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Apresentação
Este poeta errante e assertivo, ora nos trás em sua estréia pelo
mundo da poesia o denso LIVRO DAS SOMBRAS. Augusto extrai
da alma do eu lírico em seus recônditos mais ocultos, sentimentos
profundos e ataca sem piedade:
a nefasta alma humana, a existência inócua humana, a ação ignóbil
humana,
a sintética volição humana e a abstinência tecnológica de nós, sinais
do mundo contemporâneo.
Tendo a poesia como catarse e o dom como descrença,
descreve a efígie humana como um espelho dele mesmo, o corvo que
nos rouba a luz numa verdadeira videonasofibrofaringoscopia. Retira
das nossas entranhas, obviamente com o auxílio luxuoso de um
fórceps, o que somos. Uma gota de sangue em cada soneto, e um
mar do inconsciente em cada página, encontrarão acrósticos,
aliterações, rimas ricas, rimas fechadas, abertas, pleonasmos,
decassílabos, tudo métrica, rima e sempre dor. E quando tivermos a
certeza e estarmos na catástase e o próximo passo ser a inevitável
catástrofe... Resta a esperança de contaminado o poema, curado o
homem, surge a amizade, o amor contundente. E se a Poesia é o
ambulatório da alma é porque ela tem cura.
Caso tenha coragem de acompanhar esta viagem para dentro
de si mesmo, este livro trará por certo a grande surpresa da
possibilidade humana.
O Palhaço
Mistérios
Agorafobia
O Lírico
O Ilusionista
O Primeiro Panteísta
Desarmonia
Catástase
Necrodulia
Eu
Reações Adversas
A Dádiva
Acabamento
Isomeria
Efígie
Penumbra
Versos Feodérmicos
Labirinto
Verso aos Romanos
Poslúdio
Alma em flores:
Recreio
Valia
Dilema
À Ma(r)
Divisão
Soneto à Alvorada
Soneto à Saudade
Converso
O Carteiro e o Poeta
Sobre o Tempo
Paisagismo
Canção à Alvorada
A Chuva
Uma Mulher...
O Jangadeiro
Intervalos:
Tempos Modernos
A Palavra
Intrusão Indispensável
Provérbio dos 4 Silêncios
Máximas Exílicas
Nota do Autor
Em videonasofibrofaringoscopia
Me Infiltra a existência à agonia
Do intrínseco amor hematofago e seco.
O tempo…
O tempo é triste,
É o indivisível solvente absoluto
Que tudo transmuda, transvia, transplanta
Translada o místico significado das coisas
Desnuda, deslaça, desmancha, desfaz...
(Des)solidifica a muralha dos sonhos no país do desejo
O tempo…
O tempo…
O tempo é um passa-tempo,
É o carcereiro do mundo
Costurando sonhos nas nuvens da alma
Insípido e descolorido...
E no cata-vento das horas,
Das ruas, das flores, da vida...
Tudo que sobra é silêncio e saudade
Paisagismo
Foi assim...
O teu cabelo era o Sol que trazia sentido a nau dos meus dias
Que se embebia no mar azul dos teus olhos...
E a lágrima que caia deles, era como um milhão de Tsunamis que
escorriam pela praia do teu rosto, deslizando até o cais da tua boca...
E dentro de mim uma orquestra inteira explodia em mil vibrações e
cada célula do meu corpo celebrava a vida, regidas por um único
maestro:
—O teu olhar.
Te vejo de longe,
Além desta fonte,
Ao lindo horizonte
Almejo sorrir.
Os mais belos montes...
Sorrindo pra mim,
E mesmo que eu conte
Parecem sem fim.
Te vejo distante,
No sol ofuscante,
E sempre prestante,
Almejo sorrir.
Teu rosto brilhante...
É fogo incessante
Que num só instante
Me pode partir.
Anel transparente,
Eterno indulgente,
Que até o mais carente
Almeja sorrir.
Teu canto imponente...
Não há ser vivente,
Nem alma existente,
Que vai destruir.
A chuva
Passo... Passo...
Como o rio... A rua, a rosa, e a rede
Que eu lanço sobre o mar do meu futuro;
As bolhas triste que lamentam-se no escuro,
E as maresias que descascam as paredes.
Lua,
Alvorada,
Estrela,
Estrada, Rua
Nua,Verdade,
Deletério,
Liberdade,
Mistério.
Bem supremo,
Nau sem remo,
Temperamental
Linha horizontal
De um traço,
Compasso;
O laço profundo
Doma o mundo,
Espaço infinito
Mais que um mito
Atrito, vivência,
Valia, tendência,
Néctar, freqüência,
Gota de oceano,
Anjo desumano,
Astro em formação
Sonho, canção...
Decalque da ilusão,
Sombra destoante
Acorde dissonante,
Sol na escuridão.
Força, fogo,
Jogo e razão,
Portal de marfim,
Rainha do sem fim,
Traje rico e fino,
Sacro, divino;
Doce amor fraterno.
Truque do eterno,
Deusa do destino.
Intrusão Indispensável
I
O infinito não é longe demais pra quem acredita.
II
O único modo de crescer é questionar as suas verdades.
III
Ser feliz nem sempre é estar alegre, a descrença é uma forma de
sorrir
IV
O poeta é o trem, a paixão o maquinista, e quem sabe o vapor a
inspiração.
V
A melhor forma de entender uma verdade é expermenta-la
empiricamente.
VI
Tenho apenas duas certezas nessa existência que me tornam
exuberantemente feliz:
Uma, sou o mais miserável de todos os homens, outra, a certeza de
que eu posso qualquer coisa.
VII
Os Poetas não se fartam de Poesia, mas a Poesia está farta dos
Poetas
VIII
Poetas e suas fadas não podem fazer mágica alguma, o único truque
deles é a capacidade de sonhar e isso em si já é um milagre.
IX
Eu sou sincero em dizer que minto, mas sempre minto ao ser sincero
X
Perto dos homens e longe da humanidade, revolucionários têm
admiradores, nunca companheiros.
Orelha
Muito mais do que isso, viajou por todos esses lugares com sua
alma e pela sua alma e também através dela, como se buscasse
aplicar o conhecimento das diversidades linguísticas nos
questionamentos e nas dúvidas, nos medos e nos temores, nas
aventuras mentais e como diria o ex-ministro: “nos meus retiros
espirituais”.