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Entrevista de Edgar Franco a GISELE X-GIRL.

1 – Quem conhece Edgar Franco associa o seu nome a HQs poéticas e fantásticas. Quando
surgiu esse interesse pelo mundo tecnológico?

Essa é uma boa pergunta, pois sempre tive uma postura muito crítica em relação à todo tipo
de tecnologia, desde as primeiras máquinas da Revolução Industrial que destruíram com a produção
artesanal, reduzindo o trabalho humano a uma simples ação mecânica até os supercomputadores
usados para planejamento de guerra. Durante um bom tempo cheguei a ser um purista e a tentar
resistir aos encantos do computador, com um discurso preconceituoso de repúdio à “fria tecnologia”,
mas acabei seduzido pela rede Internet, que significou uma ruptura em muitos de meus conceitos,
quando tomei contato com a rede logo percebi o enorme potencial aberto por ela: um meio de
comunicação democrático e de via dupla, onde qualquer um pode divulgar o seu trabalho, sua visão
de mundo e Ter a oportunidade de ser visto por pessoas de todo o mundo. Hoje existem provedores
gratuitos no mundo inteiro onde podemos hospedar nossos sites com custo zero, muitas outras
vantagens podem ser apontadas, uma delas eu vivi logo nos primeiros dias que coloquei o meu site
no ar, divulguei o endereço entre muitos dos amigos que acompanhavam o meu trabalho nos zines, o
pessoal visitou e me enviava mensagens falando assim “Nossa, o seu trabalho colorido ganha outra
dimensão”, eu faço HQs e ilustrações coloridas há mais de 12 anos mas como é muito caro
reproduzir esse material na forma impressa, a maioria das pessoas que acompanhava meu trabalho
nos zines nunca tinha visto nenhum trabalho meu em cores... Mas não sou um deslumbrado, mesmo
hoje pesquisando e utilizando essas tecnologias continua com uma postura crítica em relação a ela,
continuo acreditando que o avanço tecnológico não está sendo acompanhado pelo avanço ético, ainda
matamos e odiamos como na idade média, meus trabalhos usando novas tecnologias tratam desse
tema.

2 – Algumas pessoas dizem que HQ na Internet deixa de ser HQ e vira desenho animado. É
verdade ou preconceito contra essa nova mídia?

Minha dissertação de mestrado em multimídia na Unicamp trata exatamente sobre esse tema.
Em dois anos de análises cheguei à conclusão de que as HQs hipermidiáticas não são mesmo aquilo
que convencionamos chamar de “quadrinhos” , mas também não são desenhos animados. São, na
verdade, uma nova linguagem híbrida que funde códigos da linguagem dos quadrinhos impressos
como: o balão de fala, a divisão em requadros, a onomatopéia, etc.; às novas possibilidades abertas
pela hipermídia como: animação, diagramação dinâmica, efeitos sonoros, trilha, sonora,
multilinearidade e interatividade !!! Eu intitulei essa nova linguagem de HQtrônica (um neologismo
que funde o termo HQ – história em quadrinhos com o termo eletrônicas), em breve meu site também
intitulado HQtrônicas estará no ar, trazendo um resumo dessa minha pesquisa.

3 – Seu trabalho tem um quê de irreal...você é fã de ficção científica e/ou usa a imaginação para
criar novos mundos? Como se dá esse processo de criação?

Meus mundos fluem do inconsciente coletivo, são paisagens arquetípicas que busco na
essência do meu ser, sempre trabalhei com personagens e universos fantásticos mas estou refletindo
sobre questões humanas. Gosto da ficção científica de autores como Ray Bradbury, Aldous Huxley e
George Orwel, de diretores como Ridley Scott, David Cronemberg e Stanley Kubrik, de
quadrinhistas como Caza e Druillet, autores que não se deixam levar pelos “tecnologismos” e
penetram fundo nos meandros da alma humana. Meu processo criativo geralmente é fluido, deixo as
idéias escorrerem para o papel sem nada censurar, funciono como uma antena, um canal para que o
equilíbrio universal se manifeste. Meu trabalho mais atual o universo “Aurora Biocibertecnológica”
seguiu um processo criativo mais formal, inspirado em pesquisas sobre biotecnologia, genética,
robótica e telemática avançada, entretanto o argumento geral das HQs criadas para ele até agora
seguiram meu processo fluido convencional.

4 – E a home-page, como vai? Você se surpreendeu com os recursos do computador na hora de


criar as HQs para a net??

A minha página pessoal (com entrevista, HQs, ilustrações, etc.)está no ar há mais de 3 anos
com um bom número de visitas, mas o design não é legal, fiz essa versão há 2 anos e desde então não
tive tempo de fazer uma nova versão, mas no ano que vem pretendo reformulá-la e torná-la mais
dinâmica com atualizações mensais, para os que quiserem visitá-la:
www.geocities.com/ritualart.geo
A boa notícia é que o site de minha pesquisa HQtrônicas, incluindo o processo criativo de
meu universo e 2 trabalhos inéditos utilizando animação, som, interatividade e multilinearidade
estará no ar em agosto, ainda não tenho o URL definido, mas quem quiser saber basta me enviar um
e-mail que quando estiver online eu avisarei, meu e-mail é:
edgarf@iar.unicamp.br
A experiência de criar HQs para a Internet utilizando novas possibilidades sinestésicas como
o som é realmente uma ruptura para quem anteriormente só criava trabalhos para o meio impresso,
novos aspectos, novas dimensões e novos limites, um mundo a ser explorado, no momento vivemos
um período de experimentações, sou como uma criança que pega um lápis pela primeira vez!!! Estou
satisfeito com meus primeiros trabalhos nesse campo e também consciente dos problemas e
limitações que eles apresentam, (aprender a lidar com softwares é complicado e exige dedicação, esse
é o lado chato dessa história toda!), tive uma ótima notícia, minha HQtrônica “NeoMaso Prometeu”
foi selecionada para a mostra competitiva de arte e novas mídias do festival Videobrasil que
acontecerá no SESC Pompéia em São Paulo de 19 a 23 de setembro, o trabalho estará também online
no site do festival a partir do dia 19 de setembro, quem quiser conferir:
www.videobrasil.org.br

5 – Você é fã de games? Já pensou em criar um game com seus desenhos?

É interessante você perguntar isso, pois apesar de não ser um grande fã de games, gosto de
alguns e a minha proposta para o doutorado envolve a criação de um ambiente virtual multiusuário
criado em VRML que terá muitas características de um game!! Gosto mais dos jogos que exigem
participação reflexiva, como alguns inspirados em RPG, gostei do Myst apesar de não ter realmente
jogado, acompanhei um amigo fanático jogar e fiquei fascinado com o roteiro e ambientação. Dos
jogos de corredores, fui um aficcionado do MDK, um jogo violento e cheio de clichês do gênero, mas
com um design fabuloso. No momento estou querendo começar uma investigação nessa área,
conhecer mais jogos, mas antes preciso trocar de micro, o meu já não roda bem esses jogos de nova
geração...

6 – O que pensa dos games?

Acho que os jogos de computador tem o seu lado positivo e negativo, como qualquer
forma de entretenimento. Podem ser instrutivos, tornar o pensamento mais ágil, mas os mais jovens
devem tomar cuidado para não tornarem-se obsessivos pelos games, desligando-se do mundo real. O
mesmo acontece com a Internet que pode virar um vício e tornar-se um problema na vida das
pessoas, o mundo virtual nunca deve tomar mais de nosso tempo que o real, se sentir que isto está
acontecendo, desligue tudo agora, pegue o seu cachorro e vá dar uma volta no parque, nada é mais
maravilhoso do que o sol e o cheiro de mato!!
Um forte abraço a todos do FLASH GAME CLUB e muito obrigado pela oportunidade de poder
expressar minhas idéias!!!

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