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“MOÇÕES ESPIRITUAIS”

Durante a experiência do Retiro a pessoa sente moções ou “movimento


interiores”.
Não só durante o retiro, mas durante toda a vida. No retiro, geralmente somos
mais sensíveis a percebê-las
Para S. Inácio, nosso interior é um campo de luta; luta entre a liberdade de Deus que nos liberta e a
falsa liberdade que nos escraviza.
Sentimo-nos atraídos pelos dois pólos. Isto é o que ele chama moções ou “movimentos dos espíritos”.

Em nós se sucedem diversos movimentos ou estados de ânimo, que variam


mais ou menos rapidamente de acordo com os acontecimentos, os momentos da
vida, o jeito de cada um...
Muitas vezes “sentimos” o desejo de ajudar os outros... outras vezes tendemos
a nos fechar em nós mesmos. Há pensamentos que nos estimulam e temores
que nos paralisam.
Em meio a esse fluxo e refluxo, como reconhecer quais são as correntes que nos
levam a Deus e quais as que nos afastam d’Ele? Como reconhecer que
caminhamos na direção em que o próprio Deus atua?
Daí a necessidade do discernimento, ou seja, uma “leitura orante” daquilo
que se passa no interior: sentir e conhecer os “movimentos do coração, para
atuar a partir daí.
O “discernimento dos espíritos” é uma atividade pela qual a pessoa busca, percebe e distingue “quê
espírito” (de Deus ou do mundo) está atuando em um momento determinado. Depois de examinar faz
uma opção por aquilo que mais a leva ser melhor filho(a) de Deus, irmão(ã) dos outros.
O discernimento é sempre um processo de busca contínua que se fundamenta na Graça de Deus.
É um meio eficaz para “buscar e encontrar a Vontade de Deus em todas as
coisas”.

Como surgem as “moções”


Durante a experiência dos Exercícios há um contínuo
encontro com a Palavra de Deus, que é viva, atual, eficaz... Ela provoca,
questiona, desinstala, desperta ressonâncias em nosso interior: são as moções.
Em sentido amplo, as moções são os vários movimentos, impulsos, apelos,
atrações, reações... que experimentamos. São chamados de “movimentos
interiores” porque são percebidos como algo que vem a partir do “profundo”
da pessoa (coração).
Ex: vejo alguém em necessidade e “sinto” um apelo para ajudar esta pessoa;
o apelo “soa” em minha consciência como uma voz que diz: “ajuda esta pessoa!”

Durante a experiência dos Exercícios, a pessoa deve estar atenta a determinados


movimentos interiores: alegria, paz, tristeza, medo, perturbação, secura, aridez, luz,
inspiração, confusão, abertura, desânimo, coragem, confiança, insegurança, iluminação...
Tais movimentos são as MOÇÕES, divididas em CONSOLAÇÃO e DESOLAÇÃO.
As moções enquanto tais são algo rápido, mas podem ter uma ressonância que
se prolonga por um deter-
minado tempo. São “movimentos interiores” que puxam para
algo:
a. para o amor ou para o fechamento em si;
b. para a generosidade ou para a centralização em si;
c. para a humildade ou para o orgulho.

As “moções” são diferentes de “emoções” (estas estão no nível afetivo-


psicológico). Uma coisa é a emoção, a alegria passageira, fácil... outra coisa é a
alegria serena que me leva para a autêntica verdade do eu, ou me intensifica
na relação profunda com Deus: viver o cume da experiência.
As “moções” acontecem no coração: aqui estamos no nível da fé.
Para S. Inácio, Deus se comunica através das “moções internas”: estas são um
“toque” de Deus no profundo da pessoa e que repercute na forma de
pensamentos, iluminações, apelos, sentimentos...
Elas vem de fora (são provocadas); ação de Alguém, independente de mim.
A. Moções boas ou Consolação
São “estados interiores intensos”, além
do normal; não é algo rá-
pido que vai embora. São facilmente
perceptíveis.
Não provocamos a consolação; ela vem em tempos determinados pelos
desígnios de Deus; ela se aproxima, entra e sai quando Deus quer. É uma
experiência nítida da Graça.
É um estado de ânimo intenso; não retenho, não tenho domínio sobre ela; eu não
a repito.
São períodos claros, vivificantes, plenificantes. São um dom do Senhor.
Sinais da presença da Consolação:
* experiência interna da presença amorosa de Deus (íntima, pessoal, presença inconfundível);
* sensação de ser amado gratuitamente; a consolação produz sempre paz, força interior, satisfação profunda...;
* leva a pessoa a encher-se de amor para Deus e desejo de caminhar para Ele por meio do serviço aos outros;
* sentindo alegria espiritual, tranquilidade... às vezes inexplicáveis;
* aumento de fé, esperança, amor; atração pelas grandes causas do Reino, das coisas de Deus;
* sente-se livre diante das coisas; sem apegos; sentindo forças e desejos de superar as atitudes de pecado;
* sentindo impulsos para ajudar aos irmãos mais necessitados;
* sentindo facilidade e alegria em dialogar com o Senhor;
* clareza intelectual, entendendo de uma maneira nova o que é o Amor de Deus, o serviço aos outros...;
* unificação do ser: integração; descoberta da própria identidade; sensação de liberdade;
* sensação de que o melhor de nós vem à tona; experiência do sentido da vida e de tudo (novo olhar...);
* percepção dos caminhos a seguir; Deus está agindo e atraindo...;
* experiência total e totalizante: atinge todas as dimensões da pessoa (corpo, mente, afetividade...);
* tudo está em harmonia; experiência existencial: nova direção à vida;
* etc... (a consolação se manifesta em cada pessoa com matizes diferentes; o importante é ter sensibilidade em
percebê-las e saber dar “nome” a elas...)

Não confundir consolação com “estados eufóricos” (afetivos). Ex: distinguir a


alegria (euforia) de ter ganho na loteria, da alegria espiritual de doar o que
ganhou a uma instituição de caridade.
Na consolação há uma dimensão de “alteridade”, saída de si. A atenção está
voltada para o Doador da
consolação. Por isso ela não faz barulho, não é explosiva; é
silenciosa.
Na euforia a atenção está voltada para o eu; voltar-se sobre si mesmo; ela é
barulhenta, conquista pessoal.
B. Moções más ou Desolação
A desolação é o contrário da consolação; é
como se fosse uma queda
de pressão em nossa atmosfera interior. É um
estado de ânimo inten-
so, fora do normal, facilmente perceptível.
Para S. Inácio, consolação e desolação são “lições do Senhor”. Também na
desolação o Senhor está nos ensinando. A pessoa experimenta desolação lá
onde a adesão a Deus na fé se torna mais difícil.
As manifestações da desolação são muito variadas, dependendo de cada
pessoa. Eis alguns sinais:
* experiência interna da distância de Deus; perda de confiança ou de esperança;
* tristeza; sem forças; obscuridade (já não sabe por onde avançar); fascinação pelas coisas mundanas;
* secura e aridez na oração (ausência, vazio...);
* sentindo aborrecimento e desânimo de seguir o tema da oração;
* obscuridade que leva à dúvida e à falta de fé; frieza diante de tudo que se refere a Jesus Cristo;
* sentindo que toda tentativa de uma mudança de vida é impossível;
* experiência total e totalizante: atinge todas as dimensões do ser (corpo, mente, afetividade...)

Regra de ouro: quem está desolado não tome decisões, mas se mantenha firma
nas decisões tomadas
anteriormente; em meio à escuridão e desânimo, as condições são
desfavoráveis para reconhecermos nosso caminho; nossa visão
de fé se turva. Se modificamos nossa maneira de atuar, o mais
provável é que nossa nova decisão seja inadequada.
Desolação como “provação”: “formar-se é provar-se”. Só aquele que é
posto à prova em sua fé e em
suas convicções, se forma e se fortifica.
Deus nos põe à prova não tanto para ver se O amamos, mas para levar-nos a
amá-Lo ainda mais.
Trata-se de amadurecer e purificar nossa adesão a Deus. A provação nos ajuda
a passar do dom à Pessoa que doa. É uma autêntica purificação que nos leva a
uma fé madura.
A desolação nos abre para o específico nosso, que é esperar tudo do Senhor;
nos abre para o específico
de Deus, que é a iniciativa livre, soberana, gatuita...
A desolação espiritual nos mostra até onde somos capazes de chegar no amor e
serviço a Deus quando
nos vemos privados do apoio que proporcionam o fervor e a alegria.
Todos nós temos uma tendência a procurar mais o consolo de Deus do que o
Deus que nos consola.
Re-criar a confiança: Deus é fiel... seu Amor permanece sempre... Deus nos
leva por caminhos que nunca esperaríamos passar. Continuar paciente a
caminhar para Deus; pensar que a consolação voltará; buscar a calma (não se
desesperar); insistir na oração; reconhecer que tudo é dom, também a
desolação.

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