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contemporâneo:
por uma cultura de paz
Imagens das capas editadas a partir de
recorte digital do painel Guerra e Paz
(1956), de Cândido Portinari.
1. Uma breve introdução
2. Nós e os outros
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Antônio Campos
3. Tolerância e intolerância
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
“
Só a tolerância à
diversidade cultural
poderá forjar um
novo mundo e
compartilhar dele
”
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Antônio Campos
4. Diálogos culturais
no mundo pós-moderno
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
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Antônio Campos
5. Insurgências e ressurgências
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
Acervo IMC
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Antônio Campos
“
O Brasil seria
modelo de futuro,
por causa de
sua natureza de
tolerância
” 11
Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
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Antônio Campos
“
Os EUA
deflagraram
suas “guerras
preventivas”
e revelaram a
truculência da sua
política externa
”
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
“
Não é só em
época de guerra
que o Ocidente
provoca estragos na
civilização islâmica
”
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Antônio Campos
8. Reações esperadas
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
9. Islamofobia
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Antônio Campos
“
A islamofobia
é a falta de
conscientização e a
percepção negativa
que associa o Islã à
violência
”
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
“
O islamismo tem
as mesmas raízes
históricas do
judaísmo
”
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Antônio Campos
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“
Aliança de
Civilizações se
dispunha a realizar
mobilizações em
todo o mundo
para superação de
preconceitos
”
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Antônio Campos
11. Brasil
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
“
Ao acolher essa
diversidade o Brasil
já estava no futuro
sem o saber ou
pretender
”
rão montado em seu cavalo. Em Minas, a tradição da história
e da fé é vivida no cotidiano. Na Amazônia, grupos indígenas
ainda praticam seus rituais de festa e de guerra. A Bahia é ao
mesmo tempo África e Brasil, com seu povo negro, colorido
e alegre. O Pantanal Mato-grossense é o santuário das aves,
dos peixes, répteis e mamíferos. Em Pernambuco, com suas
praias acolhedoras que lembram o paraíso caribenho, o povo
dança frevo e maracatu.
O desafio constante desse imenso país é exatamente explo-
rar a diversidade cultural, preservando-a. A história do Brasil
foi feita por vários encontros. O primeiro, do branco europeu
do século 16 que aqui chegou e encontrou uma civilização
ainda em organização tribal. Foi um choque entre os dois
mundos, distintos em tudo. Os portugueses, mais bem apare-
lhados para o domínio, prevaleceram, ocupando terras e nela
introduzindo a agricultura para atender o mercado europeu.
Aos latifúndios onde começaram a plantar a cana-de-
açúcar, foram trazidos os africanos em regime de escravidão.
Nossos ancestrais negros foram sequestrados da África para o
Brasil. Foram homens e mulheres de várias etnias que trouxe-
ram consigo suas tradições e seus costumes, influenciando e
sendo influenciados. Nas origens da nossa sociedade colonial,
o País ficou marcado pela discriminação e pela exclusão de
índios e negros.
Esses encontros, sem nos aprofundar nas especificidades
da violência que representou o processo de colonização, ter-
minaram criando condições para a formação de um povo (de
uma civilização brasileira) que se diversificava e ficava mais
colorido quando, séculos depois, outros povos — italianos,
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
“
Sabemos que o
Brasil enfrenta uma
discriminação social
tão danosa quanto a
racial
”
dentismo de certos territórios brasileiros. Houve recentemente
uma campanha de inspiração nazista que tinha até um lema: “O
Sul é meu país”. A ideia foi disseminada nos três estados daquela
região, com algumas extensões em São Paulo. A autoria era de
uma certa organização clandestina chamada Odessa, que não
aceitaria conviver num país com os povos do Nordeste.
Um dos principais redutos é a cidade de Santa Cruz do Sul
(RS), centro de colonização germânica e coração da lavoura
fumageira do Brasil. Os separatistas, no entanto, são uma mi-
noria inexpressiva na população dos três estados do sul. Mes-
mo assim, esse comportamento é inaceitável num país onde
a busca da harmonia deveria ser uma característica do povo,
que se reconhece no direito à livre existência, na identidade
cultural, com saberes e conhecimentos os mais diversos.
Na história recente, enfrentamos um longo e doloroso pe-
ríodo de intolerância política no Brasil, a Ditadura Militar, que
durou 21 anos, iniciado em 1964. Foi uma fase de persegui-
ções, prisões, tortura, morte e restrições dos direitos políticos.
Em 1985, veio a abertura, mas ainda assim não podemos falar
em democracia plena. Se superamos a intolerância política, te-
mos outras nódoas, como a miséria, a fome e a corrupção, que
violentam a nossa cidadania e segregam muitos brasileiros.
Nessa situação de exclusão social, historicamente negros e
índios sempre estiveram em posição desigual. Foram socialmen-
te marginalizados. A grande parcela da população pobre é for-
mada por afrodescendentes, que vivem em situação precária.
Têm sido frequentes as notícias de intolerância religiosa
em relação aos terreiros das religiões de matriz afro-brasileira
em diversas cidades e capitais. Os terreiros de candomblé,
tambor de mina, umbanda, têm recebido ataques das religiões
neopentecostais, que insistem em desqualificar a importância
desses credos na cultura brasileira.
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é na busca de
semelhanças
entre o passado e
o presente que a
cultura sobrevive
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”
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Diálogos no mundo contemporâneo: por uma cultura de paz
“
Para Freyre o
Brasil era, de
alguma forma, um
prolongamento da
cultura Oriental nos
Trópicos
”
defende a ideia de que a cultura brasileira havia sido gerada a
partir de uma matriz oriental de valores, hábitos e conceitos
sobre o mundo.
Desde muito cedo, a ideia de uma orientalidade e de
um amouriscamento do Brasil aparecia na obra de Gilberto
Freyre. A impressão de que o Brasil era, de alguma forma,
um prolongamento da cultura Oriental nos Trópicos.
Na perspectiva de Gilberto Freyre, as conexões entre o
Brasil, no período de sua formação, e o Oriente árabe ou asi-
ático iam muito além de aspectos arquitetônicos, tendo sido
determinantes na conformação da sensibilidade brasileira, em
sua visão do mundo e seus valores culturais mais marcantes.
O Oriente tornou o Brasil possível, no dizer de Freyre.
Foram os saberes orientais que permitiram a construção da
“maior civilização moderna dos Trópicos”. Freyre estava va-
lorizando o Oriente como matriz cultural formadora do Bra-
sil em contraposição à matriz europeia.
Nesse sentido, ele destacava o papel exercido pelos na-
vegadores e conquistadores portugueses como intermediá-
rios entre as duas metades do mundo, o ocidental e o orien-
tal: “Foram, com efeito, os portugueses que trouxeram, do
Oriente à Europa, o leque, a porcelana de mesa, as colchas da
China e da Índia, os aparelhos de chá e parece que também o
chapéu-de-sol” (Casa-Grande & Senzala, p. 275).
Deve-se, aliás, registrar que, na maior parte das vezes que
Gilberto Freyre falava em Oriente, estava, na verdade, se re-
ferindo tanto à África, muçulmana ou não, quanto à Ásia.
No seu discurso, o Oriente é uma ampla matriz cultural que
abriga todos os valores não europeus e, inclusive, antieuro-
peus. Vejamos:
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Antônio Campos
“
Não acredito
que possa haver
um mundo sem
conflitos, mas
creio na direção do
diálogo
”
tivos de paz, uma melhor compreensão e convivência com
o outro, com o diferente, vencerão o terror e a tensão entre
religiões e etnias, que é o grande desafio do contemporâneo.
O Brasil tem uma missão nesse sentido.
Somos “diversos”, como afirma o poema do músico bra-
sileiro Marcelo Yuka, pois “Entre a revolta e a obediência,
crescer com diferenças e crescer pelas diferenças, será sempre
entender que o amor é a nossa maior forma de inteligência”.
Vamos criar coletivamente uma nova Guernica, de Picas-
so, ou Guerra e Paz, de Portinari, mas, dessa vez, apagando a
guerra e pintando a paz. Ainda há esperança.
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