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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO

CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


EAD Polo Brasília - 2º Período

Atividade do Planejamento Semanal - Tema: REVOLUÇÃO INGLESA


Módulo: Desenvolvimento desigual e combinado da sociedade moderna

Aluno FÁBIO LUÍS CARDOSO DE PAIVA

ESTADO ABSOLUTISTA

O Absolutismo foi uma forma de governo que dominou a Europa,


principalmente, no século XVIII. A monarquia absoluta foi uma transição do
feudalismo até o capitalismo. Por conseguinte, o Estado absolutista é alvo de amplo
debate entre os pensadores marxistas.
Uma vez que a forma de governo não define as relações de classe do Estado, o
tema da discussão repousa justamente no caráter de classe do Estado absolutista. Nesse
mister, duas posições podem ser destacadas: a dos autores que sustentam a tese de que o
Estado absolutista é um Estado capitalista e a dos que defendem que o Estado
absolutista seria um Estado feudal.
No intuito de construir uma breve análise dessas duas correntes e tomar uma
posição diante delas, o presente trabalho utiliza como referência os argumentos
considerados no artigo do professor Armando Boito Júnior, Os tipos de Estado e os
problemas da análise poulantziana do Estado absolutista, no qual realiza uma Crítica
Marxista à publicação de Nicos Poulantzas, Poder político e classes sociais.
Nesse artigo, o autor apresenta sua argumentação com base na concepção de que
a natureza de classe do Estado está vinculada à sua estrutura jurídico-política, ou seja,
“a natureza de classe de um tipo de Estado (escravista, feudal ou capitalista) está
inscrita na própria estrutura desse Estado, e não apenas na política implementada por
ele”. Neste contexto, ele acrescenta o conceito de que cada tipo de Estado é uma
estrutura jurídico-política particular, cuja função é reproduzir, por meio de sua política,
determinadas relações de produção.
Segundo o autor do referido artigo, ao lado da tese sobre o caráter capitalista do
Estado absolutista, e em posição aparentemente minoritária, encontram-se grandes
pensadores marxistas, como Engels e Poulantzas.
Engels trata a monarquia absoluta como Estado burguês por causa da
centralização político-administrativa e do renascimento do direito romano do século
XIII, que consagra a propriedade privada e regula o comércio, elementos fundamentais
que, segundo o pensador, garantiram a afirmação da burguesia.
Na mesma direção, Poulantzas destaca que no caráter centralizado do Estado
absolutista “as funções de Estado teriam superado o particularismo classista, típico da
Idade Média”. Em relação ao direito, ele defende que o nível já avançado de
formalização e de generalização da estrutura jurídica sob o absolutismo atesta o seu
caráter burguês.
No que tange à política da monarquia absoluta, Poulantzas se refere ao
mercantilismo como tendo cumprido a função de promover uma acumulação primitiva
de capital, por meio da expropriação dos pequenos proprietários e da exploração das
colônias, garantindo, portanto, o fornecimento de fundos para uma industrialização do
tipo capitalista.
Em resumo, os pensadores dessa corrente postulam que, pela sua estrutura
centralizada e pela sua política mercantilista, o Estado absolutista destruiu “as antigas
relações de produção feudais” e instaurou “as relações de produção de tipo capitalista”.
Por outro lado, o professor Boito Jr cita que em defesa da tese de que a função
do Estado absolutista era preservar as relações feudais encontram-se historiadores
soviéticos, como Porchenev, e britânicos, como Christopher Hill, além do filósofo
francês Louis Althusser.
Para esses estudiosos, a mudança na forma de Estado feudal para a forma de
Estado absolutista não alterou o caráter de classe do Estado. Pelo contrário, a
insatisfação dos proprietários feudais com a centralização político-administrativa, que
concentrou na monarquia as prerrogativas fiscais, jurídicas e militares, representou
apenas um conflito superficial, no qual os senhores feudais abriram mão de interesses
particulares para garantir o interesse geral da classe: a manutenção das relações feudais
de produção.
Corroborando com essa posição do caráter feudal do absolutismo, o professor
Boito Jr contesta a análise de Poulantzas e aprofunda o debate com argumentos sobre o
direito, o burocratismo e a política mercantilista, visto que os defensores da segunda
tese se restringiram a considerar os aspectos da política do Estado absolutista.
De acordo com o professor, o sistema jurídico do Estado absolutista possui
“caráter essencialmente burguês”, pois manteve as ordens e os estamentos existentes
desde a Idade Média. A preservação da norma jurídica servil, que garante a
“subordinação pessoal do servo ao proprietário feudal do solo”, e dos tribunais
senhoriais, “aparelho de justiça privada do senhor feudal”, caracteriza um sistema
inigualitário e particularista. Portanto, contrariando Poulantzas, não é possível concluir
que o direito absolutista já possuía um nível avançado de formalização e generalização.
Quanto ao burocratismo do Estado absolutista, Boito Jr afirma que também é de
caráter feudal, em função da venalidade de cargos do Estado e do caráter estamental da
instituição militar. A venalidade de ofícios caracteriza-se pela prática que possibilita a
fusão de cargos e recursos estatais com o patrimônio privado de seus ocupantes. A
nobreza de espada foi uma expressão vinculada à instituição militar porque a seleção
para a oficialidade do exército baseava-se no critério de pertencimento de ordem e na
situação estamental. Esses aspectos provam que os estados absolutistas estavam
organizados de acordo com a regra fundamental do burocratismo de tipo pré-capitalista:
“o monopólio dos cargos de mando no aparelho de Estado pelos membros da classe
dominante”.
No que se refere à política mercantilista, o autor relata que, mesmo sendo uma
política de desenvolvimento comercial e manufatureiro implementada pelos estados
absolutistas, no plano das relações de produção, era utilizado o trabalho servil e o
comércio era limitado pela estrutura jurídico-política feudal. Nesse sentido, o
mercantilismo permitiu a acumulação primitiva de capital, propiciando o “aparecimento
de um dos elementos do modo capitalista de produção”, mas também orientou esse
“capital acumulado para uma aplicação não-capitalista – a exploração do trabalho
servil”, bloqueando, assim, a formação da estrutura do modo capitalista de produção.
Desta forma, a política mercantilista reiterou as relações de produção feudais, ao invés
de promover o trabalho livre assalariado.
Face ao exposto, posso inferir que o absolutismo foi uma transição entre o
feudalismo e o capitalismo, mas, principalmente, foi a última expressão política do
sistema feudal. Na minha visão, a monarquia absoluta simplesmente transformou os
vários feudos que constituíam o território em um único feudo.
Por fim, convém ressaltar a importância do presente debate, que alimentando a
reflexão sobre a polêmica em torno do caráter de classe do Estado absolutista, forneceu
elementos para desconstruir preconceitos e para edificar uma compreensão autônoma da
transição ao capitalismo e da formação do mundo atual.
Brasília, 22 de agosto de 2010.

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