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Elenco
O filme brasileiro de 2003, dirigido por Eliane Caffé conta a história de um povoado
fictício chamado Vale de Javé, que está ameaçado de ser inundado pela construção de uma
represa. Os moradores da cidade (os narradores descritos no título do filme) temem deixar
suas casas e perder tudo o que construíram por tantos anos, principalmente por conta valor
simbólico de suas tradições e memórias do povo guerreiro que fundou o lugar.
A única alternativa encontrada para salvar o povoado seria encontrar uma forma de
transformá-lo em patrimônio e provar que há um valor histórico a ser preservado. Então
decidem escrever um dossiê para documentar toda a história de Javé, é deixado claro que isso
deveria ser escrito de forma científica, que no entendimento dos populares seria algo verídico,
com formas de comprovação e nenhum fato que fosse inventado ou aumentado. Porém o único
adulto alfabetizado, hábil para a tarefa, que havia na comunidade era Antônio Biá, um homem
odiado por todos por causa de uma armação feita para tentar salvar o seu emprego, que gerou
um grande descontentamento entre a população e havia sido expulso do local. Até então os
moradores não davam valor a escrita, tanto é que o resto do povoado era semi ou totalmente
analfabeto.
Os populares saem em busca do escrivão que ao ser trazido foi recebido com
expressões populares como: “Você não presta!” e “Seu sem-vergonha!”, ele aceita o desafio
como forma de redenção pelo que havia feito. Biá sai em busca das memórias dos moradores
e se depara com diversos fatos e versões de uma mesma história, o que dificulta o seu
trabalho. Cada personagem que contava o que sabia, integrava ao conto alguma peculiaridade,
por exemplo: O personagem Vicentino conta que o grande fundador de Javé foi um bravo
guerreiro chamado Indalécio, já a personagem Deodora conta que na verdade o vilarejo foi
fundado por uma mulher, Maria Dina, enquanto Indalécio estava ferido.
É comum durante a fala dos personagens o uso de ditos de populares como “quem
conta um conto aumenta um ponto” ou uma frase usada por Deodora para impedir que Biá
entrasse em sua casa: “Nem com ordem de um santo, nem com ordem do Diabo.” Frases
como essas caracterizam a fala do conhecimento popular, assim como os diversos apelidos
ditos por Antonio Biá para ofender as pessoas: “Tamborete de forró, catimbozeira, manicure de
lacraia, etc.” Outra manifestação do conhecimento popular vista no filme é a prática de “cantar
as divisas”, que é a demarcação de territórios a partir da palavra falada.