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A ORAÇÃO NO COTIDIANO FRAGMENTADO

Nossa sociedade é movida pela urgência ansiosa de eficácia a curto prazo, de


resultado imediato, sem respeitar ritmos e processos.
Mais do que nunca precisamos buscar e entrar no “tempo de Deus”, no ritmo
dos processos profundos onde brota a atração pela pessoa de Jesus e seu Reino.
Ao contemplar Jesus de Nazaré na sua vida cotidiana, será mais fácil, depois,
descobrir os seus traços no nosso ritmo cotidiana, nas ocupações habituais e,
sobretudo nos rostos costumeiros e conhecidos das pessoas nas quais Ele está
hoje “novamente encarnado”.
A oração nos ajuda a liberar o nosso “olhar” para contemplar a realidade de outra maneira.
Com isso, poderemos descobrir melhor no nosso cotidiano o que há de novidade positiva e salvadora, de
dom de Deus para todos.
Através da oração, mergulhamos nas grandes calmarias, nas noites de Sábado Santo, onde tudo parece
estancar-se, adentrando-nos no mistério de Deus, até que as situações, os acontecimento, as pessoas...
ressuscitem ao “terceiro dia”.
Nas contradições inevitáveis da vida, tentamos resistir “pascalmente” para inventar o novo e nos
comprometer com o que é ainda germinal, com o pequenino grão de mostarda que traz misteriosamente
dentro de si a força de uma grande árvore.

Contemplar não é idealizar, mas ter uma sensibilidade que possa acolher a
novidade de Deus hoje, em nosso cotidiano. Isto requer um trabalho de
purificação daquilo que nos foi imposto e ao mesmo tempo uma educação
contemplativa na maneira de perceber o novo, o surpreendente... a partir da
contempla-ção dos “mistérios” de Jesus.
Este é o desafio: criar uma “nova sensibilidade contemplativa” em meio a
este mundo novo; devería-mos buscar, com regularidade, espaços não
contaminados, ecologicamente sadios , para desintoxicarmo-nos e entrarmos no
ritmo da contemplação.
Precisamos desalojar de nosso interior as presenças suspeitas que invadem
nossa privacidade e sequestram o espaço do coração, para, assim, encontrarmos
nossa própria solidão dentro da qual poderemos construir a consistência de nossa
identidade e originalidade únicas, irrepetíveis, recebidas de Deus a cada dia,
num diálogo sem fim.
Viver intensamente com Deus supõe entrar numa aventura sem fim. Precisamos de uma nova
“sensibili-
dade espiritual” para fazermos uma experiência nova de Deus; já não se pode continuar olhando, ouvin-
do, tocando, saboreando... de maneira antiga. “Eis que eu faço novas todas as coisas”. (Apoc.
21,5)

Este é o sentido da nossa existência : viver a relação “mística” com Deus, não
como algo pontual e esporádico, mas
como um encontro que se aprofunda cada vez mais e que
abarca a realidade cotidiana por inteira.
É questão de vida ou morte, de ser ou não ser, o despertar de uma vida de
oração intensa e contínua, onde o desejo de Deus e de seu reinado integre, no
centro de nossa afetividade, todas as dimensões de nosso ser e todos os
aspectos da nossa realidade cotidiana.
Nesse sentido, a “oração deixa de ser interpretação de texto para ser interpelação da vida”.
Por isso, faz-se necessário crescer nos diferentes modos de oração:
a) A contemplação pessoal para um encontro inesgotável com Deus vai crescendo e aprofundando cada dia.
b) A oração de discernimento para distinguir bem, dentro de nós e na realidade na qual vivemos, a presença do
Espírito com suas propostas e suas moções e a presença do “mau espírito” com suas seduções disfarçada.
c) A contemplação na ação, para descobrir Deus como a última dimensão de toda a realidade, e para unir-nos a
Ele no trabalho criador e criativo.
d) A celebração comunitária, para festejar na comunidade a certeza de que toda a história avança para a pleni-
tude definitiva da reconciliação em Cristo.

A realidade cotidiana é o lugar onde somos chamados a viver a espiritualidade


cristã e a deixar-nos conduzir pelo mesmo Espírito que animou Jesus e o levou a
inserir-se na trama humana e a assumir o risco da história.
Ser cristão inserido no mundo, em meio às agitações cotidianas, é acima de tudo
ter Jesus Cristo como centro da vida: suas palavras, suas ações, seu modo de
relacionar-se com o Pai e com os irmãos...
O cristão é chamado a viver no seu dia-a-dia esta mística do amor da maneira
como Jesus viveu (na família, no trabalho, no descanso, na luta em favor da vida,
nos compromissos sociais-eclesiais...).

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