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Departamento do Ensino Secundário -- Formação de Acompanhantes de Matemática [Programação Linear] 2
2 Referência ao princı́pio
George Dantzig desenvolveu os conceitos fundadores daquilo a que chamamos
programação linear entre 1947 e 1949. Durante a 2a¯ Guerra Mundial, tra-
balhou no desenvolvimento de planos e propôs vários tipos de horários
de treino, fornecimento logı́stico a que os militares chamaram programas.
Já depois da guerra, ao procurar encontrar a via mais eficiente para de-
senvolver esses programas, Georges Dantzig descobriu que o problema de
planeamento podia ser formulado como um sistema de inequações linear-
es. Também teve de redefinir o conceito de objectivo. Nesse tempo, os ge-
stores pensavam nos objectivos em termos de algumas leis genéricas para
os atingir. Um homem da marinha diria que, se o objectivo é ganhar a
guerra, o que há a fazer é comprar mais navios de guerra. Dantzig foi a
primeira pessoa a falar de critérios para seleccionar o melhor plano explici-
tados matemáticamente, por aquilo a que agora chamamos função-objectivo.
Todo este trabalho teria um valor prático muito limitado sem métodos efi-
cientes ou algoritmos para encontrar a solução óptima de um sistema de
inequações lineares que maximiza (lucro, benefı́cio) ou minimiza (custo) de
uma função-objectivo.
Para responder a essa necessidade, desenvolveu o algoritmo ”simplex” 1
que resolve de forma eficiente o problema.
Em 1939, o matemático e economista soviético L. V. Kantorovich formulou e
resolveu um problema de programação linear relacionado com planeamen-
to da produção. O trabalho de Kantorovich era desconhecido na própria
União Soviética e ignorado no resto do mundo durante mais de 20 anos e,
por isso, não teve qualquer impacto no desenvolvimento da programação
linear pós-guerra.
O grupo de académicos mais interessados na programação linear era con-
stituı́do pelsos economistas. Vários dos participantes numa primeira con-
ferência intitulada Activity Analysis of Production and Allocation acabaram
por vir a ganhar o prémio Nobel da economia pelos seus trabalhos em mod-
elos de princı́pios fundamentais da economia, utilizando programação lin-
ear.
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John Nash describes the Simplex method for solving linear programming problems.
(The use of the word programming here really refers to scheduling or planning-and not in
the way that we tell a computer what must be done.) The Simplex method relies on noticing
that the objective function’s maximum must occur on a corner of the space bounded by the
constraints of the ’feasible region’. in The Top 10 Algorithms, Jack Dongarra, University of
Tennessee and Oak Ridge National Laboratory Francis Sullivan IDA Center for Computing
Sciences
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3 Um exemplo
Uma empresa fabrica dois tipos de mesas – tipo J para sala de jantar e tipo
C para cozinha – utilizando três máquinas: uma serra mecânica – s, uma
rebarbadeira – r e uma prensa – p. As condições para a cadeia de produção
são as seguintes: o fabrico de uma mesa J gasta uma hora de trabalho com
a serra s, uma hora com a rebarbadeira r e 3h com a prensa p; enquanto que
para fabricar uma mesa C é preciso 1 hora de serra s, duas de rebarbadeira r
e 1 hora de prensa s. E sabe-se que, no perı́odo interessante para a produção,
as máquinas vão estar disponı́veis para o fabrico de mesas exactamente: 60
h de serra, 90 h de rebarbadeira e 150 h de prensa.
Sabendo que cada mesa J se pode vender a 200 euros e cada mesa C a 100
euros, interessa determinar o que deve ser produzido para tirar o máximo
benefı́cio da produção destes tipos de mesas.
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x ∈ IN e y ∈ IN
.
Em segundo lugar, há os contrangimentos da disponibilidade das máquinas.
A serra está disponı́vel 60 horas. Para cada mesa J é preciso uma hora de
serra, x horas para x mesas. Do mesmo modo, para y mesas C é preciso y
horas de serra.
x + y ≤ 60
No que à rebarbadeira diz respeito, x mesas J ocupam x horas, enquanto
y mesas C ocupam 2y horas, sendo que a rebarbadeira não está disponı́vel
mais de 90 horas:
x + 2y ≤ 90
A prensa está disponı́vel no máximo 150h e para produzir x mesas J e y
mesas C são precisas 3x + y horas de prensa:
3x + y ≤ 150
Em resumo, os dados do problema podem ser organizados numa tabela
simples e esclarecedora. Por exemplo:
3.1.2 E a função-objectivo
Finalmente, há que considerar o produto da venda em euros P = 200x +
100y, que é o que queremos maximizar.
y (x, y) : y>-x+60
y (x, y) : y=-x+60
y (x, y) : y<-x+60
O x
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x>0 e y>0
x+y≤60
x+2y≤90
3x+y ≤ 150
O A
Restaria agora ver para qual destes pares (x, y) (isto é, para que números
de mesas J e C se podem produzir respeitando os constrangimentos da
produção) se obteria um produto de venda máximo i.e. um máximo da função
objectivo.
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3x+y=150
P/100 máximo
A: (50, 0)
B: (45, 15)
C: (30, 30)
D: (0, 45)
x+y=60
B
x+2y=90
O A
4 Exemplos semelhantes
4.1
Uma empresa produz dois modelos de brinquedos B1 e B2 . Por dia, a em-
presa conta com 42 horas de trabalho e com matéria prima que dá para
fabricar 13 brinquedos. Para fabricar um B1 que rende 50 euros são precisas
3 horas, enquanto que o fabrico de um brinquedo B2 que rende 60 euros
gasta 4 horas.
a) Determine quais produções diárias rendem 650 euros.
b) Determine qual é ao tipo de produção diária que dá o máximo lucro.
4.2
A companhia A. Madeira, Lda. fabrica dois tipos de móveis: mesas e cadeiras.
Uma mesa vende-se por 27 contos, e usa 10 contos de materiais. As cadeiras
vendem-se a 21 contos, e cada uma requer 9 contos de materiais.
Cada mesa construı́da aumenta os custos variáveis de trabalho e as despesas
gerais em 14 contos; cada produzida cadeira aumenta estes custos em 10
contos.
A construção de mesas e cadeiras requer dois tipos de trabalho especializa-
do: carpintaria e acabamentos. A produção de uma mesa requer 2 horas
de acabamentos e uma hora de carpintaria; uma cadeira requer 1 hora de
acabamentos e uma hora de carpintaria.
Em cada semana de trabalho, A. Madeira, Lda. pode obter todas as matérias
primas que forem necessárias, mas tem disponı́veis apenas 100 horas de
mão-de-obra para acabamentos, e 80 horas de mão-de-obra de carpinteiros.
A procura de cadeiras é ilimitada, mas a venda de mesas é de, no máximo,
40 unidades por semana. A empresa pretende maximizar o lucro semanal.
4.3
Um construtor de automóveis tem em armazém 900 toneladas de metal com
que quer fabricar automóveis e camiões. Cada automóvel gasta 2 toneladas
de metal e 200 homens/hora, enquanto cada camião gasta 4 toneladas de
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4.4
Um fabricante de automóveis produz automóveis e camiões dividida em 2
linhas de fabrico. A primeira linha de fabrico que faz a operação básica da
montagem gasta 5 homens/dia em cada camião e 2 homens/dia em cada
automóvel. A segunda linha de fabrico, que realiza acabamentos, gasta 3
homens/dia em cada automóvel ou camião que produz. As limitações em
número de homens e máquinas são: enquanto na linha de montagem se
pode contar com um máximo de 180 homens/dia por semana, na linha de
acabamentos não se pode contar com mais de 135 homens/dia por semana.
Se o fabricante realiza um lucro de 300 contos em cada camião e 200 em cada
automóvel, quantos de cada um se deve produzir por semana de forma a
maximizar o lucro?