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Bacharel em Direito
Adamantina, de de
Assinatura
Orientador :
Examinador:
Examinador:
Dedicatória
Resumo.....................................................................................................................................08
Abstract....................................................................................................................................10
Introdução.................................................................................................................................12
I- Dos Alimentos.....................................................................................................................14
1.1- Considerações Gerais .......................................................................................................14
1.2- Conceito............................................................................................................................15
1.3- Natureza Jurídica do Direito aos Alimentos.....................................................................16
1.4- Classificação dos Alimentos.............................................................................................16
1.4.1- Quanto à Finalidade: Provisionais ou Provisórios e Regulares ou Definitivos.............16
1.4.2- Quanto à Natureza: Naturais ou Necessários e Civis ou Côngruos...............................17
1.4.3- Quanto ao Tempo: Futuros e Pretéritos.........................................................................17
1.4.4- Quanto às Modalidades: Obrigação Alimentar Própria e Imprópria.............................18
1.4.5- Quanto à Causa Jurídica: Voluntários, Ressarcitórios e Legítimos...............................18
1.5- Pressupostos Essenciais da Obrigação de Prestar Alimentos...........................................19
1.6- Características da Obrigação Legal de Alimentos............................................................20
Conclusão..................................................................................................................................46
Referências................................................................................................................................49
Resumo
Para tanto, foi apresentado um estudo a respeito da natureza jurídica alimentar, classificação
dos alimentos, pressupostos essenciais e características da obrigação alimentar, prisão civil do
alimentante inadimplente, bem como as formas de exoneração, majoração e redução dos
alimentos. Tal abordagem visa garantir o entendimento da parte geral de nosso tema, para,
posteriormente, ser compreendida a parte especial, objeto de nossa pesquisa.
Assim, insta salientar que a obrigação alimentar entre cônjuges decorre do dever de mútua
assistência derivado do casamento, conforme estabelece o artigo 1.566, inciso III do Novo
Código Civil.
Já o dever de sustento dos pais em relação aos seus filhos menores, origina-se do poder
familiar, sendo de ambos os cônjuges o dever de sustento, guarda e educação dos mesmos,
como determina o inciso IV do citado artigo.
Contudo, os alimentos consistem em atender as necessidades básicas e fundamentais da vida,
garantindo a subsistência e mantença do indivíduo necessitado, preservando o princípio da
dignidade humana.
Palavras-chave
The presente work developed under the title “Feedin obligation and the Maintenance
Obligation in the Matrimonial Right ambit” to analyse in a clear and concise way, aspects of
doctrine and jurisprudence of aliment relating to obligation of paying aliment decurrent from
conjugal entailment, and the maintenance obligation of parents to their children, while they
are under familiar authority.
For so it was presented a study regarding the aliment juridical nature, aliment classification,
essential requisit and characteristic of alimentary obligation, civil prision of under obligation
feeder, as well as the means of exoneration, decrease an decrease of aliment. This approach
aims to guarantee the comprehension of the general part of our theme, to be, afterwards,
understood the special part, object of our research.
This way, it´s important to point out that the alimentary obligation between married couple
decurs from marriage as determines the article 1.566, III of new Civil.
The parents obligation concerning the minor children comes from the familiar authority being
of both married couple the obligation of maintenance, tutorship, and education of them as
determines the cited article.
Therefore, aliment consist of attending the basic and fundamental needs of life, warrating the
subsistence of the needy individual, preserving the principle of human dignity.
Key words
Esta breve monografia irá tratar em seus capítulos sobre alimentos de um modo geral,
específico e moderno. Desta forma, o trabalho irá versar sobre obrigação alimentar e dever de
sustento, focando na obrigação alimentar decorrente do casamento e no dever de sustento
decorrente do poder familiar.
Para tanto, proceder-se-á à análise de pontos doutrinários e jurisprudenciais no que tange aos
alimentos, sendo indispensável para seu entendimento um breve estudo sobre a teoria dos
alimentos, direito e obrigação alimentar, englobando a natureza jurídica, as características e
classificação dos alimentos, os pressupostos essenciais e as condições objetivas, bem como a
distinção entre obrigação alimentar e dever de sustento e suas peculiaridades.
Muitas vezes, o alimentante descumpre o seu dever ou a sua obrigação alimentar, cabendo ao
Estado intervir na relação familiar para amparar o necessitado, solucionando a questão em
tela. Desta forma, a pessoa que tem condições de ajudar e não ajuda, estará sujeita a uma
sanção, qual seja, a decretação da prisão do devedor de pensão alimentícia que, podendo
prover, descumpre seu dever.
Alimentos são prestações periódicas que uma pessoa concede a outra para satisfazer as
necessidades vitais de conservação e existência do ser humano, compreendendo não só os
alimentos propriamente ditos, como também vestuário, moradia, lazer, tratamento médico,
remédios em caso de doença, além de educação se a pessoa alimentada for menor de idade,
incluindo também, despesas do enterro caso o alimentado venha a falecer. Portanto, consoante
asseveram os professores Silvio de Salvo Venosa e Orlando Gomes, alimentos constituem em
tudo aquilo necessário e indispensável para manutenção do ser humano, garantindo-lhe meios
de subsistência.
“o ser humano, desde o nascimento até sua morte, necessita de amparo de seus semelhantes e de bens
essenciais ou necessários para a sobrevivência. Nesse aspecto, realça-se a necessidade de alimentos.
Desse modo, o termo “alimentos” pode ser entendido, em sua conotação vulgar, como tudo aquilo
necessário para sua subsistência. No entanto, no Direito, a compreensão do termo é mais ampla, pois a
palavra, além de abranger os alimentos propriamente ditos, deve referir-se também à satisfação de outras
necessidades essenciais da vida em sociedade” (2004, p. 385)
Já para outros autores, como Orlando Gomes e Maria Helena de Diniz, os alimentos
compreendem não só a alimentação, como também os elementos necessários para a moradia,
vestuário, assistência médica, lazer, entre outros fatores de que o alimentando necessite, bem
como verbas para sua instrução e educação se a pessoa alimentada for menor de idade,
incluindo também, despesas com sepultamento por parentes legalmente responsáveis pelos
alimentos.
A natureza jurídica dos alimentos é bastante controvertida, pois existem autores que
consideram como um direito pessoal extrapatrimonial e outros como sendo um direito com
caráter especial, com conteúdo patrimonial e finalidade pessoal. A primeira corrente, adotada
por De Ruggiero, Cicu e Giorgio Bo, fundamentam-se no
“fato do alimentando não ter nenhum interesse econômico, visto que a verba recebida não aumenta seu
patrimônio, nem serve de garantia a seus credores, apresentando-se como uma das manifestações do
direito à vida, que é personalíssimo. Já a segunda corrente, adotada por Orlando Gomes e Maria Helena
Diniz, fundamenta-se em um interesse superior familiar, apresentando-se como uma relação patrimonial
de crédito-débito, uma vez que consiste no pagamento periódico de soma de dinheiro ou no fornecimento
de víveres, remédios e roupas, feito pelo alimentante ao alimentando, havendo, portanto, um credor que
pode exigir de determinado devedor uma prestação econômica”. (DINIZ, 2002, p. 463)
A segunda corrente também é defendida pelo ilustre professor Yussef Said Cahali, pois,
entende-se que o crédito ligado à pessoa do alimentando, trata-se de um direito inerente à
integridade da pessoa e à personalidade, visando à conservação e sobrevivência do ser
humano necessitado.
Assim, refere-se a “normas de ordem pública, ainda que imposta por motivo de humanidade,
de piedade ou solidariedade, pois resultam do vínculo de família, que o legislador considera
essencial preservar” (CAHALI, 2003, p. 34)
Alimentos Regulares ou Definitivos são aqueles estabelecidos pelo juiz ou pelas próprias
partes, com prestações periódicas, de caráter permanente, ainda que sujeitos a revisão.
Alimentos civis ou côngruos são aqueles que compreendem outras necessidades, como as
intelectuais e morais, inclusive recreação do beneficiário, sendo fixados conforme a qualidade
de vida do alimentando e a possibilidade econômica do devedor de alimentos.
Alimentos futuros são aqueles que serão concedidos após a propositura da ação em virtude de
decisão judicial ou de acordo.
Alimentos pretéritos são aqueles que antecedem a ação, o que não é aceito pelo nosso
ordenamento jurídico, não sendo possível reclamar alimentos anteriores à citação, por força
da lei de alimentos nº 5.478/68 (artigo 13, § 2º), pois, entende-se que se o necessitado
sobreviveu até o ajuizamento da ação, não há que reclamar os alimentos passados.
Essa modalidade de classificação, proposta por Schanze, é citada pelo professor Yussef Said
Cahali, no seguinte molde:
Obrigação alimentar própria “põe em evidência a distinção entre obrigação de alimentos que tem
como conteúdo a prestação daquilo que é diretamente necessário à manutenção da pessoa.
Obrigação alimentar imprópria também evidencia a obrigação de alimentos que tem como conteúdo o
fornecimento de meios idôneos à aquisição de bens necessários à subsistência”. (CAHALI, 2003, p.
28)
Alimentos voluntários são aqueles que resultam da declaração de vontade inter vivos ou causa
mortis, inserindo no direito das obrigações ou no direito das sucessões, podendo também ser
chamados de obrigacionais, prometidos ou deixados. Assim, por exemplo,
“se o doador ao fazer uma doação não remuneratória, estipule ao donatário a obrigação de prestar-lhe
alimentos se ele vier a necessitar, sendo que, se este não cumprir a obrigação, dará motivo à revogação da
liberalidade por ingratidão. Por disposição testamentária, o testador pode instituir, em favor do legatário,
o direito a alimentos, enquanto viver”. (DINIZ, 2002, p. 468)
“Os alimentos podem ter natureza contratual ou testamentária, sendo devidos em virtude de cláusulas de
contrato ou testamento, obedecendo então aos princípios do direito das obrigações e podendo ser objeto
de transação voluntária e de renúncia, dependendo, em cada caso, do modo pelo qual a cláusula foi
redigida”. (WALD, 2002, p. 43)
Alimentos ressarcitórios são aqueles utilizados como meio de indenizar um prejuízo para
ressarcir o dano causado a vítima de ato ilícito. Por exemplo: o autor de um homicídio, ora
alimentante, deverá prestar alimentos a todas as pessoas a quem o de cujus os devia.
Alimentos legítimos são aqueles em que a lei o impõe o dever de prestar alimentos em razão
de existir entre as pessoas um vínculo familiar, incluindo também os alimentos entre os
cônjuges e os alimentos ao companheiro necessitado, como já foi visto anteriormente.
Portanto, esses alimentos “são devidos por direito de sangue, por um vínculo de parentesco ou
relação de natureza familiar, ou em decorrência do matrimônio”.(CAHALI, 2003, p. 22)
Para tanto, esta última modalidade de alimentos quanto à causa jurídica, será melhor
abordada, uma vez que se trata do objeto de nossa pesquisa.
Por outro lado, “as condições de fortuna do alimentando e do alimentante são mutáveis, razão pela qual
também é modificável, a qualquer momento, não só o montante dos alimentos fixados, como também a
obrigação alimentar pode ser extinta, quando se altera a situação econômica das partes. Com isso, pode
ocorrer do alimentando passar a prover sua própria subsistência e o alimentante ter sua fortuna diminuída,
ficando impossibilitado de prestar alimentos. Assim, nessas hipóteses, poderá ser proposta a ação
revisional ou de exoneração de alimentos, porém, a decisão que concede ou nega alimentos nunca faz
coisa julgada”. (VENOSA, 2004, p. 388)
c) Para Yussef Said Cahali, por se tratar o direito a alimentos de um direito personalíssimo,
intransmissível será a obrigação ativa e passivamente. Assim,
“tanto o direito a alimentos como a obrigação alimentar, sendo intransmissíveis, se extinguem com a
morte do alimentário ou do alimentante. Portanto, extingui-se a obrigação com a morte do credor de
alimentos, não podendo seus herdeiros reclamar a prestação alimentar. Mas, se o crédito por alimentos
atrasados já se havia constituído em soma determinada, fará o mesmo parte ativa, passando aos herdeiros,
pois é certo que o direito aos alimentos, afetados a uma necessidade da pessoa, desaparece com a morte
do credor” ”.(CAHALI, 2003, p. 52)
“Em relação a intransmissibilidade passiva, “o artigo 402 do Código Civil anterior prescrevia que a
obrigação alimentar não se transmitia aos herdeiros do devedor, essa regra, foi colocada na berlinda com
a disposição do art. 23 da lei nº 6.515/77, que dizia que a obrigação de prestar alimentos transmite aos
herdeiros do devedor, na forma do art. 1.796 do Novo Código Civil, repetida no art. 1.700 do Novo
Código Civil”.(VENOSA, 2004, p. 392)
Assim, “o que se transmite aos herdeiros é a obrigação de pagar as prestações atrasadas e não a obrigação
de prestar alimentos, uma vez que não viola o princípio da intransmissibilidade do direito a alimentos,
pois responde pela dívida apenas o patrimônio do devedor falecido”.(CAHALI, 2003, p. 55)
d) Segundo assegura o artigo 1.707 do Novo Código Civil o crédito não pode ser cedido a
outrem, por ser inseparável da pessoa do credor. Para Washington de Barros Monteiro, o
direito quanto às prestações vincendas não pode ser cedido, mas às vencidas, como
constituem dívida comum, nada impede sua cessão a outrem.
e) As prestações alimentícias são impenhoráveis, uma vez que se visa manter o mínimo
indispensável e necessário à vida do necessitado.
f) As dívidas de alimentos são incompensáveis, não admitindo esse modo de extinção das
obrigações, uma vez que os alimentos destinam-se à subsistência do alimentando que não
consegue se manter.
g) O quantum das prestações vencidas ou vincendas pode ser transacionável, porém, o objeto
de pedir alimentos é intransacionável.
h) De acordo com o Código Civil vigente, as prestações alimentícias prescrevem em 2 anos,
porém, o direito a alimentos é imprescritível uma vez que a pessoa pode necessitar de
alimentos em qualquer momento de sua vida.
l) Os alimentos também são recíprocos o que significa que os parentes podem reclamar um
dos outros os alimentos, assim como os cônjuges ou companheiros podem pedir uns aos
outros os alimentos de que necessitem para sobreviver, inclusive para atender às necessidades
de sua educação.
n) A obrigação alimentar não é solidária, mas igualmente divisível entre os vários parentes
(artigos 1.696 e 1.697 do Código Civil). Assim os parentes podem contribuir com sua quota
para os alimentos proporcionalmente com suas condições, sem que ocorra solidariedade entre
eles. Esse caráter divisível da obrigação representa o entendimento doutrinário dominante.
o) O devedor de alimentos possui várias formas de cumprir sua obrigação alimentar, como
pensionar o alimentando em dinheiro (hipótese mais adotada, paga em parcelas mensais) ou
em espécie (pensão alimentícia imprópria); ou concedendo casa, hospedagem e sustento
(pensão alimentícia própria), não havendo prejuízo à educação, quando for menor
necessitado. No entanto se as circunstâncias o exigirem, o juiz poderá fixar a forma do
cumprimento da prestação.
p) Os alimentos, sejam eles provisionais ou definitivos, uma vez pagos, não mais serão
restituídos, qualquer que tenha sido o motivo da cessação do dever de prestá-los.
II- DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR
“um poder-dever, e, dentre outras obrigações, eles têm de sustentar seus filhos, dirigir-lhes a criação e
educação, tê-los em sua companhia e guarda, podendo perder por ato judicial o poder familiar o pai ou a
mãe que deixar o filho em abandono, uma vez que sustento, guarda e educação dos filhos menores são
deveres inerentes ao poder familiar. Mas esses deveres, essas obrigações cessam com a maioridade do
filho aos 18 anos”. (AZEVEDO, 2003, p. 17)
Assim, cessado o dever de sustento, persiste a obrigação alimentar dos pais, se o filho não tem
bens, nem rendas para cobrir, por si próprio, suas necessidades, não pode subsistir por si
mesmo, e, especialmente, se não tem meios para atender às despesas com sua educação, ou
formação profissional, pois do contrário não terá direito aos alimentos. Diante disso, segue
abaixo o entendimento da 4ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, em
acórdão proferido em sede de embargos infringentes nº 70003553344, relatado pelo eminente
Desembargador Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves:
“Ementa: não basta o pai poder arcar com os alimentos para que seja estabelecida ou mantida obrigação
alimentar. É preciso, antes, que a filha maior esteja impossibilitada de trabalhar, não tendo condições de
prover o próprio sustento, o que inocorre na espécie.
Tendo em mira que se trata de uma filha maior, capaz e apta ao trabalho, não se justifica a manutenção do
vínculo obrigacional, uma vez que trata de pessoa que goza de plena saúde, não sendo portadora de
qualquer deficiência
A embargante tem o dever de assegurar o próprio sustento em vez de buscar a eternização da dependência
com o pai, a condição de desemprego deve ser momentânea, pois ela deve buscar o mercado de trabalho,
uma vez que manter os alimentos seria fator de estímulo ao ócio”. (In RT 814/392)
A obrigação alimentar dos pais para com os filhos adultos, também poderá surgir quando
estes últimos não estiverem em condições de prover a sua própria mantença, seja por
incapacidade ou por enfermidade, mas neste caso deve-se levar em consideração o binômio
necessidade-possibilidade.
Portanto, o dever de sustento dos pais não se estende aos outros ascendentes, e não é
recíproco; já a obrigação alimentar é recíproca entre todos os ascendentes e descendentes,
qualquer que seja o grau de parentesco e idade do alimentando.
Desta forma, “o valor da pensão deve-se levar em conta as possibilidades do obrigado, assim, se o
devedor for servidor público ou empregado regular, basta que se promova o desconto de um percentual
para atender às necessidades do alimentando. No caso de o devedor ser empresário, em havendo dúvida, a
checagem pode ser feita nos livros contáveis. Se o devedor for profissional liberal ou autônomo, não
sendo fácil verificar seus ingressos financeiros, pode-se recorrer aos “sinais exteriores de riqueza”
(despesas com cartões de crédito, vida social intensa, viagens internacionais, etc) para estabelecer o valor
da pensão, portanto, todos os meios de prova podem ser utilizados para que se tenha a certeza de quanto
ganha o devedor de pensão”. (AZEVEDO, 2003, p. 22)
Porém, caso o necessitado queira mais do que precisa e merece, e caso o obrigado dificulte a
verificação de seus próprios recursos, omite ganhos ou esconde rendas, caberá ao magistrado
estabelecer o quantum da verba.
2.4- Quem deve prestar alimentos e quem os pode reclamar
O pedido de alimentos a uma outra pessoa, seja ela parente, cônjuge ou companheira só é
admissível se o credor provar que se encontra em estado de necessidade, uma vez que quem
pretende alimentos é o que não tem bens suficientes, nem pode manter-se com seu trabalho.
“Ementa: Tratando-se de ação de alimentos proposta diretamente pelos netos contra os avós, o juiz só
poderá sentenciar após audiência, onde serão produzidas as provas da impossibilidade material do genitor,
que é o ascendente em grau mais próximo, tendo em vista o caráter de subsidiariedade.
(...) a improcedência se deu, ante o argumento de não haverem os apelantes provado a impossibilidade de
os alimentos serem prestados por seu genitor. Evidentemente que, para produzirem tal prova,
necessitavam os autores da designação de audiência, o que não lhe foi permitido realizar. Além disso, não
arrolaram testemunhas na inicial, sabendo-se de sua necessidade”. (In RT 805/240)
Esta obrigação de prestar alimentos, exclui os afins por mais próximo que seja o grau de
afinidade, assim, aquele que necessitar de alimentos deverá pedi-los ao pai ou a mãe, na falta
destes, aos avôs paternos ou maternos; na ausência destes, aos bisavôs e assim
sucessivamente; na falta dos ascendentes, caberá a obrigação aos descendentes maiores,
independente da qualidade de filiação; na ausência dos filhos são chamados os netos, e depois
os bisnetos e assim sucessivamente e; faltando um destes, aos irmãos germanos ou unilaterais,
de forma que o tio não estará obrigado a prestar alimentos a sobrinho, nem mesmo primos se
devem reciprocamente, alimentos. Porém, os mais próximos não excluem os mais remotos,
porque, embora haja um parente mais chegado, o mais distante poderá ser chamado a prestar
alimentos se aquele não tiver condições de fornecê-la.
No entanto, caso haja vários parentes de mesmo grau em condições de alimentar, cada um
contribuirá com a sua parte proporcionalmente, levando em conta as possibilidades
econômicas de cada devedor e, se a ação de alimentos for proposta apenas contra um deles,
poderão os demais ser chamados a integrar a lide. Se um deles satisfazer integralmente o
necessitado, este não exigirá dos demais, pois não há solidariedade por ser divisível a
obrigação.
No que tange aos alimentos aos filhos menores, os pais têm o dever de subsistência e
educação dos filhos. Já com relação ao direito de os filhos maiores pedirem alimentos aos
pais, esta obrigação estende-se até que o filho complete os estudos superiores e possa prover a
própria subsistência, entendendo que a pensão alimentícia deva ser paga até os 24 anos. No
entanto, tal dever será melhor abordado em capítulo posterior
Já com relação aos filhos havidos fora do casamento, estes poderão pleitear alimentos
acionando os seus genitores em segredo de justiça, podendo também ser ajuizadas ações de
investigação de paternidade cumulada com pedido de alimentos, do mesmo modo, os filhos
extramatrimoniais estão obrigados a prestar alimentos a seus ascendentes se deles precisarem.
Quanto aos filhos adotivos, estes têm os mesmos direitos e obrigações que os filhos
biológicos do adotante, logo, o adotante poderá reclamar alimentos aos filhos, netos ou
bisnetos de seu filho adotivo e vice-versa.
“Quanto ao parentesco natural, como este se extingue com a adoção, os pais consangüíneos do adotado
não são obrigados a prestar-lhe alimentos, se o adotante não tiver recursos, e o adotado também não
deverá alimentar os pais naturais se eles precisarem”. (DINIZ, 2002, p.470)
“Em relação ao nascituro, é discutida a questão em saber se é credor de prestação alimentícia, e a doutrina
majoritária, acompanhada pela jurisprudência dominante, entende que não, por falta de expressa previsão
legal, e com base na primeira parte do art. 4º do Código civil de 1916. Mas, para Villaça de Azevedo, a
obrigação alimentar existe desde a concepção, tendo o nascituro direito à vida, e direito próprio a
alimentos, entendendo-se aqui, remédios, despesas médicas e, em geral, necessidades pré-natais, além de
hospitalização e parto. Quanto à dúvida de ser o nascituro devedor de alimentos, J. M. de Carvalho
Santos, explica que ele não pode ser considerado como descendentes, não é ainda uma pessoa, e só
excepcionalmente admite a lei, por ficção legal, que o nascituro tenha capacidade para adquirir bens,
(...)”. (AZEVEDO, 2003, p. 15)
Por vez, o cônjuge não se encontra nessa ordem sucessiva, porque deve alimentos por força de
outro fundamento legal, o que também será tratado em capítulo posterior.
III- DO DEVER DE SUSTENTO
Há duas ordens de obrigações alimentares, distintas, dos pais para com os filhos: uma
resultante do poder familiar, consubstanciada na obrigação de sustento da prole durante a
menoridade; e outra, fora do poder familiar vinculada à relação de parentesco em linha reta.
Violado o dever de sustento configura abuso do poder familiar, de modo a determinar-lhe a
perda ou suspensão, mas não exonera os pais do dever de sustentar os filhos.
O dever de sustento é aquele em que os pais têm em relação aos seus filhos menores que se
encontram sob o poder familiar, fornecendo os primeiros aos segundos não só o essencial à
sobrevivência como também o necessário para sua subsistência de forma a garantir-lhes a
manutenção no que diz respeito à saúde, educação, moradia, lazer, medicamentos, assistência
médica, entre outros; garantindo uma vida digna e compatível com sua condição social. Uma
vez adquirida a maioridade civil, cessa a obrigação alimentar, porém, se os filhos
freqüentarem curso universitário, terão os pais à obrigação alimentar estendida até o término
do curso ou quando os alimentandos completarem 25 anos, segundo assegura Arnold Wald e a
2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em acórdão proferido em
sede de agravo de instrumento nº 262.473-4/4-00, relatado pelo eminente Desembargador
Cezar Peluso:
“Ementa: a só maioridade do filho, que é estudante regular de curso superior e não trabalha, não justifica
a exclusão da responsabilidade do pai quanto a seu amparo financeiro para o sustento e os estudos.
Esta Câmara ponderou, em caso análogo, que o custeio dos estudos até a graduação em curso superior, a
qual capacite o filho para a vida econômica, é necessidade intuitiva que justifica a perseverança da
obrigação paterna”.(In RT 814/220)
3.2- Dever de Sustento na Constância e na Dissolução da Sociedade Conjugal
Com o casamento, surge o dever de sustento dos pais em relação aos seus filhos, de modo que
aqueles irão colaborar conjuntamente para a manutenção e subsistência destes na proporção
de suas condições econômicas, tendo em vista o suprimento das necessidades dos filhos,
exercendo, portanto, o poder familiar. Porém, os cônjuges, ainda que separados judicialmente
ou divorciados devem contribuir para a manutenção dos filhos na proporção de seus recursos,
ainda que um deles seja culpado pela separação ou tenha ficado com a guarda do menor, não
isentando-se do pagamento dos alimentos, conforme estabelece o artigo 1.703, Novo Código
Civil.
“caso não haja estipulação dos alimentos quando os filhos ficarem sob a guarda do cônjuge varão não os
inibe de reclamar alimentos da genitora, se as necessidades e possibilidade assim o permitirem. Se um dos
pais não cumpre o que lhe competia, pode o juiz, a pedido do filho, ou de quem por ele fale, em ação de
alimentos, separar bens necessários a prover, com os rendimentos, à alimentação do menor. Caso o pai
não possua bens, nem o seu trabalho baste para o próprio sustento, o filho pode pedir alimentos à mãe,
que será obrigada a prestá-los, o mesmo ocorre se a mãe se compromete a alimentar o filho e não
cumprindo o acordo, fica obrigado o pai”. (CAHALI, 2003, p. 552)
Na separação consensual deve ser fixado o valor destinado a criação e educação dos filhos,
bem como a quem caberá a guarda do menor, podendo o juiz recusar a homologação e não
decretar a separação judicial se verificar que o acordo não preserva suficientemente os
interesses dos filhos. Contudo,
“a Lei do Divórcio admite que a pensão a ser paga pelo devedor pode consistir no usufruto de
determinados bens, assim, por exemplo, o cônjuge devedor doa aos filhos patrimônio imobiliário
vultuoso, propiciando-lhes excelente renda, garantindo sua manutenção, mas isso não significa que os
filhos tenham renunciado o direito de pleitear alimentos que poderão fazer a qualquer
momento”.(CAHALI, 2003, p. 560)
Todavia, caso não se estipule o quantum devido aos filhos na ação de separação, os
alimentandos só poderão requerê-los em ação própria de alimentos. Além disso, eventual
revisão do que foi convencionado na separação deverá ser objeto de discussão em ação
revisional, não podendo ser questionada em fase de execução.
Quanto à separação litigiosa, ainda que haja culpa por parte de um dos cônjuges ainda
permanece o dever de sustento aos filhos menores e maiores inválidos por parte de ambos os
cônjuges na proporção de seus recursos.
Já no “divórcio – conversão, a questão dos alimentos já vem definida na separação amigável ou litigiosa.
Ao passo que, no divórcio direto a obrigação alimentar dos genitores em relação à prole obedece a mesma
regra da separação litigiosa, prevista no artigo 20 da Lei nº 6.515/77”.(CAHALI, 2003, p. 568)
§ 6º Os filhos, havidos ou não da relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.
Desta forma, qualquer filho pode ser reconhecido, voluntária ou judicialmente, e pleitear
alimentos aos seus pais. Assim, por exemplo, o filho havido fora do casamento pode ser
reconhecido pelo seu pai a qualquer momento, inclusive na constância do casamento deste,
gerando todos e os mesmos efeitos dos filhos matrimoniais.
Além disso, o Código Civil assegurou o direito alimentar aos filhos extramatrimoniais de
serem sustentados pelos responsáveis por suas gerações, sejam eles naturais ou espúrios,
garantindo igualdade de condições com o filho legítimo ou legitimado. Assim, reconhecido o
filho, tem ele o direito de exercer a ação de alimentos com todos os benefícios e
conseqüências que dela resulta, bem como tem o genitor a obrigação de prestar alimentos
após ser constatada a paternidade do filho, provendo a subsistência e educação do mesmo.
Nos casos em que seja necessária a investigação de paternidade, poderá o filho antes de seu
reconhecimento exigir de seu suposto pai a prestação de alimentos, “de modo que a
circunstância de ser o réu casado não impede a ação de alimentos proposta por filho
“ilegítimo”, pois não está em causa a conceituação jurídica do filho”.(CAHALI, 2003, p. 587)
IV- Da Obrigação Alimentar e Dever de Sustento no Casamento
Quanto ao regime de bens, independe o regime aplicado, uma vez que qualquer dos cônjuges
poderá demandar contra o outro a prestação de alimentos que se fizerem necessários para si e
para a prole; e contra qualquer dos dois genitores poderá ser postulada a prestação de
alimentos pelo filho comum.
“enquanto vigora o casamento anulável, ou mesmo nulo, e mesmo durante o processo de desconstituição
do vínculo, independentemente de qualquer indagação em torno da boa ou má-fé de qualquer dos
cônjuges, persiste o dever de assistência recíproca pelo menos até o momento da sentença
anulatória”.(CAHALI, 2003, p. 243)
Portanto, enquanto não for declarada a nulidade ou anulação do casamento por órgão judicial,
este continua produzindo seus efeitos, tão logo, a obrigação alimentar entre os cônjuges
persiste até a sentença de nulidade ou anulação.
Para tanto, os alimentos concedidos em favor do cônjuge necessitado devem ser pagos até o
trânsito e julgado da decisão de nulidade ou anulação.
Todavia, “se anteriormente à sentença anulatória ou no curso do processo, houver condenação em ação de
alimentos ou concessão de alimentos provisionais, está assentado na doutrina e jurisprudência que o
beneficiário não se sujeita à repetição do que tiver recebido, ainda que ao depois venha a ser reconhecido
como cônjuge culpado pela dissolução do matrimonio”. (CAHALI, 2003, p. 245)
Pelo Código Civil vigente, ambos os cônjuges exercem a direção da sociedade conjugal e
escolhem livremente o domicílio do casal, concorrendo para o sustento e manutenção da
família. Com o casamento, os cônjuges assumem a obrigação de assegurar o bem-estar da
família que pretendem constituir, porém, diante de algumas divergências conjugais pode
ocorrer a separação de fato do casal, mas que não acarreta a dissolução da sociedade, uma vez
que o vínculo matrimonial continua íntegro. Com isso, a obrigação de assistência e socorro
entre eles resolve-se na obrigação de prestação de alimentos entre ambos.
Assim, não se pode dizer em perda de alimentos pela mulher quando esta abandona o lar
porque é agredida ou expulsa do lar por um marido violento; quando dele foge ao perigo
certo, que a ameaça no teto conjugal; quando se afasta de conduta escandalosa do marido;
quando a mulher deixa a residência distante, para onde o marido pretendeu transferir o lar, e
volta para a casa anterior, em benefício dos filhos, entre outras hipóteses.
No entanto, quando a coabitação é interrompida por culpa da mulher quando esta abandona
voluntária e imotivadamente o domicílio conjugal e a este recusa voltar, cessa para o marido a
obrigação de sustentá-la. Assim, conforme entendimento da 6ª Câmara Cível do Tribunal de
Justiça do Estado de São Paulo
“a mulher que optou por uma vida de liberdade sexu al, deve sustentar-se à própria custa, ou do eventual
companheiro, e não à custa da pensão do marido, além disso, a 1ª Câmara Cível do Tribunal de Santa
Catarina, de 04/05/1978, Revista dos Tribunais 536/207 entendeu que “a mulher casada, mesmo
abandonada pelo marido, que passa a viver em concubinato com outro homem perde o direito a
alimentos, uma vez que a mulher que abandona o lar conjugal, ainda que por motivo justo, há de manter-
se fiel ao marido para que dele possa exigir alimentos”. (CAHALI, 2003, p. 286)
Outrossim, tem se reconhecido como motivo justo para o afastamento da mulher qualquer fato
que eventualmente autorizaria o pedido de separação judicial ou de divórcio ou qualquer fato
que eventualmente autorizaria a anulação de casamento, porém, é importante salientar que
qualquer dos cônjuges poderá se ausentar do domicílio conjugal nas hipóteses previstas no
artigo 1.569 do Código Civil vigente.
No entanto, se a mulher abandona o lar conjugal imotivadamente, caberá ao marido provar o
abandono sem justo motivo e a recusa da volta da mulher ao domicílio do casal para que seu
direito à exoneração do encargo de prestar alimentos a sua esposa seja reconhecido, pois do
contrário permanece a obrigação de sustentá-la até que fique isento por decisão judicial; já à
mulher incumbe provar que houve justo motivo para o seu afastamento, visando o seu direito
à pensão alimentícia.
Com relação aos alimentos na separação de fato acordada por ambos, subsiste a obrigação
alimentar.
Assim, quando qualquer dos cônjuges ingressa com uma ação de separação consensual, deve
constar na inicial a pensão alimentícia destinada aos filhos menores e os alimentos que um
cônjuge prestará ao outro quando este não possui bens suficientes para se manter, lembrando
que nos alimentos entre os separandos, pode haver dispensa da pensão, que é provisória, e que
não pode ser confundida com renúncia que é definitiva, como será visto mais adiante.
No que tange a fixação da pensão, há duas formas: aquela fixada englobadamente ao cônjuge
e aos filhos, sem distinção daquilo que é necessário a um e a outro, e, aquela fixada
separadamente para cada um dos alimentandos, porém, caso isso não seja estabelecido deve-
se considerar que metade é destinada as despesas dos filhos e a outra metade à pensão da
mulher, visto que normalmente é o marido quem paga pensão à esposa, mas nada impede do
ex-marido, separado consensualmente, pedir alimentos à ex-mulher se assim o necessitar.
Ainda em relação a primeira forma de fixação é importante ressaltar que de acordo com
entendimento jurisprudencial, uma vez cessado a menoridade de cada um dos filhos ou
cessado o direito da genitora, as respectivas quotas da pensão global passam a acrescer o valor
dos demais beneficiários remanescentes.
De acordo com o artigo 404 do Código Civil de 1916, o direito aos alimentos não precisava
ser exercido, porém, não era possível renunciá-lo. Com a revogação do artigo, uma corrente
minoritária entendeu que a impossibilidade de renúncia apenas compreendia aos alimentos
decorrentes das relações de parentesco, não se aplicando aos alimentos entre cônjuges.
Todavia, o Supremo Tribunal Federal editou a Súmula nº 379 que admitiu a
irrenunciabilidade dos alimentos provenientes das relações conjugais o que não foi aceito pela
jurisprudência majoritária dos Tribunais estaduais, pelo Supremo Tribunal de Justiça e muitos
julgados, os quais estabeleceram e estabelecem a possibilidade de renúncia a alimentos nas
relações entre cônjuges e companheiros, apenas vedando a renúncia dos alimentos entre
parentes.
Para Silvio de Salvo Venosa, o Código Civil vigente (artigos 1964 e 1707) define os
alimentos devidos aos parentes e aos cônjuges como sendo da mesma natureza, vedando a
possibilidade de renúncia em qualquer caso.
“é muito provável que com a vigência do Novo Código Civil, os tribunais confiram uma interpretação
teleológica construtiva ao artigo 1.707, estabelecendo que o credor do referido dispositivo é o parente e
não o cônjuge ou companheiro. O único aspecto que não há dúvida é o que diz respeito aos alimentos
entre parentes e entre cônjuges ou companheiros serem incessíveis, incompensáveis e impenhoráveis
tanto das prestações vencidas como das futuras”. (2003, p. 60)
Como bem se observa em capítulos anteriores, ambos os cônjuges são obrigados a concorrer
na proporção de seus bens e rendimentos do trabalho para o sustento da família, obrigação
esta imputada principalmente ao marido, assim, quando este viola o dever de mútua
assistência e manutenção da família constitui causa jurídica de separação judicial culposa.
Desta forma, na separação litigiosa, um dos cônjuges poderá ser declarado culpado, não tendo
direito a alimentos, entretanto, deverá prestar ao cônjuge inocente pensão fixada pelo juiz, se
dela necessitar, obedecidos os critérios do artigo 1.694 do Código Civil, conforme
entendimento de Álvaro Villaça de Azevedo, pois para ele a culpa é insuficiente para
caracterizar a obrigação alimentar, uma vez que, é necessário verificar o binômio necessidade
–possibilidade.
Para Cahali, “os alimentos a serem fixados pelo juiz em benefício do ex-cônjuge, responsável
pela dissolução da sociedade conjugal, não serão aqueles previstos no art. 1.694 do referido
dispositivo, mas apenas os indispensáveis à sua sobrevivência, ditos necessários ”. (2003, p.
398)
Destarte, faz-se necessário à análise do artigo 1.704, caput , do Código Civil que estabelece
que caso o cônjuge inocente, necessite de alimentos, será o outro obrigado a pagar pensão na
proporção de seus recursos, levando em conta as necessidades do alimentando. Já em seu
parágrafo único assegura que caso o cônjuge declarado culpado necessite de alimentos, sem
que haja meios e recursos próprios para sobreviver como aptidão para o trabalho e tampouco
parentes que possam socorrê-lo, será o cônjuge inocente acionado para prestar alimentos
indispensáveis a sua subsistência.
Portanto, aquele cônjuge declarado culpado não gozará de pensão alimentícia, salvo nas
hipóteses do parágrafo único do citado artigo. Ao passo que o cônjuge inocente sempre terá
direito aos alimentos decorrentes da separação judicial provocada por culpa de outrem.
No caso de separação litigiosa decorrente de culpa recíproca, não há cônjuge inocente, pois
ambos descumpriram deveres conjugais, de modo que nenhum deles terá direito a alimentos.
Logo, provada a culpa recíproca, exime-se os cônjuges de prestar alimentos.
Isto ocorre porque os alimentos só serão devidos ao cônjuge inocente, se houver a idéia de
culpa, ausente este requisito não há cônjuge responsável pela separação judicial, tão logo, não
há evidência da figura da culpa e conseqüentemente não goza dos alimentos devidos.
Assim, quanto à separação judicial resultante do § 1º, a obrigação alimentar continuará sendo
meramente opinativa, segundo Yussef Said Cahali, enquanto que na separação judicial
decorrente do § 2º, o cônjuge que requereu a separação continuará obrigado a sustentar o
cônjuge enfermo prestando-lhe alimentos suficientes para sua mantença.
Assim, “se na separação consensual foi acordado pensão alimentícia em favor da mulher; ou se na
separação litigiosa foi-lhe reconhecido como cônjuge inocente na separação com culpa exclusiva do
marido; ou como cônjuge que não teve iniciativa da ação na separação sem culpa, desde que ela não tenha
perdido a pensão por fato superveniente ou tenha depois renunciado aos alimentos, o seu direito de ser
pensionada chega ao momento da conversão e havendo cláusula de manutenção, de reajuste ou de
redução, prevalece o que tiver sido estipulado no acordo de conversão.
Porém, havendo na conversão omissão a respeito da pensão, presume-se que os cônjuges separados
pretendem conservar os alimentos fixados, anteriormente, à conversão da separação judicial em divórcio.
Todavia, se na conversão consensual da separação judicial em divórcio a mulher renunciou aos alimentos,
homologada a conversão, não é possível reclamá-los posteriormente. A esta situação equipara-se o pedido
de conversão homologado, ainda que omisso quanto à pensão alimentar, se no acordo da separação
consensual ou se em virtude do acordo posterior, a mulher renunciou aos alimentos, nada estipulando em
sentido diverso quando do pedido comum de conversão, a homologação da conversão compreende
implicitamente a renúncia dos alimentos feita quando da separação judicial, tornando-a definitiva”.
(CAHALI, 2003, p. 411)
Já com o divórcio, há a dissolução do vínculo conjugal e com ele o rompimento dos deveres
conjugais, descabendo a mulher receber alimentos, se não os teve estipulados no momento da
separação judicial ou da sua conversão em divórcio.
4.9- Alimentos e Divórcio – Conversão Litigiosa
“A conversão em divórcio da separação judicial litigiosa existente há mais de um ano poderá ser feita por
qualquer dos cônjuges, seja ele culpado ou inocente. Já os alimentos devidos ao ex-cônjuge e à prole
comum, deverão ser examinados em seus dois aspectos: a) cumprimento da obrigação alimentar
convencionada ou estatuída na separação judicial, como condição legal de possibilidade da conversão
pretendida; e b) obrigação alimentar após a conversão”. (CAHALI, 2003, p. 421)
O primeiro aspecto deve ser examinado, pois é necessário verificar se o ex-marido cumpriu
com sua obrigação alimentícia devida à ex-esposa e aos filhos do casal, pois caso contrário
será recusado a conversão. No entanto, se o ex-marido está em dia com o pagamento da
pensão convencionada ou fixada judicialmente ou ainda, se comprometeu no curso do
processo da conversão a desempenhar inteiramente as suas obrigações, será possível à
conversão da separação judicial em divórcio.
Para tanto, o cônjuge requerente deverá provar que está em dia com as obrigações
decorrentes da separação; assim, se houver obrigação alimentar, deverá saná-la, pois do
contrário, não lhe assiste direito de pleitear a conversão.
Diante disso, verifica-se que a conversão da separação litigiosa em divórcio procede de duas
formas:
“a) se o cônjuge requerente da conversão tinha então o direito de alimentos, não perde, pois nenhuma
sanção é prevista em lei nesse sentido, se, a seu pedido, a separação judicial é convertida em divórcio; b)
do mesmo modo, se o cônjuge requerente da conversão estava até então obrigado à prestação de
alimentos, não se libera ele, pois não há previsão em lei nesse sentido, se, a seu pedido, a separação
judicial é convertida em divórcio”. (CAHALI, 2003, p. 448)
O dever de sustento extingue-se com a maioridade do filho ou com sua emancipação, podendo
surgir a obrigação legal de alimentos caso se prove a real necessidade do alimentando, mas
devendo levar em consideração a possibilidade econômica do alimentante. Salienta-se dizer
que o desemprego não exonera os pais do dever de sustento, “apenas desloca o pagamento
para época posterior, jamais liberando o devedor” , conforme entendimento da 1ª Câmara
Cível do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em acórdão proferido em sede de agravo
de instrumento nº 197.021-1.(WALD, 2002, p. 47)
Com relação ao direito a alimentos do cônjuge devedor, este cessa quando o cônjuge
alimentando une-se em casamento, união estável ou concubinato, uma vez que seria um tanto
quanto injusto e imoral exigir que o ex-cônjuge ou até mesmo o ex-companheiro efetuasse o
pagamento da pensão do alimentário mesmo depois deste estabelecer uma nova relação
afetiva.
Além disso, cessa a obrigação alimentar caso o credor apresente comportamento indigno em
relação ao devedor, porém, tal regra não aplica-se apenas aos cônjuges e companheiros, mas
também a prestação de alimentos decorrentes da relação de parentesco. Assim, por exemplo,
o cônjuge ou companheiro que dedica-se à prostituição ou leva a vida desregrada e imoral, ou
ainda, o filho drogado que desrespeita e prejudica os pais, seja caluniando-os, injuriando-os,
difamando-os ou qualquer outro procedimento indigno, perdem o direito de serem
pensionados.
“Não há exoneração da obrigação de prestar alimentos à ex-mulher o só fato desta namorar terceiro após a
separação, uma vez que a separação judicial põe termo ao dever de fidelidade recíproca, porém, não
poderá haver desregramento de conduta. Da relação amorosa, adveio um filho, porém sem que ocorre
alteração na situação da ré, eis que não se tem notícia de vida em comum e, inclusive, até para
reconhecimento do filho teve de ser proposta ação judicial”. (In RT 803/173)
Todavia, tal extinção não ocorre quando o devedor contrai novo casamento, constitui união
estável ou no caso de concubinato. Porém, se da nova união do alimentante resultar prole, há
decisões que entendem ser possível o pedido de redução da prestação alimentícia, como se
verifica com a decisão proferida pela 2ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais,
em acórdão proferido em sede de recurso de apelação nº 000.200.015-6/00, relatado pelo
eminente Desembargador Pinheiro Lago:
“Ementa: a simples constituição de nova família não enseja, por si só, a redução da prestação alimentícia
a qual o alimentante está adstrito a pagar, a não ser quando da nova união resulte prole, o que demonstra,
de maneira indubitável, a alteração da capacidade financeira do alimentante, pela agravação de seus
encargos. Outrossim, a CF de 1988 estabelece em seu art. 226 § 6º, a vedação de atos discriminatórios em
relação à filiação.
Não há dúvida quanto à mudança econômica-financeira na situação dos envolvidos, autoriza a revisão de
alimentos. Assim, com o nascimento de outro filho, trouxe ao alimentante novas despesas, sendo possível
a redução dos alimentos” . (In RT 800/375)
Após a fixação da pensão alimentícia esta pode ser alterada a pedido de qualquer das partes,
desde que comprovada a mudança na fortuna de quem fornece os alimentos, ou na de quem os
recebe. Assim, por exemplo,
“se os filhos necessitam de maiores recursos para estudo e vestuário, ou se provam que a situação
financeira do pai melhorou, em relação à anterior, deve o juiz conceder aumento da pensão alimentícia, ao
contrário, se o pai prova que seus ganhos diminuíram, pode pedir redução dos alimentos”.
(RODRIGUES, 2002, p. 425)
Isto é assim porque em matéria de alimentos, a decisão judicial não faz coisa julgada material,
sendo possível que o quantum da pensão alimentícia possa ser revisto através de ação
revisional, seguindo o procedimento especial previsto na Lei nº 5.478/68 para ser reduzido,
majorado ou exonerado, porém, tal modificação só ocorre se o critério da proporcionalidade
entre as necessidades do alimentando e as possibilidades do alimentante se alterarem.
Contudo, “a alteração da pensão não é automática, logo, a causa tem de ser verificada
judicialmente”. (AZEVEDO, 2003, p. 33)
Assim, para garantir o fiel cumprimento desta obrigação à lei estabelece, dentre outras
providências, a prisão do alimentante inadimplente, visando compeli-lo ao adimplemento.
Portanto, “a prisão por débito alimentar não é pena, mas meio coercitivo de execução, para
compelir o devedor ao pagamento da prestação de alimentos”. (AZEVEDO, 2000, p. 158)
A prisão civil por dívida vem prevista no artigo 5º, LXVII da Constituição Federal que assim
estabelece: “Não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento
voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel”.
Portanto, somente nessas duas hipóteses pode ocorrer à prisão por dívida, porém, a nós apenas
interessará a prisão civil do devedor de alimentos que não efetua o pagamento dentro do prazo
devido.
O prazo da prisão pode ser decretado por até 60 dias de acordo com o artigo 19 da Lei nº
5.478/68, considerando o prazo máximo dos alimentos definitivos fixados por sentença ou por
acordo, e, de 1 a 3 meses, quando se cuidar de alimentos provisionais, conforme § 1º do artigo
733 do Código de Processo Civil. Portanto, como bem lembra Álvaro Villaça de Azevedo, o
devedor não poderá ser condenado por prazo indeterminado.
“Ementa: a penalidade de prisão por 60 dias imposta ao devedor alimentar não extingue a sua execução,
pois essa só se dá nos casos previstos no art. 794 do CPC.
Exaurido o processo, porquanto, diante da comprovada inadimplência, foi decretada a prisão, tendo o réu
permanecido em cárcere pelo período estabelecido. Verifica-se que não ocorreu nenhuma hipótese do art.
794 do CPC, razão pela qual a execução não poderia ter sido julgada extinta, impossibilitando, assim, que
o débito venha a ser exigido futuramente. Tendo o alimentante deixado o cárcere, resta ao alimentando
sob o rito do art. 732 do CPC, providenciar a penhora de bens ou o que for possível fazer no sentido de
alcançar o pagamento dos atrasados”. (In RT 802/219)
Com isso, uma vez efetuado o pagamento da dívida, suspende imediatamente a pena por
inadimplência do devedor – alimentante, tendo em vista que “é ilegal a permanência do
devedor no cárcere, após o adimplemento próprio ou por terceiro”. (ASSIS, 1998, p. 146)
Ementa: “O débito alimentar que autoriza a prisão civil do alimentante é o que compreende as três
prestações anteriores à citação e as que vencerem no curso do processo. (Súmula n. 309-STJ). No caso, a
execução compreende apenas as duas últimas prestações. – Não constitui o habeas corpus a via hábil à
análise de fatos complexos e controvertidos, dependentes de dilação probatória. Habeas corpus
denegado”.
Neste trabalho buscou-se abordar o instituto dos alimentos de uma forma simples e didática,
proporcionando esclarecimentos acerca da obrigação alimentar decorrente do vínculo
conjugal e do dever de sustento decorrente do poder familiar.
Vimos, assim que todo ser humano tem o direito de exigir pelas vias normais ou pelas vias
judiciais a chamada pensão alimentícia que tem por escopo suprir as necessidades básicas,
fundamentais e indispensáveis do indivíduo. Por essa razão, os alimentos assumem um papel
institucional e relevante.
A finalidade dos alimentos é oferecer um resultado que leve a um bem comum àqueles
envolvidos e necessitados do cumprimento da obrigação alimentar.
Todavia, cabe nos dizer com base jurisprudencial, que percebemos ser o tema dos alimentos
imprevisto e discutível, sendo que muitas vezes, apesar de todos os direitos e exigências, os
alimentos não são concedidos na sua integralidade ou na proporção em que são devidos, seja
por falta de prova da necessidade – possibilidade ou simplesmente pelo fato do juiz entender
que não cabe revisão para ser reduzido, majorado ou exonerado. No entanto, caso ocorra tal
modificação, esta só ocorre se o critério da proporcionalidade entre as necessidades do
alimentando e as possibilidades do alimentante se alterarem.
A obrigação alimentar por sua vez é recíproca entre pais e filhos, logo, caso os pais
necessitem, caberá aos filhos maiores ajudá-los e ampará-los na velhice, carência ou
enfermidade.
Posto isto, sabe-se que com o casamento surge o dever de sustento dos pais em relação aos
seus filhos, de modo que aqueles irão colaborar conjuntamente para a manutenção e
subsistência destes na proporção de suas condições econômicas, tendo em vista o atendimento
das necessidades dos filhos, exercendo, portanto, o poder familiar. Porém, os cônjuges, ainda
que separados judicialmente ou divorciados devem contribuir para a manutenção dos filhos na
proporção de seus recursos, ainda que um deles seja culpado pela separação ou tenha ficado
com a guarda do menor, não isentando-se do pagamento dos alimentos.
No que diz respeito aos alimentos decorrentes do vínculo conjugal, se faz necessário dizer
antes que a sociedade conjugal consiste na formação entre os cônjuges de uma comunhão de
vida, de modo que, passam a ter dentre os seus deveres o de mútua assistência entre ambos,
compreendendo também o dever de socorro. Tal dever é garantido no inciso III do artigo
1.566 do Novo Código Civil.
Já no caso de separação judicial com culpa, o cônjuge declarado culpado só terá direito aos
alimentos se provar que necessita deles, não havendo, para tanto, aptidão para o trabalho, nem
parentes em condições de prestá-los. Ao passo que o cônjuge declarado inocente terá direito
aos alimentos.
Havendo culpa recíproca, entende-se que não há cônjuge inocente, pois ambos descumpriram
deveres conjugais, e, portanto, nenhum deles terá direito aos alimentos.
Por fim, diante de tudo que foi exposto, concluímos ser os alimentos um tema pertinente à
atuação e ação do ser humano necessitado que busca subsídios para sua mantença e
subsistência e que tem no direito fundamental constitucionalmente assegurado.
Observa-se que o alimentante desempregado pode ser compelido à prisão pelo não pagamento
de pensão alimentícia, e somente poderá ocorrer nas últimas três prestações anteriores a
citação e as que venceram no curso do processo.
Em última análise, vale ressaltar que com o trabalho, descobrimos que o tema traz diversas
dimensões que para nós eram ocultas e agora se tornaram intrigantes e dignas de serem
estudadas de forma aprofundada.
Referências
Fontes
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Embargos Infringentes nº 70003553344. Desembargador Sergio Fernando de Vasconcellos
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SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo, 2ª Câmara. Agravo de Instrumento nº 473-
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Livros
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