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Resumo
Esta pesquisa refere-se aos adjetivos descritores da personalidade da língua portuguesa, a partir do léxico. Os
objetivos são identificar os descritores e comparar as avaliações dos juízes. Foram sujeitos-juízes seis professores
universitários, seis membros da Academia Paulista de Psicologia e a primeira autora, como juiz constante, para
avaliar uma lista de adjetivos segundo critérios estabelecidos pelo modelo alemão. Os resultados foram analisados
atribuindo uma valoração aos critérios, sendo selecionados os adjetivos que obtiveram uma média maior ou igual a
três. Do total de adjetivos (5641), 938 (16,63%) obtiveram a média exigida. Houve uma concordância significativa
entre os juízes. Considerando que a organização dos adjetivos descritores da personalidade dá origem a uma base de
dados científica, que poderá servir para o aprimoramento de técnicas e instrumentos para a avaliação psicológica e
de ferramenta para estudos da personalidade, sugere-se a continuidade deste trabalho, e o desenvolvimento de
pesquisas derivadas deste.
Palavras-chave: Taxonomia – Personalidade – Avaliação Psicológica
Abstract
This study is based on a German model of taxonomy and it refers to personality descriptors adjectives of the
Portuguese language, based on the lexicon. The goals are to identify the personality descriptors and compare the
evaluations made by the judges. Six university professors, six members of the São Paulo Academy of Psychology
and the first author were the judges. The results were analyzed attributing a valuation to the criteria and those that
had an average identical or greater than three have been selected. Of a total of 5641 adjectives, 938 (16.63%)
achieved the required average. Agreement between the judges was high. Considering that the organization of the
description of adjectives of the personality results in a database that will be functional for the improvement of
techniques and instruments for psychological assessment and as a tool for personality studies in Brazil, further
studies are suggested in continuity of this work.
Keywords: Taxonomy; Personality; Psychological Assessment.
O presente trabalho foi uma pesquisa de base, embora muito dependa da perspectiva con-
que pretendeu fornecer subsídios para a construção ceitual que o psicólogo educacional está disposto
de instrumentos de avaliação psicológica, especial- a assumir. Quando pais preferem tratar suas
mente de avaliação da personalidade. Tratou-se do crianças igualmente e professores preferem tra-
estudo de descritores da personalidade da língua por- tar seus estudantes igualmente, diferenças en-
tuguesa baseado na abordagem psicoléxica, que está tre aprendizes são consideradas problemas no
fundamentada na necessidade de descrever, organi- ensino e educação, ao invés de recursos a se-
zar e classificar características e diferenças indivi- rem desenvolvidos mais adiante” (De Raad e
duais usando a linguagem cotidiana como referên- Schouwenburg, 1996: 328).
cia. A busca pelas palavras descritoras da persona- As diferenças individuais devem, portanto, ser
lidade pode ser feita por meio do léxico da língua, e respeitadas e compreendidas, tanto por pais como
tem sido estudo constante de pesquisadores da área por professores. Essas diferenças podem ser me-
(Angleitner, Ostendorf e John, 1990). lhor identificadas com instrumentos de avaliação psi-
A taxonomia, ou taxionomia, permite aos pes- cológica adequados.
quisadores estudar a personalidade como um todo, No Brasil, as pesquisas sobre avaliação psico-
já que oferece todas as características (ou traços) lógica e todo o seu processo ainda são escassas.
individuais presentes na língua. Uma outra contribui- Dentre as dificuldades mais apontadas pelos estudi-
ção importante de uma taxonomia é o suporte que osos estão o reduzido número de pesquisadores nes-
gera para a construção de instrumentos de avalia- ta área; a ausência de cursos de pós-graduação em
ção psicológica, da personalidade, do temperamen- Psicologia ou Educação que possuam linhas de pes-
to, da criatividade e de tantos outros constructos quisa envolvendo testes psicológicos; e a carência
(Engler, 1991; Bates, 1989). que os profissionais de Psicologia têm de ferramen-
Este trabalho, que vem sendo desenvolvido pela tas de avaliação adequadas para a realidade em que
equipe do Laboratório de Avaliação e Medidas Psi- atuam, ou seja, a qualidade e quantidade de instru-
cológicas - LAMP, da qual a Autora faz parte há mentos de avaliação disponíveis são insuficientes e
oito anos, serviu para o acúmulo de conclusões insatisfatórios – os principais testes objetivos usados
empíricas, por oferecer uma nomenclatura padrão. no diagnóstico e avaliação da personalidade, inteli-
Nas palavras de Bloom, Engelhart, Furst, Hill e gência, memória, assim como baterias neuropsico-
Krathwohl (1983) “a principal finalidade de uma lógicas, não estão adaptados e normatizados para o
taxionomia (...) é facilitar a comunicação” (p.9). Por uso na nossa realidade, podendo, por essa razão,
se tratar de um estudo transcultural, a comunicação entrar em choque com os compromissos éticos e
é um cuidado a ser tomado, em especial em estudos profissionais do psicólogo em sua prática (Pasquali,
em que o constructo é a personalidade humana, uma 1992; Hutz e Bandeira, 1993; Kupfer, 1994; Crystal,
vez que existem diferentes pontos de vista teóricos. 1995; Andaló, 1996; Andriola, 1996; Novaes, 1996;
O LAMP desenvolveu duas das quatro fases Pfromm Netto, 1996; Wechsler, 1996; Mendonça,
para a construção da taxonomia brasileira de 1997).
descritores da personalidade, fazendo comparações Embora várias medidas venham sendo toma-
com estudos de outros países (Guzzo, Pinho e Car- das na direção de um aprofundamento da pesquisa
valho, 2002). A proposta da presente pesquisa foi relativa à avaliação em geral, e dos instrumentos
dar continuidade a este estudo, desenvolvendo a ter- psicológicos em especial, a situação ainda padece
ceira fase. da falta de esforços concentrados para minimizar seus
Esta pesquisa poderá servir para qualquer área problemas (Hutz e Bandeira, 1993; Pasquali, 1999).
da Psicologia. Foi desenvolvida no curso de Mestrado A escolha do instrumento de avaliação, assim
em Psicologia Escolar, na linha Fundamentos e Me- como a informação que este fornece são um cuida-
didas da Avaliação Psicológica, por ser este um cam- do especial que o psicólogo deve ter para, de fato,
po de interesse da Autora, que tem percebido, em compreender o sujeito em suas dimensões, já que os
sua prática, a necessidade de melhorar a qualidade resultados destes testes podem exercer influências
da avaliação de crianças e adolescentes em idade sobre a vida dessas pessoas, seja numa avaliação
escolar e instrumentalizar o professor a (re)conhecer durante a vida escolar e profissional ou na vida pes-
as diferenças individuais dos seus alunos. soal (Arias, 1995).
“A personalidade é freqüentemente considera- Se a Psicologia brasileira não dispõe de instru-
da um obstáculo em programas educacionais, mentos para avaliação, de uma forma geral, as difi-
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ou social; pode ser visto ou à luz da personalidade Liderança e Criatividade – fatores bipolares). E cons-
que o contém, ou à luz de sua distribuição na popula- truiu um instrumento capaz de medi-las: o 16PF.
ção; ações e hábitos que são inconsistentes com o Wiggins propôs um modelo de personalidade
traço não provam a não existência do traço. para descrever aspectos que influenciam compor-
Os traços variam na extensão de sua influência tamentos interpessoais, distinguindo seis categori-
e são parte de um continuum de conceitos para des- as de traços: interpessoais, materiais, tempera-
crever a personalidade. Às vezes um traço domina mentais, papéis sociais, caráter e características
tanto a personalidade de um indivíduo que ele influ- mentais. Sua proposta deu origem a um modelo cir-
encia tudo o que a pessoa faz – este traço é denomi- cunflexo (Riello, 1999).
nado, por Allport, de traço central. Enquanto que tra- Outros estudos sobre traço e personalidade têm
ços secundários são aqueles que descrevem o im- comprovado a existência permanente de cinco fato-
pacto da personalidade em determinadas situações res da personalidade em diversas culturas. Ou seja,
– são os hábitos e atitudes. Traços cardinais são aque- constatou-se que em diferentes culturas, os cinco fa-
les referentes ao senso de si e à filosofia de vida tores estão representados na linguagem. Este fenô-
(Cloninger, 1996). meno tem sido denominado, pelos autores, de “Big
A abordagem do traço precisava ser ligada a Five” ou Cinco Grandes Fatores (Goldberg, 1981; John,
uma estrutura teórica se quisesse avançar na ciên- Angleitner & Ostendorf, 1988; Wiggins & Pincus,
cia da personalidade. Controvérsias sobre traços têm 1992; Church & Lonner, 1998;. Hutz et alli, 1998).
estimulado um refinamento do conceito e, portanto, As raízes destes fatores estão no estudo léxico,
a linguagem psicológica dos traços tem se tornado em que foram analisados para determinar que di-
mais precisa (Cloninger, 1996). mensões as pessoas usam quando descrevem a si
Dentre as perspectivas contemporâneas do es- mesmas e aos outros. Essa pesquisa indica que pes-
tudo da personalidade, tem-se atualmente uma ten- soas comuns descrevem a personalidade em cinco
dência a buscar uma abordagem compreensiva de fatores (Goldberg, 1981), embora alguns pesquisa-
vários traços, por meio de um modelo amplo de or- dores discordem desta proposição.
ganização, ou uma descrição sistemática das rela- Defensores deste modelo afirmam que este
ções, ao invés de examinar um traço de cada vez, já compreende as dimensões da personalidade mais
que permite “uma linguagem comum para os pesqui- importantes e pode fornecer uma estrutura de orga-
sadores de diferentes abordagens teóricas, uma base nização para a pesquisa da personalidade. A estru-
para a comparação e a avaliação das teorias da per- tura do “Big Five” capta, a um nível grande de abs-
sonalidade, uma estrutura para a validação de esca- tração, a simplicidade da maioria dos sistemas exis-
las de personalidade e um guia para a avaliação com- tentes de descrição de personalidade e provê um
preensiva do indivíduo” (McCrae, Costa & Busch, modelo descritivo integrativo para a pesquisa de per-
apud Cloninger, 1996: 87). sonalidade (John, 1990).
Os teóricos que reformularam a teoria de Allport Costa & McCrae (1985) desenvolveram um
propuseram medir os traços, dando assim um valor questionário de auto-relato, chamado NEO-PI
mais fidedigno a esta abordagem. Sugerem, ainda, (Neuroticism, Extroversion and Openness to
que os traços podem ser agrupados em fatores que Experience-Personality Inventory), especialmen-
representam amplas dimensões de diferenças indi- te para medir esses cinco fatores. Este instrumento
viduais. deve ser destacado, pois obteve resultados seme-
Eysenck, por exemplo, propôs três fatores: lhantes na aplicação em diversas culturas/línguas: ho-
Extroversão, Neuroticismo e Psicoticismo, desenvol- landesa, alemã, italiana, estoniana, finlandesa, espa-
vendo, com isso, uma das mais influentes e nhola, hebraica, portuguesa, russa, coreana, japone-
pesquisadas teorias da personalidade (Schultz e sa, francesa e filipina (Church & Lonner, 1998). O
Schultz, 2002). Estes três fatores são medidos pelo estudo sobre o NEO-PI já está sendo desenvolvido
Eysenck Personality Questionnaire (EPQ). também no Brasil (Hutz et alli, 1998).
Cattell desenvolveu diversos modelos sistemáti- Discute-se se os fatores de personalidade do
cos de medida de personalidade e ligados à teoria do Big Five realmente têm potencial universal. Se isto
traço. Seu extenso trabalho permitiu que chegasse a fosse verdade, poderia se pensar que “chegou ao
conclusão de que existem dezesseis dimensões bási- fim a busca por fatores de traços básicos para a cons-
cas da personalidade normal (Extroversão, Ansieda- trução de questionários da personalidade” (De Raad,
de, Teimosia, Independência, Controle, Ajustamento, Perugini, Hrebícková & Szarota, 1998: 212), idéia
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esta não aprovada pelos estudiosos. Portanto, o o vocabulário usual como ponto de partida para es-
Modelo dos Cinco Grandes Fatores é uma estrutura tudos científicos da personalidade data de mais de
geral de compreensão da personalidade e um guia cem anos atrás: o escritor e cientista inglês Francis
de pesquisas, mas não deve excluir ou substituir ou- Galton, em 1884, foi provavelmente o primeiro a exa-
tras teorias e propostas sobre o estudo dos fatores minar o dicionário procurando quantificar os
da personalidade (Briggs, 1992; Caprara, 1992). descritores da personalidade, encontrando cerca de
O número de maneiras que uma pessoa pode 1000 termos. Na busca de identificar no dicionário
se diferenciar de outra – ou diferenciar-se de si mes- palavras descritoras da personalidade, diversos au-
mo – é quase infinita. Dadas essas dificuldades par- tores podem ser citados, pelos seus estudos e esfor-
ticulares, “pode parecer surpreendente que psicólo- ços: Klages, em 1926, articulou a teoria racional para
gos da personalidade continuem a se esforçar para a abordagem léxica, argumentando que o estudo da
catalogar, ordenar e nomear de forma padrão o do- linguagem beneficiaria a compreensão da personali-
mínio das diferenças individuais” (John, Angleitner e dade. Baumgarten, partindo do estudo de Klages, fez
Ostendorf, 1988: 172). Mas o que a literatura nos um estudo sistemático sobre a abordagem léxica, em
mostra é que cada vez mais os estudiosos estão bus- 1933, examinando termos para descrever traços de
cando este processo de organização, que é denomi- personalidade. Allport e Odbert, em 1936, trabalha-
nado taxonomia ou taxionomia. “Taxônomos e pes- ram com todas as palavras relacionadas com traços
soas leigas avaliam similarmente os traços estáveis na edição de 1925 do New International Dictionary
como o mais fundamental conceito de personalida- Webster, identificando 17.953 traços (4,5% do total
de” (John, Angleitner e Ostendorf, 1988: 171). de palavras do dicionário) e os classificaram em qua-
É importante ressaltar que a taxonomia de tro categorias: a) termos neutros que designam tra-
descritores não admite o conceito do traço como ços pessoais, b) termos descritivos de humores tem-
determinante do comportamento, mas como carac- porários ou atividades, c) termos carregados de jul-
terísticas que descrevem a personalidade. Por ser gamento social, d) miscelânea (condições físicas,
um modelo de organização das características da desenvolvimentais ou de capacidades, termos meta-
personalidade, a taxonomia não se encaixa em ne- fóricos ou duvidosos). A lista de traços que Allport e
nhuma das teorias da personalidade e ao mesmo tem- Odbert desenvolveram é clássica para os estudiosos
po em todas. Por um lado, trata-se de um estudo da personalidade e tem servido de base empírica para
ateórico das características individuais; por outro, os pesquisadores mais recentes. Cattell usou a lista
refere-se a todas as características presentes nos de Allport e Odbert como ponto de partida para o
modelos teóricos. desenvolvimento de um extensivo modelo multi-
Os procedimentos para a construção de uma dimensional de estrutura da personalidade. Além
taxonomia de descritores da personalidade passaram destes, como foi descrito anteriormente, outros estu-
a ser uma importante base de dados para a criação diosos têm buscado descrever a personalidade a partir
de instrumentos de avaliação da personalidade e tem- dos traços, ou características, encontrados na lingua-
peramento, pois se constatou que estudos em gem do cotidiano das pessoas.
taxonomia podem permitir a identificação dos princi- Em 1990, Angleitner, Ostendorf e John siste-
pais termos utilizados para esta descrição, o desen- matizaram um modelo de taxonomia de descritores
volvimento de estudos teóricos, o aprimoramento de da personalidade. A partir deste modelo, foram fei-
técnicas de avaliação psicológica, a comparação de tas taxonomias em diferentes culturas, tais como:
descritores entre diferentes países, proporcionando, a italiana (Forzi, Arcuri, Fontana, Di Blas e Tortul,
assim, um estudo transcultural (Angleitner Ostendorf 1990; Di Blas e Forzi, s/d), a tcheca (Hrebícková,
e John, 1990; Eysenck, 1994; Smirmák, 1994; Ostendorf e Angleitner, s/d), a holandesa (Broken
Schimitz, 1994). apud Hofstee, 1990), a americana (Norman apud
Recentemente, o desenvolvimento de taxo- John, Goldberg e Angleitner, 1984) e a brasileira
nomias de traços de personalidade tem conduzido a (Guzzo, Carvalho, Messias, Pereira, Pinho, Riello e
uma crescente pesquisa buscando uma forma cada Serrano, 1998; Guzzo, Carvalho, Valli, Pinho, Koelle,
vez mais segura e importante de descrever a perso- Silva e Messias, 1998; Guzzo, Pinho e Carvalho,
nalidade (Ostendorf e Angleitner, 1992). 2002; Pinho, 2001). A taxonomia brasileira só será
Em uma revisão histórica (John, Angleitner e completada, de fato, quando a quarta etapa for con-
Ostendorf, 1988; Briggs, 1992; Cloninger, 1996, 1999; cluída, que é o objetivo do trabalho de Doutorado
Hutz et cols, 1998), descobriu-se que a idéia de usar da Autora.
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ais, resultando num total de 35.834 adjetivos. O proce- quisa. São todos do sexo feminino, com a idade vari-
dimento para a realização da fase 1 foi selecionar todos ando entre 34 e 51 anos (média = 45,17).
os verbetes nos quais apareciam a sigla “ADJ”, copiá- A maioria dos juízes-professores é formada em
los e alocá-los em uma tabela de arquivo do WORD Psicologia (83,33%), sendo os membros da Acade-
6.0, fazendo um arquivo para cada letra. Foram encon- mia Paulista de Psicologia além de formados em
trados 35.834 adjetivos, o que corresponde a aproxi- Psicologia, o são também em mais de uma área (Pe-
madamente 30% dos verbetes totais encontrados no dagogia e Administração)
dicionário (Guzzo, Carvalho, Pinho, 2002). A concentração da área da experiência profis-
A segunda fase foi a seleção dos adjetivos sional dos juízes está na “docência” para ambos os
descritores da personalidade, segundo os critérios de tipos de juízes. Enquanto os juízes-acadêmicos des-
exclusão preestabelecidos pelo modelo alemão: ver- tacam-se na área da pesquisa, os juízes-professores
betes não discriminativos; origem geográfica; nacio- o fazem na Psicologia Escolar.
nalidade; profissão ou atividade; referente a uma parte Quanto ao domínio de língua estrangeira, nota-
da pessoa; metáforas; aspectos técnicos e científi- se que o inglês é a língua de domínio predominante,
cos; idéias políticas, religiosas ou filosóficas; chulos; entre os juízes. Os juízes-acadêmicos destacam-se pelo
constituição física; relativo a animais e relativo à conhecimento de diferentes línguas, enquanto os pro-
natureza (John, Angleitner e Ostendorf, 1988). fessores dominam mais a língua inglesa e espanhola.
O material utilizado foram os adjetivos da fase
anterior, organizados em tabelas. O procedimento da Material
organização foi a exclusão de todos os adjetivos que O material entregue aos juízes consistiu de uma
correspondessem a qualquer um dos critérios cita- Carta de Apresentação, uma Ficha de Instrução, uma
dos acima. Neste estágio, 5641 adjetivos permane- Ficha de Identificação, a tabela com os adjetivos e
ceram para a etapa seguinte, representando 4,70% uma Carta de Agradecimento.
do total de verbetes do dicionário e 15,74% do total Na Carta de Apresentação consta uma peque-
de adjetivos (Guzzo, Carvalho, Valli, Pinho, Koelle, na introdução sobre o trabalho e a responsabilidade
Silva e Messias, 1998). do juiz. Na Ficha de Instrução estão descritos a for-
A finalização da construção da taxonomia bra- ma de preenchimento do material e o prazo de en-
sileira exige a realização das fases três e quatro, a trega. Como Dados de Identificação, constavam in-
proposta de estudo da presente pesquisa é o desen- formações sobre a idade, sexo, formação profissi-
volvimento da terceira etapa. onal, tempo de experiência e se o sujeito-juiz tem
domínio de alguma língua estrangeira. Estes dados
Método – Pesquisa Atual: fase 3 servem para compor as principais características dos
Sujeitos-juízes sujeitos da pesquisa.
Foram sujeitos desta pesquisa seis membros da Os adjetivos foram dispostos em uma tabela,
Academia Paulista de Psicologia, seis professores organizados em ordem alfabética. O agrupamento
universitários e um juiz constante, responsáveis por das letras foi aleatório, assim como a sua distribui-
avaliar um total de 5641 adjetivos, quanto à sua cla- ção entre os juízes, formando seis grupos: AVXZ (985
reza de significado, à sua utilidade como descritor da adjetivos), BCJL (926), DEF (1076), GHI (876),
personalidade e à freqüência de uso do adjetivo na MSTU (823), NOPQR (955).
prática profissional. Optou-se por agrupar as letras pela quantidade
A seleção dos juízes membros da Academia de adjetivos, resultando em uma média de 940 adje-
Paulista de Psicologia foi feita aleatoriamente, a partir tivos e quatro letras por juiz. A decisão por este pro-
da lista total de membros. Foram selecionados 18 cedimento se deve ao grande volume de adjetivos,
membros, mas apenas um terço respondeu ao con- que poderia comprometer a análise dos juízes, preju-
vite para participar da pesquisa. A idade destes juízes dicando a sua validade. Devido à experiência na área
variou de 50 a 76 anos (média = 65,8 anos) – houve e, em particular neste estudo, a Autora avaliou o to-
uma resposta em branco –, sendo 50% do sexo mas- tal de adjetivos, referente a todas as letras.
culino e 50% do sexo feminino. Os juízes deveriam assinalar, com um X, nas
Os juízes-professores foram selecionados den- colunas 1, 2 e 3 quando o adjetivo fosse claro em seu
tre um rol de Professores de Psicologia em uma Ins- significado e/ou útil na descrição da personalidade e/
tituição de Ensino Superior, pelo contato que têm com ou quando fosse usado freqüentemente na prática
a Autora e pela disponibilidade para responder à pes- profissional. Quando o adjetivo não correspondesse
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a nenhuma das alternativas acima, deveriam deixar não do adjetivo, optou-se por mantê-lo; esta decisão
as colunas em branco. está descrita na proposta alemã, na qual o presente
A Carta de Agradecimento foi entregue pesso- estudo está baseado.
almente ou via correio, com o compromisso da Au- Quando comparada às taxonomias de outros
tora em disponibilizar o resumo da dissertação a to- países, o Brasil apresenta o maior número de adjeti-
dos os juízes e, caso houvesse interesse, uma cópia vos (35.834), seguido pelas línguas italiana (21.800),
completa do trabalho. tcheca (13.606) e alemã (11.600), como pode-se
observar na Tabela 1. Porém, na conclusão da se-
Procedimento gunda fase, os resultados da Alemanha incluem, pro-
A entrega do material para os juízes foi feita porcionalmente, mais adjetivos descritores da perso-
pessoalmente ou via correio. Foram entregues, no nalidade para a construção da taxonomia (41,6%).
total, 36 conjuntos de letras (18 para Acadêmicos e Em relação ao total de verbetes alemães (96.666),
18 para Professores). Até o prazo marcado para a comparando com o Brasil (120.000), a proporção é
devolutiva, foram devolvidas 12 listas, representan- a mesma: 5%, ou seja, cinco porcento das palavras
Pode-se perceber que a letra “A” é a letra que A terceira fase da construção da taxonomia de
mais contém adjetivos e adjetivos descritores, na Lín- descritores da personalidade tem por objetivo for-
gua Portuguesa, entretanto é a letra “I” que contém a mar uma lista dos adjetivos a partir dos critérios: cla-
maior proporção de adjetivos descritores em relação reza de significado, utilidade como descritor e fre-
do total da letra. Ou seja, 27,87% dos adjetivos da letra qüência de uso.
“I” são potencialmente descritores da personalidade. É Para a análise dos resultados da presente pes-
importante assinalar que na estrutura da Língua Portu- quisa, considerou-se o julgamento da Autora e dos
guesa, as adjetivações que expressam negação são mais juízes, da lista total de adjetivos (5.641). Pode-se di-
representativamente freqüentes nas letras A e I (por zer que este conjunto de adjetivos representa as ca-
exemplo, “anormal” e “inadequado”). racterísticas descritoras da personalidade, na Língua
Sabe-se que as letras “K”, “W” e “Y” não fa- Portuguesa, na concepção dos sujeitos da Amostra
zem parte do alfabeto do Brasil e que são utilizadas da presente pesquisa. São 938 adjetivos (16,63%),
apenas para palavras estrangeiras. Contudo, destas, apresentados na lista descrita no Anexo 1. Das le-
a única letra que não contém adjetivos é a “Y”. As tras do alfabeto, apenas a letra “X” não apresentou
letras “K” e “W” apresentam um baixo número de nenhum adjetivo nesta categoria.
adjetivos, 11 e 10, respectivamente, e nenhum deles Como era esperado teoricamente (Angleitner,
são descritores da personalidade. Ostendorf e John, 1990), o número de adjetivos que
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permaneceram para a etapa seguinte da construção Esta análise remete sugere indicar que os juízes
da taxonomia brasileira dos descritores da personali- responderam ao material desta pesquisa de forma
dade diminuiu bastante. No referido estudo, consta- semelhante, colaborando para a identificação dos
tou-se que cerca de 72% dos adjetivos, quando ava- adjetivos da Língua Portuguesa mais claros, mais úteis
liados quanto à clareza, utilidade e freqüência, não e mais freqüentes.
vão para a fase posterior. No presente estudo, o nú- Foi também possível fazer a identificação dos
mero de adjetivos excluídos foi ainda maior, repre- adjetivos que foram considerados “freqüentes” pelo
sentando 83,37% (4.703 adjetivos que não obtive- menos por um juiz: 1.908, representando (33,82%).
ram a média maior ou igual a três). Nota-se que a letra “A” continha mais adjeti-
Dentre os 5.641 adjetivos, 333 (5,90%) foram vos descritores (826), mas foi a letra “C” que conte-
considerados, por pelo menos dois juízes, como cla- ve o maior número de adjetivos freqüentemente uti-
ros, úteis e freqüentes. Pode-se conceber que esta lizados na descrição da personalidade (243).
lista representa as características da personalidade Lembrando que todos os juízes são do Estado
mais claras, úteis e freqüentes da Língua Portuguesa, de São Paulo, estes dados podem ter um viés regi-
para psicólogos da região do Estado de São Paulo. onal. Segundo Flores (2000) existem, no Brasil, di-
Houve uma concordância na avaliação entre ferenças regionais na língua, por isso, seria interes-
os juízes no que se refere à clareza, utilidade e fre- sante que um outro estudo pudesse conferir se em
qüência dos adjetivos. Isto indica que os juízes avali- outras regiões brasileiras os adjetivos selecionados
aram significativamente de forma semelhante o con- também são claros, ou ainda, se são apenas claros.
junto dos 5.641 adjetivos, o que indica um aspecto Cada região ou estado brasileiro recebeu diferen-
positivo da pesquisa, relativo à compreensão e reali- tes influências, formando um vocabulário a parte.
zação das análises dos juízes (Tabelas 3 e 4). Nos últimos anos, têm sido lançados vários dicioná-
Foram considerados claros para ambos os juízes rios com a intenção de apresentar e se fazer enten-
990 adjetivos, 243 úteis para a descrição da perso- der a linguagem de um determinado lugar. Porém,
nalidade e 285, freqüentes no uso profissional. Estes as nossas diferenças lingüísticas são bem menos
números podem ser “pequenos” comparando aos acentuadas do que qualquer língua européia. Cagliari
2466 e 2168 (para clareza), 1177 e 574 (para utilida- (1996) reforça Flores ao ressaltar a importância de
de) e 1192 e 802 (para freqüência) atribuídos por se ter mais estudos brasileiros que destaquem as
cada juiz. Cabe lembrar, entretanto, que a concor- diferenças regionais da linguagem. Cabe aqui, re-
dância entre eles é significativa, ou seja, 990 adjeti- forçar a necessidade de se refazer este estudo em
vos incluídos pelos dois tipos de juízes é uma quanti- outras regiões do Brasil para averiguar se os resul-
dade estatisticamente considerada satisfatória. tados são semelhantes.
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Recebido em 11/07/2003
Aceito em 08/10/2003