termo:

−1
= −1 + 2x − 3x2 + · · · (−1)n .nxn−1 + · · · , |x| < 1.
(1 + x)2

Assim:
1
= 1 − 2x + 3x2 + · · · (−1)n+1 .nxn−1 + · · · , |x| < 1.
(1 + x)2

3. Determine uma representação de arctg x em série de potências.


Resolução: Observemos que

X ∞
1 1
2
= 2
= (−1)n · t2n ; |t| < 1 .
1+t 1 − (−t ) 0

Temos uma série de potências, centrada em 0, com ráio de convergência igual a 1. Logo,
temos convergência uniforme no intervalo [0, x], onde |x| < 1. Aplicando o Teorema de

27
Integração Termo a Termo no intervalo [0, x], |x| < 1 obtemos:
Z x X∞ Z x X∞ 2n+1
dt n 2n n x
arctg x = 2
= (−1) t dt = (−1) , |x| < 1 .
0 1+t 0 0 0
2n + 1


X x2n+1
Assim: arctg x = (−1)n , |x| < 1 .
0
2n + 1


X
1 2
4. A partir da série (∗) = 1 + x + x + ··· = xn , |x| < 1, encontre
1−x 0
representação em série de potências para as funções:
1
(a) (b) ln(1 − x)
(1 − x)2
(c) Encontre também uma série numérica cuja soma seja ln 2
Resolução:

Diferenciando (∗) membro a membro:

X ∞
1
= 1 + 2x + · · · = n xn−1 , |x| < 1
(1 − x)2 1

Integrando (∗) membro a membro:


Z ∞
X X∞
dx x2 x3 xn+1 xn
− ln(1− x) = = C +x+ + +· · · = C + = C+ , |x| < 1 .
1−x 2 3 0
n + 1 n=1
n

Para determinar C : Seja x = 0

− ln(1 − 0) = C ⇔ C = 0 .

X xn
Assim: ln(1 − x) = − , |x| < 1 .
1
n
µ ¶
1 1
Em particular, colocando x = e usando ln = − ln 2 temos
2 2
X 1 ∞
1 1 1 1
ln 2 = + + + + ··· = .
2 8 24 64 1
n 2n

1.4 Representação de funções como séries de potências


Vamos agora estudar a possibilidade de representar uma função através de uma série de
potências.

28
Definição 1.4.1. f : I ⊂ R → R, I intervalo aberto. f se diz analı́tica num ponto c ∈ I
quando f é soma de uma série de potências de centro em c , em algum intervalo (c−δ , c+δ),
δ > 0.

Se f é analı́tica em todo ponto de I diremos que f é analı́tica em I .


Assim:

X
f é analı́tica em c ⇔ f (x) = an (x − c)n , ∀ x ∈ (c − δ , c + δ) .
0

Observação 1: Pelo Teorema 3.5.5 da secção anterior, se f é analı́tica em c então



X f (n) (c)
f (x) = (x − c)n , x ∈ (c − δ , c + δ) .
0
n!

Ainda: f tem derivadas de todas as ordens em (c − δ , c + δ) - (Teo. 3.5.4)

Observação 2: A recı́proca não é verdadeira, isto é, existem funções que possuem derivadas
de todas as ordens em certo intervalo (c − δ , c + δ) e que, no entanto, não são analı́ticas.

Exemplo:
6y

1

 e− x12 , x 6= 0 1
y = e− x2
f (x) =
 0, x=0
-
x

Tem-se: 1
1
0 e− x2 − 0
f (0) = lim = lim x1 .
x→0 x−0 x→0
e x2
A última expressão tem a forma ∞∞
(limites laterais).
Aplicando L’Hôpitall:
1
x2 x
lim 1 ¡ −2 ¢ = lim 1 =0.
x→0 x→0
e x2
x3
2 e x2
Assim f 0 (0) = 0 .
Analogamente se obtém f (2) (0) = f (3) (0) = · · · = 0 .

29

X f (n) (0)
Logo xn = 0 , ∀ x ∈ R .
0
n!

X f (n) (0)
Assim f (x) 6= xn para x 6= 0 .
0
n!

Definição 1.4.2. f : I ⊂ R → R com derivadas de todas as ordens num ponto c ∈ I .


(n)

X f (c)
A série de potências (x − c)n é chamada Série de Taylor de f no ponto c .
0
n!
Quando c = 0 , a série anterior é também dita Série de Mac Laurin .

Observação 3: Se f é analı́tica em c , então f (x) é soma de sua série de Taylor no ponto c .

Observação 4: Não é necessariamente verdadeiro que a soma da série de Taylor seja o valor
da função.

Colocamos agora uma questão: que condições f deve satisfazer a fim de que


X f (n) (c)
f (x) = (x − c)n , x ∈ (c − δ , c + δ) ?
0
n!

A fórmula de Taylor diz que

f (n) (c) f (n+1) (ξ)


∗ f (x) = f (c) + f 0 (c)(x − c) + · · · + (x − c)n + (x − c)n+1 ,
n! (n + 1) !

onde ξ = ξ(x, n) e ξ ∈ (c, x) ou ξ ∈ (x, c)

c 6 x x 6 c
ξ ξ

Nota: O Caso n = 0 é o Teorema do Valor Médio: f (x) = f (c) + f 0 (ξ)(x − c).

Consideremos Sn (x), o reduzido de ordem n da série de Taylor de f no ponto c .


Então (∗) pode ser reescrita:

f (n+1) (ξ)
f (x) = sn (x) + (x − c)n+1
(n + 1)!

30
f (n+1) (s)
f (x) − sn (x) = (x − c)n+1 = Rn (x)
(n + 1)!
Assim:
lim sn (x) = f (x) ⇔ lim Rn (x) = 0
n→∞ n→∞

Acabamos de provar:

Teorema 1.4.3. f : I ⊂ R → R , I intervalo, f com derivadas de todas as ordens em


f (n+1) (ξ)
algum intervalo (c − δ , c + δ) ⊂ I . Seja Rn (x) = (x − c)n+1 , o resto de Lagrange
(n + 1)!
do desenvolvimento de Taylor de f (x) . Então:


X · ¸
f (n) (c) n
f (x) = (x − c) , x ∈ (c − δ , c + δ) ⇔ Rn (x) → 0 , ∀ x ∈ (c − δ , c + δ) .
0
n!

Na prática fazemos uso de outro resultado que facilita a obtenção do nosso objetivo, o
qual passamos a enunciar e provar:

Teorema 1.4.4. f : I ⊂ R → R , I intervalo, f com derivadas de todas as ordens em


¯ ¯
algum intervalo (c − δ , c + δ) ⊂ I . Se existe M > 0 tal que ¯f (n) (x)¯ < M , ∀ n ∈ N , ∀ x ∈
(c − δ , c + δ) então

X f (n) (c)
f (x) = (x − c)n , x ∈ (c − δ , c + δ) .
0
n!
Em particular: f é analı́tica em c .

Prova

¯ (n+1) ¯ ¯ ¯
¯f (s) ¯ ¯ ¯ ¯ (x − c)n+1 ¯ n+1
0 ≤ ¯¯ (x − c) ¯¯ = ¯f (n+1) (ξ)¯
n+1 ¯ ¯ ≤ M |x − c| vide
−→ 0
(n + 1)! ¯ (n + 1)! ¯ (n + 1)! (∗)
Assim Rn (x) → 0 e pelo Teorema anterior temos o resultado.

X ·µ ¶ ¸
|x − c|n+1 |x − c|n+1
(∗) A série converge , ∀ x ∈ R ⇒ →0
0
(n + 1)! (n + 1)!
Exemplos:

X
x xn x2
(1) e = =1+x+ + ··· , ∀x ∈ R .
0
n! 2!
De fato:

X ∞
f (n) (0) X xn
Série de Taylor de ex : = .
n ! n !
¯ ¯ 0 0
Ainda: ¯f (n) (x)¯ = ex < eδ

31
( )
−δ 0 6 δ
x

X ∞
xn
Logo = ex no intervalo (−δ , δ) - qualquer.
0
n !
X ∞
xn
Assim = ex na reta toda.
0
n!


X x2n+1 n
(2) sen x = (−1) , x∈R
0
(2n + 1)!


X x2n
(3) cos x = (−1)n , x∈R.
0
(2n)!

// //

Exercı́cios resolvidos
Z 1
sen x
1. Calcular dx .
0 x 
 sen x
 , x 6= 0
Resolução: Consideremos f (x) = x

 1 , x=0.

X∞
x2n+1
Sabemos que sen x = (−1)n , ∀x ∈ R.
0
(2n + 1)!
Assim:

X x2n
f (x) = (−1)n - série de potências com intervalo de convergência a reta
0
(2n + 1)!
toda.

Podemos Integrar Termo a Termo, obtendo:


Z 1 ∞
X (−1)n Z 1 ∞
X
sen x 2n (−1)n 1
dx = x dx = .
0 x 0
(2n + 1)! 0 0
(2n + 1)! (2n + 1)

Z 1 ∞
X
−x2 (−1)n 1 1
2. Mostre que e dx = e que 1 − + dá uma aproximação da
0 0
n!(2n + 1) 3 5.2 !
integral com erro em valor absoluto menor que 0,025 .

32

X
y yn
Resolução: Sabemos que e = , ∀y ∈ R.
0
n!

X ∞
X
2 (−x2 )n x2n
Logo e−x = = (−1)n , ∀x ∈ R.
0
n! 0
n !

Pelo Teorema de Integração Termo a Termo:


Z 1 ∞
X Z 1 ∞
X
−x2 (−1)n 2n (−1)n 1 1 1 1
e dx = x dx = · =1− + − + ···
0 0
n! 0 0
n! 2n + 1 1!3 2!5 3!7
· ¸
1
Temos uma série alternada nas condições do Critério de Leibniz bn+1 = .
n!(2n + 1)
Assim
1 1 1
|S − s3 | ≤ b4 = = < = 0, 025 .
3!7 42 40
1 1
Logo s3 = 1 − + dá uma aproximação da integral com erro menor que 0,025 em
1!3 2!5
valor absoluto

23 ¾0,025- ¾0,025-
s3 = ' 0, 7666
30 6 0,7666
S

X xn
3. Qual é o raio e o intervalo de convergência da série 2 3n
?
1
n
¯ ¯
¯ x n+1 ¯
¯ ¯
¯ (n + 1)2 3n+1 ¯ n2 3n |x|
Resolução: lim ¯ n ¯ = lim · |x| = .
n→∞ ¯ x ¯ n→∞ (n + 1)2 3n+1 3
¯ ¯
¯ n2 3n ¯

Pelo Critério da Razão Geral temos:


|x|
< 1 - série absolutamente convergente.
3
|x|
> 1 - série divergente.
3
Logo o raio de convergência é R = 3 .
X∞
1
Para x = 3 temos a série 2
- convergente.
1
n
X∞
(−1)n
Para x = −3 temos a série 2
- convergente.
1
n
Portanto, o intervalo de convergência é [−3, 3] .

33

X sen (nx)
4. Considere a série .
1
n3
Z πX ∞ ∞
X
sen (nx) 1
Prove que dx = 2
0 1
n3 1
(2n − 1)4

Resolução: Inicialmente vamos registrar que esta não é uma série de potências.

Pretendemos aplicar o Teorema de Integração Termo a Termo. Para tanto verifiquemos


se as suas hipóteses estão satisfeitas.
(a) Convergência uniforme
X ∞
sen (nx) 1 1
| | ≤ , ∀x ∈ R. Ainda, converge. Logo, pelo Critério de
n3 n3 1
n 3

X∞
sen (nx)
Weierstrass, a série 3
converge uniformemente em R.
1
n
sen (nx)
(b) são contı́nuas, logo integráveis, ∀n ∈ N. Assim:
n3
Z π X∞ ∞ Z π
X X∞ Z π
sen (nx) sen (nx) 1
( 3
dx = 3
dx = 3
sen (nx) dx =
0 1
n 1 0 n 1
n 0


X ∞
X ∞
X
1 1 n 1
= 4
(1 − cos(nπ)) = 4
(1 − (1) ) = 2
1
n 1
n 1
(2n − 1)4

5. Dar o intervalo de convergência das séries:



X ∞
X ∞
X
(x + 1)n (x − 2)n (x + 3)n
(a) √ (b) (c)
1
n 1
n 1
n2

Resolução:
¯ ¯
¯ (x + 1)n+1 ¯
¯ √ ¯
¯ n + 1 ¯
(a) lim ¯¯ ¯ = |x + 1| = distância de x à −1 .
n→∞ + 1)n ¯¯
¯ (x √
¯ n ¯
Pelo Critério da Razão Geral temos:
|x + 1| < 1 - série absolutamente convergente.
|x + 1| > 1 - série divergente.
Logo o raio de convergência é R = 1 .

−2 −1 0

34
X∞
(−1)n
Para x = −2 temos a série √ - convergente.
1
n

X 1
Para x = 0 temos a série √ - divergente.
1
n
Portanto o intervalo de convergência é [−2, 0) .
¯ ¯
¯ (x − 2)n+1 ¯
¯ ¯
¯ n+1 ¯
(b) lim ¯¯ ¯
n ¯ = |x − 2| = distância de x à 2 .
n→∞
¯ (x − 2) ¯
¯ n ¯

Pelo Critério da Razão Geral temos:


|x − 2| < 1 - série absolutamente convergente.
|x − 2| > 1 - série divergente.
Logo o raio de convergência é R = 1 .

1 2 3


X (−1)n
Para x = 1 temos a série - convergente.
1
n

X 1
Para x = 3 temos a série - divergente.
1
n
Portanto o intervalo de convergência é [1, 3) .

(c) Fica como exercı́cio Resposta: [-4,-2]



X x2
6. Determinar a soma da série .
0
(1 + x2 )n

Resolução: Primeiramente vamos observar que esta não é uma série de potências.

(i) Seja x 6= 0 , fixado



X X ∞
x2 2 1 (∗) 2 1
S(x) = 2 n
= x 2 n
= x 1 = 1 + x2 .
0
(1 + x ) 0
(1 + x ) 1 − 1+x 2

1
Em (∗) estamos usando o fato de ser uma série geométrica de razão <1
1 + x2
(x 6= 0).

35
(ii) Seja x = 0
S(0) = 0 
 1 + x2 , se x 6= 0
Assim: S(x) =
 0 , se x = 0

6y
y = S(x)
Note: S(x) não é contı́nua.

r -
x

7. Mostre que a convergência da série do exercı́cio anterior não é uniforme no intervalo


[−1, 1 ] e que é uniforme no intervalo [1, 2 ]

Resolução: Em [−1, 1 ] :
x2
fn (x) = é contı́nua em [−1, 1 ], ∀n ∈ N
(1 + x2 )n
S(x) é descontı́nua em [−1, 1 ]
Logo, pelo Corolário 1.2.4, a convergência não é uniforme em [−1, 1 ]
Em
¯ [1,2 2 ]: ¯
¯ x ¯ 4 4 1 n
¯ ¯
¯ (1 + x2 )n ¯ ≤ (1 + x2 )n ≤ (1 + 1)n = 4.( 2 ) , ∀x ∈ [1, 2 ]
X∞
1
Ainda, 4.( )n converge. Assim, pelo Critério de Weierstrass, temos convergência
0
2
uniforme em [1, 2 ]


X (x + 3)n
8. Dar o raio de convergência de n!
1
nn
Resolução:

(n + 1)!
· |x + 3|n+1
(n + 1)n+1 (n + 1)! nn
lim = lim · |x + 3| =
n→∞ n! n n→∞ (n + 1)n+1 n!
|x + 3|
nn µ ¶n µ ¶n
n 1
= lim |x + 3| = lim n+1 · |x + 3| =
n→∞ n+1 n→∞
n
1 |x + 3|
= lim ¡ 1
¢n · |x + 3| = .
n→∞ 1 +
n
e

36
Pelo Critério da Razão Geral temos:
|x + 3|
< 1 - série absolutamente convergente.
e
|x + 3|
> 1 - série divergente.
e
Logo o raio de convergência é R = e .

X n2
9. Determinar o intervalo onde a série de potências n
(x + 2)n converge absoluta-
1
2
mente.
(n + 1)2
n+1
· |x + 2|n+1 (n + 1)2 |x + 2|
Resolução: lim 2 = lim · |x + 2| =
2
n→∞ n n
n→∞ 2n2 2
n
· |x + 2|
2
Pelo Critério da Razão Geral temos:
|x + 2|
< 1 - série absolutamente convergente.
2
|x + 2|
> 1 - série divergente.
2
Logo o raio de convergência é R = 2 .

−4 −2 0
X∞ ∞
X
n2 n
Para x = −4 ou x = 0 obtemos a série n
| ± 2| = n2 - divergente.
1
2 1
Assim o intervalo de convergência absoluta é (−4, 0) .

X
10. Dada a série xn (1 − x) , x ∈ [0, 1]
0
(a) Calcular sua soma.
(b) Mostrar que a convergência não é uniforme.

Resolução: (a)

(i) x = 1
X∞
1n .(1 − 1) = 0 = S(1)
0
(ii) 0 ≤ x < 1
X∞ ∞
X
n 1
x (1 − x) = (1 − x) xn = (1 − x). = 1 = S(x)
0 0
1−x

37

 1, se 0 ≤ x < 1
Assim: S(x) =
 0 , se x = 1

(b) As funções xn (1−x) são contı́nuas em [0, 1]. Se a converência fosse uniforme a função
soma seria contı́nua, o que não acontece. Portanto a convergência não é uniforme.

X (x − 1)n
11. Encontre a soma da série .
0
(n + 1)!

X (x − 1)n
Resolução: Seja f (x) = .
0
(n + 1)!

X (x − 1)n+1
Assim: (x − 1)f (x) = = ex−1 − 1 .
0
(n + 1)!

x−1
 e
 −1
, x 6= 1
Logo f (x) = x−1

 1 , x=1


X x2n+1
12. Sabemos que arctg x = (−1)n , |x| < 1 . Use esta série para calcular a
0
2n + 1
terceira derivada de arctg x em x = 0 .

Resolução:
f (3) (0) 1 1
Temos que = a3 = (−1)1 · =− .
3! 2·1+1 3
· 3 ¸ µ ¶
d 1
Assim: 3
arctg x = 3! − = −2 .
dx x=0 3

X
13. Suponha que a série de potências an xn converge em x = −4 e diverge em x = 8 .
0
O que podemos dizer sobre a convergência ou divergência das seguintes séries:

X X∞
n
(a) an 2 (b) (−1)n an 9n .
0 0

Resolução:
X X
Se an xr converge em x = −4 então an xn é absolutamente convergente em x
X X
tal que |x| < 4 . Se an xn diverge em x = 8 então an xn é divergente em x tal
que |x| > 8 .

38
div. abs. conv. div.
¾ -

6
-8 -4 0 6 4 8

-9 2

X ∞
X ∞
X
n n n
Assim an 2 é absolutamente convergente e (−1) an 9 = an (−9)n é diver-
0 0 0
gente.
x2
14. Considere f (x) = , |x| < 1 .
1 − x2
(i) Determine uma série de potências em x que represente f e dê seu intervalo de
convergência.

(ii) Calcule f (10) (0) e f (11) (0) .

Resolução:

X ∞
1
(i) Lembremos que = rn , |r| < 1 .
1−r 0
Assim

X
1
= (x2 )n , |x| < 1
1 − x2 0

X ∞
x2
= x2n+2 , |x| < 1
1 − x2 0
Intervalo de convergência: (-1,1)

f (n) (0)
(ii) an = ⇔ f (n) (0) = n! an
n!
Assim: f (10) (0) = 10! a10 = 10! 1 = 10!

f (11) (0) = 11! a11 = 11! 0 = 0 .

2
15. Seja f (x) = x e−x , x ∈ R .

(i) Encontre uma série de potências em x que represente f .



X (−1)n 32n+1
(ii) Usando (i) encontre a soma da série numérica .
0
n!

Resolução:

39

X
y yn
(i) Sabemos que e = , ∀y ∈ R.
0
n!

X ∞
X
2 (−x2 )n x2n
Então: e−x = = (−1)n , ∀x ∈ R.
0
n! 0
n!

X
2 x2n+1
Assim: f (x) = x · e−x = (−1)n , ∀x ∈ R.
0
n!


X 32n+1 3
(ii) (−1)n = f (3) = 3 · e−9 = 9 .
0
n! e

ex − e−x
16. (i) Encontre a série de Mac Laurin de f (x) = , x ∈ R.
2

X 1
(ii) Usando o item (i) encontre a soma da série numérica .
0
(2n)!
(iii) Encontre f (21) (0) e f (12) (0) .

Resolução:


X yn
(i) Sabemos que ey = , ∀y ∈ R.
0
n!
Então:

X ∞
X
xn (−1)n xn
− ∞
0
n! 0
n! X (1 − (−1)n )
f (x) = = xn =
2 0
2n!

X ∞
X
2 x2n+1 x2n+1
= = , ∀x ∈ R .
0
2(2n + 1)! 0
(2n + 1)!


X ∞
X
0 (2n + 1) 2n x2n
(ii) f (x) = ·x = .
0
(2n + 1)! 0
(2n)!
Assim:
X 1 ∞
e1 + e−1
= f 0 (1) = .
2 0
(2n)!

1
(iii) f (21) (0) = a21 · (21)! = (21)! = 1
(21)!

f (12) (0) = a12 · (12)! = 0

40
1.5 Série Binomial
O Teorema Binomial afirma:
Se k ∈ N , então
k(k − 1) k−2 2
(a + b)k = ak + k ak−1 b + a b + · · · + bk .
2!
Fazendo a = 1 e b = x temos
k(k − 1) 2 k(k − 1) · · · (k − n + 1) n
(1 + x)k = 1 + kx + x + ··· + x + · · · + xk .
2! n!

X
Se k 6∈ N vamos estudar a série de potências an xn com a0 = 1 e
0
k(k − 1) · · · (k − n + 1)
an = , para n ≥ 1 , ou seja:
n!

k(k − 1) 2 k(k − 1) · · · (k − n + 1) n
(∗) 1 + kx + x + ··· + x + ···
2! n!
chamada Série Binomial.

Se k ∈ N - a série se reduz a uma soma finita.


Se k 6∈ N - temos uma série infinita.
n fatores
à ! z }| {
k k(k − 1) · · · (k − n + 1)
Consideremos a notação = .
n n!
à !
k
Ainda vamos convencionar: =1.
0

à !
X k
Então podemos reescrever (∗) como xn .
0
n
Afirmação: O raio de convergência da série binomial é R = 1 .
De fato:
|an+1 xn+1 | |k − n|
lim n
= lim · |x| = |x| .
n→∞ |an x | n→∞ |n + 1|

Pelo Critério da Razão Geral:


A série é absolutamente convergente se |x| < 1 .
A série é divergente se |x| > 1 .

à !
X k
Assim, seja f (x) = xn , |x| < 1 .
0
n

41
Já vimos que se k ∈ N, f (x) = (1 + x)k .
Provaremos agora que isto é verdadeiro para qualquer k ∈ R, |x| < 1 .
Seja então:

k(k − 1) 2 k(k − 1) · · · (k − n + 1) n
f (x) = 1 + kx + x + ··· + x + ···
2! n!

Diferenciando:

n k(k − 1) · · · (k − n + 1) (n−1) (n + 1)k(k − 1) · · · (k − n) n


f 0 (x) = k+k(k−1)x+· · · x + x +· · ·
n! (n + 1)!

Logo
n k(k − 1) · · · (k − n + 1) n
xf 0 (x) = kx + k(k − 1)x2 + · · · x + ···
n!
Somando os termos correspondentes das duas séries precedentes, o coeficiente de xn será:

(n + 1)k(k − 1) · · · (k − n) n k(k − 1) · · · (k − n + 1)
+ =
(n + 1)! n!

k(k − 1) · · · (k − n) n k(k − 1) · · · (k − n + 1)
= + =
n! n!
k(k − 1) · · · (k − n + 1)
= [(k − n) + n] · = k · an
n!

Assim:

X
f 0 (x) + x · f 0 (x) = k an xn = k f (x)
0

ou seja:
f 0 (x) (1 + x) − k f (x) = 0 (4)
f (x)
Definimos agora a função g(x) por g(x) = .
(1 + x)k
Então:
(1 + x)k f 0 (x) − f (x)k(1 + x)k−1 (1 + x)k−1 [(1 + x) f 0 (x) − k f (x)]
g 0 (x) = = =
(1 + x)2k (1 + x)2k

(1 + x)f 0 (x) − k · f (x) (4)


= = 0.
(1 + x)k+1

Seque-se então que g(x) ≡ c , ou seja

f (x)
≡c
(1 + x)k

42
Ainda: f (0) = 1 e assim c = 1 .
Portanto f (x) = (1 + x)k . ¤

Tudo o que foi visto nesta seção pode ser colocado resumidamente como:
Para todo número real k ,

à !
X
(1 + x) =k k xn , |x| < 1 Série Binomial
0
n

Exercı́cios resolvidos
1
1. Encontre uma representação de como série de potências.
(1 + x)2

Resolução:

Neste caso k = −2
n fatores
à ! z }| {
−2 −2 . − 3 . − 4 · · · .(−2 − n + 1) (−1)n . 2 . 3 · · · (n + 1)
= = = (−1)n ·(n+1) .
n n! n!

X ∞
1
Portanto: = (−1)n (n + 1)xn , |x| < 1 .
(1 + x)2 0

2. Encontre uma representação de 3
1 + x em série de potências.

Resolução:

1
Neste caso k = .
3

1
¡1 ¢ ¡ ¢¡ ¢

3 1 3
− 1 2 13 31 − 1 13 − 2 3
3
1+x = 1+ x+ x + x + ···
3 2! 3!
¡
1 1
¢ ¡ ¢
3 3
− 1 · · · 31 − n + 1 n
··· + x + · · · ; |x| < 1
n!

√ 1 2 1.2.5 3
3
1+x = 1+ x − 2 x2 + 3 x + ···
3 3 2! 3 3!
(−1)n+1 . 1 . 2 · · · (3n − 4) n
··· + x + · · · ; |x| < 1 .
3n n!

43
√ 1
Observação: 3 1 + x ' 1 + x , |x| < 1, onde o erro cometido nesta aproximação
3
1 2
é inferior a x . A razão desta afirmação é que estamos diante de uma série alternada,
9
a partir do segundo termo, nas condições do Critério de Leibniz.
x
3. (a) Expanda f (x) = como uma série de potências.
(1 − x)2
X∞
n
(b) Use a parte (a) para encontrar a soma da série n
.
n=1
2

Resolução:

(a) Vimos no exemplo 1 anterior que



X
1
= (−1)n (n + 1)xn , |x| < 1.
(1 + x)2 0

Substituindo x por −x, obtemos:


X ∞
1
= (n + 1)xn , |x| < 1 .
(1 − x)2 0

Multiplicando por x:
X ∞ X ∞
x n+1
f (x) = 2
= (n + 1)x = nxn , |x| < 1
(1 − x) 0 1


X
Assim: f (x) = nxn , |x| < 1
1

(b)
X∞ 1 1
n 1 2 2
= f( ) = = = 2.
n=1
2n 2 (1 − 12 )2 1
4

44

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