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Reuso de água

José Alfredo Mattio

Reuso de Água Engenheiro Químico, especialista em saneamento ambiental e


responsável pelo Setor de Meio Ambiente da Air Liquide Brasil

Industrial OXIDAÇÃO AVANÇADA NO TRATAMENTO


DE EFLUENTES LÍQUIDOS
Reuso de efluentes líquidos industriais pode ser otimizado através da utilização de oxidantes específicos
como oxigênio, peróxido de hidrogênio e o ozônio, usados independentemente ou de forma combinada
podem atingir os níveis compatíveis para a finalidade determinada.
A otimização através da oxidação avançada permite maximizar o custo global do tratamen-
to. No entanto, devido a complexidade dos rejeitos industriais é necessário um estudo aprofundado caso
à caso através de ensaios de laboratório e de planta piloto.

O
crescente aumento do custo o reciclo ou reuso, não podemos nos cura do concreto )
da água tratada bem como esquecer de considerarmos correntes · Irrigações de áreas verdes de ins-
critérios cada vez mais rígi- como as de retrolavagens, rejeitos da talações industriais
dos de descartes de efluentes incenti- osmose reversa, regeneração de resinas · Lavagens de pisos
varam cada vez mais o reaproveita- de troca iônica, rinsagem e blowdown · Lavagens de peças
mento da água industrial. das torres de refrigeração, entre outras. · Lavagens de gases de chaminés
Existem diferentes critérios de clas- A melhor opção deverá ser aquela · Processos industriais
sificação para a água de acordo com a que se adapte ao pocesso de tratamen- · Água para combater incendios
finalidade requerida: to escolhido em função dos resultados Nos últimos anos métodos e
de reuso e reciclo desejados. tecnologias de recuperação e reuso de
· Reuso: A água é utilizada mais de Os pontos comuns onde a água água tem aumentado significativamen-
uma vez dentro da planta. pode ser reaproveitada são: te ( a tabela I mostra um breve resu-
· Reciclagem: A água é recuperada · Torres de resfriamento mo de algumas técnicas de tratamento
e reutilizada no mesmo processo. · Caldeiras que podem ser utilizadas de acordo
· Reaproveitamento: A água é recu- · Construção civil ( preparação e com cada aplicação específica ).
perada e reutilizada em processo
diferente da origem, normalmente
em quntidades menores e qualida- TABELA I - Reuso de água Industrial
de inferior.
A variedade de técnicas de tratamento podem ser combinadas
Indústrias que não necessitam de para maximizar o reuso / reciclo de água industrial.
água de processo com qualidade potá-
vel são as que tem maior potencial para Parâmetro Problema Potencial Processo/Tratamento Avançado
o reproveitamento.
Matéria Orgânica Crescimento bacteriano, Nitrificação, adsorção por car
Reciclagem da água para o mesmo
Incrustração, espuma em vão ativado, troca iônica,
ponto de utilização na planta industri- caldeiras oxidação avançada
al deve ser desenvolvido caso à caso.
Amônia Interfere na formação de cloro Nitrificação, troca iônica,
Indústrias como aciarias, cervejari- residual livre, causa corrosão stripping
as, eletrônica e muitas outras já proje- em cobre, estimula crescimento
tam estações de tratamento de efluentes microbiano
para conservar a água além de atingir Fósforo Formação de incrustração Precipitação química,
padrões de descarte requeridos. estimula crescimento microbiano troca iônica, remoção biológica
Sólidos Suspensos Deposição, alimento para Filtração
Pontos para o reuso crescimento microbiano
Cálcio / Magnésio Formação de incrustração Precipitação, troca iônica
Quando procuramos efluentes que Ferro / Sílica / Formação de incrustração Precipitação, oxidação química
podem ser candidatos em potencial para Manganês

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O principal parâmetro para se O próximo passo é definir quais as A utilização de técnicas de oxida-
projetar um sistema que seja econô- etapas principais para tratar o efluente ção química pode individualmente ou
mico e eficiente é saber criteriosa- e atender estes objetivos. de forma combinada com outras tec-
mente qual é a qualidade requerida A figura I mostra uma sequencia nologias eliminar compostos poluentes
para o reuso. de passos para a remoção da DQO. presentes nos efluentes obtendo como
produtos finais CO2 e H2O.
Fig. 1 - Remoção da DQO Solúvel por oxidação

As principais aplicações são :

· Eliminação de cor
· Eliminação de matéria orgânica
· Desinfecção
· Oxidações de sulfetos
· Oxidações de tensoativos
· Oxidações de pesticidas
· Oxidações de fenol
· Oxidação de cianetos e nitritos

A seguir poderemos avaliar as


performances de tres oxidantes espe-
cíficos como o oxigênio, ozônio e
peróxido de hidrogênio.

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Oxigênio volta a se combinar com outras molé- dições de temperatura ( 250 à 350ºC )
culas de oxigênio formando ozônio. e de pressão ( 30 à 200 bars ) elevadas
Tradicionalmente produzido por Diferentemente do oxigênio e do conduzem a degradação de compostos
destilação do ar em plantas criogênicas, peróxido de hidrogênio, a molécula do ozô- orgânicos presentes na água. Em tais
o oxigênio pode também ser obtido por nio é muito instável não podendo ser esto- condições se consegue cinéticas de rea-
adsorção seletiva do ar através de sua cado ou transportado para ser utilizado. ções rápidas e fortes reduções de DQO.
passagem por peneiras moleculares es- A geração do ozônio deverá ser fei- O processo de " oxidação úmida "
pecíficas do tipo PSA ou VSA ( ta no local ou próximo do ponto de é indicado particularmente para
pressure or vacum swing-adsorption ). aplicação. efluentes líquidos que tem como úni-
A distribuição do oxigênio até seus A Air Liquide pode fornecer um sis- ca alternativa a incineração ( DQO
pontos de utilização pode ser feita de tema de produção integrado de ozônio acima de 15g/l ) e que não se ade-
várias maneiras dependendo do con- no próprio SITE associados a uma gama quam para serem tratados através de
sumo e das distâncias até as plantas de serviços de manutenção, assistência um sistema biológico.
de produção. técnica e regulagem do equipamento. · Peróxido de hidrogênio e o ozônio
Nas quantidades menores a forma de constituem o processo de oxidação
distribuição é em gás comprimido em Reatividade avançada (fig. II)
cilindros ( 200 bars de pressão ), em O peróxido de hidrogênio reage
quantidade regulares utiliza-se a forma O2, H2O2, O3, são produtos com com compostos ricos em elétrons como
liquefeita ( -183º C ) em tanques estáti- alto potencial de oxidação ( como os sulfetos, nitritos, sulfitos ...
cos criogênicos e em consumos maiores mostra a Tabela II ), podendo ser Através da ativação catalítica per-
a distribuição pode ser feita diretamen- ativados de maneiras seletivas : mite obter reações seletivas de epoxi-
te por canalizações à partir da planta de dação ou hidroxilação que são larga-
produção ou no próprio local de consu- · Temperatura mente utilizadas em síntese orgânica.
mo através de unidades "on site ". A ativação térmica é o modo mais A utilização de catalizadores permite
clássico empregado para a utilização oxidar aminas e cianetos.
Peróxido de Hidrogênio do oxigênio, notadamente nos proces- O ozônio reage preferencialmente
sos de incineração. compostos insaturados como hidrocar-
É produzido pelo processo de oxi- Neste processo o oxigênio permite bonetos aromáticos realizando um que-
dação orgânica que usa uma aumentar a velocidade da reação e a bra nas ligações carbono-carbono.
Antraquinona dissolvida num solvente temperatura de combustão conduzin- Desta forma obtém-se compostos
orgânico. Essa Quinona é hidrogenada do desta forma a destruição de com- de cadeia molecular menores, aumen-
cataliticamente a Hidroquinona. A postos tóxicos mais importantes. tando consideravelmente a biodegra-
aeração subsequente produz o Por outro lado a utilização do oxi- dabilidade dos efluentes líquidos.
Peróxido de Hidrogênio. gênio neste processo permite também O ozõnio reage igualmente com
reduzir as emissões de Nox e a redu- sulfetos, amônia e cianetos.
Antraquinona
H2 + O2 H2O2 ção do consumo energético, como tam- Precipita também certos metais
bém a diminuição dos investimentos. (Fe, Mn,Cr... ) em solução aquosa
É comercializado na forma de so- Um estudo de implantação do pro- oxidando estes compostos que vão
lução aquosa à 35%, 50% ou 70% es- cesso de combustão a oxigênio puro de ao mais alto nível de valência que
tocados em reservatórios ou diretamen- resíduos ácidos gerados na fabricação possuem.
te em containers. de metacrilato de metila resultaram A utilização em conjunto do peró-
numa diminuição de 20% do consumo xido de hidrogênio e do ozônio ou
Ozônio de combustível e 40% nos investimen- também de raios ultravioletas em pre-
tos, além de uma rdução significativaa sença do ozônio podem gerar os radi-
Industrialmente o ozônio é obtido nas emissões de CO2, Nox e SO2. cais hidroxila OH os quais apresen-
através da passagem de uma corrente · Efeito combinado da temperatura tam potencial de oxidação bem supe-
elétrica na presença de ar ou oxigênio e pressão rior e permite através de uma reação
puro, esta descarga quebra as molécu- Também denominado como oxidação não seletiva eliminar de maneira mais
las de oxigênio gerando oxigênio atô- supercrítica ou oxidação úmida (WAO). eficiente os compostos poluentes pre-
mico que devido a sua alta reatividade A oxidação em fase aquosa em con- sentes nos efluentes.
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TABELA II - Potenciais de Oxidação Estudo de casos

Exemplos de Dignósticos para


Oxidante Potencial Químico ( V )+ Oxidação
1. Trata-se de efluente que após o
sistema físico-químico apresenta co-
Flúor, F2 3,06
Radical Hidroxila, OH 2,80
loração e residual de DQO.
Oxigênio Atômico, O 2,42 Diferentes processos de oxidação
Ozônio, O3 2,08 ( O3, H2O2, UV ) foram estudados em
Peróxido de Hidrogênio, H2O2 1,78 laboratório.
Permanganato, MnO4 1,67 As taxas de redução observadas
Ácido Hipocloroso, HClO 1,49
Cloro, Cl2 1,36 estão reportadas na Tabela III.
Dióxido de Cloro, ClO2 1,27 Neste caso em particular, o objeti-
Oxigênio, O2 1,23 vo do tratamento é de remover a cor
do efluente através de ozonização ob-
tendo-se um ponto ótimo para o custo
Fig. 2 - Processo de Fig 3. - As etapas benefício do processo.
Oxidação Avançada principais de implantação A figura 4 mostra o consumo de
do processo de oxidação oxidante para a remoção da cor, com
Ensaios de remoção de cor por eficiência bastante grande.
ozonização Com base nestes testes foi instala-
do uma planta piloto no próprio SITE
( vazão de 1m3/h ) que confirmou os
resultados obtidos anteriormente nos
ensaios de laboratório, estes dados po-
dem ser observados na figura 5.

Testes em laboratório

Escolha do Processo de
Oxidação

A definição da melhor forma de Fig. 4 - Variações da DQO e da cor em função


do ozônio consumido
oxidação que se adapte a um efluente
industrial passa por uma avaliação téc-
nica e econômica em função dos obje-
tivos iniciais.
A performance do sistema é medi- Teste em planta piloto
da através de um diagnóstico progres-
sivo que inclui estudo de viabilidade
em laboratório para definição de
parâmetros de operação ótimos como
dosagem de oxidante, temperatura, pH,
tempo de residência...., unidade de
planta piloto adaptada ao modo de
oxidação selecionada e finalmente a
instalação industrial. (fig. III ).
Instalação
Industrial Fig. 5 - Teste de remoção de cor

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diminuição da cor e da DQO reporta- tados na estação tem como caracterís-
das na Tabela IV. tica principal uma coloração bastante
Ensaios em escala piloto compro- acentuada com também a presença de
varam a eficiência desta aplicação. compostos tensoativos compondo um
total de 80% do fluxo a ser tratado.
Os tanques de ozonização são
construídos em concreto e são proje-
tados com chicanes internas para aten-
der a tempos de residência específicos
(fig. 7).
Fig 6- Geradores de Ozônio
Conclusão
2. Um efluente apresenta após o tra-
tamento biológico uma DQO de 320 A utilização de compostos oxidantes
mg/l e uma coloração marrom clara como o oxigênio, peróxido de hidrogê-
(DO=0,45 e 380nm ). Através do trata- nio ou o ozônio permitem otimizar os
Fig 7 - Tanques de contato
mento com ozônio podemos verificar a sistemas de tratamento de efluentes que
TABELA III visam o reuso / reciclo da água industri-
al complementado tecnologias conven-
cionais, com a vantagem de não gerar
Cor do Efluente Oxidante Redução da Cor Redução DQO (%)
(%) subprodutos que prejudiquem o reapro-
veitamento, resultando dessa forma:
Vermelho vivo O3 97 3 -14 · Uma integração com tratamentos
H 2O 2 / UV 99 90 primários, aumentando a biodegra-
Vermelho cereja O3 99 18
H 2O 2 - UV 99 49
dabilidade de muitos compostos or-
Violeta O3 90 10 gânicos ou eliminando compostos
H 2O 2 - UV 100 90 tóxicos, permitindo assim a possi-
Púrpura O3 98 14 bilidade desses efluentes serem tra-
H 2O 2 - UV 99 64
tados biologicamente.
TABELA IV
· Uma integração com tratamentos
terciários funcionando como um
polimento ( redução de DQO, remo-
Tempo de Ozonização (min.) Cor DQO ção de cor, desinfecção após trata-
0 Marrom 320 mento físico-químico ou biológico).
5' Bege claro 210 Um denominador comum entre es-
10´ Leve/e Colorido 185 tas tecnologias reside na facilidade de
20´ Incolor 125 combinação entre elas, permitindo
uma flexibilidade importante na re-
Aplicação Industrial moção dos poluentes, através de uni-
dades modulares.
A estação em questão trata um mis- O tratamento terciário é composto Com sete centros de tecnologia e
tura de efluente sanitário com indus- por 4 geradores de ozônio com capa- pesquisa em vários países a Air Liqui-
trial, principalmente fábricas texteis. cidade de 40 Kg/h cada um, operando de, líder mundial na produção de ga-
A carga poluidora é equivalente a com oxigênio puro (Fig. 6). ses industriais destaca-se também na
uma população de 800.000 habitantes O objetivo final é de reciclar o efluente busca e aplicação de tecnologias que
e a vazão é de 5000m3/h. tratado para as indústrias próximas da pemitem a preservação do Meio Am-
O tratamento compõe-se basica- estação de tratamento, removendo com- biente, contribuindo desta forma com
mente de uma decantação primária, postos tensoativos ( de 4 para 1,5 ppm ), um desenvolvimento sustentável.
lodos ativados e uma decantação cor e promovendo a desinfecção.
secundária. Os efluentes texteis que são descar-
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