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A Visão Espírita

do Homem

André Henrique

Natal, 8 de julho de 1996

Seguindo as tradições da ciência mecanicista


o ser humano foi tomado
como uma mera máquina biológica,
um organismo complexo
com sistemas de funções específicas.

Diagramação: Elio Mollo


A Visão Espírita do Homem página - 2

É Tempo De SORRIR !!!

Reserve tempo para trabalhar


Este é o preço do êxito

Reserve tempo para pensar


Esta é a fonte do saber

Reserve tempo para divertir -se


Este é o segredo da juventude

Reserve tempo para ser amigo


Este é o caminho da felicidade

Reserve tempo para sonhar


Este é o meio de ligar uma estrela a sua vida

Reserve tempo para amar


Este é um privilégio concedido por Deus

Reserve tempo para ser útil ao próximo


Pois a vida é demasiadamente curta para sermos egoístas

Reserve tempo para sorrir


Esta é a música da alm a.

Tempo é questão de preferência...


A Visão Espírita do Homem página - 3

A Visão Espírita do Homem


“...Eis o Homem!”
- Pilatos (João, 19:5)

A filosofia espírita, respaldada na ciência emergente


QUEM SOMOS? do espírito, serve-nos de base fundamental para
propor e desenvolver uma nova, desafiante e tran s-
“O milagre dos milagres é que de um monte de bar- formadora idéia: A VISÃO ESPÍRITA DO HOMEM.
ro Deus fez um homem hoje!...”
Motel Kamsoy -
No filme The Fiddler on the Roof VISÕES DA ANTROPOLOG IA

A Natureza tem sido objeto das reflexões do h o- “A antropologia é a ciência do fenômeno humano.
mem desde que a linguagem iluminou -lhe o cérebro Em contraste com as disciplinas que limitam po r-
com o magnífico poder da representação. O mito ções de entendimento no fenômeno, a antropologia
nos permitiu apreender conteúdos da realidade e considera a história, a psicologia, a sociologia, a
tão logo construímos uma história da natureza bu s- economia, etc., não como domínios, mas sim como
camos construir nela a história de nós mesmos. componentes de um fenômeno global.
Edgar Morim
Afinal, quem somos? — tornou-se a pergunta
em O Homem e a Morte.
central do homem que percebia a si mesmo como
único, distinto mesmo de seus sem elhantes, idios- Como estudo do fenômeno humano, a antrop o-
sincrático, singular... logia se propõem a estudá -lo em todas as suas
As tradições mitológicas das civilizações antigas dimensões. Aqui encontramos conflitos entre as
apontam para a herança divina que portamos. Cada diversas visões sobre a natureza humana. Ora visto
mito da criação humana encerra uma representação como um complexo puramente biológico, outr as,
de conceitos construídos a partir da percepção da como um diáfano componente espiritual que mil a-
natureza das coisas acrescida do poder criativo que grosamente se mostra pela vontade misteriosa de
a linguagem lhe proporcionava. Deus, o problema do ser humano tem merecido a
atenção de diversas escolas do pensamento. Pod e-
Muitos séculos depois, a questão de nossa ide n-
remos agrupar tais visões — conforme proposta do
tidade permanece tão válida como outrora. Mais
prof. J. Herculano Pires 1 — da seguinte forma:
até... Reconhecer nossa verdadeira natureza torna -
se na atualidade a questão fundamental de cuja
resposta derivam nossas ações, nossa ética, no s- A Antropologia Materialista
sos ideais. Reduzindo o homem a um complexo físico -
O homem é o que ele faz de si. E ele faz aquilo químico e apresentando o Espírito como um epif e-
que acredita ser. nômeno, esta abordagem busca equacionar a
Máquinas? Deuses? Réprobos? Afinal, quem questão humana dentro da lógica mecanicista bu s-
somos? cando na fisiologia cerebral a explicação última da
realidade humana.
O presente trabalho pretende elucidar particular i-
dades desta questão. Traremos à bai la conceitos
que grassam na cultura ocidental. E embora influe n- A Antropologia Espiritualista
ciados por correntes do pensamento oriental, este Propõem um Ser Espiritual cuja existência e s-
não será objeto direto de nossas cogitações. A fil o- tende-se para além da vida física; porém, negli-
sofia espírita servirá como pano de fundo para o gencia aspectos importantes acerca do mundo m a-
desenvolvimento de nossas idéias. Sobre os seus terial por considerá-lo de menor importância.
postulados analisaremos, construiremos e refutar e-
mos conceitos acerca da natureza do homem. Uma nova antropologia...
Nosso propósito? Edificar, com os elementos ora A visão espírita do homem propõem uma nova
existentes, uma concepção abrangente acerca da antropologia — talvez a retomada do conceito fu n-
natureza humana. Uma concepção conspirante. damental dela. Reconhecendo as dimensões espiri-
Erguida contra as noções estabelecidas que apr e- tual e material do ser humano, propõem -se a um
sentam o homem como um objeto, máquina ou estudo abrangente acerca da natureza humana.
complexo exclusivamente material. Pretendemos Transformando o antropus num conceito espiritual,
incendiar a apatia. Lutamos por entronizar o conce i-
to de que somos um projeto de transformação, s o- 1< PIRES, J. Herculano. PARAPSICOLOGIA HOJE E AM A-
mos um processo em construção; somos um d evir. NHÃ. pp 13 a 17. 9ª ed. Edicel. São Paulo. 1987.
A Visão Espírita do Homem página - 4

num processo de desenvolvimento de um ser bio - cia estava passível de explicação pelo modelo co m-
psico-sócio-espiritual, a nova antropologia Aprox i- putacional de Von Neuwman:
ma-se do o Espiritismo já que este é definido como PROCESSADOR + MEMÓRIA + SISTEMAS DE
o “a ciência que estuda a origem, natureza e dest i- ENTRADA E SAÍDA DE INFORMAÇÕES
nação dos Espíritos, bem como suas relações com
o mundo corporal.” — conforme o assinala seu cod i- Nesta concepção a mente humana aparec ia co-
ficador. mo um epifenômeno cuja existência era derivada da
manutenção da memória que possibilitava, media n-
te o condicionamento, automatizar re s-
O HOMEM COMO CONCEIT O postas para os eventos ocorridos no
“...o entendimento da natureza tem sua finali- mundo externo, primeiramente, e no
dade dirigida ao entendimento da natureza mundo interno após um certo desenvo l-
humana, e da condição humana enquanto nat u- vimento. Assim, cada parte da memória
ral.” humana, estaria gravada em algum
Jacob Bronowski - lugar específico do cérebro, segundo a
em A Escalada Humana concepção de algumas correntes do
pensamento. A especialização cerebral
— entre o lado direito e esquerdo do
A linguagem é uma das grandes conquistas cérebro — apresentam na atualidade o
humanas. Através dela representamos e sign i- desenvolvimento contemporâneo de tais
ficamos o mundo. utilizamo-la como instrumen- concepções.
to de acesso à realidade das coisas e mesmo Uma das mais eminentes personal i-
de acesso à nós mesmos. Falar de conceitos dades no desenvolvimento destes co n-
significa articular símbolos. É disto que trata- ceitos foi o neurocirurgião canadense
remos agora. Diversos símbolos dispostos de Wilder Penfield. Nos anos 20, com e x-
forma organizada, estruturados dentro de um periência envolvendo epilépticos, Penf i-
contexto cultural específico e que pretendem a eld descobriu que ao estimular det ermi-
representação, ainda que parcial, d aquilo que nadas regiões do cérebro, seus pacie n-
fomos, somos ou viremos a ser. Aqui nos to r- tes recordavam-se de fatos específicos
namos sujeitos e objetos de nossas próprias em suas memórias. A repetição do e s-
definições. tímulo ocasionava a lembrança detalh a-
da dos mesmos episódios.
Conceito Biológico A este respeito ele escreveria em
Seguindo as tradições da ciência mecanici s- 1975:
ta o ser humano foi tomado como uma mera “De imediato, ficava evidente que
máquina biológica, um organismo complexo não se tratavam de sonhos. Eram
com sistemas de funções específicas. ativações elétricas de um registro
O grande elemento capaz de diferenciar o seqüencial de consciência, um r e-
homem de outros organismos superiores era just a- gistro que tinha sido formulado d urante a expe-
mente a incrível complexidade de seu cérebro, t o-
riência anterior do paciente. Este revivia tudo
mada então como a máquina central do complexo
biológico humano. Explicar o c érebro significava, em aquilo de que tinha consciência naquele perí o-
última instância, explicar o homem. Mesmo os co n- do de anterior como num flashback cinemato-
ceitos de consciência e mente encontravam, no gráfico.”3
paradigma materialista, a solução de continuidade
suposta na explicação do mecanismo cerebral.
A esse respeito, Jonh Eccles — eminente neuro-
fisiologista — se pronuncia nos seguintes termos:
“É essencial que todas as considerações
sobre o problema mente-cérebro se fundamen-
tem no conhecimento da compreensão científi-
ca do cérebro e nas várias atividades que são
tidas como envolvidas na produção da exper i-
ência consciente”2
O conceito biológico do homem-cérebro deu ori-
gem à concepção de um ser mecânico cuja existê n-

3< Citado por TALBOT, Michael. O UNIVERSO HOLOGR Á-


2< POPPER, Karl Raimund e Eccles John C. “O EU E O SEU FICO. pp. 30. Editora BestSeller. São Paulo. Traduzido de
CÉREBRO”. pp. 284. Ed. Papirus, Brasília. 1991 The Holographic Universe [1991]
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Espiritismo antecipa a derrocada da conce p-


A idéia de uma máquina biológica consolid a- ção materialista do homem.
va-se a pouco e pouco. A expressão vida veg e- Para falarmos em conceitos específicos,
tativa utilizada para pessoas com acidentes c e- visitemos Stanislav Grof em “Além do Cér e-
rebrais irreversíveis, denota a crença materiali s- bro” quando ele escreve:
ta de nossa cultura ao supor esteja o indivíduo "O último desafio sério ao pensame n-
encerrado em seu complexo aparel ho cerebral.
to mecanicista é a teoria do biólogo e
Porém, este mesmo paradigma encontra dif i- bioquímico britânico,, Rupert Sheldr a-
culdades na explicação de inúmeros fenômenos
ker, em seu livro revolucionário e alta-
da realidade. Voltemos às idéias de Sir John
Eccles. Na mesma obra citada ele desenvolve a
mente controvertido, Uma Nova Ciência
tese de uma hipótese que: da Vida (1981) Sheldraker fez uma crít i-
ca brilhante das limitações da força e x-
“...considera que a mente autoconscient e
planatória da ciência mecanicista e sua
é uma entidade independente que está at i-
inabilidade para encarar problemas de
vamente engajada em ler na multidão de
significância nas áreas de da morfog e-
centros ativos dos módulos da áreas de
nia, durante o processo individu al e a evolução
ligação do hemisfério cerebral dominante. A
das espécies, da genética ou de formas insti n-
mente autoconsciente seleciona desses ce n-
tivas e mais complexas de comportamento. A
tros, de acordo com sua atenção e seus int e-
ciência mecanicista trata apenas do caráter
resses, e integra o que selecionou para nos
quantitativo dos fenômenos, com aquilo que
fornecer a cada momento a unidade de exper i-
Sheldraker chamou de 'causação formativa'.
ência consciente.” 4
Ainda segundo Sheldraker, os organismos vi-
E mais adiante: vos não são apenas máquinas biológicas co m-
“...acredito que a estratégia reducionista não plexas e a vida não pode ser reduzida a re a-
terá sucesso na tentativa de explicação dos ções químicas. "8
níveis mais elevados do desem penho consci- É assim que nos aliamos a uma visão moderna
ente do cérebro humano” 5 do homem encarado como um organismo biológico
Tais visões trariam implicações para um conceito de extrema complexidade, porém não encerrado
biológico mais abrangente acerca do ser humano. nesse mesmo organismo. Antes, enxergamos no
Aceitando de forma clara, a existência de uma d i- biológico uma de suas dimensões constitutivas.
mensão biológica do homem somos conduzidos a É assim que em 1959, encontramos nos escritos
uma visão mais abrangente de sua própria estrut u- de Will Durant um desabafo sob o qual vale a pena
ra. refletir:
A filosofia espírita reconhece esta dimensão bi o- “Talvez a biologia venha a rebelar -se com o
lógica, embora não se restrinja a ela. Diz -nos o Prof. domínio dos métodos e conceitos da física; e
J. Herculano Pires:
descubra que a vida se aproxima mais das
“Cada criatura humana é um ser espiritual, mas bases da realidade do que a ‘matéria’ do s físi-
é também um ser físico ou um ser corporal (biológi-
cos e dos químicos. E quando a biologia se
co diríamos nós). 6
libertar da mão cadavérica do método mec a-
Prossegue Herculano agora citando O Livro dos nístico, sairá dos laboratórios para o mundo,
Espíritos — obra primeira da Filosofia Espírita:
começará a transformar os propósitos hum a-
“Se o homem não possui uma alma animal, nos, como a física transformou a face da terra;
que por suas paixões o rebaixe ao nível dos e porá fim à brutal opressão d a maquinaria
animais, tem seu corpo, que freqüentemente o sobre o gênero humano. Ela revelará, até para
rebaixa a este nível, porque o corpo é um ser os filósofos que a duzentos anos vivem escr a-
dotado de vitalidade, que possui instintos, mas vizados aos matemáticos e físicos, a unidade
não inteligentes, limitados aos interesse de su a diretiva; a criatividade protéica e a magnificente
conservação.”7 espontaneidade da vida” (DURANT, Will. EM
Vendo a dimensão biológica do homem, atribui n- Filosofia da Vida. pp. 76. ed. 11ª. Companhia Edit o-
do extrema importância mesmo à esta dimensão, o ra Nacional. São Paulo. 1959.)

4< (idem pp. 435)


5< (idem pp. 439)
6< PIRES, J. Herculano. em INTRODUÇÃO À FILOSOFIA
ESPÍRITA. pp. 62. Ed. Paidéia. 1ª ed. São Paulo. 1983 8< GROF, Stanislav. Em “Além do Cérebro - Nascimento,
7< KARDEC, Allan, O LIVRO DOS ESPÍRITOS. item 605a. pp Morte e Transcendência em Psicoterapia”. pp.43 Editora
298. FEB. MacGraw-Hill. São Paulo. 1987
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Conceito Social superior de atividade nas crianças, distingui n-


O homem é uma unidade social. Está na natur e- do-as dos animais."
za humana a necessidade da vida em sociedade. Ao analisarmos a questão do ponto de vista esp í-
Estruturamos, desde a grei primitiva até a socied a- rita - pelo que recomendamos o estudo de todo o
de globalizada de hoje, uma civi lização centrada na capítulo VII da parte terceira de O Livro dos Espír i-
conquista social. Mesmo quando insistimos em priv i- tos, que trata Da lei de Sociedade — vemos a ques-
légios para o indivíduo, temos no contexto da des i- tão 766, onde Kardec interroga:
gualdade social a estrutura viabilizadora deste abo r- “766. A vida social está em a Natureza?
to social. “Certamente. Deus fez o homem para viver
O homem é um animal social - insistia Aristóte- em sociedade. Não lhe deu inutilmente a pala-
les. vra e todas as outras faculdades necessárias à
Somos mais. Necessitamos da vida em socieda- vida de relação.” (destaques nossos)
de como elemento capaz de nortear o processo de Os escritos de Vygotsky — que era materialista
desenvolvimento de nossa cultura. Somente em dialético e cujo trabalho fundamenta a teoria psic o-
sociedade os homens podem desenvolver os limites lógica do marxismo — foram levados a efeito entre
de suas potencialidades. 1924 e 1934, mas constituem a confirmação da
A sociedade estabelece estruturas de relações posição espírita - exposta em 1857 — com relação
que possibilitam a estruturação do indivíduo media n- ao conceito social do homem; ressalvado o fato de
te o processo de aprendizado e adaptação. Aqui, a que suas percepções se limitam a uma existência
família desempenha papel crucial como o elemento do indivíduo, ao passo que o Espi ritismo considera
diretor do processo de aculturação do indivíduo, estas relações antes, durante e depois da existência
responsável que é pela introdução da linguagem e física.
da ética social, elementos pr imários da civilização Do item 676 de O Livro dos Espíritos extraímos a
individual.
afirmação: “Sem o trabalho o homem perman e-
Lev Semyonovich Vygotsky, psicólogo russo, ceria sempre na in-
propõem em seus escritos que é a sociedade a
fância quanto à inte-
responsável pelo desenvolvimento da mente hum a-
na. ligência. “ Avaliando a
abrangência desta
Assim se pronunciam alguns estudiosos( Michael afirmativa, identifica-
Cole e Sylvia Scribner): mos no processo social
“Os sistemas de signos (a linguagem, a e s- de luta pela sobrevi-
crita, o sistema de números), assim como o vência, no qual o ho-
sistema de instrumentos, são criados pelas mem transforma a
sociedade ao longo do curso da história hum a- realidade e é por ela
transformado, o elemento condutor da filosofia esp í-
na e mudam a forma social e o nível de seu
rita no tocante ao desenvolvimento do ser humano.
desenvolvimento cultural. Vygotsky acreditava Estabelecido o progresso intelectual — para o qual o
que a internalização dos sistemas produzidos trabalho é condição precípua — dele decorre natu-
culturalmente provoca transformações compo r- ralmente o progresso moral, embora não imediat a-
tamentais e estabelece um elo de ligação entre mente.
as formas iniciais e tardias do desenvolvimento Analisando, então, o homem no contexto social,
individual. “ ( VYGOTSKY, L.S. em “A Formação vemo-lo como um manipulador de instrumentos e
Social da Mente”. p. 8. 4ª ed. Ed . Martins Fontes. símbolos. Identificamo-lo como ser passível de
São Paulo. 1991) transformação e como agente transformador. T e-
E nas próprias palavras de VYGOTSKY: mos nele o elemento que cria, elabora e se modifica
através da realidade social. O instrumento como
“...o momento de maior significado no curso elemento viabilizador de seu trabalho na transfo r-
do desenvolvimento intelectual, que dá origem mação da natureza; o símbolo como elemento inter-
às formas puramente humanas de inteligência no, fruto da convivência social e capaz de lhe red i-
prática e abstrata, acontece quando a fala e a mensionar os limites internos numa nova compr e-
atividade prática, então duas linhas complet a- ensão da realidade e que o transforma efetivame n-
mente independentes de desenvolvimento, te.
convergem.” (idem. pp. 27) Herculano Pires propõem uma interpretação
E mais adiante: mais abrangente do conceito social espírita no que
toca às relações sociais. Identificando, graças à
“... Signos e palavras constituem para interação Homens / Espíritos pelas vias mediúnicas
as crianças, primeiro e acima de tudo, um meio e intuitivas (vide o cap. IX da segunda parte de O
de contato social com outras pessoas. As fu n- Livro dos Espíritos — Da intervenção dos Espíritos
ções cognitivas e comunicativas da linguagem no Mundo Corporal — particularmente os item 459 a
tornam-se, então, a base de uma forma nova e 472) o conceito de uma Cosmossociologia. Ao e n-
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carar o fato de ser o homem um membro das Soc i- estudo do espírito, tido como elemento sobrenatural.
edade Cósmica o Espiritismo nos remete à uma O estabelecimento da premissa materialista como
instância superior da análise sociológica. Tal análise fundamento da explicação da natureza — inclusive
nos remete à uma nova ordem de idéias de cuja a humana — proposta por Tomas Hobbes, no séc u-
abrangência extraímos: o processo reencarnatório, lo XVII trouxe força income nsurável ao conceito do
a participação na sociedade terrena e espiritual, o homem como máquina e inaugurava o moderno
trabalho dentro e fora do corpo físico — como expe- esforço de explicar o homem como um conjunto de
riências de aprendizagem através das quais o ser causas e efeitos fisiológicos a lhe determinarem a
edifica-se a si mesmo pela convivência social. existência.
Caberia ao século XIX a definição de um novo
Conceito Psicológico paradigma no contexto da ciência. Derivado das
O homem é um ser psicológico. Guarda pesquisas com os fenômenos mediúnicos, o
em si mesmo um universo inteiro a ser prof. H. Denizard Rivail viria propor a adoção
explorado. Seus motivos, suas pulsões e do Espírito como uma das potências da Nat u-
mesmo sua vontade apresentam -se como reza, retirando-lhe o caráter de sobrenatural e
variáveis complexas que lhe determinam o resolvendo a descontinuidade existente entre
caráter. A psicologia — ou o estudo da matéria e espírito. Publicando a obra “O Livros
alma — propõem-se a elucidar os movi- dos Espíritos “— em 1857, com o pseudônimo
mentos ou processos ocorridos no contexto de Allan Kardec — restabelecia no homem sua
da mente. Fundamentando o estudo desses dimensão espiritual ao passo em que dispunha
processos mentais, essa ciência da alma essa dimensão para o estudo da ciência. E
consolidou-se nos trabalhos de Sigmund além disso propôs que:
Freud, psiquiatra tcheco que em 1900, com “O Espiritismo é uma ciência q ue trata
a obra “A Interpretação do Sonhos” , da natureza, da origem e da destinação
inaugura um novo capítulo no livro da hist ó- dos Espíritos, e das suas relações com o
ria do pensamento humano. mundo corporal. " - Allan Kardec 9
Vale salientar que a visão espírita não co n-
A composição do pensamento humano trapõem corpo e alma, conforme podemos
norteia-se por padrões que nos são acess í- encontrar em O Livro dos Espíritos item VI da Intr o-
veis ao conhecimento imediato e que co mpõem dução:
nossa consciência. Freud foi o pr imeiro a identificar
que, no entanto, além dos motivos e padrões da
“Há no homem três coisas:
consciência, influenciam -nos sobremaneira outros 1º, o corpo ou ser material análogo aos
motivos e outros padrões existente num plano me n- animais e animado do mesmo princípio vital;
tal distinto a que ele denominou i nconsciente. A 2º a alma ou ser imaterial, Espírito e n-
psicologia passou a ver o complexo humano como carnado no corpo;
um conjunto de forças e definiu seus objeto de pe s- 3º, o laço que prende a alma ao corpo,
quisa — a psicologia humana — como o esforço princípio intermediário entre a matéria e o E s-
para representar e equacionar tais forças de modo a pírito.”
oferecer um nítida compreensão do homem e de Com esta visão o Espiritismo recolocaria o Esp í-
seus comportamentos. rito como elemento natural, passível de pesquisa
Apesar das diversas visões da psicologia — adi- pela ciência — embora não acessíveis aos mét o-
ante, no item A PSICOLOGIA HUMANA, veremos um dos científicos de então.
conjunto de escolas psicológicas — é fácil notar a im-
O conceito espiritual do homem se propõem a
portância do conceito psicológico do homem como o
representar o homem como tendo uma dimensão
elemento representativo dos movimentos da alma
pronunciada que lhe extrapola o corpo físico, ant e-
humana, movimentos estes responsáveis por suas
cedendo e sobrevivendo a ele. Esta perspectiva tem
pulsões, seus interesses e mesmo suas vontades.
aos poucos se consolidado como uma visão científi-
ca moderna. O declínio dos conceitos newtonianos -
Conceito Espiritual cartesianos - fundamentalmente mecanicistas —
A crença na imortalidade da alma é o fundame n- deu azo ao surgimento de novas visões que hoje
to mais antigo de que o homem via a si próprio c o- consolidam tal aspecto espiritual do ser humano. Os
mo algo mais além do corpo. Tal crença mistura -se esforços de Stanislav Grof, Roberto Assaglioli, Pie r-
com a própria história da cultura humana.. re Weil, Elizabeth Kübbler-Ross, Hellen Wambach,
O conceito espiritual apresenta-se nas diversas Raymond Moody Jr., Carlis Osis, Ian Stevenson,
representações que o homem fazia de si. Porém, Hernani Guimarães Andrade — entre outros — no
com o advento do paradigma mecanicista o aspecto sentido da pesquisa moderna do Espírito, tem surt i-
espiritual foi extremamente relegado. Primeiro com
a divisão cartesiana de corpo e alma, que deixou
para a ciência o estudo do corpo e para a religião o 9< KARDEC, Allan - O QUE É O ESPIRITISMO. I.D.E. pp. 10
15ª ed. São Paulo. 1983.
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do efeito e incomodado a visão materialista do h o- A própria pesquisa espírit a, já no século XIX,


mem colocando-a em posição insustentável. respondia afirmativamente a ambas as interrog a-
ções, mas somente a partir de 1932, com a public a-
A REVOLUÇÃO ESPIRITU AL ção da obra Novas Fronteiras da Mente , de autoria
do professor Joseph B. Rhine — o pai da parapsico-
logia moderna, a ciência oficial desperto u para tratar
O Homem, a Mesa e os Espíritos o assunto com a seriedade merecida. O objetivo da
Quando o conceito do homem animal - puro obra do prof. Rhine era apresentar como suas pe s-
complexo bio-físico-químico — se estabelecera no quisas — utilizando o método estatístico — demons-
século XIX, um conjunto de fenômenos extraordin á- travam a existência no homem de percepções e x-
rios solaparam a cultura materialista vigente. As trasensoriais. Tais faculdades indicavam a possibi li-
chamadas danças das mesas — fenômeno no qual dade de existência, no homem , de algo além da
um grupo de pessoas em torno de uma mesa a matéria.
viam levantar-se, mover-se e mesmo responder Na década de 80, uma obra de extrema curios i-
perguntas através de pancadas e movimentos — dade — O EU E O SEU CÉREBRO — assinada
veio despertar o interesse d e inúmeros pesquisado- pelos eminentes pesquisadores Karl Raimund Po p-
res. Entre eles o Prof. Hippolyte Léon Denizard R i- per, filósofo, e John Eccles, neurofisiologista, adv o-
vail. gavam a real existência de um EU, distinto do cér e-
As pesquisas do Prof. Rivail culminaram em bro.
1857 com o lançamento de O LIVRO DOS ESPÍR I- As pesquisas sobre as potencialidades da alma
TOS, o qual ele assinava com o pseudônimo de eclodiram com força total a partir da década de 70.
Allan Kardec. Em particular, o surgimento da Psicologia Tran s-
Na obra o Sr, Rivail propunha uma revisão radi- pessoal, a imortalidade deste EU ficou patenteada
cal em torno do conceito do homem, de sua exi s- através das pesquisas com a reencarnação e as
tência, de seus propósitos e conceitos em torno da experiências de quase morte.
vida. A proposta de abordagem do Espiritismo mo s-
trou-se acertada para o caso.
A mudança conceitual
A primeira mudança se deu na própria colocação DIMENSÕES E ABRANGÊN CIAS DO SER
do problema. Até então as questões pert inentes aos HUMANO
Espíritos residiam na alçada
exclusiva da religião, e desde
O Ser bio-psico-sócio-espiritual
Tertuliano, a premissa religiosa
era “crer por ser impossível”. O Á luz do pensamento espírita, encaramos o h o-
maravilhoso e o sobrenatural mem como um complexo bio-psico-sócio-espiritual
grassavam ameaçados num que se manifesta em múltiplas experiência de a-
mundo em que a Ciência est a- prendizagem reencarnatória com vistas ao dese n-
belecia seus domínios... volvimento de suas potencialidades morais e intele c-
tuais. Tais dimensões humanas não podem ser
O Sr. Rivail, contudo, propunha que o Espírito
descaracterizadas sob pena de obter-se uma pálida
não era um ente sobrenatural. Estava na natureza
representação do homem. O entendimento do ser
das coisas e era passível de pesquisa. E como uma
humano passa, portanto, pelo entendimento de suas
das primeiras conclusões extraídas de suas pesqu i-
dimensões múltiplas e, particularmente, pelo rec o-
sas viu nos Espíritos nada mais do que os próprios
nhecimento de suas dimensão espiritual - responsá-
homens despidos do corpo físico.
vel pela perenização de sua individualidad e evoluti-
O estudo do fenômeno mediúnico — curiosa- va a expressar-se em múltiplas existências dentro e
mente iniciado com a dança das mesas — culminou fora da experiência carnal.
com a definição de uma nova visão em torno da
Há um ponto que merece esclarecimento partic u-
natureza e do homem.
lar. Trata-se da dimensão biológica humana, muitas
vezes associada exclusivamente á vida encarnada.
Existência e Imortalidade
A proposta filosófica do Espiritismo, ao abordar a
questão é colocada nos seguintes termos:
1. Existe alma? — aqui entendida como algo a-
lém da simples estrutura biológica do cérebro.
2. Esta alma sobrevive à morte do corpo?
Estes termos nos levam a uma abordagem met i-
culosa do problema humano.
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Através do estudo do corpo espiritual - ou peris- A integração existencial


pírito — somos forçados a reconhecer uma dime n- Em sua magnífica obra TIPOS PSICOLÓGICOS,
são biológica espiritual(!). Assim como poderemos o psicólogo Carl G. Jung define a individuação 11:
pensar em dimensões sociais espirituais, e psicol ó-
gicas espirituais. A dimensão espiritual aparece “De modo geral, pode-se dizer que a in-
como um elemento de destaque para acentuar que dividuação é o processo de constituição e pa r-
as dimensões bio-psico-sociais NÃO ESTÃO ticularização da essência individual, especia l-
RESTRITAS A UMA EXISTÊNCIA FÍSICA !!! Mas mente, o desenvolvimento do indivíduo — se-
estendem-se por toda a história espiritual do ser. A gundo o ponto de vista psicológico — como
vida possui uma abrangência inc o- essência diferenciada do todo,
mensurável a desdobrar-se em ca- da psicologia coletiva”
deias evolutivas que integram o Se estendermos este processo
mundo espiritual e material. 10 de individuação para a realidade
reencarnatória observaremos que o
O Ser Agente e o Ser Paciente processo reencarnatório é, de fato,
A epopéia da existência humana um processo de individuação. P o-
desdobra-se através de uma s e- rém, a cada nova existência não
qüência evolutiva curiosa. Primeiro é somos remetidos ao ponto zero!
a Natureza que, ao formar e tran s- Antes, cada experiência de vida está
formar a espécie humana, dota-a do integrada de modo a possibilidade o
aparelho mental, que lhe possibilita desenvolvimento integral do Ser,
compreender a si próprio e à Natur e- tanto do ponto de vista moral quanto
za. Depois vem o esforço humano de intelectual. Acerca do assunto afirma
mudar o meio em que está; o que Allan Kardec 12:
resulta na aceleração do processo de “A vida do Espírito, pois,
mudança de si mesmo mas agora se compõem de uma série de
seguido pela efetiva trans formação existências corpóreas, cada uma
do meio onde está... das quais representa para ele uma ocasião de
Temos assim a dupla natureza humana ora progredir(...)”
AGENTE ora PACIENTE.... Da interação entre e s- E recentemente, analisando o mesmo problema
tes aspecto temos como resultado o PROCESSO escreveu o físico Patrick Drouot 13:
EVOLUTIVO HUMANO.
“Durante meus anos de pesquisa, pude
A capacidade de transformar a si mesmo quer
constatar que as vidas passadas não estão
como agente, quer como paciente, t raz ao homem
uma abrangência notável uma vez que o coloca separadas umas das outras. Estão ligadas
acima se si mesmo, para além do que existe no por uma espécie de fio condutor , que se
presente. Esta abrangência lhe caracteriza o projeto desenrola incansavelmente além do tempo e
existencial. o homem aparece como uma atualiz a- do espaço.”(destaques nossos)
ção de si próprio, como a melhoria daquilo que já Isto porque, as diversas experiências reencarn a-
foi. Este processo desenvolve -se não apenas em tórias, promovem o desenvolvimento dos potenciais
uma experiência existencial, mas na multiplicidade do ser espiritual, que, embora evolutivo, guarda sua
das encarnações. integridade psicológica, algo a que pode mos chamar
Agindo, o homem aciona o meio externo. S o- de INDIVIDUALIDADE ESPIRITUAL. Cada enca r-
frendo as conseqüências dos seus atos, o homem nação possibilita a expressão desta individualidade
sente a natureza agindo sobre si, transformando -o. ao mesmo tempo que lhe promove o desenvolv i-
Este é o referencial educativo da vida. O pensame n- mento.
to espírita denomina-lhe LEI DE CAUSA E EFEITO. Importa considerar que este desenvolvimento
Esta lei não determina quais serão as conseqüên- não ocorre apenas no plano subjetivo. Na medida
cias das atitudes humanas mas estabelece que elas em que se desenvolve o indivíduo espiritual man i-
virão de modo que, através delas, o homem seja festa potencialidades mais aprimoradas para agir no
transformado pelo aprendizado de novos valores, meio em que vive. Seu vigor intelectual e afetivo
pensamentos e atitudes. manifestam-se em ondas de influenciação e forças
de mudança, que tocam os seres e as coisas de
sua convivência. A convivência social — no sentido

11< JUNG, Carl Gustave, TIPOS PSICOLÓGICOS. pp.525. 4ª


ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 1987.
10< Para maiores detalhes em torno da questão sugerimos o 12< KARDEC, Allan. O LIVRO DOS ESPÍRITOS. pp.129. 57ª
estudo da obra EVOLUÇÂO EM DOIS MUNDOS do espírito ed. FEB. Rio de Janeiro
André Luiz - psicografia Waldo Vieira e Frnacisco Cândido 13< DROUOT, Patrick. SOMOS TODOS IMORTAIS. pp. 59. 3ª
Xavier editado pela FEB. ed. Ed. Record . Rio de Janeiro. 1995.
A Visão Espírita do Homem página - 10

mais amplo possível — promove, ao longo do tem- ID — onde estão os instintos básicos da organ i-
po, a melhoria de todos os envolvidos no processo, zação biológica e que se manifestação de modo
constituindo-se este desenvolvimento no propósito desconhecido;
da vida. A este processo denominamos INTEGR A- EGO — o elemento de contato com a realidade
ÇÃO EXISTENCIAL. das coisas, onde se desdobram os processos con s-
cientes. Funciona como uma “camada” que dá fo r-
A PSICOLOGIA HUMANA ma e direção às forças propulsoras do ID, de onde
ele retira as energias de realização.
“Uma imagem nova da psique humana tem sido das
mais significativas contribuições da moderna pe s- SUPEREGO — “É o depósito dos códigos mo-
quisa da consciência à emergente visão científica do rais, modelos de conduta e dos constructos que
mundo. constituem as inibições da personalidade.” 18
Stanislav Grof - Em Alem do Cérebro Freud identifica uma cadeia de extrema vincul a-
ção biológica com relação aos processos mentais.
O propósito da representação de uma psicologi a
Estabelece o conceito das pulsões de vida (libido) e
humana vem de encontro aos nossos anseios de
de morte (que não recebeu denominação específ i-
compreender a complexidade do ser humano. Os
ca) como energias propulsoras das atividades de
modelos ora representados constituem — em nossa
formação e desenvolvimento da personalidade.
opinião particularíssima — as grandes vertentes do
pensamento psicológico vigente. Apresentamo -los
sob a epígrafe de cartografias por entendê-los como
mapas de representação da estrutura psicológica A cartografia de C. J. Jung
humana. Para Jung os arquétipos desempenham papel
Destacamos, porém, que foge ao fundamental na compreensão do ser
escopo deste trabalho uma análise humano. Em sua cartografia da psique
minuciosa de cada modelo aprese n- humana Jung retrata cinco arquétipos:
tado, excetuando-se obviamente, o PERSONA — A forma através da
modelo espírita. 14 qual nos apresentamos no palco da
vida. Segundo a definição do próprio
A cartografia de S. Freud Jung19:
Com base no pressuposto de um “(...) um complexo funcional a que se
determinismo psíquico — no qual se chegou por motivos de adaptação ou de
admite não haver descontinuidade na necessária comodidade”
vida mental já que para cada pe nsamento, memória EGO — É “(...) o centro da consciência e um dos
revivida, sentimento ou ação, podemos encontrar maiores arquétipos da personalidade. Ele forn ece
uma causa — Freud estabeleceu a existência na um sentido de consistência e direção em nossas
psique humana dos seguintes processos: vidas conscientes. 20”
Consciente — “uma pequena parte da mente, SOMBRA — uma parte do inconsciente na qual
incluí tudo do que estamos cientes num dado m o- residem aspectos inaceitáveis, até para nós mes-
mento”15 mos, de nossa individualidade.
Inconsciente — onde “estão elementos instint i- ANIMA ou ANIMUS — aparece como uma par-
vos, que nunca foram conscientes e que não estão cela complementar de nossa individualidade. Apr e-
acessíveis à consciência” 16 senta-se como um elemento do inconsciente com
Pré-consciente — “uma parte do inconsciente, as tendências complementares às apresentadas
mas uma parte que pode tornar -se consciente com pelo EGO.
facilidade.” 17 SELF — aparece como o nosso EU INTEGRAL,
E com base neles estabeleceu a primeira cart o- um elemento norteador de nosso processo de ind i-
grafia da psique. A estrutura da personalidade ap a- viduação. Na definição de Jung 21: “consciente e
rece em Freud composta por três instâncias: inconsciente não estão necessariamente em opos i-
ção um ao outro, mas complementam -se mutua-
mente para formar uma tota lidade :o SELF.”

14< Para uma análise mais didática da questão sugerimos - na


condição de não-especialista na área - o livro TEORIAS DA
PERSONALIDADE de Fadiman e Frager - para uma análise
de Freud, Jung e Skiner. Para Grof, sugerimos sua obra
ALÉM DO CÉREBRO, e para Vygotsky, A FORMAÇÃ O 18< Idem. pp. 12.
SOCIAL DA MENTE. 19< JUNG, Carl Gustave, TIPOS PSICOL ÓGICOS. pp.478. 4ª
15< FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Person a- ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 1987
lidade. pp. 7. Ed. Habra. Sã o Paulo. 1986. 20< FADIMAN, James e FRAGER, Robert. Teorias da Person a-
16< Idem. lidade. pp. 53. Ed. Habra. São Paulo. 1986
17< Idem. 21< Idem. pp. 56 (citado por)
A Visão Espírita do Homem página - 11

A cartografia de B. F. Skiner tes, limitados aos interesse de sua conserv a-


CONDICIONAMENTOS — para a psicologia be- ção.”23
haviorista radical de Skiner, o corpo apresenta -se Este corpo estabelece um nível da consciência
como a totalidade do ser. As experiências sensórias humana. Mais além dele identificamos o perispírito
edificariam, através de um processo de como a matriz de toda a memória do Ser, o eleme n-
CONDICIONAMENTO as açõ es, pensamentos, to responsável — porquanto indissociável do Espír i-
associações e motivos da personalidade humana. A to, propriamente dito — pelo armazenamento de
estrutura mental edifica-se e reforma-se com base toda a memória do Ser. Nele encontramos o registro
nos estímulos ou repressões repetidas. O homem de TODAS as experiências encarnatórias do Espír i-
apresenta-se como resultado de sua história, sendo to. E finalmente temos o Espírito como o elemento
possível modifica-lo através de novos estímulos. fundamental do Ser, aquele que lhe confere indiv i-
dualidade. O Espírito mostra -se como um princípio
inteligente individualizado e passível de progresso.
A cartografia de S. Grof
Formulando uma compreensão específica da
Barreira Sensorial — os elementos vinculados à
cartografia espírita, o Espírito André Luiz, em sua
própria biologia humana. Sensações e formas rel a-
obra No Mundo Maior, no capítulo “A CASA
cionadas às disposições de nossos órgãos sensor i-
MENTAL”, introduz uma extrapolação da teoria
ais.
freudiana ao propor a casa mental dividida em três
Inconsciente Individual — o nível da biografia módulos:
individual onde residem toda s as experiências de
O Inconsciente — onde se encontra toda a e x-
nossa história de vida.
periência da vida pretérita do indivíduo — inclusive
Nível de Nascimento e Morte — onde são en- as experiência em vidas passadas;
contradas e interrelacionadas as experiências ps í-
O Consciente — onde repousam as experiê n-
quicas relacionadas aos fenômenos da morte e do
cias acessíveis pela mente no presente; e
nascimento. Aqui encontramos matrizes psicológ i-
cas cujo arcabouço reflete , em parte, os arquétipos O Superconsciente — a porção de nossa mente
coletivos referentes aos episódios de nascimento e onde se encontram as nossas promessas e ideais
morte. de melhoria individual.
Domínio Transpessoal — onde as experiências A representação da psique humana, à luz do E s-
transpessoais se manifestam. Analisando essas piritismo faz-nos ver que as abordagens tradicionais
experiências ou fenômenos transpessoais, o Dr. no campo da psicologia não são antagônicas, mas
Grof assinalou 22: complementares. A existência e imortalidade da
alma fornecem a chave para a compreensão de um
“O denominador comum desses fenômenos, de
conjunto de problemas acerca do homem que n e-
outra maneira ricos e ramificados, é a sensação
nhum outro preceito permite. Vemos que o cond i-
vivida pelo sujeito de que sua consciê ncia expandiu-
cionamento behaviorista de fato ocorre a nível no
se além das comuns limitações do EGO e transce n-
corpo, nos limites das barre iras sensoriais que se
deu os limites do tempo e do espaço.”
consolidam na forma de elementos simbólicos na
mente, através de reflexos condicionados e cond i-
A cartografia Espírita cionantes, mas percebemos que ao longo do tempo,
O Espiritismo, ao propor a compreensão do h o- nos recessos de nossa alma, desenvolvemos i-
mem em sua totalidade identifica - conforme citado gualmente aspectos particularíssimos a se expr es-
anteriormente — que: sarem na forma dos arquétipos Junguianos. Rec o-
nhecemos a similitude do ID, do EGO e do Super e-
“Há no homem três coisas:
go com as estruturas criadas pela experiência mult i-
1º, o corpo ou ser material análogo aos existêncial, a exprimir-se em várias reencarnações,
animais e animado do mesmo princípio vital; desde o princípio inteligente original (o ID) que pela
2º a alma ou ser imaterial, Espírito e n- experiência na matéria desenvolve um individualid a-
carnado no corpo; de (EGO) a submeter-se ao processo evolutivo m e-
3º, o laço que prende a alma ao corpo, diante o desenvolvimento de referenciais superiores
princípio intermediário entre a matéria e o E s- acerca de si mesmo (SUPEREGO).
pírito.” A compreensão da psicologia Transpessoal —
A Doutrina reconhece no homem a existência de que tem sua definição em GROF — aproxima a
um corpo biológico: pesquisa científica oficial do modelo proposto pelo
Espiritismo, embora não se identifique a ele.
“(...)o corpo é um ser dotado de vital i-
dade, que possui instintos, mas não intelige n-
SER E SIGNIFICADO: ANÁLISE DA PERSPECTIV A
HUMANA

22< GROF, Stanislav. Em “Além do Cérebro - Nascimento,


Morte e Transcendência em Psicoterapia”. pp.97. Editora 23< 23 - KARDEC, Allan, O LIVRO DOS ESPÍRITOS. item
MacGraw-Hill. São Paulo. 1987 605a. pp 298. FEB.
A Visão Espírita do Homem página - 12

“Pode surpreender que eu diga, baseado em minha “919. Qual o meio prático mais eficaz que
prática profissional, assim como na de meus col e- tem o homem de se melhorar nesta vida e de resistir
gas psicólogos e psiquiatras, que o problema fu n- à atração do mal?
damental do homem, em meados do século XX, é o - Um sábio da antigüidade vo -lo disse:
vazio. Com isso quero dizer não só que muita gente Conhece-te a ti mesmo.”
ignora o que quer. mas também que freqüentemente Assim, o Espiritismo propõem a estruturaçã o de
não tem uma idéia nítida do que sente.” um processo contínuo de conhecimento e auto -
Rollo May em O Homem à Procura de Si Mesmo. avaliação com fins de melhoria continuada acerca
daquilo que somos intelectual e moralmente.
O Sentido da Vida em Frankl
O Dr. Viktor Frankl é um dos sobreviventes de
Auschwitz. Responsável pelo desenvolvimento de A Verdade e a Vida no Caminho de Jesus
uma nova linha de terapia à qual ele denominou
LOGOTERAPIA — ou a terapia do sentido.
Na primavera de 1977 o Dr. Frankl escreveu 24: 625. Qual o tipo mais perfeito que
“(...) o homem não pode mais ser co n- Deus tem oferecido ao ho-
mem para lhe servir de guia e
siderado apenas como uma criatura cujo int e- modelo?
resse fundamental é o de satisfaze r as pul- R. - Jesus.
sões, de gratificar os instintos, ou então, dentro "O LIVRO DOS ESPÍ-
de certos limites, reconciliar entre si o ID, o RITOS" item 625.
EGO e o Superego, nem a presença humana
pode ser entendida simplesmente como o r e-
sultado de condicionamentos ou de reflexos
condicionados. Neste âmbito, ao contrário, o
homem se revela como um ser em busca de A mensagem do Cristianismo permanece um
convite para o desenvolvimento das potencialidades
um sentido.” humanas mais profundas. Desde o “ amar a Deus
Esta busca de um sentido resulta na transform a- sobre todas as coisas e ao próximo como a si me s-
ção da experiência de vida num processo de real i- mo” e passando pelo “Conhecereis a verdade e ela
zação real; de autorealização e autoatualização. vos tornará livres”, vemos Movimento Cristão uma
O Espiritismo destaca este aspecto como sendo proposta de transformação no homem.
fundamental para o equilíbrio humano: a necessid a-
de de um sentido para a vida. E nesse particular, na
“Vós sois deuses!” — asseverava Jesus.
medida em que estende a vida para além das fro n- Convocando-nos para iniciar o nosso processo
teiras da morte e estabelece uma cadeia de dese n- de melhoria pessoal, o Cristianismo nos faz ver a
volvimento ontológico, a Doutrina Espírita viabiliza a nós mesmos como uma promessa de evolução.
integridade do equilíbrio pela extrapolação da per s- Crer que a mensagem de Jesus reveste de caráter
pectiva humana dando ao ser um significado real passivo, indutora de um estado de expectativa in o-
para sua vida: a construção de si mesmo! perante face à vida, é ignorar a essência mesma do
Cristianismo: o esforço de melhoria íntima na dir e-
ção de promover o amor a si; ao próximo e a Deus.
May e o Homem a procura de Si
Mas quem é este homem?
O HOMEM COMO FENÔMEN O, AGENTE E
Em 1969 o Dr. Rollo May, psicólogo norte - PROJETO
americano publicou uma obra que guarda interesse
até os presentes dias: O HOMEM A PROCURA DE
SI MESMO. Nesta obra o Dr. May estabelece que o O Projeto Existencial
grande conflito da era moderna foi a perda de si O homem se mostra na visão espírita, como um
mesmo. projeto de si mesmo. Um arcabouç o iniciado pela
Estabelecendo a rotina, a angústia, o medo e a natureza; dotado de consciência e responsabilizado
solidão como os elementos respo nsáveis pela neu- pelo seu próprio desenvolvimento ulterior.
rose contemporânea, propõem que o Através das experiências reencarnatórias vai ele
(re)conhecimento de si mesmo seja a via de recup e- adquirindo novas compreensões sobre a natureza
ração da integridade humana na atualidade. de si e das coisas; vai efetuando suas mudanças de
No item 919 de O Livro dos Espíritos, encontr a- comportamento, melhorando-se, expandindo-se...
mos a preocupação dos prepostos espirituais no
sentido de efetivar a transformação humana:

24< 24 - FRANKL, Viktor. UM SENTIDO PARA A VIDA. pp 11.


6ª ed. Ed. Santuário. São Paulo. 1989.
A Visão Espírita do Homem página - 13

Edificação de Si... se superar, de melhorar a si p róprio; de se recons-


Aparecendo como um fenômeno da natureza, o truir e de (re)significar-se.
homem se transformou num agente de destaque
capaz de mudar as coisas e a si. O humanidade e pós-humanidade em Jesus
Na condição de agente de transformação o tr a- O homem é um mistério a ser desvendado diar i-
balho desempenha para ele um papel fundamental. amente, por si mesmo. Constituímo -nos naquilo que
É pelo trabalho que o homem age no meio e o meio nos esforçamos por ser, ou naquilo que permitimos
lhe transforma. Por esse motivo o destaque dado à vida nos edificar. Somos produtos e agentes de
por Kardec no tocante à necessidade do trabalho, nossos próprios esforços, de nossas próprias ações.
mesmo quando o indivíduo não dependa econom i- Afinal, o que seremos?
camente dele.
Seremos o que nos projetarmos. Seremos frutos
de nossos pensamentos, de nossos atos.
O HOMEM PARA ALÉM DE SI
À luz da Doutrina Espírita verificamos nossa
“É tempo que o homem tenha um objetivo. condição de viajores de nossa existência, de cons-
É tempo que o homem cultive o germe de sua mais trutores de nosso destino. Impelindo -nos a realizar
elevada esperança.” nosso progresso intelecto-moral, o Espiritismo nos
Zaratustra, Em Assim Falava Zaratustra de F. N i- lança no desafio de construir em nós o Além -do-
etzsche. Homem.
E neste contexto, ao perceber a indecisão em
somos por vezes lançados, a su peração de nós
O conceito do Além do Homem em Nietzsche
mesmos é estabelecida pela recomendação cristã:
Friedrich Nietzsche, o filósofo poeta desesper a- “Sede perfeitos...”
do, autor da morte de Deus na modernidade, ao
De modo que não nos restasse dúvidas em torno
analisar o homem em sua totalidade chegou à co n-
do roteiro a seguir, interrogou Kardec aos prepostos
clusão que o tempo do homem havia passado. Foi o
da Espiritualidade Maior:
primeiro a desenvolver uma filosofia centrada no
conceito da seleção natural, na sobrevivência nat u- 625 - Qual o tipo mais perfeito que Deus
ral do mais forte e aplicá-la ao tipo humano. Pro- tem oferecido ao homem para lhe servir de guia e
pondo que o homem é uma ponte entre o animal e o modelo?
Além-do-Homem, Nietzsche estabelece um convite R. Jesus.
para que o homem ultrapasse seus limites e dese n-
volva a integralidade de seus potenciais.
Embora os pressupostos de Nietzsche sejam
mais poéticos que filosóficos, somos tentados a
concordar com suas idéias em torno da necessid a-
de do advento de um Além -do-Homem, caracteriza-
do essencialmente pelo esforço de superação da
humanidade, pela busca mesmo dela.

O homem como devir


Simone de Beauvoir define o homem não como
um processo, mas como um devir, um constante vir
a ser. Tal compreensão sobre a natureza humana André Henrique
nos permite idealizar o que há de mais profundo na Natal, 8 de julho de 1996
existência humana: a capacidade de continuamente

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