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CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA DE CIDADE E CULTURA VISUAL
VALDÍVIA COSTA
CAMPINA GRANDE-PB
2009
A FOTOGRAFIA COMO INSTRUMENTO DE CRÍTICA
SOCIAL TRANSFORMADORA DA REALIDADE
Valdívia Costa1
1
Especialista em Comunicação e Educação (2007) e graduada em Comunicação Social pela Universidade
Estadual da Paraíba (UEPB) em 2002.
2
FREUND, Gisele. “A fotografia de imprensa”. In Fotografia e Sociedade. Tradução de Pedro Miguel
Frade. Lisboa, veja, 1995 (p.106-111).
períodos que se seguem entre as duas guerras mundiais, os fotógrafos tiveram
vasto material humano de muita pobreza, exclusão e injustiças.
Intencionados ou não para fazer crer que esse tipo de imagem causava
realmente uma mudança ao ser publicada e comentada entre as pessoas, os
repórteres fotográficos usaram e abusaram dessa temática ao longo desses
últimos 70 anos. Era o que Gisele definiu como o fotojornalismo moderno,
atividade tão atual e objetiva que até a nitidez da imagem ficou em segundo
plano, em detrimento do assunto e da emoção que a foto foi capaz de suscitar
explorando temáticas humanas3.
A mesma emoção e comoção que abateram também os EUA ao ver a
fotografia de uma criança nua, correndo queimada, gritando por socorro entre
os fugitivos de uma invasão bombardeada americana no Vietnã (1939). Essa
foto em particular mobilizou organizações mundiais de combate às guerras e
de direitos humanos, que se uniram em defesa do fim da guerra do Vietnã.
No Brasil, a imprensa já trabalha com esse tipo de imagem no sentido de
provocar ações e soluções para os problemas sociais. Embora muitos meios
explorem o fotojornalismo denúncia apenas pelo sensacionalismo comercial
que o mesmo causa, muitos profissionais conseguem resultados profissionais
através de imagens de um cotidiano moldado pela lógica capitalista, excludente
e marginal, que deixa parte da população carente de muitas necessidades.
Um desses problemas foi retratado em Caxias do Sul (RS), ao flagrar a
mãe sentada numa calçada, próxima a restos de lanches, enquanto a filha
pede dinheiro num carro. O motorista pára ao notar o tamanho da criança. Em
qualquer cidade que tenha um tráfego intenso de carros é comum vermos as
mães usarem os filhos para pedirem nos sinais de trânsito e nas ruas.
Talvez a imagem não tenha circulado muito porque encontrei-a no blog
Brasil contra a pedofilia4. Os Ministérios Públicos de alguns Estados brasileiros
já estão linkados no blog e em contato com essa realidade. Supomos que esse
contato virtual é válido porque, daí para aplicar um método de trabalho que
controle ou elimine o problema social, é mais viável. O contato desses órgãos
públicos com o fotojornalismo, que retrata a realidade vista no cotidiano de
todos, menos no das autoridades, poderá ocasionar mais um desfecho que
essa atividade profissional provocou.
Ao adotarmos a ideia de fotojornalismo empregada por Barthes, a
fotografia de imprensa é uma mensagem porque, para a foto ser feita, ela
passou por uma fonte emissora (jornal), um canal de transmissão (jornal ou
revista) e um receptor (leitor). Além disso, a foto ainda recebe sua
característica primordial para identificá-la como jornalística, uma legenda, um
texto pequeno que “informa” o que tem na foto5.
Para o autor, a imagem fotográfica é uma mensagem sem código. Como
os desenhos, quadros, cinema e até o teatro, Barthes definia-as, assim como a
fotografia, de mensagens sem códigos devido as suas reproduções analógicas
da realidade. E todas, para ele, comportam dois sentidos apenas, um
denotativo e outro conotativo, definido pelo autor como “a maneira de leitura e
o que a sociedade pensa sobre o que foi fotografado”6.
3
FREUND, Gisele. “A fotografia de imprensa”. In Fotografia e Sociedade. Tradução de Pedro Miguel
Frade. Lisboa, veja, 1995 (p.115)
4
Pesquisa na internet no blog http://brasilcontraapedofilia.wordpress.com.
5
BARTHES, Roland. “A mensagem fotográfica”. In Teoria da Cultura de massa. Introdução, comentários
e seleção de Luiz Costa Lima. Rio de Janeiro, 1978 (p. 303).
6
Idem (p. 305)
Por pensar justamente na imagem que proporciona um desfecho social e
a conotação, definida por Barthes como a imposição de um sentido segundo a
mensagem fotográfica propriamente dita, elaborada desde a escolha do tema a
ser fotografado até o lugar que a imagem terá na página de um jornal, é que
escolhemos a série fotográfica realizada no hospital João Ribeiro, localizado no
bairro da Liberdade, em Campina Grande (PB), no ano de 2005.