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Assunto: O Poder do Nada

Data: Fri, 29 Oct 2004 19:16:13 -0300


De: "JEFFERSON COSTA GOIS" <jefferson.cgois@sp.senac.br>

As teorias do nada na física quântica, na astronomia e na economia, constituem a filosofia dominante


de nossa época. Mas, o que eu e você temos com isso? – Se você pensou em “nada”, está certo! O nada nunca
teve tanta importância em nossa história desde a invenção do algarismo Zero na Índia.

Na antiguidade a Grécia e o Egito foram civilizações primorosas em sua engenharia, ciência e


planejamento social, no surpreendente racionalismo são referências de suas épocas. Este racionalismo
impediu que em suas notações fossem inclusos valores, conceitos ou símbolos que representassem o “nada”.
A Índia foi o berço das culturas orientais representativas, marcada pela mistura entre razão e misticismo. A
importância dada à metafísica é tão grande quanto os assuntos materiais. Conhecendo um pouco da cultura da
Índia, que temiam que as áreas escuras entre as estrelas engolissem as próprias estrelas, compreende-se que
somente uma cultura de crenças tão peculiares poderia ter criado a representação do nada na matemática.

O difícil conceito do vazio tem atormentado a imaginação da humanidade desde a antiguidade. Como
conceito sem regras, ambiente de teorias e especulações, o vazio de nossa compreensão sempre serviu de
terreno para cultivo de dogmas, misticismo e do medo. Os antigos achavam que o mundo sempre estava
cercado por águas e no vazio entre as águas e o universo havia monstros.

Poderia o antigo povo hindu ter razão em seus temores de o nada corromper a matéria,
transformando-a em nada? A seguinte equação matemática (0 x X = 0) diz que sim. Qualquer coisa
multiplicada pelo nada vira nada. Na astrofísica as recentes observações do universo indicam que há um
aumento acelerado do nada (chamado de matéria escura) “empurrando” para longe as galáxias mais distantes
mais rapidamente que as mais próximas. Se isto continuar a acontecer, as previsões são de que o nada irá
dilacerar as galáxias, os sistemas solares, as estrelas e os planetas, as moléculas e os átomos nesta ordem.

O racionalismo de Aristóteles e a existência da matéria têm sido questionados desde Berkeley, hoje a
ciência diz que o nada é quase tudo e que a matéria provém do nada. O racionalismo cedeu espaço para o
relativismo e o abstrato substituiu o concreto. Einstein nos explicou o universo relativo, Picasso o universo
abstrato.

A mentira teve seu nome substituído pelo substantivo “especulação”, a especulação faz surgir crédito
a partir do nada. Os bancos e financiadores utilizam-se do artifício do crédito para fazer dinheiro a partir do
nada, por vezes a maior parte do valor monetário que circula no mundo é crédito, ou seja, nada.

A tecnologia moderna aprimorou a visão do ilusório e agora sustenta o mundo e o comércio virtual,
onde há empresas virtuais, comercializando produtos que ainda não foram fabricados pagos com “dinheiro”
que ainda não foi recebido. Poderia alguém construir uma representação mais convincente do nada que o
virtualismo?

A Informática não carrega esse fardo isoladamente. Ela mesma é uma parte de toda a tecnologia e
organização intermediária entre indivíduo e o mundo real. A tecnologia do entretenimento e “informação”
insere em nossas mentes conceitos imaginários de experiências que não são nossas. Feito de forma tão
carismática que atribuímos estas visões como sendo uma experiência de nossas vidas. Construímos a vida
dentro do nada.

O virtualismo é o cultivo do nada. Mas, a origem dele não é tecnológica, pois a ciência e a tecnologia
são hoje apenas a “gramática do mundo”. É causado pelo descomprometimento com a durabilidade e solidez
de nossas obras, a inconseqüência de nossas ações e o descaso com o postulado de nossa raça. A humanidade
inconseqüente encontra álibi para seus crimes no universo do virtualismo. Estou me referindo ao crédito do
sistema financeiro, ao formato extremamente livre da Internet, ao poder da imprensa, à conduta imprudente
das áreas teóricas da ciência, ao poder crescente da influência das doutrinas metafísicas religiosas e todas as
doutrinas especulativas. Ainda que essas formas de virtualismo possam facilmente desenvolver o que há de
mais destrutivo no espírito humano, as sensações de impunidade e “invisibilidade” que estas realidades
paralelas causam nas pessoas ainda têm potencial ainda mais destrutivo.

Veja alguns dos precedentes do virtualismo:

Uma pessoa poderia pensar no porque pagar dívidas se é possível transferi-las para outros ou para os
filhos. Ainda pode optar entre pagar todos os débitos com os créditos e dívidas com dívidas. A conseqüência
direta desta atitude é a desvalorização da moeda e aumento do custo de vida da geração atual e das gerações
futuras. Mas alguém diria: Isto é relativo. Minha resposta é que os fatores que impedem a desvalorização e
que são baseados em crédito são replicadores da espiral que insiste em pagar dívida com dívida. Somente algo
do mundo real pode reverter isto. Mas, uma vez que é necessário produzir bens reais para pagar uma dívida,
se o valor da dívida supera o valor de todos os recursos naturais do mundo real, a dívida é impagável.
Portanto, o virtualismo não vê limites no mundo real.

Como provar um crime virtual se este não é feito a partir de fatos concretos? Na prática pode-se
apenas culpar o computador que estava ativo no ato do crime. O usuário somente pode ser indiciado se houver
flagrante. E se o “criminoso” for um programa do computador? Esta é uma questão difícil. Mas a impaciência
com assuntos complicados aliada à intolerância poderá condenar inocentes por criminosos. Portanto, o
virtualismo não pode ser regido por regras do mundo real, têm seus próprios métodos.

Embora seja difícil identificar o criador de um boato, o boato sempre é conhecido. O boato é só um
boato quando há conhecimento da verdade, do contrário é verdade até que se prove o contrário! Portanto, o
virtualismo pode subverter o mundo real.

Conclusão:

Termino esse texto com a impressão de deixar muito mais questões do que antes. Se o fiz, consegui
atingir meu propósito, pois a dúvida só existe onde há conhecimento. O assunto sobre o “nada” é extenso
suficiente para temas de livros inteiros. Contudo, a abordagem do tema certamente nos dará um conhecimento
pelo qual podemos lançar novo olhar em nossa época e preparar um mundo melhor para as gerações futuras.
O que deixaremos para os nossos filhos além do nada?

JEFFERSON C. GOIS - TALENT PRO IT


Analista de Sistemas GES

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