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La Construction Navale-B. Vieillard-Baron-Institute de Recherches de la
Construction Navale-1994.
1
Da Idade Média até o fim do século XVIII, dominaram o cenário da
construção naval, com destaque, Normandos e povos das regiões que hoje
constituem Portugal, Inglaterra, França e Alemanha. Desenvolveram-se neste
período da História, embarcações em madeira, de dimensões significativas,
voltados para o comércio e para a guerra; surgiram centros de construção
naval de reputação como o de Harles, grandes empreendimentos individuais e
em ligas como a Hanseática2; desenvolveu-se de forma primorosa a
navegação, primeiramente, na costa africana, depois até às Índias e,
posteriormente, através do Atlântico, dando origem aos grandes
descobrimentos.
O ano de 1746, representa o marco do aparecimento de uma nova
Ciência chamada Teoria do Navio. Este marco de natureza científica foi a
introdução do conceito de metacentro pelo Francês Pierre Bourguer em seu
livro Traité du Navire e, assim, a Engenharia Naval começou a passar por
profundas transformações, pois até meados do século XVIII, o projeto dos
navios era quase inteiramente empírico, tendo como único embasamento
científico o princípio de Arquimedes, e praticamente nada se conhecia sobre
estabilidade, efeito das ondas e vento, resistência ao avanço e outros conceitos
modernos como o da resistência dos materiais. Até meados do século XVIII, a
construção naval era facilitada pela padronização nos chamados “traçados” em
que, no Ocidente, se destacavam os traçados Português (o Livro das Traças
de Manuel Fernandes foi publicado em Lisboa em 1616), o Espanhol e o
Italiano. Os traçados consistiam numa compilação de proporções, dimensões e
regras que permitiam desenhar e dimensionar vários tipos de embarcações e
destinavam-se diretamente aos carpinteiros navais, sem grandes
conhecimentos teóricos para construir navios. 3
Foi na Idade Moderna, com o surgimento das máquinas a vapor, e mais
precisamente, entre o início do século XIX e a segunda metade do século XX
que se configuraram alguns fatos portadores de futuro, dignos de nota, os
quais estão resumidos na tabela 1, abaixo:
2
Na Alemanha, nos séculos XIV e XV
3
História da Construção Naval no Brasil-Pedro Carlos da Silva Telles.
4
Não em aço.
5
O Corse na Inglaterra, em 1839, e o Archimède na França, em 1843.
2
A importância de tais fatos é que estes configuram um espectro
determinístico para a situação atual, isto é, contribuíram de maneira decisória
para que os estaleiros navais hoje se situem como componentes de uma
indústria de ponta, derivando de grandes empresas industriais, exercendo um
efeito aglutinador e atrativo sobre toda a indústria e tenham se consolidado
como importante fator de poder e prosperidade.
ALGUNS CONCEITOS
INDÚSTRIA DE
NAVIPEÇAS
PRODUTO
PRODUTO
INSUMOS
Fornecimento
Aquisição
Entrega
ARMADOR
ARMADOR
(IDENTIFICAÇÃO
(IDENTIFICAÇÃODOS
DOSREQUISITOS)
REQUISITOS) DEMANDA DO
ESTALEIROS
OBTENÇÃO MERCADO
OBTENÇÃO
AGENTE
FINANCIADOR
6
Recorre-se a um termo importado, com a intenção de promover o bom
entendimento.
3
O desempenho desta cadeia produtiva, como de qualquer sistema,
depende tanto de características que lhe são intrínsecas, quanto de
características que lhe são exógenas; entre as características intrínsecas,
podemos mencionar aquelas associadas aos produtos e à indústria de
navipeças, de modo a identificar as principais componentes de custo, preço,
prazo e qualidade, ou seja, o potencial de competitividade resultante. As
características do produto, em si, podem ser identificadas de acordo com três
grandes grupos de propriedades que são a diversificação crescente, as
exigências de confiabilidade e resistência (robustez) e as rápidas
evoluções tecnológicas.
A diversificação crescente é caracterizada pela existência de
numerosos tipos de navios, conforme a carga, além das plataformas “offshore”,
e grande variedade em cada tipo; a possibilidade de combinações de carga; o
grande número de opções para dimensões e equipamentos; imposições de
armadores, portos e demais regulamentos, incluindo, mais recentemente,
aqueles vinculados ao meio ambiente.
As exigências de resistência ou robustez são decorrentes da navegação
em mares inóspitos, manuseio de cargas em situações adversas, longas
durações de rotas, com idas e retornos 7 sucessivos e composições de
tripulações compostas de variadas origens.
As evoluções tecnológicas se concentram em fatores e conceitos
modernos como: utilização racional de energia; automatização, cada vez maior,
das funções de bordo, com conseqüente redução do número de tripulantes;
aprimoramento do nível de conforto; desenvolvimento das telecomunicações e
do teletratamento; e, evoluções, por exigências específicas, como a dos navios
petroleiros de casco duplo.
As características intrínsecas da cadeia produtiva, são decorrentes das
características dos seus atores e podem ser expressas como lemas expressos
a seguir:
- o sucesso internacional na produção de um bem de capital de alto
valor unitário como o navio, produzido sob encomenda, depende, mais e
mais, da disponibilidade da oferta de financiamento (políticas
governamentais), além do tradicional trinômio preço-qualidade-prazo;
- a indústria de navipeças é a principal fonte de tecnologia no setor,
podendo propiciar rápidas entradas e consolidação de produtores no
mercado, como Coréia do Sul , atualmente, e o Brasil no passado;
- os principais componentes de custo dos navios mercantes 8 são o
aço, as navipeças (ambos a preço internacional) e a mão-de-obra
(vinculada a padrões salariais locais). Os ganhos são, portanto,
condicionados às exigências dos armadores, cada um deles com
necessidades diferentes, quando da encomenda.
7
“Viagens redondas”, no glossário dos transportes marítimos.
8
No caso de um navio de guerra são, obviamente, completamente distintas em
natureza e composição percentual do custo total, que aquelas apontadas para
navios mercantes.
4
Como conseqüência destas suas duas últimas características, existe
dificuldade de seriação da produção, ganhos decorrentes do efeito de escala e
aprendizado por parte dos estaleiros. Fica evidente a necessidade de demanda
interna e de políticas governamentais.
Já que conceituamos o mercado como ator inserido na cadeia produtiva,
anunciaremos, por coerência, suas caraterísticas como intrínsecas, mas sem
perder de vista que estas estão na fronteira com as características exógenas.
Estas características de mercado merecem um nível maior de detalhamento na
sua discussão e por isso serão dedicadas, para cada uma delas, um maior
número de linhas.
A primeira destas características está associada à sua natureza
internacional-global, pois navios são bens extraterritoriais, sem proteções
geográficas ou alfandegárias e sem quotas de importação e medidas
“antidumpings” aplicáveis; os preços dos seus produtos são expressos
freqüentemente em dólares; a concorrência é intensa, para não dizer
agressiva; e, há grande dificuldade de incorporar a seus produtos as inovações
tecnológicas, em face de sua alta rotatividade.
A segunda, se refere à sua natureza “quasi”9-especulativa, pelo fato de
que existem variações significativas das taxas de frete e das capacidades
financeiras dos armadores; o ciclo temporal de obtenção dos produtos (navios,
em sua generalidade), relativamente longos quando comparados à velocidade
de variação das taxas de frete, envolvendo cerca de seis meses ou mais em
negociações comerciais e dezoito a trinta e seis meses para construção e
comissionamento 10.
A terceira trata da alta susceptibilidade a freqüentes intervenções
governamentais 11 para garantir o abastecimento do país, se necessário; impor
taxas de câmbio, o que acarreta forte impacto sobre os armadores neste
mercado global; cumprir uma política de emprego; e, eventualmente, cumprir
uma política marítima global.
A quarta e última característica do mercado a enumerar é a sua
condição de convivência com ausência de mecanismos econômicos de curto
prazo, resultante de demandas erráticas, em relação às necessidades reais de
cada momento, ou seja, os preços se estabelecem em níveis que não têm
relação direta com os custos de construção. A explicação é simples, pelo
menos para o contexto atual, não somente do ponto de vista mundial, mas
principalmente nacional: Se há escassez de encomendas aos estaleiros, a
conseqüente baixa dos preços (demanda x oferta) é reforçada pelo jogo da
concorrência, e assim, os estaleiros se confrontam com o dilema : “aceitar as
encomendas ou sucumbir”; se, por outro lado, há excesso de oferta aos
estaleiros, o mecanismo se inverte, mas apenas parcialmente, pois a
concorrência continua forte, já que as capacidades potenciais atuais de
9
Apelou-se ao Latim “quasi” em face de sua diferença sutil com a palavra em
Português quase. O termo latino expressa noção de equivalência.
10
Estes últimos prazos são mais longos quando se trata de navios militares do
porte, por exemplo, de navios-patrulha oceânicos e acima.
11
Em face de sua natureza estratégica.
5
produção são atualmente, em geral, superiores às utilizadas. Desta forma, os
chamados “booms” são breves, as depressões são longas, e os preços não
permitem, na prática, uma remuneração dos estaleiros ao mesmo nível de
indústrias fora do âmbito da construção naval.
Abordemos agora as características ditas exógenas, que são
identificadas como características do “metier” (ambiente). Estas, a exemplo das
anteriores serão classificadas em dois grupos: As de natureza geral e as de
natureza específica. Ambos os grupos se concentram sob o ponto de vista de
que as plataformas navais atuais são constituídas de verdadeiros sistemas,
cada vez mais e mais integrados, em que as empresas componentes precisam,
no grupo de natureza geral, de dois conjuntos de atividades características:
6
Tendo-se discutido, primeiramente, sobre as características intrínsecas e
depois sobre as exógenas, pode-se agora apontar as conseqüências destas
quando integradas num cenário abrangente. Estas conseqüências podem ser
reunidas em três grupos com características bem definidas: dificuldade de
venda de navios novos, existência de riscos financeiros e impactos a
longo prazo na cadeia produtiva.
A dificuldade de venda de navios novos decorre, em função de forte
concorrência nos aspectos inerentes a características técnicas, classificação,
especificação; prazos de entrega, organização financeira, garantias; e,
arbitragens, em caso de litígios.
Os riscos financeiros estão associados a fatores que afetam o
desenrolar dos contratos como: Preços fechados, não revisáveis, com alta
influência das variações de câmbio; preço dos navios sem vínculo com o porte
financeiro dos estaleiros; e, discrepância entre preços de mercado e custos e
penalidades elevadas para atrasos ou dificuldades técnicas.
Os impactos a longo prazo, no futuro da cadeia produtiva, se refletem na
redução do número de estaleiros, com concentração do número de empresas;
aparecimento de nichos especializados por volume de ofertas, tipos de navios
ou por tecnologias; e, aparecimento de órgãos reguladores no âmbito de
espaços econômicos significativos.
O CENÁRIO MUNDIAL ATUAL DA CONSTRUÇÃO NAVAL
Para um bom entendimento do que está se chamando de cenário
mundial, esclarece-se que neste item serão apresentados estatísticas, dados e
informações de natureza global partindo de duas grandes divisões mundiais: a
construção naval civil12 e a construção naval militar.
A construção naval civil pode ser abordada sob a ótica de duas
subdivisões bem distintas e mutuamente exclusivas: os transportes
marítimos e a área offshore. Os transportes marítimos se subdividem de
acordo com a carga, que pode ser de graneis (líquidos e sólidos) e carga
geral.
Não podem deixar de ser mencionados alguns dados de relevância que
situam a importância dos transportes marítimos para o comércio mundial, nem
também dados que situam a construção offshore como relevante componente
da indústria naval civil. Começando pelos transportes marítimos, temos a
apontar:
- Do valor total de mercadorias transportadas, estimada em U$ 6
trilhões, 80% é transportado por via marítima, ou seja, cerca de U$ 4,8
trilhões 13;
12
A grande maioria das informações sobre a construção naval civil
apresentadas neste artigo foram compiladas do excelente trabalho “Estudo da
Competitividade de Cadeias Integradas no Brasil” - agosto de 2002-UNICAMP-
IE-NET.
13
Fonte: Organização Mundial do Comércio (OMC).
7
- O transporte de granel corresponde, em volume, a cerca de 75% do
total mundial transportado por via marítima, representando a forma em que há
mais competição, enquanto a carga geral responde, em valor, por 65% do
transporte mundial de cargas por esta mesma via;
- Os fretes marítimos representam cerca de 10% dos aludidos 80%, isto
é, cerca de U$ 480 bilhões, dos quais 65% estão concentrados e
geograficamente assim distribuídos:
?América do Norte-21%;
?Europa-26%;
?Ásia (Japão, Coréia do Sul e Singapura)-11%;
?América Latina (México, Brasil, Argentina, Chile e Venezuela)-5%;
Como mostrado na figura 2, os restantes 37% estão dispersos e por isso
classificados como “outros”.
26%
37%
5% 21%
11%
América do Norte Europa Ásia
América Latina Outros
FIGURA 2 - REPRESENTAÇÃO GRÁFICA DA CONCENTRAÇÃO GEOGRÁFICA DOS
FRETES MARÍTIMOS, POR CONTINENTES.
8
TABELA 2 - RATEIO GEOGRÁFICO DOS VALORES DOS FRETES MARÍTIMOS MUNDIAIS
ATUAIS POR REGIÕES (U$ 480 BILHÕES).
3%
8% 14%
0%
40%
52%
83%
1975-1976 2000-2001
Europa Ocidental Europa Ocidental
e Oriental
Ásia
Ásia
Demais Países
Estados Unidos
Demais Países
9
seus respectivos objetivos nacionais, cujos resultados apontam numa mesma
direção, que é o da demanda crescente;
- A indústria offshore se encontra em fase de picos de encomendas, num
contexto em que a produção de petróleo migra para águas profundas (até a
lâmina d’água de 1000m) e ultraprofundas ( lâminas d’água acima de 1000m),
cada vez mais próximas da cota de 2000m;
- O estoque de equipamentos disponível, mundialmente, é obsoleto para
as novas exigências tecnológicas;
- O preço do petróleo é uma variável para a qual há sempre expectativa
de alta, o que, ao que tudo indica, justifica os grandes investimentos das
companhias petroleiras, tendo estes investimentos sido da ordem dos
exemplos ilustrados abaixo:
15
Não tem sentido prático enumerá-los todos, em face de seu grande número e
tediosos cruzamentos de referências e informações.
16
Se refere a deslocamento, pois a navios de guerra, não se aplica o conceito
de TPB, que expressa, basicamente, capacidade de carga, incluindo a carga
operacional ( óleo combustível, lubrificantes, aguada, água de caldeiras,
tripulação e pertences, etc., e demais itens de mesma natureza que possam ter
sido omitidos
10
Partindo do cenário mundial, isto é de uma visão global, será feita neste
item a abordagem na seqüência em que se parte do todo para as partes, ou
seja, passar-se-á a examinar a construção naval civil e militar, pelos
continentes de maior importância para o assunto em pauta: Europa, América
do Norte, Ásia e América do Sul. No âmbito de cada continente, serão
examinadas as situações particulares dos países mais atuantes na construção
naval, já que um exame exaustivo, não somente significaria uma verdadeira
inexeqüibilidade prática, como também seria desprovida de sentido. O caso
brasileiro será tratado à parte, como de especial aprofundamento no contexto
sul-americano, em sintonia com o propósito deste artigo e enunciado na
introdução.
Para cada cenário geográfico a ser discutido, seja continente ou país, a
seqüência lógica a ser seguida será a de três componentes, primeiramente
dirigida para a construção naval civil e a seguir, para a construção naval militar,
sempre na seqüência a seguir:
17
Em face do dinamismo atual na transferência de propriedades e formação de
conglomerados, é possível que à época da publicação deste artigo, haja
diferenças na formação e propriedade dos grupos empresariais, em relação à
época em que este foi escrito (setembro/2003).
11
Como uma espécie de compensação aos subsídios, as políticas
governamentais passaram a permitir vantagens aos conglomerados de mesmo
controle acionário, sob a forma de redução de imposto de renda sobre lucros
em determinadas áreas, para, assim, compensar perdas em outras. Os
principais grupos empresariais e os países de suas atuações são os abaixo
listados na tabela 2.
12
Rússia, surge com ímpeto na disputa deste mercado. A Espanha aparece
como novo ator na construção e exportação de fragatas, por meio do
conglomerado IZAR Cartagena. A construção e a exportação de submarinos
convencionais, aparece como opção por meio da associação entre o IZAR e o
DCN Lorient.
É ainda digno de registro, o surgimento de empreendimentos
multipartíties como o do caça-minas classe Éridan emprendido por Bélgica,
França e Holanda e o da Fragata NATO, a NFR-90 que, apesar de incluir dois
países não europeus (E.U.A e Canadá), teve concepção essencialmente
européia, com a representação de seis países do continente em pauta (Reino
Unido, Alemanha, França, Espanha, Itália e Holanda), mas acabou não sendo
concretizado.
Os principais grupos empresariais atuantes na construção naval militar
na Europa estão divididos em três grupos correlacionados com os países que
têm, atualmente, maior projeção no mercado exportador e detentores de
tecnologia própria. São eles:
13
O contexto Norte Americano , Construção Naval Civil
14
- Ingalls Shipbuilding, Pascagoula, MS (Litton Industries);
- National Steel & Shipbuilding Co. (NASSCO), San Diego, CA (GD);e
- Newport News Shipbuilding, Newport News, VA.
18
FAS Military Analisis Network, www.faz.org/man/company/shipyard/intro.htm
15
O passado recente tem o aparecimento do Japão como marco da
entrada da Ásia no mercado exportador da construção naval civil no início da
década de 1960. No ano de 1970, a Coréia do Sul construiu um petroleiro pela
Samsung e na metade da década de 1980, a mesma Coréia já concentrava
cerca de 30% do total de entregas de navios no mercado internacional em
franca competição com os japoneses. A China tem, desde o início da década
de 1980, a exportação de navios como uma das fontes de receita em moeda
forte, ocupando atualmente a terceira posição no “ranking” mundial nos líderes
da construção naval, depois do Japão e da Coréia do Sul.
Atualmente, a crise das economias asiáticas diminui as encomendas no
âmbito do próprio continente e o recente ingresso desses países na
Organização Mundial do Comércio (OMC), exigem suas adequações às regras
do comércio mundial.
Mencionadas estas condições de contorno comuns aos três países
asiáticos, passar-se-á a examinar peculiaridades específicas a cada um deles
de per si, além de Singapura, o mais recente ator na construção naval
praticada naquele continente; após o exame isolado, voltar-se-á, por questões
de clareza, a um exame das expectativas futuras do continente asiático como
um todo.
Japão
16
- Hitachi Zosen Corporation;
- Kawasaki Heavy Industries;
- Sumitomo Heavy Industries;
- Mitsui Engineering & Sipbuilding; e
- NKK Co.
Coréia do Sul
17
Naquele país, o número de grupos empresariais atuantes é de quatro, os
quais lá respondem por cerca de noventa e cinco por cento da construção
naval:
Singapura
China
18
quase que exclusivamente para a navegação fluvial interior. A partir de 1950, o
regime comunista recém-implantado estatizou os estaleiros e iniciou um
programa de expansão industrial ambicioso, visando atender às necessidades
da frota mercante daquele país.
Em 1970, novo marco se estabeleceu, desta vez como decorrência do
processo de abertura da economia, com armadores de Hong-Kong
interessados no estreitamento de laços com o continente, encomendando aos
estaleiros chineses, navios graneleiros, simples e desprovidos de tecnologias
sofisticadas, de vinte e sete mil TPB. Este fato, aparentemente isolado, portou
futuro, e assim, por volta de 1980, os armadores europeus já haviam
encomendado outros graneleiros, atraídos que foram pelo baixo preço em
relação ao mercado. Não tardou a ocorrer a produção de navios mais
sofisticados e assim a China hoje é competidora de destaque no cenário
mundial da construção naval, como já mencionado no intróito ao cenário
asiático, apesar de algumas dificuldades atuais para manter preços
competitivos, marcadamente devido a compromissos com os trabalhadores, a
necessidade de importar peças e equipamentos, alguns tipos de aço, para
atender à qualidade exigida pelos armadores, bem como de pagar licenças
pela utilização de projetos e processos, muitos deles ainda desenvolvidos pelos
japoneses; a baixa produtividade é um preço a pagar correlacionado à
necessidade de dar empregos.Num país superpopuloso, este aspecto fica bem
evidenciado, quando se constata que na China, um estaleiro que possui um
efetivo de 9000 a 12000 pessoas, apresenta a mesma capacidade produtiva
que um equivalente japonês ocupado por um grupo entre 900 e 1500 pessoas.
Em que pesem tais dificuldades, o país considera estratégica a sua
indústria de navegação e construção naval, considerando ser um setor que
deve ficar sob controle dos chineses, isto é, do Estado Chinês; a necessidade
de dar um salto de qualidade é um desafio reconhecido e aceito no contexto
dos objetivos nacionais.
Como existe esta clareza de concepções, a China vem dando subsídios
à exportação de navios, compensando diferenças de preços de até cerca de
dezessete por cento, em relação ao mercado mundial, o que tem gerado
contestações por parte do grupo de trabalho da OMC em relação à China, o
qual identificou uma lista de subsídios considerados proibitivos, tendo
estabelecido prazos para as sua eliminações, que em alguns casos se
estendem até 2004.
Quanto aos grupos empresariais atuantes no setor, estes, após fusões
de estaleiros, são apenas dois, um no norte e outro no sul do país. São eles:
19
Como não há referências a empresas de médio porte, supõe-se que
estas empresas respondam por praticamente 100% da construção naval no
país.
As expectativas futuras apontam no sentido de uma maior abertura para
investimentos na construção naval, já sinalizada pela compra de um pequeno
estaleiro em Changai por uma empresa alemã 19.
Japão
Coréia do Sul
China
19
Não são disponíveis, no momento, dados sobre qual foi o estaleiro e qual foi
a empresa compradora.
20
Índia
? China:
- submarinos nucleares - Huludao Shipyard;
- submarinos convencionais - Wuan e Jiangnan Shipyards;
- navios de superfície - Dalian, Hudong, Huangpu, Honghua e Quiuxin
Shipyards.
? Índia:
- submarinos - Magazon Dock; e
- navios de superfície - Magano Dock, Garden Rich, Goa, Hindustan e
Ramta Shipyards.
21
no nicho de embarcações rápidas do tipo catamaran e trimaran para uso
militar, já produzidas pela “Incat of Austrália”, que é uma empresa americana
sediada naquele país. Vale mencionar que uma dessas embarcações com
deslocamento de trezentos e setenta e seis toneladas e velocidade máxima de
quarenta e dois nós, já está sendo usada pela Forças Armadas Australianas
para prover apoio logístico no Timor Leste.
Argentina
Chile
22
influindo, com o conceito de mar presencial, em vasta magnitude, se mantém
tão na retaguarda em indústria naval?
Por outro lado, surgem argumentações de que a produção e o saldo de
exportações chilenas tem chegado a valores expressivos, com transporte
marítimo realizado por navios adquiridos e, em muitos casos, reparados em
estaleiros estrangeiros. 20
Venezuela
Argentina
Chile
20
Argumentação também existente no Brasil.
23
Apesar das suas atividades pesqueiras, a salvação de sua indústria de
construção naval está creditada ao programa de construção naval militar, até
então sendo adiado; e
Venezuela
A expectativa é de país cada vez mais sem frota mercante e sem
indústria naval, o contrário do que Simon Bolívar gostaria de ver.
Argentina
Chile
Peru
Venezuela
Citado aqui apenas por simetria com o tratamento dado ao item
construção naval civil, já que nem mesmo o reparo naval militar chega a ser
expressivo.
21
Segundo os representantes da MB que puderam visitá-lo, transformou-se
num gigantesco paiol.
24
? Argentina - Astillero Rio Santiago (B. Aires, navios de grande porte);
Argentina
Chile
Peru e Venezuela
25
dos FSO22 em FPSO23 (montagem de módulos, os chamados “skids” 24). Estas
encomendas atraíram investidores de Singapura que arrendaram estaleiros no
Rio de Janeiro. Uma nova expansão ocorreu por demanda da PETROBRÁS
que lançou, em 2001, o programa de substituição da frota de navios de apoio
offshore, impondo a construção em estaleiros nacionais, ou seja, uma reserva
de mercado.
Existe a percepção25 de uma estratégia para o desenvolvimento
estruturada em três pilares: contratos da indústria offshore, expansão com
petroleiros e navios para cabotagem e substituição de porta-containers de
bandeira estrangeira, por de bandeira nacional, aqui construídos. A indústria de
navipeças, como elo da cadeia produtiva, foi desmantelada, com a
sobrevivência de umas pouco especializadas; na armação, a
internacionalização patrimonial é praticamente completa. Como exemplo, na
carga geral, a maior empresa é 5 vezes a menor que sua concorrente chilena
ou 25 vezes menor que a empresa líder mundial, mas aqui cabe uma
discussão em particular, para estimular a reflexão, apresentada no parágrafo
seguinte.
As estatísticas relativas ao comércio exterior apontam o fato de que o
Brasil perde, atualmente, ou deixa de ganhar, como se queira interpretar,
cerca de U$ sete bilhões em divisas, devido aos fretes marítimos realizados por
navio de bandeira estrangeira e tal fato é atribuído ao atual estado de
desmantelamento da frota mercante nacional. Considerando que este dito
desmantelamento é efeito, cabe então uma pergunta, para identificar as
possíveis causas: O nosso frete é internacionalmente competitivo ? Se não for,
mesmo que “num estalar de dedos” fosse possível constituir uma frota
mercante, ela não teria seus navios afretados pelo mercado, por falta de
competitividade no preço, e o principal fator apontado pelos armadores como
causador desta baixa competitividade seria o chamado “custo Brasil”,
representado pelos encargos e respectivas alíquotas incidentes sobre o
transporte marítimo no país. Segundo estudo da Fundação Getúlio Vargas 26,
válido ainda para a situação atual, os encargos sociais totalizam, em média,
116,8 %, com números da ordem de 141,5% no transporte marítimo de
contêiners, 119,8 %, na navegação de longo curso e na de cabotagem 95,86%.
A tabela 6, dá uma idéia dos tributos médios incidentes associados à folha de
pagamento, vigentes em 1995, mostrando como não tem havido evolução, pelo
menos significativa, em seus valores, após a Lei n.º 9432/97 que estabeleceu a
abertura do capital das empresas brasileiras de navegação, sem qualquer
restrição. Esta Lei, instituiu um instrumento considerado inovador que é o
Registro Especial Brasileiro para embarcações de bandeira brasileira,
possibilitando a redução da carga fiscal sobre a atividade; A tabela 7 apresenta
os tipos de alíquotas incidentes sobre as empresas de navegação decorrentes
22
Floating Storage Off-Loading.
23
Floating Production and Storage Off-Loading.
24
Conjuntos de produção que processam o petróleo na primeira fase.
25
Percepção é, evidentemente, subjetiva.
26
Jornal A Notícia, Santa Catarina, 02/09/1998.
26
do ICMS 27 e do Fundo da Marinha Mercante (FMM); a tabela 8, estabelece
uma comparação entre os custos médios de operação das empresas de
navegação nacionais e a média internacional, infelizmente ainda referidos a
valores de 1991, por absoluta indisponibilidade atual, já que estes dados não
são disponível, sem custos, na Internet. 28
Sobre tal polêmica, cabe mencionar que, apesar de permanecer ativo o
Fundo da 29 Marinha Mercante (FMM), gerado sobre o “Adicional ao Frete Para
a Renovação do Fundo da Marinha Mercante” (AFRMM), gerado sobre o frete
de importação, os fretes pagos em moeda brasileira representam apenas 3,6%
do total, quando já foi de 32%, na década de 1970. Assim, o FMM é ponto focal
das discussões sobre o desenvolvimento da cadeia produtiva no país.
27
Fonte:
28
Tais dados são comercializados, por exemplo, pela International Transport
Federation.
29
“Fundo da Marinha Mercante”, em vez de “Fundo de Marinha Mercante”,
mais comumente usado, mas em desacordo com o texto da sua Lei de criação.
30
Fonte: Jornal “A Notícia”, Santa Catarina de 02/09/1998 que publica
resultados de estudo encomendado pelo SYNDARMA à Fundação Getúlio
Vargas (FGV).
31
Fonte: Decreto 27427/2000 - Regulamento do ICMS, Artigo 14 do livro 1.
32
Fonte: Lei n.º 9432/97
27
CUSTO DE OPERAÇÃO EM U$/DIA
NO BRASIL MÉDIA INTERNACIONAL
PARCELAS
? Tripulação 2500 a 3000 1700
? Materiais 1.050 750
? Manutenção e reparo 1.200 950
? Seguro 1.000 500
? Administração 500 330
Total 6250 a 7150 4230
? JURONG SHIPYARD INC - Com sede nas Bahamas, que por sua vez é
controlada em 65% do seu capital pelo Synergy Group e 35% pelo Jurong
Pte. Ltd., ambos com sede em Singapura. Tem o controle dos estaleiros
nacionais Ilha (Eisa), antigo Emaq e Mauá Jurong S.A ( 99,93% do seu
capital);
? FELS SETTAL - Uma Sociedade entre a Settal, com sede em São Paulo e
o Grupo Keppel Fels de Singapura. Arrendou o Grupo Ishikawagima do
Brasil e o Verolme (IVI), com estaleiros em Angra dos Reis (Bras Fels e
Ship Repair and Docking, o SR&D) e no Caju (Sermetal) 34;
33
Fonte: Anais do Seminário Nacional sobre a Indústria Naval, agosto de 1991.
34
Segundo a Imprensa a IVI fora antes comprada pela SEQUIP do empresário
Nelson Tanure, que alavanca seus negócios com forte apoio político.
28
? REICON - Controla a Enavi-Renavi, resultado da fusão de duas empresas
de reparos navais ocorridas em 1995. O reparo naval é sua atividade
tradicional. Pertence a um conglomerado familiar do norte do País, cujas
principais empresas são transportadoras de gás (Reicon), transportadoras
de combustíveis (Petro Amazon), turismo (Funtur) e vale-refeição
(Amazoncard);
35
Inclui a Corveta Barroso.
36
Inclui o Submarino Tikuna.
29
Como componentes da indústria de construção naval militar, podemos
dizer que o grupo que já participou de empreendimentos é pequeno, como
abaixo se relaciona, não sendo uma lista exaustiva e, portanto, sujeita a
omissão percebida pelo leitor:
30
ENRN
BNVC
Belém
Belém
Manaus Natal BNN
ESTALEIROS
MILITARES Salvador BNA
BFLA Ladário
AMRJ
AMRJ
Rio de
de Janeiro
Janeiro BACS
BACS
BNRJ
BNRJ
Rio
Grande
Grande ENRG
CONCLUSÕES
31
NOS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS DE GOVERNO ?
32
nossos empresários do setor , estan do fa da da a per manecer somente nas
páginas das monografias.
Uma suposta i mpossib il ida de de se ter fretes compe tit ivos por
parte da combali da ar ma ção nacional, a ponta da por a lguns setores que
vêm examinando o assunto, põe em dúvi da, se de fato, a perda de cer ca
de U$ sete bilhões anuais em divisas, por conta dos fretes transpor tados
por bande ira es trange ira, seria e lim inada sim plesmente pela cria ção, às
expensas dos recursos da União, de uma frota, que não sendo capa z de
com peti r, fi car ia com seus navios imobi li za dos. Neste caso, o problema
somente seria resolv ido , se por estraté gia nacional, a União subsidiasse
os fretes, a exem plo do que já fe z com a Var i g no passado.
Do ponto de vista puramente f inance iro, e bem ao gosto dos
economistas, um exer cício de M atemát ica Finance ira teria que ser fe ito,
conceben do um fluxo de caixa , ca pa z de dete rminar qua l invest imento e
que taxa de retorno de ca pita l deveriam ter luga r para, pe lo menos tornar
próxima de zero, o valor presente37 que, atual mente, é nega tivo. M elhor
esclare cen do, o exer cí cio e qüivale a deter minar, qual o va lor do
investimento ini cia l (Valor presente posit ivo) , seria ne cessário apli car por
um hori zonte tem pora l estabele ci do, 38 para que o “Valor Correspondente
a um Retorno Periódi co Anual, A proxima damente Constante” (R)39, do
investimento, vin cula do ao va lor de Capita l investi do (P) , por meio do
“Fator de Recu peração de Capi tal , em Série Unifor me” (FRC) , fosse,
paulat inamente, redu zin do a per da de divisas ne gat ivas e da or dem atual
dos U$ sete b ilhões anuais men cionados , até torna´- las posit ivas, ou pelo
menos, redu zi-las , de prefe rência próximas de zero. Cabe registrar que
esta des cr i ção correspon de a um mo delo ma temát ico -finan ceiro adota do
neste arti go, po dendo haver outros.
Se o exercício puramente matemát i co, não fo r consi derado fá ci l,
menos fácil ainda poderá ser consi derada a sua a pl i cação práti ca , em
termos de planejamento , gestão e cer te za quanto aos resulta dos,
poden do, por tanto, ser considera do de ris co pol íti co , e os po lít i cos
sabem disso.
Mas, para pelo menos não ser tão pessimista, como a conclusão pode
assim ser julgada, existe, ainda, uma expectativa positiva na área OFFSHORE:
“O país terá condi ções bási cas para a re cupera ção e auto-
sustentação da in dústr ia lo ca l, a penas com a demanda da PETROBRAS,
37
O critério do “valor presente”, utilizado na Matemática Financeira é de larga
utilização na cadeira de Transporte Marítimos, razão pela qual foi aqui
mencionado.
38
Estabelecido, evidentemente, por estratégia de Governo, que imprescindiria
da visão do Estadista, em face do horizonte temporal, muito provavelmente,
superior à duração de um mandato, portanto, fortemente dependente do
desapego político-partidário, não muito comum nas nossas latitudes.
39
As notações P, R, FRC, são consagradas no jargão da Matemática Financeira.
33
se manti do o com promet imento de na cional i za ção e auto-suf i ciên cia
(investimentos de U$3,7 bilhões anuais a tuais e meta de ext ra ção de 1,85
milhões de barr is de petró leo diár ios até 2005) , de pendendo por tanto de
Políti ca Governamental”.
“Do ponto de vista comercial, mesmo que seja uma opinião corrente de que este não é enfoque de
interesse da MB, não podemos esquecer de que ele está, intimamente, vinculado à Estratégia, pois promove a
indústria naval militar do País, o que é visão bem clara do “grupo dos que vendem”. Sob este enfoque, a regra
simples é: quem não constrói para si mesmo, não vende. A regra é clara e auto-explicativa, pois quando um país
dispõe de uma marinha que possui os meios navais, sem construí-los, faz parte do desconfortável grupo dos que
apenas os compram, antípoda do grupo dos que os vendem (o mundo dividido entre os que compram e os que
vendem é uma visão do ponto de vista comercial)4 0 , e acredito que seria melhor, pelo menos, estar no grupo dos que
não compram, sem estar, necessariamente no dos que vendem, isto é, dos que tem auto-suficiência e
independência tecnológica e militar, sem mencionar a de natureza econômica. E ainda mais: Quem apenas constrói,
mas não projeta, também tem pouquíssima chance de vender, não somente por prescindir da aquiescência do
detentor do projeto, para comerciar o produto que nasceu de sua concepção, mesmo que pagando “royalties”, como
também pela dificuldade de convencer o cliente “de que é detentor da tecnologia e qualidade na construção, sem
tê-las no projeto”4 1 , pois as duas atividades estão intimamente vinculadas, como se observa nos tradicionais
vendedores mundiais.
Dos pontos de vista, estratégico puro (propriamente dito), militar e tecnológico, os três muito
interligados, não construir significa dependência e impossibilidade de obter os meios plenamente de acordo com os
requisitos impostos pelas vulnerabilidades4 2 do país ; dos pontos de vista econômico e social, é perder divisas sem
gerar empregos e deixar de estimular a indústria nacional.
Se ao fato de não construir, acrescermos a prática do não projetar, esta última vacuidade acrescentará à
primeira, uma inevitável condição para que a MB continue a estar num estágio de relativa subordinação técnica,
intelectual e econômica, pois nada inova por si próprio e pouco nacionaliza, se condenando à dependência logística,
não podendo especificar e nem executar tão bem a manutenção, pela inexistência da retaguarda técnica de quem
projeta e seleciona os equipamentos, não praticando assim o que se faz nas marinhas mais avançadas.
40
É como a EMGEPRON tem abordado em suas apresentações a público
nacional.
41
A EMBRAER, no setor aeronáutico pode ser tomado como exemplo da
veracidade desta assertiva.
42
Ou das “hipóteses de conflito”, se este for o conceito predominante, que não
é absoluto.
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