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RESENHA:

A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO


MAX WEBER

ÍNDICE
INTRODUÇÃO

Ciência e Cultura
I.Arte
A. Música
B. Arquitetura
C. Imprensa
II. Especialistas
2. Estado
3. Capitalismo
4. Renda
5. Ato de Economia "Capitalista"
6. Técnica e Capitalismo
7. Direito e Capitalismo
8. Características Peculiares do Racionalismo Ocidental
9. Conexões da Ética Econômica Moderna com a Ética Racional do
Protestantismo Ascético: Um dos Aspéctos de Relação Causal

I PARTE
O PROBLEMA
CAPÍTULO I
Filiação Religiosa e Estratificação Social

10. Problema Histórico


11. Reforma
12. Calvinismo
13. Razão Econômica
14. Ensino
15. Racionalismo Econômico
16. Antíteses entre Catolicismo e Protestantismo
17. Católicos e Protestantes
18. O Calvinismo e a Reforma
19. Velho Protestantismo

CAPÍTULO II
O Espírito do Capitalismo

20. Espírito Capitalista


21. A História e o Objeto
22. Princípios de Franklin
23. Benjamin Franklin
24. Filosofia da Avareza
25. Jacobo Fugger
26. Utilitarismo
27. Utilidade da Virtude
28. Trabalho ou Negócio?
29. O Senhor Capital
30. Espírito Capitalista e Pré-Capitalista
31. O "Tradicionalismo" e o Moderno Capitalismo
32. Trabalho Qualificado (Intelectual)
33. Formação Religiosa e Educação Econômica
34. A "Satisfação das Necessidades" e o "Lucro" / "Tradicionalismo"
35. Modificações
36. Novo Capitalismo
37. Novos Empresários
38. Relação entre a Conduta Prática e os Princípios Religiosos
39. O "Tipo Ideal" de Empresário Capitalista
40. "Concepção de Mundo"
41. Nominalismo
42. Racionalismo Econômico

CAPÍTULO III
A Concepção de Vocação de Lutero
Tarefa da Investigação
43. "Profissão" ou Vocação?
44. Lutero e o Espírito do Capitalismo
45. Lutero e a Vida Profissional
46. Lutero e a Estrutura Social
47. Tradicionalismo Econômico
48. Trabalho Profissional e Idéias Religiosas
49. Tauler / Lutero
50. Calvinistas, Católicos e Luteranos
51. Calvino e Seitas "Puritanas"
52. Reforma e Capitalismo

II PARTE
A ÉTICA VOCACIONAL DO PROTESTANTISMO ASCÉTICO

CAPÍTULO IV
Fundamentos Religiosos Do Ascetísmo Laico

53. Ascetismo
54. Representantes Históricos
55. "Puritanismo" X Anglicanismo
56. Conduta Moral
57. Compêndios Casuísticos
58. Moralidade Ascética e Éticas Não-Dogmáticas

A - Calvinismo

59. Predestinação
I.Capítulo IX: Do livre arbítrio
II. Capítulo III: Do eterno decreto de Deus
III.Capítulo X: Da Vocação eficaz
IV.Capítulo V: Da Providência
60. Milton
61 Padres da Igreja Luterana
62. Calvinismo X Lutero e o Catolicismo
63. Puritanismo
64. O Mundo
65. A Fé
66. A Religiosidade
67. Vida Religiosa
68. A Ética Católica
69. A Igreja Católica frente ao Homem
70. A Graça Sacramental da Igreja Católica
71. O Destino do Calvinista
72. A Sustentação do Homem
73. Identidade entre Santo Inácio e Calvino
74. Metodização da Vida
75. Oposição entre Asceticismo Calvinista e Medieval
76. Racionalismo do Antigo Testamento
77. Consequência da Metodização

B - Pietismo

78. Predestinados
79. A Inauguração do Pietismo
80. O Caráter Histérico da Religiosidade
81. Efeito Prático dos Princópios Pietistas
82. Representantes do Luteranismo Alemão
I.Spencer
II. Francke
III. Zinzendorff
83. Tese Característica de Zinzendorff
84. O Elemento Ascético Racional
85. Idéias Fundamentais do Pietismo
86. A Evolução do Pietismo

C - Metodismo

87. Afinidade com o Pietismo Alemão


88. Metodismo X Pietismo Alemão
89. Metodismo X Calvinismo
90. Afinidade entre o Metodismo e o Calvinismo
91. As Obras
92. Metodismo X Igreja Oficial
93. A Concepção de Regeneração

D - Seitas Batistas

94. Ética
95. "Idolatria" e Religiosidade
96. Regeneração
97. Predestinação e o Caráter da Ética
98. Movimento Batista e a Vida Profissional
99. Moralidade
100. "Tunker"
101. Concepção Profissional Calvinista
102. Interesses Profissionais Econômicos
103. Efeitos do Calvinismo
104. Mercantilismo
105. Influência da Idéia Puritana sobre a Vida Econômica

CAPÍTULO V
A Ascese e o Espírito do Capitalismo

106. Ascese
107. Protestantismo e Atividade Econômica
108. Richard Baxter
109. Baxter e Calvino
110. Relação entre Baxter e São Tomás
111. Racionalização do Tempo
112. Racionalização da Conduta Sexual
113. O Trabalho como Fim Absoluto na Vida
114. Relação entre Baxter e São Tomás quanto ao Trabalho
115. Divisão do Trabalho
116. Religiosidade, Interesse Econômico e Profissionalização
I. Concepção Econômica
II. Baxter
117. Pragmatismo
118. Mentalidade Judáica e Ética Econômica
119. Burguesia Puritana
120. Vida Capitalista
121. Divertimentos Populares
122. Superstições e Irracionalismo de comportamento
123. Uniformização e Capitalismo
124. "Espírito do Capitalismo"
125. "Agricultura Racional"
126. O Moderno "Homem Econômico"
127. Religião e Riqueza
128. Raízes Religiosas e Plenitude Econômica
129. Empresário Burguês, Trabalhador e a Mais-Valia
130. Teoria dos Salários Baixos: Teoria da "Produtividade"
131. Zinzendorff, Seitas Batistas, Trabalho e Enriquecimento como
Profissão
132. O Espírito do Ascetismo Cristão
133. Goethe
134. A Realização do Ascetismo
135. Capitalismo Vitorioso
136. Obra Inacabada de Weber, Ele Próprio Não Refutaria Sua Tese

SUMÁRIO

137. Um Breve Relato

UMA PEQUENA REFLEXÃO

INTRODUÇÃO:

1. Ciência e Cultura:
Índia, China, Babilônia, Egito através de conhecimentos empíricos
pensaram sobre os problemas do mundo e da vida, filósofos
racionalistas e teólogos fizeram suas observações, porém foi somente
no Ocidente a partir de determinados fenômenos culturais é que pode-
se sistematizar de forma pragmática a Ciência. É somente no Ocidente
que existe uma ciência jurídica racional, contendo esquemas e
categorias jurídicas do Direito romano e do Direito ocidental.

I. Arte:

A. Música:
O mesmo se dá em relação a arte, no caso da música, apesar dos
povos terem muitos conhecimentos sobre a mesma, é somente no
Ocidente que a música é harmônica racional, onde a orquestra possui
seu quarteto de cordas como núcleo da organização de um conjunto de
instrumentos, tendo como instrumentos básicos: órgão, piano e violino.

B. Arquitetura:
Desde a antiguidade, na Ásia e no Oriente, o arco em ojiva foi
usado como decoração, porém somente no Ocidente é que se conhece
a sua utilização racional no sentido de distribuição de peso, como
cobertura de espaços, bem como a utilização em edifícios
monumentais, abrangendo a escultura e a pintura pela utilização
racional de linhas e de perspectiva espacial e da luz.

C. Imprensa:
Na China havia a tipografia, mas só no Ocidente que existe uma
literatura da impressão, como a de revistas e jornais.

II. Especialistas:
Na China e no Islão havia Ensino Superior bem semelhantes a
Universidades e Academias do Ocidente, porém não havia o ensino
sistematizado e racional no sentido de formar especialistas, bem como
o funcionário especializado, que é de muita importância para o Estado
moderno e para a moderna economia européia. O funcionário
especializado fora do Ocidente não tem nenhuma importância para a
ordem social. A cultura ocidental é rechassada por conter uma enorme
organização de funcionários especializados, desde técnicos a jurídicos,
como elementos vitais do funcionamento da vida social.

2. Estado:
O Estado estamental só existe na Europa e somente no Ocidente
existem Parlamentos com "representantes do povo" eleitos, com
demagogos e governo de líderes com ministros responsáveis perante o
parlamento. É natural que no mundo existam "partidos" no sentido de
organizações que querem conquistar o mundo, ter poder. No ocidente, é
que existe o "Estado" como organização política com uma
"Constituição" racionalmente estabelecida, com um direito
racionalmente instituido e uma administração feita por funcionários
especializados. Leis fora do ocidente só existe de forma rudimentar,
pois falta a combinação de elementos decisivos.

3. Capitalismo:
O capitalismo como poder mais importante da vida moderna
busca o lucro, o enriquecimento. A tendência para o enriquecimento,
para a obtenção do lucro é cobiçada por vários membros da sociedade:
médicos, artistas, funcionários corruptos, soldados, ladrões e muitos
mais. Em todas as épocas e em todos os lugares da Terra, em todas as
circunstâncias em que exista a possibilidade objetiva de ganhar, de
obter lucro, esta tendência para o enriquecimento mostra-se como uma
constante.
O Capitalismo é o verdadeiro "espírito" da "ambição". O
Capitalismo deveria se colocar como moderação racional do impulso
irracional lucrativo, porém ele, na verdade, anda de mãos dadas com a
ganância do trabalho incessante racional capitalista, a ganância sempre
renovada pela rentabilidade.

4. Renda:
Dentro da ordem capitalista de economia, o esforço próprio
quando não direcionado no sentido de conseguir rentabilidade está
condenado ao fracasso.

5. Ato de Economia "Capitalista":


Coloca-se na espectativa de uma ganância própria de um jogo
com probabilidade de troca, pacífica de lucro. Apesar de ser atual
adquirir coisas por meios violentos, com leis próprias, não é oportuno
fazê-lo, nem mesmo colocar na mesma categoria a atividade orientada
para a troca.
O que interessa assinalar é que a atividade econômica consiste
em um cálculo de valor obtido para o modo de realização. Nesse
sentido, "Capitalismo" e "empresas capitalistas" (com racionalização de
cálculo de capital) existem em todos os países civilizados do mundo:
China, Índia, Babilônia, Egito, Antigüidade Helênica, Idade Média e
Moderna. São economias em contínuo desenvolvimento, gerando
empresas capitalistas, "indústrias" estáveis. A empresa capitalista com
seu empresário são produto dos tempos mais remotos difundidos
universalmente.
No Ocidente, o Capitalismo tem uma importância, formas,
características e direções que não se tem em nenhum outro lugar. No
mundo todo, existem pequenos e grandes comerciantes localizados e
difundidos, negócios, bancos com várias funções, consignações e
associações. Sempre houve coorporações públicas, elas já haviam
aparecido na Babilônia, Grécia, China, Índia, Roma e em muitos outros
lugares, estas financiavam guerras e piratarias, para construções de
todo tipo: a política ultramarina serviu de empresário colonial, como
compradora e cultivadora de plantações com trabalhadores escravos.
O aventureiro capitalista desempenhava o papel de administrador
das repartições e de impostos. Era o arrendatário, o financiador
partidário, inclusive na guerra civil, "especulador" do lucro que nunca
deixou de existir.
No Ocidente, existe uma forma de capitalismo que não tem em
nenhum outro lugar do mundo: a organização racional-capitalista do
trabalho formalmente livre. A moderna organização racional do
capitalismo europeu não seria possível sem a intervenção dos
elementos determinantes de sua evolução: a separação da economia
doméstica da indústria e a criação de uma contabilidade racional. A
economia doméstica é contrária a economia ocidental. Fora do
ocidente não existe organização racional do trabalho, nem mesmo um
socialismo racional.
Sempre houve "luta de classes" entre credores e devedores, entre
latifundiários e despossuídos, entre o servo da gleba e o senhor da
terra, entre o comerciante e o consumidor; a luta tem características da
Idade Média Ocidental entre os trabalhadores e os exploradores do
trabalho, presente em todas as partes. Somente no Ocidente é que
ocorre a nova oposição entre o grande empresário e o operário livre,
por isso em nenhuma outra parte tenha sido possível a ocorrência do
socialismo.
No que diz respeito a cultura da história universal, e do ponto de
vista econômico o que mais interessa é a origem do capitalismo
industrial burguês com a sua organização racional do trabalho livre, isto
é, a origem da burguesia ocidental com suas características próprias,
pois tem uma relação intrínsica, isto é, identifíca-se com a origem da
organização capitalista do trabalho.

6. Técnica e Capitalismo:
O capitalismo moderno é influenciado pelos avanços da
racionalidade técnica, pelos cálculos exatos; as ciências naturais e
racionais com base na matemática e na experimentação tiveram
grande impulso motivadas pela técnica e sua aplicação junto a
economia propiciou progresso aos capitalistas, que é o resultado
econômico desejado pelo Ocidente.

7. Direito e Capitalismo:
O desenvolvimento do moderno capitalismo industrial comercial
necessita do Direito e da administração, com regras, para que haja uma
indústria racional privada com capital fixo e cálculo seguro. Somente no
Ocidente é possível um Direito e uma administração com perfeição
formal técnico-jurídica. Tal desenvolvimento só foi possível por causa
de um "racionalismo" específico e
peculiar da civilização ocidental, pois processos de racionalização
podem se dar
em todas as partes e esferas de vida.

8. Características Peculiares do Racionalismo Ocidental:


Estas deram origem ao mesmo. O racionalismo econômico
depende da técnica e do Direito racional, bem como da capacidade e
apitdão dos homens para determinados tipos de conduta racional. Os
elementos mais importantes desta conduta encontam-se no passado,
nos poderes mágicos e religiosos e na idéia do dever ético. Este é o
ponto central mais importante, isto é, como os mesmos determinam
uma "mentalidade econômica", um "ethos" econômico.

9. Conecções da Ética Econômica Moderna com a Ética Racional


do Protestantismo Ascético: Um dos Aspectos de Relação Causal:
Muitas culturas encontram-se em oposição a civilização ocidental,
as conecções da ética religiosa são diversas entre as sociedades, cada
país com sua conduta própria, tem suas influências características, que
só podem ser captadas se forem confrontadas através de uma
investigação etnográfica-folclórica.
No aspecto antropológico, é somente no Ocidente que se tem
determinados tipos de racionalização, o fundamento para tal encontra-
se em determinadas causas hereditárias, na herança biológica. Todo
trabalho sociológico e histórico deve descobrir as influências e
conecções causais que expliquem as reações às condições ambientais.

I PARTE
O PROBLEMA
CAPÍTULO I
Filiação Religiosa e Estratificação Social

São aspectos reais que tem poderosa influência na ordem


externa, interessando o aspecto prático da religião, isto é, os
proprietários do capital, a mão-de-obra mais qualificada, principalmente
os tecnicos, os especialistas das
modernas emprêsas serem protestantes.
Tal consideração deve-se em parte a motivos históricos, que tem
suas raízes no passado, onde a filiação religiosa não parece ser a causa
de fenômenos econômicos e sim uma consequência dos mesmos.
A maioria das nações mais ricas se converteram no século XVI ao
protestantismo, os efeitos desta conversão beneficiaram os
protestantes na luta econômica pela existência.

10. Problema Histórico:


Por que eram estes e não outros que se mostraram predispostos
para uma revolução eclesiástica? Possivelmente a ruptura com o
tradicionalismo econômico pareceu ser no momento, favorável para
uma inclinação da luta contra uma tradição religiosa e que acabou por
rebelar-se contra as autoridades tradicionais.

11. Reforma:
A Reforma não significava unicamente a eliminação do poder
eclesiástico sobre a vida, e sim a substituição de uma forma atual do
mesmo por uma diferente, que interferisse de modo maior em todas as
esferas da vida pública e privada, regulando a conduta individual.
Povos com economia moderna se submetem à Igreja Católica, "a
qual castiga o herege mas que é indulgente com o pecador". A forma
mais insuportável de controle eclesiástico sobre a vida individual é de
domínio do calvinismo no século XVI e XVII em muitos países.

12. Calvinismo:
Países economicamente progressivos com classes médias recém
"burguesas" aceitaram essa tirania puritana até então desconhecida,
inclíndo uma defesa de um heroísmo de que a burguesia não havia
dado prova até então.

13. Razão Econômica:


A porcentagem de católicos entre alunos e bacharéis dos centros
"superiores" são inferiores à proporção demográfica. Bacharéis católicos
que se dedicam a preparação para estudos técnicos e profissionais de
tipo industrial e mercantil, em geral é inferior ao de protestantes.

14. Ensino:
Os católicos preferem formação do tipo humanista, tal fenômeno
não se explica por uma causa econômica , pelo contrário, tem que ser
levado em conta para explicar a menor participação dos católicos na
vida capitalista.
O fato dos protestantes se lançarem mais que os católicos para
postos superiores em fábricas e na burocracia industrial é porque existe
uma relação causal entre a escolha de uma profissão e todo destino
anterior a vida profissional que havia sido determinado pela educação
de uma aptidão pessoal, em uma direção influenciada por uma
atmosfera religiosa da pátria e do lugar.

15. Racionalismo Econômico:


Os protestantes mostram singular tendência para o racionalismo
econômico, tendência esta não encontrada entre os católicos. A razão
de distinta conduta está numa determinada característica pessoal
permanente e somente em uma certa situação histórico-política.

16. Antíteses entre Catolicismo e Protestantismo:


Os ideais do catolicismo vão em direção a educar seus fiéis no
sentido a indiferença para com os bens materiais, enquanto o
protestantismo tem o "materialismo" como consequência de uma
laicização.

17. Católicos e Protestantes:


É explicitado nesta obra que os protestantes colocam em xeque a
abnegação dos católicos, o que existe é apenas uma suposta oposição
entre os dois, na realidade esta oposição não ocorre, uma vez que
ambos participam da atividade capitalista.

18. O Calvinismo e a Reforma:


A conjunção de uma educação ascética na juventude com a
"virtude" capitalista no sentido dos negócios aliada a uma intensa
religiosidade, estão em todos os atos da vida, constituindo grupos
inteiros, seitas e igrejas mais importantes do calvinismo em qualquer
lugar.
Na época da expansão da Reforma, nenhuma religião foi
vinculada a uma classe social determinada, pois é característico,
"típico" por exemplo que nas igrejas francesas hugonotas, o maior
número de seus adptos eram formados por monjes e industriais
(comerciantes, artesãos), em toda época da perseguição.
Os espanhois sabiam que a "heresia" "favorecia o espírito
comercial", estava de acordo com o crescimento capitalista nos Países
Baixos. Gothein qualifica a Diáspora calvinista como o "viveiro da
economia capitalista". Existe uma conecção religiosa da vida e o
desenrolar intenso do espírito comercial.

19. Velho Protestantismo:


Lutero, Calvino e outros tem pouco a ver com o que se chama
hoje de "progresso", uma vez que eram hostis a muitos aspectos da
vida moderna da qual o propósito protestante atual não pode relegar. O
parentesco entre o velho e o novo protestantismo não encontra-se nas
manifestações do espírito materialista, e sim nas suas características
religiosas. Conforme Montesquieu, a contribuição que os ingleses
deram ao mundo foram: a religião, o comércio e a liberdade. Tal
pensamento coincide com a superioridade da ordem industrial, sua
aptidão para a liberdade.

CAPÍTULO I
O Espírito do Capitalismo

20. Espírito Capitalista:


Não é uma definição, um conceito e sim um objeto que se
investiga.. Este objeto é a "individualidade histórica", um conjunto de
conexões na realidade histórica, que se agrupa
conceitualmente como um todo, desde o ponto de vista de
sua significação cultural. Seu conteúdo se refere a um fenômeno cuja
significação radica-se em sua peculiaridade individual. Tem que se levar
em consideração os distintos elementos da realidade histórica, logo a
definitiva determinação conceitual só pode se dar ao término da
investigação.

21. A História e o Objeto:


É uma essencial característica de toda "formação de conceitos
históricos", para seus fins metódicos, a articulação em conecções
genéticas concretas, de ordem individual. Não se pode definir o objeto
de antemão, apenas pode-se ter uma antecipação, uma descrição
provisional do mesmo, do "espírito do capitalismo", espírito este que
carece de uma relação direta com o religioso, sendo assim, encontra-se
"isento de suposições".

22. Princípios de Franklin:


- "Pensa que tempo é dinheiro".
- "Pensa que crédito é dinheiro"
- "Pensa que o dinheiro é fértil e reprodutivo".
"Pensa que, segundo este refrão, um bom pagador é dono da
bolsa alheia".
"Pontualidade e justiça em todos os negócios faz progredir na
vida".
"As mais insiguinificantes ações podem influir sobre o crédito de
um homem, por isto devem ser temidas por ele"
"Procurar aparecer sempre como um homem cuidadoso e
honrado, assim seu crédito aumentará".
"Não deve o homem ter grandes despesas, deve economizar para
o futuro". .
23. Benjamin Franklin:
Escreve com peculiar estilo, o "espírito do capitalismo", mas sua
obra não contém todo o entendimento sobre tal "espírito". Segundo
Franklin, o homem tem "espírito capitalista", mas não sabe ganhar
dinheiro.

24. Filosofia da Avareza:


É o ideal do homem honrado dígno de crédito, e sobre tudo, a
idéia de uma obrigação por parte do indivíduo frente a interesses,
reconhecido como um fim em
sí, de aumentar seu capital. Não se trata apenas de uma técnica e sim
de uma "ética" peculiar, não se trata simplesmente de ensinar a
"prudência nos negócios" trata-se de um "ethos" que é expresso, e isto
é o mais importante a assinalar.

25. Jacobo Fugger:


Segundo Fugger, ao se ganhar o bastante, era aconselhável abrir
negócio próprio deixando o caminho livre para que outros tivessem a
mesma oportunidade. Seu parecer, e sua aspiração de ganho, o
"espírito", eram completamente distintos da posição espiritual de
Franklin, a qual se manifesta como consequência de um espírito
comercial atrevido e de uma inclinação pessoal de indiferença ética. O
conceito deste "espírito do capitalismo" é utilizado no moderno
capitalismo europeu-ocidental e americano.

26. Utilitarismo:
Todas as máximas morais de Franklin foram disvirtuadas no
sentido utilitarista: a moralidade é útil porque proporciona crédito, o
mesmo ocorre com a pontualidade, a laboriosidade, a moderação, e são
virtudes por causa disto, de onde se parte, que a aparência de
honradez prestasse idêntico serviço, onde o suficiente seria um parecer
honrado. Quando Franklin trata a "conversão" à virtudes, como
modéstia, é no sentido dos proveitos que a mesma proporciona,
beneficiando concretamente ao indivíduo.
O Utilitarismo se baseia na idéia da aparência da virtude, quando
assim se consegue o mesmo efeito que com a prática da virtude:
consequência esta inseparável do mais estreito utilitarismo.

27. Utilidade da Virtude:


Franklin se refere a uma revelação divina, no sentido de haver
descoberto a "utilidade" da virtude, desta maneira havia querido
mostrar à Deus a via virtuosa, declarando que aqui existe algo mais que
a simples envoltura de máximas puramente egocêntricas, por isto
mesmo que nesta "ética" há aquisição de mais e mais dinheiro,
evitando o gozo imoderado, como algo isento do ponto de vista
utilitário, como um fim em sí, como algo transcendente frente a
"felicidade" a utilidade do indivíduo em particular.
Não se trata de ganância para as satisfações de necessiadades
vitais
materiais do homem, e sim o que este deve adquirir, por ser esta a
finalidade de sua vida. Trata-se de uma "inversão" antinatural da
relação entre o homem e o dinheiro, para o capitalismo, é algo evidente
e natural e que ao mesmo tempo, contém uma série de sentimentos em
íntima conexão com idéias religiosas.

28. Trabalho ou Negócio?


A ganância do dinheiro quando se verifica legalmente, representa,
dentro da ordem econômica moderna, o resultado da expressão da
virtude do trabalho, e esta virtude, é fácil reconhecer, constitui o cerne
da moral de Franklin, tal como ele coloca em todos os seus trabalhos e
exposições. É a idéia do dever profissional, de uma obrigação que o
indivíduo deve sentir e a sente dentro de sua atividade "profissional",
utilizando a própria força de trabalho e "capital", esta idéia é
característica da "ética social" da civilização capitalista.

29. O Senhor Capital:


É o capitalismo, educa e cria pela via da seleção econômica os
sujeitos (empresários e trabalhadores) que necessita. Esta seleção
explica os fenômenos históricos. Esta idéia nasceu em grupos de
homens. Para o materialismo histórico ingênuo, as "idéias" são
"reflexos", "superestruturas" de situações econômicas na vida. Porém
deve-se recordar que o "espírito capitalista" já existia antes do
"desenrolar do capitalismo".
Na Antiguidade e na Idade Média, uma mentalidade como a que
expressa nos escritos de Franklin, haveria sido proscrita como
expressão de impura avareza, de sentimentos indígnos, como também
haveria de sê-lo em todos os grupos não integrados na economia
especificamente capitalista ou que não sabem se adaptar a ela.

30. Espírito Capitalista e Pré-Capitalista:


A diferença não está no grau de desenvolvimento do impulso de
ganhar dinheiro e sim na submissão sem reservas, a um impulso
incontrolado. A aquisição capitalista aventureira sempre foi natural em
todas as sociedades econômicas que praticassem o comércio
monetário, contendo uma ética desvalorizada. Mesmo diante do colapso
da tradição a falta de ética não foi encorajada, simplesmente tida
como desagradável, como fato dado e infelizmente inevitável. Tal
reserva era exposta nos tempos pré-capitalistas, onde a utilização
racional do capital e trabalho não haviam constituído-se em forças
dominantes da atividade econômica.
O capitalismo não pode utilizar como trabalhador o representante
prático do liberalismo arbitrário indisciplinado, assim como não pode
usar ( como ensinava Franklin) o homem de negócios que não sabe
guardar a aparência de escrupolosidade.

31. O "Tradicionalismo" e o Moderno Capitalismo:


O "espírito" do capitalismo repousa no sentido de um novo estilo
de vida sujeito a certas normas, submetido a uma "ética" determinada.
No sentido do salário desejado, tem-se que os salários não aumentaram
em relação aos rendimentos dos empresários, pelo contrário,
diminuíram por conta da ganância extraordinária dos mesmos.
O "tradicionalismo" é expresso na conduta de que o homem quer
"por natureza" não é ganhar mais e mais, senão viver pura e
simplesmente, como sempre tem vivido, e ganhar o necessário para
seguir vivendo.
O moderno capitalismo tem a intensão de acrescentar a
"produtividade" do trabalho humano aumentando sua intensidade, no
sentido de obtenção de lucro. Aumentando a jornada de trabalho,
rebaixando os salários para forçar os trabalhadores a trabalhar mais
que o devido para que os empresários continuem a obter seu lucro.
Assim existe uma correlação entre o baixo nível de salários e o aumento
da ganância do empresário.
O capitalismo tem como premissa básica que os salários inferiores
são "produtivos", uma vez que aumentam o rendimento dos
trabalhadores, tal pensamento encontra-se de acordo com o antigo
calvinismo, o povo só trabalha demasiado porque é pobre.
Salário inferior não é idêntico a trabalho barato. Seguindo neste
ponto de vista, o rendimento do trabalhador decaí quando o salário não
basta para satisfazer suas necessidades fisiológicas.

32. Trabalho Qualificado (Intelectual):


Dentro do ponto de vista comercial, o salário baixo como base de
desenvolvimento capitalista fracassa sempre quando se trata de
conseguir produtos
que exijam um trabalho qualificado (intelectual), neste caso o salário
baixo não é
rentável e causa efeitos contrários aos pretendidos, assim sendo é
necessário levar em consideração a eterna questão de combinar a
ganância costumeira com o máximo de comodidade e o mínimo de
rendimento, e ainda mais, a prática do trabalho como um fim absoluto,
como "profissão".
Esta mentalidade é produto de um processo educativo. Para o
capitalismo hoje é fácil recrutar trabalhadores em todos países
industriais e , dentro de cada país, em todas as esferas da industria,
porém no passado, o problema era difícil em cada caso.

33. Formação Religiosa e Educação Econômica:


Quando as pessoas possuem uma específica formação religiosa,
principalmente aquelas decorrentes da doutrina na predestinação são
mais favoráveis a uma educação econômica, se sentem mais
"obrigadas" ao trabalho, no sentido econômico, da ganância, em sua
quantia, como também possuem um astero domínio sobre sí, uma
moderação que aumenta sensivelmente a capacidade do rendimento do
trabalho.
Deste forma fica provado que é possível considerar o trabalho
como um fim em sí, como "profissão", que é o exigido pelo capitalismo,
logo é possível superar a parsimônia tradicionalista. Através do
capitalismo atual, e de indagações é possível observar épocas distintas
da formação do mesmo e fazer conecções da capacidade capitalista de
adaptação com os fatores religiosos.

34. A "Satisfação das Necessidades" e o "Lucro" /


"Tradicionalismo".
O que Sombart chama de sistema da economia de "satisfação
das necessidades" coincide com o que se chama de "tradicionalismo".
Precisamente quando se compara conceitos "necessidade" e
"necessidade tradicional". O que ele chama de "capitalismo" não se
encontra na esfera das economias "aquisitivas", entra no âmbito das
"economias de satisfação de necessidades".
Neste sentido, a expressão "espírito do capitalismo (moderno)"
designa uma mentalidade que aspira obter um lucro propiciando
sistematicamente uma profissão, uma ganância racionalmente legítima
como que exposto por Franklin, é por isto que tal mentalidade tem
encontrado sua realização na moderna empresa capitalista, ao mesmo
tempo, que esta pode reconhecer o mais adequado impulso espiritual.
No século XVI ocorriam tipos de atividade econômica como as
grandes exportações que só poderiam se dar na "forma" de empresa
capitalista, mas é
possível que o "espírito" que animou sua direção fosse de um estreito
tradicionalismo; tanto nos negócios, como os grandes bancos de
emissão não poderiam ser dirigidos de outro modo; o grande comércio
ultramarino durante várias épocas se apoiou em uma base de
monopólios, regulamentações de caráter rigorosamente tradicionalista.
Os comércios que necessitam de ajuda do Estado, estào em marcha de
mudanças, pondo fim ao tradicionalismo, acabando com as formas do
antigo sistema de trabalho doméstico.
No passado, a ganância era razoável, a suficiente para se viver
decentemente e, capaz de contribuir para a formação de um pequeno
capital, no geral, os concorrentes davam-se bem entre sí, pela grande
coincidência nos princípios do negócio; visitavam-se, bebiam juntos,
enfim, tinham um rítmo moderado de vida.
Era uma economia "tradicionalista" , se considerar o espírito que
animava os empresários: o gênero tradicional de vida, a ganância
tradicional, a medida tradicional do trabalho, o modo tradicional de
levar o negócio, a relação com os trabalhadores, a clientela tradicional e
o modo tradicional de tratar com a mesma, de efetuar transações. Este
tradicionalismo dominava a prática do negócio e pode-se dizer que
constituia a base de um "ethos" deste tipo de empresário.

35. Modificações:
Este bem-estar foi pertubado, se bem que não produziu uma
variação fundamental na forma de organização. Tratáva-se de
adaptação as novas necessidades e desejos dos compradores, uma
"acomodação ao gosto" de cada um, começou-se a colocar em prática
o princípio: "preço barato, grande consumo".
Desta forma teria início o processo de "racionalização", o início da
luta áspera entre os concorrentes, constituição de patrimônios
consideráveis, que não eram simplesmente fontes de renda, mas sim
voltado para negócios; a vida pacífica deu lugar a uma austera
sobriedade, onde havia a preocupação em não gastar para enriquecer.
O mais interessante é que não era a influência do dinheiro novo que
provocava esta revolução, era o novo espírito, o "espírito do
capitalismo" que havia se introduzido.

36. Novo Capitalismo:


Quando este desperta e se impõe, cria as possibilidades que lhe
servem de meio de ação. Porém este novo espírito não se introduz de
modo pacífico. Desconfiança, ódio, indignação moral envolveu os
primeiros inovadores.
Este "novo estilo" fazia com que o empresário devesse manter
domínio sobre sí, e para salvar-se do naufrágio moral e econômico
deveria ter extraordinária firmeza de caráter; e além de sua clara visão
e de sua capacidade para a ação, este deveria possuir qualidades
"éticas" claras para ganhar a confiança indispensável da clientela e dos
trabalhadores, devendo ter além disto força suficiente para vencer as
inúmeras resistências que ele haveria de se chocar em todos os
momentos.
E sobre tudo isto este homem deveria ter extraordinária
capacidade para o trabalho que se faz necessário para um empresário
desta natureza, o que é incompatível com uma vida de prazeres. Este
novo espírito encarna qualidades éticas específicas, de natureza distinta
as que se adaptam ao tradicionalismo dos tempos passados.

37. Novos Empresários:


Nào eram especuladores, e sim escrupulosos, de natureza
própria, específica para a aventura econômica, nào eram endinheirados
que criaram este novo estilo de vida retraído, porém sendo assim
possibilitavam o desenvolvimento da economia. Eram homens
educados na dura escola da vida, prudentes e fortes, sobrios e
perseverantes, entregues ao trabalho com devoção, com concepções e
"princípios" rigidamente burgueses.
38. Relação entre a Conduta Prática e os Princípios Religiosos:
Muitos acreditam que qualidades morais pessoais não tem nada a
ver com determinadas máximas éticas, com pensamentos religiosos, e
que portanto, o fundamento próprio do sentido mercantilista da vida é
de caráter negativo, e quando relacionados é também de caráter
negativo.

39. O "Tipo Ideal" de Empresário Capitalista:


Nada tem haver com ostentação grosseira ou refinada, evita o
gôzo de seu
poder, embaraça-se quando reconhecido socialmente. A regra é antes
de tudo ser modesto, antes que ser reservado. Sua riqueza não é para
sí, existindo somente a sensassão irracional de haver "cumprido"
apropriadamente sua obrigação.
Atualmente, com nossas instituições políticas, civis e comerciais,
com as
atuais formas da indústria e a estrutura própria de nossa economia,
este "espírito" do capitalismo poderia explicar-se, como produto de
adaptação. A ordem econômica capitalista necessita esta entrega a
"profissão" de enriquecer, é uma espécie de comportamento perante
aos bens externos, adequado a estrutura, ligado a condições de triunfo
na luta econômica pela existência, não é possível hoje se falar que
exista uma conexão necessária entre esse comportamento prático e
uma determinada "concepção unitária do mundo".

40. "Concepção de Mundo":


É determinada pela situação dos interesses político-comerciais e
político-sociais. Quem não adapta sua conduta prática a condições do
êxito capitalista, não consegue enriquecer. Assim como só foi possível o
rompimento com as formas de constituição econômica medieval
apoiando-se no poder do Estado moderno, o mesmo pode ocorrer em
relação aos poderes religiosos.

41. Nominalismo:
Alguns moralistas , da escola nominalista, aceitaram como dadas
as formas implantadas da vida capitalista, tratando de mostrar sua
licitude, sobre a necessidade do comércio, mas provando que a
"indústria" desenvolvida constitua uma frente legítima de ganância,
eticamente irreprovável, e ao mesmo tempo, falaram da doutrina
dominante considerando como lucro inevitável o "espírito" do proveito
capitalista, o qual não podiam valorizá-lo do ponto de vista ético. Desta
forma, segundo eles, torna-se impossível uma doutrina "ética" como a
de B. Franklin.

42. Racionalismo Econômico:


É o motivo fundamental da moderna econômia. Conforme
Sombart, é um crescimento da produtividade do trabalho que visa
romper os estreitos limites "orgânicos" naturalmente dados da pessoa
humana, quando submetido todo o
processo da produção a pontos de vista científicos. Este processo de
racionalização na esfera da técnica e da econômia influê sobre o "ideal
de vida" da moderna sociedade burguesa.
A idéia de que o trabalho está a serviço de uma racionalização de
bens materiais para prover a humanidade, tem estado sempre presente
na mente dos representantes do "espírito capitalista" como um dos fins
que tem marcado diretrizes a sua atividade.
Conforme Franklin escreveu, o racionalismo econômico se dá
quando o moderno empresário, com uma alegria vital, de cunho
"idealista" , proporcionada pela satisfação do orgulho de "haver dado
trabalho" a muitos homens e de ter contribuído para o "florescimento"
econômico de sua cidade, no sentido sensitário e comercial vê tal feito
como uma das mais importantes finalidades de sua vida profissional.
Uma das propriedades da econômia privada capitalista é também
estar racionalizada sobre a base do mais estreito cálculo, estar
ordenada com planejamento e austeridade, no sentido do êxito
econômico aspirado, em oposição ao estilo de vida do campesinato, e
do "capitalismo aventureiro", que atende mais ao êxito político e a
especulação irracional.

CAPÍTULO II
A Concepção de Vocação de Lutero
Tarefa da Investigação

43. "Profissão " ou Vocação?


A palavra "profissão" através de distintas línguas carrega a idéia
de uma missão imposta por Deus, não demorou para que todos os
povos protestantes adotassem seu significado atual, no sentido de
vocação, "dever", "ofício", no sentido puramente profano.
Não é somente no sentido literal, mas também como idéia é
nova, é
produto da Reforma. Nem na Antiguidade, nem na Idade Média a idéia
do trabalho implicava na idéia de uma profissão, é novo seu conteúdo
de conduta moral, como sentimento de um dever no cumprimento da
tarefa profissional no mundo. Como consequência, o sentido sagrado
do trabalho é que engendrou o conceito ético-religioso de profissão.
Em Lutero, esta idéia se desenrola durante os primeiros dez anos
de sua atividade reformadora. Em princípio, seguindo a tradição
medieval representada
por São Tomás de Aquino, estimava que o trabalho no mundo, quando
desejado por Deus, pertence a ordem da matéria sendo como um
fundamento natural indispensável da vida religiosa, não suceptível de
valoração ética.
Segundo Lutero, é evidente que somente a vida contemplativa
carece de valor para justificar-se perante Deus, sendo produto de
desamor egoísta, por isso é necessário submeter-se ao cumprimento
de deveres que precisa-se cumprir no mundo. Surge assim a idéia do
trabalho profissional como manifestação palpável de amor ao próximo,
onde o cumprimento das tarefas é o único caminho para satisfazer a
Deus, e isto ocorre porque assim Deus quer, e que portanto, toda a
profissão lícita possue diante de Deus o mesmo valor.

44. Lutero e o Espírito do Capitalismo:


Não existe afinidade íntima entre os dois. Os círculos eclesiásticos
que fizeram parte da Reforma, não são de modo algum amigos do
capitalismo, em nenhum sentido. Ele era contra a usura e os juros. O
efeito da Reforma, em contraste com a concepção católica, foi
aumentar a ênfase moral e o prêmio religioso para o trabalho secular e
profissional.
O posterior desenvolvimento da concepção de vocação, passou a
depender do desenvolvimento da religiosidade, que daí para frente foi
se dividindo nas várias igrejas reformadas. A autoridade da Bíblia, da
qual Lutero acreditava retirar a autoridade de sua concepção de
vocação, favorecia em seu todo uma interpretação tradicionalista.
A aspiração para acumular bens materiais em medida superior a
própria necessidade, manisfesta um estado de graça insuficiente, é
condenável, e só pode ter realização as custas dos outros.

45. Lutero e a Vida Profissional:


Lutero estima o trabalho profissional, a medida que se engendra
nas disputas e nos negócios deste mundo. O exercício de uma
determinada profissão constitui um mandamento que Deus dirige a
cada um, obrigando a permanecer na situação em que se encontre
colocado pela divina providência.

46. Lutero e a Estrutura Social:


Este tipo de conceito de estrutura social é típico da Idade Média,
uma concepção tradicionalista análoga a idéia de "destino"; cada qual
deve permanecer na profissão no estado em que seja colocado por
Deus de uma vez para sempre e conter dentro destes limites todas as
aspirações e esforços deste mundo.

47. Tradicionalismo Econômico:


É resultado dessa estrutura social, que em princípio era resultado
de uma indiferença, e que mais tarde passou a ser fruto da crença cada
vez mais forte na predestinação, que identifica a obediência
incondicional aos preceitos divinos, e a incondicional resignação como é
posto em que cada qual se encontra situado no mundo.

48. Trabalho Profissional e Idéias Religiosas:


Lutero baseou-se em princípios novos fundamentais para a
vinculação do trabalho profissional com as idéias religiosas. A pureza
da doutrina, como o único critério infalível de sua Igreja, afirmada por
ele, cada vez mais rígidamente depois de vinte anos de luta, constituía
em sí mesma um obstáculo para desenvolver pontos de vista novos no
terreno ético. Desse modo, o conceito de profissão manteve todavia em
Lutero um caráter tradicionalista.

49. Tauler / Lutero:


A ética religiosa medieval traz a idéia de profissão no sentido
luterano. Assim como Lutero, Tauler valorizava as profissões
intelectuais e profanas e, em geral estimava menos as formas
tradicionais do trabalho ascético, e consequentemente não gostava do
valor exclusivo reconhecido da recepção estático-contemplativa do
espírito divino pela alma.

50. Calvinistas, Católicos e Luteranos:


A reforma seria inimaginável sem a evolução personalíssima de
Lutero e a própria personalidade deste é que deu um selo permanente;
porém sua obra não seria duradoura sem o calvinismo. Por esta razão é
que os católicos e luteranos aborreciam-se igualmente com o
calvinismo, a raiz está em sua ética. A relação entre a vida religiosa e
as obras deste mundo é do tipo essencialmente distinto entre
calvinistas, católicos e luteranos. Tal aspecto aparece incluso na
literatura religiosa.

51. Calvino e Seitas "Puritanas":


Quando se investiga as relações entre a antiga ética protestante e
a evolução do espírito capitalista parte-se das criações de Calvino, do
calvinismo e de outras seitas "puritanas", não pretende-se afirmar que
os fundadores, representantes destas se encontrem no despertar do
que se chama "espírito do capitalismo", como finalidade de seus
trabalhos e atividades vitais.
Nenhum deles considerava a aspiração aos bens terrenos como
um valor ético, como um fim em sí. Nenhum dos reformadores deu
importância primordial aos programas de reforma moral, não eram
fundadores de associações de cultura ética nem representavam
aspirações humanitárias de reforma social e de ideais de cultura.
A salvação da alma e só isto era o desejo de Calvino, desejo de
sua vida e sua ação. Suas aspirações éticas e os efeitos práticos de sua
doutrina tinham uma finalidade primordial e eram meras consequências
de princípios exclusivamente religiosos. Por isto os efeitos da Reforma
na ordem da civilização, por preponderantes que se queira considerar,
eram consequências imprevistas e espontâneas do trabalho dos
reformadores desviadas e diretamente contrárias a que eles pensavam
e se propunham.

52. Reforma e Capitalismo:


Para que fosse possível a sobrevivência da novas Igrejas criadas,
é evidente que deveria cooperar incontáveis condições históricas, que
não se engajam em nenhuma "lei econômica", e são radicalmente
insuceptíveis de ser consideradas do
ponto de vista econômico; e sobre tudo influênciariam politicamente.
Seria
igualmente absurdo defender teses doutrinárias segundo a qual o
"espírito capitalista" só poderia ter nascido por influência da Reforma,
como que o capitalismo fosse um produto da mesma.
Em primeiro lugar, existem formas importantes de econômia
capitalista que são notoriamente anteriores a Reforma, e isto desmente
as teses pretendidas. É importante assinalar a existência de influências
religiosas na expansão quantitativa daquele "espírito" sobre o mundo, e
que aspectos concretos da civilização capitalista se devem a elas.
Dada a variedade de recíprocas influências entre os fundamentos
materiais, as formas de organização político-social e o conteúdo
espiritual das distintas épocas da Reforma, a investigação há de
concretizar-se a fim de estabelecer se haviam existido e em que pontos,
"afinidades eletivas" entre certas modalidades da fé religiosa e a ética
profissional.

II PARTE
A Ética Vocacional Do Protestantismo Ascético
CAPÍTULO IV
Fundamentos Religiosos Do Ascetismo Laico
53. Ascetismo:
Conjunto de práticas de abstinência com fins espirituais ou
religiosos.

54. Representantes Históricos:


Os representantes históricos do protestantismo ascético são
fundamentalmente quatro: Calvinismo, Pietismo, Metodismo e as seitas
que derivam do movimento Batista.
O Metodismo nasceu dentro da Igreja oficial anglicana e depois se
separou da mesma. O Pietismo veio do Calvinismo inglês e
singurlamente do holandês, mais tarde se incorporou ao Luteranismo
por razões dogmáticas, e mais tarde se converteu no Metodismo contra
sua vontade.

55. "Puritanismo" X Anglicanismo:


A massa de seguidores, como os defensores do movimento
ascético, que em seu sentido mais amplo foi definido como
"puritanismo" atacaram os fundamentos do Anglicanismo. A oposição
dava-se principalmente pelas diferenças dogmáticas relativas a
justificação e a predestinação, mesclando-se nas mais variadas
combinações e de ordinário, impediam no começo do século XVII a
manutenção de uma comunidade eclesiástica.

56. Conduta moral:


As manifestações mais importantes da conduta moral encontram-
se ao mesmo tempo em todas as seitas surgidas de uma ou da
combinação de várias assinaladas anteriormente. As mesmas máximas
morais, podem apoiar-se em fundamentos dogmáticos diferentes.

57. Compêndios Casuísticos:


Eram escritos que constituíam uma preciosa ajuda para a cura das
almas. Em relação a esses, haviam grandes semelhanças entre
distintas seitas, porém diferiam notoriamente no modo de comportar-se
na vida.

58. Moralidade Ascética e Éticas Não-Dogmáticas:


Raízes dogmáticas da moralidade ascética, tão distintas entre sí
deixaram de existir depois de sérias lutas, porém a conexão com esses
dogmas deixou a posteriori traços nas éticas não-dogmáticas, além
disso, o conhecimento original de idéias pode clarear a conexão desta
moralidade com a idéia do Além que estava presente entre os homens
espirituais da época.
Sem o poder onipotente não poderia realizar-se nehuma moral,
isto é, não seria possível revolução ética alguma de modo a influir na
vida. O homem daquele tempo meditava sobre dogmas aparentemente
abstratos numa medida somente compreensível quando se descobre
sua conexão com interesses práticos da religiosidade.

A - Calvinismo

É uma idéia religiosa, que foi determinante de muitas lutas em


torno da religião e da cultura nos países civilizados mais progressivos
do ponto de vista do capitalismo (Países Baixos, Inglaterra e França)
durante os séculos XVI e XVII. Seu dogma característico é a
"predestinação", é o dogma mais "essencial" da Igreja reformada.

59. Predestinação:

I. Capítulo IX: Do livre arbítrio:


Quando o homem caí em pecado, perde a capacidade de
encaminhar-se ao bem espiritual e a salvação, de modo que afastado
do bem e morto no pecado, não é capaz de converter-se e nem de
preparar-se.

II. Capítulo III: Do eterno decreto de Deus:


Para revelar sua magestade, Deus por seu decreto destinou
(predestinou) a uns homens a vida eterna e setenciou a outros a eterna
morte. Aos que estão destinados à vida tem sido eleitos em Cristo para
a glória eterna por Deus, antes da criação, por seu desígnio eterno e
imutável, por seu decreto secreto e o arbítrio de sua vontade, por livre
amor e graça, tudo é prêmio de sua graça soberana. Conforme a
vontade de Deus, aos restantes mortais, seguindo o desígnio de sua
vontade, ele distribuí e se reserva o direito de negar, condena-os a
desonra e à ira por seu pecado para a honra de seu ilimitado poder
sobre as criaturas.

III. Capítulo X: Da vocação eficaz:


É do agrado de Deus chamar por sua palavra e seu espírito a
todos aqueles a quem destinou a vida, e somente a estes, no tempo
conveniente e determinado por ele, tirando-lhes seus corações de
pedra e dando-lhes um coração de carne, renovando suas vontades e
decidindo-lhes, por sua firmeza onipotente, a optar pelo que é bom.

IV. Capítulo V: Da Providência:


No que diz respeito aos homens maus e impuros, aos que Deus
como juíz justo, ele os afasta de sua graça, e por vezes lhes tira os dons
que tinham e os põem em relação aos objetos de suas corrupções na
ocasião de pecado, entregando-lhes aos seus próprios prazeres, as
tentações do mundo e ao poder de Satanás, de onde sucede que se
endurecem e pelos mesmos meios se serve Deus para abrandar aos
outros.

60. Milton:
Sua opinião sobre a doutrina: "Mesmo que possa ser mandado
para o inferno por isto, tal vontade divina nunca receberá meu
respeito". Ele ainda dizia no Paraíso Perdido: "Antes reinar no Inferno,
do que servir no Paraíso".

61. Padres da Igreja Luterana:


Era dogma que a graça podia perder-se, mas poderia-se recuperá-
la por meio da humildade e do arrependimento, a confiança crescente
na palavra de Deus e nos sacramentos.

62. Calvino X Lutero e o Catolicismo:


Ao contrário de Lutero, a direção de seu pensamento lógico está
em seus interesses religiosos, orientado somente à Deus e não aos
homens, para ele somente um pequeno número de homens é chamado
a salvar-se. Deus é livre e sua decisão não está submetida a lei alguma.
O destino dos homens a Deus pertence, para além do
entendimento humano, os condenados, ou os excomulgados podiam
pertencer a Igreja, mas somente no sentido de submeter-se à sua
disciplina, para a glória de Deus, mas não podiam salvar-se. Neste
sentido existia a eliminação da salvação através da Igreja e dos
sacramentos, esta era a diferença central entre o calvinismo e o
catolicismo..

63. Puritanismo:
Rejeitava cerimônias religiosas ou rituais na hora da morte, para
não ser reestabelecida superstições em forças de salvação mágicas. O
indivíduo vive uma solidão interna, que leva a atitude negativa do
puritanismo onde a cultura e a religiosidade são inúteis para salvação
propiciando um individualismo pessimista, onde nem mesmo se
concebe a existência de uma possível amizade entre os homens,
devendo-se desconfiar de tudo e de todos, apenas ter Deus como
confidente, levando ao desaparecimento da confissão e
consequentemente ao isolamento espiritual.

64. O Mundo:
Existe apenas para a glorificação de Deus, o homem está inserido
no mundo para aumentar a glória de Deus, as obras sociais destinadas
a Deus, aparecem como vocações, sob a forma de "amor ao próximo",
objetivo, imparcial, intelectualizado, representando um valor ético
diante do cosmos.

65. A Fé:
Cada homem a princípio é escolhido por Deus, desta forma
combate todas as dúvidas e ao demônio, sua autoconfiança resulta de
sua fé que fortalece a dedicação na luta diária pela vida dinamizando o
mercado capitalista através de uma incessante atividade profissional.

66. A Religiosidade:
É o mais firme apoio a realidade, contribuíndo indiretamente para
a racionalização da conduta prática.
67. Vida Religiosa:
Em Lutero tende para o misticismo e para a emotividade, em
Calvino para a ação ascética, onde o estado de graça tem haver com
resultados objetivos, de obras realizadas por conta de uma conduta
eficaz constante, significando que Deus ajuda a quem se ajuda a sí
mesmo. O calvinista crê por sí mesmo a sua própria salvação,
assegurando a sí mesmo, consistindo num sistemático auto-controle,
cada dia encontra-se ante a alternativa: eleito ou condenado?

68. A Ética Católica:


Na Idade Média, era a "ética da intenção", onde o valor de cada
ação decidia sua concreta intenção, e cada ação boa ou má, era
imputada a seu autor, influenciando sobre seu destino temporal e
eterno.

69. A Igreja Católica Frente ao Homem:


Seu pensamento tinha critério realista, que o homem não
constituia em absoluto uma unidade determinada e valorosa dentro de
um único ponto de vista, senão que, normalmente, a conduta humana é
algo contraditório, por influência de motivações opostas. Mesmo assim
a Igreja exigia do homem uma radical mudança de vida e quando este
homem não correspondia ao ideal, a mesma através de seu poder e
educação aplicava o instrumento do sacramento da penitência.

70. A Graça Sacramental da Igreja Católica:


Estava a disposição do católico como meio de compensar sua
própria insuficiência: O sacredote era um mago que fazia milagres, que
tinha em suas mãos a chave do perdão, podía-se pedir ajuda a ele com
humildade e arrependimento, e ele administrava penitências e
outorgava esperanças de graça, segurança de perdão e garantia a
emancipação da terrível angústia.

71. O Destino do Calvinista:


Era inexorável, nada podia redimí-lo, não haviam conselhos
amistosos e humanos e de forma alguma existia reparação por meio de
boas obras das horas de debilidade e leviandade. As boas obras para o
calvinista encontrava-se em sua "santidade", não havia oscilação entre
o pecado, o arrependimento, a penitência, não existia um
estabelecimento de um saldo expiatório por penas temporais e
canceladas por meios eclesiásticos da graça.

72. A Sustentação do Homem:


O que sustenta o homem é uma planificação e uma metodização,
uma transformação no sentido da vida em cada hora e em cada ação. A
vida do "santo" se encaminha para uma única finalidade: a salvação,
por isso é que na vida tudo é racionalizado e dominado pela idéia
exclusiva de aumentar a glória de Deus. Somente uma vida
guiada por uma constante reflexão pode ser considerada como
superação do status natural. Esta racionalização propiciou o caráter
ascético e ao mesmo tempo, constitui a razão de sua íntima
semelhança e de sua específica oposicão ao catolicismo, ao qual,
naturalmente, não era estranha uma atitude semelhante.

73. Identidade entre Santo Inácio e Calvino:


Ativo domínio de sí mesmo, reservado auto-controle, educação no
sentido de levar uma vida alerta, clara e consciente, onde a tarefa
principal repousava em se terminar com a despreocupação e com a
espontaneidade vital.

74. Metodização da Vida:


É a base do poder liberador do asceticismo, explica a maior
capacidade do calvinismo frente ao luteranismo, no sentido de
assegurar a consistência da Igreja reformada como eclesiástica
militante.

75. Oposição entre Asceticismo Calvinista e Medieval:


Radica-se na transformação do asceticismo sobrenatural em uma
atividade "profana", terrena. A ordem terceira de São Francisco, por
exemplo, era um potente ensaio de penetração ascética na prática
cotidiana da vida, diferentemente da Idade Média, onde o monge era
separado do mundo, das relações sociais. A Reforma veio converter
cada cristão a monge por toda a sua vida, através da comprovação da
fé na vida profissional.
Os espíritos mais religiosos receberam impulso decisivo que os
orientavam na prática do asceticismo, ao mesmo tempo, a
fundamentação da ética profissional na doutrina da predestinação fez
surgir no lugar da aristocracia espiritual dos monges situados fora da
vida uma outra aristocracia, a dos "santos" no mundo, predestinados
por Deus desde a eternidade, a qual estava separada do resto dos
homens, condenados também desde a eternidade, por um abismo
insondável e profundo. A "Bibliocracia" dos calvinistas manteve tanto os
preceitos morais do Velho Testamento como apreço aos do Nôvo
Testamento.

76. Racionalismo do Antigo Testamento:


Possuía um caráter tradicionalista e pequeno burguês, Benjamin
Franklin oferece um exemplo clássico, uma contabilidade sinóptico-
estadística dos progressos realizados por ele em cada uma das virtudes.

77. Consequência desta Metodização:


A consequência desta metodização da conduta ética, imposta
pelo calvinismo (não pelo luteranismo), era uma penetrante
cristianização de toda a existência, e esta radica a característica mais
decisiva da reforma calvinista. A religiosidade calvinista, pressupõe a
doutrina da predestinação como fundamento dogmático da ética
puritana. A fé como ponto de partida da moral metódica mediante a
doutrina da predestinação alcança sua praticidade na vida constituíndo-
se na forma mais consequente da mesma.
Dentro do protestantismo, as consequências desta doutrina sobre
a conduta ética de seus adeptos, constitui a mais radical antítese em
relação a uma certa impotência ética do luteranismo.

B - Pietismo

Historicamente, a idéia da predestinação constitui o ponto de


partida da direção ascética que se designa correntemente como
"pietismo". Este movimento se manteve somente dentro da Igreja
reformada, existem calvinistas pietistas e não-pietistas. Representantes
mais notáveis do puritanismo foram tidos como pietistas, portanto
considera-se como uma prolongação pietista a doutrina de Calvino, que
tem por intenção a conexão da idéia de comprovação da doutrina da
predestinação, com a aspiração a adquirir uma certitudo salutis
subjetiva.

78. Predestinados:
Os predestinados eram acometidos por erros dogmáticos, e por
outros pecados, a experiência ensinava que cristãos desorientados na
teologia dogmática produziam os frutos mais maduros da fé, enquanto
que o mero conhecimento teológico não implicava na segurança de
uma regeneração, logo, o saber teológico não era garantia a eleição.

79. A Inauguração do Pietismo:


Deu-se com desconfiança na Igreja dos teólogos, a que
permaneceu fiel oficialmente, limitando-se a agrupar os adeptos da
praxis pietatis em "conventículos" apartados do mundo. A ecclesiola dos
verdadeiros convertidos podiam alcançar neste mundo a bem-
aventurança, pois a prática ascética realizava a comunidade com Deus.
Esta aspiração tinha alguma semelhança com a unio mystica luterana e
favorecia certa preponderância do aspecto sentimental da religião, isto
é o que caracteriza o pietismo dentro da Igreja reformada, pois o fator
sentimental da religiosidade, orientou a prática da religião pela via do
gozo terreno da bem-aventurança afastando-a da luta ascética pela
segurança de um mundo futuro.

80. O Caráter Histérico da Religiosidade:


Por causa do fator sentimental, muitas vezes a religiosidade foi
exarcebada, através de estados de êxtasis religiosos, o que é oposto a
austera e rígida disciplina que impunha ao homem puritano uma vida
"santa" e sistemática. A idéia na predestinação podia converter-se em
fatalismo quando era objeto de apropriação por parte dos afetos e dos
sentimentos, em oposição as tendências genuínas da religiosidade
calvinista racional.
81. Efeito Prático dos Princípios Pietistas:
O único efeito prático dos princípios pietistas foi um controle
ascético da conduta profissional muito mais severo com enraizamento
mais religioso da ética profissional, do que podia ter a simples
"honradez" dos cristãos reformados normais, a quem os pietistas "finos"
consideravam cristãos de segunda categoria.

82. Representantes do Luteranismo Alemão:


Spencer, Francke e Zinzendorff.

I. Spencer :
É influenciado pelos místicos, a doutrina carecia de coesão e
tratou mais de descrever do que fundamentar o caráter sistemático da
conduta cristã.

II. Francke:
Segundo ele, o trabalho profissional era um meio ascético por
excelência; para ele era tão seguro, como para os puritanos, que Deus
abençou dando-lhes êxito em seu trabalho. A tese sustentada por ele
era que a graça só podia acontecer em algumas manifestações
ocasionais e peculiares, porém trazendo "luta expiatória".

III. Zinzendorff:
A valorização religiosa de sí mesmo, o conduz a antiga idéia do
"instrumento de Deus". Expressou com espírito puritano, a opinião de
que apesar de um homem não reconhecer seu estado de graça, outros
podem fazê-lo através de sua conduta.

83. Tese Característica de Zinzendorff:


A ingenuidade do sentimento religioso é prova de sua
autenticidade, desprezando o racionalismo da conduta. Aspira que os
homens sintam a "felicidade" nesta vida, por meio do sentimento, em
lugar de forçar-lhes ao trabalho racional como modo de assegurar uma
outra vida. Este foi um freio para a criação de uma ética profissional
racional análoga a calvinista.
84. O Elemento Ascético-Racional:
No geral, dentro do pietismo, o elemento ascético-racional
manteve a primasia sobre o fator sentimental. Existe uma insegurança
do pietismo alemão, uma vacilação de seu ascetismo religioso em
contraste com a férrea consequência do calvinismo que é devido a
influências luteranas e ao caráter sentimental de sua religiosidade

85. Idéias Fundamentais do Pietismo:


1) A significação do estado de graça consiste no desenvolvimento
da própria santificação no sentido de uma consolidação e perfeição
crescente, controlado pela lei.
2) A providência de Deus é a que "opera" no homem perfeito,
dando-se a conhecer na paciente perserverança e na reflexão
metódica.

86. A Evolução do Pietismo:


Na busca da salvação, não é decisivo tanto a "santificação"
prática mas a "remissão dos pecados", existe a necessidade de sentir
nesta vida a reconciliação e a comunidade com Deus. No todo, a
evolução do pietismo, de Spencer, Francke e Zinzendorff se orientou no
sentido de uma crescente acentuação do fator sentimental. O
calvinismo em comparação, está mais relacionado com o legalismo e
com a emprêsa capitalista burguêsa.

C - O Metodismo

É o pietismo continental caracterizado pela união da religiosidade


sentimental, com a crescente indiferença e uma repulsa pelos
fundamentos dogmáticos do asceticismo calvinista. Consiste na
"metodização" sistemática da conduta como meio de alcançar a
certitudo salutis, é o que interessa em todos os momentos, em toda
tendência religiosa.

87. Afinidade com o Pietismo Alemão:


Está no "método" aplicado especialmente para produzir o ato
sentimental da "conversão" sobre as massas. Em reuniões públicas,
através de êxtases religiosos buscava-se a consciência da justificação e
a reconciliação com Deus.

88. Metodismo X Pietismo Alemão:


A diferença está no caráter emocional da religiosidade do
metodismo que não deu lugar a um cristianismo sentimental puramente
interior, a regenração dá um enfoque religioso a conduta prática.

89. Metodismo X Calvinismo:


Enquanto no calvinismo se considerava enganoso a exarcebação
do sentimento, para o metodismo, é o fundamento incontrovertido da
certitudo salutis, da segurança absoluta do agraciado, sentida por ele,
derivada do testemunho direto do espírito e cuja origem devia constatar
cada dia e cada hora. A finalidade da "santificação" é difícil ser
alcançada nesta vida, porém deve ser aspirada incondicionalmente, por
ser ela a garantia da certittudo salutis. Embora o auto-testemunho seja
decisivo, existe a necessidade da conduta "santa" inspirada na lei.

90. Afinidade entre o Metodismo e o Calvinismo:


O significado da conduta era o mesmo, indispensável para
controlar a verdadeira conversão.

91. As Obras:
São fundamentos cognoscitivos do estado de graça, sendo
realizadas exclusivamente para a glória de Deus, foram consideradas
como "condição da graça", insistindo em que quem não realiza boas
obras não pode ser um bom crente. Aspira racionalmente à perfeição.

92. Metodismo X Igreja Oficial:


A principal diferença não estava na doutrina e sim na prática da
piedade. O valor do "fruto" da fé apoiado no Evangelho de São João, I,
3, 9, considerou a conduta como claro significado da regeneração.
Cada luta expiatória se unia a segurança da perseverança, havia uma
segurança inabalável em ser "santo", levando a uma exaltação
sentimental do tipo puritana.

93. A Concepção de Regeneração:


Constitui-se na segurança da salvação nascida sentimentalmente
como fruto da fé, como fundamento imprescindível da santificação, com
sua consequência de liberdade, contra o poder do pecado, como prova
do estado de graça. O metodismo passou a ser a doutrina da graça e da
eleição.

D - As Seitas Batistas

94. Ética:
A ética se encontra numa base diferente da doutrina calvinista.
Constiui-se na apropriação interior da obra da redenção, realizada por
intermédio da revelação individual, pela ação do espírito divino em cada
caso. Frente a isso perdia a importância o valor da fé como
conhecimento da doutrina da Igreja como meio de receber a divina
graça pelo arrependimento. Como a verdadeira Igreja de Cristo, só os
regenerados são irmãos de Cristo. Uma rígida bibliocracia imperava
como modelo exemplar de vida e como consequência, uma estrita
separação do "mundo".

95. "Idolatria" e Religiosidade:


Existia uma repulsa radical a "idolatria", era pretendida uma
tenuação da veneração que só a Deus se deve, a conduta bíblica tem
um caráter análogo a da conduta franciscana, onde a importância em
última instância era do testemunho interior do Espírito da razão e da
consciência, não concebia a doutrina eclesiástica da salvação
desvalorizando os sacramentos, elevando o "desencantamento"
religioso do mundo, acabou com batismo e comunhão.

96. Regeneração:
Operada pelo Espírito, quando entrega-se interiormente a ele,
pode ser removido o pecado, não era regra geral alcançar a perfeição,
mas a aspiração é a "pureza", no sentido da conduta. O afastamento do
mundo, de seus interesses e a incondicional submissão à Deus que
manda a consciência eram significados seguros de uma regeneração
real, e a conduta correspondente era, portanto, um requisito para se
conquistar as bem-aventuranças (dom gratuíto da graça divina).

97. Predestinação e o Caráter da Ética:


Esta doutrina foi abandonada, o caráter metódico da ética se
baseava em "aguardar" a ação de Deus, essa silenciosa espera
consiste em superar o instinto irracional, as paixões e "subjetividades"
do "homem natural".

98. Movimento Batista e a Vida Profissional:


A ação calma do homem possibilitou uma educação na serenidade
do trabalho reflexivo e na prática cuidadosa do exame individual da
consciência e a consequência foi que a prática de virtudes como
serenidade, austeridade e honradez, acabaram por fazer parte do
trabalho profissional, respeitando a propriedade privada, colaborando
para o desenvolvimento de aspectos básicos do espírito do capitalismo.

99. Moralidade:
Era rígida e severa, desde Lutero, se condenava o ascetismo
sobrenatural monástico, considerando-o contrário ao espírito bíblico.

100. "Tunker":
Esta seita batista condena a educação, e qualquer posse além do
indispensável à vida.

101. Concepção Profissional Calvinista:


A concepção profissional calvinista era análoga a que se
encontrava em Spencer e nos pietistas alemães.

102. Interesses Profissionais Econômicos:


1) Não aceitação de cargos públicos
2) Hostilidade a qualquer estilo aristocrático de vida
103. Efeitos do Calvinismo:
Desencadearam as energias econômicas individuais, o lucro
imoderado.

104. Mercantilismo:
O controle, verdadeiramente policial e inquisitorial, que as Igrejas
oficiais calvinistas implantaram sobre a vida individual, podia melhor
constituir na expansão das energias individuais requerida pela
aspiração ascética de santificação metódica, e assim ocorreu em certas
circunstâncias.
Assim a regulamentação mercantilista do Estado pode implantar
indústrias novas, porém não foi capaz de engendrar diretamente o
"espírito capitalista", pode-se até dizer que constituiu em um freio, pois
essa regulamentação exagerou seu caráter policial-autoritário.
Assim também a regulamentaçào eclesiástica do ascetismo forçou
a realização de uma conduta externa, porém refreiou os impulsos
subjetivos que havia na conduta metódica.

105. Influência da Idéia Puritana Sobre a Vida Econômica:


A doutrina do "estado religioso de graça", como um status que
afastava o homem do "mundo" não podia dar-se por meios mágico-
sacramentais, nem pela confissão, nem pela piedade e sim pela
comprovação de mudança de vida, clara, diferenciada da conduta do
"homem natural", seguía-se que a partir daí, o indivíduo controlava
metodicamente sua conduta e portanto ascetizava seu comportamento
na vida. porém este estilo de vida racionalizava a existência, de acordo
com os princípios divinos.
Este ascetismo consistia numa realização exigida a quem
pretendesse ser "santo", na vida do mundo. Esta racionalização da
conduta no mundo com finalidade para além deste mundo foi o efeito
da concepçào que o protestantismo ascético teve da profissão.

CAPÍTULV
A Ascese e o Espírito do Capitalismo
106. Ascese:
Exercício prático que leva efetiva realização da virtude.

107. Prostestantismo e Atividade Econômica:


Para perceber as conexões das idéias religiosas do protestantismo
ascético com as máximas da atividade econômica, deve-se recorrer aos
escritos teológicos diretamente inspirados na prática da cura das almas;
pois em uma época em que as preocupações sobre a outra vida era
tudo, em que a admissão a comunhão dependia da posicão social do
cristianismo, e em que a ação do sacerdote exercia uma influência da
qual apenas pode-se formar idéia sobre os homens de hoje, é evidente
que as energias religiosas que operam nesta prática haviam de ser
necessariamente os fatores decisivos na formação do "caráter popular".

108. Richard Baxter:


Representante do puritanismo inglês, nasceu no seio do
calvinismo, deu a idéia de profissão seu fundamento mais consequente.
De posição prática e irônica, presbiteriano, emancipou-se da tutela
dogmática da ortodoxia calvinista, contrário a usurpaçào de Cronwell
( por sua hostilidade a toda revolução, sectário e fanático dos "santos"),
porém tolerante ante as discrepâncias em matérias não fundamentais e
sempre objetivo ante o adversário, buscou seu campo de ação no
fomento da vida ético-eclesiástica e por servir esta finalidade, colocou-
se a disposição do governo parlamentarista, de Cronwell e da
Restauração.
Seu Christian Directory é o mais amplo compêndio existente de
moral puritana, e, em geral trata de satisfazer as necessidades práticas
da cura das almas, acentuando especialmente os elementos ebioníticos
do Novo Testamento. Segundo ele a riqueza constitui-se em sí mesma
num grave perigo, suas tentações são incessantes, e aspirar a ela não
só é um absurdo por comparação com a infinita superioridade do reino
de Deus, como é também éticamente reprovável.

109. Baxter e Calvino:


Baxter quiz ser mais realista que Calvino, pois seu ascetismo
direcionava-se a matar toda a aspiração ao enriquecimento através de
bens materiais. Calvino podia até considerar que a riqueza constituía-se
num obstáculo para a ação dos clérigos, no entanto, propiciava um
aumento de prestígio, e com o lucro podía-se aumentar um patrimônio,
porém sob a condição de não ocorrer escândalo.

110. Relação entre Baxter e São Tomás:


Os dois acreditam ser reprovável para a moral a existência na
riqueza do gozo dos bens, em que a consequência é a sensualidade e a
ociosidade levando ao desvio das aspirações à uma vida "santa".

111. Racionalização do Tempo:


Baxter considerava pecado a perda de tempo por ser a duração
da vida breve e preciosa, sendo condenável do ponto de vista moral,
porém não considerava como Franklin que "tempo é dinheiro", mas
quando é gasto na vida social rouba-se do trabalho que tem por
finalidade servir a glória de Deus.
Não aprovava a simples contemplação nem a ociosidade
profissional, sendo favorável ao trabalho duro e continuado, corporal e
espiritual, sendo meio ascético reconhecido pela Igreja ocidental em
todos os tempos, previnindo as tentações.

112. Racionalização da Conduta Sexual:


Concebia o sexo somente como um elemento do matrimônio,
desejado por Deus, para aumentar sua glória, de acordo com o preceito:
"crescei e multiplicai-vos". Era contra a tentação sexual e a angústia
religiosa, precrevendo remédios tais como, dieta sóbria, regime
vegetariano, banhos frios, porém acima de tudo isso, "trabalhar
duramente em sua profissão".

113. O Trabalho como Fim Absoluto na Vida:


Prescrito por Deus, aplicando-se incondicionalmente a todos,
sentir-se disgostoso no trabalho é prova de falta de estado de graça.

114. Relação entre Basxter e Sào Tomás quanto ao Trabalho:


Embora São Tomás tenha interpretado o princípio como Baxter,
ele tinha o trabalho como extritamente necessário para a conservação
da vida individual e social, pois segundo ele, quando não existe esta
finalidade, cessa a validez do princípio, validez genérica, não individual.
Deus designou a cada um, sem distinção alguma, uma profissão,
que o homem deve conhecer e na qual há de trabalhar, e que não
constitui, como no luteranismo, um "destino" que se tem que aceitar e
com o qual tem-se que conformar, é um preceito que Deus dirige a
todos os homens com a finalidade de promover a própria honra.

115. Divisão do Trabalho:


O fenômeno da divisão do trabalho e da estruturação profissional
já havia sido interpretado, entre outros, por São Tomás de Aquino como
derivação direta do plano divino do mundo. A integração do homem
neste cosmos é causa natural e era puramente casual.
Para Lutero, a integração do homem na profissão e estando na
ordem histórico-objetiva era derivação direta da divina vontade e
constituía, portanto, um dever religioso para o homem manter-se
dentro dos limites e na situação que Deus lhe havia designado.

116. Religiosidade, Interesse Econômico e Profissionalização:

I. Concepção Puritana:
A concepção puritana adquire matizes novas quanto ao caráter
providencial da interação dos interesses econômicos-privados. Qual era
um fim providencial da admissão do homem a uma profissão, se
reconhece em seus frutos, segundo o esquema puritano de
interpretação pragmática.

II. Baxter:
Baxter tecia elogios a Adam Smith, no tocante a divisão do
trabalho, a especialização das profissões, porque segundo ele,
possibilita a destreza do trabalhador, ocorrendo um aumento
quantitativo e qualitativo do trabalho promovendo um bem geral..
O ideal é ter uma profissão fixa e não trabalhos ocasionais, a vida
de quem carece de profissão não tem o caráter metódico, sistemático,
que exige a ascetização da vida no mundo, que é consequência da
virtude, uma comprovação do estado de graça da honradez, cuidado e
método que se coloca no cumprimento da própria tarefa profissional.

117. Pragmatismo:
Uma profissão é útil pela graça de Deus, é determinada em
primeiro lugar por critérios éticos e, em segundo, pela importância que
tem para a "coletividade" os bens que ela há de produzir, e em terceiro,
o mais importante, do ponto de vista prático, o "proveito" econômico
que a mesma produz ao indivíduo.
É necessário seguir o caminho que Deus mostra no sentido da
riqueza, pois não é bom seguir outros caminhos desviando do
enriquecimento, porque significa que se colocou obstáculos a vocação
negando ser administrador de Deus aceitando os dons para utilizar para
seu serviço. Querer ser pobre é querer estar enfermo, seria como
santificar as obras e ir contra a glória de Deus.
Pode-se trabalhar para ser rico, mas não utilizar a riqueza para
serviço da sensualidade e dos pecados, senão para honrar com ela a
Deus, sendo este um preceito obrigatório.

118. Mentalidade Judáica e Ética Econômica:


Coincide com a do capitalismo "aventureiro" do tipo político-
especulativo, seu ethos, é do capitalismo pária, o puritanismo tem o
ethos da indústria racional burguesa e da organização racional do
trabalho, e só o que se engaja nestes moldes é que foi tomado da
ética judáica.

119. Burguesia Puritana:


Achava que sua conduta era irreprovável pela graça de Deus,
determinando o caráter formalista, austero e correto, próprio dos
exemplares representantes daquela época heróica do capitalismo.

120. Vida Capiltalista:


O estilo de vida capitalista na concepção puritana de profissão é o
ideal de uma conduta ascética. A ascese se dirigia contra a
"despreocupação" da existência e agindo-se ao contrário, isto é,
mostrando-se preocupado, tería-se alegria.
121. Divertimentos Populares:
Os puritanos combateram com fúria a disposição real, que
tolerava legalmente certos divertimentos populares no domingo, fora
das horas dedicadas ao cumprimento dos deveres religiosos, não só
porque pertubava o descanço do sábado, mas porque implicava numa
direta oposição a que deve ser ordenada a conduta do "santo".
O gozo desenfreado da vida, alheio ao trabalho profissional, era
inimigo do ascetismo racional, bem como os jogos, ou uma frequente
ida ao baile da taberna, próprio do homem vulgar, existia também uma
hostilidade frente aos bens culturais quando disvinculados da vida
religiosa, ou mesmo os que causassem polêmica teológica, respeitando
porém a ciência.

122. Superstições e Irracionalismo de Comportamento:


Os puritanos odiavam a administração mágica da graça, indo
também contra o despreocupado sentido artístico da Igreja.
Condenavam o teatro, o erotismo, a nudez e todo o modo irracional de
comportamento, por não servir a glória de Deus, apenas ao homem..
Empregaram finalidades na utilização de motivos artísticos, e este
critério racional foi inclusive aplicado nos trajes pessoais.

123. Uniformização e Capitalismo:


A tendência a uniformização que tem conexão com interesses
capitalistas na estandartização da produção, tem seus fundamentos
ideais na repulsa da "idolatria". O estilo vital puritano, favoreceu
predominantemente a literatura e as gerações posteriores. Quanto
maior for a riqueza, tanto mais forte é o sentimento de
responsabilidade por sua conversão para a glória de Deus, isto por meio
de um trabalho incessante.
A gênisis deste estilo de vida tem alguma de suas raízes (como
tantos outros elementos do moderno espírito capitalista) na Idade
Média, porém somente na ética do protestantismo ascético, que se vê
de modo claro seu alcance para o desenvolvimento do capitalismo..

124. "Espírito do Capitalismo":


A valorização ética do trabalho incessante, continuado e
sistemático na profissão absolutamente segura e visível de regeneração
e de autenticidade da fé, construiu a mais poderosa expansão da
concepção da vida que temos chamado "espírito do capitalismo".
Se a estrangulação do consumo juntarmos a emancipação do
espírito de lucro de todos os trabalhos, o resultado inevitável será a
formação de um capital como consequência desta conexão ascética
para a poupança.

125. "Agricultura Racional":


O puritanismo e Baxter tiveram grande estima pela agricultura
como ramo particurlamente importante da atividade econômica e por
ser especificamente compatível com a fé, porém não aos junkers e
outros mais, somente ao "agricultor racional".

126. O Moderno "Homem Econômico":


O poder exercido pela concepção puritana da vida não só
favoreceu a formação de capitais, mas o mais importante, foi favorável
sobre tudo para a formação da conduta burguesa racional desde o
ponto de vista econômico, de que o puritano foi o representante típico e
mais consequente , desta concepção, pois, assistiu ao nascimento do
moderno "homem econômico". Porém estes ideais de vida fracassaram
ao não poder resistir a dura prova das "tentações" de riqueza, bem
conhecidas pelos mesmos puritanos.

127. Religião e Riqueza:


Toda a história das ordens religiosas é em certo sentido uma
contínua luta em torno dos problemas da ação secularizadora da
riqueza. A religião produz laborosidade (indústria) e sobriedade
(frugalidade), as quais são causa de riqueza. Porém uma vez que a
riqueza aumenta, aumentam com ela a soberbia, a paixão e o amor ao
mundo em todas as formas. Subsiste a forma de religião, porém seu
espírito vai secando paulatinamente.

128. Raízes Religiosas e Plenitude Econômica:


Este poderoso movimento religioso, cujo alcance para o
desenvolvimento econômico consistiu em seus efeitos educativos
ascéticos, no desenrolar da plenitude de sua influência econômica, não
passou de exacerbação do entusiasmo religioso, quando a busca
exaltada do reino de Deus converteu-se em austera virtude profissional,
quando as raízes religiosas começaram a secar-se e a ser substituídas
por considerações terrenas utilitárias.

129. Empresário Burguês, Trabalhador e a Mais Valia:


O empresário burguês podia e devia guiar-se pelo seu interesse
de lucro, sua consciência em estado de graça, abençoado por Deus,
tinha por condição se mover sempre dentro dos limites do correto, com
sua conduta ética inatacável, não fazendo uso inconviniente de sua
riqueza.
Pelo seu grande poder de ascetismo religioso tinha a sua
disposição trabalhadores sobrios, honrados, de grande resistência e
lealdade para o trabalho, por eles considerado como uma finalidade da
vida desejada por Deus.
Tinha a segurança tranquilizadora de que a desigual repartição
dos bens deste mundo é obra especial da providência divina, que, por
meio destas diferenças e do particularismo da graça, persegue
finalidades ocultas, desconhecidas dos homens.

130. Teoria dos Salários Baixos: Teoria da "Produtividade":


A ética medieval não só tolerou a mendicância, como glorificou
as ordens mendicantes, formaram uma "classe", sendo valorizados
como tal, pois os ricos podiam realizar boas obras e dar esmolas. As
seitas protestantes e as comunidades estritamente puritanas não
admitiam em seu seio a mendicância.

131. Zinzendorff, Seitas Batistas, Trabalho e Enriquecimento


como Profissão:
Zinzendorff glorificava os trabalhadores que fossem fieis a uma
profissão, que não se preocupavam com ganância, quando viviam de
acordo com o modelo apostólico.
As seitas batistas, eram mais radicais. A partir daí começou a
dominar a idéia que o trabalho honrado, é coisa grata de Deus e que
quando se realiza por baixos salários, visto que a vida não brindou com
maiores possibilidades, fazia parte da ascese protestante.
Assim impulsiou a idéia do trabalho como profissão como meio
preferível e este como o único modo de alcançar a segurança da graça;
por outro lado legalizou a exploração da disposição para o trabalho,
desde o momento que também o enriquecimento do empresário
constituiu-se numa profissão através da "produtividade" do trabalho no
sentido capitalista da exclusiva aspiração a alcançar o reino de Deus
por meio do cumprimento do dever profissional e o severo ascetismo,
que a disciplina eclesiástica impunha como coisa natural as classes
despossuídas.

132. O Espírito do Ascetismo Cristão:


Este engendrou um dos elementos constitutivos do moderno
espírito capitalista, e não só deste, como também da civilização
moderna: a racionalização da conduta sobre a base da idéia
profissional.
Já no tratado de Franklin percebe-se os elementos essenciais
desta mentalidade que chamamos "espírito do capitalismo"; que são
justamente os mesmos que se acabou de reconhecer como fazendo
parte da ascesis profissional puritana, a raiz religiosa já existia em
Franklin.

133. Goethe:
Em Goethe é encontrada a idéia do trabalho profissional moderno
como possuidor de caráter ascético, em "Wanderjahren" e na conclusão
de Fausto: a limitação do trabalho profissional, com a consequente
renúncia da universalidade fáustica do humano, é uma condição válida
valiosa do mundo atual, e que, portanto, a "ação" e a "renúncia" se
condicionam reciprocamente de modo inexorável; e isto não é outra
coisa que o motivo radicalmente ascético do estilo vital do burguês
(supondo que, efetivamente, constituía um estilo e não a negociação
de todo estilo de vida).
Com isto expressava Goethe sua despedida, sua renúncia a um
período de humanidade integral e bela que não voltará a dar-se na
história, do mesmo modo que não voltará a dar-se outra época do
florescimento ateniense clássico.

134. A Realização do Ascetismo:


O ascetismo se propôs transformar o mundo e quiz se realizar no
mundo, não é estranho, pois, que as riquezas deste mundo
alcançassem um poder crescente e, em último termo, irresistível sobre
os homens, como nunca se havia conhecido na história.

135. Capitalismo Vitorioso:


O capitalismo não necessita mais de apoio religioso, pois
descansa em fundamentos mecânicos, como também morreu a
mentalidade da "ilustração", e a idéia do "dever profissional". Não se
sabe quem ocupará no futuro este vazio, ou se surgirá um renascimento
de antigas idéias e ideais, ou se pelo contrário, ocorrerá uma
petrificação mecanizada e uma convulsiva luta de todos contra todos.
Neste caso, os "últimos homens" desta fase da civilização poderão
aplicar-se esta frase: "especialistas sem espírito, gozadores sem
coração: estas nulidades se imaginam haver ascendido a uma nova fase
da humanidade jamais alcançada anteriormente."

136. Obra Inacabada de Weber, Ele Próprio Não Refutaria Sua


Tese:
Se está invadindo a esfera dos juízos de valor e de fé, que não
devem carregar esta exposição puramente histórica. E no lugar de
valorar, deve-se investigar.
I. Em primeiro lugar: Converia mostrar o alcance que a
racionalismo ascético possue para a ética político-social, e o alcance de
ser, para a organização e funcionamento dos grupos sociais desde o
conventículo do Estado, e que até agora só parcialmente foi exposto.
II. Em segundo lugar: deveria ser estudada sua relação com o
racionalismo humanista e seus ideais de vida e influências culturais, e
posteriormente, com o desenrolar do empirismo filosífico e científico,
com o desenvolvimento técnico e com os bens espirituais da civilização.
III. Por último: Valeria a pena seguir sua evolução histórica desde
os princípios medievais do ascetismo laico que foi dissolvido num
utilitarismo, através das distintas esferas sobre as que atuou a
religiosidade ascética. Só então poderia mostrar-se em toda sua
plenitude a medida do formidável alcance cultural do protestantismo
ascético em relação com outros elementos plásticos da civilização
moderna.
Deveria-se investigar a maneira como o ascetismo protestante foi
influenciado em seu desenvolvimento e as características fundamentais
pela totalidade das condições culturais e sociais, singurlamente
econômicas, em cujo seio nasceu.
É reconhecido que, em geral, o homem moderno, com sua maior
vontade, não é capaz de representar (a sí mesmo) toda a efetiva
magnitude do influxo que as idéias religiosas tem exercido sobre a
conduta na vida, na civilização e no caráter nacional.
A intenção não é substituir uma concepção unilateralmente
"materialista" da cultura e da história por uma concepção contrária de
unilateridade causalista espiritualista. Materialismo e espiritualismo são
interpretações igualmente possíveis, porém como trabalho preliminar;
senão pelo contrário, pretendeu constituir o término da investigação,
ambas igualmente inacabadas para sevir a verdade histórica.

SUMÁRIO

137. Um Breve Relato sob a ótica de Weber


Segundo Weber, o desenvolvimento do capitalismo exigiu uma
generalização de atitudes para com o trabalho e a riqueza, antes
excepcionais nas sociedades humanas. A ética do protestantismo
contribuiu para a difusão dessas atitudes ajudando a acelerar o
desenvolvimento do capitalismo na Europa Ocidental e América do
Norte, e pôde também ter contribuído com certas características
específicas.
Weber acreditava na decadência do capitalismo como
consequência da rejeição dos valores "burgueses", e não como
consequência do colapso econômico: "O puritano via o trabalho como
sua vocação, nós o vemos como obrigação". Essa frase de Weber
expressa uma desilusão e sugere uma hostilidade possível a cultura do
capitalismo, devido a civilização ocidental atravessar um processo geral
de racionalização e burocratização colocando em risco valores liberais,
os quais ele concebia como primordiais.
A individualidade para Weber só pode existir em uma estrutura
econômica e política pluralista, portanto é necessário combater
tendências do mundo industrial, que levam a uniformidade de uma
sociedade burocratizada, que impele a maioria dos trabalhadores a
acompanhar demagogos autoritários.
O marxismo ortodoxo em sua opinião, afirma, contra as provas,
que o poder político se baseia sempre, e só se pode basear, no poder
econômico, e deixa de analisar, de modo científico, e exato, a noção de
"poder econômico".
Relaciona a ética religiosa com a ordem econômica, examina essa
conexào de dois pontos de vista: a influência de determinadas doutrinas
religiosas sobre o comportamento econômico e a relação entre a
posição de grupos no sistema econômico e tipos de crença religiosa.
A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo foi o ponto de
partida de seus estudos da religião, mostra o papel desempenhado na
origem e desenvolvimento do capitalismo moderno pela ética calvinista.
Weber não acredita que as idéias governam o mundo, mas que,
em certas condições históricas, idéias ou doutrinas podem,
independentemente, afetar a direção de mudança social, onde as
aplicações da ciência e da tecnologia, seu desenvolvimento, só pode
significar o aumento do conhecimento e das idéias científicas e
técnicas.
Apresentou o protestantismo como exemplo para que as pessoas
pudessem compreender a forma pela
qual as idéias agem na história. De acordo com sua teoria, as
concepções teológicas e éticas dos protestantes foram influenciadas,
em sua formação, por várias circunstâncias sociais e políticas, porém
não tiveram influência direta sobre as questões econômicas. Mas as
idéias têm a sua própria lógica e dão origem a consequências que
podem ter influência prática.
Assim os dogmas do calvinismo, estabelecidos na consciência de
indivíduos pertencentes a determinados grupos, provocou uma atitude
particular para com a vida e uma forma específica de comportamento.
Em seus estudos posteriores da religião (judaísmo, China, Índia),
Weber seguiu a mesma linha de pesquisa, examinou as doutrinas de
determinados grupos sociais, e as consequências sociais (especialmente
econômicas) de certas atitudes para com a vida, derivadas dos sistemas
religiosos. Examinou a relação entre atividade econômica moderna e
racional com as crenças religiosas, mostrou a atração que têm para os
comerciantes e homens de negócios os cultos religiosos.
Weber acentua a importância da casta como a moldura
institucional do hinduísmo: "A casta, ou seja, os direitos e deveres
rituais que ela impõe e dá, e a posição dos brâmanes são a instituição
fundamental do hinduísmo."
Tratou o capitalismo como uma forma de sociedade única e
altamente específica, onde o protestantismo, especialmente o
calvinismo, com sua ênfase sobre o trabalho como um dever cristão,
deu forte ímpeto ao seu desenvolvimento.
Segundo ele, o protestantismo exigia do indivíduo uma devoção
ao seu negócio e aplicação ao trabalho, traços propícios ao êxito
mundano, que, por sua vez, era considerado uma indicação da graça de
Deus. A acumulação de riqueza não era considerada indesejável;
contudo não deveria-se usa-la para auto-engrandecimento, mas para
objetivos cristãos, sendo altamente estimulada.
Sendo assim, o protestantismo, encorajava a emprêsa privada, a
iniciativa, a ganância e o individualismo, que são os sine que non do
capitalismo. A insistência no ascetismo, entretanto, também dava ao
protestantismo uma forte influência disciplinadora sobre a atividade
econômica, impedía-se que o indivíduo seguisse inclinações puramente
egoístas; era forçado a considerar o interesse dos outros. A religião, no
caso o protestantismo, tinha desse modo uma grande influência sobre
a ordem econômica da sociedade ocidental.
Em relação as organizações econômicas da China e da Índia e do
Velho Mundo em geral, verificou que as mesmas eram muito
influenciadas pelos sistemas religiosos predominantes. Concebeu diante
disso que a economia de uma sociedade é condicionada por suas
formas de religião, embora tenha admitido que, em muitos casos, é
possível provar que o reverso é verdadeiro, isto é, que a mudança pode
ser iniciada por forças não-religiosas, dessa forma, não é possível
provar que os valores espirituais e religiosos sejam os únicos
determinantes da estrutura social. Ele acreditou, entretanto, que as
idéias ético-religiosas são geralmente fatores causais na mudança
social e que o mundo é um mundo desencantado e burocrático,
sufocado pelo poder corporativo.

UMA PEQUENA REFLEXÃO

A metodologia de Weber no sentido de uma ciência da cultura,


mostra que existem singularidades histórico-culturais que se formam a
partir de representações sociais que têm por meta a religiosidade. Ele
parte da cultura para abarcar fenômenos sociais, por isso ele se
interessa pela origem dos padrões culturais.
O estudo das religiões permitiu a Weber a compreensão das
origens e o rumo do desenvolvimento do racionalismo no Ocidente. Mas
até que ponto Weber não concebe um racionalismo superior a outro, já
que ele admirava o protestantismo asceta?
Em A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber
caracteriza a modernidade como "racionalização do mundo", fala numa
validade universal de fenômenos culturais, o que dizer então de líderes
carismáticos como Stalin ou Hitler, quando ele mesmo afirma que o
autoritarismo carismático é "anti-racional"? E como pode-se falar
numa secularização do mundo quando 90% dos norte-americanos
pertencem a "alguma classe de teísmo"? Pode-se falar numa
universalidade da cultura moderna englobando o terceiro mundo, a
Prússia e a Alemanha de Weimar?
Weber coloca a modernidade ocidental num alto patamar e como
sendo o único da história da humanidade, para ele existe a
inevitabilidade da racionalização
ocidental e a exclusividade dessa cultura. Sua tese ruma no sentido
que somente no Ocidente ocorreram fenômenos culturais, que
representamos como direcão na evolução para alcançar a validade
universal.
Se seguirmos a linha de seu raciocínio, o mundo anglo-saxônico
passou a ser o melhor em termos de organização social e de
racionalidade, logo o protestante asceta e os Estados Unidos são vistos
como ideal, e deve-se portanto "seguir o mestre"? Existe padrão a ser
seguido? Penso que não, pois os processos são diferentes em cada
nação, mesmo que parecidos cada um possui sua particularidade.
A produção flexível no Japão por exemplo, uma forma de
racionalização da produção, transforma os homens em peças, o homem
como trabalhador alienado, como instrumento perfeito de produção.
No modelo japonês de produção, com a "teoria da qualidade
total", o ser humano é transformado num verdadeiro potêncial de força
de trabalho, a alegria faz parte do trabalho grupal, é o espírito como
parte integrante do processo de produção, alegrando consumidores e
acionistas das empresas.
Será que foi aberto os "portões do paraíso"? Neste "paraíso" onde
fica a "porta principal" que dá acesso a felicidade humana? Talvez seja
um "paraíso" diferente, repleto de "engajamento estimulado" e de olhos
vigilantes, onde o paternalismo e as reuniões de equipes escamoteiam
um totalitarismo que favorece uma vigilância entre os trabalhadores
baseada no medo.
O assim chamado neo-fordismo intensificou o rítmo de trabalho,
mas não melhorou as condições de vida do trabalhador, muito pelo
contrário, ocorrem cada vez mais no Japão "overdose" de trabalho
(karoshi), que já levaram a morte e ao suicídio em torno de dez mil
pessoas! As "ideologias messiânicas" "Servir o cliente satisfaz ao
mandamento evangélico de amar o próximo" (especialista brasileiro
sobre o "modelo japonês") é semelhante a ótica weberiana ou é
impressão?
E se pensarmos em termos de uma reflexão ética, tudo fica mais
confuso, pois o mundo é vivido de forma racional, onde mal é sinônimo
de pecado, e como tal é necessário ascetismo para expulsá-lo da vida
privada e pública. Ocorre é que a Ética saíu do espaço pessoal, invadiu
o espaço público só que transformou-se numa moral fictícia incorporada
as regras profissionais.
O mal tornou-se cada vez mais relativisado, visto que o mal social
não invade a vida individual, logo não é pecado, e por não ser de todo
mal é até possível dominá-lo, não é preciso matá-lo, apenas domesticá-
lo, afinal existe um enorme "muro com paredes de aço" separando o
espaço privado e o espaço social e político.
O mal social é visto como exterior à realidade de cada um, e por
ser exterior, não requer responsabilidade de ninguém, isso nos alivia
muito uma vez que até podemos ser bons, mesmo que na sociedade
exista o mal.
Penso que só temos perguntas a fazer: Será que a sociedade quer
uma ética verdadeira? Como trazer a política para o dia a dia? É
possível uma visão de totalidade social enquanto projeto histórico? Será
possível uma real interação entre os indivíduos diante de estruturas
reificadoras, ideologicamente comprometidas? Será que não é
ingênuidade acreditar na autonomia da ética? E na autonomia da força
e capacidade para uma ação determinada pela liberdade?
Na minha singela reflexão penso que para existir uma ação real
antes torna-se necessário que a ética tenha-se constituído
historicamente na cultura social, fazendo parte da vida privada da cada
um, até lá torná-se difícil uma comunicação dialógica, pois num
universo onde o poder mutila o diálogo impondo-se inclusive
belicamente e onde o trabalho continua sendo organizado de acordo
com os princípios tayloristas, o racionalismo domina a felicidade
humana.

BIBLIOGRAFIA:

ALVES, Giovanni in O Novo (E Precário) Mundo Do Trabalho,


Reestruturação produtiva e crise do sindicalismo, Boitempo Editorial,
2000.
BRONNER, E. Stephen in "Jurgen Harbermas e a Linguagem da
Política", do livro "Da Teoria Crítica e Seus Teóricos" de Stephen E.
Bronner, Papiros Editora.
REVISTA UNIVERSIDADE E SOCIEDADE, Sindicato ANDES Nacional,
Brasília (DF), ano VIII, n 17, novembro de 1998.
REVISTA UNIVERSIDADE E SOCIEDADE, Sindicato ANDES Nacional,
Brasília (DF), ano IX, n 18, março de 1999.
REVISTA UNIVERSIDADE E SOCIEDADE, Sindicato ANDES Nacional,
Brasília (DF), s/ano, n 20, set/dez. 1999.
WEBER, Max in A Ética Protestante E O Espírito Do Capitalismo, São
Paulo, Livraria Pioneira Editora, 1967.

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