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Seminário de Investigação em Métodos e Técnicas de Recolhas de Dados

Temática 2 – Tipos de design da investigação educacional

―Exploring Modeling Aspects of Design Experiments‖ (Sloane & Gorard, 2003)

1- Quais os aspectos mais inovadores da abordagem apresentada?

Design studies, design experiments, and teaching experiments attempt to ―engineer innovative
educational environments‖ (Brown, apud Shavelson, Phillips, Towne, Feuer, 2003: 25)

Os aspectos mais inovadores apresentados no artigo são os seguintes:


Sloane e Gorard descrevem as três fases de construção de modelo(s) comuns aos
métodos estatísticos: formulação do modelo, adequação do modelo e validação
do modelo.
Para além de situar os métodos de investigação de design nessas três
fases, consideram vantajoso a focalização nas características gerais da
construção do modelo: ―We believe that for our purposes it is more
advantageous to focus, instead, on the general features of model building,
including model formulation, model fit, and model validation.‖ (Sloane &
Gorard, 2003: 29)
Considerando a fase da formulação do modelo como sendo,
frequentemente, a mais importante e difícil do processo de pesquisa1, os autores
consideram que os investigadores de design experiments (DE) conduzem esta
etapa para primeiro plano, o que segundo Sloane e Gorard é extremamente
positivo.
Para estes autores, a grande linha de força deste tipo de investigação
reside num conceito abrangente (partilhado com as ciências aplicadas, como, por
exemplo, as ciências de engenharia e as ciências informáticas) – obviar o
fracasso: ―No matter the method used to test a design, the central underlying
principle of this work is to obviate failure. This is a very different model than the
one followed by most social scientists—where the end goal is to produce
unbiased estimators in support of robust theory.‖ (Sloane & Gorard, 2003: 31)

1
Esta centralidade está patente na 1ª regra das Matemáticas Aplicadas: ―Uma resposta aproximada para a
pergunta correcta vale muito mais do que uma resposta certa para a pergunta errada.‖ (Tukey apud Sloane
& Gorard, 2003: 29)
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Assim, ampliando a sua análise, os autores acabam por considerar não


apenas as fontes de ―erro‖ experimental, mas também critérios de actividades do
projecto de pesquisa, cujo princípio norteador é o de prevenir o fracasso.
Frisam ainda que, enquanto o objectivo dos designers é evitar o fracasso
(tendo para isso que entender o fracasso, delinear teorias que orientem melhor a
praxis e construir produtos de investigação e/ou traçar processos de investigação
que funcionem no contexto da prática educacional), esse objectivo não é
partilhado nem enquadrado do mesmo modo pelos cientistas das ciências sociais
e humanas, uma vez que o principal objectivo destes investigadores é o de
produzir indicadores/estimativas imparciais que apoiem um forte quadro teórico.
Para Sloane e Gorard, ―Resolving the role and place of error versus that
of failure will be central in bringing social scientists and design researchers
together in ways that foster conversation, debate, and we believe agreement—to
the benefit of all concerned.‖ (Sloane & Gorard, 2003: 31)
Assim, a questão de determinar a função e o lugar do erro versus a
função e o lugar do fracasso levará ao diálogo, ao debate e a um trabalho
conjunto entre os cientistas das ciências sociais e humanas e os investigadores
de design experiments, fazendo com que se obtenha um possível acordo e
consequentemente vantagens para esta nova forma de pesquisa em educação.

2- De que forma se relaciona com as abordagens tradicionais descritivo/qualitati-


vo e/ou experimental/quantitativo?

Para a metodologia de pesquisa de design (que quer ser científica e


educacional, que almeja construir, testar teorias de ensino e aprendizagem e
produzir ferramentas de ensino inovadoras) as abordagens tradicionais
descritiva/qualitativa e/ou experimental/quantitativa não são excludentes: ―As
one might expect, a combination of theory and empiricism is generally the most
fruitful.‖ (Sloane & Gorard, 2003: 30).
Por um lado, partilha com a abordagem tradicional quantitativa o desafio
da construção ou da selecção de um modelo de forma e complexidade
apropriadas. Por outro lado, pressupõe uma dialéctica entre os conceitos
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fornecidos por um forte quadro teórico, os dados empíricos observáveis/


observados nos contextos em análise. Uma vez que neste tipo de pesquisa
educacional (DE) se assume, ainda, a associação de diferentes formas de dados
provenientes de várias fontes – triangulação de dados2 - (apesar de neste artigo
não se explicar como essa combinação é realizada), infere-se que tal indicie o
recurso a várias técnicas de recolha e análise de dados e à utilização de métodos
mistos - triangulação metodológica.
Uma investigação educacional (apoiando-se nos princípios da formulação
de um modelo como sugerido pelos autores do artigo) poderá apresentar muitas
vantagens e fornecer também novas pistas para fazer a ponte entre dois pólos
opostos – a investigação básica e a investigação aplicada.

3- Que dificuldades antecipam na sua implementação?

―Model building is largely ignored in the early quantitative training of


educational researchers. This is unfortunate, for it encourages novice researchers
to think that all of statistics centers on problems of estimation. In reality,
however, model formulation is often the most important and the most difficult
stage of the research process.‖ (Sloane & Gorard, 2003: 29). Esta citação assim
como todo o parágrafo ―Model Formulation Objectives‖ (id., ibid.) demonstram
que os autores estão convictos de que a implementação de uma construção
cautelosa de modelos como eles sugerem tornar-se-ia uma grande ajuda para
enfrentar/reduzir dificuldades.
As dificuldades que se antecipam na implementação desta abordagem
prendem-se, por um lado, com as sentidas por todos os métodos de pesquisa
(eventuais erros de medição e de controlo, parcialidade operacional, escolhas
associadas com a formulação, adequação e validação do modelo) e por outro
com o garante de validade externa que não é fácil de conseguir, indicando-se
críticas generalizadas a esta metodologia: ausência de grupos de controlo,
dimensão reduzida da maioria das amostras aleatórias (normalmente por

2
Confronto de informações de fontes diferentes para reduzir a possibilidade de uma análise tendenciosa.
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conveniência) de membros de uma comunidade educativa, de conteúdos, de


definições, o que remete para um modelo de validade local, que é necessário
ultrapassar.
Sloane e Gorard encaram a exploração do conceito do modelo no DE
como uma solução possível e válida para alguns dos problemas que podem
revelar-se numa investigação e até para poder excluir alguns logo à partida. No
parágrafo ―Model Formulation Processes‖ (Sloane & Gorard, 2003: 30), os
autores apresentam seis sugestões primordiais que deviam ser seguidas na
criação de um modelo aplicável que, no seu entender, contribuem para evitar um
eventual fracasso da investigação, pois o que se pretende é que os
conhecimentos gerados, embora específicos de uma situação, possam oferecer
contribuições (produtos3 pedagógicos) para outros pesquisadores envolvidos em
situações com problemas similares.
Tendo em conta os problemas que podem surgir ao longo de uma
investigação, os autores até alertam para a utilidade de criar vários modelos,
deixando para trás a ideia duvidosa de um só modelo: ―In fact, it may be useful
to construct more than one model using a variety of plausible assumptions about
the ―true‖ model and about what the future may hold.‖ (Sloane & Gorard, 2003:
30).
Apesar de os autores apresentarem uma proposta que pode ajudar na
diminuição de vários problemas, como os supra referidos, falta definir o que se
entende por fracasso numa investigação educacional, quais os indicadores e
quais as reacções possíveis.

4- Quais as principais implicações/conclusões?

Neste artigo, as principais implicações são as seguintes: design


experiments (DE) é uma abordagem relativamente nova no âmbito da educação.
Assim sendo, é uma abordagem que ainda está em desenvolvimento. Segundo
Sloane e Gorard, os investigadores deste tipo de pesquisa baseada em design

3
Produtos ou artefactos pedagógicos não são só produtos materiais, como, por exemplo, jogos e/ou livros
didácticos, software, incluem também processos de aprendizagem, como actividades e teorias.
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destacam as características de formulação e validação local, mas não discutem


ajuste(s) do modelo ou modelos mais amplos de validação. E pecam por essa
omissão.
Os autores utilizam o processo de construção de modelo(s) (formulação
do modelo, o ajuste e a validação) em configurações aplicadas e levantam
questões pertinentes sobre esta metodologia, nomeadamente: ― Can and should
educacional research be a social science, an engineering science, or both?‖
(Sloane & Gorard, 2003: 31). Os autores salientam que é preciso haver um
esforço comum para ultrapassar divergências e deixar para trás distinções e
barreiras que separam os métodos utilizados nas ciências sociais e nas ciências
de engenharia. O diálogo, o debate, é fundamental para se poder desenvolver e
descobrir de que maneira se pode/se deve proceder para tornar uma investigação
válida, interessante e convincente.
A primeira sugestão feita ao investigador prevê que este consulte,
colabore e discuta com especialistas da área em questão: ―Consult, collaborate,
and discuss with appropriate experts on the given topic ask lots of questions, and
most importantly, listen.‖ (Sloane & Gorard, 2003: 30). Mais uma vez reflecte-
se a necessidade de haver interacção para o sucesso de uma investigação. No
entanto, os autores do artigo salientam que princípios básicos, como o atrás
referido, são negligenciados na maioria dos livros de Introdução à Estatística.

Referências Bibliográficas
Coutinho, C. M. G. F. P., & Chaves, J. H. S. (2001). ―Desafios à investigação em TIC na
Educação: As metodologias de desenvolvimento‖, II Conferência ―Internacional Challenges
2001‖, pp. 895-903. [em linha]. Disponível a partir de: http://hdl.handle.net/1822/4277
[Acedido Dezembro 2010]

Kelly, Anthony, E. (2003, January/February). ―The Role of Design in Educational Research‖. In


Educational Researcher, Vol. 32, No. 1, pp. 3-4. [em linha]. Disponível a partir de:
http://www.aera.net/uploadedFiles/Journals_and_Publications/Journals/Educational_Researcher/
3201/3201_Kelly.pdf [Acedido Dezembro 2010]

Shavelson, Richard J.; Phillips D.C.; Towne, Lisa; Feuer, Michael, J. (2003, January/February).
―On the Science of Education Design Studies‖. In Educational Researcher, Vol. 32, No. 1, pp.
25–28. [em linha]. Disponível a partir de:
http://www.aera.net/uploadedFiles/Journals_and_Publications/Journals/Educational_Researcher/
3201/3201_Shavelson.pdf [Acedido Dezembro 2010]
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Sloane, Finbarr C., & Gorard, Stephen (2003, January/February). ―Exploring Modeling Aspects
of Design Experiments‖. In Educational Researcher, Vol. 32, No. 1, pp. 29–31. [em linha].
Disponível a partir de:
http://www.aera.net/uploadedFiles/Journals_and_Publications/Journals/Educational_Researcher/
3201/3201_Sloane.pdf [Acedido Dezembro 2010]

Trabalho realizado pelas Doutorandas: Dulce Oliveira e Elke Silva

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