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AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UM DESAFIO

EVALUATION IN PHYSICAL EDUCATION : A CHALLENGE

Sandra Aparecida Bratifische∗

RESUMO
O processo avaliativo adotado na grande maioria das escolas ainda está ligado à aferição de valores, prevalecendo os aspectos
quantitativos sobre os qualitativos, o que ocasiona inquietações nas pessoas. Essas inquietações ocorrem, especialmente,
naqueles que carregam consigo os estigmas decorrentes de atitudes inadequadas da prática avaliativa. Diagnosticamos, por
meio dos teóricos pesquisados, que existem dificuldades no ato de avaliar, nas diferentes disciplinas, e que na Educação
Física Escolar essas dificuldades se acentuam. De acordo com Luckesi (1998), a avaliação tende a acolher e integrar o aluno
ao seu meio e o julgamento tende a excluí-lo. Poderá a liberdade de um corpo ser quantificada ou classificada? Como avaliar
domínio afetivo, domínio cognitivo, sociabilidade, destreza. Segundo Faria Jr. (1986), não existe uma separação entre as
áreas afetiva, cognitiva e psicomotora, pois no decorrer da aprendizagem elas se fundem, estão direta ou indiretamente
ligadas. Para tentar esclarecer algumas dúvidas, este artigo busca uma maior compreensão dos fatores que influenciam o
processo de avaliação nas escolas, a partir de referências bibliográficas sobre a avaliação em Educação, e em Educação Física
e, ainda, da nossa experiência de vida, como professora de Educação Física em escolas particulares e públicas.
Palavras-chave: educação física. Avaliação. Escola. Aprendizagem.

INTRODUÇÃO ganhos à Educação e a aprendizagem do aluno


se torna mais significativa.
No decorrer de nossa existência, avaliamos Na Educação Física a avaliação é, igualmente,
e somos avaliados diante da vida e das um diagnóstico, portanto, deve ter o intuito de
circunstâncias do mundo a nossa volta. detectar possíveis falhas no processo ensino-
Submetemos pessoas e somos submetidos a aprendizagem. No decorrer deste artigo
constantes averiguações que, na maioria das evidenciamos as mudanças que estão ocorrendo no
vezes, norteiam nossas decisões, nossos desejos campo da avaliação em Educação Física. Antes se
e sonhos. pregava a ordem unida, se classificavam e
A avaliação escolar tem se modificado no rotulavam corpos como aptos ou não para servir.
decorrer dos anos, em conseqüência das Estamos nos referindo à educação física militarista,
mudanças estruturais na sociedade, das uma avaliação na qual há predomínio de testes de
alterações no comportamento humano, dos aptidão física que, segundo estudiosos, ainda
avanços tecnológicos, entre outros fatores. permeiam a vida de muitos profissionais e, em
Portanto, avaliar em Educação é reconhecer, contrapartida, a avaliação que visualiza o aluno em
diagnosticar, desenvolver e valorizar a sua íntegra, nos aspectos cognitivos, afetivos e
expressão individual, a cultura própria e a psicomotores.
manifestação de afetividade, como um meio
para a aprendizagem e formação integral do
educando. AVALIAÇÃO: DIFERENTES VISÕES AO
O principal objetivo da avaliação é o LONGO DOS TEMPOS
diagnóstico, é detectar as dificuldades da
aprendizagem e suas causas, e, quando bem Escolhemos algumas visões e nelas
compreendido, esse processo possibilita grandes enfocamos o pensamento de alguns autores: a
tradicional, a crítica e a emergente.


Mestre em Educação Física – Universidade Metodista de Piracicaba.

R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 14, n. 2, p. 21-31, 2. sem. 2003


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Na visão tradicional de avaliação tomamos Quanto ao aluno, a avaliação irá favorecê-lo


como base o referencial teórico de Bloom et al. na conscientização do que deverá ser mudado e
(1983) e Goldberg e Sousa (1979). Segundo dos aspectos nos quais deverão ocorrer as
Bloom et al. (1983), o ato de diagnosticar na mudanças no seu processo de aprendizagem.
educação deve vir acompanhado de uma ação Afirma Depresbiteris (1989) que o real valor
coerente, no sentido de informar aluno e da avaliação não está diretamente ligado aos
professor da presença ou ausência do valores atribuídos e à precisão de resultados,
conhecimento. O diagnóstico, para o professor e mas ao fato de que esta avaliação possa vir a
para o aluno, é, de certa forma, um meio pelo conscientizar melhor os envolvidos.
qual ambos irão se situar diante das dificuldades Já para Luckesi (1998), o ato de avaliar
apresentadas. tornou-se tão importante que o processo
Durante anos a avaliação destinou-se a pedagógico passou a girar em torno dos
selecionar e rotular alunos. Expunha, apontava resultados; a avaliação deve, assim, ser usada
sucessos e fracassos, causava danos irreparáveis como instrumento fornecedor de informações
à aprendizagem do aluno. A avaliação era feita significativas para a aprendizagem do aluno,
somente no final de um período predeterminado auxiliando-o no seu crescimento e
pela instituição, comprometendo, assim, todo o desenvolvimento; portanto, deve ser um ato
processo de aprendizagem, descartando as amoroso.
possibilidades de recuperação. Vivemos novos Na opinião de Hoffmann (2000), há
tempos, mas ainda encontramos profissionais contradições entre o discurso e a prática,
que se encaixam neste perfil de avaliador. propiciando uma dicotomia entre a educação e a
Para Goldberg e Sousa (1979), a avaliação avaliação. Estes dois fatos não podem ser vistos
está diretamente ligada à avaliação de objetivos, como distintos, separados; na realidade, eles
ou seja, é causa/efeito, que, por sua vez, caminham juntos, com um único propósito: o de
também, está diretamente ligada ao investigar e refletir sobre a ação pedagógica.
planejamento. A avaliação, em suma, é o Na visão emergente encontramos Gardner
controle de qualidade do planejamento. Nesta (1995) e Perrenoud (1999). Gardner (1995)
concepção entendemos que há uma sinergia propôs a teoria das Inteligências Múltiplas,
muito grande nos processos de avaliação e baseada nas habilidades dos indivíduos que, não
planejamento, embora a relação necessariamente, compõem um único tipo de
planejamento/avaliação seja bastante complexa. inteligência. São habilidades que desenvolvemos
Então, para as autoras, a avaliação funciona com o passar dos anos e nas quais cada tarefa
como um termômetro, apontando as possíveis que realizamos envolve uma combinação de
falhas no processo ensino-aprendizagem. inteligências. São sete as inteligências propostas
Na visão crítica tomamos como base o por Gardner (1995): lingüística, lógico-
referencial teórico de Depresbiteris (1989), matemática, musical, espacial, corporal,
Hoffmann (1998) e Luckesi (1998). Para interpessoal e intrapessoal. Para o autor, a teoria
Depresbiteris (1989), não devem prevalecer na das inteligências múltiplas oferece um desafio
avaliação somente os aspectos qualitativos ou para o trabalho na escola, pois se deve partir do
quantitativos, ela deve ocorrer de forma princípio que nem todas as pessoas têm os
contextualizada. mesmos interesses e habilidades; assim, é
possível à escola ajudar as pessoas a atingir
A avaliação no seio da atividade de harmonia em seu espectro de competências. A
aprendizagem é uma necessidade, tanto
escola deve ser modelada de forma a atender às
para o professor como para o aluno. A
avaliação permite ao professor adquirir diferenças dos alunos, em vez de ignorá-las, e
elementos de conhecimentos que o tentar garantir que cada pessoa receba uma
tornem capaz de situar, do modo mais educação que aumente o seu potencial
correto e eficaz possível, a ação do intelectual.
estímulo, de guia ao aluno. A avaliação, para Gardner (1995), permite
(DEPRESBITERIS, 1989, p.45). focalizar as competências mais desenvolvidas do

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aluno e refletir sobre elas, para melhorar outras poderão enriquecer o vocabulário motor do
nas quais ela tenha menos desenvolvimento. aluno. Dever-se-ão abordar nas aulas temas
transversais que tratem da ética, saúde, meio
Nós precisamos desenvolver avaliações ambiente e pluralidade cultural, os quais,
alternativas que levam em conta nossa possivelmente, contribuirão para o seu
noção ampliada de inteligência. aprimoramento intelectual e para sua formação
Idealmente tal desenvolvimento levará
como cidadão.
a criação de ambientes de avaliação
onde o comprometimento dos
Sendo assim, partimos do pressuposto que o
indivíduos com tarefas significativas na professor deverá ser criativo, para conseguir
sociedade poderá ser observado mais agradar a todos e fazer com que todos
diretamente (GARDNER, 1995, p.213). participem da aula. Por essa razão, temos que
refletir sobre como avaliar estes diferentes
Para Gardner (1997), a verdadeira avaliação sujeitos, com diferentes histórias, diferentes
depende de professores sensíveis e capazes de habilidades e potencialidades. Se não nos
fazer observações sobre seus alunos enquanto ativermos aos pequenos fatos corremos o risco
estes estiverem envolvidos em atividades e de cometer injustiças.
projetos significativos. Enfocamos alguns pensamentos sobre a
Já para Perrenoud (1999, p.11), a escola que avaliação em Educação Física.
temos tem o poder de declarar quem fracassa e Para Carvalho et al. (2000, p.195), “a
quem tem êxito. Afirma que a avaliação é avaliação no âmbito da educação física deve ser
“tradicionalmente associada, na escola, à criação analisada de maneira ampla, contextualizada e
de hierarquias de excelência [...] definida no inserida no projeto político-pedagógico da
absoluto ou encarnada pelo professor e pelos escola e não restrita a métodos, procedimentos
melhores alunos”. Dessa forma, segundo o autor, técnicos e aplicação de testes físicos”.
aquele que se preocupa com os efeitos de sua Quando o ato de avaliar está vinculado ao
ação modifica-a para melhor atingir os seus projeto pedagógico da escola é possível um
objetivos. diagnóstico das capacidades dos alunos, o que
Percebemos que a grande maioria dos enriquece e motiva o trabalho do professor.
autores não enfatiza a importância da avaliação Para Pereira (1998), a avaliação não deve ter
como um ato definitivo e seletivo do professor, a intenção de expor os alunos a situações de
mas que ela se destina a incluir o aluno na constrangimento e nela deve-se tomar cuidado
sociedade, e não a excluí-lo. Como um ato para que não acabe por afastar os alunos da
amoroso, deve ser bem pensada e planejada para prática das atividades propostas.
que desperte o interesse pelo saber por si só, Já para Freire (1994), a história da
pelo seu real sentido. educação física está ligada à história das
medições. Qualquer que seja o instrumento
adotado para a avaliação, este apresenta
AVALIAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA inúmeras limitações.
ESCOLAR
Se for um instrumento quantitativo,
A Educação Física de tendência tecnicista logo se poderá perceber que a atividade
sempre privilegiou os jogos envolvendo humana é imensurável e que só poderá
competências e habilidades; mesmo os mais fornecer alguns dados que ajudem
deficitários e menos habilidosos eram numa avaliação também qualitativa. Se
for um instrumento qualitativo, faltar-
"obrigados" a participar dos jogos; todos eram
lhe-á a objetividade, o que exigirá, de
avaliados dentro de critérios que visavam quem o aplicar, um conhecimento mais
performance e rendimento. amplo do sujeito avaliado. (FREIRE,
Atualmente, almeja-se que as aulas de 1994, p.202).
Educação Física tenham o intuito de oportunizar
o aluno a vivenciar as habilidades físicas por Josuá (apud FARIA JR., 1986) considera
meio de conhecimentos que enfatizam o corpo, indispensável o uso da medida para avaliar o
esportes, lutas, danças e ginástica, os quais desempenho de atividades físicas, e Hurtado

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(1988, p.228) pensa de forma diferente: “medida 3 - Instrumentalizar adequadamente os


implica quantificação; avaliação interpreta os professores.
dados fornecidos pela medida e envolve
A avaliação aplicada ao domínio afetivo é
julgamento de valor”.
um processo muito complexo, não trata de
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais
conteúdos específicos, não se fixa por meio de
(PCNs) de Educação Física (p.76-77), a
programas “Os sentimentos, os valores, e as
avaliação parte dos critérios de ser o aluno capaz
sensibilidades devem ser descobertos, mais do
de:
que ensinados. É com o exemplo e com o
• Enfrentar desafios colocados em situações testemunho que se ensina na área afetiva. Muito
de jogos e competições, respeitando as mais do que com palavras” (CUNHA apud
regras e adotando uma postura cooperativa. FARIA JR., 1986, p. 73).
• Estabelecer algumas relações entre a prática Não existe separação entre as áreas afetiva,
de atividades corporais e a melhora da saúde cognitiva e psicomotora. No decorrer da
individual e coletiva. aprendizagem as áreas se fundem, estão direta
• Valorizar e apreciar diversas manifestações ou indiretamente ligadas; o processo ocorre
da cultura corporal, identificando suas simultaneamente, evidenciando atitudes e
possibilidades de lazer e aprendizagem. valores dos envolvidos.
Para se definir um sistema de avaliação na
O que se pressupõe que aconteça é que nem área afetiva é preciso definir que valores
sempre os profissionais consultem os permeiam a prática da Educação Física e deixar
Parâmetros Curriculares Nacionais. de lado a passividade “Está na hora de
Negrini (apud FARIA JR., 1986) enfoca a rompermos com a educação da obediência e da
importância dos testes de conhecimento em passividade para que nosso exemplo seja o
Educação Física. Para ele, os testes específicos maior instrumento positivo no ensino de
no domínio cognitivo são tão importantes quanto comportamentos e atitudes da área afetiva”
os testes práticos de habilidades motoras. Faria (CUNHA apud FARIA JR., 1986, p. 77).
Jr. (1986) afirma que a avaliação do domínio A dialetização desses conceitos é importante
cognitivo é pouco enfatizada. Autores como para o campo da avaliação do aspecto cognitivo,
Singer e Dick (1980), Mathews (1980), Matsudo se levarmos em consideração que a escola é um
(1982), Barbanti (1983), em suas obras não lugar de transformação, e, para que ocorram as
evidenciam a avaliação no aspecto cognitivo, e, transformações, é necessário estimular a
se tecem algum comentário, este é irrisório, se criatividade do aluno e oportunizar a liberdade
comparado ao que fazem quando se trata da de expressão.
avaliação onde predominam os testes de aptidão Os aspectos cognitivos e afetivos devem
física, já que essa é a real preocupação desses fazer parte de uma avaliação que visualize o
autores, sem enfoque para a avaliação em aluno na sua íntegra, porém, se faz necessário
Educação Física. lembrar que estes dois aspectos, apesar de serem
No que diz respeito à avaliação do domínio motivo de discussão de longa data, estão no
afetivo, Cunha (apud FARIA JR. 1986) tece início de uma longa caminhada.
alguns comentários sobre este complexo A avaliação que predomina nos meios
processo, ressaltando a importância de um escolares é a de domínio psicomotor; a aptidão
ensino de qualidade; porém, questiona como física é sempre priorizada nas avaliações
associar esta qualidade sem esquecer que cada realizadas em Educação Física, e tal priorização
indivíduo tem sua própria história, o seu lado se deve ao destaque dado, na graduação, às
afetivo/emocional, e faz algumas colocações que disciplinas práticas e à praticidade de sua
julga necessárias para o entrosamento destas realização.
duas vertentes, qualidade e afetividade, as quais Josuá (apud FARIA JR., 1986) questiona se
são: existe uma forma de atribuir valores nas áreas
social e afetiva. Segundo ele, não existe uma
1 - Definir com clareza os objetivos;
fórmula segura e justa de dar nota ou conceito
2 - Conhecer as características dos alunos; pela participação do aluno em aula, pelo

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interesse, colaboração, agressividade, psicológico à aprendizagem”, não tendo a


solidariedade e persistência demonstrados pelos avaliação a intenção de desestimular ou criar
alunos nas aulas. Em suas afirmações cita a ansiedade nos alunos, nem de ser utilizada de
importância de dois paradigmas de avaliação maneira a discriminar. Deverá ter em seu cerne a
(p.1): essência do processo ensino/aprendizagem, que
leva em consideração o potencial, as
• Paradigma agrobotânico que possibilidades e as diferenças que cada sujeito
evidencia a importância das medidas. apresenta; que seja oferecido a cada aluno o
• Paradigma sócio antropológico onde direito de crescer e se desenvolver.
os aspectos qualitativos sobrepõem os Para Faria Jr. (1986), é importante a
aspectos quantitativos, tem como inclusão de objetivos cognitivos na avaliação em
suporte a antropologia social, a Educação Física, pois ela nos leva a refletir
psicanálise e as observações de sobre a interdisciplinaridade, ou seja, a
campo. Educação Física e suas relações com as demais
disciplinas; só depois dessa reflexão se poderão
Para o autor, há espaço na avaliação para os
criar instrumentos fidedignos para a avaliação.
dois sistemas ele não descarta a importância das Assim, todo cuidado é pouco, para não
medidas, e completa que as medidas são transformar a Educação Física numa disciplina
significativas para aprendizagem, porém, tal teórica e uma aula de Educação Física numa
medida tem que ter o aspecto estimulativo, ser aula de teste.
uma ponte que, supostamente, ligará o interesse Faria Jr. (1986) ressalta que encontrou
ao objetivo a ser atingido. Cita a diferença entre dificuldades em suas pesquisas, referentes às
medir e avaliar, utilizando como exemplo informações de como os professores de
atribuir valor à execução de cestas em que um Educação Física no Brasil avaliam o domínio
aluno, de 10 cestas, converte 7, ou do aluno que cognitivo.
pulou 1,20 metros no salto em altura. Neste caso Para Freire (1994), a Educação Física tem
está se quantificando o desempenho psicomotor, várias vertentes difusas, que fazem parte do
que, provavelmente, será comparado com o dos processo de aprendizagem do movimento, força,
demais alunos (p.3) . resistência, agilidade, equilíbrio, afetividade,
Nem sempre os julgamentos realizados por sociabilidade, ritmo e outros. O problema se
um professor condizem com os de outro; então, concentra no fato de que, nas escolas, cada
a diferença está na apreciação pessoal, pois a professor tem sua atenção centralizada no que
avaliação é tomada de decisão e, na maioria das condiz com sua área. Se, na Educação Física,
vezes, lança mão das medidas. utilizarmos o mesmo esquema, vamos nos ater
somente ao aspecto motor. Segundo Freire
Faz-se importante ressaltar que não se
pretende priorizar aspectos (1994), cada setor do conhecimento cuida de sua
quantitativos em detrimento da parte específica, se descuidando da criança
qualidade técnica, seja ela a como um todo.
cientificamente recomendada ou a Freire (1994, p.197), propõem um teste
desenvolvida pelo próprio sujeito. Em sociométrico; “[...] é uma medida do
absoluto, o que se deseja é mostrar, que comportamento social. É uma técnica de
muitas vezes principalmente no pesquisa utilizada para dar um quadro mais
domínio psicomotor, é a medida que objetivo do relacionamento de um grupo”. Por
torna mais significativa a
meio da pesquisa se obtêm informações sobre o
aprendizagem. (JOSUA, 1982 apud
FARIA JR., 1986, p. 9)
relacionamento em grupo, ou seja, os aspectos
sociais dos alunos em questão.
Para Josuá (apud FARIÁ JR. 1986), é a Na opinião de Freire (1994), não é de
medida que faz com que o aluno tenha um grande valia somente obter esses dados sobre o
“interesse” particular na realização da avaliação, aspecto social do aluno; a questão está em saber
ou seja, o aluno é estimulado por meio das notas utilizá-los, pois as relações sociais das crianças
e, por sua vez, elas darão “um sentido só podem ser avaliadas se levamos em

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consideração os aspectos qualitativos de uma independentemente do componente curricular


relação. que se ministre.
Para subsidiar o referencial teórico sobre Ainda segundo Carvalho et al. (2000,
avaliação em Educação Física e para um p.212), o professor deve ter:
melhor entendimento desta problemática
enfrentada pelos profissionais da área, clareza dos objetivos em cada ciclo
buscamos mais contribuições no coletivo de aula, unidade, semestre, dos momentos
autores organizado por Maria Helena Costa avaliativos formais, das rotinas
avaliativas, onde podem ser utilizados
Carvalho (2000), que, por meio de um projeto
recursos coerentes que ampliem a
interdisciplinar intitulado “Avaliar com os pés capacidade de observação [...] e
no chão da escola: reconstruindo a prática atenção a auto crítica para os momentos
pedagógica no ensino fundamental”, realizado avaliativos informais.
em parceria com a Universidade Federal de
Pernambuco, ressalta alguns problemas Esses recursos avaliativos podem ser
enfrentados pelos profissionais desta área com adquiridos por meio de fichas dos alunos,
a questão “Objetivo-avaliação” na Educação produções por eles elaboradas, filmagens, fotos
Física. de eventos, relatos escritos e verbais, entre
Para Carvalho et al. (2000, p. 30), “[...] a outros.
Educação Física busca assumir, no currículo Hurtado (1988) também contribui nos
escolar, a característica de uma disciplina de estudos da avaliação em Educação Física. Faz
conteúdo” este conteúdo ser significativo para o uma analogia entre medir e avaliar:
aluno vai depender de como ele será tratado em
aula. O descaso com a estruturação de um Quando usamos uma fita métrica e
planejamento com conteúdos significativos dizemos que uma mesa tem dois metros
acaba por dar às aulas de Educação Física um de comprimento por um metro de
caráter de “mera atividade”. largura, estamos realizando uma
medida, se dissermos que tal mesa é
Os problemas enfrentados, na maioria das
muito grande para entrar por
vezes, pelos profissionais da área, são devidos à determinada porta, estamos avaliando
questão de como estruturar e organizar de (p.228).
acordo com as séries o conteúdo a ser
transmitido, respeitando-se as competências Como já citado anteriormente por alguns
cognitivas, sem ser repetitivo. autores, existe também, por parte do autor
Assim como Faria Jr. e outros autores, (p. 220), uma preocupação com referência ao
Carvalho et al. (2000) ressaltam a importância papel da escola na vida do aluno, ao afirmar que
da interdisciplinaridade, no caso de a Educação “A escola não está atualmente interessada no
Física não estar inserida no projeto pedagógico que o aluno sabe, mas naquilo que faz com que
da escola, pois esta “...não se sustenta enquanto sabe.”. Então, é preciso refletir sobre o processo
prática pedagógica escolar”. ensino-aprendizagem, para que haja coerência
entre aquilo que se aprende e aquilo que será
A interdisciplinaridade como princípio utilizado no seu dia-a-dia, e dentro deste
e como movimento articulador,
esquema encontra-se a avaliação, que deverá,
unificador de diferentes áreas do
conhecimento, possibilita uma análise possivelmente, abranger os processos
mais ampla dos problemas da escola e cognitivos, afetivos e psicomotores.
mais verticalizada, pois é enriquecida Sendo assim, a avaliação deixa de ser
por diferentes campos da ciência. seletiva e passa a ser orientadora, visando
(CARVALHO et al., 2000, p.231) cooperar com o aluno, e não discriminá-lo.
Para o autor, se o que se deseja é avaliar o
Cabe ressaltar a importância do trabalho aluno como um todo, em sua globalidade, no seu
coletivo no planejamento, já que o coletivo desenvolvimento cognitivo, afetivo e
privilegia a integração entre todos os envolvidos psicomotor, o professor deverá se utilizar de
no processo ensino-aprendizagem, diferentes técnicas e diferentes instrumentos,

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sendo a técnica o método pelo qual se têm as A avaliação precisa ser discutida numa
informações, e o instrumento o recurso que será concepção de totalidade, pois o
usado para cada técnica. trabalho pedagógico que se efetiva
Segundo Hurtado (1988, p. 235), existem numa dada instituição escolar sofre
determinações sociais que ultrapassam
três técnicas para se obterem essas informações:
os muros da escola e, o professor, que
contribui com a sua realização, é um
• Observação.
sujeito social que faz parte de uma teia
• Inquirição. de relações – ao mesmo tempo
• Testagem. determina e é determinado
(CARVALHO et al., 2000, p. 222).
A observação ocorre quando o professor
consegue ouvir, prestar atenção nas habilidades Segundo Carvalho et al. (2000, p. 197), “o
cognitivas, afetivas e psicomotoras dos alunos e novo papel da educação física escolar é de
registrar estas observações em ficha de controle materializar o eixo curricular da escola,
e escala de classificação. juntamente com os demais componentes do
A inquirição é a interrogação, ou seja, a currículo, eixo este que é ampliar a reflexão
busca da opinião do aluno sobre determinados crítica do aluno”.
assuntos. Essa inquirição poderá ajudar, e muito, O fenômeno avaliação em Educação Física
a obter informações dos alunos sobre o domínio deve abranger a utilização de novos paradigmas,
afetivo. Hurtado (1988) sugere três instrumentos e estes não devem ser fundamentados na
de inquirição, que são: questionário, entrevista e quantificação de habilidades desenvolvidas, na
sociograma. performance ou na estética de seus praticantes,
Já a testagem, segundo o autor (p. 242), mas em como estes corpos “dicotomizados”
“[...] constitui a técnica de avaliação que produz como cognitivos e motores recebem e percebem
resultados mais eficientes, utilizando como a real importância desta disciplina no seu dia-a-
instrumento de inquirição os diferentes tipos de dia.
testes” . E os testes mais utilizados são aqueles
que se referem ao domínio cognitivo. Assim, POSTURA DO PROFESSOR E DO ALUNO EM
para o autor, a avaliação em Educação Física DIFERENTES ABORDAGENS
poderá ocorrer:
• no decorrer das aulas, mediante Sobre o professor devemos considerar que
observações. deve: - ser um sujeito participativo e reflexivo; -
• periodicamente, através de provas escritas, se colocar no lugar do aluno para entender o
do tipo dissertativo, sobre um tema ou por processo; -compreender o aluno como ele é; -
meio de testes objetivos. estabelecer um ambiente motivador; - oferecer
ao aluno uma aprendizagem que seja
Destarte, avaliar em Educação Física deve significativa; - propiciar uma relação de trocas.
ser uma troca, onde professor e aluno se Sobre o aluno devemos considerar que: -
modificam, na perspectiva de construção de vive em constante busca, principalmente de
conhecimento; ambos crescem e interagem. identificação; - faz questão de que suas atitudes,
Para entender os valores subjacentes à seu comportamento, sejam vistos; - consegue se
avaliação é preciso entendê-la como processo de situar no processo com maior rapidez se o
mudança, de melhora, e, principalmente, de conteúdo é contextualizado; - dá grande
aproximação entre educador e educando. importância ao professor que valoriza cada
A avaliação em Educação Física não deve aluno como ele é; - gosta do professor alegre e
ter a intenção de punir, em conseqüência de dinâmico; - procura o professor que lhe inspire
determinados comportamentos e de confiança.
caracterizar feições autoritárias, ou mesmo Sobre a avaliação devemos considerar que: -
como forma de se obter uma harmonia muitas só terá eficácia se for interativa, alicerçada em
vezes almejada e não atingida através de objetivos; - não é instrumento para “uso” do
meios convincentes. professor; - não é agente de punição; - deve

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valorizar o aluno em todas as suas Na abordagem tradicional, o professor é


potencialidades; - deve ser processual. visto como um ser onipotente, ditador de regras,
Sant’ Anna (1995) faz a seguinte citação: desvinculado da realidade, autoritário, enfim,
“Há professores que se orgulham de ser inatingível. Na Educação Física, segundo Darido
raladores, outros, ao contrário, de só atribuírem (1999), a postura do professor tradicionalista é a
o grau máximo. Deveriam se orgulhar isto sim, daquele que quantifica as capacidades físicas,
de serem humanos e competentes em suas habilidades motoras e conhecimentos técnicos.
atribuições”. Os resultados obtidos são, posteriormente,
Nenhuma das duas posições expressa a comparados com uma tabela que,
realidade, os dizeres nos levam a refletir sobre a provavelmente, não corresponde à realidade do
responsabilidade que o professor deve ter no aluno.
momento de avaliar. Os avaliados não são Segundo estudos realizados pela mesma
máquinas, não desligam a um simples toque, e autora, eram aplicados testes de eficiência física
não recebem e obedecem a ordens através de um (início do ano) e suficiência física (final do ano).
simples comando; são, por mais que muitas Tais testes, geralmente aplicados na rede
vezes o neguem, seres humanos. pública, tinham o intuito de verificar força
Então, se são seres humanos, julgando abdominal, de membros superiores e inferiores,
tantos outros, por que a insistência por parte de e coordenação geral.
muitos profissionais em utilizar a avaliação Fazemos uma analogia entre o professor da
como forma de punir, como instrumento de visão tradicional e um general que dita as
repressão? ordens, as quais deverão ser explicitamente
A avaliação quantitativa acaba generalizando cumpridas por seus recrutas (alunos). Na medida
os alunos, nos faz acreditar que todos são iguais e em que atinjam o objetivo proposto, estes são
que o mesmo tratamento deve ser dado a todos. classificados como fracos, regulares, bons e
Freire (1994), ao citar: “Quem é igual não tem o excelentes.
que trocar”, reafirma que somos diferentes uns dos Nesse sentido, infelizmente, aqueles que não
outros e temos que permanecer diferentes por uma atingiam a meta, ou não estavam dentro dos
única e simples razão: a nossa diferença é que faz padrões propostos nas tabelas e exigidos pelos
cada um ser especial, cada um ter suas qualidades, professores, carregavam consigo o estigma da
seus valores e cada um ser bom naquilo que impotência; a postura do aluno era de resignação
realmente entende que venha a acrescentar algo em e aceitação.
sua vida. Darido (1999) subsidia nosso estudo quando
Por meio da relação professor/aluno se observa que essa visão não é “coisa” do passado.
transmite o conhecimento e se privilegia a A quantificação, a atribuição de notas ou
aprendizagem. Assim, o professor, além de todas conceitos por meio de testes em prazos
as atribuições que lhe cabem, deve ser determinados e avaliação punitiva (aquela que
observador e ouvinte, para perceber a vivência visa prejudicar o aluno), ainda permeia os
do aluno e as experiências que ele traz à aula. nossos dias e faze parte do dia-a-dia de muitos
Daí a nossa indignação com a postura de muitos professores.
profissionais da área diante da avaliação. Na abordagem baseada nos objetivos de
De acordo com estudos realizados por ensino, Darido (1999) relata que se começa a
Darido (1999) na área de avaliação em suas pensar na possibilidade de se utilizar outro tipo
diferentes visões, tentamos abordar a postura do de avaliação, não se tendo como único critério o
professor e a postura do aluno ao ser avaliado. domínio motor. Passa a ser enfatizada pelo
Darido (1999) dividiu a avaliação em professor a avaliação que considera o aluno em
Educação Física em 4 abordagens: sua totalidade, ou seja, nos aspectos cognitivos,
• Tradicional. afetivos e psicomotores.
Nesta abordagem, a conduta do professor ao
• Baseada nos objetivos de ensino.
avaliar é a comparativa; contudo, deve-se
• Humanista-reformista. comparar a evolução do aluno com seu
• Crítica. diagnóstico inicial, e não com tabelas e padrões

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preestabelecidos. Cabe ao professor criar psicológico, no seu amadurecimento.


situações em que o aluno se sinta estimulado a Pressupomos que esta abordagem oportunize a
participar ativamente das aulas e essas aulas exteriorização do que foi realmente importante e
sejam absorvidas pelos alunos de maneira significativo no decorrer das aulas.
prazerosa. O professor, dentro desta concepção, evita a
A postura do professor nesta abordagem é a quantificação e o constrangimento da rotulação;
do profissional que não se prende a tabelas, a acolhe seu aluno dentro de sua realidade,
padrões preestabelecidos, que não tem em seu compartilha de suas angustias, reconhece e
cerne a intenção de punir, mas consegue compreende suas dificuldades e dá-lhe subsídios
visualizar o aluno em sua totalidade. Entretanto, para que saiba discernir entre o certo e o errado.
ao avaliar segundo essa proposta, tanto Telama Dentro desta perspectiva humanista-reformista o
(1985) quanto Singer e Dick (1985) e também aluno aprimora seu senso crítico, eleva seu nível
Darido (1999) estão de acordo que se deva ter de consciência e se promove como “ser”
clareza nos objetivos da área, pois este processo humano .
avaliativo, apesar de ser mais flexível, não se Para Lorenzetto (apud Darido, 1999, p. 6),
desvincula do quantificar; parte do pressuposto
de que o que se almeja é a mudança de todas as vezes que um professor
comportamentos e o comportamento pode e deve verifica se os seus alunos estão se
ser medido. comportando com autonomia e
responsabilidade e alegria, ele está
Concordamos com essa abordagem mais
avaliando todo um processo
atualizada, a qual se contrapõe à tradicional. Ela educacional.
quantifica, mas, por comparar o aluno com o seu
diagnóstico inicial, faz com que ele reveja A abordagem crítica contradiz o modelo
conceitos e atitudes, para que modifique o que tradicional, segundo estudos realizados por
deve ser modificado e enriqueça não só o seu Darido (1999). O que a diferencia das
vocabulário motor, mas também o cognitivo, o abordagens anteriores e caracteriza a visão
afetivo e o social. Para o professor, norteia-o em crítica é uma postura de professor que permite
suas tomadas de decisão quanto ao que retomar ao aluno a sua participação na definição de
e a como retomar o assunto que não foi critérios de avaliação, das mudanças a serem
assimilado. “Apesar dos progressos, realizadas, dos resultados obtidos.
dificuldades e limitações, as análises e Assim, os conteúdos devem estar
observações da prática dos professores de contextualizados e inseridos numa realidade
Educação Física permitem inferir que poucos próxima do aluno, que possibilite a aquisição de
são os professores que utilizam este modelo de conhecimentos, o desenvolvimento de
avaliação, mesmo que o tenham estudado na habilidades e atitudes, o enriquecimento de
graduação” (DARIDO, 1999, p.5). valores, entre outros.
A abordagem humanista-reformista também A avaliação de forma participativa,
tece críticas ao modelo tradicional de avaliação envolvendo professor, alunos, equipe de apoio
em Educação Física, que se limita à técnico-pedagógico, propicia um diagnóstico
quantificação baseada em padrões normativos. contínuo e real.
Darido (1999) comenta a importância do Segundo o documento da Coordenadoria e
professor Lorenzetto (1977), um dos precursores Estudos de Normas Pedagógicas – CENP (apud
desta visão, e destaca em suas citações a DARIDO, 1999, p.10) “...avaliar
contribuição dada pelo professor nesse período quantitativamente os alunos requer muito mais
de transição, de reflexão e mudanças atitudinais tempo e nem sempre corresponde à realidade”.
na Educação Física. Nas diversas pesquisas estudadas por Darido
A principal característica da concepção (1999, p.12) sobre a prática avaliativa em
humanista-reformista é que o professor concede Educação Física, ela observou que:
ao aluno o direito de se auto-avaliar. As
atividades devem estar centradas no processo de os resultados mostraram que a maioria
transformação do aluno, no desenvolvimento dos professores direciona a avaliação

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dos alunos observando a sua O sistema, muitas vezes, impõe aos


participação nas atividades propostas. educadores da Educação Física ações que
Além disso, os professores afirmaram modificam a sua conduta, fazendo emergir o
avaliar a melhoria do desempenho dos “professor” de Educação Física. Esses
alunos em decorrência da prática das
professores, desestimulados, reconhecem que a
diferentes habilidades motoras. Este
processo da aquisição e refinamento maioria das escolas não tem a disciplina
das habilidades é avaliado através da Educação Física inserida em seu processo
observação e por dois deles também político-pedagógico e, se o professor não se faz
através da análise de gravações em presente e não se impõe com uma disciplina de
vídeo. Os professores informaram conteúdo, vai ficar, como observa Santin (1987),
também que já procuraram no início da “um satélite girando em torno das demais
carreira empregar testes de habilidades disciplinas”.
motoras, mas consideram inapropriado Muitos poderiam perguntar: no plano de
este procedimento. escola consta a interdisciplinaridade?
Geralmente, não passa de uma ação burocrática
Finalizando, na opinião de Darido (1999), é
que não sai do papel. Ela, muitas vezes, ocorre
preciso que se avaliem na Educação Física as
de forma unilateral, ou seja, só acontece por
dimensões cognitiva (conhecimentos), motora
parte dos professores de Educação Física
(habilidades e capacidades físicas) e atitudinal
quando o lado contrário é solicitado; os
(valores).
professores alegam ter que cumprir programas
ou apostilas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Os estudos sobre avaliação nos fizeram
imergir em um mundo complexo de opiniões,
Existem ainda muitas dúvidas referentes aos que ora convergiram ora divergiram; nos fizeram
reais valores que permeiam a avaliação em penetrar em diferentes visões e atitudes - ora nos
Educação Física. Acreditamos que não haverá encantaram, ora desencantaram. Percebemos que
mudança significativa no processo de avaliar em a avaliação da aprendizagem, na Educação
Educação Física se não houver conscientização Física e de uma forma geral, pode e deve ajudar
por parte dos professores, de que esta mudança o professor a nortear suas decisões sobre como e
se faz necessária. Cada professor tem sua onde alterar as suas ações pedagógicas de modo
filosofia e sua metodologia de trabalho, e deverá a auxiliar os alunos no processo de
sempre ter em mente os efeitos de sua ação aprendizagem.
pedagógica, os quais lhe garantirão o retorno Aqueles que deixaram seus sonhos
positivo ou negativo de suas ações, e procurar guardados em uma parte já esquecida do corpo,
modificá-la de acordo com as situações. que os façam aflorar, pois vale a pena sonhar e
Cabe ao professor saber discernir e avaliar idealizar; aqueles que não se deixaram levar
com coerência, o que não quer dizer que se deva pelo sistema, que continuem firmes, porque só
negar a importância do ato avaliativo nas assim conseguirão se colocar como docentes de
escolas, mas sim, que se deve saber como este uma disciplina de conteúdo, que sabe trabalhar
está sendo processado, se estão sendo os alunos em suas particularidades, que respeita
observados conhecimentos e capacidades as diferenças, preparando-os para a vida. Nada
adquiridos e qual será o feedback, já que substitui um educador que tem como princípio o
sabemos que diferentes situações pedem amor pela arte de ensinar.
diferentes procedimentos.

EVALUATION IN PHYSICAL EDUCATION : A CHALLENGE

ABSTRACT
The evaluation process adopted by the majority of the schools is still related to values that prevail quantitative aspects against
qualitative ones, what make people anxious. This anxiety is especially observed on those subjects who have the stigmata
resulting from inadequate attitudes on the evaluation practice. According to Luckesi (1998), evaluation tends to receive and
integrate the students into their environment, but judgment tends to exclude them. Can the body freedom be quantified and

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Avaliação em educação física 31

classified? How could the affective domain, the cognitive domain, sociability and dexterity be evaluated? According to Faria
Jr. (1986), there is not a separation among the affective, cognitive and psychomotor areas, since during the learning process
they direct or indirectly establish themselves. With the purpose of clarifying some doubts, this article searches the best way
for understanding the factors that influence the evaluation process in the schools; based on bibliographical references about
evaluation on both Education and Physical Education, as well as including the researcher experience of life as a Physical
Education teacher either in private or public schools.
Key words: physical education. Evaluation. School. Learning.

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Endereço para correspondência: Sandra Aparecida Bratifische, Rua Olinda, 184, Werner Plaas CEP 13478-350,
Americana–SP. E-mail: ric@dglnet.com.br

R. da Educação Física/UEM Maringá, v. 14, n. 2, p. 21-31, 2. sem. 2003

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