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raFaela CarValHO 7 de dezembro de 2010 • ANo XX • N.

º 222 • QUINzeNAL GrATUITo


dIreTorA rAFAeLA CArVALHo • edITorA-eXeCUTIVA mArIA edUArdA eLoY

acabra JorNAL UNIVersITárIo de CoImbrA

76,6 por cento dos


estudantes desconhece
as competências do
Senado da UC
Apesar de se verificar um desconhecimento geral no que toca
aos órgãos de governo da Universidade de Coimbra, há mais es-
tudantes a saber o que é o Conselho Geral do que o Senado

N
a semana de campanha cento acertaram na totalidade e nas cessidade de maior diálogo com os
para as eleições dos repre- restantes quatro, que se referem ao representantes dos estudantes no CG.
sentantes para o Senado, o Conselho Geral (CG), sete por cento Seis faculdades apresentam listas
Jornal A CABRA e a Rádio dos estudantes não erraram ne- únicas sendo que a Faculdade de Di-
Universidade de Coimbra (RUC) nhuma. Os estudantes senadores as- reito da UC apresenta duas listas can-
foram inquirir os estudantes sobre as sumem a perda de poder do órgão didatas e a Faculdade de Ciências do
funções de base dos órgãos de go- com a entrada em vigor do Regime Desporto e Educação Física não apre-
verno da UC. Das quatro respostas Jurídico das Instituições do Ensino senta qualquer uma.
relativas ao Senado, apenas 3,5 por Superior (RJIES) e assumem a ne-
Pág. 2 e 3

MaIs do que quatro Paredes


Situada na alta de Coimbra, a Casa da Escrita foi
inaugurada no passado dia 27 de novembro
O projeto aposta na recuperação do estimular a criatividade e o inter-
espírito que se vivia no edifício na câmbio cultural. Ainda com o cheiro
época em que João José Cochofel a tinta fresca, a visita guiada pelos re-
abria as portas à comunidade cultural cantos do edifício demonstra a diver-
da cidade. Mais do que um recipiente sidade de espaços e funções.
para palavras, o espaço procura ser
um lugar livre, com o fim último de Pág.7

transPortes conflIto Inclusão


Futuro incerto para Potências asiáticas UC ajuda estudantes
Metro Mondego confrontam-se com deficiência
A interrupção do projeto do metro A tensão entre as duas Coreias es- Além de obras estruturais que fa-
ligeiro de superfície está a provo- calou quando, no dia 23 de no- cilitam os acessos às faculdades e
car descontentamento generali- vembro, os países trocaram tiros serviços, a Universidade de Coim-
zado entre os autarcas do distrito de artilharia e obuses. No conflito bra proporciona, há já 20 anos,
de Coimbra e da anterior adminis- foram feridos mortalmente civis auxílio técnico-pedagógico, atra-
350º Aniversário da Royal Society tração da empresa Metro Mon- e militares, naquela que foi uma vés de um gabinete de apoio ao
dego. O plano de mobilidade foi violação do armistício assinado estudante com deficiência. As
transferido para a REFER e a pa- em 1953. Apesar do perigo de novas tecnologias ajudam a col-
“Membros portugueses, cientistas e
ralização das obras foi ordenada guerra e das alianças com outras matar pequenas necessidades no
diplomatas, são relembrados na sem considerar a opinião das au- potências, especialistas não acre- processo de aprendizagem, sem-
Biblioteca Joanina” tarquias de Coimbra, Miranda do ditam que o conflito se propague pre com a independência dos es-
Pág. 15 Corvo e Lousã. à escala mundial. tudantes como objetivo.
Pág. 11 Pág. 17 Pág. 12 e 13
InÊs BalreIra

Secção de Natação
comemora 75 anos
de atividade
Pág.9
2 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

DeSTAqUe

Estudantes ignoram competências do C


Sondagem A CABRA/RUC demonstra que 76,6% dos estudantes inquiridos afirmam não ter conhecimento das com
admitem não estar familiarizados com o funcionamento do Conselho Geral. Representantes dos estudantes em am
afastamento estudantil em relação à participação nos organismos da universidade. Por Félix Ribeiro e Camilo Solda

H
oje realizam-se as elei- Os resultados são esclarecedo- Secundarização do da faculdade, assim como para Interligação
ções para os representan- res: das quatro perguntas coloca- Senado? sensibilizar o reitor e os docentes Cabe ao reitor decidir se os assun-
tes das unidades das sobre o Senado apenas 3,5 por Na sua generalidade, os resultados de cada unidade orgânica”. tos discutidos em Senado são pas-
orgânicas do Senado. cento dos estudantes inquiridos apontam para um maior conheci- Apesar de o Conselho Geral se síveis de ser levados a CG. A
Numa altura em que a Universi- foram capazes de responder corre- mento das competências do CG. ter tornado o órgão deliberativo da ligação entre os dois órgãos, ao
dade de Coimbra (UC) vive um in- tamente a todas as questões; das Face às alterações implementadas UC, a importância do Senado é longo dos dois anos de mandato
tenso clima eleitoral, o problema quatro colocadas sobre o CG, a pelo Regime Jurídico das Institui- destacada no âmbito de uma polí- foi estabelecida principalmente
do afastamento dos estudantes do percentagem de discentes que res- ções do Ensino Superior (RJIES), tica de proximidade. através do reitor da UC. “A única
associativismo e aos órgãos de go- pondeu sem errar sobe para sete. assistiu-se em 2008, à transferên- “Quando é o estudante a falar forma de ter sido ouvido pelo CG
verno da universidade é frequen- Alfredo Campos, investigador do cia de poderes do Senado – que sobre os problemas dos estudantes foi através do reitor porque todas
temente abordado. Centro de Estudos Sociais (CES), passou de deliberativo a consultivo sim, tem-se uma voz absoluta”, de- as questões que foram faladas em
O Jornal A Cabra, juntamente considera inegável que estes dados – para o CG. clara Paulo Magalhães, estudante senado, foram levadas a conselho
com a Rádio Universidade de A vice reitora da Universidade geral”, sustenta João Oliveira.
Coimbra (RUC), conduziu um in- de Coimbra, Cristina Robalo Cor- Já Luís Rodrigues, represen-
quérito que visa avaliar o nível de Nas últimas eleições deiro, crê que as novas regras im- O CG “tem um  tante dos estudantes de primeiro e
conhecimento que os estudantes
possuem acerca do funcionamento
para o Conselho postas pelo regime jurídico
“vieram, de certa forma, secunda-
acompanhamento segundo ciclo no CG, afirma que o
órgão “tem um acompanhamento
do Senado e do Conselho Geral Geral houve cerca  rizar e menorizar o Senado”. das actividades do das atividades do Senado por via
(CG). Tendo em conta o elevado grau de indireta”, ou seja, através da apre-
Confrontados com a pergunta de 70 por cento de  desconhecimento dos estudantes Senado” através da ciação do reitor. Não obstante, está
“sabe quais são as competências sobre o papel deste órgão, Elísio contemplado nos estatutos, em
do Senado?” a percentagem de es-
abstenção  Estanque justifica que “o Senado
apreciação do reitor certas matérias, que o conselho
tudantes que afirma não saber perdeu visibilidade a partir do mo- pode chamar o Senado a intervir,
situa-se nos 76,6. Quando colo- “demonstram um desconheci- mento em que a comunidade em senador da Faculdade Farmácia da “mas tal nunca aconteceu”, in-
cada a mesma questão, agora refe- mento da esmagadora maioria dos geral percebeu que deixou de ter Universidade de Coimbra (FFUC). forma Luís Rodrigues.
rente ao CG, o desconhecimento estudantes do que são os órgãos de responsabilidade em termos do Com efeito, o órgão consultivo tem A Direção Geral da Associação
não é tão acentuado. 63,7 por gestão da UC”. Para o também so- poder decisório”. nele representado todas as unida- Académica de Coimbra
cento afirma não conhecer as com- ciólogo, esta situação não está des- O senador da Faculdade de des orgânicas que constituem a (DG/AAC), através do recente pe-
petências do órgão. ligada do facto de “nas recentes Ciências da Educação e Psicologia universidade a par de uma maior louro de ligação aos órgãos, tentou
O sociólogo Elísio Estanque eleições para o CG ter existido da UC (FPCEUC), João Oliveira, proporção de estudantes relativa- promover a aproximação entre os
classifica como “preocupante” o cerca de 70 por cento de absten- acredita que “o Senado não tem a mente ao CG, o que, segundo Cris- estudantes senadores e os estu-
facto de apenas cerca de 23 por ção, provavelmente os mesmos va- importância que já teve” ainda que tina Robalo Cordeiro permite dar dantes conselheiros, assim como
cento dos estudantes saber quais lores que nas eleições para o seja um órgão “muito útil de pas- a conhecer “o pulsar da universi- da DG/AAC aos mesmos. João Oli-
são as funções do Senado. Senado”. sagem de informação para dentro dade”. veira confirma que “houve uma
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DeSTAqUe
INÊS BALREIRAS

tentativa de aproximação” mas constituição cinco estudantes num LISTAS CANDIDATAS AO


que, e apesar de ter vindo a poucas universo de 35 elementos. O Se-
SENADO PELAS FACULDADES
reuniões, estas “eram muito pouco nado, por sua vez, assegura um nú-
participadas”. Por outro lado, mero mais expressivo de
Paulo Magalhães considera que o representantes senadores, sendo
LeTRAS
órgão “foi mais vocacionado para que os oito estabelecem-se como
separar as águas. Ou seja, reuniões cerca de 35 por cento do órgão. lista t - “todos pela flUc”
com senadores e a AAC. Portanto, No entanto, os estudantes repre- caNdidata: diaNa taveira
fazer a ligação entre CG e a asso- sentantes no Senado queixam-se
ciação e não tanto entre o CG e o de um afastamento protagonizado
Senado”. mesmo por quem já é membro do
O coordenador geral do pelouro órgão. Paulo Magalhães menciona
da ligação aos órgãos da direção a falta de assiduidade: “iam geral- DIReITO
geral, Pedro Pacheco, defende que mente quatro ou cinco estudantes,
o seu propósito inicial não se pren- foi o máximo que se conseguiu”. lista a - “aproxima o seNado”
dia com a aproximação dos dois Por sua vez, João Oliveira acres- caNdidato: aNdré costa
grupos de representantes, mas sim centa: “era difícil. Acima de tudo lista f - “o teU seNado”
“fazer a passagem da mensagem porque havia uma fraca participa- caNdidato: NUNo samil
política que se queria uniforme”. ção por parte dos outros colegas”.
Quanto à possibilidade de ser No Senado não há a obrigatorie-

CG e do Senado
este pelouro a amplificar os assun- dade de existência de um regula-
tos tratados nos órgãos de governo mento ou de um regimento
da UC, Pedro Pacheco esclarece interno, já que este é um órgão
que ”o pelouro nunca foi algo des- consultivo. Dessa forma, os estu- MeDICINA
tinado a ser uma passagem da dantes senadores com quem A lista t - “participa!”

mpetências do Senado face a 63,7% que DG/AAC para os 20 mil estudan-


tes, antes sim uma ligação para os
CABRA falou, referem a falta dessa
regulação que poderia vir a au-
caNdidato: carlos ramalheira

mbos os órgãos consideram haver um representantes dos estudantes que


foram legitimamente eleitos”.
mentar a assiduidade pelo lado
dos estudantes. Atualmente, um

ado A constante discussão, quanto à


responsabilidade pela falta de in-
diretor de uma faculdade, que não
puder comparecer numa sessão do
CIÊNCIAS e TeCNOLOGIA
formação da grande parte dos es- Senado, pode ser substituído por
tudantes, leva a diferentes pontos elemento que o próprio achar per- lista t - “todos pela fctUc”
de vista e justificações quanto à tinente. Paulo Magalhães afirma caNdidato: aNdré piNheiro
entidade que deve promover a que o mesmo “não acontece com
consciencialização. Se, por um os estudantes. Se um senador não
lado, a vice reitora aponta essa puder ir a alguma reunião do se-
função aos estudantes, “através da nado, supostamente não pode ser
sensibilização dos núcleos de cada substituído”. O senador adianta
FARMÁCIA
uma das faculdades”, Alfredo que esse documento poderá vir a
Campos é da opinião de que “devia ser criado no mandato do próximo lista a -
haver uma articulação desejável, reitor, “se houver boa fé”. caNdidato: adeliNo oliveira
no mínimo uma iniciativa de
ambas as partes, quer da DG/AAC “Fica o lugar vago”
e representantes dos estudantes, A breve sentença é proferida por
quer da própria universidade, para Carlos Gonçalves, presidente da
impulsionar esta participação”. O comissão eleitoral da Faculdade de
eCONOMIA
sociólogo assevera que “é mani- Ciências do Desporto e Educação
festo que não vai partir dos pró- Física (FCDEF), unidade orgânica lista t - “todos pela feUc”
prios estudantes”. que não apresenta qualquer candi- caNdidato: diNo alves
dato para o Senado. Isto feito, e se-
Afastamento dos gundo Carlos Gonçalves, “serão os
Estudantes estudantes que terão que mostrar
“Reduzir a participação propicia capacidade de iniciativa” para que
menor interesse, e um menor inte- a comissão eleitoral, em conjunto PSICOLOGIA e
resse propicia uma menor partici- com a reitoria, procure uma solu- CIÊNCIAS DA eDUCAÇÃO
pação e a legitimação política de ção. Caso contrário, o assento no lista d - “Uma direcção pelo fUtUro”

uma menor participação ainda”, Senado, reservado a um estudante caNdidato: rUi mamede
FICHA TÉCNICA
reflete Alfredo Campos na consi- da FCDEF, fica vazio.
Esta sondagem foi realizada pelo Jornal Universitário de Coimbra – A deração de um ciclo, que, na sua A par do caso desta faculdade, as
CABRA – e pela RUC, no dia 2 de dezembro. O universo é composto por es- opinião, traduz a tendência do candidaturas para o Senado são,
tudantes da UC. A amostra foi estratificada em função da proporção de alu- afastamento gradual do estudante regra geral, reduzidas a listas úni-
nos nas oito faculdades da UC. Foram obtidos 400 inquéritos válidos. A em relação aos órgãos da sua uni- cas por unidade orgânica, exce- CIÊNCIAS DO DeSPORTO
margem de erro associada é de 5%, com nível de confiança de 95%. Na rea- versidade e vice-versa. tuando a Faculdade de Direito e eDUCAÇÃO FÍSICA
lização da sondagem participaram Camilo Soldado; Félix Ribeiro; Lígia Estabelecido como órgão delibe- onde concorrem duas listas simul- Não existem listas caNdidatas
Anjos; Maria Eduarda Eloy; Sara São Miguel. rativo, o CG apresenta na sua taneamente.
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eNSINO SUPeRIOR
Sétimo elemento do Conselho Fiscal
conhecido esta semana INêS BALrEIrA

Depois da vitória da lista


T nas eleições para a
DG/AAC, falta abrir os
envelopes para saber se
será Bruno Sousa ou
Hugo Ferreira a ocupar
um lugar na equipa do
CF/AAC

Camilo Soldado

No final da contagem dos votos


para o Conselho Fiscal da Associa-
ção Académica de Coimbra
(CF/AAC), como a eleição é feita
através do método de Hondt, ficou
por preencher a sétima e última
vaga sendo preciso recorrer à aber-
Durante o sufrágio a urna do departamento de Bioquímica foi impugnada por não se encontrar no local estipulado
tura dos votos por envelope. Só de-
pois deste procedimento se pode No final da noite eleitoral de 30 nado cacique”, Diogo Pereira é pe- Estudantes não divulgação da própria associação
determinar se é Bruno Sousa, da de novembro para 1 de dezembro, remtório: “o processo acabou por participam académica, “não tem até aqui ha-
lista T, ou Hugo Ferreira, que en- depois de se saber que o lugar no ser muito parecido com aqueles No que diz respeito à abstenção, vido canais com a eficácia sufi-
cabeça a Lista R, a integrar o CF de CF/AAC seria decidido pelos votos que têm decorrido nos últimos que este ano foi de 72 por cento – ciente para que consigam levar a
2011. A lista T, liderada por Carlos por envelope, Eduardo Melo pela anos, existem sempre aqueles pro- facto para o qual todos os candida- larga massa dos estudantes a essa
Barandas, ficou à frente com 4144, lista T, venceu com 4299 votos, blemas normais durante o pro- tos alertaram quando fizeram o ba- mensagem”. Elísio Estanque rela-
enquanto a Lista R alcançou os contra 550 da lista R, encabeçada cesso eleitoral em si”. lanço da candidatura – Elísio ciona ainda a linha de continui-
604. Com 166 votos por envelope por Sílvia Franklim e 346 da lista Para além da FLUC e da FDUC, Estanque, investigador do Centro dade que tem vindo a existir na
ainda por abrir, o presidente da co- A, de Henrique Paranhos. O atual também a urna do departamento de Estudos Sociológicos, é da opi- DG/ACC com a “enorme abstenção
missão eleitoral dos corpos geren- coordenador geral da política edu- de Bioquímica apresentou irregu- nião que “se houvesse menos abs- que existe” e aponta como solução
tes da AAC, Diogo Pereira espera cativa da Direção Geral (DG) é o laridades. “Houve uma impugna- tenção, haveria mais democracia” “ um outro tipo de pedagogia logo
uma rápida resolução já esta se- 103º presidente da DG e deve ção dessa urna depois decidida em e sustenta que o grosso da massa na entrada do jovem estudante que
mana e justifica que é preciso que tomar posse em janeiro. comissão eleitoral. O problema foi estudantil “não tem disponibili- acaba de chegar”. “Talvez isso
a Secretaria-Geral envie a lista Apesar de terem havido urnas que a urna não foi para o local es- dade mental na medida em que possa dar outros resultados mais
para verificar se os nomes que que fecharam temporariamente, tipulado, devia ficar num local e não está desperta para isso, não positivos”, conclui.
estão nos envelopes correspondem como foi o caso da Faculdade de acabou por ficar noutro. Ao final está educada nem sensibilizada”. O Até ao fecho da edição às 16h00
a nomes matriculados na Univer- Letras da UC (FLUC) e da Facul- do primeiro dia de votação, a co- sociólogo considera que, não só ao de segunda feira, 6 de Dezembro,
sidade de Coimbra (UC), o que dade de Direito da UC (FDUC), de- missão eleitoral decidiu pela im- nível das campanhas mas também os resultados dos votos por enve-
ainda não aconteceu até ao mo- vido, segundo o presidente da pugnação da urna”, explica Diogo no que diz respeito às atividades e lope para o CF/AAC ainda não ti-
mento. comissão eleitoral, “ao denomi- Pereira. aos programas de intervenção e de nham sido divulgados.

6 “Quero uma AAC mais politizada e interventiva”


Eduardo Melo ganhou as
eleições para a Direcção
Geral da AAC com 4299
da AAC.

A proximidade aos estu-


Social Escolar. Queremos revogar
o decreto-lei 70/2010 e também fi-
caremos satisfeitos se as bolsas
solução para o problema da
falta de espaço para as sec-
ções no teu mandato?
votos. No próximo man- dantes é uma das bandeiras deixarem de ser contadas como Espero que sim, mas isso também
dato, que começa em ja- sucessivas das DG's. Achas prestações sociais. Essa será a depende da boa vontade das pes-
Eduardo Melo neiro, espera marcar que vai ser o teu mandato a nossa prioridade, a par da eleição soas. Temos que nos sentar para
presença assídua nas fa- efetivar essa ligação? do reitor. Este é o momento indi- ver de que forma podemos gerir o
culdades. Acredito que sim. Queremos fazer cado para se iniciar um debate espaço dentro deste edifício e
um outro tipo de divulgação das profundo sobre a nossa universi- aproveitá-lo da melhor forma. Mas
Achas que vais ter dificul- nossas ideias. Temos de ter um ba- dade e de que forma podemos de- a DG não vai impor às pessoas que
dade em lidar com os cerca de lanço entre a nossa presença nas senvolver um plano estratégico a abandonem alguns espaços e que
70 por cento de estudantes faculdades e o trabalho de gabi- longo prazo. se mudem para outros.
que não votaram? nete porque há coisas que têm que
Não, porque participa quem quer ser feitas na AAC, mas acredito Já tens a experiência desta Como pensas ver a AAC no
e havendo pessoas que participa- que podemos marcar regular- atual DG/AAC, o que pensas fim do teu mandato?
ram neste processo e tendo-nos mente presença nas faculdades. E mudar no teu mandato? Gostava de ver uma AAC com mais
dado a confiança que deram não havendo a possibilidade de passar O ponto mais importante poderá gente, em que houvesse mais pes-
tenho problemas. Gostaria que ti- mais propostas nossas [no Parla- ser a proximidade às faculdades. soas a participar, especialmente
vesse havido mais pessoas a parti- mento] pelo facto de ser um ano, à Há uma quebra muito grande nas secções culturais que são as
cipar, mas há elementos que não partida, de instabilidade política entre o que é feito na DG e o que que têm mais problemas a esse
podemos excluir: o facto de haver poderá levar-nos a estar mais pre- chega aos estudantes. Muitas vezes nível. Gostava que houvesse mais
um feriado na quarta-feira pode sentes nas faculdades. acaba por passar uma imagem de debate. Quero ver uma AAC mais
ter prejudicado porque houve que a DG não trabalha ou que não politizada e mais interventiva na
muita gente que tirou umas mini- Quando tomares posse está preocupada com os estudan- defesa dos seus direitos. Uma AAC
férias e não esteve em Coimbra quais vão ser as tuas primei- tes e não é isso que acontece. que fervilhe.
Presidente eleito da Direção
Geral da Associação Académica nessa altura, e o fenómeno da abs- ras linhas de ação?
de Coimbra tenção, que é global e não apenas A prioridade terá que ser a Ação Vais conseguir encontrar Diana Craveiro
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eNSINO SUPeRIOR
Edifício da aac Oliveira é necessário “uma limpeza

Obras de requalificação
geral da cobertura, das caleiras de
drenagem e a reorganização dos sis-
temas de iluminação e de telecomu-
nicações do edifício”, de forma a

começam no mês de dezembro


diminuir a quantidade de fios exis-
tentes na fachada. Segundo Miguel
Portugal, presidente da DG/AAC, a
CArLOTA rEBELO
requalificação é “um fator importante
Caderno de encargos caderno já foi aprovado pela reitoria num edifício classificado” pois alguns
da UC e que a direção geral está a espaços exteriores encontram-se bas-
já foi aprovado pela contactar empresas construtoras e a tante degradados.
reitoria da UC e as analisar orçamentos. O presidente da Em relação à sala Luzio Vaz, o ad-
DG/AAC espera conseguir “ter pelo ministrador da DG/AAC diz que o
obras de requalificação menos na Queima das Fitas uma processo de remodelação passa por
poderão arrancar a AAC de cara lavada”, estimando que “dotar o edifício da AAC de uma sala
as obras durem aproximadamente de reuniões que seja transversal, não
qualquer momento. um mês. só à DG, mas também às secções cul-
turais, desportivas e organismos au-
Inês Balreira Os custos são ainda tónomos”.
Diogo Passos incertos Também a sala de estudo vai ser
Relativamente a custos ainda não há alvo de renovação. Joel Oliveira
A Direção Geral da Associação Aca- um consenso pois só será fixado afirma que o processo passará por
démica de Coimbra (DG/AAC) prevê “consoante as propostas que as em- uma “requalificação mais exterior e
para o início deste mês as obras de re- presas nos fizerem”, palavras do pre- não tanto interior”. No entanto,
qualificação na Associação Acadé- sidente da DG/AAC. Todavia Joel acrescenta que na altura em que essa
mica de Coimbra (AAC). Esta Oliveira aponta para uma estimativa requalificação for feita a DG/AAC po-
requalificação, proposta no mandato de “40 a 70 mil euros”. Parte deste or- derá também vir a reabilitar o seu in-
de Jorge Serrote, presidente da çamento provém da comissão da terior, de modo a “permitir melhores
DG/AAC em 2009, sofreu vários queima das fitas de 2008/2009, ao condições a quem frequenta a sala de
atrasos. Estava prevista começar no qual foi pedido um alargamento do estudo”. Caso esta situação se venha a
verão passado, porém por atrasos no prazo para o levantamento das ver- verificar a direção geral, em parceria
caderno de encargos ainda não co- bas disponíveis, que ainda se encon- com os Serviços de Ação Social da UC
meçou. Joel Oliveira diz que o atraso tram à disposição da DG/AAC. (SASUC), tentará encontrar um es-
se deveu ao facto de o caderno estar Miguel Portugal diz que “cerca de 30 paço provisório, para funcionar como
“muito mal elaborado e podia condu- a 50 mil euros provirão da queima sala de estudo, diz o administrador.
zir a problemas futuros”. das fitas” e que “se o projeto custar
Para solucionar este problema o um pouco mais a DG/ AAC está dis- Problemas eléctricos
administrador diz que a DG/AAC posta a investir”. “É nosso desejo que O administrador da DG/AAC diz
pediu à Divisão Geral dos Edifícios, possa haver financiamento para uma também ter conhecimento da quebra
Equipamentos e Infraestruturas da remodelação integral do edifício da diária no quadro elétrico do edifício
Universidade de Coimbra AAC”, pois o referido edifício “precisa da AAC. “É algo que nós, enquanto
(DGEEI/UC) que reformulasse o ca- profundamente de uma remodelação DG, não conseguimos atuar ”, e ex-
derno de encargos. Contudo, Joel Oli- do ponto de vista de segurança, de plica que este problema se deve a
veira afirma que a DG/AAC já se acessibilidade e do ponto de vista do uma quebra da potência no quadro
encontra na posse do caderno desde conforto”, diz Raimundo Mendes da elétrico. Acrescenta ainda que é “um
final de Outubro. No entanto o refe- Silva, pró-reitor responsável pela ma- problema que vai continuar a existir
rido caderno passou ainda pela Câ- nutenção dos edifícios da UC. durante os próximos tempos”, o que
mara Municipal de Coimbra para a A intervenção passa por uma re- poderá não permitir o bom trabalho
emissão de licenças e só no final de modelação da fachada do edifício da das secções, pois “a requalificação da
Novembro todas as questões legais fi- AAC, da sala Luzio Vaz e outras in- parte elétrica ficava por 100 mil
caram solucionadas. Miguel Portugal tervenções pontuais, nomeadamente euros” e “neste momento é completa-
corrobora o facto e acrescenta que o a sala de estudo. De acordo com Joel Lucros da Queima das Fitas pagam cerca de 30 a 50 mil euros mente impossível”.

Estudantes “fartos de esperar sentados”


Na última Assembleia cebidos pelas várias bancadas par- gundo Miguel Portugal, presidente recolha de quatro mil assinaturas gação foi feita oralmente”.
lamentares, debateu-se na Assem- da Direção Geral (DG) da AAC, para uma petição que vai servir Juntamente com o movimento
Magna, foi aprovada bleia Magna (AM) da Associação “todo o estudante que esteja soli- para que a discussão sobre os cor- Mudar de Rumo, Sílvia Franklin,
uma moção que levará, Académica de Coimbra (AAC), rea- dário poderá estar presente em Lis- tes nas Bolsas de Estudo e o de- preponente da moção, declara que
lizada a 22 de novembro, a conti- boa”, apesar de haver um limite de creto-lei 70/2010 possa ser levada “desde as eleições não tive oportu-
mais uma vez, os nuidade dos protestos por parte estudantes nas 230 cadeiras. a plenário, “o que já está a ser pre- nidade de falar com o novo presi-
estudantes a Lisboa, no dos estudantes. Na mesma AM, foi Está previsto que os estudantes parado”, garante Miguel Portugal. dente eleito, também não tive
deliberado que na próxima quinta- fiquem em frente à AR durante a Foi igualmente aprovado o envio oportunidade de falar com o Mi-
dia 9 de dezembro feira, 9, vai decorrer uma ação sim- tarde, ou, pelo menos, durante de e-mails aos deputados por parte guel”. Mas adianta que “nós, en-
bólica à frente da Assembleia da “grande parte do debate” na espe- de estudantes bolseiros que este- quanto coletivo, estamos a
Vanessa Alves Republica (AR), com a divisa “Es- cialidade da acção social escolar, no jam com dificuldades financeiras. trabalhar com os nossos colegas
tamos Fartos de Esperar Senta- âmbito do Orçamento do Estado, Segundo o presidente da DG/ACC, para sensibilizar para esta inicia-
No passado dia 17 de novembro, dos”. confirmou o presidente da esta proposta tem como objetivo tiva”
estudantes de várias associações O protesto vai ser realizado com DG/AAC. O processo de organiza- “informar e sensibilizar os deputa- Após a realização do protesto em
académicas e associações de estu- a presença de 230 estudantes sen- ção da ação já foi posto em marcha, dos sobre o impacto que a altera- frente à AR, está marcada uma As-
dantes do país foram a Lisboa rei- tados, cada um numa cadeira com mas só ontem “começou a ser di- ção das regras de atribuição das sembleia Magna para dia 13 de De-
vindicar a revogação do decreto-lei uma mensagem. O número pro- vulgado”, adiantou. bolsas de estudo pode vir a ter para zembro, com o propósito de
70/2010. Apesar de uma grande cura estabelecer um paralelismo Noutra moção aprovada a 22 de os estudantes”.Miguel Portugal “analisar a vigília e delinear estra-
adesão à manifestação e de os diri- com a quantidade de deputados Novembro em AM, os estudantes afirma não ter recorrido a ne- tégias para o futuro”, justifica o
gentes associativos terem sido re- presentes no hemiciclo da AR. Se- concordaram levar para a frente a nhuma campanha já que “a divul- presidente da DG.
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6 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

CulTura
deza
e ca-
pacidade de
não levar demasi-

Des-
ado a sério as questões
académicas”. A “joelho” tor-
na-se, então, num espaço propício

pir a
para trabalhos académicos onde, na
maioria, mestrandos, doutorandos e profes-
sores, podem “publicar, aprender e testar os seus
pensamentos”, conclui Jorge Figueira.

arquitetu- Alunos põem a arquitetura a nu


Também na NU, revista elaborada por estudantes do DARQ, a dis-
cussão de ideias é o ponto de partida. Fundada há 8 anos, em abril de 2002,

ra em cima do
a revista NU, faz jus ao seu nome por descortinar, ou pôr a nu, uma “sé-
rie de questões que para os estudantes de arquitetura estão envoltas numa
névoa”, revela Diogo Lopes, editor da revista. Independente do DARQ, a
revista funciona de forma temática. Em cada edição, um dos editores lança

joelho
um tema que, preferencialmente, não esteja em voga. À volta do assunto
catapultado pelo editor, germina a discussão entre a equipa redatorial.
Filipe Madeira, membro da equipa editorial, conta que a publicação
“acaba por ser uma ferramenta de aprendizagem”. O editor encara ainda
como inevitável a elaboração de uma revista de arquitetura “que não di-
Desde a NU à joelho, são várias as publicações vaga por outros campos conceptuais”. Para tais devaneios, existe até uma
rubrica que se tornou numa constante nos oito anos da NU, chamada “con-
que fomentam o entrosamento da arquitetura taminações”, que transporta outras formas artísticas ou aspetos culturais

com outros conceitos e ambientes para a revista.


Diogo Lopes, quando questionado acerca das dificuldades que se encon-
tram na execução da NU, aponta para a “ambição de rigor” da revista, que
Por Inês Balreira e João Gaspar
se traduz numa tentativa de chegar “a um nível de detalhe e de perfeição”,
por vezes difícil de alcançar. A matriz pela qual a revista se rege é o valor
A evolução da arquitetura e a forma como é encarada atualmente trans-
pedagógico do objeto final, que tanto Diogo Lopes como Filipe Madeira
formou-a num espaço de discussão, onde está presente um fio condutor que
consideram ser “um objeto de conhecimento”.
a conecta a outras disciplinas e conceitos. A transversalidade da arquitetura
é manifestada nas publicações que se criam e se desenvolvem no Departa-
Outras publicações
mento de Arquitetura (DARQ) da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Em 2006 surgiu a revista Murphy, uma publicação com uma anatomia
Universidade de Coimbra (FCTUC).
inteiramente académica que se focava no campo da história da arquitetura.
A necessidade de comunicar, quer pelo desenho, quer pelo projeto, quer
Pela mão de Paulo Varela Gomes, docente no DARQ, a Murphy foi publica-
pela articulação de ideias na escrita, é encarada por Jorge Figueira, antigo
da com o intuito de ser distribuída nos principais centros universitários in-
editor da revista “em cima do joelho” (ecdj), como um aspeto “essencial”
ternacionais, sendo editada em duas línguas – português e inglês. Apesar
na arquitetura.
de Paulo Varela Gomes considerar que o formato do projeto se assemel-
Antes da primeira edição da revista ecdj, no ano letivo de 1998/1999,
hava a algumas das melhores revistas do mundo na área da história da
já existiam artigos avulsos sobre congressos e outras atividades re-
arquitetura, o projeto acabou no segundo número, devido a dificul-
alizadas no DARQ. Contudo, é com o lançamento da ecdj, que as
dades financeiras, impostas pelos custos das traduções dos artigos.
publicações ganham outra dinâmica. Formatada para ser um
Longe do rigor académico da Murphy, a Homeless Monalisa,
diário científico sobre a vida no departamento, a ecdj lançou
revista digital, apresenta-se como uma ponte entre a arquitetu-
12 números, tendo sido o último produzido em outubro de
ra e as artes plásticas. A iniciativa surgiu a partir da dinâmica
2009. Segundo Jorge Figueira, esta revista transformou-
dos artistas plásticos presentes no DARQ: António Olaio,
se num “referencial interessante para quem quiser saber
Pedro Pousada e Sebastião Resende. Na plataforma digital
o modo como o DARQ foi evoluindo na última década
surge uma mulher com uma mala da Louis Vuitton que,
deste século”.
segundo António Olaio, é “uma forma de tornar abstra-
No presente ano, a ecdj sofreu uma remodelação,
ta a relação entre o indivíduo e o espaço”, que na re-
“um upgrade”, segundo o docente do DARQ. Com a
vista se insere dentro da arte contemporânea. Para
criação de uma nova coreografia à volta dos estu-
além dessa relação, procura-se, nesta publicação,
dos arquitetónicos, devido ao facto de haver um
uma ponte entre a arquitetura e as artes plás-
número crescente de estudantes a ingressar na
ticas que, como explica António Olaio, pode
investigação, surgiu a necessidade de criar
surgir da “relação estética que está inerente
uma publicação mais proativa e com uma
às duas”. O artista plástico revela, também,
produção de trabalhos de maior densidade
que a revista se transformou num “livro”,
científica. Retirou-se a componente de
visto estar sem produção desde o seu
“depósito de acontecimentos”, assim
início, em 2003. Contudo, essa fixação
como parte do nome da antiga publi-
será quebrada no primeiro trimes-
cação e ficou apenas o “joelho”, que,
tre de 2011, segundo indicações de
segundo Jorge Figueira, revela
António Olaio.
uma passagem para “um caráter
O artista plástico e docente
anatómico”, que apesar da
encara as várias publicações
sua seriedade, acrescenta
do DARQ como fruto da
“conexões mais cinéfilas ou
dinâmica do próprio de-
um pouco eróticas”. Esta
partamento, que cria
relação com o erotismo
“situações e contami-
advém da vontade do
nações” que são le-
também coordena-
vadas para o exte-
dor da “joelho” adi-
rior das salas do
cionar à revista
departamento,
“uma compo-
vincando e
nente incisiva
acentuando a
sem perder o
transversal-
sentido de
idade da
humor
arquitetura.
e uma
certa
deli-
ca-

Fotografia e paginação pela Revista Nu


Diogo Lopes, Filipe Madeira, Inês Morão Dias
7 de Dezembro de 2010 | terça-feira | a cabra | 7

Cultura
Casa da EsCrita Um Colégio
Coimbra com nova das artes que
se quer para
morada para as palavras todas as artes
Félix Ribeiro
Na alta de Coimbra, surge uma casa que é da escrita, foi dos sonhos, e não deixa de ser Criado com o objetivo de se esta-
belecer como um espaço de criação
das memórias. Desde o dia 27 de novembro que estão abertas as portas da Casa da Es- científica e artística, o Colégio das
Artes (CA) iniciou funções no início
crita, um espaço que se pretende de todos. Por João Gaspar e João de Oliveiros deste ano letivo, como uma nova
unidade orgânica da Universidade

A
Câmara Municipal de Vértice e Altitude. por outros ou pelo próprio. ambiente intimista e de convívio. de Coimbra (UC).
Coimbra é a principal res- As portas altas envidraçadas da No mesmo piso, segundo o curador Presente nos claustros do edifício
ponsável por um projeto Uma visita sala de jantar, que se estendem ao da casa, serão realizadas oficinas da do Colégio das Artes, espaço parti-
que representa um forte É neste espaço, simultaneamente longo da parede, estão abertas para escrita. lhado com o departamento de Ar-
investimento na produção cultural património e dínamo cultural, que o jardim. Um pequeno largo com ca- Sobe-se ao sótão. Espaço desti- quitetura da Faculdade de Ciências
da cidade. Um espaço que, como a se pretende albergar a escrita. Na deiras e mesas brancas de ferro con- nado ao arquivo aberto da casa, por e Tecnologia, o colégio pretende
nomenclatura patenteia, vai ser de- alta de Coimbra, perto da Couraça vidam ao desembainhar da caneta agora vazio, que se pretende preen- aliar a reflexão artística à multidis-
dicado à arte da escrita. Mas vai ten- dos Apóstolos, o nº 8 da Rua João num dia de sol. Laranjeiras e par- chido com a produção literária rea- ciplinaridade. Abílio Hernandez, di-
tar ser mais do que isso, visto querer Jacintho evidencia-se pelas paredes reiras enfeitam o jardim que per- lizada dentro das paredes da Casa retor do CA, considera que no
manter viva a outra metade do de tinta fresca e uma fachada impo- siste, até, nas obras de alguns dos da Escrita. Para além das estantes, território das artes o diálogo e o con-
nome, a ideia de casa como espaço nente. A porta está aberta, como de- escritores que por ali passaram. pequenos cubículos residem à frente fronto são inevitáveis. “As artes não
de convívio e de intercâmbio cultu- seja o curador nomeado pela De volta às paredes altas da casa das janelas, propiciando um traba- são necessariamente uma disciplina,
ral, procurando resgatar alguma da câmara, Seabra Pereira, docente na invade-se o espaço que servirá de lho solitário com a alta no horizonte. são um conjunto de disciplinas que
atmosfera vigente no tempo em que Faculdade de Letras. À esquerda, residência artística. “O ideal seria, e Como decoração, revistas e jornais se cruzam no mesmo território e que
a primeira vaga neorrealista convi- quando se entra, uma livraria; à di- sonhar não é pecado, termos cá ligados à literatura e uma velha má- se vão cruzando também em outros
via dentro daquelas paredes. reita a receção. Sobem-se as escadas grandes escritores premiados”, con- quina de escrever Underwood. territórios afins”, afirma. Para tal, o
Eduardo Lourenço, filósofo que e encontra-se uma sala ampla, onde Não se abordaram somente a es- colégio propõe-se a fazer uma liga-
pisou o chão da casa nos anos 40, escritores convidados vão ter um crita e a história na inauguração do ção entre a docência universitária, a
afirmou, aquando da inauguração sítio para falar sobre as metamorfo-
“Foi um castelo de espaço. Foram audíveis elogios ao investigação e a componente cria-
no passado dia 27, que, para a gera- ses dos seus processos literários. sonhos”, contou bom gosto com que foi restaurada a tiva.
ção que por ali passou, aquele es- Salta à vista uma larga janela que antiga residência de Cochofel, tra- Com efeito, não só há artistas a
paço foi um “castelo de sonhos”. E apresenta parte do jardim e, perto Eduardo Lourenço, balho que "teve como inspiração a
compreende-se a metáfora, tendo de um piano negro, vislumbra-se a própria casa" confessa o autor do
em conta que ali se descobriram en- entrada da biblioteca Cochofel. Em na inauguração da projeto, o arquiteto João Mendes
quanto artistas, nomes como Arqui- estantes altas, livros outrora folhea- Casa da Escrita Ribeiro. A conceção da remodelação
medes da Silva Santos, Fernando dos por jovens em busca de uma li- da Casa do Arco, nome pelo qual o
Namora, Mário Dionísio, Joaquim teratura a que de outra forma não edifício também ficou conhecido,
Namorado, ou Rui Feijó. A porta teriam acesso. Os resquícios do fessa Seabra Pereira. O curador di- não foi imune à herança do lugar,
abria-se pelas mãos do poeta João tempo e do uso temperam as pági- vulga, também, a estadia de um visto ter sido encarado como “uma
José Cochofel, a quem a casa per- nas em tons de sépia. Segue-se em poeta mexicano e de uma poetisa espécie de contentor, onde se en-
tencia, que convidava a massa cria- frente e encontra-se a sala de jantar, grega no próximo ano, não reve- contra a memória e a história", ex-
tiva conimbricense a entrar. Entre a local que o curador pretende apro- lando a sua identidade: “é sur- plica ainda João Mendes Ribeiro. frequentar os próprios cursos, em
Pastelaria Central e o Ateneu emer- veitar para a organização de janta- presa”. Seabra Pereira promete desempe- conjunto com os alunos, como se es-
giam ideias, transportadas, depois, res periódicos, nos quais se Mais um lance de escadas e mais nhar a sua função “fazendo os pos- tabelece no colégio, uma cultura de
para a casa de Cochofel, que se retomaria “a tradição do récit de espaços para o fomento das pala- síveis para tornar o projeto tão vivo incentivo à criação de novos proje-
transvestia em maternidade e berço table”, uma narrativa oral iniciada vras. Duas salas com cadeiras, ca- como a própria casa”, resta à cidade tos através de workshops e seminá-
do Novo Cancioneiro e das revistas por um dos presentes, e continuada deirões e sofás propiciam um preenchê-la com palavras. rios. Nas palavras do diretor da
GuiGa GuimarãEs unidade orgânica, almeja-se a “uma
formação para os estudantes que
não seja puramente teórica, que seja
uma reflexão sobre as artes assente
numa proximidade muito grande
com as obras dos artistas que nos vi-
sitam ou obras de artistas que não
nos visitam mas que nós visitamos”.
Relativamente à condição do en-
sino da arte na UC, Abílio Hernan-
dez considera que este se encontra
fragmentado e disperso. Os cursos
da área estão divididos, de facto, em
pelo menos três unidades orgânicas:
Faculdade de Letras, Faculdade de
Ciências e Tecnologia e, finalmente,
CA. Nesse sentido, Abílio Hernandez
propôs que os cursos de Arquitetura,
Estudos Artísticos e restantes estru-
turas na UC relacionadas com a arte
se juntem no CA, re-estruturando a
unidade orgânica já existente. “As
artes que têm um espaço totalmente
dedicado a elas florescem”, declara.
Em jeito de conclusão, Abílio Her-
nandez faz referência ao ciclo de
conferências, “As Artes do Colégio”,
declarando que o CA está a cumprir
as premissas a que se propôs: “é
sempre este diálogo, este cruza-
mento de visões que se vão concreti-
A Casa da Escrita foi um dos espaços de convívio da vaga neorrealista que surgiu em Coimbra, que tinha como anfitrião João José Cochofel zando naturalmente”.
8 | a cabra | 23 de Novembro de 2010 | terça-feira

Cultura

cultura
por cá O TEUC traz DEUS a Coimbra
Até 11
DEZ
com a ajuda de Woody Allen vanEssa aLvEs
MariONEtx10
Entre 9 e 18 de dezembro,
exposição
Casa Das arTes o espetáculo “DEuS, uma
enTraDa GraTuiTa
Até 19 peça” vai subir ao teatro
Dez de Bolso, pela mão do
NOitE DE aMOrES EféMErOS tEuC. uma comédia mar-
TeaTro cada pelo “nonsense” de
21h30 • TCsb
Woody allen.
27
6 a 10 euros

Até Vanessa Alves


FEV Ana Francisco

liGhtEN uP DE JOãO ONOfrE


A palavra “deus” apareceu em car-
exposição
tazes espalhados por toda a cidade de
CaV
enTraDa LiVre Coimbra. Não se trata de uma qual-
quer campanha religiosa. A verdade

8 é que ele e outras personagens com-


põem o espetáculo “DEUS, uma
NOV
peça”, baseada nos textos “Mister
“QuEBra-NOzES” Big” e “God (A Play)” de Woody
Dança Allen. O espetáculo vai ser represen-
17h00 • TaGV
tado pelo Teatro de Estudantes da
20 a 22 euros
Universidade de Coimbra (TEUC), no
Teatro de Bolso, situado no primeiro Ricardo Vaz Trindade estreia-se como encenador na mais recente peça representada pelo TEUC
12 piso do edifício da Associação Acadé-
mica de Coimbra, de 9 a 18 de de- cardo Vaz Trindade. Quando ques- bíamos bem se tínhamos piada ou bem às expectativas”, inserindo-se
DEZ
zembro.O humor puro e o absurdo, tionado sobre a mensagem central da não”. Para conferir vivacidade e es- “no espírito da comédia e do humor
FernanDo seabra característicos de Woody Allen, são o peça, responde com uma deixa que pontaneidade à representação foi uti- de uma forma fantástica”. O elenco
sanTos
que mais salta à vista. Os atores vemos também representada durante lizada, entre outros métodos teatrais, teve uma sessão com o Círculo de Ini-
músiCa jogam com as reações do público, a encenação com grande drama- a técnica de Meisner, que consiste em ciação Teatral da Academia de Coim-
FnaC Fórum
enTraDa LiVre
apresentando um teatro “matrioska”, tismo: “se queres mandar uma men- reagir através dos impulsos naturais bra (CITAC), que pôs em evidência a
que, como explica a atriz do TEUC sagem, vai aos CTT”. do ser humano, ignorando as barrei- troca de experiências e a partilha de

13 DEZ
Marta Félix, é “uma peça, dentro de
uma peça, dentro de outra peça”.
Visto que o argumento original de
O processo
Conseguir trazer uma série de pala-
ras sociais. Relativamente aos en-
saios, Rafaela Bidarra, atriz e
presidente do TEUC, declara que “o
conhecimentos entre os dois grupos.
“O encenador atual foi membro do
CITAC e é muito bom haver uma
Woody Allen faz referência a locais vras escritas num livro à vida é uma ambiente é ótimo”, não existindo ponte de ligação em que os dois gru-
“K ataNGa, a GuErra DO COBrE”
em Nova Iorque e Brooklyn, este teve experiência única”, revela Ricardo “uma distância entre mestre e apren- pos possam comunicar”, garante Ra-
Cinema de ser adaptado à cidade de Coimbra, Vaz Trindade que se estreia, neste es- diz”, quase como uma “irmandade”. faela Bidarra.
21h15 • TaGV referindo locais típicos da vida estu- petáculo, como encenador, depois de A presidente do TEUC conta ainda A entrada é livre, pelo que o espe-
enTraDa GraTuiTa
dantil. “Eu vou para o Tropical”, diz selecionado na segunda edição do que o grupo, que junta atores do táculo vai ser divulgado como ensaio
uma das personagens no desenrolar concurso “Palco a Novos Encenado- curso de formação do ano passado aberto. “Esta peça foi feita para che-
do espetáculo. “A intenção é fazer res”, lançado pelo TEUC. com membros mais antigos, “evoluiu gar às pessoas e espero que saiam
14 humor para as pessoas que nos estão A comédia é um género há muito e criou uma agradável interação”. daqui com vontade de ir ao teatro”,
DEZ a ver, um humor pessoal e intrans- não trabalhado por estes atores, Segundo Ricardo Vaz Trindade, o diz Marta Félix, empenhada na di-
missível”, refere o encenador, Ri- como confessa Marta Félix: “não sa- grupo “está a corresponder muito vulgação e questões práticas da peça.
“O aNti-Pai Natal”
Cinema
FnaC
21h30 • enTraDa LiVre
Em Palco •Noite de Reis
“N
maria Garrido
uma faceta mais introspectiva e de re-
15a30
oite de reis e nem um suposto Cesário a casa de Olívia, a
rei nesta peça”, co- Condessa apaixona-se por ele, não flexão, surgem temas como o amor
DEZ meça por anunciar o sabendo que o jovem é, na realidade, ou a importância dos bens materiais
traBalhOS artíStiCOS sarcástico bobo Feste. uma mulher. Viola, por sua vez, apai- confrontados necessidade de partilha
DO PrOJEtO traMPOliM xona-se pelo Duque, que continua de momentos.Dos melhores exem-
Shakespeare não se
exposição
CCD Dinis
considerava um rei, apenas um hu- perdido de amores pela Condessa. plos do ar pitoresco do espectáculo, é
enTraDa LiVre milde filósofo. Eis o porquê de não Assim é criado o triângulo amoroso a cena em que o bobo pede dinheiro a
haver espaço para dinastias. que faz correr a história. Viola (na altura Cesário), como “su-
17 Luz ambiente, um palco simples e
uma paleta de cores aguerridas dis-
Peça musicalmente interessante, re-
pleta de cânticos ilustrativos, com
borno” para esta poder falar com Olí-
via. Viola dá-lhe mais uma moeda e
DEZ
tribuídas pelas personagens. Con- uma ironia e um sarcasmo inteligente Feste leva a outra mão a uma concha
Mil BalaS
dessa Olívia está sentada com um véu que vai, de forma subtil, chamando a que abana enquanto aclama “vamos
músiCa roxo a cobrir a face, e literalmente atenção do público para a falta de fazer filhinhos” ao mesmo tempo que
saLa arTe à parTe apoio às pequenas companhias de apelativos “Uh! Ah!” se soltam dos
emoldurada num quadrado dourado
22h00 • 5 euros
a um canto do cenário. De luto por teatro. Toda a peça é acompanhada seus pulmões.

18 sete anos, a esbelta mulher chora o de uma crítica à nossa sociedade cul- A obra, baseada num amor humorís-
Até seu irmão e nega o amor a Orsino, tural, que faz com que obras como tico, é adaptada pela companhia Tea-
DEZ trão com ironia, numa representação
Duque de Illrya, ilha de todas as per- “Noite de reis” tenham que usar nove
“MONO” dições. Sebastian e Viola, gémeos se- atores para várias personagens em si- em que fica vincada a vertente crítica.
exposição parados por um naufrágio, multâneo.Um elenco excelente que, De 9 de Dezembro a 29 de Janeiro, às
CapC acreditam-se sozinhos no mundo. num ensaio corrido, nada falhou. 21h30 todas as quintas e sábados,
enTraDa LiVre Em Illrya, Viola faz-se passar por um Vozes melodiosas e um contraste Olívia, Orsino e o restante elenco,
homem (Cesário) para se tornar men- entre a antiguidade e os tempos mo- prometem colorir as noites da Oficina
Por Isabela Junqueira sageira do Duque que pretende con- dernos, no qual “o papá vai correr Municipal de Teatro.
quistar Olívia. Numa das visitas do com o seu MP3”. Juntamente com Por Maria Garrido
7 de Dezembro de 2010 | terça-feira | a cabra | 9

DESPOrtO
a G E n d a d E s p o r t i v a
V o L ei b oL
a n D e b oL 11 paTinaGem aaC x Vitória sC
12
pombal x aaC DEZ F u T e b oL
marrazes x aaC 17h • estádio universitário DEZ
11 17h30 • pavilhão eduardo 12 aaC x GD moinhos
18h • Leiria pavilhão 2
DEZ Gomes DEZ 15h • estádio universitário

75º anivErsário da sECção dE natação da aaC

Nasceu no Mondego e desagua na cidade


a Secção de Natação festejou em setembro o seu 75º aniversário. Com mais de 2200 títulos regionais no
seu palmarés, a direcção traça o futuro com a preocupação da sustentabilidade económica. Por Vanessa
alves e fábio rodrigues

C
orria o ano de 1935 Piscinas, depois de passagens pelo acrescenta. A conjetura económica tudantil”, conclui. Juventude e Lazer da CMC Luís
quando a Secção de Nata- Estádio Universitário, Pedrulha e atual é, segundo Miguel Abrantes, Como pontos altos da próxima Providência que deixou “uma pala-
ção da Associação Acadé- Solum. O presidente da secção um fator a ter em conta na altura da época, Miguel Abrantes salienta a vra de reconhecimento a um dos
mica de Coimbra Jorge Costa revela que está “muito adesão. “No passado recente havia organização do IV Meeting de principais parceiros desportivos da
(SN/AAC) deu as primeiras braça- satisfeito” com as condições cedidas algum receio de uma diminui- Coimbra. O coor- cidade, responsável por ensinar
das no leito do Mondego. A piscina pela Câmara Municipal de Coimbra ção na procura, mas fenó- denador clas- grande parte dos conimbricenses a
fluvial de 33 metros seria a casa da (CMC). No entanto, o dirigente con- menos como o de nadar”.
secção até à passagem para a pis- sidera que “o pouco espaço para as Michael Phelps A secção promoveu, ainda no
cina de Santa Cruz, inaugurada em escolas e horários de lazer, que são foram autênticos mesmo dia, um jantar de convívio
1938. O coordenador geral da sec- a principal fonte de receita, consti- balões de oxigé- sifica o evento onde homenageou os atletas que
ção, Miguel Abrantes revela que “as tui uma limitação”. O presidente da nio para a mo- como “uma prova reali- mais se destacaram na última
condições iniciais eram muito pre- secção aponta também os elevados dalidade”, zada a um nível de excelência, tanto época. Jorge Costa revela que “no
cárias, já que a atividade era sazo- custos da competição e a falta de realça. A pela qualidade das infraestruturas IV Meeting Cidade de Coimbra,
nal”. O primeiro triunfo a nível patrocinadores na modalidade criação como da organização”. serão agraciadas as personalidades
nacional deu-se em 1940 com a vi- como principais dificuldades. A so- das mo- mais relevantes da história da sec-
tória de Natália Veiga, na vertente lução passa, segundo Jorge Costa, dalidades de triatlo e polo trouxe Recordar o passado ção”. Para além de uma comemo-
dos 100 metros livres. A partir daí, pela “aposta na qualidade de forma igualmente um maior interesse pela Como forma de festejar esta data, a ração, o dirigente revela ainda que
os êxitos acumularam-se com atle- a garantir a preferência pela sec- secção. Jorge Costa revela ainda a Secção de Natação assinalou a efe- o objetivo é a promoção do convívio
tas a alcançarem patamares inter- ção”. “A principal preocupação é o preocupação em chegar mais perto méride com uma placa colocada no entre gerações. “Pretendemos evi-
nacionais e olímpicos. estado económico, criarmos mais- dos estudantes. “Ao estarmos inte- Campo Santa Cruz, no passado dia tar que as pessoas deixem de nadar
75 anos depois, a secção está em valias para ultrapassarmos as difi- grados na AAC uma das funções é 4. Na cerimónia de colocação esteve e percam o contacto com a secção”,
atividade no Complexo Olímpico de culdades que o país atravessa”, fornecer desporto à comunidade es- presente o vereador do Desporto, finaliza.
inês BaçrEira

A Secção de Natação da AAC desempenha a sua atividade no Complexo Olímpico de Piscinas, espaço cedido pela Câmara Municipal de Coimbra

Mourinho levou cinco mas a Académica trouxe o troféu FáBio rodriGuEs

realizou-se, a 29 de apelidado por muitos como o jogo tem sido feito”. O dirigente classi- à AAC do “Prémio Clube”. O Coor-
do século” moldou o decorrer do ficou a última época como “a mais denador Geral do Desporto, João
novembro, a iV Gala do evento. A entrega dos galardões produtiva” do seu mandato e ex- Almeida, realça que “este é um
Desporto da Cidade de realizou-se durante o intervalo do pressou o desejo de “criar algo con- sinal da representatividade que a
jogo e continuou depois de o sistente para futuro”. AAC tem na cidade, ao promover o
Coimbra. foram mesmo acabar. O anfitrião justifi- No conjunto de personalidades desporto e a formação”.
premiados os que mais cou que “numa gala do desporto distinguidas ligadas à AAC in- Nesse sentido, o presidente da
faz todo o sentido acompanhar esta cluem-se ainda dois nomes do Direção Geral da AAC, Miguel Por-
se distinguiram na partida”, transmitida em dois ecrãs campo dos escalões jovens. Paulo tugal, afirma também que “se trata
última época montados no Pavilhão Multiusos, Freixo, técnico da Secção de Fute- do reconhecimento prestado a uma
no passado dia 29 de novembro. bol, venceu a categoria “Treinador instituição que quer sempre evo-
desportiva, com a No lote de galardoados salienta- de Formação” e Gustavo Madu- luir a nível desportivo”, salien-
secção de rugby da aaC ram-se os membros da Secção de reira, atleta da Secção de Natação, tando que “o problema mais
Rugby da Associação Académica recebeu o prémio “Atleta de For- crónico, neste momento, é a falta
em destaque de Coimbra (AAC). A família mação”. As várias distinções alcan- de espaços, para as mais de 40 mo-
Franco voltou a estar em destaque çadas por membros da AAC dalidades que a AAC alberga”.
Filipe Furtado
com Sérgio e Jorge a receberem os devem-se, segundo Luís Providên- Na gala foi ainda homenageado
Fábio Rodrigues
troféus de melhor atleta e treina- cia, vereador do desporto da Câ- Tiago Alves, antigo judoca da AAC,
dor, respetivamente. O presidente mara Municipal de Coimbra, que faleceu em agosto deste ano.
Ainda o recinto tinha lugares por da secção, Jaime Carvalho esteve organizadora do evento, “ao peso O atleta foi distinguido com o
preencher, já o Barcelona vencia também em evidência ao vencer na enorme da Académica, já que é res- “Prémio Memória”, em conjunto
por 2-0. A transmissão daquele categoria de “Melhor Dirigente”. O ponsável por mais de um terço do com dois grandes nomes do des-
que, nas palavras do apresentador vencedor sublinhou que “é bom ser desporto que se faz no concelho”. porto da Académica: Joaquim
da IV Gala do Desporto da Cidade reconhecido pela cidade, por todo Os bons resultados ficam igual- Gonçalves “Isabelinha” e Mário
de Coimbra, Tiago Almeida, “já foi o trabalho de re-estruturação que mente assinalados pela atribuição Mexia.
10 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | terça-feira

DESPOrtO

ProlongamEnto
boxe
Courts renovados
consolidam atividade
Três elemen-
tos da
secção de
boxe da as-
sociação Cátia Costa

académica de Depois de ter recebido “Estou convencido que nos próxi-


Coimbra (sb/aaC) estiveram mos cinco anos, a infraestrutura já
em ação na Gala de mirandela,
as fases finais do EuC estará paga na sua totalidade”, ga-
no passado dia 4. João Cardoso tennis, as novas rante.
(Juvenil - 50kg Light-Kick), pu- Com eleições previstas para de-
gash anton (Júnior - 63kg instalações continuam a zembro, a direção acredita que está
Light-Kick) e Leonel Gonçalves ser uma mais-valia para a cumprir os objetivos propostos.
(sénior - 65kg Full-Contact) Os campos cobertos, a organização
combateram nas respetivas cat- a St/aaC. Cerca de 220 do EUC e os resultados das equipas
egorias. em destaque esteve atletas usufruem dos da secção desportiva são algumas
pugash anton que dominou das metas atingidas este ano que
todos os assaltos, vencendo o novos campos Tiago Fidalgo aponta. Mas ainda
combate por unanimidade dos independentemente não é altura para sair: “não queria
juízes. deixar a ST/AAC com um emprés-
das condições timo deste volume. O nosso obje-
râ Guebi climatéricas tivo é amortizar o máximo possível
em jogo rela- para que quem entrar depois não
tivo a 11ª Marta Costa tenha esse encargo de trás”.
jornada da
primeira Di- No Estádio Universitário é agora Várias conquistas
visão na- possível ver atletas a praticar ténis, e uma pendente
cional, a mesmo sob condições climatéricas Com a temporada a chegar ao fim,
equipa sénior masculina da adversas. Uma realidade impensá- a secção está a realizar uma época
secção de rugby da associação vel antes da construção da nova es- de bom nível, com a conquista de
académica de Coimbra trutura coberta, em julho de 2010. vários campeonatos. A Académica
(sr/aaC) foi derrotada em casa “De outubro até agora tem chovido é campeã regional absoluta em in-
pela equipa do Direito, por 3-9. quase todos os dias”, refere o pre- dividual (masculino) e equipas
os estudantes estão a cinco sidente da Secção de Ténis da As- (masculino e feminino). O título de
pontos do quarto lugar que sociação Académica de Coimbra campeão nacional absoluto indivi-
garante o acesso à fase final. na (ST/AAC), Tiago Fidalgo. O diri- dual masculino está também na
próxima jornada, a aaC gente lembra que esses seriam dias prateleira. Nas divisões nacionais,
desloca-se ao terreno do ben- em que não haveria treinos e que a ficou no segundo lugar da terceira
fica, sexto classificado, a quatro secção estaria parada. Tiago Fi- divisão de equipas masculinas, ga-
pontos de distância e com um dalgo sublinha que a infraestrutura rantindo a promoção. Uma das
menos um jogo por disputar. “não era necessária, era imprescin- equipas femininas alcançou ainda
dível” e os resultados estão à vista: o primeiro lugar na segunda divi-
b a s q u eT e b o L “tem-se notado nas duas vertentes, são nacional, conseguindo a subida
a equipa tanto na competitiva como na ao primeiro escalão.
sénior mas- afluência de pessoas à secção”. “O A outra equipa feminina da
culina rece- tempo já não é uma desculpa para Obras de remodelação do foram concluídas no verão passado ST/AAC, que disputa a primeira
beu e não jogar ténis”, remata. divisão nacional, terminou no se-
venceu, no A infraestrutura foi construída ral da Universidade de Coimbra”. Quanto aos custos, os novos gundo lugar mas espera ainda para
passado dia 4, para o campeonato Europeu Uni- No futuro, pode vir a existir um campos de ténis foram um investi- saber se poderá sagrar-se campeã.
o Vitória de Guimarães, por 92- versitário de Ténis (EUC) e serve “acordo ou protocolo de cedência mento de ascendeu aos 305 mil “Apresentámos um protesto relati-
83, em jogo a contar para a sé- agora, de forma exclusiva, a de espaço”. Contudo, enquanto euros, dos quais 150 mil foram vamente ao jogo contra o Clube de
tima jornada da primeira Divisão ST/AAC. De acordo com Tiago Fi- não estiver nada escrito no papel, pagos através de um empréstimo Ténis do Porto, porque entende-
nacional, disputado no pavilhão dalgo, abrir as portas para mem- o dirigente adianta que os campos que a ST/AAC contraiu. No en- mos que houve uma clara violação
multidesportos. os estudantes bros externos à secção “é uma vão continuar a ser de “utilização tanto, Tiago Fidalgo desdramatiza: dos regulamentos”, explica Tiago
realizaram uma excelente ex- discussão que está a ser feita, tanto exclusiva por parte da ST/AAC, “Estamos a trabalhar afincada- Fidalgo. Por agora o ténis da Aca-
ibição, com o atleta Fernando com a direção do Estádio Univer- nos seus horários de funciona- mente para amortizar esse em- démica está a “aguardar resposta
sousa a destacar-se com 20 sitário como pela Fundação Cultu- mento”. préstimo o mais rápido possível”. por parte da Federação”.
pontos marcados e a eleição de
melhor em Campo. a académica

Badmínton ambiciona títulos


ocupa agora o sexto lugar, com
11 pontos.

a n D eb o L Depois de Nuno de 19 e 20 de novembro, o Centro sultados, apesar de não terem maior número possível de joga-
em jogo da de Alto Rendimento de Caldas da sido excelentes, foram global- dores na principal divisão e al-
11ª ronda do Santos ter vencido o Rainha recebeu a segunda jor- mente bons”, avalia. O Campeo- cançar títulos nas diferentes
Campeonato campeonato nacional nada do Circuito Nacional de Se- nato Nacional de Badminton em categorias”, considera. Quanto ao
nacional da niores. A prova marcou o regresso seniores é composto por quatro campeonato nacional de clubes, a
Terceira Di- em maio, a académica de Nuno Santos, atual campeão categorias. Académica encontra-se na pri-
visão, a nacional, à competição. A dupla A Divisão de Elite, onde atuam meira divisão, quer em masculi-
quer mais uma vez
equipa sénior masculina de an- da Académica, composta por os 16 melhores jogadores, segui- nos, quer em femininos. “Em
debol da aaC deslocou-se ao afirmar-se como um dos Nuno Santos e Diogo Silva, ven- das das categorias B, C e da Cate- clubes, a competição decorre no
pavilhão de nelas, onde foi der- ceu a final da Categoria B, em goria D, onde jogam os atletas de fim da época e o objetivo é lutar
principais clubes no
rotada pelo abC local, por 33- pares. Já em singulares, o cam- iniciação. “A Académica tem atle- pela final”, assegura o dirigente.
19. os estudantes ocupam o panorama português peão nacional foi derrotado nos tas a competir em todas as divi- Neste momento, a SB/AAC é
quarto lugar, com 22 pontos, a quartos-de-final por Pedro Mar- sões”, ressalva o dirigente. composta por cerca de 70 atletas,
quatro do líder benavente. por Miguel Custódio tins, um dos mais cotados joga- Questionado acerca dos objeti- com idades que variam entre os
sua vez, a turma sénior femi- dores portugueses, atual número vos da secção para a corrente seis e os 47 anos. Nuno Baía re-
nina, que disputa a primeira Di- A Secção de Badminton da As- 59 do mundo. temporada, Nuno Baía garante vela que “o número de pratican-
visão nacional, continua na sociação Académica de Coimbra Nuno Baía, presidente da sec- que “os atletas têm condições tes da modalidade tem vindo a
última posição, com dez pon- (SB/AAC) encontra-se a disputar ção, mostra-se satisfeito com o para serem campeões nacionais aumentar nos últimos anos, quer
tos. o campeonato nacional da moda- desempenho dos atletas até ao nas várias categorias”. “Esta tem- em seniores quer nos escalões jo-
p o r F áb i o r o d r i gu e s lidade. No passado fim de semana momento. “Nesta jornada, os re- porada é importante manter o vens”.
7 de Dezembro de 2010 | terça-feira | a cabra | 11

CiDaDE

Balanço de um ano em Coimbra


Como aglomerados complexos, as cidades são compostas pelas várias realidades que acolhem e se inter-
ligam. Em mais um fim de ano, recolhem-se opiniões de representantes de várias áreas que assinalam al-
guns pontos fulcrais da evolução de Coimbra em 2010 – positiva ou negativa. Por inês Silva
Carlos Encarnação José de sousa paulo mendes
presidente da Câmara municipal de presidente da direção do Banco alimentar Contra a Fome de Coimbra presidente da associação Comercial e industrial de Coimbra (aCiC)
Coimbra (CmC) “ao Banco alimentar Contra a Fome de Coimbra continuaram a chegar, com “atividades como a “noite Branca” - as últimas duas edições foram um su-
“um dos momentos significativos para mais frequência, pedidos de ajuda alimentar. recordo que o ano de 2010 foi cesso de atração de pessoas à Baixa – destacam-se, tal como a conclusão das
a cidade em 2010 foi, muito recente- instituído como ano Europeu do Combate à pobreza e à Exclusão social infraestruturas do Coimbra iparque. de positivo pouco mais houve.
mente, a abertura da Casa da Escrita, (aECpEs), o que era considerado como uma oportunidade única para por- pela negativa, assinalo a total liberalização dos horários dos estabeleci-
assim como também o foi o fim das tugal assumir, como imperativo coletivo, a erradicação de pobreza e exclu- mentos comerciais, não precavendo, como é de lei, a livre concorrência e a
obras no Hospital pediátrico e a sua são. pretendia-se que 2010 fosse um momento de viragem na sociedade, no coexistência dos vários tipos de comércio. Haverá evolução quando se ras-
abertura. outro acontecimento muito entanto, no final do ano deparamo-nos com os órgãos da comunicação so- gar a avenida Central ou o metro. são dois projetos de aproveitamento local,
significativo foi a suspensão do elétrico cial regional a informar que em Coimbra “crianças chegam com fome às es- que provavelmente revolucionariam a maneira de ver a cidade e a Baixa, e
rápido de superfície.” colas” ou que “o desemprego atinge níveis históricos.” também a maneira de fazer comércio.”

maria José azevedo santos Fernando regateiro


vereadora da Cultura da CmC presidente do Conselho de
“o ano foi dominado pela comemora- administração dos Hospitais da
ção dos 100 anos da república, à qual universidade de Coimbra (HuC)
foi associado o centenário dos arma- “referia como aspetos mais importan-
zéns do Chiado. destacaria ainda três tes a inserção dos HuC no roteiro da
grandes momentos da cultura em que transplantação, promovido pela presi-
interveio o município: a nomeação do dência da república; a inclusão na lei
museu municipal para a rede nacional orçamental do Estado da criação de
de museus e o prémio que obteve para um centro hospitalar universitário, que
edição do segundo volume do catá- significa valorização futura da oferta de
logo da coleção telo de morais, a saúde em Coimbra; a consolidação da
inauguração da Casa da Escrita, e refe- gestão dos HuC como Entidade pú-
rência ainda ao contrato de adjudica- blica Empresarial. um outro momento
ção do Convento de são Francisco ao importante foi o congresso de inova-
arquiteto Carrilho da Graça. ção e qualidade em saúde, em março,
saúdo todas as associações da ci- nos HuC, que congregou mais de mil
dade ou dos vários pontos do conce- participantes. Houve também um
lho com muito afeto, porque travam ganho extraordinário na conscienciali-
uma luta diária grande com os recur- zação das populações em termos de
sos financeiros. não esquecer também acompanhamento de situações epidé-
o papel que tem todo o associativismo micas ou mesmo endémicas.”
nas mais de 20 juntas de freguesia ru-
rais. vai para todos o meu agradeci- José reis
mento pelo muito que fizeram pela Economista
cultura em 2010.” “do ponto de vista económico, o mais
importante foi certamente a atividade
miguel portugal vitór matos Lobo paulo peixoto do instituto pedro nunes e o prémio
presidente da direção Geral da associação académica de Coimbra docente de Química da uC sociólogo, investigador do Centro que recebeu de melhor incubadora
“a nível do associativismo estudantil, podemos salientar neste ano, em pri- destaco um conjunto grande de con- de Estudos sociais da universidade tecnológica do mundo. de negativo, a
meiro lugar, o novo concurso de ideias e negócios proposto pela aaC, “atreve- gressos, de artigos científicos feitos por de Coimbra (uC) frustração do projeto do metro mon-
te 2010”, que culminará a 18 de dezembro com a entrega dos prémios deste pessoas aqui de Coimbra e publicados “destaco, pelo seu significado para dego e a sua inviabilização, pelo
concurso, no valor de 60 mil euros. deu-se ainda a entrega de um cheque sim- nas melhores revistas internacionais. a cidade e pelas implicações que menos a um prazo razoável. não creio,
bólico no Governo Civil, na qual estiveram cerca de 350 pessoas; mas também Foi também muito importante para a se espera que possa ter em termos contudo, que em termos de evolução
a manifestação do dia 17 de novembro, que foi em Lisboa mas partiu de Coim- cidade ter aberto, com grande sucesso, de potenciar a candidatura de [económica] se possa fazer uma avalia-
bra. a aaC esteve também ao nível da intervenção cívica com o EuC tennis, o a licenciatura de Química medicinal. É Coimbra a património mundial, o ii ção muito positiva - visto que uma ci-
dia da Bengala Branca, a Feira da saúde, a visita à Casa dos pobres. assinaram- um curso com perspetivas de muito fu- Encontro internacional World He- dade é sempre algo de complexo e de
se ainda vários protocolos – com a associação de paralisia Cerebral de Coimbra turo. a uC está muito bem em produ- ritage portuguese origin (WHpo).” interligado, e os seus elementos não
(apCC) e a associação de defesa de apoio à vida (adav), por exemplo.” ção científica no país e no mundo” sofreram a evolução mais positiva.”

Metro para Coimbra sem mobilidade


uma vez que a economia do pro-
Sem soluções Câmara Municipal da Lousã, Fer- dito nada, nem às câmaras munici-
grama terá sido comprometida, la-
nhece o descontentamento da popu-
nando Carvalho. Segundo o autarca, pais nem aos cidadãos de Coimbra”. lação, admitindo, no entanto, que os
definitivas para o projeto, dois consórcios responsáveis pelas
menta. O autarca defende a execução
habitantes se vão “acomodando”.
do traçado “de uma vez só” porque
os obstáculos colocados ao obras para o metro “receberam um Comprometimento do Também Álvaro Maia Seco imputa
“sozinho, o projeto da linha subur-
ofício da Rede Ferroviária Nacional projeto bana ficaria por tempo incerto a con- aos cidadãos alguma ausência de luta
Metro Mondego provocam (REFER), que regula a interrupção “A partir de determinada altura, fi- sumir recursos e a ser pelos seus interesses, o que se agrega
o descontentamento na das obras naqueles setores da linha quei convencido de que havia sérias antieconómico”, assegura. Um pro- a uma “provável desvalorização do
suburbana”. O presidente realça possibilidades de o secretário de Es- jeto que, segundo Álvaro Maia Seco, papel de Coimbra”. O mesmo en-
região ainda que “tudo o que se tem pas- tado [dos Transportes] parar o pro- já custou cerca de “80 a 90 milhões tende Encarnação: “ou os governos
sado, a câmara tem sabido através da cesso”, revela Álvaro Maia Seco. de euros”. entendem que Coimbra é um ponto
Inês Silva comunicação social”. “Não concordei com essa eventuali- de equilíbrio significativo nacional e
dade, mesmo num clima de grande
Álvaro Maia Seco, que em outubro
contenção financeira, por causa da
Coimbra como polo de investem nessa base, ou então ostra-
Após as várias alterações no pro- pediu a demissão da Metro Mondego aplicação do Programa de Estabili- equilíbrio nacional ciza-se Coimbra - que é o que tem
jeto, o Sistema de Mobilidade do (MM) no seguimento da integração dade e Crescimento (PEC)”, justi- Residente em Moinhos, Miranda do acontecido”. Até à data do fecho de
Mondego continua a atravessar difi- da sociedade na REFER, reitera as fica.Também o presidente da Corvo, Laurinda Fileno afirma sen- edição não foi possível obter decla-
culdades de viabilização. “O Governo afirmações de Fernando Carvalho. O Câmara Municipal de Coimbra, Car- tir-se “muito mais cansada” e “trans- rações da REFER e do Ministério das
interrompeu a realização [do proce- ex-presidente declara que é “incon- los Encarnação, afirma ter previsto a tornada” desde o encerramento do Obras Públicas e dos Transportes e
dimento] sem consultar as autar- cebível que, num ano inteiro, [o Es- morte do projeto já em 2005. “A par- Ramal da Lousã. Regina Ventura, Comunicações.
quias”, garante o presidente da tado] não tenha tido ocasião para ter tir daí foi uma vergonha completa”, proveniente de Padrão, Lousã, reco- Com Guilherme Soares
12 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

ACEssibiliDADE
UC derruba obstáculos e garan
autonomia a estudantes portad
A UC presta apoio técnico e pedagógico aos alunos com deficiência há mais de 20 anos e planeia continuar a
Também a AAC tem planos, ainda sem financiamento, para a construção de um elevador que facilite o acesso
res de deficiência se deparam ainda é o preconceito. Por Maria Eduarda Eloy

O
s estudantes com deficiên- ciência é a ausência de dados estatís-
cia fazem parte do universo ticos. Mas Ana Cristina Abreu revela
académico da Universi- que “com a implementação do novo
dade de Coimbra (UC) e, ao sistema de informação a partir do
longo das últimas décadas, os espa- servidor NONIO acredita-se ser pos-
ços do campus têm sido adaptados, sível obter essa informação, desde
com maior ou menor eficácia, para os que as pessoas registem a sua defi-
acolher com o mínimo de barreiras. ciência quando se inscrevem”.
A colocação de rampas e elevadores A responsável salienta que, para
nas faculdades e zonas de estudo que o ATPED possa acompanhar o
foram mudanças significativas, que aluno, a deficiência tem que estar
favoreceram a acessibilidade dos de- “comprovada com a devida docu-
ficientes motores, mas além destas mentação, seja de médicos, especia-
obras há outros projetos que permi- listas, psicólogos ou técnicos que
tem a inclusão de alunos portadores antes acompanharam a pessoa”.
de deficiência. Além disso, Ana Cristina Abreu
O Gabinete de Apoio Técnico-Pe- acrescenta que as necessidades do es-
dagógico a Estudantes com Deficiên- tudante têm que ser identificadas em
cia (ATPED) é um exemplo do conjunto com ele durante a entrevista
esforço da UC nesse sentido. Com de avaliação.
quase 20 anos de existência, permite
que alunos de todas as faculdades Medidas de inclusão
com deficiência ou necessidades edu- Para garantir a autonomia dos alunos
cativas especiais (NEE) superem con- no decurso dos estudos, “depois de
dicionamentos que dificultem os seus identificada a necessidade, o ATPED
processos de aprendizagem. Nas pa- articula-se com as unidades orgâni-
lavras da chefe da Divisão Técnico- cas, quer através das direções, quer
Pedagógica da UC, Ana Cristina através dos professores das discipli-
Abreu, o objetivo do gabinete é “ga- nas em que os estudantes estão ins-
rantir que do ponto de vista do pro- critos e negoceiam-se com eles
coimbra e lisboa foram as duas instituições de ensino superior pioneiras na criação deste tipo de gabinetes
cesso de aprendizagem e do processo medidas que permitam essa igual-
raquel coelho
académico a pessoa com deficiência dade de oportunidades”, refere Ana
tem igualdade de oportunidades”. A Cristina Abreu.
responsável pelo ATPED explica que No caso de estudantes com defi-
“qualquer estudante que ingresse na ciência auditiva, “até hoje nenhum
universidade e que tenha uma defi- aluno solicitou tradutores de Língua
ciência ou uma necessidade educativa Gestual Portuguesa”, no entanto essa
especial, que pode ser decorrente de seria uma intervenção possível do
doença incapacitante, tem a possibi- ATPED, segundo a chefe da Divisão
lidade de recorrer ao gabinete”. Técnico-Pedagógica. Habitualmente,
No entanto, cada situação é especí- os professores são sensibilizados para
fica, porque existem diversos tipos de falar de frente para o aluno e para lhe
deficiência e, mesmo dentro de uma proporcionar um assento numa das
deficiência existe variabilidade, o que primeiras filas, para que consiga
cria necessidades diferentes. Além apreender o que o docente diz.
dos deficientes motores, auditivos e Em relação a alunos com deficiên-
visuais, há uma grande variedade de cia visual, a conversão de textos em
alunos com NEE, como os estudantes Braille e carateres ampliados são das
com Síndrome de Asperger, ou com principais medidas de apoio do gabi-
outras formas de autismo. Os alunos nete. Inês Gonçalves, estudante do
podem dirigir-se ao ATPED por ini- último ano do mestrado integrado em
ciativa própria ou orientados por al- Psicologia, é uma das pessoas que
guém que conhece a situação do usufrui dos serviços prestados pelo
estudante, incluindo elementos do ATPED. A aluna tem ambliopia, uma
gabinete que, segundo Ana Cristina redução acentuada da visão, que se
Abreu, “têm a preocupação de ir às agrava quando a iluminação é es-
unidades orgânicas no sentido de cassa, e para ler adequadamente ne-
perceber quem são as pessoas que cessita que os textos estejam
têm necessidade de apoio”, mesmo ampliados. O gabinete faculta as im-
quando não se identificam como por- pressões dos textos que os professo-
tadores de deficiência no ato de ma- res deixam na reprografia ou dos
trícula. diapositivos utilizados em aula com a
Um fator que dificulta a caracteri- escala adequada para Inês e tem
zação da população da UC com defi- ainda disponível uma Telelupa, ou a tecnologia é uma mais-valia no apoio a alunos com deficiência o aTPeD nasceu da organização de um
7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira | a cabra | 13

ACEssibiliDADE

nte mais
dores de deficiência
a adaptar os edifícios às necessidades das pessoas com mobilidade reduzida.
o ao edifício. No entanto, uma das barreiras com que os estudantes portado-

raquel coelho
Lupa TV, um aparelho que permite fícios, mas os acessos específicos nem sem ser em PDF”, conclui.
visualizar páginas de livros com am- sempre estão”. O pró-reitor refere Inês, pelo contrário, apresentou
pliação. que existem projetos para melhorar um requerimento à diretora da
No caso particular dos estudantes os acessos nas faculdades que “con- FPCEUC, para que as suas notas fos-
com deficiência motora, o leque de sistem na colocação de rampas inte- sem publicadas na página Web da fa-
intervenções é o mais variado possí- riores e de elevadores nos edifícios culdade e o documento foi deferido.
vel, consoante o grau de deficiência mais antigos e ainda, a pensar nos A estudante salienta, por outro lado,
seja mais ou menos acentuado. No alunos com deficiências visuais, no- as dificuldades de deslocação “em sí-
ATPED são facultados dispositivos meadamente ao nível da textura de tios onde não há muita luz” como a
que facilitam a consulta de livros e há pavimentos, na execução de circuitos principal barreira física, mas no que
também uma articulação com as di- que permitam facilmente reconhecer respeita ao quotidiano na faculdade,
versas faculdades para assegurar o os acessos e os locais de perigo”, mas a disponibilização de textos em datas
mínimo de condições de acessibili- que ainda aguardam financiamento. próximas de exames ou a falta de
dade. Contudo, Ana Cristina Abreu A acessibilidade de pessoas com uma Lupa TV na biblioteca são en-
afirma que existem várias dificulda- mobilidade reduzida ao edifício da traves. Inês conta que não tem
des em implementar acessos para Associação Académica de Coimbra “acesso aos livros que a biblioteca
pessoas com mobilidade reduzida (AAC) também é uma das preocupa- disponibiliza a menos que os possa
porque muitos dos edifícios da UC ções do presidente da direção geral, trazer para casa, mas como muitos
“têm o peso da história e, por lei, não Miguel Portugal. “O acesso é muito dos livros não podem sair da biblio-
se podem fazer alterações, ou para se pouco largo e é muito complicado ter teca é complicado a esse nível”. Outro
fazerem têm que se contactar inúme- acesso aos pisos superiores, que é problema que refere relaciona-se
ras entidades para pedir autorização, uma coisa que apenas se poderá dis- com os avisos que os professores afi-
além das condicionantes dos edifícios sipar no futuro através de um eleva- xam nos placards da faculdade numa
e da arquitetura urbanística”. A res- dor, que é algo que também está letra que não está ampliada. “É uma
ponsável pelo ATPED refere-se, em projetado para o novo edifício da informação inacessível”, lamenta a
particular, à Faculdade de Psicologia AAC”, comenta. O dirigente associa- estudante.
e Ciências da Educação da UC tivo adianta ainda que “é um projeto Por sua vez, Isabel Dias realça pela
(FPCEUC), localizada num plano in- de quatro milhões de euros” da auto- positiva o aparecimento e generaliza-
clinado e entre ruas estreitas. ria do arquiteto Gonçalo Byrne, mas ção das novas tecnologias que vieram
O ATPED agiliza também, em mui- para já não tem financiamento. colmatar as principais dificuldades
tos casos, a negociação da extensão que sentiu ao longo da licenciatura,
raquel coelho
do tempo dos exames para alunos Dificuldades acrescidas que já concluiu em 1997, como a au-
“Normalmente com deficiência, ou a divisão da ava-
liação em mais do que um momento.
Tal como Inês Gonçalves, também
Lucília Vicente, que concluiu em
sência de dicionários em Braille num
curso de línguas ou os problemas na
associa-se à Inês Gonçalves salienta que num
exame de uma hora com 40 escolhas
julho o mestrado em Ciências da
Educação, e Isabel Dias, que termi-
consulta das notas. “Era preciso pedir
aos colegas para verem as pautas, de-
deficiência visual múltiplas, em que cada uma das op-
ções ocupa uma página inteira, de-
nou já em 2007 uma pós-graduação
em Tradução, frequentaram o
pois os professores não diziam as
notas, telefonava-se para as secreta-
uma deficiência vido à letra aumentada, demora
“muito a folhear o enunciado” e é
ATPED. As duas antigas estudantes
da UC são cegas e realçam a impor-
rias diziam que não divulgavam notas
por telefone”, comenta com doses de
cognitiva e isso tempo que acaba por faltar para ter-
minar o exame no prazo previsto. No
tância do trabalho do gabinete na
adaptação de textos para Braille.
humor e frustração.

não corresponde entanto, a aluna adverte que “não há


nenhuma lei [no ensino superior] que
Em conjunto com Inês, falam das
principais dificuldades que sentiram
Saltar barreiras
Além destes aspetos, as alunas refe-

de todo à refira que a pessoa portadora de defi-


ciência tem mais tempo para acabar
no decurso dos estudos na UC e que
nem sempre foram colmatadas. Lucí-
rem sentir algum preconceito em re-
lação às pessoas com deficiência

verdade porque os exames”. Ana Cristina Abreu ex-


plica que “há uma regulamentação le-
lia destaca a publicação das pautas na
Internet em formato PDF como uma
visual. “Normalmente associa-se à
deficiência visual uma deficiência

apesar de a gislativa até o aluno terminar o


ensino secundário e depois não há
das coisas que a afetou de forma ne-
gativa. Os leitores de texto não são
cognitiva e isso não corresponde de
todo à verdade porque apesar de a

pessoa ter uma essa continuidade no ensino supe-


rior, porque as instituições são autó-
compatíveis com o formato porque o
identificam como uma imagem e não
pessoa por ter uma deficiência ao
nível da visão não quer dizer que

dificiência não nomas”, daí a importância das


negociações com os docentes.
como carateres. Lucília afirma que
“tinha que andar sempre a pedir a co-
tenha um quociente de inteligência
inferior à média do comum das pes-

quer dizer que Obras de acessibilidade


legas para ver as pautas ou então
havia alguns professores que envia-
soas”, ressalva Inês.
Também Ana Cristina Abreu pre-
ainda sem financiamento
tenha um QI O pró-reitor, responsável pela manu-
vam as notas por email”. Acrescenta
ainda, com alguma indignação, que
tende desmistificar esta ideia. “Não
há necessariamente nenhuma ligação

inferior” tenção dos edifícios da UC, Rai-


mundo Mendes da Silva, lamenta que
fez vários pedidos junto “de profes-
sores, do Conselho Executivo, do
causa efeito entre as capacidades cog-
nitivas das pessoas e a deficiência [vi-
as faculdades “nunca estejam ade- Conselho Pedagógico, da Secretaria” sual, auditiva ou motora]”, explica
quadas para um aluno de cadeira de e ninguém conseguiu solucionar o justificando porque pessoas com de-
rodas”, dado que “neste momento problema. “O objetivo era que lan- ficiência cognitiva “dificilmente al-
m grupo de alunos com deficiência está garantido o acesso geral aos edi- çassem as notas no site da faculdade cançam o Ensino Superior”.
14 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

CiênCia & TeCnologia


Paulo SantoS e FiliPe neveS – Director-executivo e coorDenaDor Do iPn incubaDora

Oportunidade para “trabalhar”


O Instituto Pedro Nunes presa não precisa de ter um escri- O IPN é uma instituição com empresas têm, o número de pos- Base Científica - em que concor-
(IPN) venceu, no passado tório. Quando o negócio está com- uma relação próxima com os tos de trabalhos que criam, o vo- rem incubadoras muito prestigia-
dia 20, o prémio da me- pleto, pode-se candidatar à estudantes? lume de negócios que têm, se das de todo o mundo. Para terem
lhor incubadora de base incubação física. Pelo caminho há PS: Sim. Repare, a grande finali- estão ou não vivas, se são lucrati- uma ideia, os antigos vencedores
tecnológica a nível mun- muitas que desaparecem ou de- dade, a grande visão das pessoas vas, se há retorno do investimento já foram Oxford, o parque tecno-
dial. Paulo Santos, dire- sistem, porque veem que, de que idealizaram a criação do IPN, público, o que é uma coisa muito lógico de Beijing e o politécnico
tor-executivo do IPN facto, aquela ideia não é suficien- em 1991, era criar uma instituição importante. de Turim. Desde que concorre-
Incubadora, e Filipe temente robusta. As que passa- que servisse de “interface”, de elo PS: Como o Filipe diz, e bem, este mos, há quatro ou cinco anos,
Neves, coordenador da rem é que entram para a de ligação, entre a universidade e é um concurso, o “Best Science temos estado sempre nos sete me-
equipa de gestão do pro- incubadora física o tecido empresarial. Uma crítica Based Incubator Award” – o Pré- lhores. Já estivemos no segundo
jeto, consideram que o que sempre se fez, não só à UC, mio para a Melhor Incubadora de lugar, no quinto lugar e este ano,
instituto tem promovido Há outro tipo de rendimento como a todas as universidades atingimos o primeiro lugar. Esta-
uma aproximação do para além do que as empre- portuguesas e da Europa. No mos imensamente orgulhos disso.
jovem licenciado ao tecido sas pagam mensalmente? fundo, a ideia era facilitar o pro-
empresarial da cidade. A PS: Essa é uma característica que cesso entre estes dois mundos. Quando dirigem uma incu-
incubadora conimbri- nos distingue. De facto, somos Hoje existem dezenas de empre- badoras que tenta investir
cense destacou-se por de uma instituição autossustentada sas tecnológicas aqui em Coimbra em projetos de jovens licen-
entre os cinquenta con- Não temos qualquer tipo de re- e nos arredores, que empregam ciados, como vêm a tendên-
correntes sediados em ceita proveniente do Orçamento muita da mão-de-obra qualificada cia para o OE retirar
vinte e seis países. de Estado (OE), ou da Câmara que a universidade forma. Muitos recursos financeiros para a
Municipal de Coimbra, ou de um desses jovens têm logo oportuni- formação de recém-licencia-
patrocinador. Todas as nossas re- dade de trabalhar em estágios e dos?
Filipe Furtado ceitas veem diretamente das ati- até podem ir trabalhar mais tarde PS: Infelizmente isso está a acon-
Félix Ribeiro vidades que desenvolvemos. para Lisboa, para outras empre- tecer em todos os setores da eco-
sas, mas acabam sempre por ter nomia. Enfim, não há grande
O que é uma incubadora de O IPN tem ou não fim lucra- um contacto prévio com o mer- resposta para isto. A resposta é a
base tecnológica? tivo? cado de trabalho cá em Coimbra. imaginação. Temos que ser muito
Paulo Santos: Uma incubadora PS: Não. Temos aqui duas insti- imaginativos e criativos e arran-
de base tecnológica, como a do tuições, o IPN e o IPN Incuba- Ganharam recentemente o estatisticamente, jar formas de contornar estas di-
IPN, é uma infraestrutura voca- dora. O IPN é uma instituição prémio de melhor incuba- ficuldades, não vale a pena chorar
cionada para o apoio ao desenvol- sem fins lucrativos de utilidade dora a nível mundial, por- em Portugal mais sobre o leite derramado. Sa-
vimento de projetos empresariais pública, em que comporta as ati- quê? bemos que temos dificuldades fi-
de base tecnológica e inovadora. vidades de transferência de tec- FN: (Risos) Em primeiro lugar a cerca de setenta nanceiras, o país todo tem, não
É uma infraestrutura física, em nologia e investigação aplicada, expressão “melhor incubadora do somos o único país que tem.
primeiro lugar, em que temos com seis laboratórios distintos de mundo” sempre me assustou e se por cento das Temos que apertar o cinto um
salas dedicadas a empresas. Do formação. E a IPN Incubadora, calhar não é mais correta. É a me- pouco, arregaçar as mangas e…
ponto de vista de software, os em- antes um departamento do IPN é, lhor incubadora de base científica empresas não FN: (interrompe)...trabalhar.
presários contam com o apoio na hoje em dia, uma entidade autó- e tecnológica do mundo, no uni- PS: E trabalhar. Tentar no dia-a-
elaboração do plano de negócios, noma, mas sem fins lucrativos. verso dos 50 concorrentes deste chegam ao dia, com a nossa criatividade e
com um estudo de viabilidade Na incubadora os seus associados ano. São utilizados, para a atri- com a nossa procura de soluções,
económico-financeira do seu pro- são o IPN, com a maioria do capi- buição do prémio, uma bateria de quarto ano de arranjar uma forma de ultrapas-
jeto, ajuda ao financiamento da tal, a Universidade de Coimbra 25 indicadores: desde a auto sus- sar este vale da crise que estamos
sua atividade, aquisição de recur- (UC) e a Faculdade de Ciências e tentabilidade da própria institui- vida. a atravessar agora. Basicamente é
sos para financiar a aquisição de Tecnologia da UC (FCTUC). ção, o crescimento que as isto, não há grandes segredos.
equipamentos, contratação dos
Félix RibeiRo
recursos humanos de que neces-
sitam; apoios em diversas áreas.
No fundo, o objetivo final é ajudar
a ultrapassar aquilo a que chama-
mos, nesta atividade, o vale da
morte. São os primeiros anos de
atividade de qualquer empresa,
aqueles em que correm maior
risco de morrer. Estatisticamente,
em Portugal cerca de 60, 70 por
cento das empresas não chegam
ao quarto ano de vida.

O que é que é pedido às em-


presas para elas poderem in-
tegrar a incubadora?
Filipe Neves: O processo de
candidatura tem duas fases. Em
primeiro lugar, as empresas têm
de responder a uma ficha de pré-
candidatura...
PS: Depois de passarem esta pri-
meira fase, a empresa pode entrar
imediatamente, se assim o quiser,
no nosso programa de incubação
virtual. É um programa em que
beneficiam do nosso apoio na ela-
boração do plano de negócios, es-
tabelecer contactos, parceiros e
ter acesso a salas de reuniões e
serviços partilhados. A ideia é mi-
nimizar os encargos numa fase
inicial, em que, se calhar, a em- O Instituto Pedro Nunes pretende desenvolver as bases necessárias à criação de novas empresas de base tecnológica na cidade
7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira | a cabra | 15

CiênCia & TeCnologia


350 anoS Da royal Society De lonDreS

Mentes lusitanas além Canal da Mancha


a Biblioteca Joanina apresenta, durante os próximos meses, um conjunto de livros e instrumentos científicos,
bem como de documentos políticos, prova do trabalho dos 25 cientistas e diplomatas portugueses membros
da Sociedade Real de londres para o Progresso do Conhecimento da natureza. Por Rafaela Carvalho
RaFaela caRvalho

A
ntónio Álvares da Cunha,
nascido em 1626 em Goa,
na Índia, foi arquivista e
genealogista. Todavia, foi principal-
mente pela sua atividade enquanto
diplomata que a 9 de abril de 1668 se
tornou no primeiro português a per-
tencer à Royal Society de Londres.
Desde a sua nomeação, até à do ma-
temático e político Francisco de Borja
Garção Stockler, a 1 de abril de 1819,
foram 25 os cientistas e diplomatas
portugueses que tiveram a honra de
constar nos anais da história da So-
ciedade Real de Londres para o Pro-
gresso do Conhecimento da
Natureza. São também essas 25 per-
sonalidades nacionais que integram
agora a exposição “Membros portu-
gueses da Royal Society”, iniciativa
que comemora os 350 anos da cria-
ção da sociedade científica londrina
e que está patente na Biblioteca Joa-
nina da Universidade de Coimbra
(UC) até 28 de fevereiro de 2011.
“São os únicos 25, depois destes três
séculos e meio não encontramos nos As obras literárias expostas pertecem ao espólio da BGUC e, nalguns casos, esta é uma oportunidade única para as observar
registos [da Royal Society], outros
nomes de portugueses”, conta o dire- constRuiR laços a estudaR o Passado
tor da Biblioteca Geral da UC (BGUC)
Carlos Fiolhais. A maioria dos mem- no próximo dia 10, a biblioteca Joanina recebe o colóquio internacional
bros portugueses da sociedade – “Portugal- britain: 250 Years of scientific exchange (1660-1910)” que, segundo
criada em Londres a 30 de novembro carlos Fiolhais, é “um encontro para, com base na história, descobrir laços
de 1660 por um grupo que ambicio- que se possam construir entre a Royal society e a uc”.
nava estudar de forma mais aprofun- a iniciativa conta com a presença de Keith Moore da Royal society, Robert
dada a Natureza – viveu no século Fox da universidade de oxford, ana simões da universidade de lisboa e isa-
XVIII. “Isso mostra que a ciência por- bel Malaquias da universidade de aveiro.
tuguesa no século XIX e XX não teve Para a apresentação foi convidado décio Martins da uc, que pretende “ex-
o mesmo grau de internacionaliza- plorar os aspetos que são relevantes no gabinete de física e a importância da
ção”, conclui Carlos Fiolhais. obra científica de alguns elementos da Royal society”.
Coincidência, ou não, é também do
século XVIII a Biblioteca Joanina, cação periódica da Royal Society - Jardim Botânico acabou por ser feito Fiolhais refere que “esta coroa servia peças mais gerais da história e fun-
que acolhe a exposição patente no que é, segundo Carlos Fiolhais, “uma em Coimbra”, continua o diretor. para magnetizar as agulhas das bús- dação da Royal Society. No piso in-
andar nobre, no andar intermédio, das revistas científicas mais antigas Já os instrumentos científicos pre- solas e o instrumentista que a mon- termédio, ganham uma nova vida os
que até há poucos meses se encon- do mundo” e da qual a BGUC “con- sentes na Biblioteca Joanina, nos tou era membro da Royal Society”. cientistas e as suas obras escritas e
trava encerrado ao público, e na an- serva todos os exemplares desde o próximos meses, pertencem ao Outros três objetos cedidos pelo instrumentais. Por fim, na Prisão
tiga Prisão Académica. número 1”. “Não há em Portugal Museu da Ciência da UC. São “obje- Museu da Ciência foram projetados Académica ficam as obras com refe-
outra biblioteca que tenha a coleção tos científicos que foram fabricados por João Jacinto de Magalhães: uma rências ou criadas por diversos di-
Obras e instrumentos completa da revista”, revela, orgu- ou utilizados pelos cientistas mem- pêndula, relógio de precisão interna; plomatas.
no espólio da UC lhoso, o diretor. bros da Royal Sociaty”, afirma o dire- uma Máquina de Atwood para medi- A iniciativa, que pode ser visitada
Os objetos que constituem a exposi- Também entre os documentos que tor do museu, Paulo Gama Mota. ção da força da gravidade, cujo mo- todos os dias e cujo bilhete custa
ção pertencem, na sua totalidade, ao constituem a exposição, é possível Alguns destes instrumentos estão em delo é ainda hoje usado nos cinco euros, é organizada em con-
espólio da UC. “Não há material que encontrar uma planta arquitetónica exposição no Gabinete de Física Ex- laboratórios de Física; e um baróme- junto pela BGUC e pela Royal So-
tenha vindo da Royal Society, a não do Jardim Botânico de Chelsea, en- perimental da UC e podem ser obser- tro portátil. “Este homem era um ins- ciety. “Quando fizeram 350 anos
ser algumas reproduções”, admite viada por Jacob Castro de Sarmento vados ao longo do ano. No entanto, trumentista, concebia objetos para encontrei-me com eles em Londres e
Carlos Fiolhais. Os livros e restantes para Portugal. O cientista tinha o in- no caso de “alguns objetos, esta é facilitar a vida aos sábios”, acrescenta tivemos esta ideia em conjunto”, re-
obras impressas pertencem à BGUC. tuito de construir no país um jardim uma oportunidade única para os ver Carlos Fiolhais. vela o diretor da BGUC, que admite
“Alguns deles já estão digitalizados e dentro dos mesmos moldes que per- num contexto específico”, admite que “inicialmente a exposição era
podem ser vistos no repositório de li- mitisse, segundo conta Carlos Fio- Paulo Gama Mota. Uma parceria para ser em Londres, mas de algum
vros antigos da UC, chamado Alma lhais, “cultivar espécies de efeito É o caso de uma coroa de magnetite, anglo-portuguesa modo o número de interessados na
Mater”, afirma o diretor. farmacêutico”. “Não fizeram esse jar- um presente do imperador chinês ao A exposição está dividida em três ver- exposição podia ser maior em Portu-
Expostos estão exemplares da revista dim porque o Marquês de Pombal rei D. João V, que pesa 12 quilogra- tentes. Numa primeira abordagem, gal”.
“Philosophical Transactions” - publi- entendeu que era muito caro, mas o mas, e atrai um peso de 50. Carlos no andar nobre, são apresentadas Com Joana Castro

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16 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

PaíS
dR

Muitos dos eleitores acabam por ver o seu voto não ter utilidade

Sistema eleitoral não é representativo


em Portugal, muitos dos que votam em pequenos partidos nas eleições legislativas acabam por ver o seu
boletim engrossar a cada vez maior lista de votos desperdiçados. Por Joana Castro e Bruno Monterroso

E
m agosto de 2010, o poli- sitados no Partido Social-Democrata diçados”. Para o docente, apesar de ria de circunstância, mesmo abso- vestigador considerar que “em Portu-
tólogo José Bourdain, di- (PSD), constata-se que apesar de este cada voto “valer teoricamente o luta”. O especialista defende um cír- gal, ainda existe receio de certas ma-
vulgou um estudo da sua último ter obtido sensivelmente o tri- mesmo”, a proporção de votos neces- culo de duas câmaras, nifestações públicas desses partidos”,
autoria onde alertava, entre outros plo de votos do BE (29,11% contra sários para eleger deputados “é bas- nomeadamente uma câmara alta (se- citando o cartaz do Partido Nacional
aspetos, para a crescente “despropor- 9,82%), conseguiu eleger mais do que tante mais alta em Portalegre do que nadores) para além da já existente câ- Renovador (PNR) no Marquês de
cionalidade” do sistema eleitoral de o quádruplo de deputados (81 contra em Lisboa”. A seu ver, este facto leva mara baixa (o parlamento), sendo Pombal e “a controvérsia que isso
representação proporcional (SERP) 16) que estes últimos. os eleitores a “desmotivarem-se”, e, esta última eleita por círculo único criou”, relembra que “há uma teoria
vigente em Portugal. Além da falta de na sua opinião, muitos “não chegam a (votação e eleição de cada membro que diz que se deve dar acessibilidade
representação, o autor alertava para Eleitores desmotivados sair de casa porque sabem que, ano individualmente), de modo a propor- às plataformas todas, mesmo aquelas
um elevado número de “votos des- Na opinião do politólogo José Bour- após ano, o seu partido não consegue cionar a “máxima representação e com as quais não concordamos, para
perdiçados”, exemplificando com os dain, como a maior parte dos círcu- eleger deputados”. Ainda em relação proporcionalidade”. que no mercado de ideias essas pos-
vários distritos onde os três menores los eleitorais em Portugal são à tese de mestrado, José Bourdain Já Carlos Jalali considera que o sam ser derrotadas”. Apesar de tudo,
partidos do parlamento não conse- pequenos, “normalmente”, apenas o conclui que, nos círculos eleitorais atual SERP limita em geral o acesso considera que “o mais provável é o
guiram eleger deputados nas eleições Partido Socialista (PS) e o PSD “ele- mais pequenos, vários eleitores fazem aos pequenos e aos micro-partidos à sistema eleitoral não mudar”.
legislativas, apesar de terem alcan- gem” representantes, fazendo com aquilo que se chama “voto estraté- representação parlamentar”. Para Por sua vez, José Bourdain, sugere
çado votações acima dos dez por que “todos os votos que sejam para gico”, ou seja, “vão votar em segun- contrariar esta situação, o politólogo uma discussão séria em Portugal,
cento. Este sistema origina, de resto, outros partidos acabem, assim, des- das preferências, em termos de afirma que se Portugal alterasse o seu sobre o facto de os cidadãos quere-
resultados discutíveis. Por exemplo, perdiçados”. O politólogo conclui por escolha eleitoral” para garantir que o sistema eleitoral para um círculo elei- rem ou não mais representatividade
nas últimas legislativas, apesar de ter isso que o sistema eleitoral português seu voto acaba por ser útil. toral nacional obteria “uma menor no Parlamento. Do primeiro caso, re-
obtido 52 761 votos (0.93% do total), “é cada vez mais desproporcional”. proporção de votos desperdiçados”, o sultaria “um sistema mais proporcio-
o Partido Comunista dos Trabalha- Como exemplo, o também comen- Representatividade que “reduziria os constrangimentos nal mas de governabilidade mais
dores Portugueses/ Movimento tador político relembra, na sua tese necessita de discussão dos eleitores em termos de escolha difícil”. Na segunda hipótese, a for-
Reorganizativo do Partido do Prole- de mestrado de 2007, subordinada ao Para o investigador de Ciências So- eleitoral”. Em contrapartida, Carlos mação de um governo de maioria
tariado (PCTP/MRPP) não logrou tema “Voto Estratégico nas Eleições ciais, Manuel Villaverde Cabral, o sis- Jalali afirma que este acarretaria con- seria mais fácil “mas existiriam muito
obter nenhum dos 230 lugares de de- Legislativas Portuguesas de 2005”, as tema eleitoral português não cumpriu sequências no que toca à governabili- menos partidos representados no
putado parlamentar, enquanto o eleições no círculo de Portalegre (que o “objetivo não explícito” de evitar a dade, tornando “mais difícil a Parlamento”. O especialista crê que
Centro Democrático e Social - Partido elege dois deputados), onde 42,80 maioria de qualquer partido sobre os formação de maiorias absolutas”. A se deveriam referendar propostas de
Popular (CDS-PP), com mais 35 472 por cento das pessoas que foram outros, permitindo três maiorias ab- seu ver esta solução permitiria um alteração do sistema eleitoral de
votos que o Bloco de Esquerda (BE) votar não conseguiram eleger um re- solutas desde 1974. No entender de aumento substancial dos partidos modo a que os eleitores “escolham as
assegurou mais cinco deputados em presentante seu. Também o diretor Manuel Villaverde Cabral esta situa- com representação parlamentar, o regras do jogo da democracia”, pois
relação a este último. Por outro lado, do mestrado em Ciência Política da ção é grave porque, afirma, “nenhum que levaria à entrada de partidos com estes não foram considerados “na dis-
se forem comparadas as votações no Universidade de Aveiro, Carlos Jalali, país, nenhuma sociedade pode estar posições mais extremistas na Assem- cussão das regras do jogo no qual
BE com, por exemplo, os votos depo- considera que “existem votos desper- inteiramente nas mãos de uma maio- bleia da República. Apesar de o in- jogam, que são as eleições”.

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7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira | a cabra | 17

MunDo
Coreias “medem forças” d.R.

após anos de paz doso, Doutorando em Relações In-


ternacionais da Universidade Livre
armada agudizou-se de Berlim, acredita que este episó-
o confronto entre as duas dio “resulta, em termos gerais, da
incapacidade dos EUA e da China
Coreias. em resposta a em encontrar uma solução de segu-
uma provocação militar, rança comum para o Nordeste Asiá-
tico”.
a Coreia do norte retalia Também questionado sobre este
assunto, o político do Partido Social
Maria Garrido Democrata e atual comentador te-
Filipa Magalhães levisivo, Marcelo Rebelo de Sousa,
considera que este conflito “tanto
Com uma linha cronológica com pode ser um medir de pulso depois
mais de sessenta anos, vinda do da frustrada tentativa norte-ameri-
final da Segunda Guerra Mundial e cana para passar do confronto ao
com a divisão do mundo, na conso- envolvimento, como o representar
lidação da Guerra Fria, a hostili- de um sinal pequeno, mas relevante
dade entre as Coreias vem-se de como a China afirma a preserva-
sustentando na diversidade de regi- ção do seu espaço asiático”. Marcelo
mes políticos e económicos. Divi- Rebelo de Sousa refere também ser
dida em dois grandes quadros importante que “a China não fique
geopolíticos – o bloco ocidental, li- indiferente à aparente maior apro-
beral, liderado pelos Estados Uni- ximação NATO-Rússia.”
dos da América (EUA) e o bloco de Posta de parte a possibilidade de
leste, socialista e associado à URSS uma terceira Grande Guerra, por-
– e no enquadramento dos países que “todos os Estados estão forte-
“Alinhados” as duas Coreias segui- mente ligados por intensos fluxos
ram caminhos diferentes: Coreia do comerciais, migratórios e de infor-
Norte liga-se à China, e a do Sul mação” e “a existência de armas nu-
liga-se ao Ocidente, mais particu- cleares dissuade os estados a iniciar
larmente aos EUA. um conflito armado”, Daniel Car-
Esta discórdia foi marcada, ainda doso admite que a via diplomática
assim, por uma tentativa de apazi- será a mais indicada para evitar pio-
guamento conferida pelo armistício res desenvolvimentos.
assinado entre os dois países no ano
de 1953. Um jogo de alianças
No dia 23 de novembro, em res- Perante isto, o presidente dos EUA,
posta a tiros de artilharia lançados a Barack Obama reafirmou durante
partir da ilha sul -coreana de Yeon- uma entrevista ao canal BBC o entos e realidades comuns tjnh b k,j rjymhg c kyumnytu6jyg
pyeong (que se localiza a 12 km da apoio do seu governo aos sul-corea-
fronteira marítima que divide os nos: "a Coreia do Sul é nossa aliada. moon, condenou num comunicado ciais sul coreanos em conversa com zada”, considera que o lado chinês
dois países) ao mar norte-coreano, Tem-no sido desde a Guerra Co- de imprensa, este ataque. embaixadores norte-americanos possa estar algo exausto na gestão
as forças armadas de Pyongyang reana e reafirmamos com veemên- Indo ao encontro do que já foi profetizam a queda do regime de da sua aliança com a Coreia do
dispararam vários obuses sobre a cia o nosso empenho em defender a dito por Daniel Cardoso, também Kim-jong il, logo após a sua morte. norte.
mesma, matando dois civis e dois Coreia do Sul enquanto parte dessa ele considera o incidente um dos Profetizam também uma China fa- Contudo, não acredita que este
soldados do exército antagónico. aliança". Admitindo que iria discu- mais graves desde a Guerra Coreana vorável a esse acontecimento e à facto “seja suficiente para a China
tir com Lee Myung-bak, Presidente em 1953 e revela-se ainda bastante unificação coreana. Sobre isto, Mar- pugnar por uma Coreia unificada”
Conflitos não vão gerar Sul-Corenao, sobre a crise criada preocupado com o escalar das ten- celo Rebelo de Sousa descredibiliza: sublinhando que “a Coreia do Norte
terceira guerra por este conflito, sublinhou, no en- sões. “aparecer por essa via é meio cami- é um território importante para a
mundial tanto, que não iria especular sobre Apesar das desavenças entre os nho andado, ou mais, para tornar a China porque serve como um tam-
Considerando o confronto recente qualquer ação militar nesta fase dos dois países, que se prolongam no ideia menos possível.” pão às forças sul-coreanas e norte-
como “o mais grave incidente regis- acontecimentos. tempo, informações reveladas pelo Também Daniel Cardoso, que vê americanas. Abdicar deste
tado entre as duas partes” desde a Do mesmo modo, o Secretário- site Wikileaks e adiantadas pelo esta notícia como “altamente des- território, tornaria a China geopoli-
assinatura do tratado, Daniel Car- Geral das Nações Unidas, Ban Ki- New York Times revelam que ofi- proporcionada e descontextuali- ticamente mais frágil”.

Indústria global está cada vez mais concentrada


Tem-se assistido à consumimos seja produzido por e que usam mão-de-obra mais agora se estejam a aproximar da das economias”. Para o especia-
cada vez menos empresas, tor- qualificada, procurando também indústria. No seu entender este lista, esta actividade industrial
concentração dos
nando-as cada vez mais influen- “uma ligação cada vez maior entre processo de expansão global da mais concentrada implica uma
capitais produtivos. tes na vida de todos. Como explica a componente tecnológica e a pro- produção industrial, impulsio- “perda de autonomia” por parte
o director da Faculdade de Eco- dução propriemente dita”. nado pelas grandes empresas, das populações, uma vez que uma
Se por um lado este
nomia da Universidade de Coim- permitirá “acrescentar valor” a empresa “muito poderosa” tem
cenário leva à bra (FEUC) José Reis, “existe Acréscimo de valor ou estes países pobres, bem como capacidade para “impor no mer-
concentração do poder, uma centralização do capital” perda de autonomia uma “melhor especialização” dos cado os seus produtos, as suas éti-
com tendência para “haver um Para o professor da Universidade respectivos agentes económicos. cas e as suas linguagens”,
por outro pode ajudar à peso cada vez maior das empresas Católica Portuguesa (UCP), João O docente considera, de resto, determinando “uma perda de
mais significativas” que, ao longo César das Neves, a crescente con- que este processo tem como efeito poder” por parte dos consumido-
industrialização dos a “redução da desigualdade mun- res. O deputado considera tam-
do tempo, “assumiram cada vez centração da produção industrial,
países mais pobres mais importância no conjunto da “é uma vantagem pois é um pro- dial, precisamente porque as bém importante que existam
produção industrial”. cesso de desenvolvimento”. O do- zonas mais pobres estão a crescer “tentativas de contrariar essa di-
Bruno Monterroso Na opinião do docente, a prin- cente lembra que “há uma e temos uma situação de aproxi- nâmica, no sentido de beneficiar
cipal desvantagem desta concen- concentração, mas também há mação” às zonas mais ricas. as populações locais e os merca-
A crescente concentração da tração é o facto de “induzir a uma uma dispersão”, encontrando-se Já o deputado José Manuel Pu- dos de proximidade”, subli-
produção industrial no planeta, grande concentração de poder”, a indústria actualmente “espa- reza considera que o mais impor- nhando ainda a necessidade de
sobretudo ao longo das últimas embora admita que muitas vezes lhada pelo mundo”, permitindo tante não é tanto a concentração “reforçar os poderes de fiscaliza-
décadas, tem levado a que um nú- são as empresas de maior dimen- que os países mais pobres, que da produção industrial, mas sim ção” do funcionamento dos mer-
mero cada vez maior dos bens que são que pagam melhores salários antigamente eram agrícolas, “a cada vez maior financeirização cados.
18 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

aRTeS
CINEmA

“ Demónio A
inda me lembro quando “[Rec]”), diria que estamos pe- sário injetar o elemento sobrena-

Devil – o o nome de M. Night


Shyamalan metia algum
respeito, já lá vão 8 anos
rante uma visão bastante mercan-
tilista e segura daquele que já foi
considerado o mestre do sus-
tural quando, a meu ver, não há
nada mais assustador do que o
anonimato da pessoa que está ao

” desde os últimos “Sinais” de espe-


rança. Trocadilhos à parte e de-
pois do fiasco que foi “The Last
pense. Deixando de parte as im-
plicâncias, confesso que logo à
partida fiquei intrigado com o en-
nosso lado?
A juntar a esta história contada
a ferros, encontramos um dos pio-
Airbender”, que colocou o realiza- redo: cinco pessoas ficam presas res elencos que há memoria a fi-
dor completamente fora da bolha no elevador de uma empresa, gurar num filme que não foi
depressivo-sobrenatural, surge mas, enquanto não detetam a ava- direto para vídeo. Não é por
De agora o projeto Night Chronicles. ria, começa a criar-se a descon- serem atores desconhecidos, há
John eRiCk DowDle Esta distribuidora não é mais do fiança entre o grupo e, pelo que filmes fantásticos com atores de
que um veículo para os “lados b” nos é dado a entender, um dos quem poucos ouviram falar, mas
coM do indiano, que já deve ter sido re- elementos é o diabo. Tudo bons pode ter a ver com a qualidade do
ChRiS MeSSina preendido pelas fracas receitas ingredientes para um filme tenso, argumento. A certa altura ia jurar
logan MaRShall-gReen dos últimos filmes, e que aqui só claustrofóbico e, pelos vistos, ridí- que dois dos atores estavam a
Jenny o’haRa fornece a história e o dinheiro na culo. conter o riso naquele que seria um
esperança que isso traga os espe- Podia aqui falar dos méritos es- dos momentos de maior tensão de
tadores de volta. Dito isto, e por téticos, que os há, ou mesmo das toda a trama.
2010
ser um eterno crente na redenção, metáforas um bocado mais dissi- Dizer que o filme poderia ser
fui ver “Devil – O Demónio”. muladas do que é costume, mas um episódio alargado da “Twilight
John Erick Dowdle é o primeiro isso não salva o filme. Tudo bem Zone” ou mesmo dos “Outer Li-
liguem as luzes! realizador a aventurar-se pelas que a viagem ascendente do ele- mits” seria insultuoso para qual-
Night Chronicles, mas utilizo o vador e a consequente paragem quer uma das duas. Em época de
verbo muito livremente, porque a do mesmo servem para mostrar crise é um crime termos de pagar
crítica De JoSé Santiago julgar pelo último filme que vimos que todos sofremos provações à para ver coisas destas.
dele (“Quarantine”, a versão ame- medida que tentamos obter mais
ricana do bastante superior na vida, mas seria mesmo neces-

Séraphine”
vER

H
á quem diga que Sé- bordavam das suas telas, dan- É ainda importante dizer que
raphine Senlis vive çassem nos negrumes dos fun- o que torna este filme disfun-
num estado de êxtase dos, “também eu, quando as cional é a desistência desde FIlmE
permanente. Ser- olho, tenho medo do que fiz”. cedo dos diálogos; ao invés pre-
vente desde sempre, Séraphine É na verdade, a interpretação valecem os cenários demora-
cozinha, lava e limpa casas de que Yolande Moreau faz de Sé- dos, que apesar de firmarem o DE
vários amos de uma pequena raphine que maravilha: Mo- plano fotográfico, esgotam-se MARTIN PROVOST
vila francesa. No cestinho de reau arquitecta a película pela morosidade e pela rigoro-
vime, sempre o cestinho, rouba através de um monólogo quase sidade técnica, que esmaece, EDItORA
sangue de porco, cera de círios, sempre silencioso, além de por vezes, o próprio ritmo de DVD CLAP FILMES
materiais para tintas. conseguir, com distinção, cap- Séraphine. Também a banda
2008
Séraphine, pintora, vive em tar o arrebatamento de quem é sonora que floresce timida-
Senlis. “Onde Sancho Pança vê escolhido para transpor uma mente, quase para se esquivar
moinhos, D. Quixote via caste- ideia visual e teimosa, para ao próprio espectador, peca por
los”, assim é Wilhelm Uhde, o uma tela. É, no entanto, no tardar, apesar de bela, pueril e
alemão resgatador da pintora, fecho da fase de loucura da fi- determinante, como a pintora. Artigo disponível na:
mecenas de Roudin e padrinho gura e do próprio filme que, É um biopic, carece dizer, de Das flores
das artes; até ela se tornar Sé- por ser demasiado abrupto, se quem pintava flores, de quem dançantes
raphine de Senlis, como hoje é perde a profundidade de Sé- abraçava árvores e de quem en-
conhecida, mãe de matizes tão raphine ou a razão pela qual a louqueceu, de tanto viver e sem
densas que conseguiam fazer sua humildade tempestuosa es- saber.
com que as flores que trans- colheu o precipício. FiliPa MagalhãeS
7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira | a cabra | 19

feiTas
oUVir lEr

ode à vida ” iluminações; uma cerveja no inferno ”

“D “a
ust lane” é o mais quele vai ao Inferno e a-dia e se furta ao velho tom poético,
recente álbum do Crocodilo volta quando lhe ape- a poesia de rimbaud, com uma nova
Dust Lane músico avant-
escondido com tece! rimbaud não vol- linguagem inventada, em que se mis-
garde, multi ins- tou do seu inferno”, tura o coloquial com a voz da gente
trumentalista e compositor as lágrimas de afirma Cesariny, usando como inter- comum, foi e é de uma incontornável
francês, Yann tiersen. Bastante locutores as mulheres de Verona que influência no mundo artístico e em
conhecido e conceituado pela
fora viam passar Boccacio de Dante. poetas ulteriores, especialmente nos
criação das bandas sonoras dos Sim, foi de infernos e de atrocida- surrealistas.
filmes “le fabuleux destin des, em todas as latitudes do con- e se em Portugal, como surrealista
d'amélie Poulain” e “Good Bye ceito, que se imbuíram todas as se elevou Mário Cesariny, não menos
lenine!”, Yann tiersen traz até estações da aventura espiritual de se elevou na prestação do devido tri-
nós um álbum que abrange um rimbaud, mas não menos de génio e buto ao poeta francês através de vá-
registo sonoro completamente de lucidez. rias traduções da sua obra, em 1960
diferente do que outrora havia Jean Nicolas arthur rimbaud, como “Iluminações; Uma Época no
feito. poeta decadentista francês, precoce Inferno”, trocando, em edições pos-
a produção deste trabalho foi na escrita e no seu abandono, escre- teriores, a “época” pela “cerveja”,
feita pelo próprio intérprete e veu toda a sua obra até aos 21 anos, posto que seria “saison” o nome de
por Ken thomas, que já traba- facto que não o impediu de a conce- uma cerveja popular na época de
lhou com os Sigur rós e Moby. ber notável e ainda hoje influente. rimbaud.
de “Dust lane” não é, ao contrário libertino e inquieto, viaja intensa e Para quem considera, não sem
Yann TieRsen de alguns trabalhos anteriores extensamente pela europa, África e razão, que o tradutor é sempre trai-
de tiersen, o álbum perfeito Ásia, até que a morte o ancorou a um dor, o livro possui texto bilingue
editora para uma tarde chuvosa acom- cancro ósseo, aos 37 anos. francês-português, defendendo-se
MuTe ReCORDs panhada de uma caixa de choco- “Iluminações; Uma cerveja no In- assim a compreensão e a essência.
lates. apesar de se apresentar ferno” (“Illuminations; Une saison
2010 um pouco mais distante de ins- en enfer”), são sombras espectrais da
de
trumentos como o acordeão e o obra de rimbaud, escritas entre 1873
Jean-aRThuR RiMbauD
piano, o compositor francês consegue provar que é possível e 1875.
transportar o ouvinte para um subconsciente emocional e in- a primeira, pedindo emprestado o
editora
trospectivo através de guitarras acompanhadas de efeitos, rit- título à pintura, série inacabada de
assiRiO & aLviM
mos que pesam e marcam o andamento de temas como poemas em prosa poética, e a última,
“Palestine” e arranjos vocais que penetram a mente de qual- poema solitário e extenso, único pu-
2007
quer um. blicado pessoalmente aos 19 anos,
o infortúnio da morte da mãe e de um amigo próximo de sendo amplamente considerado
Yann tiersen foi claramente uma influência para a composi- como o seu testamento espiritual.
ção instrumental e lírica do álbum. apercebemo-nos desse Inovadora, já que se anicha no dia- Pedro Madureira
“peso” e, ao mesmo, da presença de memórias e emoções à
medida que nos vamos envolvendo com certas faixas. “Dust JoGar
lane” é, possivelmente o trabalho mais “complexo” de tier-
sen, devendo-se, a título de exemplo, a todo o arranjo coral.
em “amy” é-nos apresentado um conceito muito interessante
de ópera-rock, e a faixa “fuck Me”, último tema do álbum, em Counter-Strike: Source”
que Yann tiersen se junta a Kerrien Gaëlle num dueto de vozes
contagiante, faz-nos perceber que estamos perante um con-

N
junto de músicas intimistas que terminam como o clímax de ovembro de 2004. o filho pró- façam mapas, “mods” e tudo o mais,
toda a acção. O Regresso digo dos “first Person Shoo- que nós fornecemos as ferramentas – diz
Mesmo com quarenta anos, Yann tiersen continua a mos- ters” retorna para nos deliciar a Valve. e com isto, a um custo reduzido,
trar o seu talento e paixão pela música da melhor maneira. às Origens por mais um sem número de horas. os foi possível elaborar uma das séries mais
fãs acotovelam-se para garantir as pri- reconhecidas e jogadas na história dos
meiras cópias do jogo, que os irão (ine- videojogos. Quais Super Mário, Zelda ou
vitavelmente) desgastar até à completa Halo?! Basta pegar num browser de ser-
exaustão. a possibilidade de voltar a vidores dedicados, fazer um “scan” ape-
andré FiliPe CoSta jogar Counter-Strike com um motor de nas pelos que estão alojados em Portugal
jogo totalmente revolucionário veio criar e ainda é possível ver centenas de joga-
uma relação de amor/ódio entre os “fan- dores a divertirem-se com esta gema da
boys” e o jogo. Uns queixam-se da joga- Valve Software.
bilidade, outros das armas, alguns dos o que começou com uma “brinca-
GUErra daS CaBraS
mapas e até existem uns esquisitóides deira”, um simples “mod” do Half life 1,
a evitar dos gráficos. rapidamente se tornou num “best-seller”
Contudo, a premissa é a mesma: duas mundial. e, à boa maneira da Valve, foi
fraco equipas (terroristas e Contra-terroris- lançado como um “standalone game”,
tas), mapas e “mods” a perder de vista, e que continua a fazer as delícias de mi-
Podia ser pior
o habitual emaranhado de teclas de ata- lhares de pessoas no mundo inteiro.
Vale a pena lho para comprar as armas. o primeiro a Mas qual é a diferença entre Counter-
chegar às melhores armas domina o Strike: Source e o seu precedente?
a Cabra aconselha jogo, subjuga o adversário e trucida a Para os mais aficionados, uma jogabi-
a Cabra d’ouro concorrência.É, sem dúvida, a atenção lidade inteiramente diferente (mais “user
que a Valve Software tem dado à comu- friendly”), uma maior panóplia de
nidade, que permitiu transformar este “mods” e mapas, um sistema gráfico e
Plataforma
jogo no colosso que ainda hoje é. a dis- um motor de jogo bastante melhorados.
PC
artigos disponíveis na: ponibilização de “Mod tools”, o apoio e o Para o jogador casual são apenas mais
Editora encorajamento dado aos fãs é a prova ab- horas infindáveis de diversão.
ValVe Software soluta que não há melhor estratégia do e não é isso que realmente interessa?
que a espelhada na velha máxima “o Sentarmo-nos nas horas de ócio e sim-
2004 cliente tem sempre razão”. plesmente deixar os dedos falarem por
e se “o cliente tem sempre razão”, por- nós?
que não deixá-lo ditar as regras? joão Correia
20 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

sOLTas
O MunDO aO eu esTuDO Lá univeRsiDaDe De genebRa • suiça
COnTRáRiO
d.r.

Escócia representantes das Igre-


jas anglicana e Católica, revela-
ram-se indignados com uma
campanha que utiliza símbolos na-
talícios para falar de sexo na escó-

MenoS
cia. Na campanha, duas
especialistas em sexo, utilizando
gorros do Pai Natal, falam sobre os

PrátiCa, MaiS
riscos de contrair doenças ou
mesmo de gravidez inesperada. re-
comendam a utilização de preser-
vativos nas festas de fim de ano, a
fim de que nenhum problema rela- qualidade de
cionado com sexo venha a ocorrer
com os cidadãos escoceses.
enSino
EUa Durante a última semana, em
Skapone, no estado de washing-
ton, um sinal de trânsito que visa
alertar aos pedestres para que
parem exibia somente o dedo Na Universidade de Genebra as turmas chegam a atingir os 400 alunos em algumas disciplinas
médio levantado, naquele tradicio-
nal gesto ofensivo que conhece- na universidade de soas são mais ricas”. forma, o horizonte do estudante rica. “os professores são especiali-
mos. Normalmente, o sinal ficava genebra, na suíça, não há Na Universidade de Genebra, as universitário suíço afigura-se mais zados e leccionam apenas uma ca-
vermelho com os cinco dedos de turmas chegam a atingir os 400 alu- risonho, visto não haver tanto de- deira” e rahel não esconde a
uma mão indicando para parar. Se- praxes nem outras nos em algumas disciplinas. as semprego neste país com uma eco- admiração ao constatar que “em
gundo uma porta-voz da prefei- tradições universitárias, aulas são pouco interactivas e não nomia mais estável do que a Coimbra, os professores, por vezes,
tura, Marlene feist, os problemas há lugar para a discussão, refere a portuguesa. Por outro lado, grande não sabem responder às perguntas
podem ter sido gerados pela neve mas o ensino é mais estudante. Não existem tradições parte dos estudantes opta pela al- dos alunos”.
que atinge duramente o estado. completo e especializado respeitantes à vida universitária, ternativa do sistema de formação Questionada sobre a forma como
“Não foi nada intencional”, afirma não há tanta vida social, nem espí- profissional específica, que garante foi acolhida, diz que, apesar de re-
a representante. rito universitário, “a universidade saídas profissionais. conhecer simpatia aos portugueses,
o nível de vida em Genebra é bem não tem um papel tão dominante”, a estudante do terceiro ano de estes “são um pouco como os suíços,
EUa tamy Banovac passou mais mais caro. “Quando estudava lá pa- explica rahel. relações Internacionais escolheu não falam muito e têm um grupo de
de uma hora só de lingerie no sa- gava cerca de 350 euros por semes- os estudantes têm nove anos de Portugal como destino devido ao in- amigos muito fechado”, confes-
guão do aeroporto de oklahoma. tre e não recebia bolsa”, revela rahel ensino obrigatório e depois são es- teresse em aprofundar o seu conhe- sando ser mais fácil conviver com a
a mulher de 52 anos conta que Baumgarther de 22 anos. Há canti- colhidos de acordo com a sua média, cimento da língua portuguesa, que restante comunidade erasmus.
sabia que a sua cadeira de rodas nas universitárias, mas as refeições de forma a terem acesso ao “highs- considera, a par do inglês, francês, a vida social em Coimbra agrada à
faria disparar o detetor de metais, custam entre cinco e oito euros. chool”, que dura três anos. esta se- espanhol e o alemão, que já domina, estudante, porque conhece “muito
por isso resolveu ir usando apenas rahel pagava cerca de 300 euros lecção prévia, que, segundo rahel, um dos idiomas que “toda a gente mais gente e é mais divertido”.
um casaco sobre a lingerie. a ame- pelo alojamento numa das residên- divide os “mais e menos inteligen- fala”. rahel defende ainda, meio a brin-
ricana passou por uma revista ín- cias que, segundo ela, não tem luga- tes”, explica a não existência de pro- “a qualidade de ensino é melhor car, que “a qualidade de vida não é
tima e acabou por perder o voo res suficientes para os estudantes. É vas de ingresso no ensino superior. na Suíça”, conclui a estudante de melhor na Suíça, apesar de lá todas
para Phoenix. também difícil arranjar uma casa a “Só há exames para cursos específi- erasmus, acreditando que em Por- as casas terem aquecimento e em
Carlota rebelo preços acessíveis em Genebra. a es- cos como medicina, mas em geral tugal se aprende menos, porque Coimbra estar sempre com frio”.
tudante explica: “na Suíça, as pes- isso não acontece”, conta. Desta falta uma aprendizagem mais teó- Por ana francisco

MOnuMenTais panaDOs sOCiais


por Doutorando paulo fernando sugesTões CRóniCas Ou COMO eu gOsTaRia De esCReveR uM Op-eD
Quem argumenta que criticar é erasmus para estudar… Deviam inês Balreira ginação também a meu cargo. Não
fácil só o afirma porque nunca teve era fazer perguntas sobre a noite e sou um ser inflexível, estou dis-
esta página em branco à sua a borga… Seria bem mais interes- posto a negociar as minhas pre-
frente. o que em si mesmo consti- sante tanto para os entrevistados tensões desde que sejam
tui um contra-senso filosófico por- como os leitores, ou não... cumpridas na totalidade... Porque
que de facto, pretendo preencher as minhas críticas aos borrões apenas assim o meu cantinho es-
este espaço com críticas fáceis, gra- fotográficos que me ficam a nor- tará a salvo da vossa mediocridade
tuitas e moderadamente ofensivas. deste são ainda mais acutilantes. jornalística. exactamente. Na
acho que tenho todo o direito de Não só são duvidosos na sua quali- minha paranóia sou um walter
o fazer, desde que o “lebensraum” dade estética como também rústi- lippman.
do meu espaço opinativo quinze- cos na forma como reproduzem a assim, peço que encarecida-
nal foi invadido por espécimes in- realidade dos sítios fotografados. mente atribuam a mesma relevân-
feriores do género Não lhes ficava nada mal uma pon- cia a esta minha crónica que a
literário-jornalístico. Não gosto de tinha de pseudo-intelectualidade muitas outras críticas que se têm
ver a minha verborreia rodeada de coimbrã, e da arrogância metafisi- espalhado como lume no palheiro,
dissertações sobre palitos, micro- camente transcendente digna do porque de facto, tanto esta como as
ondas ou consolas. Para não falar género. demais, não merecem a atenção
do sentimento jingoísta que me Digo “o meu espaço”, não por- que o desafortunado leitor despen-
inspiram os meus metecos vizi- que tenha celebrado nenhum con- deu até atingir este ponto final.
nhos de cima. Desbobinando san- tracto que me confira alguma lezamento das páginas 20 e 21 destas páginas com o pão ralado Como diz o popular adágio, vozes
dices sobre a forma bizarra como espécie de direito legal que possa deste jornal. além do mais, acho dos meus panados sociais, even- de burro não chegam (nem devem)
se vive por esse mundo fora e ten- ser renovado automaticamente en- que tenho todo o direito a criticar, tualmente extensível na fritura até ao céu, mesmo que este burro
tando iludir as pessoas, ao darem quanto não for denunciado por porque todos o criticam, de forma às páginas de opinião e às artísti- venha embrulhado na manta de
a entender que quem vai de eras- uma das partes, mas sim porque infundamentada e pouco racional, cas, aproveitando desde já para doutor.
mus se preocupa minimamente estou plenamente convencido de e eu não gosto de ficar para trás. afirmar a veleidade da minha in-
com a Universidade para onde que só a minha acutilância intelec- a minha sugestão é então que tenção em escrever o jornal de uma
vai… até parece que alguém vai de tual pode contribuir para o embe- me permitam cobrir a totalidade ponta à outra, com fotografia e pa-
7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira | a cabra | 21

sOLTas
João Gaspar

uMa bReve hisTóRia De…

uM bebé virtual

“o
bicho tem fome”. “este todos os produtos virtuais no V3.
já comeu há bocado, Numa versão melhorada, ao ter-
agora precisa de ceiro membro da família Bandai, o
mudar a fralda”. Quem “tamagotchi Connection Jinsei”,
não se lembra de frases como estas, acresce uma espécie de mercearia vir-
tão celebrizadas pelos tempos em que tual, que permite variar a alimenta-
as crianças substituíam os nenucos ção da criatura (claramente para
“cambalhota” ou “um carrinho para evitar a comida de plástico), experi-
dois” por um exemplar quase perfeito mentar mais jogos, receber cartas, vi-
de um bebé real? o tamagotchi, a sitar outros semelhantes e até ligá-lo
simpática simulação precoce de ma- ao site oficial. Como último da linha
ternidade, é filha de aki Maita que, (até agora), a Bandai apresenta-nos o
juntamente com a Bandai, lançou o
objeto no mundo e na demanda de
novos horizontes. É assim que, em
1996, nascem no Japão estes animais
esCaDas DO QuinChORRO • “uMa visTa De DifiCuLTaR a RespiRaçãO” virtuais que carecem de comida,
banho, carinhos e cuidados, para que
O LugaR DOs síTiOs

entre a Couraça dos apóstolos e a rua da alegria, escondem-se 115 impiedosos degraus que tor- cresçam fortes e saudáveis nas mãos
nam a subida das Monumentais uma brincadeira de crianças. as escadas do Quinchorro não surgem dos mais pequenos de todo o mundo,
nos postais ou fotografias de turistas e assumem-se como o alter-ego de um ex-líbris. de imponente que brincam já aos pais e às mães. Na
só a subida, de monumental só o esforço. primeira versão, o objeto destinava-
a vista sobre o pachorrento Mondego contrasta com a azáfama de elementos que se intersetam. se a futuros pais, na preocupação de quinto filho, o “tamagotchi Connec-
Graffitis e árvores ladeiam a via, numa moldura pouco ortodoxa que mescla o natural com o urbano. estabelecer e promover os supostos tion V5”, que vem com opção de fa-
anichada na encosta, enfrentando o rio, a escadaria guarda despojos de antigas batalhas pela recu- valores tradicionais de família. mília e com três crias dentro de um
peração do fôlego e não só. entre maços de tabaco, preservativos e garrafas partidas, esconde-se a Quando surge o segundo modelo do único ovo. “V5” traz-nos ainda um
história da cidade que fica por contar. tamagotchi, através de um sensor in- novo conceito de casamento: após
o declive é íngreme, um percurso a pique que tem o condão de aumentar o peso das pernas. se fravermelho, os “tamas” passam a serem maiores de idade, eles podem
a subida é um desafio, o percurso inverso não foge à regra. o ambiente “quinchorresco” não permite poder socializar e reproduzir. casar… por tV (um acessório consti-
intervenções divinas de um qualquer santo bem-intencionado. nem a objetiva física de newton ali- Nove anos depois, chega a altura de tuinte) ou por CoMUNICaÇÃo
via a penitência, agravada pelo piso escorregadio e irregular. dar o primeiro irmão ao tamagotchi. (através de infravermelhos).
por trás da sua aparência, as escadas do Quinchorro ocultam a entrada para um outro lado de Chega o “tamagotchi Connection V3” Quem mais precisa de “Sims”,
Coimbra. uma versão sem o glamour da sapiência coimbrã mas recheada com as excreções de qual- que alarga ainda mais a interação, “Barbies” ou “Polly-Pockets” quando
quer urbe. longe da sobriedade das linhas que compõem o património arquitetónico mas perto da permitindo o acesso a uma rede so- pode ter este bebé, criança, adoles-
ebriedade da população. apenas um declive tosco, lapidado pelas impressões de quem o pisa, cial virtual, onde se podem adquirir cente, adulto ou idoso, que também
tendo por fundo a cidade que o ignora. produtos através dos pontos ganhos morre? e que, para felicidade dos
em jogos. a “tamagotchi town” é de crentes na imortalidade, renasce dos
fábio rodrigues entrada livre e sem consumo obriga- pixéis qual uma fénix das cinzas…
tório, e permite o armazenamento de maria Garrido

Cav • aTé 27 De feveReiRO De 2011 • JOãO OnOfRe• LighTen up nas MãOs Da aRTe
a Morte eM exPoSição Filipe Furtado
João onofre faz um trabalho de do fotógrafo. Uma voz canta, fala, questiona,
questionamento acerca do nosso Não são fotografias de miúdos. pensa na solidão e na escuridão.
mundo na batalha contra o limite. os personagens são um misto transporta-nos para outra atmos-
a exposição lighten Up no Centro desde os mais novos aos mais ve- fera que é quase o mesmo isola-
de artes Visuais (CaV) é um des- lhos, dos homens às mulheres - e mento da canção, porém apenas
montar e desconstruir de palavras, apresentam-se de forma simples, nos ficamos pelos pensamentos.
sentidos, atmosferas e experiências indumentária normal de semana. a Será a morte o isolamento total?
da humanidade. sua única semelhança aparente são Será a escuridão perpétua? o uni-
a música está presente no am- os óculos de aviador nos quais as verso responde a perguntas com
biente de ligthen Up, é o rastilho suas diferenças se perdem. Não os mais questões. Continuamos igno-
para todas as reflexões que as suas distinguimos tão bem. esconde-se rantes. a verdade é que a morte está
peças podem provocar. acompa- assim o olhar, a força de expressão. sempre presente, na vida dos sim-
nha-nos pelo papel de algodão todos eles trabalham para o fim, ples coveiros, no pensamento de
manchado de desenhos negros de para o ritual de despedida e de par- quem está morrer de um cancro, na
acrílico ou cravado de cristais Swa- tida para algures. os coveiros lis- mente de quem pensa no fim do
rovski que avisam: “the worst is co- boetas veem todos os dias o fim da mundo, no medo do desconhecido,
ming”, ou traduzindo, “o pior está vida, não a sua mas a de muitos ou- até naqueles cuja vontade é a de se
para vir”. onofre tira estas frases da tros. Parece que o nosso tempo é matarem ou matarem outros. a
sua forma original e dá-lhes um eterno, mas não é! os coveiros morte é do conhecimento de todos,
novo significado nem sempre apa- sabem-no bem. e talvez seja um dos atos da vida em
rente ou fácil de se compreender à Num outro espaço um buraco, que somos mais parecidos, pois ela
primeira leitura. É o aviso do fim. uma sepultura aberta. É só terra: é chega a todos.
Parte da sua produção exposta o destino, simples, banal e absurdo. João onofre “encaminha-nos
conta com a presença de algo que se a música hipnotiza por completo, para a luz” em lighten Up, acorda-
assemelha a uma coleção de retra- com a sua vibração calma e estra- nos para o fim que se aproxima e
tos de turma, todos juntos com os nha. “le nuit n’en finit plus” (em deixa-nos a pensar: o que é que a
mais altos atrás e os mais baixos à português, “a noite não tem fim”) é morte significa…
frente. “Sorriam!” é a ordem técnica a faixa que passa incessantemente. filipe furtado
22 | a cabra | 7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira

OpiniãO
CartaS à diretora
Carta aberta
tiago eStevão MartinS*

a forma recorrente como a tese de não o terem ainda feito, Direcção Geral. No fim, fiz ques- pacidade da Cabra produzir qual-
Cabra tem agido em assuntos que permitam-me a liberdade de citar tão de perguntar se tinham estado quer tipo de investigação e de ser
lesam a minha imagem e bom o ponto 1: “o jornalista deve rela- a gravar e disseram-me que não. altamente desinformada no que
nome leva-me a cumprir o dever tar os factos com rigor e exactidão Na peça, como reconhecimento toca aos meandros da aaC. São,
(e o direito) de deixar expresso o e interpretá-los com honestidade. pela minha ajuda para o artigo, em suma, um mero fantoche to-
meu manifesto desagrado pelo os factos devem ser comprova- escreveram que me recusei a talmente permeável a manipula-
“jornalismo” praticado neste dos, ouvindo ambas as partes prestar declarações. ções, com pretensões a paladinos
órgão de comunicação. o pro- com interesses atendíveis no Mais recentemente, a Cabra da Justiça.
que fique blema vem-se arrastando e, ape- caso”. ligou-me a dizer que "alguém" Nada justifica esta mediocri-
sar de ter, por várias vezes, o problema maior é isto acon- lhes tinha dito que eu tinha agido dade. aponto-vos aquilo que exi-
bem expresso, tentado a abordagem não liti- tecer com frequência. tomemos no sentido de adiar o máximo gem, com razão, dos dirigentes
giosa, nada disto foi levado em três exemplos. tempo possível as eleições do Nú- estudantis: a seriedade e respon-
não serei mais conta, tendo sido o artigo publi- Num artigo sobre a demora da cleo. e eu disse que era mentira e sabilidade é algo que nos deve
condescendente cado no dia 23 de Novembro a inauguração da Casa das Caldei- expliquei o processo. Perguntei acompanhar quer seja o trabalho
gota que fez transbordar o copo. ras perguntaram-me o porquê quais foram os argumentos e remunerado ou voluntário e não
com este jornal. Na última edição da Cabra foi dessa situação. e eu disse que quem me tinha acusado. Como se deve compadecer com promis-
mencionada a hipótese de o man- tinha que ver com motivos orça- resposta só me disseram que não cuidades pessoais ou com inte-
dato 08/09 do Núcleo de estu- mentais. Na peça apareceu que havia argumentos, não me di- resses terceiros pouco claros.
dantes de letras (NeflUC) o ter tinha dito que fora por "motivos zendo quem tinha sido o acusa- Que fique bem expresso: não
deixado numa situação econó- estéticos". dor. Quando a Cabra saiu serei mais condescendente com
mica deficitária. e enquanto pre- Noutro artigo, já este ano, sobre verifiquei que o acusador estava este jornal. Porque enquanto uns
sidente do NeflUC no mandato estudantes carenciados, ligaram- identificado e era (curiosamente) brincam ao jornalismo, há outros
em questão, questiono-me por me a perguntar o que poderia parte interessada na questão. e, que vêem a sua imagem man-
que motivo, mais uma vez, não dizer sobre isso. e eu respondi para cúmulo, tinha argumentos chada por estas más práticas.
me foi dada a hipótese de defesa. que, tendo terminado o meu bem definidos que nunca tive hi-
Sendo as editoras e os membros mandato, não fazia sentido esta- pótese de rebater...Quando fui
deste jornal, maioritariamente, rem-me a perguntar isso na qua- falar com a Cabra, a solução que
alunos de Jornalismo, talvez te- lidade de presidente. referi ainda me deram foi um espaço para
nham já lido o Código Deontoló- que, a pessoa mais indicada, em desmentir o artigo, num recôn-
gico desta profissão. No entanto, termos institucionais, seria o dito obscuro do jornal. *Presidente do NEFLUC
nunca sendo de descurar a hipó- coordenador de acção Social da acresce a tudo isto a total inca- 2008/2009

o vão fazer porque compete a nós mente os interesses do povo por- ração vive muito o curto prazo.
proceder a essa reforma. tuguês não é escolhido para figu- Nós nunca discutimos de forma
é a PolítiCa, É na assembleia da república rar nas próximas listas. e isto é crítica a realidade que nos rodeia.
(ar) que tem que nascer as solu- verdade em qualquer partido. a a própria associação académica
eStúPido! ções para o país. Infelizmente tal única diferença hoje, é que em vez de Coimbra (aaC) e os seus diri-
não acontece porque os 230 de- de um partido, temos vários par- gentes, deixaram de promover,
putados não são eleitos directa- tidos. Mas a orgânica de funcio- com a mesma intensidade com
mente pelo povo mas sim pelos namento é a mesma; levantar e que promovem as festas académi-
vários partidos que têm assento sentar de acordo com os ditames cas, conferências e tertúlias onde
na ar. Quando nós somos cha- do timoneiro. e se pensarmos se possa discutir com a devida
rúben Figueiredo* mados a votar, nós colocamos bem, é exactamente aqui que re- profundidade estes temas. e
uma cruz, numa sigla, mas não side a perversão de todo o sis- assim vive a nossa geração,
somos nós que elegemos directa- tema. Dado que a realidade é esta, alheada destas questões, sem per-
mente o nosso deputado. eles já não há uma única reforma que vá ceber que a verdadeira vítima da
Nos últimos meses, têm corrido foram escolhidos pelos respecti- de encontro aos problemas dos sua indiferença será ela própria
rumores constantes, sobre a pos- vos partidos dos quais fazem portugueses e portuguesas. no futuro que se avizinha.
sível vinda do fundo Monetário parte. e, para mim, o único crité- as reformas, quando nascem, já
Internacional (fMI) e da União rio de selecção, para integrarem vêm repletas de regimes de ex-
europeia (Ue) a Portugal, para as listas, é o critério da obediên- cepção e de deformações para sal-
“ajudar” o nosso país a sair da si- cia em relação ao chefe do partido vaguardar interesses de certos
tuação em que se encontra. De porque é este que faz a selecção. grupos que vivem na nossa socie-
forma muito simples, e por isso aliás, assistir hoje às votações na dade. a solução infelizmente terá
grosseira, para corrigir os nossos ar e assistir às mesmas no tempo que vir do exterior. Infelizmente
problemas financeiros e económi- de Salazar “it´s the same thing”. porque não temos portugueses de a Cabra errou: Na edição nº221
cos. aliás, o senhor olli rehn, que Hoje, tal como naquele tempo, grande dimensão para corrigir os o crítico de “ouvir” chama-se João
é o actual comissário europeu os deputados levantam-se e sen- nossos vícios e problemas. Gonçalves e não andré filipe
para os assuntos económicos, já tam-se de acordo com a disciplina eu como português e patriota Costa como constava na assina-
vem dizendo que é necessário re- de voto, ou seja, de acordo com a gostaria que fossemos nós a re- tura. Por isto, pedimos desculpa
formar o nosso mercado de traba- vontade do líder. raríssimas ex- solver os nossos problemas. Mas ao visado e aos leitores.
lho, as finanças públicas cepções são vistas a fugir à regra, queria acabar este pequeno artigo
Cartas à diretora
portuguesas, etc. Mas o que os porque quem se atrever a pensar de opinião lamentando a indife-
podem ser
tecnocratas do fMI ou da Ue não pela própria cabeça, a ser um es- rença com que a esmagadora *Estudante de Mestrado em
enviadas para
nos vão dizer para reformar é o pírito livre, a fiscalizar a acção do maioria da nossa geração olha Economia da Universidade de
nosso sistema político. e eles não governo e a defender verdadeira- para estes problemas. a nossa ge- Coimbra acabra@gmail.com
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7 de Dezembro de 2010 | Terça-feira | a cabra | 23

OpiniãO

editorial
Municipal se propôs: a numerosa
adesão do público, perto de uM “boxeur” ChaMado eStudante
25.000 pessoas, veio comprová-
lo. os estabelecimentos de ensino
CeM anoS Para aderiram, com grande entu- Quando a ignorância entra, sem de Coimbra (UC) e a associação
siasmo à grande e diversificada bater à porta, na casa dos que se jul- académica de Coimbra (aaC) são,
Celebrar oferta pedagógica que lhes foi gam mais cultos, de quem é a culpa? como é fácil de constatar, escolas de
proporcionada (cerca de 2.000 É de quem não os ensinou a trancar vida que exigem a nossa participa-
alunos participaram em 15 pro- a fechadura, ou deles porque não ção. Para isso, oferecem a hipótese
gramas especialmente produzi- aprenderam por si e por isso desa- de intervir em assembleias Magnas
dos). fiaram o perigo e foram vencidos. e reuniões Gerais de alunos, eleger
berta duarte associações culturais, museus, Ninguém é obrigado a saber tudo representantes nos órgão gestores e
comerciantes e entidades priva- e quanto mais novos começarmos a consultivos da UC, escolher os cor-
das deixaram-se envolver na or- praticar boxe, maior é a probabili- pos gerentes da aaC, votar os cons-
o edifício Chiado cumpria ganização, prestando-lhe o mais dade de levarmos um soco que nos tituintes dos núcleos, estar lado a
igualmente um século de existên- variado contributo, ajudando a deixa a rastejar. Sem mentor, a ta- lado com os colegas em manifesta-
cia e, tratando-se de um dos mais concretizar um projecto que, sem refa é mais difícil, no entanto, ções ou ações simbólicas, entre
paradigmáticos e raros exempla- esse apoio entusiástico, teria sido quando já se entrou no ringue, a ati- muitas outras atividades.
res da arquitectura da Baixa de impossível. tude mais inteligente a adotar é fa- É claro que não há obrigação de
Coimbra, sede do nosso Museu, miliarizar-se, tanto quanto possível, participar em tudo e cada um tem o
importava associar, ao programa com as irregularidades da plata- direito a escolher por si os “rounds”
dos seus 100 anos, uma dinâmica forma. que está disposto a lutar. além
que envolvesse a comunidade. a passagem pela Universidade e, disso, é sempre possível, e acontece
foi essa a nossa ambição! consequentemente, pelo associati- frequentemente, perante uma si-
levámos a cidade a recuar até vismo académico é como um rin- tuação ter duas opiniões diferentes.
1910, comprovámos a azáfama gue de boxe. tomemos isto apenas Isto resulta da capacidade de ver as
diária das suas gentes, assistimos como uma metáfora, não vão cer- vantagens e desvantagens e de ana-
a acesas discussões políticas, tas mentes levar demasiado à letra lisar as consequências a curto e a
vimos passar damas elegantes e as palavras que aqui estão redigi- longo prazo. até porque, para se en-
cavalheiros distintos, apreciámos,


com algum receio, «máquinas»
cujos motores ruidosos atraíam a Para se entrar no ringue é preciso
multidão.
entretanto, a melhor sociedade
saber se a luta vale a pena. Cada um
coimbrã, em grande euforia, tem direito de escolher por si os
inaugurava, com grande pompa
(a que nem filarmónica faltou), a “rounds” que está disposto a lutar
filial dos Grandes armazéns do Foi essa a nossa
Chiado. das. trar no ringue é preciso saber se a
todos puderam apreciar as
ambição. levámos a É um ringue de boxe no sentido luta vale a pena: às vezes quando se
grandes novidades introduzidas cidade a recuar até em que, assim que se entra, a plata- prega aos surdos, por muito que se
pela empresa dos irmãos Nunes forma ainda está limpa, sem man- grite ou sussurre, a mensagem não
dos Santos e deslumbrar-se pela 1910, comprovámos chas de sangue e sem riscos, e à chega a bom fim; outras vezes
beleza e amplidão do edifício que, medida que nos vamos embre- quando os pregadores se fazem
diziam alguns, tinha sido dese-
a azáfama diária nhando e estudando o terreno ela mudos, nem os melhores ouvintes
nhado por um francês, o da torre das suas gentes. começa a tornar-se mais negra, compreendem o conteúdo.
eifel! Mas não, logo desmentia usada, e com provas de que por ali Hoje, 7, votam-se os representan-
outro, que em Portugal também passou alguém capaz de receber e tes no Senado da UC e quinta-feira,
temos bons engenheiros, foi um dar o mesmo em troca. 9, os estudantes deslocam-se nova-
português, da capital, um tal de No entanto, há aqueles que pre- mente a lisboa para protestar con-
alberto de Sá Correia! Pois não ferem não entrar no ringue. e, à tra as políticas governamentais
viram o projecto, ali exposto, com medida que o tempo passa, a lona relativas ao ensino superior. Não
a assinatura do homem? Sim sim, do soalho mantém o mesmo tom podemos dizer que os oradores te-
enquanto as senhoras se deslum- que tinha quando a vimos pela pri- nham pregado muito alto. São dois
bravam com os vestidos e cha- meira vez. Uma lona que não tem “rounds” e apenas depende de ti e
péus e as crianças se um risco que prove que por lá se das tuas crenças a decisão. Desde
entusiasmavam na secção de passou. que a ponderes, ninguém a critica.
brinquedos, fomos nós ver os de- Deixemos a prosa “pseudo-literá- o importante é apenas não lhe ser
senhos… ria” e passemos ao que realmente indiferente.
o programa do Centenário do *Responsável pela divisão de significa na prática. a Universidade rafaela Carvalho
edifício Chiado alcançou os ob- museologia da Câmara
jectivos a que a equipa do Museu Municipal de Coimbra

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diretora rafaela Carvalho Editora-Executiva Maria eduarda eloy Editoras-Executiva multimédia: Cátia Costa, Patrícia
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nalismo da associação académica de Coimbra Propriedade associação académica de Coimbra agradecimentos reitoria da Uni-
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Mariano Gago Wikileaks Angela Merkel

A entrevista dada por Mariano Joe Liberman, senador americano, Há um mês atrás, Angela Merkel,
Gago ao Diário de Notícias no pas- apelou a que todas as organizações segundo o jornal The Guardian,
sado dia 5 mostra a realidade ofus- cessassem a sua colaboração com a ameaçou retirar a Alemanha da zona
cada que reina no Ministério da Wikileaks, empresa especializada na euro. Mais tarde, o porta-voz da
Ciência, Tecnologia e Ensino Supe- divulgação de documentos secretos. chanceler alemã veio desmentir tal
rior. “O ensino superior está satis- Algumas já aceitaram a dica do se- afirmação. Contudo, nesse intervalo
feito”, “não é verdade que os nador, como a Amazon ou a Eve- de tempo foram vários os avisos por
estudantes têm estado a protestar, rydns, empresa americana que parte da diplomacia germânica. Au-
antes pelo contrário”, ou ainda um fornecia o domínio do site. Contudo, toritária e com vontade de ser a pas-
“não” convicto, quando questionado o esforço de alguns países ou a cen- tora do rebanho dos 27, Angela
acerca da saída de profissionais qua- sura efetuada por privados não con- Merkel tem vindo a oscilar nas suas
lificados de Portugal para fora. Ao seguiram travar a Wikileaks, que decisões, prejudicando, em parte, as
que parece, aos olhos de Mariano acabou por se tornar num grande políticas dos restantes membros. Nos
Gago, tudo corre na perfeição, ou pelo foco mediático. Já estão escolhidos desmentidos e nos contraditórios, lá
menos é o que os seus óculos, possi- os próximos alvos: Vaticano, Coreia vai a Alemanha agarrando as rédeas
velmente embaciados, lhe dizem. do Norte e Israel. Uma lavagem aos de uma Europa medrosa que acata
Acreditaremos… olhos faz sempre bem. sem questionar.
J.G. J.G. J.G.

“Em trânsito” Por LUCíA NostI MAríN


200
x 100
Cruzam-se as malas pelo aero-
porto neste dia cinzento. A multi-
dão dirige-se com dúvidas à
procura do destino incerto.
Um homem despede-se do seu
filho. Largam as malas, abraçam-se
e o rapaz segue rumo à porta de em-
barque.
Ao fundo, uma mulher espera o
seu marido na varanda. Desembar-
cam os passageiros do voo que
aterra vindo de França e, pouco
tempo depois, o casal funde-se num
abraço, como se tivessem estado sé-
culos sem olhar um para o outro.
No café, uma mulher lê a im-
prensa do dia, passa os olhos pelos
títulos sem sentimento nenhum.
Arruma os seus pertences e cami-
nha sem olhar para atrás.
É provável que esse filho não
volte nunca, que esse marido não se
ausente mais, e que a mulher aterre
noutro meridiano.

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