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"#$! Um raio
Quem porfiar contigo... ousara Fulgura
Da glória o poderio; No espaço
Tu que fazes gemer pendido o cedro, Esparso,
Turbar-se o claro rio? De luz;
A. HERCULANO E trêmulo
E puro Bem como serpentes que o frio
Se aviva, Em nós emaranha, ² salgadas
S¶esquiva As ondas s¶estanham, pesadas
Rutila, Batendo no frouxo areal.
Seduz! Disseras que viras vagando
Vem a aurora Nas furnas do céu entreabertas
Pressurosa, Que mudas fuzilam, ² incertas
Cor de rosa, Fantasmas do gênio do mal!
Que se cora E no túrgido ocaso se avista
De carmim; Entre a cinza que o céu apolvilha,
A seus raios Um clarão momentâneo que brilha,
As estrelas, Sem das nuvens o seio rasgar;
Que eram belas, Logo um raio cintila e mais outro,
Tem desmaios, Ainda outro veloz, fascinante,
Já por fim. Qual centelha que em rápido instante
O sol desponta Se converte d¶incêndios em mar.
Lá no horizonte, Um som longínquo cavernoso e ouco
Doirando a fonte, Rouqueja, e n¶amplidão do espaço morre;
E o prado e o monte Eis outro inda mais perto, inda mais rouco,
E o céu e o mar; Que alpestres cimos mais veloz percorre,
E um manto belo Troveja, estoura, atroa; e dentro em pouco
De vivas cores Do Norte ao Sul, ² dum ponto a outro corre:
Adorna as flores, Devorador incêndio alastra os ares,
Que entre verdores Enquanto a noite pesa sobre os mares.
Se vê brilhar. Nos últimos cimos dos montes erguidos
Um ponto aparece, Já silva, já ruge do vento o pegão;
Que o dia entristece, Estorcem-se os leques dos verdes palmares,
O céu, onde cresce, Volteiam, rebramam, doudejam nos ares,
De negro a tingir; Até que lascados baqueiam no chão.
Oh! vede a procela Remexe-se a copa dos troncos altivos,
Infrene, mas bela, Transtorna-se, tolda, baqueia também;
No ar s¶encapela E o vento, que as rochas abala no cerro,
Já pronta a rugir! Os troncos enlaça nas asas de ferro,
Não solta a voz canora E atira-os raivoso dos montes além.
No bosque o vate alado, Da nuvem densa, que no espaço ondeia,
Que um canto d¶inspirado Rasga-se o negro bojo carregado,
Tem sempre a cada aurora; E enquanto a luz do raio o sol roxeia,
É mudo quanto habita Onde parece à terra estar colado,
Da terra n¶amplidão. Da chuva, que os sentidos nos enleia,
A coma então luzente O forte peso em turbilhão mudado,
Se agita do arvoredo, Das ruínas completa o grande estrago,
E o vate um canto a medo Parecendo mudar a terra em lago.
Desfere lentamente, Inda ronca o trovão retumbante,
Sentindo opresso o peito Inda o raio fuzila no espaço,
De tanta inspiração. E o corisco num rápido instante
Fogem do vento que ruge Brilha, fulge, rutila, e fugiu.
As nuvens aurinevadas, Mas se à terra desceu, mirra o tronco,
Como ovelhas assustadas Cega o triste que iroso ameaça,
Dum fero lobo cerval; E o penedo, que as nuvens devassa,
Estilham-se como as velas Como tronco sem viço partiu.
Que no alto mar apanha, Deixando a palhoça singela,
Ardendo na usada sanha, Humilde labor da pobreza,
Subitâneo vendaval.
Da nossa vaidosa grandeza, Nas águas pousa;
Nivela os fastígios sem dó; E a base viva
E os templos e as grimpas soberbas, De luz esquiva,
Palácio ou mesquita preclara, E a curva altiva
Que a foice do tempo poupara, Sublima ao céu;
Em breves momentos é pó. Inda outro arqueia,
Cresce a chuva, os rios crescem, Mais desbotado,
Pobres regatos s¶empolam, Quase apagado,
E nas turvam ondas rolam Como embotado
Grossos troncos a boiar! De tênue véu.
O córrego, qu¶inda há pouco Tal a chuva
No torrado leito ardia, Transparece,
É já torrente bravia, Quando desce
Que da praia arreda o mar. E ainda vê-se
Mas ai do desditoso, O sol luzir;
Que viu crescer a enchente Como a virgem,
E desce descuidoso Que numa hora
Ao vale, quando sente Ri-se e cora,
Crescer dum lado e d¶outro Depois chora
O mar da aluvião! E torna a rir.
Os troncos arrancados A folha
Sem rumo vão boiantes; Luzente
E os tetos arrasados, Do orvalho
Inteiros, flutuantes, Nitente
Dão antes crua morte, A gota
Que asilo e proteção! Retrai:
Porém no ocidente Vacila,
S¶ergue de repente Palpita;
O arco luzente, Mais grossa
De Deus o farol; Hesita,
Sucedem-se as cores, E treme
Qu¶imitam as flores E cai.
Que sembram primores
Dum novo arrebol.
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² Meus olhos são garços, são cor das safiras,
Eu vivo sozinha, ninguém me procura! ² Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;
Acaso feitura ² Imitam as nuvens de um céu anilado,
Não sou de Tupá! ² As cores imitam das vagas do mar!
Se algum dentre os homens de mim não se
esconde: Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:
² "Tu és", me responde, "Teus olhos são garços",
"Tu és Marabá!" Responde anojado, "mas és Marabá:
"Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,
"Uns olhos fulgentes, "Que as flóreas campinas governa, onde está."
"Bem pretos, retintos, não cor d'anajá!"
² Meus loiros cabelos em ondas se anelam,
² É alvo meu rosto da alvura dos lírios, ² O oiro mais puro não tem seu fulgor;
² Da cor das areias batidas do mar; ² As brisas nos bosques de os ver se enamoram
² As aves mais brancas, as conchas mais puras ² De os ver tão formosos como um beija-flor!
² Não têm mais alvura, não têm mais brilhar.
Mas eles respondem: "Teus longos cabelos,
Se ainda me escuta meus agros delírios: "São loiros, são belos,
² "És alva de lírios", "Mas são anelados; tu és Marabá:
Sorrindo responde, "mas és Marabá: "Quero antes cabelos, bem lisos, corridos,
"Quero antes um rosto de jambo corado, "Cabelos compridos,
"Um rosto crestado "Não cor d'oiro fino, nem cor d'anajá,"
"Do sol do deserto, não flor de cajá."
²²²²
² Meu colo de leve se encurva engraçado,
² Como hástea pendente do cáctus em flor; E as doces palavras que eu tinha cá dentro
² Mimosa, indolente, resvalo no prado, A quem nas direi?
² Como um soluçado suspiro de amor! ² O ramo d'acácia na fronte de um homem
Jamais cingirei:
"Eu amo a estatura flexível, ligeira,
Qual duma palmeira", Jamais um guerreiro da minha arazóia
Então me respondem; "tu és Marabá: Me desprenderá:
"Quero antes o colo da ema orgulhosa, Eu vivo sozinha, chorando mesquinha,
Que pisa vaidosa, Que sou Marabá!
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O biem qu'aucun bien ne peut rendre,
O Patrie, ó doux nom que l'exil fait comprendre!
Marino Faliero
Esta noite ² era a lua já morta ² O meu sangue gelou-se nas veias,
Anhangá me vedava sonhar; Todo inteiro ² ossos, carnes ² tremi,
Eis na horrível caverna, que habito, Frio horror me coou pelos membros
Rouca voz começou-me a chamar. Frio vento no rosto senti.
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Cuidado, leitor, ao voltar esta página!
Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira
ilha Baratária de D. Quixote, onde Sancho é rei e vivem Panúrgio, sir John Falstaff, Bardolph, Fígaro e o
Sganarello de D. João Tenório: ² a pátria dos sonhos de Cervantes e Shakespeare.
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban.
A razão é simples. É que a unidade deste livro funda-se numa binomia: ² duas almas que moram nas
cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas
faces.
Demais, perdoem-me os poetas do tempo, isto aqui é um tema, senão mais novo, menos esgotado ao menos
que o sentimentalismo tão v desde Werther até René.
Por um espírito de contradição, quando os homens se vêem inundados de páginas amorosas preferem um
conto de Bocaccio, uma caricatura de Rabelais, uma cena de Falstaff no
de Shakespeare, um
provérbio fantástico daquele polisson Alfredo de Musset, a todas as ternuras elegíacas dessa poesia de
arremedo que anda na moda e reduz as moedas de oiro sem liga dos grandes poetas ao troco de cobre,
divisível até ao extremo, dos liliputianos poetastros. Antes da Quaresma há o Carnaval.
Há uma crise nos séculos como nos homens. É quando a poesia cegou deslumbrada de fitar-se no misticismo
e caiu do céu sentindo exaustas as suas asas de oiro.
O poeta acorda na terra. Demais, o poeta é homem:
, como dizia o célebre Romano. Vê, ouve,
sente e, o que é mais, sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem
artérias ² isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo. E, digam o que quiserem,
sem esses elementos, que sou o primeiro a reconhecer muito prosaicos, não há poesia.
O que acontece? Na exaustão causada pelo sentimentalismo, a alma ainda trêmula e ressoante da febre do
sangue, a alma que ama e canta, porque sua vida é amor e canto, o que pode senão fazer o poema dos
amores da vida real? Poema talvez novo, mas que encerra em si muita verdade e muita natureza, e que sem
ser obsceno pode ser erótico, sem ser monótono. Digam e creiam o que quiserem: ² todo o vaporoso da
visão abstrata não interessa tanto como a realidade formosa da bela mulher a quem amamos.
O poema então começa pelos últimos crepúsculos do misticismo, brilhando sobre a vida como a tarde sobre
a terra. A poesia puríssima banha com seu reflexo ideal a beleza sensível e nua.
Depois a doença da vida, que não dá ao mundo objetivo cores tão azuladas como o nome britânico de
, descarna e injeta de fel cada vez mais o coração. Nos mesmos lábios onde suspirava a monodia
amorosa, vem a sátira que morde.
É assim. Depois dos poemas épicos, Homero escreveu o poema irônico. Goethe depois de
criou o
. Depois de Parisina e o Giaour de Byron vem o e que começa como
pelo amor e acaba como ele pela descrença venenosa e sarcástica.
Agora basta.
Ficarás tão adiantado agora, meu leitor, como se não lesses essas páginas, destinadas a não serem lidas.
Deus me perdoe! assim é tudo!... até prefácios!
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Fragmento Tem na lira do gênio uma só corda,
La chaise où je m¶assieds, la natte où je me ² Fibra de amor e Deus que um sopro agita!
couche, /La table ou je t¶écris Se desmaia de amor... a Deus se volta,
Mes gros souliers ferrés, mon baton, mon Se pranteia por Deus... de amor suspira.
Basta de Shakespeare. Vem tu agora,
chapeau, / Mês libres pêle-mêle entassés sur leur
Fantástico alemão, poeta ardente
planche. / De cet espace étroit sont tout Que ilumina o clarão das gotas pálidas
l¶ameublement. Do nobre Johannisberg! Nos teus romances
LAMARTINE, Jocelyn Meu coração deleita-se... Contudo,
I Parece-me que vou perdendo o gosto,
Ossian ² o bardo é triste como a sombra Vou ficando blasé: passeio os dias
Que seus cantos povoa. O Lamartine Pelo meu corredor, sem companheiro,
É monótono e belo como a noite, Sem ler, nem poetar... Vivo fumando.
Como a lua no mar e o som das ondas... Minha casa não tem menores névoas
Mas pranteia uma eterna monodia, Que as deste céu d¶inverno... Solitário
Passo as noites aqui e os dias longos... Como outrora do mundo os elementos
Dei-me agora ao charuto em corpo e alma: Pela treva jogando cambalhotas,
Debalde ali de um canto um beijo implora, Meu quarto, mundo em caos, espera um Fiat!
Como a beleza que o Sultão despreza, IV
Meu cachimbo alemão abandonado! Na minha sala três retratos pendem:
Não passeio a cavalo e não namoro, Ali Victor Hugo. ² Na larga fronte
Odeio o lasquenet... Palavra d¶honra! Erguidos luzem os cabelos louros,
Se assim me continuam por dois meses Como c¶roa soberba. Homem sublime!
Os diabos azuis nos frouxos membros, O poeta de Deus e amores puros!
Dou na Praia Vermelha ou no Parnaso. Que sonhou Triboulet, Marion Delorme
II E Esmeralda ² a Cigana... E diz a crônica
Enchi o meu salão de mil figuras. Que foi aos tribunais parar um dia
Aqui voa um cavalo no galope, Por amar as mulheres dos amigos
Um roxo dominó as costas volta E adúlteros fazer romances vivos.
A um cavaleiro de alemães bigodes, V
Um preto beberrão sobre uma pipa, Aquele é Lamennais ² o bardo santo,
Aos grossos beiços a garrafa aperta... Cabeça de profeta, ungido crente,
Ao longo das paredes se derramam Alma de fogo na mundana argila
Extintas inscrições de versos mortos, Que as harpas de Sion vibrou na sombra,
E mortos ao nascer!... Ali na alcova Pela noite do século chamando
Em águas negras se levanta a ilha A Deus e à liberdade as loucas turbas.
Romântica, sombria, à flor das ondas Por ele a George Sand morreu de amores,
De um rio que se perde na floresta... E dizem que... Defronte, aquele moço
² Um sonho de mancebo e de poeta, Pálido, pensativo, a fronte erguida,
El-Dorado de amor que a mente cria, Olhar de Bonaparte em face austríaca,
Como um Éden de noites deleitosas... Foi do homem secular as esperanças:
Era ali que eu podia no silêncio No berço imperial um céu de agosto
Junto de um anjo... Além o romantismo! Nos cantos de triunfo despertou-o...
Borra adiante folgaz caricatura As águias de Wagram e de Marengo
Com tinta de escrever e pó vermelho Abriam flamejando as longas asas
A gorda face, o volumoso abdômen, Impregnadas do fumo dos combates
E a grossa penca do nariz purpúreo Na púrpura dos Césares, guardando-o...
Do alegre vendilhão entre botelhas, E o gênio do futuro parecia
Metido num tonel... Na minha cômoda Predestiná-lo à glória. A história dele?...
Meio encetado o copo, inda verbera Resta um crânio nas urnas do estrangeiro...
As águas d¶oiro do Cognac ardente: Um loureiro sem flores nem sementes...
Negreja ao pé narcótica botelha E um passado de lágrimas... A terra
Que da essência de flores de laranja Tremeu ao sepultar-se o Rei de Roma
Guarda o licor que nectariza os nervos. Pode o mundo chorar sua agonia
Ali mistura-se o charuto havano E os louros de seu pai na fronte dele
Ao mesquinho cigarro e ao meu cachimbo... Infecundos depor... Estrela morta,
A mesa escura cambaleia ao peso Só pode o menestrel sagrar-te prantos!
Do titâneo Digesto, e ao lado dele VI
Childe-Harold entreaberto... ou Lamartine Junto a meu leito, com as mãos unidas,
Mostra que o romantismo se descuida Olhos fitos no céu, cabelos soltos,
E que a poesia sobrenada sempre Pálida sombra de mulher formosa
Ao pesadelo clássico do estudo. Entre nuvens azuis pranteia orando.
III É um retrato talvez. Naquele seio
Reina a desordem pela sala antiga, Porventura sonhei douradas noites,
Desce a teia de aranha as bambinelas Talvez sonhando desatei sorrindo
À estante pulvurenta. A roupa, os livros Alguma vez nos ombros perfumados
Sobre as poucas cadeiras se confundem. Esses cabelos negros e em delíquio
Marca a folha do Faust um colarinho Nos lábios dela suspirei tremendo,
E Alfredo de Musset encobre, às vezes Foi-se a minha visão... E resta agora
De Guerreiro, ou Valasco, um texto obscuro. Aquele vaga sombra na parede
² Fantasma de carvão e pó cerúleo! ² Imploro uma ilusão... tudo é silêncio!
Tão vaga, tão extinta e fumacenta Só o leito deserto, a sala muda!
Como de um sonho o recordar incerto. Amorosa visão, mulher dos sonhos,
VII Eu sou tão infeliz, eu sofro tanto!
Em frente do meu leito, em negro quadro, Nunca virás iluminar meu peito
A minha amante dorme. É uma estampa Com um raio de luz desses teus olhos?
De bela adormecida. A rósea face X
Parece em visos de um amor lascivo Meu pobre leito! eu amo-te contudo!
De fogos vagabundos acender-se... Aqui levei sonhando noites belas;
E como a nívea mão recata o seio... As longas horas olvidei libando
Oh! quanta s vezes, ideal mimoso, Ardentes gotas de licor dourado,
Não encheste minh¶alma de ventura, Esqueci-as no fumo, na leitura
Quando louco, sedento e arquejante Das páginas lascivas do romance...
Meus tristes lábios imprimi ardentes Meu leito juvenil, da minha vida
No poento vidro que te guarda o sono! És a página d¶oiro. Em teu asilo
VIII Eu sonho-me poeta e sou ditoso...
O pobre leito meu, desfeito ainda, E a mente errante devaneia em mundos
A febre aponta da noturna insônia. Que esmalta a fantasia! Oh! quantas vezes
Aqui lânguido à noite debati-me Do levante no sol entre odaliscas
Em vãos delírios anelando um beijo... Momentos não passei que valem vidas!
E a donzela ideal nos róseos lábios, Quanta música ouvi que me encantava!
No doce berço do moreno seio Quantas virgens amei! que Margaridas,
Minha vida embalou estremecendo... Que Elviras saudosas e Clarissas,
Foram sonhos contudo! A minha vida Mais trêmulo que Faust, eu não beijava...
Se esgota em ilusões. E quando a fada Mais feliz que Don Juan e Lovelace
Que diviniza meu pensar ardente Não apertei ao peito desmaiando!
Um instante em seus braços me descansa Ó meus sonhos de amor e mocidade,
E roça a medo em meus ardentes lábios Porque ser tão formosos, se devíeis
Um beijo que de amor me turva os olhos... Me abandonar tão cedo... e eu acordava
Me ateia o sangue, me enlanguece a fronte... Arquejando a beijar meu travesseiro?
Um espírito negro me desperta, XI
O encanto do meu sonho se evapora... Junto do leito meus poetas dormem
E das nuvens de nácar da ventura ² O Dante, a Bíblia, Shakespeare e Byron
Rolo tremendo à solidão da vida! Na mesa confundidos. Junto deles
IX Meu velho candeeiro se espreguiça
Oh! ter vinte anos sem gozar de leve E parece pedir a formatura.
A ventura de uma alma de donzela! Ó meu amigo, ó velador noturno,
E sem na vida ter sentido nunca Tu não me abandonaste nas vigílias,
Na suave atração de um róseo corpo Quer eu perdesse a noite sobre os livros,
Meus olhos turvos se fechar de gozo! Quer, sentado no leito, pensativo
Oh! nos meus sonhos, pelas noites minhas Relesse as minhas cartas de namoro...
Passam tantas visões sobre meu peito! Quero-te muito bem, ó meu comparsa
Palor de febre meu semblante cobre, Nas doudas cenas de meu drama obscuro!
Bate meu coração com tanto fogo! E num dia de spleen, vindo a pachorra,
Um doce nome os lábios meus suspiram, Hei de evocar-te dum poema heróico
Um nome de mulher... e vejo lânguida Na rima de Camões e de Ariosto,
No véu suave de amorosas sombras Como padrão às lâmpadas futuras!
Seminua, abatida, a mão no seio,
Perfumada visão romper a nuvem, XII
Sentar-se junto a mim, nas minhas pálpebras Aqui sobre esta mesa junto ao leito
O alento fresco e leve como a vida Em caixa negra dois retratos guardo:
Passar delicioso... Que delírios! Não os profanem indiscretas vistas.
Acordo palpitante... inda a procuro: Eu beijo-os cada noite: neste exílio
Embalde a chamo, embalde as minhas lágrimas Venero-os juntos e os prefiro unidos...
Banham meus olhos, e suspiro e gemo...
² Meu pai e minha mãe! Se acaso um dia, Derrama no meu copo as gotas últimas
Na minha solidão me acharem morto, Dessa garrafa negra...
Não os abra ninguém. Sobre meu peito Eia! bebamos!
Lancem-os em meu túmulo. Mais doce És o sangue do gênio, o puro néctar
Será certo o dormir da noite negra Que as almas de poeta diviniza,
Tendo no peito essas imagens puras. O condão que abre o mundo das magias!
XIII Vem, fogoso Cognac! É só contigo
Havia uma outra imagem que eu sonhava Que sinto-me viver. Inda palpito,
No meu peito, na vida e no sepulcro, Quando os eflúvios dessas gotas áureas
Mas ela não o quis... rompeu a tela, Filtram no sangue meu correndo a vida,
Onde eu pintara meus dourados sonhos. Vibram-me os nervos e as artérias queimam,
Se posso no viver sonhar com ela, Os meus olhos ardentes se escurecem
Essa trança beijar de seus cabelos E no cérebro passam delirosos
E essas violetas inodoras, murchas, Assomos de poesia... Dentre a sombra
Nos lábios frios comprimir chorando, Vejo num leito d¶ouro a imagem dela
Não poderei na sepultura, ao menos, Palpitante, que dorme e que suspira,
Sua imagem divina ter no peito. Que seus braços me estende...
XIV Eu me esquecia:
Parece que chorei... Sinto na face Faz-se noite; traz fogo e dois charutos
Uma perdida lágrima rolando... E na mesa do estudo acende a lâmpada...
Satã leve a tristeza! Olá, meu pagem,
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Laisse-toi donc aimer! Oh! l¶amour c¶est la vie! E a estrada que além se desenrola
C¶est tout ce qu¶on regrette et tout ce qu¶on envie, No véu da escuridão;
Quand on voit sa jeunesse au couchant décliner! A restinga d¶areia onde rebenta
...................................................................... ......... O oceano a bramir,
La beauté c¶est le front, l¶amour c¶est la couronne: Onde a lua na praia macilenta
Laisse-toi couronner! Vem pálida luzir;
V. HUGO E a névoa e flores e o doce ar cheiroso
I Do amanhecer na serra,
Amo o vento da noite sussurrante E o céu azul e o manto nebuloso
A tremer nos pinheiros Do céu de minha terra;
E a cantiga do pobre caminhante E o longo vale de florinhas cheio
No rancho dos tropeiros; E a névoa que desceu,
E os monótonos sons de uma viola Como véu de donzela em branco seio,
No tardio verão, As estrelas do céu.
II Cheia da argêntea luz do firmamento,
Não é mais bela, não, a argêntea praia Orando por seu Deus,
Que beija o mar do sul, Então... eu curvo a fronte ao sentimento
Onde eterno perfume a flor desmaia Sobre os joelhos seus...
E o céu é sempre azul; E quando sua voz entre harmonias
Onde os serros fantásticos roxeiam Sufoca-se de amor
Nas tardes de verão E dobra a fronte bela de magias
E os suspiros nos lábios incendeiam Como pálida flor...
E pulsa o coração! E a alma pura nos seus olhos brilha
Sonho da vida que doirou e azula Em desmaiado véu,
A fada dos amores, Como de um anjo na cheirosa trilha
Onde a mangueira ao vento que tremula Respiro o amor do céu!
Sacode as brancas flores... Melhor a viração uma por uma
E é saudoso viver nessa dormência Vem as folhas tremer,
Do lânguido sentir, E a floresta saudosa se perfuma
Nos enganos suaves da existência Da noite no morrer...
Sentindo-se dormir... E eu amo as flores e o doce ar mimoso
Mais formosa não é, não doire embora Do amanhecer da serra
O verão tropical E o céu azul e o manto nebuloso
Com seus rubores... a alvacenta aurora Do céu da minha terra!
Da montanha natal...
Nem tão doirada se levante a lua
Pela noite do céu,
'
Mas venha triste, pensativa e nua V
Do prateado véu... VOque vês, trovador? - Eu vejo a lua
Que me importa? se as tardes purpurinas Que sem lavar a face ali passeia;
E as auroras dali No azul do firmamento inda é mais pálida
Não deram luz às diáfanas cortinas Que em cinzas do fogão uma candeia.
Do leito onde eu nasci?
Se adormeço tranqüilo no teu seio O que vês, trovador? - No esguio tronco
E perfuma-se a flor, Vejo erguer-se o chinó de uma nogueira...
Que Deus abriu no peito do poeta, além se encontra a luz sobre um rochedo
Gotejante de amor? Tão liso como um pau de cabeleira.
Minha terra sombria, és sempre bela,
Inda pálida a vida Nas praias lisas a maré enchente
Como o sono inocente da donzela S'espraia cintilante d'ardentia...
No deserto dormida! Em vez de aromas as doiradas ondas
No italiano céu nem mais suaves Respiram efluviosa maresia!
São da noite os amores,
Não tem mais fogo o cântico das aves O que vês, trovador? - No céu formoso
Nem o vale mais flores! Ao sopro dos favônios feiticeiros
III Eu vejo - e tremo de paixão ao vê-las -
Quando o gênio da noite vaporosa As nuvens a dormir, como carneiros.
Pela encosta bravia
Na laranjeira em flor toda orvalhosa E vejo além, na sombra do horizonte,
De aroma se inebria... Como viúva moça envolta em luto,
No luar junto à sombra recendente Brilhando em nuvem negra estrela viva
De um arvoredo em flor, Como na treva a ponta de um charuto.
Que saudades e amor que influi na mente
Da montanha o frescor! Teu romantismo bebo, ó minha lua,
E quando, à noite no luar saudoso A teus raios divinos me abandono,
Minha pálida amante Torno-me vaporoso... e só de ver-te
Ergue seus olhos úmidos de gozo Eu sinto os lábios meus se abrirem de sono.
E o lábio palpitante...
Boileau e o fabuleiro LaFontaine
E tantos que melhor decerto fora
De poetas copiar algum catálogo,
Todos a mil e mil por ele vivem
E alguns chegaram a morrer por ele!
Eu só peço licença de fazer-vos
Uma simples pergunta: ² na gaveta
Se Camões visse o brilho do dinheiro...
Malfilâtre, Gilbert, o altivo Chatterton
A poesia transcrita é de Torquato,
Desse pobre poeta enamorado Se o tivessem nas rotas algibeiras,
Acaso blasfemando morreriam?
Pelos encantos de Leonora esquiva,
Copiei-a do próprio manuscrito;
E, para prova da verdade pura
Deste prólogo meu, basta que eu diga
Que a letra era um garrancho indecifrável,
Mistura de borrões e linhas tortas!
Trouxe-ma do Arquivo lá da lua
E decifrou-ma familiar demônio...
Demais... infelizmente é bem verdade
Que Tasso lastimou-se da penúria &-(
De não ter um ceitil para a candeia. Pálida à luz da lâmpada sombria,
Provo com isso que do mundo todo Sobre o leito de flores reclinada,
O sol é este Deus indefinível, Como a lua por noite embalsamada,
Ouro, prata, papel, ou mesmo cobre, Entre as nuvens do amor ela dormia!
Mais santo do que os Papas ² o dinheiro!
Byron no seu Don Juan votou-lhe cantos, Era a virgem do mar, na escuma fria
Filinto Elísio e Tolentino o sonham, Pela maré das águas embalada!
Foi o Deus de Bocage e d¶Aretino, Era um anjo entre nuvens d'alvorada
² Aretino! essa incrível criatura Que em sonhos se banhava e se esquecia!
Lívida, tenebrosa, impura e bela,
Sublime... e sem pudor, onda de lodo Era mais bela! o seio palpitando
Em que do gênio profanou-se a pérola, Negros olhos as pálpebras abrindo
Vaso d¶ouro que um óxido terrível Formas nuas no leito resvalando
Envenenou de morte, alma ² poeta
Que tudo profanou com as mãos imundas Não te rias de mim, meu anjo lindo!
E latiu como um cão mordendo um século... Por ti - as noites eu velei chorando,
............................................................................ Por ti - nos sonhos morrerei sorrindo!
Quem não ama o dinheiro? Não me engano
Se creio que Satã, à noite, veio
Aos ouvidos de Adão adormecido,
Na sua hora primeira, murmurar-lhe
Essa palavra mágica da vida,
Que vibra musical em todo o mundo,
Se houvesse o Deus-Vintém no Paraíso
Eva não se tentava pelas frutas,
Pela rubra maçã não se perdera:
Preferira decerto o louro amante
Que tine tão suave e é tão macio!
Se não faltasse o tempo a meus trabalhos,
Eu mostraria quanto o povo mente
Quando diz que ² a poesia enjeita e odeia
As moedinhas doiradas. É mentira!
Desde Homero (que até pedia cobre),
Virgílio, Horácio, Calderón, Racine,
Sonhando-te a lavar as camizinhas!
É ela! É ela! meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela...
É ela! É ela! - murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou - é ela!
%
Eat, drink, and love; what can the rest avail us?
BYRON. Don Juan.
Ë.Ë.Ë.Ë.
V
Eu durmo e vivo ao sol como um cigano,
É ela! É ela! - murmurei tremendo, Fumando meu cigarro vaporoso;
E o eco ao longe murmurou - é ela! Nas noites de verão namoro estrelas;
Eu a vi... minha fada aérea e pura - Sou pobre, sou mendigo e sou ditoso!
A minha lavadeira na janela!
Dessas águas-furtadas onde eu moro
Ando roto, sem bolsos nem dinheiro;
Eu a vejo estendendo no telhado
Mas tenho na viola uma riqueza:
Os vestidos de chita, as saias brancas;
Canto à lua de noite serenatas,
Eu a vejo e suspiro enamorado!
E quem vive de amor não tem pobreza.
Esta noite eu ousei mais atrevido
Nas telhas que estalavam nos meus passos
Ir espiar seu venturoso sono, Não invejo ninguém, nem ouço a raiva
Vê-la mais bela de Morfeu nos braços! Nas cavernas do peito, sufocante,
Como dormia! Que profundo sono!... Quando a noite na treva em mim se entornam
Tinha na mão o ferro do engomado... Os reflexos do baile fascinante.
Como roncava maviosa e pura!...
Quase caí na rua desmaiado! Namoro e sou feliz nos seus amores
Afastei a janela, entrei medroso... Sou garboso e rapaz... Uma criada
Palpitava-lhe o seio adormecido... Abrasada de amor por um soneto
Fui beijá-la... roubei do seio dela Já um beijo me deu subindo a escada...
Um bilhete que estava ali metido...
Oh! de certo... (pensei) é doce página Oito dias lá vão que ando cismado
Onde a alma derramou gentis amores; Na donzela que ali defronte mora.
São versos dela... que amanhã de certo Ela ao ver-me sorri tão docemente!
Ela me enviará cheios de flores... Desconfio que a moça me namora!...
Tremi de febre!
Venturosa folha! Tenho meu por meu palácio as longas ruas;
Quem pousasse contigo neste seio! Passeio a gosto e durmo sem temores;
Como Otelo beijando a sua esposa, Quando bebo, sou rei como um poeta,
Eu beijei-a a tremer de devaneio... E o vinho faz sonhar com os amores.
É ela! É ela! - repeti tremendo;
Mas cantou nesse instante uma coruja...
Abri cioso a página secreta... O degrau das igrejas é meu trono,
Oh! Meu Deus! Era um rol de roupa suja! Minha pátria é o vento que respiro,
Mas se Werther morreu por ver Carlota Minha mãe é a lua macilenta,
Dando pão com manteiga às criancinhas E a preguiça a mulher por quem suspiro.
Se achou-a assim mais bela - eu mais te adoro
Escrevo na parede as minhas rimas,
De painéis a carvão adorno a rua;
Como as aves do céu e as flores puras
Abro meu peito ao sol e durmo à lua.
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Em santa paz possamos quietamente
Conciliar o sono.
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Para dormir à sesta às garras fujo
(Virgílio)
Do improbo trabalho,
Meiga Preguiça, velha amiga minha, E venho em teu regaço deleitoso
Recebe-me em teus braços, Buscar doce agasalho.
E para o quente, conchegado leito
Caluniam-te muito, amiga minha,
Vem dirigir meus passos.
Donzela inofensiva,
Ou, se te apraz, na rede sonolenta, Dos pecados mortais te colocando
À sombra do arvoredo, Na horrenda comitiva.
Vamos dormir ao som d¶água, que jorra
O que tens de comum com a soberba?«
Do próximo rochedo.
E nem com a cobiça?«
Mas vamos perto; à orla solitária Tu, que às honras e ao ouro dás as costas,
De algum bosque vizinho, Lhana e santa Preguiça?
Onde haja relva mole, e onde se chegue
Com a pálida inveja macilenta
Sempre por bom caminho.
Em que é que te assemelhas,
Aí, vendo cair uma por uma Tu, que, sempre tranquila, tens as faces
As folhas pelo chão, Tão nédias e vermelhas?
Pensaremos conosco: ± são as horas,
Jamais a feroz ira sanguinária
Que aos poucos lá se vão. ±
Terás por tua igual,
Feita esta reflexão sublime e grave E é por isso, que aos festins da gula
De sã filosofia, Não tens ódio mortal.
Em desleixada cisma deixaremos
Com a luxúria sempre dás uns visos,
Vogar a fantasia,
Porém muito de longe,
Até que ao doce e tépido mormaço Porque também não é do teu programa
Do brando sol do outono Fazer vida de monge.
Quando volves os mal abertos olhos Gentil cabocla de fagueiro rosto,
Em frouxa sonolência, De índole indolente,
Que feitiço não tens!« que eflúvios vertes Sem dor te concebeu entre as delícias
De mórbida indolência!« De um sonho inconsciente.
És discreta e calada como a noute; E nessa hora as auras nem buliam
És carinhosa e meiga, Nas ramas do arvoredo,
Como a luz do poente, que à tardinha E o rio a deslizar de vagaroso
Se esbate pela veiga. Quase que estava quedo.
Quando apareces, coroada a fronte Calou-se o sabiá, deixando em meio
De roxas dormideiras, O canto harmonioso,
Longe espancas cuidados importunos, E para o ninho junto da consorte
E agitações fragueiras; Voou silencioso.
Emudece do ríspido trabalho A águia, que, adejando sobre as nuvens,
A atroadora lida; Dos ares é princesa,
Repousa o corpo, o espírito se acalma, Sentiu frouxas as asas, e do bico
E corre em paz a vida. Deixou cair a presa.
Até dos claustros pelas celas reinas De murmurar, manando entre pedrinhas
Em ar de santidade, A fonte se esqueceu,
E no gordo toutiço te entronizas E nos imóveis cálices das flores
De rechonchudo abade. A brisa adormeceu.
Quem, senão tu, os sonhos alimenta Por todo o mundo o manto do repouso
Da cândida donzela, Então se desdobrou,
Quando sozinha vago amor delira E até dizem, que o sol naquele dia
Cismando na janela?« Seu giro retardou.
Não é também, ao descair da tarde, E eu também já vou sentindo agora
Que o vate nos teus braços A mágica influência
Deixa à vontade a fantasia ardente De teu condão; os membros se entorpecem
Vagar pelos espaços?« Em branda sonolência.
Maldigam-te outros; eu, na minha lira Tudo a dormir convida; a mente e o corpo
Mil hinos cantarei Nesta hora tão serena
Em honra tua, e ao pé de teus altares Lânguidos vergam; dos inertes dedos
Sempre cochilarei. Sinto cair-me a pena.
Nasceste outrora em plaga americana Mas ai!« dos braços teus hoje me arranca
À luz de ardente sesta, Fatal necessidade!«
Junto de um manso arroio, que corria Preguiça, é tempo de dizer-te adeus,
À sombra da floresta. Ó céus!« com que saudade!
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Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar ² doudo cometa!
A Europa é sempre Europa, a gloriosa! ... Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
A mulher deslumbrante e caprichosa, É, pois, teu peito eterno, inexaurìvel
Rainha e cortesã. De vingança e rancor?...
Artista ² corta o mármor de Carrara; E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
Poetisa ² tange os hinos de Ferrara, Eu cometi jamais que assim me oprime
No glorioso afã! ... Teu glàdio vingador?!
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Sempre a làurea lhe cabe no litígio...
Ora uma c'roa, ora o barrete frígio Foi depois do dilúvio... um viadante,
Enflora-lhe a cerviz. Negro, sombrio, pálido, arquejante,
Universo após ela ² doudo amante Descia do Arará...
Segue cativo o passo delirante E eu disse ao peregrino fulminado:
Da grande meretriz. 'Cão! ... serás meu esposo bem-amado...
² Serei tua Eloá. . . '
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Desde este dia o vento da desgraça
Mas eu, Senhor!... Eu triste abandonada Por meus cabelos ululando passa
Em meio das areias esgarrada, O anátema cruel.
Perdida marcho em vão! As tribos erram do areal nas vagas,
Se choro... bebe o pranto a areia ardente; E o Nômada faminto corta as plagas
talvez... p'ra que meu pranto, ó Deus clemente! No rápido corcel.
Não descubras no chão...
Vi a ciência desertar do Egito...
E nem tenho uma sombra de floresta... Vi meu povo seguir ² Judeu maldito ²
Para cobrir-me nem um templo resta Trilho de perdição.
No solo abrasador... Depois vi minha prole desgraçada
Quando subo ás Pirâmides do Egito Pelas garras d'Europa ² arrebatada ²
Embalde aos quatro céus chorando grito: Amestrado falcão! ...
'Abriga-me, Senhor!...'
Cristo! embalde morreste sobre um monte
Como o profeta em cinza a fronte envolve, Teu sangue não lavou de minha fronte
Velo a cabeça no areal que volve A mancha original.
O siroco feroz... Ainda hoje são, por fado adverso,
Quando eu passo no Saara amortalhada... Meus filhos ² alimária do universo,
Ai! dizem: 'Lá vai África embuçada Eu ² pasto universal...
No seu branco albornoz. . . '
Hoje em meu sangue a América se nutre
Nem vêem que o deserto é meu sudário, Condor que transformara-se em abutre,
Que o silêncio campeia solitàrio Ave da escravidão,
Por sobre o peito meu. Ela juntou-se ás mais... irmã traidora
Lá no solo onde o cardo apenas medra Qual de Josè os vis irmãos outrora
Boceja a Esfinge colossal de pedra Venderam seu irmão.
Fitando o morno cèu.