Professional Documents
Culture Documents
Nem sempre é fácil indicarmos um filme ao público, justificando nossa opinião sobre a sua
qualidade técnica, formal e/ou de conteúdo. Precisamos seguir um caminho profissional
que reconheça nossas características pessoais e circunstâncias externas, além de
exercermos a aptidão necessária da empatia, colocando-nos insistente e sucessivamente no
lugar dos leitores e ouvintes.
Escrevo essas observações não somente para os meus colegas; dirijo esses comentários,
também, ao público, para que se conscientize igualmente do que precisa exigir de todos os
profissionais que assumiram a proposta de freqüentar com assiduidade as salas de exibição.
Para confiar nos textos informativos/opinativos, a sociedade supõe a dedicação a uma
atividade regular (jamais esporádica, eventual...) de comparecimento, estudo comparativo,
pesquisa de bibliografia e filmografia.
RITUAL DE CULTURA
A sociedade necessita do cinema como ritual de cultura. Uma prática salutar, intelectual,
afetiva. Uma forma de lazer, muitas vezes. Contudo, não podemos esquecer seu papel
documental, sua ação denunciadora, perturbadora, seus convites à reflexão crítica.
Escrever sobre cinema demanda, além do mais, uma postura de incentivo a esse ritual de
cultura. Damos o exemplo de comparecermos às salas de cinema, de conversarmos com
entusiasmo sobre o assunto, de nos debruçarmos, diligentemente, sobre as leituras
referenciais e outros materiais. Da empolgação com os travellings, as panorâmicas e os
closes, retiramos o fôlego para vermos os filmes repetidas vezes, memorizando os diálogos
preferidos, absorvendo as suas cores, luzes e sombras. A interpretação nos convence e
surpreende; a sonoplastia parece ter vida própria, a fotografia de qualidade transforma em
quadros originais os lugares mais comuns.
Um bom filme: enriquece a nossa rotina! Faz, do ritual do cinema, em sua repetição
convicta, uma festa,uma celebração da vida, mesmo quando se mostrou a morte em traços
impressionistas ou na crueza do realismo-naturalismo. E a velocidade da projeção dos
fotogramas, criando a ilusão do movimento, vivifica o que parecia fugaz, eterniza o
temporário.
A JORNADA DO OLHAR
Numa peregrinação que pode até ser inconsciente, o trio coração-mente-visão (a ordem dos
fatores é variável...) segue a jornada de filme a filme, num processo de capacitação
emocional e de observações intelectuais aberto a qualquer ser humano que se disponha a
conhecer o cinema cada vez mais intimamente.
Acredito nos efeitos benéficos dessa jornada que nos aproxima de outros seres humanos,
envolvidos na criação, realização e divulgação das obras cinematográficas. A sétima arte -
em todos os seus estágios, entre os quais há desdobramentos como produtos comerciais
disseminados no mundo inteiro (fotos, livros, camisetas,etc.) - emprega crescentemente um
maior número de pessoas.
Pensar com sensibilidade inclui o próximo, em nossas opções. Bem sabemos que há filmes
capazes de revolver profundamente nosso íntimo. Ao nos sensibilizar, o cinema nos
transforma como pessoas. Comédia, drama, documentário, ficção científica, suspense,
aventura, fábula...o gênero é uma questão da multiplicidade de escolhas a nosso dispor. O
que importa: a qualidade dos filmes. E a nossa disposição de, em busca do lazer e da
cultura, nesse ritual encontrarmos mais um caminho para SER (ABN).