You are on page 1of 3

Saúde

Doença Hepática
~
A patologia hepática apresenta
actualmente uma incidência
reduzida no cão, associado ao
no cao
facto de nos últimos anos se
ter assistido a um progresso
substancial nos métodos de
diagnóstico e prevenção bem
como de tratamento das
patologias hepáticas.

Texto: Drª Eva Ramalho


Fotos: Royal Canin

A FUNÇÃO HEPÁTICA
O fígado é um órgão metabólico muito
importante no organismo, podendo ser
considerado o “gestor” do metabolismo.
Actualmente, são-lhe atribuídas pelo menos
1500 funções diferentes. De entre as mais
importantes cita-se a manutenção da
homeostasia (equilíbrio dos níveis san-
guíneos de glucose, aminoácidos e oligo-
elementos), a regulação do equilíbrio
hormonal, a síntese de factores de coa-
gulação, a participação na função imu-
nitária, e a distribuição e destoxificação dos
resíduos tóxicos endógenos do organismo.
Entre estes resíduos endógenos, destaca-se
a importância da amónia. A amónia é
produzida no intestino quando a proteína
alimentar é degradada pela flora bacteriana
intestinal. Quando o animal não recebe uma
alimentação completa e equilibrada, a
amónia pode ser produzida a partir da
degradação das proteínas musculares do
animal (fenómeno conhecido por cata-
bolismo proteico). De uma forma reduzida,
pode dizer-se que o fígado desempenha um
papel fundamental no metabolismo das
proteínas, gorduras, carbohidratos, vita-
minas e minerais.

44 Cães & mascotes Novembro 2005


Doença Hepática no cão

O fígado possui uma capacidade de


regeneração excepcional: no espaço de
algumas semanas, o fígado pode sofrer
uma regeneração de 70% do seu
parênquima.

COMO RECONHECER UMA


INSUFICIÊNCIA HEPÁTICA?
Uma insuficiência hepática pode ter um
carácter agudo ou crónico. Existem
várias causas de insuficiência hepática
no cão: lesões vasculares congénitas
(hepatite devida à acumulação de cobre
no fígado, frequente por exemplo na
raça West Highland White Terrier) ou
adquiridas, inflamação (hepatite) de
origem viral, bacteriana ou secundária a
uma parasitose (babesiose, por exemplo
– um tipo de febre da carraça) ou a
medicamentos. A icterícia (cor ama-
relada das mucosas do animal) é um
sintoma característico das doenças avaliar a função hepática. A forma do muito frequentes nestes pacientes, e,
hepáticas, porém, nem sempre é órgão e as lesões do tecido hepático como tal, o clínico deverá monitorizar a
observável. Os sinais e sintomas mais também poderão ser avaliados através alimentação do animal. O tratamento
comuns de disfunção hepática, não são, de radiografias e ecografias abdominais. dietético da insuficiência hepática tem
na maioria dos casos, muito específicos: Nos casos mais graves, ou em que o como objectivos prevenir a subnutrição
diagnóstico não é conclusivo pelos do animal (através de um alimento com
● Perda de apetite (anorexia) métodos supracitados, poderá realizar- elevada densidade energética), favo-
● Perda de peso -se uma biópsia hepática (colheita de recer a regeneração do parênquima
● Ingestão de fluidos aumentada uma amostra de tecido hepático que é hepático e minimizar as complicações
(polidipsia) depois analisada para identificação de metabólicas associadas (sobretudo a
● Aumento do volume de urina lesões ou sinais de doença). No entanto, acumulação de cobre no fígado, a
(poliúria) este método diagnóstico não é sempre encefalopatia hepática e a ascite.
● Vómito e/ou diarreia acessível pois requer alguma expe- As características mais importantes de
● Dilatação abdominal (ascite) riência e instrumentos específicos. uma dieta específica para alterações da
● Alterações neurológicas Dependendo da causa da patologia função hepática são:
● Letargia hepática e dos sintomas exibidos pelo
animal, o Médico Veterinário poderá ● Limitar a quantidade de

Se o fígado não estiver a funcionar prescrever alguns medicamentos espe- substâncias tóxicas para
adequadamente, o organismo é incapaz cíficos. O maneio dietético é frequen- o organismo
de neutralizar as toxinas eficazmente. temente uma parte importante do Se a dieta apresentar um teor proteico
Nos casos crónicos, algumas destas tratamento das doenças hepáticas. O demasiado elevado, o organismo produz
substâncias tóxicas (a amónia em fígado recebe mais de metade do seu um excesso de amónia. Se a dieta for >
particular) podem atingir o sistema fluxo sanguíneo a partir dos vasos
nervoso através da circulação san- sanguíneos intestinais (que transportam
guínea. Esta situação pode resultar sangue pobre em oxigénio e rico em
numa síndrome neurológica designada toxinas), portanto, a adaptação da dieta
por encefalopatia hepática. Os sintomas de prescrição a estas características,
desta afecção podem incluir colapso, pode ter um impacto substancial na
tremores, salivação excessiva e quantidade de nutrientes e toxinas a que
alterações do comportamento, como por as células hepáticas estão expostas.
exemplo o animal pressionar a cabeça
contra uma parede. CARACTERÍSTICAS DA DIETA DE
PRESCRIÇÃO
DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO A terapêutica nutricional é essencial nos
O Médico Veterinário poderá realizar pacientes com insuficiência hepática.
análises sanguíneas e de urina para A anorexia e a subnutrição são

Novembro 2005 Cães & mascotes 45


Saúde

● Reduzir a acumulação
de cobre no fígado
Uma vez assimilado no intestino, o
cobre é armazenado no fígado e o
excesso de cobre é eliminado pela
bílis. Algumas doenças hereditárias e,
sobretudo, as doenças hepáticas
obstrutivas, dão origem à acumulação
de cobre no fígado. O cobre em
excesso favorece a produção de
radicais livres, os quais são res-
ponsáveis pela lesão e morte das
células hepáticas. Por conseguinte,
nos regimes alimentares para insu-
ficientes hepáticos, é aconselhável
restringir o fornecimento alimentar de
cobre. Por outro lado, os alimentos
ricos em zinco inibem a absorção de
cobre (que tendencialmente se acu-
mula no fígado destes animais) uma
vez que o zinco (oligoelemento)
estimula a produção de uma proteína
nas células intestinais – a meta-
> deficiente em termos proteicos, a teínas, frequente nos insuficientes lotioneina – que fixa o zinco e o cobre
amónia é produzida pela degradação da hepáticos). Contrariamente à opinião impedindo a sua absorção intestinal.
proteína corporal do animal (geral- generalizada, os cães e gatos com
mente, as proteínas musculares) por insuficiência hepática toleram perfei- ●Ajustar os níveis de vitaminas
forma a compensar a carência deste tamente níveis elevados de matérias e minerais
nutriente na dieta. gordas (30 a 50% de calorias). Assim, o Nos animais com insuficiência he-
Uma vez que as bactérias do intestino fornecimento de energia sob a forma de pática, as carências mais frequente-
grosso que digerem a proteína também matérias gordas, e a utilização de mente observadas são em potássio e
produzem amónia, é importante que a proteínas de elevada digestibilidade, é zinco (sobretudo devido à anorexia, já
proteína da dieta seja altamente essencial para assegurar a regeneração que o zinco tem uma origem ali-
digerível (com elevado valor biológico) hepática e reduzir a formação de amónia mentar), bem como em vitaminas (K e
para que possa ser digerida e absorvida a nível intestinal. complexo B). Isto acontece porque
no intestino delgado antes de atingir o ocorrem défices de produção (o fígado
intestino grosso. Uma proteína ali- é responsável pela produção das
mentar de elevado valor biológico, vitaminas), aumento das necessidades
limita, portanto, a produção de amónia a e aumento das perdas (o potássio é
nível intestinal. A utilização de algumas eliminado na urina). Assim, nestes
fibras alimentares específicas (fibras animais recomenda-se uma suple-
fermentescíveis) também pode ser mentação dietética com estes oligo-
utilizada para reduzir a produção de elementos e vitaminas. Além disso,
amónia pelas bactérias do intestino nestes animais está recomendada uma
grosso e para estimular a excreção de restrição moderada de cloreto de sódio
amónia e de outras substâncias nocivas (sal) pode forma a prevenir um
nas fezes. As fibras não fermentescíveis aumento da pressão sanguínea a nível
possuem também um efeito favorável, hepático (hipertensão portal) e a
acelerando o trânsito intestinal e retenção de fluidos na cavidade
absorvendo uma parte das toxinas. abdominal (ascite).
A duração da prescrição depende da
●Fornecer níveis suplementares origem da patologia e da capaci-
de energia dade de regeneração do tecido
Uma contribuição suficiente de energia hepático. No caso de afecções cró-
e proteínas é essencial para a prevenção nicas, pode ser necessário um trata-
da perda de peso e da massa muscular, mento durante toda a vida do animal,
assim como para a prevenção do cata- devendo respeitar as indicações do
bolismo proteico (degradação das pro- Médico Veterinário. b

46 Cães & mascotes Novembro 2005 Artigo gentilmente cedido por Royal Canin

You might also like