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A. Origem e evolução da língua portuguesa

O português surgiu da mesma língua que originou a maioria dos idiomas


europeus e asiáticos, daí o chamado grupo indo-europeu. Este grupo é composto
por inúmeras línguas e dialectos, que inclui as principais línguas da Europa, do Irão
e do norte da Índia, mas também da Anatólia que se situa no extremo oeste da Ásia,
que corresponde à actual Turquia, e também na Ásia Central. É constituído por nove
grandes grupos. Deles fazem parte o grupo Independente, o grupo Anatólio, o grupo
Eslavo, o grupo Báltico, o grupo Iraniano, o Grupo Celta, o grupo Grego, o grupo
Germânico e o grupo Itálico. A língua falada em qualquer um destes grupos é
originária do latim.

A Península Ibérica, até ao século III, tinha línguas próprias e


características. Contudo, no ano 218 d.C., os romanos conquistaram a parte
ocidental e trouxeram consigo uma versão popular do latim, o latim popular. Estas
invasões contribuíram para cerca de 90% da evolução do léxico do português e
embora a população da Península Ibérica se tenha estabelecido muito antes da
colonização romana, poucos traços das línguas nativas ainda persiste no português
moderno. Os únicos vestígios das línguas anteriores permanecem numa parte
reduzida do léxico e na toponímia da Galiza e Portugal.

As transformações nas línguas não são imediatas, podendo levar alguns


séculos para que sejam visíveis mudanças no vocabulário e na fonética das línguas
românicas. As línguas românicas são a continuação do latim popular, o latim falado
pelos soldados, colonos e mercadores do Império Romano. Distinguia-se da forma
clássica da língua falada pelas classes superiores romanas, a forma em que a língua
era geralmente escrita – latim culto.

A formação das línguas românicas ou neolatinas, em particular o português,


pode ser dividida em três camadas: o substrato pré-romano, que é a língua do povo
vencido, que tende a ceder espaço à língua do dominador, restando-lhe poucos
traços ou apenas alguns vestígios; o superstrato ‘bárbaro’, que são as línguas
germânicas que tomaram conta da Europa românica por alguns séculos, embora
estas línguas bárbaras tenham sido romanizadas; e o adstrato árabe, que coexistiu
na península ibérica a partir do século VIII, junto à língua local recebendo esta uma

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vasta contribuição da língua estrangeira vizinha. As mudanças mais visíveis nesta
camada no português são as fonéticas, como por exemplo, a perda do -l e do -n
entre vogais de palavras como luna.

Em 711 d.C., a Península Ibérica foi novamente invadida, mas desta vez por
árabes. Os árabes conviveram quase oito séculos ao lado de cristãos e tiveram uma
grande influencia na língua, na cultura e na ciência. O que caracteriza o adstrato
árabe é o bilinguismo, falam duas línguas diferentes e estas sofrem influências uma
da outra, enriquecendo-as. No português, o adstrato árabe contribuiu
generosamente em oito séculos com cerca de 1000 vocábulos, usados até hoje. A
maioria das palavras portuguesas que têm origem árabe, têm alguns traços bem
característicos, como a presença do artigo -al no início das palavras, como se
verifica nas palavras alfazema e Algarve.

Com o início da reconquista cristã da Península Ibérica, o galaico-português


consolida-se como língua falada e escrita da Lusitânia. Começam a ser escritos em
galaico-português os primeiros documentos oficiais e textos literários (não latinos) da
região, como os cancioneiros (colectâneas de poemas medievais). À medida que os
cristãos avançam para o sul, os dialectos do norte interagem com os dialectos
moçárabes do sul, começando o processo de diferenciação do português em relação
ao galaico-português. A separação entre o galaico e o português inicia-se com a
independência de Portugal, em 1185 e só se consolida com a expulsão dos mouros
em 1249 e com a derrota em 1385 dos castelhanos que tentaram anexar o país. No
século XIV surge a prosa literária em português, com a Crónica Geral de Espanha
(1344) e o Livro de Linhagens, de dom Pedro, conde de Barcelos. O fim desse
período de consolidação da língua (ou de utilização do português arcaico) é
marcado pela publicação do Cancioneiro Geral de Garcia de Resende, em 1516.

Do século XV ao século XVI, muitos escritores portugueses, entre eles os


poetas do Cancioneiro Geral, Gil Vicente, Camões, escreviam em castelhano e
português, o que se explica pelas relações literárias, políticas e comerciais entre as
duas nações ibéricas. Como contribuição de empréstimos e estrangeirismos
espanhóis para o léxico português, temos, entre muitas outras, palavras como
bolero, castanholas, caudilho, gado, moreno, galã e pandeiro. Em virtude de
relações políticas, culturais, comerciais com outros países, é natural que o léxico

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português tenha recebido (e continue a receber) empréstimos de outras línguas
modernas. Assim, incorporaram-se ao nosso léxico palavras provenientes do francês
(chefe, hotel, jardim, paisagem, vitral, vitrina); do inglês (futebol, bife, pudim,
repórter, sanduíche, piquenique); do italiano (adágio, alegro, andante, gazeta,
macarrão, piano, mortadela, serenata, salame); do alemão (valsa, manequim,
vermute). Nos tempos actuais, o inglês tem servido de fonte de inúmeros
empréstimos, sobretudo nas áreas técnicas, o que demonstra a estreita ligação que
o processo de mudança linguística tem com a história sócio política e cultural de um
povo. A língua foi evoluindo e sofrendo alterações e às palavras que vão perdendo o
seu uso até desaparecerem totalmente de uma língua, chamamos nós de
arcaísmos. Contudo, para que umas palavras desapareçam, outras têm de ir
surgindo para ocupar o lugar das primeiras. Além disso, num mundo em constante
alteração e crescimento, vão também aparecendo novos conceitos e objectos que
precisam de ser nomeados. Chamamos a estas novas palavras de neologismos.

Dando continuidade à evolução da língua portuguesa, existiram duas grandes


evoluções: a evolução fonética e a evolução semântica. A evolução fonética consiste
em palavras que são compostas por fonemas, que por sua vez estão sujeitos a
transformações, pois com o passar do tempo, as várias gerações vão alterando a
pronúncia da palavra, como por exemplo a palavra amore – amor, que sofreu a
apócope do -e. A evolução semântica consiste na alteração de sentido e significado
que se verifica em certas palavras, ao longo dos tempos. Esta alteração está ligada
a factores temporais e espaciais. As palavras: parvo, gesto e ministro são um forte
exemplo. Parvo – parvus , que antes signficava pequeno e actualmente significa
“estúpido”; Gesto-gestu, que antes significava rosto e actualmente significa
movimento do corpo; e ministru, que antes significava o que escravo, actualmente
significa função de grande nível social.

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B. Camões – contexto político-cultural da época em que viveu

Durante a época de Camões surge o Renascimento em Portugal que vai


desde o século XV a finais do século XVI. Nesta época surge a mistura do estilo
gótico com as inovações do século XV. A subida ao trono do Mestre Avis marca esta
nova época em Portugal, novas perspectivas em relação à evolução social,
económica, política e cultural estavam em curso e marcariam o início de um novo
período histórico, cultural e artístico que iria marcar esta época. Por sua vez a
descoberta de novos mundos e o contacto com outras civilizações levaram a uma
miscigenação cultural que se iria reflectir, sobretudo na arte.

Em Portugal, o Classicismo teve início em 1527. Introduziu o decassílabo


(nova medida) em oposição á redondilha medieval (cinco a sete sílabas), passou a
chamar-se medida velha e trouxe um novo conceito artístico. Sá de Miranda não
trouxe só esta nova medida a Portugal, mas também um gosto poético mais
refinado. Juntamente com o decassílabo, passaram a ser feitas novas formas fixas
de poesia, tais como o soneto (dois quartetos e tercetos) e também a epístola (carta
em versos). No entanto a substituição do verso redondilha (medida velha),
característico da idade média, pelo decassílabo (medida nova) não se deu de forma
imediata, pois ambas as medidas conviveram por grande parte do século XVI.

O Humanismo coloca os humanos como primordiais, numa escala de


importância. É uma perspectiva comum a uma grande variedade de posturas éticas
que atribuem maior valor á dignidade, aspirações e capacidades humanas,
particularmente a racionalidade. Embora esta palavra possa ter vários significados
destaca-se pela contraposição ao apelo sobrenatural, ou uma autoridade superior.

D. João II retoma a política de expansão marítima, tendo como principal


objectivo atingir a Índia através do Atlântico Sul. A coroa recupera o monopólio
comercial isto é o controlo exclusivo de exploração e comércio colonial. Neste
reinado de D. João II vai ficar explorada toda a costa ocidental Africana, onde se
sobressaem Diogo Cão e Bartolomeu Dias, que vai dobrar o cabo das Tormentas,
depois chamado cabo da Boa Esperança, em 1488. D. João II ficou com a certeza
de poder atingir a Índia por mar. Durante os descobrimentos portugueses à medida
que a costa africana avançava, a escravatura ia tornando-se uma actividade
comercial bem mais rentável que as próprias especiarias.
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A exploração massiva de escravos africanos tornou-se numa componente
essencial no comércio. Por outro lado, as especiarias tornaram Lisboa num dos
entrepostos mais importantes da Europa. Dá-se uma importância elevada à vida e
ao quotidiano dos escravos na metrópole e ao modo como as especiarias
influenciam a economia, o clima social e até a gastronomia do país.

Existiu uma crise agrícola por volta dos fins do século XIII, quando a
produtividade já dava claros sinais de declínio, prenunciando uma provável falta de
alimentos, devido ao esgotamento dos solos, enquanto a população apresentava um
elevado crescimento. Agravaram-se as contradições entre a cidade e o campo, a
população agrícola não respondia às exigências das cidades em crescimento. Nos
séculos XI e XII e na primeira metade do século XIII, a utilização de novas terras e
as inovações técnicas permitiram uma ampliação da produção. Na última década do
século XIII já não existiam terras para ocupar gerando uma baixa produtividade.

Com a insuficiente produção agrícola e a estagnação do comércio, a fome


alastrou-se pela Europa. A partir do início do século XIV, uma profunda crise
anunciou o fim da época medieval. No entanto existiu o deslocamento de pessoas
do campo para a cidade em grande número (êxodo rural) devido a melhores
condições, mais tecnologias, e para fugirem á miséria, pois a produtividade nos
campos estava a ser muito baixa então fugiram para a cidade (Lisboa) para procurar
também emprego, onde se enriquecia mais facilmente. A nível cultural, este século
vai ter uma grande influência estrangeira.

Em Portugal exemplo de mecenato, foi D. João III, que não se poupou a


despesas para acolher humanistas estrangeiros e as actividades artísticas e
culturais como obras arquitectónicas e contratando artistas estrangeiros para a
corte. Trata-se de poder fazer recuar o mundo greco-romano e que, no contexto do
renascimento elucida à promoção do individualismo. D. João III orgulha-se de
praticar o mecenato. O comportamento dos mecenas tornou-se um modelo em face
de vários governos valeram-se de artistas e intelectuais para melhorar a sua própria
imagem.

Garcia Resende instituía a criação de uma epopeia (forma literária clássica)


que exaltasse os valores nacionais, viria a ser assinada mais tarde por Luís Vaz de
Camões, que passou por vários continentes, recolhendo dados indispensáveis à

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elaboração de uma obra em que se iriam por os acontecimentos mais relevantes da
história de Portugal, desde a fundação da nacionalidade até á conclusão da viagem
de Vasco da Gama e a sua frota, ligando pela primeira vez a Europa à Índia em
1498. Fugindo à habitual epopeia, Camões, imprime um cunho nomeadamente lírico
a alguns episódios históricos e de deuses da mitologia greco-romana.

as suas fontes históricas de Camões nos Lusíadas, foram Duarte Galvão, Rui
de Pina, Fernão Lopes, Zurara, João de Barros, André de Resende, novelas de
cavalaria e narrativas histórica trágico-marítima. E as suas fontes literárias foram
Vírgilio, Eneida; Ovidio, Metamorfoses; Homero, Ilíada e Odisseia; Ariosto, Orlando
furioso; António Ferreira, A castro; Garcia de Resende, trovas de D.Inês e canceiro
geral.

Na mitologia, Camões obedece á regra dos poemas épicos, assegura interna


da acção colocando em oposição humana e deuses, serve para glorificar o povo
português, comparando-o a deuses (valoriza os homens a quem Neptuno e Marte
obdeceram). Júpiter era o pai dos deuses, Vénus era filha do céu e da terra era
também a deusa do amor e da beleza, Marte era o deus da guerra e o Baco o deus
das paixões, dos vícios e do vinho.

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