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RESUMO
As histórias de vida são um tipo de estudo de caso muito
utilizado nas ciências sociais. Têm como finalidade o registo da
Autores história de vida para a compreensão de aspectos básicos do
comportamento humano. Procura reconstituir a carreira de sujeitos
- Nogueira, Manuela dando relevo ao papel das organizações, acontecimentos marcantes
Fisioterapeuta e indivíduos que tiveram nele influência significativa (Bogdan e Biklen,
1994, citado por Carmos e Ferreira, 1998).
- Moreira, Paula Achámos relevante a realização deste estudo, visto o carácter
Fisioterapeuta inovador da investigação de histórias de vida em fisioterapia.
- Coutinho, Isabel Maria Escolhemos fazer a história de vida de um fisioterapeuta que
Fisioterapeuta, Profª. tivesse ligação à Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa
Coordenadora do Curso (ESTeSL). A nossa escolha recaiu na Fisioterapeuta Olga Leão. O
Superior de Fisioterapia nosso objectivo foi a recolha e registo do maior número de dados e
da ESTeSL factos relacionados com o seu percurso profissional e de docência.
Identificamos várias limitações ao nosso estudo devido à sua
subjectividade, à subjectividade da análise dos dados, ao seu carácter
restritivo.
modelo curricular dos cursos apresenta uma 99/2001, de 28 de Março, que as integrou
duração de três anos. nos Institutos Politécnico da Saúde de Lisboa,
São então publicadas os planos de Porto e Coimbra respectivamente, o qual
estudo e as disciplinas e, em 6 de Julho de nunca chegou a ser implementado.
1986 é publicada a Portaria n.º 549, que As ESTeS, como estabelecimentos de
regulamenta o acesso às escolas, na qual se ensino superior politécnico, regem-se pelos
exige o 12º ano para o ingresso nos cursos. princípios fundamentais definidos para este
Esta portaria cria também o curso nível de ensino, através da simbiose entre o
Complementar de Ensino e Administração, ensino e a investigação das tecnologias da
como curso de Pós-graduação, com uma saúde, na missão ímpar de qualificação de
duração de um ano. Este curso funcionou até recursos humanos da saúde, contribuindo
1993. para a melhoria dos padrões de qualidade do
E em 1993, através do Decreto-Lei n.º ensino e eficácia na prestação de cuidados de
415/93, de 23 de Dezembro, dá-se a saúde à comunidade.
integração das Escolas Técnicas dos Serviços Após um século de vivências das
de Saúde (ETSS) no sistema educativo, ao nível tecnologias da saúde em Portugal e
do ensino superior politécnico, passando à decorridas mais de duas décadas sobre a sua
actual designação como estabelecimentos de criação, a Escola Superior de Tecnologia da
ensino superior – Escolas Superiores de Saúde de Lisboa, no ano lectivo de 2001-
Tecnologia da Saúde (ESTeS) – com o estatuto 2002, foi dotada de nova sede em instalações
jurídico de escola politécnica pública não próprias, numa das zonas mais modernas da
integrada. Consagrou também, no seu artigo cidade de Lisboa, em pleno Parque das
9º, a possibilidade dos cursos anteriormente Nações.
ministrado nestas escolas conferirem o grau Enquanto entidade orgânica, detentora
de bacharel desde que os respectivos planos de uma estrutura científica e pedagógica
de estudo correspondessem aos planos de adequadas, rege-se pelos presentes Estatutos
estudo dos bacharelatos criados. (Despacho n.º 20 786/2004; 2ª série), que
Posteriormente o Decreto-Lei nº. lhe permitem pôr fim ao regime de instalação
280/97, de 15 de Outubro, vem dar nova em que tem vivido desde 1993, ao mesmo
redacção ao diploma anterior, clarificando o tempo que a dotam de um modelo de gestão
seu alcance e competência para a aplicação democrático, eficiente e dinâmico, assente na
do processo. participação efectiva de toda a comunidade
As ESTeS passaram a depender da académica – estudantes, docentes e pessoal
tutela conjunta dos Ministérios da Educação e não docente.
da Saúde, até passar, em 1 de Janeiro de Actualmente o Curso Superior de
2001, para a tutela exclusiva do Ministério da Fisioterapia é ministrado nas escolas
Educação, através do Decreto-Lei n.º superiores, com uma duração de três a quatro
muitas mudanças na fisioterapia assim como difícil. Assim trabalhou em vários centros no
na ESTeSL. privado antes de integrar uma equipa no
A sua entrada no mundo da fisioterapia sector de Fisioterapia do Hospital Curry
deu-se devido à experiência enriquecedora, que Cabral, em 1979. A sua opinião sobre o sector
teve nas suas estadias em Londres, num privado não é muito abonatória pois acha que
hospital, para intervencionar a sua filha que se privilegia os números em detrimento da
tinha uma patologia congénita. Foi o contacto qualidade.
com a humanização, a eficácia e a eficiência O seu percurso profissional foi bastante
dos serviços de saúde em Inglaterra, assim generalista, reflectindo a diversidade de
como o seu papel activo na recuperação da intervenção no exercício da sua profissão.
sua filha entre as duas cirurgias, que a motivou Apesar de tudo, defende que os profissionais
para uma carreira na saúde. devem especializar-se, com a certeza do que é
Ao ingressar no curso de fisioterapia já pretendido, após terem tido a experiência de
tinha uma vasta experiência profissional, trabalhar em várias áreas da fisioterapia. A
adquirida no estrangeiro, como por exemplo no sua procura de formação e informação não
secretariado, como figurinista e como sofreu qualquer tipo de preconceito, levando-a
assistente de bordo. a buscar outras técnicas menos aceites pela
maioria dos fisioterapeutas mas, que poderiam
Todas as profissões que exerceu
ser coadjuvantes de outras mais ortodoxas.
privilegiaram o contacto humano.
Sempre se regeu pelo princípio de que
As relações humanas sempre
saber não ocupa lugar e que, para executar
exerceram um fascínio sobre ela, indo ao
uma determinada técnica, tem que se ter
encontro da sua natureza aberta e
conhecimentos para tal. A disponibilidade em
comunicativa.
orientar os profissionais mais novos levou-a a
Essas experiências permitiram-lhe abrir
colaborar com a escola de Lisboa, a convite da
horizontes, moldando a sua forma de pensar e
Dra. Edite Ribeiro. O seu grande dinamismo e
de estar na vida. Esta forma de estar foi
interesse pela profissão foram a razão do
transposta para a sua vida profissional,
convite, feito em 1983/1984, para integrar a
reflectindo-se numa abertura para as
ETSSL como monitora de estágio e professora
situações novas, numa visão organizativa, na
de algumas disciplinas do curso de fisioterapia.
forma como se relaciona com os outros e gere
Quando ingressou no curso de fisioterapia em
algumas situações de conflito que surjam,
1974, a entidade formadora era o Centro de
raramente radicalizando a sua posição,
Preparação de Técnicos e Auxiliares dos
optando quase sempre pela via diplomática.
Serviços dos Hospitais Civis de Lisboa. Este
Desde que acabou o curso de
centro de formação foi percursor da ESTeSL.
fisioterapia sempre teve como objectivo
A Fisioterapeuta Olga Leão, assim como
ingressar numa equipa de profissionais em
outros elementos ligados às Escolas Técnicas
contexto hospitalar, o que sempre foi muito
Arquivos de Fisioterapia Volume 1, nº 4, Ano 2008, Página 34
Uma História de Vida em Fisioterapia
uma história na terceira pessoa, que nos terapêutica. Pois é uma forma de dar uma
ajudou a orientar a construção da primeira. visão pessoal da profissão, e também uma
É frequente que a apresentação do texto forma de construir a história viva de uma
se faça na primeira pessoa. Trata-se de um profissão, ou conjunto de profissões. As
modo de escrever que aproxima o leitor da histórias de vida individuais, para além de
fidelidade e da subjectividade da narrativa, serem uma forma de focalização das
onde o investigador se apaga diante da memórias pessoais são também a construção
narrativa deixando lugar só para o narrador. de uma visão mais concreta da dinâmica de
Por esta razão temos que ter precaução na funcionamento e das várias etapas da
reprodução fiel da autobiografia falada. No trajectória do grupo social ao qual pertencem
entanto esta apresentação não é obrigatória. esses indivíduos.
Normalmente a utilização da terceira pessoa Parece-nos pertinente sugerir a recolha e
do singular é feita com a finalidade de evitar a reunião de mais relatos de vida, pois as
confusão entre o narrador e o autor (Poirier, pessoas estão a aposentar-se, tendo algumas
Valladon e Raybaut, 1999). já falecido, senão corremos o risco de saber a
Tivemos sempre, ao longo de todo o nossa história somente através dos vários
processo de tratamento do material, o grande diplomas publicados.
cuidado em não desvirtuar nem deturpar o
Bibliografia
sentido da narrativa.
- Carmos, H. Ferreira, M. M. (1998). Metodologia
Outro obstáculo, foi a escassez de da Investigação – Guia para Auto-Aprendizagem.
Lisboa: Universidade Moderna.
bibliografia sobre este método que nos orienta- - Munoz, J. J. P. (1992): Colección “Cadernos
Metodológicos”, Nº 5 El método biográfico: El uso
se de forma clara durante a investigação. A de las historias de vida en ciencias sociales.
legislação utilizada também não foi fácil de Madrid: CENTRO DE INVESTIGACIONES SOCIOLÓGICAS.
- Poirier, J.; Clapier-Valladon, S.; Raybaut, P. (1999):
reunir devido à quantidade de diplomas Hstórias de Vida. Teoria e Prática (2ª Edição).
específicos da Fisioterapia e da ESTeSL, assim Oeiras: Celta Editora.
- Rodrigues, M. L. (2002): Sociologia das
como os diplomas mais abrangentes; Profissões 2ª Edição). Oeiras: Celta Editora.
- Diário da República; série I; n.º 220;
conseguir encontrar os diplomas mais antigos 23/09/1980; Port. n.º 709/80
foi também uma tarefa difícil. Com toda a - Diário da República; série I; n.º 210;
10/09/1982; D.L. n.º 371/82
certeza alguns diplomas terão escapado, mas - Diário da República; série I; n.º 220;
foi um ponto de partida, Esta compilação de 24/09/1986; Port. n.º 549/86
- Dário da República; série I – A; n.º 298;
legislação poderá sempre vir a ser aumentada 23/12/1993; D.L. n.º 415/93
- Diário da República; série I – A; n.º 239;
e actualizada. 15/10/1997; D.L. n.º 280/97
- Diário da República; série I – A; n.º 295;
Após a conclusão deste estudo esperamos
21/12/1999; D.L. n.º 564/99
suscitar a curiosidade de outros colegas, - Diário da República; série I -A; n.º 74;
28/03/2001; D.L. n.º 99/2001
desafiando-os a continuar a recolha de - Diário da República; série II; n.º 237;
testemunhos dos técnicos de diagnóstico e 08/10/2004;
- Despacho n.º 20 786/2004