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Construção de conceitos no
campo da ciência da
informação*
Maria Cristiane Barbosa Galvão A constituição e desenvolvimento de uma Já Rubem Alves esclarece:
ciência exige dos seus pesquisadores e
profissionais observação, reflexão e crí- “Um modelo é um artefato construído
tica das metodologias e padrões científi- pelo cientista.
cos vigentes, sem o que a produção
científica do campo (bem como as pro- Quando falamos em artefatos, pensa-
postas teóricas e práticas nela contidas) mos em coisas fabricadas com o auxí-
poderá redundar em discursos de gran- lio de materiais sólidos, como relógios,
de proximidade com o senso comum. máquinas de moer carne, cortadores de
unha, satélites artificiais. Todos são ar-
Assim, o objetivo do presente artigo é tefatos produzidos pela arte dos ho-
refletir sobre a construção conceitual no mens.(...)
campo da ciência da informação. Esta Para se construir um modelo, fazemos
reflexão tem duas justificativas básicas: uso não de materiais sólidos, mas de
a) a formulação dos conceitos possibi- conceitos.”2
lita a ruptura epistemológica com o sen-
so comum, ou seja, é um dos caminhos Guiando-nos pelos autores citados an-
possíveis para a construção de uma teriormente, podemos afirmar que, para
ciência; b) os conceitos são os mate- a ciência da informação atingir um pa-
riais empregados na elaboração de mo- drão de cientificidade, seus pesquisa-
delos científicos que, por sua vez, per- dores e profissionais precisam estar
Resumo mitem a observação, descrição e inter- atentos à formulação de conceitos.3
pretação dos objetos teóricos e empíri-
A construção de conceitos interfere na
ruptura epistemológica de uma ciência com cos de um campo do conhecimento, Sabemos que a ciência da informação
o senso comum e no desenvolvimento de assim como os fenômenos presentes, possui várias relações com a bibliote-
modelos científicos voltados para a passados e futuros a eles relacionados. conomia e com a documentação. Isto
observação, descrição e interpretação dos
objetos teóricos e empíricos de um campo porque grande parte dos cursos, dos
do conhecimento. A formação do arcabouço As duas justificativas mencionadas têm institutos e periódicos que tinham em
conceitual da biblioteconomia e por base os trabalhos de Bourdieu e de seus nomes os termos biblioteconomia
documentação parece ter tido por base o Rubem Alves. Ao discutir o conceito de e documentação, em certo momento
fluxo de tratamento e recuperação da ruptura epistemológica (construção dos
informação, bem como os conceitos e histórico, substitui esses termos pelo
termos a ele associados. No entanto, este conceitos científicos sem a “interferên- termo ciência da informação. Um segun-
arcabouço parece possuir alguns problemas cia”das pré-noções presentes na lingua- do aspecto que nos leva à constatação
metodológicos, entre eles a construção de gem comum), escreve Bourdieu: de tais relações é o fato de a literatura
conceitos descritivos sem uma paralela
preocupação com a elaboração de conceitos especializada, quer seja nacional ou in-
metodológicos correspondentes e a “(...) en la medida en que el linguagen ternacional, muitas vezes, associar ou
perspectiva eclética adotada em sua común y ciertos usos especializados de estabelecer equivalência entre os termos
construção. Tais constatações parecem las palabras comunes constituyen el biblioteconomia, documentação e ciên-
indicar que a biblioteconomia e principal vehiculo de las representacio-
documentação possuem uma frágil ruptura cia da informação, sem necessariamen-
com o senso comum. Logo, se área pretende nes comunes de la sociedad, una críti- te esclarecer os conceitos a que se re-
participar do campo científico, como indica o ca lógica y lexicológica del lenguage ferem e suas especificidades.
termo ciência da informação, deve assumir común surge como el paso previo más
uma postura diferenciada diante das indispensable para la elaboración con-
metodologias científicas e mais Na reflexão presente, consideramos que
especificamente da construção de trolada de las nociones científicas.”1 o termo ciência da informação surgiu
conceitos. para denominar e representar uma ten-
Palavras-chave tativa teórica e prática de superação da
* Artigo baseado em capítulo da dissertação de
mestrado A ciência da informação: estudo
biblioteconomia e da documentação.
Biblioteconomia; Documentação; Ciência da epistemológico, defendida, em junho de 1997, Dessa maneira, o nosso ponto de parti-
informação; Construção de conceitos; na Escola de Comunicações e Artes da Univer- da será discutir a base conceitual da
Ruptura epistemológica. sidade de São Paulo.
Quanto à representação descritiva, po- O usuário do sistema é o público que cumentárias. Também, pode-se perceber
demos dizer que ela contempla os da- utiliza o sistema de informação. que essas correntes têm procurado seus
dos ligados à produção editorial dos subsídios na estatística, na ciência cog-
documentos, tais como o responsável Como pode ser observado, a biblioteco- nitiva, na lógica, na lingüística, na mate-
pela obra, título da publicação, editor, nomia e a documentação, para concre- mática, na ciência da terminologia, en-
ano de publicação, número de páginas. tizar o objetivo de analisar, organizar e tre outras.
Um dos produtos deste tipo de re- disseminar a informação, utilizam um
presentação vem a ser a referência conjunto de termos e conceitos que se Tentando não tomar partido, a observa-
bibliográfica. referem a operações concretas. ção que fazemos é a de que as duas
correntes, ao selecionar seus objetivos
Os Índices, automatizados ou não, con- Embora os conceitos dos termos expli- empíricos para a análise, acabam se
têm os dados necessários para os citados até o momento sejam empre- detendo prioritariamente em textos téc-
usuários do sistema informacional de- gados constantemente, observamos nico-científicos escritos. Uma das jus-
cidirem a quais documentos querem ter que algumas problematizações podem tificativas para este procedimento é pro-
acesso. Esses dados dizem respeito à ser levantadas sobre os mesmos, bem posta por Lara da seguinte forma:
representação descritiva (responsável como outros termos e conceitos pare-
pela obra, data de publicação, editora, cem ser necessários à biblioteconomia “(...) nos textos técnico-científicos, as
paginação, forma física...) e à represen- e documentação. Apresentaremos algu- relações de significação pressupõem
tação temática (resumo ou termos des- mas problematizações, termos e con- uma univocidade de significação, ou
critores de uma linguagem documentá- ceitos nos parágrafos seguintes. seja, um corpo conceitual proposto por
ria). consenso (ou discussão, quando da
O termo documento quebra de paradigmas), conhecimento,
Idealmente, os dados presentes nos ín- produção, rearranjos, seguindo corren-
dices dos sistemas informacionais se- Na figura 1, embora o fluxo seja deno- tes institucionais de pensamento e po-
guem normalizações e linguagens es- minado fluxo do tratamento e da recu- sição: ou seja, um referente e um con-
pecíficas. Dessa maneira, a represen- peração da informação, observa-se que texto. Desse modo, pretende-se tomar
tação da pergunta visa a padronizar, o ponto de partida apresentado não são o signo monossêmico como base para
através da linguagem documentária, as informações, mas sim documentos. Ou a transmissão da informação documen-
questões formuladas pelo usuário para seja, parece que a biblioteconomia e a tária.”11
que informações compatíveis sejam re- documentação tendem a tratar os ter-
cuperadas. Sem o procedimento de re- mos informações e documentos como Todavia, a presença do signo monossê-
presentação da pergunta, corre-se o ris- se fossem equivalentes. mico não é característica de todos os
co de o usuário não obter a informação textos técnico-científicos. Gomes afir-
que deseja, mesmo que o sistema te- Além disso, o termo documento é em- ma que:
nha tal informação. pregado, na área de biblioteconomia e
documentação, ora como equivalente ao “As disciplinas normativas como o Di-
Dessa maneira, se, por exemplo, o usuá- termo suporte de dados (“objeto mate- reito, por exemplo, têm, por força de
rio solicita informações sobre câncer, rial sobre o qual ou no qual uma variável natureza, grande preocupação com o
teremos de verificar se a linguagem do- física específica – perfurações em sé- estabelecimento claro de conceitos e
cumentária do sistema emprega o ter- rie, sinais magnéticos, signos visuais, termos em seus documentos legais,
mo câncer ou o termo neoplasia para auditivos etc.– pode representar da- embora, por questões de política, alguns
especificar as informações a respeito da dos”8), ora como equivalente ao termo termos fiquem propositalmente obs-
enfermidade. meio de comunicação (“canal ou cadeia curos, dando margem a sua utilização
que liga a fonte ao receptor”9) e ora as- conforme predomine esta ou aquela
O objetivo da etapa de análise da per- sociado ao termo mensagem (“sinôni- tendência política (...) Nas ciências so-
gunta é identificar com precisão quais mo de ‘conteúdo’, ou seja, aquilo que é ciais (...), além de, numa mesma co-
informações o usuário quer. Ele pode dito em um texto, em um discurso”10) –, munidade de especialistas coexistirem
solicitar, genericamente, informações sem que haja explicitação à qual das pensadores/cientistas adotando diferen-
sobre diabetes, mas de fato necessitar conceituações apresentadas o termo tes paradigmas, são usadas palavras e
de informações sobre seres humanos documento está se referindo. expressões tomadas da linguagem na-
do sexo masculino, não-fumantes, en- tural, de uso comum ou emprestadas
tre 30 e 40 anos, diabéticos, que não O termo linguagem de outras áreas, sendo-lhes atribuído,
recebem tratamento quimioterápico ou contudo, novo conteúdo conceitual, sem
dietoterápico. No campo da biblioteconomia e documen- que este fato esteja claro para os ouvin-
tação, pode-se distinguir pelo menos duas tes, leitores fora de seu estreito círculo
Solicitação do usuário é o ato pelo qual correntes teóricas cujas preocupações e, em alguns casos, até mesmo dentro
o usuário procura, dentro de um siste- estão voltadas ao estudo da linguagem: a de tal círculo.”12
ma de informação, a informação que sa- corrente teórica que pesquisa a viabilida-
tisfaça suas necessidades informacio- de da recuperação de informações via lin-
nais. guagem natural e a corrente que trabalha
no desenvolvimento das linguagens do-
Ao verificarmos as pesquisas sobre lin- Dessa forma, a biblioteconomia e do- longo de sua relação com esse siste-
guagem desenvolvidas na área e as afir- cumentação, que não chegaram sequer ma. Assim, os produtos e serviços ofe-
mações de Lara e Gomes, chegamos à a atingir os mercados maciços, não dis- recidos pela biblioteconomia e docu-
conclusão de que a biblioteconomia e a põem também de métodos para forne- mentação não são neutros. Eles mol-
documentação, ao desenvolverem me- cer produtos adaptados a cada tipo de dam as necessidades dos usuários dos
todologias para o tratamento apenas dos público (donas de casa, crianças, sistemas de informação.
textos técnico-científicos e ao objetiva- adolescentes etc.), apesar de termos,
rem a construção do signo monossêmi- na economia atual, uma tendência do Uma possibilidade para se reverter o qua-
co como base para a transmissão da crescimento de produtos adaptados ao dro apontado seria não apenas colocar
informação, têm tratado apenas uma cliente 16. o usuário como prioridade, mas também,
parte das informações produzidas pela por exemplo, saber que tipo de informa-
humanidade, uma vez que os textos li- O termo serviço e o termo usuário ção o não-usuário do sistema de infor-
terários e visuais, por exemplo, não têm de informação mação está procurando, que tipo de ne-
sido objetos de estudo. Observa-se cessidade esse público possui. Com
igualmente que a biblioteconomia e a A observação do fluxo apresentado na esse parâmetro, haveria uma avaliação
documentação não operam com o con- figura 1 evidencia que o usuário do sis- menos tendenciosa sobre a contribuição
ceito geral de linguagem que a relacio- tema de informação não é visto, de fato, efetiva da biblioteconomia e da documen-
na com “qualquer sistema de signos como prioridade, pois o ponto de parti- tação à sociedade – sendo que os obje-
(não só vocais ou escritos, como tam- da está voltado para o documento, sem tos de pesquisa da área não residiriam
bém visuais, fisionômicos, sonoros, de que haja, ao longo do fluxo, menção aos nas atividades existentes no fluxo da fi-
gestos etc.) capaz de servir à comuni- usuários do sistema. Dessa maneira, o gura 1, ou seja, os objetos de pesquisa
cação entre os indivíduos.”13 pensamento habitualmente empregado não seriam de “mecanismo inibidor do
pelos profissionais da área, cujo objeti- pensar acadêmico.”20
O termo comunicação vo-fim de um sistema de informação é o
usuário, pode ser questionado, pois fica No entanto, comumente, para os profis-
O fluxo apresentado na figura 1 parece difícil atingir o objetivo-fim sem que o sionais da biblioteconomia e da docu-
propor uma mediação entre o produtor usuário seja considerado desde o início mentação, o público não-usuário do sis-
de informação e o usuário da informa- do processo de tratamento e recupera- tema de informação é visto como pes-
ção. Não considera que está ocorrendo ção da informação. soas que não sabem utilizar ou têm di-
uma sobreposição entre o ser humano ficuldade em utilizar os recursos infor-
produtor de informação e o ser humano A dúvida que surge é a seguinte: se, de macionais disponíveis nos sistemas de
usuário de informação. No momento, fi- fato, o usuário fosse a prioridade (ou seja, informação e que precisam, portanto,
nal do século XX, as informações estão se, antes de se criarem serviços ou pro- ser iniciadas às regras destes. Há, as-
sendo produzidas, reelaboradas e dis- dutos para os sistemas de informação, sim, uma dissimetria entre o usuário
seminadas ao mesmo tempo, sendo o houvesse não só a preocupação, mas (público efetivo) e os não-usuários (pú-
ciclo de informação mais ágil14,15, fato um estudo sobre quem é esse usuário, blico potencial).
que dificulta inclusive a identificação do o que ele entende por informação, que
autor responsável pela informação e a fontes de informação ele prioriza e utili- Se existem públicos que têm dificulda-
aplicação dos direitos autorais. Como za, como ele habitualmente obtém as de em utilizar com eficiência esses sis-
mediar neste contexto? informações de que necessita, como ele temas, talvez fosse o caso de mudar as
se comunica, que tipo de linguagem metodologias empregadas nos sistemas
O termo administração emprega etc.), os sistemas de informa- de informação ao invés de se transferir
ção continuariam elaborando os mesmos o problema para o cliente.
A nosso ver, o fluxo apresentado na fi- serviços e produtos atuais?
gura 1 também é uma proposta de linha Fizemos essas colocações porque as
de produção de produtos informacionais Atualmente, o usuário, por não ser vis- posições da biblioteconomia e da docu-
(ou melhor, de análise, síntese e repre- to como prioridade, precisa se adequar mentação são muito cômodas. Tendo
sentação de textos técnico-científicos). ao que lhe é oferecido. Os serviços como sustentação o fluxo da figura 1,
Não é discutido pela biblioteconomia e oferecidos pela biblioteconomia e do- elas acabam atendendo a um pequeno
documentação se tal fluxo serve para cumentação funcionam como matrizes segmento da população e virando as
qualquer sistema de informação ou em que moldam as formas de seu consu- costas para outros segmentos. Além
quais sistemas ele pode ser ou não ser mo*17,18,19. Em outras palavras, quando disso, a biblioteconomia e documenta-
aplicado. Não se discute se o fluxo é o usuário fica satisfeito com as informa- ção parecem não perceber que as ciên-
válido em sistemas em que os usuários ções encontradas nos sistemas de in- cias humanas não podem trabalhar ape-
são adolescentes, idosos, possuem ou formação, ele fica satisfeito dentro de nas com modelos estáticos, pois o ob-
não escolaridade. Não se discute se os uma expectativa que foi construída ao jeto estudado pelas humanidades pos-
produtos elaborados pela bibliotecono- suem características diferenciadas do
mia e documentação são de interesse objeto estudado pelas ciências exatas.
* Segundo Anders, o homem aprende a neces-
para os usuários. Enfim, não se discute As seguintes afirmações esclarecem
sitar daquilo que lhe oferecem. A oferta é um
a tipologia dos sistemas de informação mandamento. A decisão é relativa. O produto este ponto:
e as especificidades de seus usuários. fabrica o vício de seu consumo.
“Cientistas das chamadas ciências exa- O termo informática b) análise, síntese e representação te-
tas freqüentemente se riem dos seus mática relacionam-se com as áreas de
companheiros das ciências humanas e A função da informática não está eviden- pesquisa, ensino e atuação profissional
chegam mesmo a perguntar se tais te para quem observa o fluxo da figura 1. denominadas análise documentária, re-
ciências são mesmo ciências. Porém, considerando-se que este fluxo pesentação temática, representação de
já está sendo utilizado pela biblioteco- conteúdo, classificação;
A questão, entretanto, está mal coloca- nomia e documentação há alguns anos
da. e que, após o advento da informática, o c) representação descritiva relaciona-se
fluxo continua estático, isto é, sem atua- com as áreas de pesquisa, ensino e
O rigor das ciências da natureza não se lização, pensamos que a informática é atuação profissional denominada repre-
deve, em absoluto, a que elas sejam vista nessa área como um instrumento sentação descritiva ou catalogação;
mais rigorosas e seus métodos mais de agilizar/otimizar processos.
precisos. d) representação da pergunta relaciona-
O conceito de informática precisa tam- se com a área de pesquisa, ensino e
Acontece que o bicho com que elas li- bém ser redimensionado. Os profissio- atuação profissional denominada servi-
dam é muito doméstico, manso, desti- nais e pesquisadores da bibliotecono- ços de referência;
tuído de imaginação, faz sempre as mia e documentação não podem ver na
mesmas coisas, numa rotina enlouque- informática apenas um instrumento que e) solicitação do usuário e usuários do sis-
cedora, freqüenta os mesmos lugares. será utilizado dentro do fluxo documen- tema relacionam-se com as áreas de pes-
Tanto assim que é possível prever onde to selecionado-análise-síntese-repre- quisa, ensino e atuação profissional deno-
estarão Terra, Sol e Lua daqui a 100 mil sentação-índices.... É preciso questio- minadas ação cultural, serviços de refe-
anos. nar esse fluxo e ver tanto as metodolo- rência, usos e usuários de informação;
gias vigentes na área, quanto o “uso da
Se eu lhe desse duas tarefas: informática”de um ponto de vista mais f) por fim, teríamos as áreas de pesqui-
amplo. sa, ensino e atuação profissional deno-
1) desenhe os movimentos de uma ár- minadas administração de sistemas de
vore; Como afirma Lynch, há uma diferença informação, administração de bibliote-
entre modernização e transformação de cas e também informática documentá-
2) desenhe os movimentos de uma bai- processos22. Se no passado a informá- ria, cujos objetos residem no fluxo como
larina dançando balé. tica foi vista como um instrumento para um todo.
tornar mais eficientes algumas ativida-
Qual dos dois desenhos seria mais pre- des (ou seja, para modernização/otimi- Pelo exposto, a biblioteconomia e do-
ciso? zação de processos), hoje a informáti- cumentação parecem possuir como
ca está colocando em xeque essas ati- modelo de sustentação o fluxo do trata-
Evidentemente o da árvore. vidades (ou seja, está transformando os mento e da recuperação da informação.
processos). Logo, a construção e a análise dos sis-
Por quê? Por que você possui métodos temas de informação realizadas pelo
mais rigorosos para lidar com a árvore? As áreas de pesquisa estudante, profissional e pesquisador da
Não. Porque a árvore não sai do lugar, biblioteconomia e documentação, em
não muda de idéia.”21 Além das problematizações levantadas, diferentes contextos sócio-políticos-cul-
é preciso esclarecer que muitos dos turais e históricos em que ocorrem, pa-
Do que foi dito, percebe-se que o objeto conceitos e termos discutidos anterior- recem seguir uma única estrutura (o flu-
das ciências humanas (o ser humano) mente têm orientado: a) as atividades xo do tratamento e da recuperação da
sofre alterações com o passar do tem- profissionais do bibliotecário e do docu- informação), impossibilitando o surgi-
po. Entendendo que o usuário da infor- mentalista; b) os currículos de gradua- mento de outras novas estruturas.
mação é um ser humano, a biblioteco- ção e pós-graduação em bibliotecono-
nomia e documentação teriam seus mia e documentação; c) o desenvolvi- Problemas conceituais na
objetivos centrados não apenas na oti- mento da produção “científica” neste biblioteconomia e documentação
mização dos serviços que prestam à so- campo do conhecimento. Atualmente,
ciedade, estariam atentas às mudanças, por exemplo: Ducrot define conceitos metodológicos
às novas exigências informacionais e e conceitos descritivos. Para o autor,
proporiam serviços e conceitos compa- a) universo de documentos e documen- enquanto aqueles englobam conceitos
tíveis com os diferentes momentos his- tos selecionados relacionam-se com as mais gerais, estes englobam mais par-
tóricos. áreas de pesquisa, ensino e atuação ticulares. Parafraseando Ducrot, pode-
profissional denominadas fontes de in- ríamos dizer que os conceitos metodo-
formação, desenvolvimento de coleções, lógicos relacionam-se com a teoria, en-
seleção; quanto os conceitos descritivos são
mais voltados à operacionalidade da
teoria, devendo haver para o conceito
descritivo pelo menos um conceito me-
todológico e vice-versa.
No percurso histórico da bibliotecono- “Ecletismo é o uso de conceitos fora Ao formularmos esta questão, não que-
mia e da documentação, sempre con- dos seus respectivos esquemas con- remos afirmar que a ciência da informa-
ceitos e denominações provenientes de ceituais e sistemas teóricos, alterando ção existe; ou que é possível determi-
outras ciências ou disciplinas foram os seus significados. A ocorrência do nar onde começam ou terminam essas
importados e/ou adaptados com o intui- termo, sem definição que reduzisse ou áreas do conhecimento; ou que a ciên-
to de se obterem soluções para proble- eliminasse a sua ambigüidade, não per- cia da informação é algo diferente da
mas práticos. Nesse sentido, importa- mitiria saber a qual de vários conceitos biblioteconomia e documentação. No
ram-se conceitos e denominações de possíveis está associado. Inadvertida- entanto, ressaltamos que, se os profis-
algumas teorias da administração, da mente, muitas vezes, utiliza-se o sinal sionais, pesquisadores e estudantes da
lingüística, da lógica, da comunicação que expressa o conceito, mas não o pró- ciência da informação desejam avançar
e de outras áreas. Porém, visando-se a prio conceito. O discurso torna-se va- na constituição teórica deste campo do
um uso imediato desses conceitos e zio ou obscuro sem que o cientista so- conhecimento, precisam estar atentos
denominações, não houve compreen- cial perceba que a sua linguagem pode para a forma como a biblioteconomia e
são/problematização dos conceitos me- dificultar a comunicação. Se tal ocor- documentação têm formulado e empre-
todológicos e conceitos descritivos e um rência é grave em nível da teoria, será gado termos e conceitos. Se a área
questionamento sobre as implicações gravíssima em nível metateórico ou achava que a modificação de sua auto-
do uso de conceitos e denominações meta-sociológico. Neste caso, os con- denominação para ciência da informa-
provenientes de diferentes áreas do co- ceitos metodológicos desprovidos de ção a tornaria ciência e que seria reco-
nhecimento. suas características limitar-se-ão a no- nhecida no âmbito acadêmico enquan-
meações e classificações rituais de to tal, equivocou-se. É preciso discutir
A título de exemplo, podemos mencio- postura sem qualquer influência nas sua base conceitural e, principalmente,
nar que, da administração, foram impor- estratégias de investigação, o que é como está trabalhando e empregando
tados vários conceitos da teoria clássi- comum em textos produzidos por auto- as metodologias científicas.
ca e, da lingüística, foram importados res desprovidos de treinamento metateó-
conceitos da teoria dos campos con- rico. Termos vazios de significado não
ceituais. Tais importações levaram a podem funcionar como instrumentos de
biblioteconomia e a documentação a: reconstrução teórica ou metodológica.”