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O MUNDO COMO ÍCONE DA BELEZA DE DEUS

“A Criação é impregnada de Beleza, um imenso ícone da Beleza de Deus”


(S.Basílio)
“A partir da Criação, mas muito mais a partir da Encarnação,
nada é profano para quem sabe olhar” (Teilhard de Chardin)

O ser humano tem uma necessidade insaciável de bem, de liberdade, uma


ânsia infinita de beleza.
A condição humana é a da fragmentação. O caminho da beleza é o que faz
perceber o todo em cada fragmento. A beleza confere sentido e dignidade a
cada detalhe da vida e o resgata de sua cotidianidade humilde e repetitiva. O
todo se oferece no detalhe; ou, sob a perspectiva do belo, cada “fragmento”
é como o umbral do ilimitado, uma janela para o infinito.
É bela a palavra que diz algo indizível e inimaginável (poesia). É bela uma obra
de arte quando revela algo transcendente. A beleza não está nas formas vazias,
senão no encontro que essas formas proporcio-nam. No fragmento musical, por
exemplo, o infinito se revela ao ouvinte. Nisto consiste a beleza.
A beleza tem uma força terapêutica para o homem de hoje, tão dado à eficiência,
ao
utilitarismo. Quem se deixa afetar pela majestosa beleza das composições musicais
de
Mozart, de Beethoven, de Bach... pode esperar que a vida mereça a pena ser
vivida.
“Se um homem encara a vida de um ponto de vista artístico, seu cérebro passa a
ser seu coração”. (Oscar Wilde)

A arte nos permite entrever a verdade das coisas, o seu porquê; na arte se
transluz o mistério do ser.
Tem-se dito que arte e fé são irmãs, porque ambas estão buscando algo perdido:
a beleza, a infância, o encantamento, a inocência.
Dizia Goethe que “os homens tem o dom de criar poesia e arte, enquanto religiosos”.
Todas as religiões são sustentadas pela expressão artística de seus homens e
mulheres. São eles que registram em formas, movimentos e cores a simplicidade
e a ternura presentes na Criação; são eles os artistas, os co-participantes
divinos; são eles, quando pintam, transformam, cantam, poetizam,
desenham...que repetem o gesto amoroso de Deus no “fiat” (faça-se).
“E o material criado é religioso: tem o peso das vigas de convento” (Clarice Lispector).

Deus pensado como beleza nos faz desfrutar da paisagem formosa ou da obra
de arte bela. Por que esta experiência estética não pode ser interpretada como
uma antecipação da ‘visão beatífica” , da alegria para sempre? S. Inácio, na
“Contemplação para alcançar amor” (4º ponto) nos faz entrar na plena
familiaridade divina: “encontramos Deus em todas as criaturas e todas as criaturas em Deus”.
“Considerarei como todos os bens e dons descem do alto” (EE. 237).

A concepção da beleza mudou com o advento do pós-modernismo. Produziu-se


uma ruptura entre bele-za e ser. A arte não é mais a expressão de uma coisa
bela, senão que é a bela representação de uma coisa.
Desaparece a arte como sedução e prolifera a arte como produção. O mundo
perde a profundidade da beleza e sem ela também o bem perde capacidade de
atração.
Que significa a beleza? É quando algo que se nos faz presente (natureza, obra de
arte, música...) atrai e mantém nossa
atenção por seu valor intrínseco, não por sua utilidade.

“Nossa busca da beleza é uma busca do divino. Esta beleza


definitivamente gratificante, que ansiamos mas que continua
nos iludindo, é o que significa a palavra “Deus”. E se esta
palavra não tem muito sentido para ti, traduza-a e fala da
beleza fundamental que está buscando continuamente na
profundidade de teu desejo. Talvez terás que esquecer. Não
podes dizer que és um ateu porque não podes pensar ou dizer
que és completamente indiferente à beleza” (John F. Haught).

Texto bíblico: Sab. 7,15-30

Na oração: “As criaturas todas são milagre divino a serviço do homem! Por elas, há de louvar e
servir
ao Criador. Suas formosuras são degraus, convidando a subir até o nosso Deus.
E tu, cego e surdo, nelas te detens?” (F. Claúdio Van Balen).
- Você que sente beleza-encanto na diversidade do existir e na multiplicação da Criação,
saboreie a
dimensão da gratuidade nessa inesgotável generosidade, sintoma mais pleno do Amor.

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