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SENADO FEDERAL - SSTAQ

Sessão: 020.1.54.O Data: 01/03/2011

O SR. ALOYSIO NUNES FERREIRA (PSDB – SP. Para discutir. Sem


revisão do orador.) – Srª Presidente, Srs. Senadores e Srªs Senadoras, nos últimos 12
meses, os bancos lucraram como nunca na história deste País. Foi assim em todo o
Governo Lula, apesar de termos tido um cenário externo extremamente favorável até a
eclosão da crise financeira de 2008. Essas coisas não acontecem por acaso. Não se
improvisam. São construídas em votações como esta que o Senado está prestes a
proceder.
Pelo Projeto de Lei de Conversão, a União pede autorização legislativa para
que o Tesouro Nacional empreste ao BNDES o montante de R$30 bilhões – R$30
bilhões!
E se lermos o texto do projeto, veremos que, da combinação do § 1º do art.
1º com o § 3º desse mesmo artigo, fica explicado um mecanismo perverso que faz o povo
brasileiro ser vítima da ganância do capital financeiro, alimentando uma taxa de juros
cada vez maior, que acarreta um aumento constante da dívida pública interna, e é um
peso nas costas do brasileiro.
Vejam V. Exªs, o mecanismo é muito simples. O Tesouro Nacional emite
títulos da dívida pública que remunera os seus compradores à taxa Selic, 11,5%; esse
recurso é repassado ao BNDES, como se fosse um empréstimo, e o BNDES se obriga a
pagar ao Tesouro com base em uma remuneração equivalente à Taxa de Juros de Longo
Prazo, a TJLP, que rende 6%. Então, um dinheiro que custa 11,5% é emprestado ao
BNDES que, depois, vai pagar esse recurso, ao Tesouro a uma taxa de juros da TJLP,
6%.
É um prejuízo. Qualquer empresa que se mantivesse nesse regime –
imaginemos que o Tesouro fosse uma empresa – quebraria em pouquíssimo tempo, mas
não quebra. Não quebra por quê? Porque a carga tributária, que é o dinheiro que sai do
bolso do contribuinte brasileiro, aumenta a cada dia. Agora mesmo, no mês de janeiro,
houve um aumento de 15% da carga tributária em relação ao mês de janeiro do ano
passado. Está explicado, assim, o mecanismo do funcionamento de um cassino em que o
jogador não perde nunca; quem perde são aqueles que pagam os impostos, ou seja, os
brasileiros.
Estava lendo o texto da medida provisória em que esse mecanismo fica
claro, pois dissimula, inclusive, o endividamento público, um mecanismo que gera cada
vez mais suspeição sobre os números apresentados pelo Governo brasileiro no que
concerne à situação fiscal. E esse tipo de mágica, de contabilidade criativa, acabará por
ter um preço alto. O “deus” mercado acabará cobrando um preço do Brasil por esse tipo
de estripulia.
Lia o texto da medida provisória, quando me deparei com o art. 3º, que
pensei fosse extraído da página de um outro avulso, porque trata de uma matéria que
não tem rigorosamente nada a ver com o crédito aberto para o BNDES: a inclusão de
uma rodovia no Sistema Rodoviário Federal. Nada a ver uma coisa com a outra.
Então, é a tal história das medidas provisórias que se transformam em
árvore de natal, que são aprovadas em colisão frontal com a lei complementar que,
durante muito tempo, o Congresso Nacional elaborou, que disciplina a forma de
elaboração das leis e que diz muito claramente que uma mesma proposição legislativa
não pode conter assuntos, matérias que não sejam correlacionadas entre elas.
Eu não sei o que tem a ver alhos com bugalhos, o que tem a ver crédito do
BNDES com inclusão de uma estrada no plano nacional de viação. São mistérios, Srª
Presidente, e como sabemos que existem muito mais mistérios do que possa sonhar a

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SENADO FEDERAL - SSTAQ

Sessão: 020.1.54.O Data: 01/03/2011

nossa vã filosofia, fica aqui esse registro, com o nosso voto contrário, que, infelizmente,
não poderá ser registrado, uma vez que não há interstício hábil para a votação nominal.
A SRª PRESIDENTE (Marta Suplicy. Bloco/PT – SP ) – Obrigada, Senador
Aloysio Nunes.
Com a palavra o Senador Alvaro Dias. Depois, temos a inscrição da
Senadora Gleisi Hoffmann, do Senador Aécio Neves, Senador Wellington Dias e Senador
Flexa Ribeiro.

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