ECONOMIA: EVOLUÇÃO DO PENSAMENTO ECONÔMICO CONTEMPORÂNEO
1- A defesa: A burguesia ascendeu a condição de classe dominante no século XIX e, para
justificar o seu predomínio na sociedade, elaborou o que os historiadores chamaram de “bourbonismo econômico”. Essa expressão irônica designava o senso comum dos burgueses, após a Revolução Francesa, de que a propriedade particular era inviolável, fator de progresso, e de que a pobreza era resultado apenas da preguiça e incompetência individual. Para explicarem e justificarem o funcionamento do sistema capitalista, vários economistas e pensadores ligados à burguesia elaboraram vários estudos. Analisaremos, a seguir, as idéias defendidas por alguns deles: a) Adam Smith (1723 - 1790) - Esse escocês foi o fundador da moderna economia política e publicou, em 1776, “A Riqueza das Nações”, obra clássica do Liberalismo e que defendia: 1) o mercantilismo deveria ser substituído pela liberdade econômica e a ação do Estado na Economia deveria ser quase nula; 2) o mercado, deixado livre, seria regulado pela lei da oferta e da procura; 3) o livre jogo do mercado levaria à expansão das forças produtivas e isso acabaria por gerar um progresso técnico constante e um aumento incessante da produção que resultaria em riqueza para todos os membros do país. Smith também foi grande defensor do livre cambismo, o comércio internacional sem barreiras alfandegárias, e da divisão internacional do trabalho, teoria que defendia que cada nação -de acordo com as suas condições naturais e a sua história - estaria mais apta a desenvolver um determinado tipo de produção. Assim é que a Inglaterra teria como vocação ser a “oficina do mundo”, isto é, ser uma nação industrializada; outras nações teriam por destino histórico e natural a produção de matérias-primas e alimentos. E, da mesma forma que as economias internas dos países tendiam a uma crescente especialização, assim cada nação deveria especializar-se no que podiam produzir melhor. Para Smith, essa divisão do trabalho, acompanhada pelo comércio livre, conduziria a uma prosperidade internacional. b) Thomas Malthus (1766 - 1834) - Em 1798 esse médico inglês publicou uma obra intitulada “Ensaio sobre a população”, na qual fez um prognóstico sombrio sobre o futuro da humanidade. Defendia que a população tendia a crescer em progressão geométrica e a produção de alimentos cresceria apenas em progressão aritmética. A fome seria inevitável. Segundo Malthus a natureza prescreveu limites inflexíveis ao progresso humano no que se refere à felicidade e a riqueza. Devido a voracidade do apetite sexual humano, a população crescia mais depressa que os alimentos. A teoria de Malthus é mediatizada por uma moral puritana, característica do capitalismo em sua fase inicial. Para ele existem freios poderosos ao excesso populacional, como a guerra, a fome, a doença e o vício. Mas estes, quando agem eficazmente, aumentam o sofrimento humano, o que torna a dor e a pobreza inevitáveis. Mesmo criando leis que distribuam as riquezas de forma justa, a condição dos pobres melhoria por pouco tempo; dentro de pouco tempo voltariam a gerar famílias maiores, voltando a piorar a sua situação. Assim, é preciso controlar a natalidade e estimular a abstinência sexual; sendo que na segunda edição da sua obra, Malthus defendeu o retardamento do matrimônio como forma de aliviar a situação. Era preciso fomentar o espírito de economia e evitar a dilapidação dos recursos naturais a qualquer preço. Dizia que a burguesia conseguiria colocar em prática as suas recomendações devido a sua educação, mas o povo deveria ser mantido com uma renda que garantisse apenas a subsistência. A argumentação de Malthus permitia a burguesia lutar racionalmente contra as tentativas legais de amparar os miseráveis gerados nos primórdios da industrialização, caso da lei de 1601, que obrigava as paróquias inglesas a sustentarem os desempregados através de donativos e salários subsidiados pelos contribuintes. Agora, os argumentos fornecidos por Malthus ajudavam a transferir a culpa ou responsabilidade sobre a geração da miséria dos ombros da sociedade para os ombros do indivíduo. Afirmavam que o socorro aos pobres tirava dinheiro e, portanto, alimentos da boca dos mais produtivos e distribuía aos menos produtivos da sociedade. c) David Ricardo (1772 - 1823) - As idéias de Malthus influenciaram o economista escocês David Ricardo. Ele aperfeiçou a chamada Lei de Bronze dos Salários, que tinha sido esboçada por Malthus, afirmando que os salários tendem a ser sempre regulados por uma lei tão dura quanto o bronze devido ao crescimento populacional, ao uso de máquinas e a oferta de trabalhadores tende a ser abundante. Isto é, os salários tendem a ser pagos no nível estrito da sobrevivência. O destino da classe operária seria a miséria permanente, pois mesmo que os salários temporariamente subissem acima do nível de subsistência, a população aumentaria e a luta por empregos forçaria o salário a voltar ao antigo patamar. Era um argumento poderoso contra o aumento de salários. Ricardo também ofereceu argumentos úteis à luta da classe média e dos industriais contra o poder dos Latifundiários. Ele elaborou a chamada Lei dos Rendimentos Decrescentes, que pode ser expressa assim: aumentando-se a quantidade de um fator variável, permanecendo fixa a quantidade dos demais fatores, a produção, após certa quantidade utilizada do valor variável, passará a crescer a taxas decrescentes. Um exemplo clássico é o aumento de trabalhadores em certa extensão de terra a ser cultivada. Numa primeira fase a produção aumentaria, mas depois estacionaria devido ao grande número de trabalhadores na área cultivada. Isto também ocorreria no sistema industrial. Para Ricardo, a renda relaciona-se com o aumento da população. Acreditava que a maior demanda gerada pelo aumento populacional exigia o cultivo de terras menos férteis. Mas os custos e lucros deveriam ser mantidos no mesmo nível nos dois casos, senão as terras ruins deixariam de ser cultivadas. Assim mesmo, os arrendatários e os donos das melhores terras auferiam uma renda maior devido a diferença entre o valor da colheita dessas terras em relação às menos férteis. Com isso, os proprietários rurais deteriam um maior percentual do excedente econômico do país, em detrimento dos capitalistas industriais. Era um lucro ilícito e prejudicial à sociedade. Ricardo criou também a teoria do valor-trabalho, segundo a qual o preço de um produto seria fixado principalmente pelo número de horas gastas na sua produção. d) Jeremy Bentham (1748 - 1832) - A burguesia se questionava como justificar uma possível intervenção do Estado para evitar a concentração de capital nas mãos dos latifundiários, pois isto feria o “laissez-faire” da burguesia liberal. A resposta estava contida nas idéias do filósofo, jurista e economista inglês Bentham, cuja principal obra foi “Princípios de moral e legislação”, publicada em 1789. Na obra, ele investia contra a idéia corrente no século XVIII de que uma teoria satisfatória da ordem social poderia fundamentar-se na harmonia natural dos interesses humanos. Bentham afirmava que o ser humano era basicamente egoísta e por isso era impossível acreditar que uma sociedade generosa e estável pudesse surgir a partir de seres individualistas. A sociedade para funcionar de forma adequada necessitava de um princípio organizador que admitisse o egoísmo básico da sociedade, ao mesmo tempo que compelisse as pessoas a sacrificar ao menos uma porção de seus próprios interesses pelo bem da maioria. Esse princípio, chamado utilitarismo, afirmava que toda instituição, lei ou empreendimento humano deveria ser avaliado segundo a sua utilidade social. Assim, uma lei só era boa e poderia permanecer se produzisse felicidade para o maior número possível de pessoas; um egoísta devia compreender que se uma lei o beneficiava, ao custo da infelicidade de muitos, isto acabaria criando conflitos e que o prejudicariam a longo prazo. O grande trunfo do utilitarismo era que podia ser utilizado pela burguesia industrial tanto para promover o laissez-faire como para justificar a intervenção do Estado. E foi utilizada nos dois sentidos: serviu para lutar contra a lei dos pobres na Inglaterra e para realizar a ampliação do sistema educacional francês entre 1815 e 1848. Também serviu para defender o individualismo burguês, pois foi ele que produziu a Revolução Industrial e impor limites ao mesmo era colocar em risco a felicidade gerada pelo progresso industrial. Assim, a burguesia defendia que a industrialização estava espalhando benefícios para toda a sociedade e não só para ela. e) John Stuart Mill (1806 - 1873) - Filósofo e economista inglês que escreveu o livro “ Princípios de economia política”, em 1848, a mais abrangente síntese da teoria econômica até aquela data. Ele abandonou o rigor doutrinário do liberalismo, passando a pregar a intervenção do Estado na economia para resolver a miséria gerada pelo sistema industrial. Ele rejeitava a universalidade das leis econômicas. Admitia que há leis imutáveis que governam a produção, mas advogava que a distribuição da riqueza pode ser regulada pela sociedade em proveito da maioria de seus membros. Mill defendia que o Estado podia ajudar a resolver o problema da miséria através da tributação de terras e heranças. Não se posicionava contra as leis de redução da jornada de trabalho. Suas idéias libertárias e altruístas o levaram a tentar conciliar o empirismo, o determinismo, o liberalismo e o socialismo; e, na prática, a defender o direito de voto das mulheres e os sindicatos de fazerem greve. Previu que a possibilidade dos ganhos em larga escala estimularia uma progressiva concentração industrial, com um enfraquecimento da concorrência e elevação de preços. Para contrabalançar esse poder dos grandes empresários, considerava benéfico o fortalecimento dos sindicatos e o recurso da greve. 2- A contestação: Como forma de reação aos problemas sociais gerados pelo capitalismo industrial, a classe operária começou a se revoltar e questionar o sistema. Na Inglaterra, entre 1811 e 1812, o movimento Ludita passa a quebrar as máquinas e destruir as fábricas, acreditando que elas eram a fonte de seus males.Foram enforcados. Eles teriam como precursor desse movimento um tal de William Ludd, figura considerada lendária. A reação operária começou a colher frutos. Em 1824 as associações operárias deixam a ilegalidade na Inglaterra. Os patrões esclarecidos, a ação do Estado e pressões da classe trabalhadora melhoraram as condições de vida e trabalho: é proibido o emprego de menores de 9 anos na Inglaterra (em 1833), na Prússia (em 1839) e na França (1841); e na Inglaterra, em 1842, é proibido o trabalho de mulheres e crianças nas minas; em 1882, na Rússia, foi proibido dar emprego a menores de 12 anos e limitada a jornada de trabalho a 8 horas diárias; em 1884, na Alemanha, é criada a Lei de Seguros Contra Acidentes. A exploração desumana dos operários fez com que muitos levantassem suas vozes, denunciando e propondo soluções para os males do capitalismo industrial. Nos fins do século XVIII e início do XIX, desenvolveu-se o pensamento dos socialistas utópicos, assim chamados por defenderem reformas sociais idealistas. Eles contavam principalmente com a boa vontade dos capitalistas para implementarem seus planos. Vejamos os seus principais teóricos: a) Conde de Saint-Simon (1760 - 1827) - Era na verdade um liberal esclarecido, partidário das idéias da Ilustração. Participou da guerra de independência dos EUA e de volta para França escreveu uma vasta obra, onde propôs um novo cristianismo para melhorar a sorte das classes desfavorecidas (“A indústria”, em 1816; “Catecismo dos industriais, em 1823; e o “Novo cristianismo”, em 1824). Reivindicou a emancipação feminina, a nacionalização das indústrias e a extinção do direito de herança (mas não o de propriedade). Em seu sistema, que chamou de “industrialismo”, o trabalho seria obrigatório para todos, independente de posição social. Dividia a sociedade em ociosos e trabalhadores, o que fazia com que incluísse também os banqueiros quando pregava um governo de trabalhadores, sem se esquecer dos industriais e comerciantes. Ele concordava com a existência da livre empresa e a manutenção do lucro dos capitalistas, mas desde que os mesmos concordassem em assumir certas responsabilidades sociais. Achava que o Estado devia ser organizado como uma fábrica e o governo exercido por trabalhadores, especialmente os técnicos. Tornou-se o precursor na defesa da tecnocracia. b) Charles Fourier (1772 - 1837) - Na sua obra “O novo mundo industrial”, Fourier defendeu que a vida fosse organizada com base na associação e no cooperativismo, de modo que todos os homens poderiam integralmente desenvolver os seus talentos. A última etapa da história humana seria o socialismo, chamado de socientismo, onde os homens viveriam comunitariamente em falanstérios. Os falanstérios seriam edifícios comunitários socialistas, sendo que cada falange (comunidade com até 2 mil homens) teria uma dessas construções. Nos falanstérios seriam instalados os bens coletivos da comunidade, como a cozinha, a biblioteca, etc. Eles seriam construídos para conjugar o trabalho agrícola e o industrial, abolindo-se a divisão do trabalho. Fourier achava que essa forma superior de organizar a produção, dada a sua excelência ante as outras formas, seria imitada e geraria uma sociedade socialista. As experiências de criação de falanstérios, feitas por discípulos de Fourier, nos EUA e na França, fracassaram inteiramente. c) Pierre Proudhon (1809 - 1865) - Teórico francês que defendia a diminuição progressiva e sistemática da ação governamental, capitalista e religiosa. Era contrário à luta de classes e seu reformismo consistia em pedir que aos governantes que liquidassem progressivamente as engrenagens da máquina estatal. Rejeitava todo tipo de autoridade. Seu ideal econômico era uma república de pequenos produtores livres e iguais. Nela, os trabalhadores comprariam os meios de produção através de financiamento dos “bancos de trocas”, sem juros e a fundo perdido. No livreto “O que é a propriedade?”, Proudhom afirmava que a mesma era um roubo. O que ele pretendia com essa afirmação era chamar a atenção para o fato de que as grandes propriedades, após a industrialização, estavam eliminando as pequenas propriedades e gerando pobreza. Para melhorar a situação do pequeno proprietário era preciso fundar o Banco do Povo, que implementaria o princípio de “crédito para todos”. Suas idéias não prosperaram. d) Robert Owen (1771 - 1858) - Industrial e reformador social que tentou aplicar as suas idéias na Grã-Bretanha, no México e Estados Unidos. Ele ascendeu da condição de operário a dono de fábrica de tecidos em New Lamark, na Escócia. Depois de tornar-se industrial, ele procurou implementar melhorias sociais em sua fábrica e criou conjuntos habitacionais, jardins de infância e armazéns que vendiam alimentos e outros artigos a preço de custo para os operários. Recusava- se a empregar menores de 10 anos em suas fábricas, o que era um avanço para a época. Mas, depois de um certo tempo, ele percebeu que sua experiência não seria imitada e o capitalismo selvagem prevaleceria. Apesar do sucesso do seu empreendimento, radicalizou a sua visão de mundo: passou a pregar o fim da propriedade particular e a criação da sociedade socialista, além de criticar a religião. Esse radicalismo valeu-lhe o ódio da elite dominante e ele foi banido da Inglaterra. Foi com alguns companheiros para a América (1825) e fundou no México e EUA (Indiana) colônias cooperativistas (New Harmony), que existiram apenas por 2 anos. Voltou para a Inglaterra e criou, em 1832, as primeiras cooperativas de produção e atuou no movimento trabalhista, tentando organizar uma central sindical. Os resultados foram modestos. e) Louis Blanc (1811 - 1882) - Socialista francês e um dos líderes da Revolução de 1848. As suas teses foram desenvolvidas no livro “A organização do trabalho”, em 1840, em que propunha a criação de associações de trabalhadores de um mesmo ramo de produção - as Oficinas Nacionais - financiadas pelo Estado, para controlar a produção industrial. O lucro resultante de tais associações seria dividido em 4 partes: 25 por cento para um fundo de amortização do capital estatal; 25 por cento para um fundo de seguro social; 25 por cento para um fundo de investimentos; 25 por cento para repartir entre os trabalhadores. Suas idéias foram colocadas em prática na Revolução de 1848 na França, quando houve uma coligação de socialistas e liberais para derrubar a monarquia. Com o déficit criado pelas Oficinas Nacionais e devido ao fim da coligação, o Estado fechou as Oficinas e passou a perseguir os socialistas; todas as reformas feitas em benefício dos operários foram anuladas. Socialismo científico: As idéias dos socialistas utópicos de transformação da sociedade capitalista foram radicalizadas pelos teóricos alemães Karl Marx (1818 - 1883) e Friedrich Engels (1820 - 1895). E tanto um como outro eram filhos de abastadas famílias burguesas. Marx estudou filosofia na Universidade de Berlim. Resolvido a desempenhar papel ativo na transformação de uma sociedade que ele passara a desprezar, empregou-se como redator da Gazeta da Renânia em 1842. Em breve suas convicções radicais deixaram-no mal com os donos do jornal. Em 1843 mudou-se para Paris, a fim de dedicar-se mais a reflexão acerca do processo e possibilidade da reforma revolucionária que deseja. Dali migrou para Bruxelas, onde contribuiu para a fundação da Liga Comunista, órgão que visava destruir a sociedade burguesa. Durante sua estada em Paris, Marx reatou uma antiga amizade com Engels, que estivera vivendo em Manchester, onde sua família tinha um cotonifício. Lá escreveu uma devastadora descrição dos efeitos do começo da industrialização sobre os trabalhadores - “A condição da classe trabalhadora na Inglaterra em 1844”. Juntos, Marx e Engels procuraram formular uma teoria que explicasse como a sociedade chegara ao atual estado e propusesse meios para modificá-la em proveito de todos. Essa teoria foi publicada em 1848, no auge das revoluções liberais e nacionalistas que sacudiam a Europa, com o título de “Manifesto Comunista”. As idéias marxistas não surgiram do nada. O próprio Marx confessou a sua dívida intelectual com os economistas clássicos ingleses, com a dialética idealista do filósofo alemão Georg Wilhelm Hegel (1770 - 1831) e com os socialistas utópicos. Foi a síntese dessas três correntes, englobadas e criticadas, que deu origem ao materialismo dialético - o processo de construção do conhecimento segundo Marx - e ao materialismo histórico - a concepção marxista da História. O conceito de materialismo dialético, base filosófica do socialismo científico, foi elaborado por Marx com base na dialética hegeliana. Hegel foi um dos maiores filósofos idealistas da primeira metade do século XIX e esforçou-se para unificar todo o conhecimento num vasto sistema lógico com o objetivo de apreender o real em sua totalidade. A doutrina hegeliana tomava a idéia como base da realidade (tudo que é real é racional e vice-versa), sendo que a evolução da idéia é marcada pelo rítmo contínuo da dialética: o espírito é posto em si (tese ou afirmação da idéia), em seguida ele manifesta-se fora de si (antítese ou negação da idéia) e para, finalmente, retornar a si (síntese). Essa identidade entre o real e o racional faz com que a compreensão do real - basicamente histórica - seja essencialmente desenvolvimentista. Para Hegel, a história humana era a do aperfeiçoamento do espírito ou Absoluto. Por isso, as instituições sociais e politicas amadureciam, realizavam seus propósitos e então davam lugar a outras. Contudo, nunca acontecia do novo substituir inteiramente o antigo, pois o padrão de mudança era dialético. Marx dirá que encontrou a dialética hegeliana de ponta-cabeça e a endireitou, pois o pensamento era apenas um reflexo do real na medida em que era , ele próprio, produto da natureza e, portanto, o pensamento também era um produto da natureza. Assim, para Marx, o movimento dialético tem por base a matéria e não o espírito. Dos socialistas utópicos Marx retirou e criticou, à luz de sua dialética materialista, as reflexões sobre os movimentos revolucionários da época. Segundo Marx e Engels, um dos objetivos da atividade científica era de captar as transformações dialéticas que se processam na natureza, sendo que o estudo das sociedades humanas se faria da mesma forma. As transformações dialéticas resultariam principalmente da luta pela obtenção dos bens necessários à vida. Para explicar o processo de mudança histórica, Marx criou o conceito de modo de produção: “Na produção social de sua existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua vontade, relações de produção que correspondem a um grau de desenvolvimento das forças produtivas”. As forças produtivas são os meios de produção: máquinas, matérias-primas, terra etc. As relações de produção são aquelas que os homens estabelecem com os meios de produção e entre si no processo produtivo. No capitalismo, por exemplo, os trabalhadores que não possuem os meios de produção são os operários, que se opõem aos donos dos meios de produção, os capitalistas, que vivem da exploração da força de trabalho. Para Marx e Engels, a economia formava a base ou infra-estrutura da sociedade e sobre ela se erigia uma superestrutura política, jurídica, filosófica, religiosa, moral, etc. Assim, as transformações ocorridas na superestrutura eram determinadas, em última instância, pelas mudanças ocorridas nas forças econômicas da sociedade. O conjunto formado pela infra e superestrutura formava o que Marx chamou de modo de produção, ou seja, a forma como a sociedade produz numa determinada época histórica os seus meios materiais de existência. Após um período de formação e apogeu, o modo de produção existente entraria em declínio em conseqüência sobretudo de transformações geradas pelas contradições internas de ordem material ou econômica, e acabaria sendo substituído por um novo, que se formara lentamente no bojo do anterior. Esse novo modo de produção, por sua vez, já conteria em si os germes de seu próprio fim e de sua substituição futura. Segundo Marx, até aquela época os modos de produção existentes tinham sido a comunidade primitiva, o asiático, o escravismo, o feudal e o capitalista. A história da sociedade era a história da luta de classes. A divisão da sociedade em classes seria determinada por fatores econômicos e, sobretudo, pela existência da propriedade particular. Na base de todos os conflitos entre as classes sociais estavam os interesses econômicos antagônicos e essa luta, por sua vez, constituiria a força motriz das grandes transformações históricas. Na Antigüidade a luta ocorrera entre amos e escravos, patrícios e plebeus em Roma; na Idade Média entre senhores e servos, mestres-artesãos e jornaleiros. Nos tempos modernos o choque ocorrera entre nobreza e burguesia. No período contemporâneo a luta seria entre a burguesia e o proletariado, que, conscientizado e organizado, fará a mudança para o socialismo. Para Marx, a causa determinante dessa vitória do proletariado era o fato de ela ser a única classe realmente revolucionária, capaz de gerar um mundo novo. O proletariado foi gerado pelo capitalismo e explorado de forma continuada através da mais-valia. Esta pode ser definida de forma simples como a diferença entre o volume de riqueza produzida pelo trabalhador e o montante do salário recebido pelo trabalho realizado. Como o salário é sempre inferior à riqueza produzida, essa diferença não paga pelo patrão gerava o lucro capitalista. Mas à medida que o operariado se conscientizasse dessa exploração, a revolução aconteceria e surgiria a sociedade socialista. No início, a mudança se processará através da ditadura do proletariado. Nessa etapa desapareceria a propriedade particular dos meios de produção, mas o Estado ainda seria o grande guia da sociedade e a diferença entre trabalho intelectual e manual continuaria a existir. O comunismo - sobre o qual Marx escreveu apenas algumas linhas - é a última etapa do processo dialético e para o surgimento de uma civilização verdadeiramente sem classes. Nela será extinto o Estado, não havendo mais o “o governo sobre os homens” e sim a “administração das coisas”. A diferença entre trabalho manual e intelectual seria abolida; o “reino da necessidade” seria substituído pelo “reino da liberdade”, onde o trabalho humano não terá como finalidade principal prover as necessidades materiais e sim a realização pessoal. 3- A conciliação: Percebendo que os operários se afastavam da religião, acusada por socialistas e anarquistas “de caminhar junto” das classes dominantes, a Igreja Católica procurou reagir. Uma série de pensadores cristãos, como Robert Lamennais, Adolph Wagner e J.D. Maurice, procuraram lançar apelos às classes dominantes a fim de que fossem aliviados os sofrimentos das classes trabalhadoras. Surgia assim o chamado socialismo cristão, uma tentativa de aplicação dos princípios evangélicos de amor e respeito ao próximo aos problemas sociais gerados pela industrialização. Em 1891 o papa Leão XIII promulgou a encíclica “Rerum Novarum”, em que expunha o pensamento social católico. Reconhecia o direito de existência da propriedade particular e rejeitava a teoria marxista; condenava, entretanto, a ganância capitalista e a exploração desumana do trabalhador. Propunha que os empregadores reconhecessem os direitos fundamentais dos empregados, tais como limitação das horas de trabalho, descanso semanal, salários dignos, etc. A encíclica papal recomendava a intervenção do Estado na economia para melhorar as condições de vida dos trabalhadores, principalmente no setor habitacional e de saúde. Em resumo, Leão XIII queria humanizar o sistema capitalista da época. O papa reconhecia a gravidade da questão social, mas repudiava as idéias materialistas. Eis algumas das teses defendidas pela Igreja: a) sobre a situação social: “Os progressos insensatos da indústria (...) a alteração das relações entre operários e os patrões, a afluência da riqueza nas mãos de um pequeno número ao lado da indigência da multidão”. b) contra o socialismo: “(...) é impossível que na sociedade civil todos sejam elevados ao mesmo nível. É, sem dúvida, isto o que desejam os socialistas. Mas contra a natureza todos os esforços são em vão. Foi ela, realmente quem estabeleceu entre os homens diferenças tão multíplices como profundas (...)”. c) critica a luta de classes: “O erro capital na questão presente é crer que as duas classes são inimigas uma das outras (...) as duas classes estão destinadas pela natureza a unirem-se harmoniosamente e conservaram-se mutuamente num perfeito equilíbrio”. d) adverte a ricos e patrões: “Quanto aos ricos e aos patrões, não devem tratar os operários como escravos, mas respeitar neles a dignidade do homem, realçada ainda pela do cristão”. “Existe uma lei de justiça natural, determinando que o salário jamais deve ser insuficiente para fazer frente às necessidades do trabalhador e de sua família”. Origem do dia do Trabalho: Nos EUA, em 1886, realizou-se uma greve geral para conquistar o direito a uma jornada diária de oito horas de trabalho. Em Chicago, no dia 1º de maio, uma grande manifestação pública reuniu milhares de pessoas e foi violentamente dissolvido pela polícia. No dia 3 de maio, os trabalhadores fizeram outra manifestação e novamente foram reprimidos. Só que desta vez a ação policial resultou na morte de vários operários diante da fábrica MacCardick. Era o início de uma verdadeira guerra entre a polícia e os trabalhadores, que marcaram uma nova manifestação para o dia 4. A polícia novamente agiu com violência e matou homens, mulheres e crianças. Oito líderes do movimento foram presos e condenados à morte. Quatro foram enforcados, um se suicidou e três foram perdoados. Em 1892, a Associação Internacional dos Trabalhadores dedicou o 1º de maio a memória dos mortos nos EUA e o transformaram no dia internacional do trabalho. Nos EUA e Canadá, porém, o dia do trabalho é comemorado na primeira segunda-feira de setembro.