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OBSERVATÓRI

SOCIAL
MARÇO, 2010 • #16
PELA GLOBALIZAÇÃO DOS DIREITOS
www.observatoriosocial.org.br
CHINA EM TRANSIÇÃO
As mudanças que
vêm do Oriente

QUAL O MODELO DE
DESENVOLVIMENTO
QUE QUEREMOS?

APOIO:
EXPEDIENTE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 3
Apresentação

M
ahatma Gandhi dizia que culpados e a indenização de vítimas.
devemos ser a transformação Enfim, humanizar condições de
que queremos ver no mundo. trabalho e de vida.
Nada mais apropriado que esta ideia Nesses oito anos, reportagens
para apresentar a edição número 16, publicadas pela revista conquistaram
que inaugura o novo projeto gráfico importantes prêmios, com repercussões
e o novo nome da nossa publicação. positivas para a construção da
A Revista Observatório Social cidadania. Houve, decerto, muitos
“muda de roupa”, mantendo-se fiel interesses contrariados, com reações
aos princípios que motivaram o seu que variaram de cartas de protesto
surgimento em janeiro de 2002. a ameaças à integridade física de
Consolida-se a linha editorial voltada repórteres. Nada de se estranhar em
para a investigação jornalística de temas um país onde a defesa dos direitos
ligados ao mundo do trabalho, aos humanos ainda é vista como aberração
direitos humanos e ao meio ambiente, por alguns segmentos retrógrados.
bem como às atividades de pesquisa O reconhecimento público nos
do Instituto Observatório Social. estimula a aperfeiçoar o trabalho
Ao colocar em foco o direito e comprova que é possível fazer
à dignidade das pessoas, temos jornalismo de qualidade nos
abordado assuntos escassos na movimentos sociais.
cobertura da imprensa hegemônica: Esta edição traz uma série especial
mineração predatória, trabalho de artigos sobre desenvolvimento,
escravo e infantil, discriminação de tema fundamental em ano de eleições.
gênero e de raça, acidentes e doenças Dirigentes sindicais, empresários,
laborais, exploração da mão-de-obra cientistas e ambientalistas, entre
de imigrantes, desmatamento ilegal outros, opinam sobre os rumos
da Amazônia... Quando possível, que o Brasil precisa tomar para
buscamos identificar as cadeias de se desenvolver com justiça e
valor às quais estão vinculadas as sustentabilidade. Também trata de
violações de direitos. Isso contribui mudança a reportagem sobre a China,
tanto para a ação dos sindicatos de país em transição acelerada para se
trabalhadores como das autoridades tornar superpotência, com impactos
policiais e judiciais, e mesmo das globais na vida dos trabalhadores.
entidades empresariais conscientes. A reportagem sobre Diálogo Social
Torna-se mais fácil identificar e a repercussão da denúncia sobre
responsabilidades – que, não raras uma fraude de dimensões amazônicas
vezes, chegam a grandes corporações completam o cardápio.
–, prevenir, pleitear a punição de Boa leitura, boas mudanças!
EXPEDIENTE
OBSERVATÓRI
OBSERVATÓRIO SOCIAL • 5
SOCIAL PELA GLOBALIZAÇÃO DOS DIREITOS
CHINA EM TRANSIÇÃO
As mudanças que
vêm do Oriente

Índice
MARÇO, 2010 • #16 www.observatoriosocial.org.br

QUAL O MODELO DE
DESENVOLVIMENTO
QUE QUEREMOS?
INSTITUTO
FOTO CAPA ©
TATIANA CARDEAL
OBSERVATÓRIO SOCIAL
REVISTA OBSERVATÓRIO SOCIAL
Março de 2010 – N° 16
São Paulo – SP – Brasil
DIRETORIA EXECUTIVA
CUT
Aparecido Donizeti da Silva
6 CHINA EM
TRANSIÇÃO 14DESENVOLVIMENTO
SUSTENTÁVEL 40 DIÁLOGO
SOCIAL 46 ENTREVISTA:
ANTONIO LAMBERTUCCI
Tiragem: 10.000 exemplares • Gráfica BANGRAF Vagner Freitas de Moraes Conheça mais sobre o país Especialistas de diversas A 9a Conferência Pesquisa Representante da
João Antônio Felício que está em rumo acelerado áreas opinam sobre e Ação Sindical abordou Presidência da República
EDITOR Valeir Ertle para se transformar em qual é o modelo de um tema de importância fala sobre a iniciativa
Marques Casara
EDITOR ASSISTENTE CEDEC
potência global – e os desenvolvimento justo e crescente nas negociações para melhorar as práticas
Dauro Veras Maria Inês Barreto impactos dessa mudança ambientalmente correto entre trabalhadores trabalhistas no setor
REDAÇÃO no mundo do trabalho. que o Brasil deve seguir. e empresas. sucroenergético.
André Vendrami, Fernanda Saint’Claire UNITRABALHO
e Paola Bello Carlos Roberto Horta
COLABORAÇÃO
Artur Henrique da Silva Santos, Aparecido DIEESE
Donizeti da Silva, Clemente Ganz Lucio, João Vicente Silva Cayres
João Paulo Veiga, José Antônio Muniz Lopes,
Ladislau Dowbor, Lisa Gunn, Paulo Barreto, CONSELHO DIRETOR
Paulo Skaf, Rafael Georges, Rubens Harry CUT
Born, Sérgio Leitão, Tasso Rezende de Azevedo Rosane da Silva
FOTOGRAFIA Aparecido Donizeti da Silva
Sérgio Vignes e Tatiana Cardeal Denise Motta Dau
ARTE Quintino Marques Severo
Lucia Tavares e Papel Social Comunicação Vagner Freitas de Moraes
EXECUÇÃO Jacy Afonso de Melo
João Antônio Felício
Valeir Ertle

www.papelsocial.com DIEESE
Maria Luzia Feltes
Revista Observatório Social João Vicente Silva Cayres
2003 • Prêmio Esso de Jornalismo, categoria
Informação Científica, Tecnológica e UNITRABALHO
Ecológica. Francisco José Carvalho Mazzeu

47SERGIO NOVAIS
ENTREVISTA:
48 REPERCUSSÕES
DEVASTAÇÃO S/A:
52 NOTAS
Foto da capa e desta página: obras
2006 • Menção Honrosa - Prêmio Jornalístico Silvia Araújo da Cidade dos Jogos Asiáticos de
Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Guangzhou (Cantão), um megacomplexo Parceria nas redes virtuais.
Humanos. CEDEC esportivo com inauguração prevista
2007 • Menção Honrosa - Prêmio Jornalístico Tullo Vigevani para outubro de 2010. O evento será O presidente da ICEM Como as indústrias Universidade Global do
realizado de 12 a 27 de novembro.
Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Maria Inês Barreto para a América Latina madeireiras e autoridades Trabalho. Monitoramento
Humanos. e Caribe fala sobre reagiram à reportagem do Pacto do Trabalho
2008 • Prêmio Especial de Direitos Humanos R. Caetano Pinto, 575 - 4º andar
os reflexos da crise sobre do IOS sobre o Escravo. Nanotecnologia.
da OAB/RS e do Movimento Justiça e Brás - 03041-000 - São Paulo - SP
Direitos Humanos. Tel: (11) 3105-0884 os setores de química, “esquentamento” de Encontro Unilever.
2009 • Finalista no Prêmio Esso de Jornalis- Fax:(11) 3107-0538 energia e mineração. madeira ilegal da Amazônia Trabalho Decente.
mo, categoria Informação Científica, e-mail: observatorio@os.org.br
Tecnológica e Ecológica. www.observatoriosocial.org.br
© FOTO TATIANA CARDEAL
OBSERVATÓRIO SOCIAL • 7
O crescimento sem
precedentes do país
asiático ameaça empregos
dos trabalhadores latino-
americanos e fragiliza
vários setores produtivos,
mas pode também abrir
oportunidades estratégicas.

China
potência em
C
omo os trabalhadores latino-ame-
ricanos devem lidar com o “fe-
nômeno China”? Um seminário
realizado em fevereiro no Rio de Ja-
neiro pela Rede Latino-Americana de
Pesquisa em Empresas Multinacionais
(RedLat)1, da qual faz parte o Instituto
Observatório Social (IOS), colocou a
questão em debate. Na ocasião, a sín-
tese de uma pesquisa inédita da Re-

ascensão
dLat foi apresentada aos participantes2.
O estudo, que será divulgado em abril,
alerta para o risco de desestruturação
de cadeias produtivas e recomenda es-
tratégias sindicais de enfrentamento do
Por Dauro Veras problema. Também observa que podem
Fotos Tatiana Cardeal surgir impactos positivos em setores
como o energético.

Nas páginas seguintes, você tam-


bém encontrará análises de especialistas
em economia, diplomacia e história so-
bre contexto em que o gigante asiático
está se transformando em potência glo-
bal – já é a terceira economia do mundo,
rivalizando com o Japão. Abertura eco-
nômica, em contraste com um sistema
de governo autoritário. Demanda voraz
por petróleo, metais e alimentos. Esfor-
ço exportador que inunda o mercado
com produtos baratos. A geopolítica da
“Grande China” e o relacionamento com
os Estados Unidos. O poderio militar e a
retórica diplomática da ascensão pacífi-
ca. Temas que, direta ou indiretamente,
têm importância crescente para os tra-
balhadores brasileiros.
CHINA
Em Guangzhou, chineses comemoram
o aniversário dos 60 anos da proclamação
OBSERVATÓRIO SOCIAL • 9
da República Popular da China.

os principais produtos brasileiros ven- QUATRO CATEGORIAS China e América Latina:


didos ao país asiático. Bem distinto é O estudo da RedLat classifica a rela- crescimento anual do PIB
o perfil de produtos importados pelo ção econômica dos países latino-ameri- per capita (em %)
Brasil: dispositivos de cristal líquido canos com a China em quatro categorias,
(LCD), filmadoras e máquinas fotográ- conforme a semelhança entre os impac-
10
ficas, telefones celulares, rádios e te- tos produzidos. A categoria A é a dos
levisores, circuitos impressos e outros exportadores de commodities que têm
eletroeletrônicos. parque industrial reduzido, como Chile 8
A expansão chinesa não tem se ca- e Peru. Esses países se beneficiam com
racterizado por grande volume de inves- superávits comerciais puxados por altos 6
timentos nas economias latino-america- preços dos minerais. Os efeitos positivos
nas. No Brasil, eles se concentram nos internos são limitados, por causa da bai- 4
setores de mineração e eletroeletrônico, xa agregação de valor nas cadeias pro-
e em 2008 representavam apenas 0,08% dutivas. Quanto aos efeitos negativos, há 2
dos investimentos externos diretos. Na risco de substituição de produtores na-
Argentina essa fatia no mesmo ano foi cionais em alguns segmentos industriais 0
de 1,77%, concentrado nas indústrias e de redução da margem de lucro, com 1990 - 2002 2003 - 2008
automotivas e de energia elétrica. No impactos sobre o mercado de trabalho.
Equador a participação é maior: 4,65% A categoria B, na qual se enquadram China América Latina
O século em 2008, aplicados em comércio, ener-
gia elétrica e petróleo.
Brasil e Argentina, é a de economias in-
dustriais sem Tratados de Livre Comér-

da Ásia cio (TLC) e exportadoras de commodities.


Em termos macroeconômicos, há risco
de deterioração da balança comercial. A
entrada de produtos chineses pode abrir
Em abril de 2009, a China se tornou 49 bilhões. Na concorrência pelo merca- RELAÇÃO ASSIMÉTRICA “buracos” na estrutura produtiva, espe-
o maior parceiro comercial do Brasil, do mundial, também há sinais de alerta. A abertura econômica iniciada em cialmente no caso brasileiro. Outro efei-
segundo o Ministério do Desenvolvi- Em 1983, as vendas latino-americanas 1978 por Deng Xiaoping é considera- to negativo é o direcionamento de novos
mento, Indústria e Comércio Exterior. foram de quase 6% do total global, e as da o marco da metamorfose radical em projetos globais para a China, por causa
O resultado é histórico, já que os Es- da China, pouco mais de 1%. Em 2006, a curso na China: um país agrário, com da maior competitividade e dinamismo
tados Unidos foram o nosso principal participação da América Latina perma- recursos naturais escassos, de população de seu mercado. Entretanto, investimen-
parceiro nas últimas décadas3. Não se necia estagnada e a chinesa passava de pobre e numerosa, está se reinventando tos de empresas brasileiras na China po-
trata de fenômeno isolado. Segundo a 8% das exportações mundiais. como centro da economia do planeta. dem trazer resultados favoráveis.
Comissão Econômica para a América Essa mudança pode ser compre- Essa abertura foi seletiva e acompanha- Na categoria C estão as economias
Latina (Cepal), neste princípio de sécu- endida, grosso modo, como resultado da de uma política de atração de inves- exportadores de produtos industriais
lo 21 o país asiático já se situa entre os da adoção de estratégias distintas de timentos para reforçar mercado interno. que possuem TLC com os Estados Uni-
cinco primeiros parceiros comerciais desenvolvimento econômico, política A América Latina seguiu o caminho da dos – México e países da América Cen-
de Argentina, Chile, Peru, Venezuela, industrial, inserção externa e ação es- ampla privatização e dos tratados de li- tral. Tem havido forte deslocamento de
Colômbia e México4. tatal. Qualquer tentativa de “explicar” vre comércio. Enquanto a China promo- atividades de multinacionais, que trans-
Entre 1990 e 2008, o comércio entre a China é limitada pela complexidade veu uma mudança estrutural na indús- ferem suas fábricas do México para a
China e América Latina saltou de US$ de sua história. Durante pelo menos tria, assimilando setores intensivos em China. A importação de têxteis e pro-
1,3 bilhão para US$ 73,3 bilhões. Mas as dois milênios ela foi a mais avançada tecnologia, os países latino-americanos dutos de vestuário também é bastante
trocas são desiguais. Enquanto os países civilização do mundo, até a metade do apostaram em “maquiladoras” e em ex- prejudicial aos mexicanos. Por fim, a
latino-americanos fornecem produtos século 19, quando perdeu a revolução portações de commodities. categoria D é dos pequenos exportado-
primários, a China vende bens industria- industrial. Guerras civis e saques de A China tem grande necessidade Lavoura nos arredores
res de commodities e com reduzida base
lizados. E não só quinquilharias de ca- potências estrangeiras a mantiveram de minérios e energia para mover suas de Guilin, na província industrial, como Equador e Peru. Esses
melô: cada vez mais produtos de média no atraso até a década de 1950, quando indústrias, e voracidade por alimentos de Guanxi, na região países também sofrem impacto nos se-
e alta tecnologia. Em 2008, o déficit dos uma revolução comunista mudou seu para sua população de 1,3 bilhão de sudoeste da China. tores têxtil e de vestuário. Um possível
países latino-americanos – sem contar o rumo. O assunto é vasto, mas vale ten- habitantes – a maior do planeta, e em efeito positivo é a realização de inves-
México – com a China foi de US$ 17 tar decifrar o que se passou nas últimas rápida expansão de poder aquisitivo. timentos chineses em infra-estrutura,
bilhões. Se incluído o México, são US$ décadas e o que pode ocorrer. Minério de ferro, soja e petróleo são vinculados aos setores exportadores.
CHINA
Loja de sapatos em Guangzhou (Cantão).
O governo brasileiro criou sobretaxa a calçados
11
OBSERVATÓRIO SOCIAL •

chineses para proteger a indústria nacional.

CRISE É OPORTUNIDADE deslocamento para a Ásia do centro usina e surgem, de empresas nacionais
O economista Antônio Barros de de gravidade do crescimento mundial, e multinacionais, projetos extraordina-
Castro, assessor especial da presidên- observa Barros de Castro: “Concre- riamente interessantes de álcool-quími-
cia do Banco Nacional de Desenvol- tamente: a Espanha está explorando ca”, prossegue. “A frente etanol tende a
vimento Econômico e Social (BNDES), oportunidades de investimento em in- arrastar todo um subsistema industrial
compara o impacto da ascensão chi- fra-estrutura na América Latina – que ligado à bioindústria, que aponta para
nesa ao que ocorreu quando os Esta- vêm sendo nitidamente ampliadas por o futuro em escala mundial”.7
dos Unidos substituíram a Inglaterra pressões de demanda procedentes, di-
como principal centro capitalista do reta ou indiretamente, da China”, afir- DIPLOMACIA DA PAZ
planeta. Ele apresenta dois dados-sín- ma o economista.6 Para compreender melhor a as-
tese: “A economia chinesa, que con- Para o economista, caberia ao Bra- censão chinesa, é útil conhecer certos
tribuiu com metade do crescimento da sil definir frentes estratégicas de longo aspectos da história recente do país. A
demanda de cobre e alumínio entre prazo com amplos campos de especiali- República Popular da China teve sérios
2002 e 2005, foi também responsável, zação: “Podemos, como fez a Noruega, conflitos fronteiriços após sua funda-
no período, por 29% do crescimento ter uma indústria voltada ao petróleo, ção como estado socialista em 1949
da economia mundial”.5 que junto com o gás, corresponde a – inclusive choques militares com a
Ao observar o “fenômeno China”, 2,5% do PIB [Produto Interno Bruto] ex-União Soviética, a Índia e o Viet-
é importante ter em mente que o resul- industrial, que é 24% do PIB total”, diz. nã. Esses conflitos foram, em grande
tado das mudanças não está predeter- A segunda frente estratégica, para ele, parte, herança histórica de expansões
minado. Conforme as escolhas feitas, é o etanol: “Já está havendo a explora- imperialistas realizadas por potên-
é possível inclusive tirar proveito do ção da eletricidade como subproduto da cias européias, e também reflexos da

Porto de Guangzhou,
terceiro maior centro
DANO ÀS CADEIAS PRODUTIVAS de defesa comercial, política industrial suas negociações com a China para urbano da China e um
A pesquisa da RedLat sobre a ex- e tecnológica e de reconversão pro- além do mundo empresarial; e uma am- dos seus mais importantes
polos industriais
pansão da presença chinesa na Améri- dutiva. Ainda assim, existem vários pla discussão nacional – tripartite – das e comerciais. A cidade
ca Latina identifica um grande risco de instrumentos para enfrentar a compe- coordenadas do desenvolvimento, num realiza duas vezes
dano às cadeias produtivas de máqui- tição do país asiático: câmbio, juros, contexto de crescente dependência da por ano uma grande
nas, eletroeletrônicos, têxteis, vestuário políticas industriais e tecnológicas, de economia chinesa. Outra possível frente feira de exportação
e importação.
e calçados. Esses impactos negativos defesa comercial e os próprios acordos de ação sindical é o estímulo a inicia-
podem levar à eliminação e à infor- de integração regional. tivas que levem à maior complemen-
malização dos empregos. Tendem a ser taridade intra-industrial no Mercosul,
agravados num cenário de enfraqueci- PROPOSTAS na Comunidade Andina e nos vários
Saldo Comercial dos Países Latino-Americanos
mento da complementaridade entre as O estudo da RedLat propõe algu- acordos comerciais assinados entre os
com a China – 2008 – Em US$ bilhões
economias latino-americanas. Também mas frentes de ação sindical – tanto países latino-americanos. 5
há risco de precarização sindical, tra- nacional quanto regionalmente articu- Informação qualificada e atualiza-
Países
balhista e ambiental nos setores onde lada – para o enfrentamento do “fenô- da é um ingrediente importante para -
existem investimentos das empresas meno China”. Boa parte delas demanda dar subsídio às ações. Uma das propos-
A B C D E F G H I J K
5
chinesas, especialmente nos ramos de o envolvimento de outros atores sociais tas do estudo é o monitoramente sin- A Peru F Cuba
mineração e energia. além das organizações dos trabalhado- dical do impacto sobre o emprego nos 10
Há tendência de que o Brasil perca res. É o caso do questionamento de ne- setores mais afetados pelas importações
B Chile G Equador
cada vez mais espaço para os produtos gociações internacionais que reduzam chinesas. Também se considera vital 15 C Costa H Brasil
chineses em seus mercados tradicio- a margem de manobra para a política acompanhar o cumprimento dos direi-
20 Rica
nais. Entretanto, os riscos não decor- industrial dos países, como as Negocia- tos sociais e trabalhistas das empresas I Venezuela
rem essencialmente da mão-de-obra ções de Acesso a Mercados para Bens chinesas com atuação nos países lati- 25
barata chinesa, pondera o estudo, mas Não-Agrícolas (Nama) na Organização no-americanos. O estudo recomenda o
D Argentina J Colômbia
da ineficácia dos projetos nacionais Mundial do Comércio (OMC). intercâmbio regional das experiências 30 E Uruguai K México
e regionais para enfrentar a pressão Também se sugere a pressão sobre sindicais frente à expansão chinesa, de
competitiva. Faltam ações integradas os governos nacionais para que abram preferência em nível setorial. 35
CHINA OBSERVATÓRIO SOCIAL • 13
Rio das Pérolas, em Guangzhou. Turistas fazem
passeios noturnos de barco para admirar a
profusão de cores nas pontes e prédios iluminados.
9 ,0

8 ,0 1
A RedLat é formada por institutos de pesquisa de
Participação nas Exportações Mundiais
sete países: Cilas (México), Cenda (Chile), ENS
7 ,0
China e América Latina (em %)
(Colômbia), Plades (Peru), PIT-CNT (Uruguai),
6 ,0
CUT Chile, CUT Colômbia, Instituto Cuesta Duarte
5 ,0
China América Latina (Uruguai), CTA (Argentina), Lasos/CEFS (Argentina),
4 ,0 Confederação Sindical das Américas, CUT Brasil e
9
Instituto Observatório Social (Brasil).
3 ,0 8 2
A Corporação para o Desenvolvimento da Produção e
2 ,0 7 o Meio Ambiente Laboral (IFA), do Equador, participou
1 ,0 6 como convidada da RedLat. O estudo é apoiado pela
0 ,0
5 central sindical holandesa FNV.
4
3
China se torna principal parceiro comercial do Brasil.
1983 1993 2003 2006
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
3
Exterior, 4 de maio de 2009. http://www.mdic.
L a ti n A m e r i c a C h in a 2 gov.br
1 4
ANTUNES, Claudia. China amplia comércio com a
0 AL e compete com o Brasil. Folha de S. Paulo, 4 de
1983 1993 2003 2006 outubro de 2009.
5
World Economic Outlook, Fundo Monetário Interna-
cional, setembro de 2006. Dados citados por A. B.
Castro no Seminário Interinstitucional Globalização,
Governança e desenvolvimento. Da semi-estagnação
“Guerra Fria”. A partir dos anos 80, a uma das economias mais dinâmicas da DESAFIOS ao crescimento num mercado sino-cêntrico. 2007.
China entrou em uma etapa de coe- atualidade. Outra razão da influência A adoção de uma “economia mis- 6
CASTRO, A. B. “No Espelho da China”. In: Luiz
xistência pacífica com seus vizinhos. da China é o fato de ser um dos cinco ta” pela China a partir do final dos anos Carlos Bresser Pereira. (Org.). Desenvolvimento Hoje
Influíram para isso a desintegração da membros permanentes do Conselho de 1970 alavancou possivelmente a maior : Editor Fundação Getúlio Vargas, 2008.
União Soviética, a queda dos regimes Segurança da Organização das Nações erradicação de pobreza já registrada na 7
DANTAS, Fernando. Brasil precisa de frentes
comunistas da Europa Oriental e as Unidas (ONU), e de fazer parte do res- História. Taxas de crescimento continu- estratégicas para encarar a China. Entrevista com
mudanças políticas ocorridas com a trito clube de países que têm armas adas de 8% a 10% ao ano têm contribu- A. B. Castro. O Estado de São Paulo, 30 de março
morte do líder Mao Zedong, em 19768. nucleares. ído de forma decisiva para isso. Entre de 2008.
A exceção a esse panorama de relativa Contudo, a China tem feito esfor- 1990 e 2005, a proporção de chineses
8
ROCH, Eugenio Anguiano. “China como potencia
tranquilidde é a questão do status de ço diplomático ativo para enfatizar que viviam com menos de um dólar mundial: presente y futuro”. In CORNEJO, Romer
Taiwan, um dos resquícios da confron- a retórica de sua “ascensão pacífica” por dia caiu de 60% para 16%, segun- (coord.). China: radiografía de una potencia en
tação pós-Segunda Guerra Mundial como potência global. Para isso, vem do a ONU (no mesmo período, o índice ascenso. El Colegio de México, 2008.
com os Estados Unidos.9 construindo uma extensa rede de rela- brasileiro saiu de 15% para 7,8%).11
9
A República Popular da China, estabelecida no
continente, e a República da China, assentada na
A estabilidade favoreceu uma ções bilaterais com países ou blocos de Tal ritmo de crescimento traz grandes
ilha da Taiwan, rivalizam desde 1949, quando o
crescente influência chinesa sobre diversas regiões. “As relações sino-es- obstáculos de médio e longo prazo.
Partido Comunista proclamou sua vitória sobre o
seus vizinhos nos campos político, tadunidenses entraram em uma etapa Entre as consequências das reformas
Guomindang como único governo legítimo. Ambas
diplomático, econômico e, até certo de amadurecimento quanto ao prag- chinesas estão as crescentes disparida- Universidade de Boston (EUA) e espe- De cada cinco habitantes do mundo,
reivindicam a unidade total do país sob regimes
ponto, cultural. Esses países próximos matismo”, avalia Eugenio Anguiano des geográficas, a desigualdade social, cialista em China: “O paradoxo da era um é chinês. São 1,3 bilhão de pessoas
com poder de compra crescente bem diferentes.
têm estreita interdependência econô- Roch, ex-embaixador do México na o aumento de exigências e expectati- pós-Mao é que a economia dinâmica e e novas necessidades de consumo 10
Hong Kong deixou de ser colônia britânica em julho
mica com a China e com a comuni- China. “Apesar de não estarem resolvi- vas por parte da população, protestos em expansão enfraqueceu a autoridade de 1997 e foi reincorporada à China.
dade internacional. É o caso do Japão, das diferenças fundamentais como as e grandes danos ecológicos.12 do Partido Comunista”, diz. “A contí- próspera e começar a exigir maiores 11
Brasil e China discutem combate à pobreza.
segunda economia do mundo (quase relativas a direitos humanos e a venda Esses fatores têm o potencial para nua atenção dispensada à economia de direitos”. Goldman ressalva que o de- PrimaPagina/PNUD, 19 de agosto de 2009. http://
suplantada pela chinesa em 2009); da de tecnologia avançada de uso dual provocar levantes sociais e instabilida- mercado e a política de portas abertas senvolvimento de instituições políticas www.pnud.org.br
primeira geração dos chamados “ti- [civil e militar], esse amadurecimento de política que poderiam minar o su- podem, com o tempo, gerar uma socie- apropriadas, tais como eleições locais, 12
GOLDMAN, Merle. “A China no início do século 21”.
gres asiáticos” – Coréia do Sul, Hong permite a coexistência utilitária e pa- cesso econômico chinês, observa Mer- dade mais livre e democrática, à me- ainda está em estágio embrionário e Em China – uma nova história. FAIRBANK, John
Kong,10 Cingapura e Taiwan; e da Índia, cífica entre os dois países”. le Goldman, professora de História da dida que a população se tornar mais poderia facilmente ser suspenso. King, GOLDMAN, M. 3ª. edição, L&PM, 2008.
ANÁLISE 15
OBSERVATÓRIO SOCIAL •

Articulistas
16
Propostas para o
ARTUR HENRIQUE DA SILVA SANTOS
Presidente da Central Única
dos Trabalhadores (CUT)

18 APARECIDO DONIZETI DA SILVA

desenvolvimento
Presidente do Instituto
Observatório Social (IOS)

20 CLEMENTE GANZ LUCIO


Diretor Técnico do Departamento

sustentável
Intersindical de Estatística e Estudos
Socioeconômicos (Dieese)

22 JOÃO PAULO VEIGA


Professor do Departamento de Ciência

Q
Política da Universidade de São Paulo (USP)
Líderes sindicais, cientistas ual é o modelo ideal de desenvolvi-
políticos, empresários, ativistas
ambientais, pesquisadores e
mento para o Brasil? A Revista Obser-
vatório Social fez essa pergunta a 13
especialistas em diversas áreas de conheci-
24 JOSÉ ANTÔNIO MUNIZ LOPES
Presidente da Eletrobrás

outros especialistas opinam sobre


os rumos a tomar para que o
mento: líderes sindicais, economistas, cien-
tistas políticos, ativistas de defesa do con-
sumidor e do meio ambiente, pesquisadores
os do trabalho, e na crítica ao predomínio
dos princípios mercantis”, diz o presidente
26 LADISLAU DOWBOR
Professor titular da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo (PUC-SP)
Brasil cresça com justiça social. e empresários. Os artigos das próximas pá- da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
ginas apresentam ideias para o país evoluir
de maneira sustentável e enfrentar o grave
problema da desigualdade. Não são receitas
Artur Henrique da Silva Santos. As pala-
vras do presidente do Instituto Observa-
tório Social (IOS), Aparecido Donizeti da
28 LISA GUNN
Coordenadora executiva do Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec)
prontas, evidentemente, mas subsídios im- Silva, vão no mesmo sentido: “Nossa luta
portantes para um amplo debate nacional,
que ganha ainda mais relevância neste ano
de eleições. Na pauta, entre outros temas, a
é por um desenvolvimento que priorize a
vida, todas as formas de vida, e o espírito
de solidariedade”, diz.
30 PAULO BARRETO
Pesquisador sênior do Instituto do Homem
e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
consolidação das conquistas socioeconômi- O diretor técnico do Dieese, Clemente
cas recentes, a disseminação da educação, o
enfrentamento da miséria, da concentração
de renda e de sérias questões ambientais.
Ganz Lúcio, assinala que o país está diante
de uma oportunidade ímpar: “O Brasil é um
caso histórico e poderá ser um líder mun-
32 PAULO SKAF
Presidente da Federação e do Centro das
Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp/
“Defendemos uma proposta de reorga- dial, capaz de revelar que, no espaço da de- Ciesp)
nização do Estado brasileiro segundo prin- mocracia, é possível fazer profundas trans-
cípios democráticos, assentada na garantia
e na ampliação de direitos, especialmente
formações sociais assentadas em uma base
econômica sustentável, rompendo com as
iniquidades”. O enfrentamento da desigual-
34 RUBENS HARRY BORN
Coordenador adjunto do Vitae Civilis – Instituto
para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz
dade é vital para que o Brasil de desenvol-
va, reitera o economista Ladislau Dowbor:
“Democratização econômica, construção da
economia sustentável, acesso ao conheci-
36 SÉRGIO LEITÃO E RAFAEL GEORGES
Diretor e coordenador de Campanhas do
Greenpeace no Brasil
mento, gestão descentralizada e participati-
va, e racionalização do processo de escolha
dos políticos são os eixos essenciais para
viabilizar a construção do novo modelo”.
38 TASSO REZENDE DE AZEVEDO
Engenheiro florestal, consultor para
florestas e clima
ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 17
Perspectivas para a
sustentabilidade

A
o longo de anos, o processo de venham a agravar a fome e o aqueci- crítica ao predomínio dos princípios amento ambiental, mobilidade urbana política urbana, mercado de trabalho
globalização, sob hegemonia do mento global do planeta. E, também, mercantis, para reverter a lógica pri- e transporte público), assim como pro- e regulação, e igualdade de oportuni-
capital financeiro, fez com que solucione aspectos equivocados dos vatista neoliberal de sucateamento e gramas emergenciais focados naqueles dades; culminando na Plataforma da
os Estados nacionais, dentre eles o Bra- modelos de desenvolvimento, alta- desmonte do Estado, e na constituição que estão à margem do trabalho e sub- Classe Trabalhadora para 2010.
sil, perdessem, progressivamente, sua mente poluidores, hoje adotados por de uma esfera pública cada vez mais metidos à miséria extrema. Mas esses Reafirmamos a atualidade de um
capacidade de gerar, controlar e exe- uma parcela razoável de países desen- estruturada por processos de democra- programas devem ser combinados com projeto alternativo de sociedade, cal-
cutar uma série de políticas de suporte volvidos ou em desenvolvimento e até cia direta e participativa. Isto implica instrumentos de inclusão social. Polí- cado na centralidade do trabalho, da
ao desenvolvimento econômico, de in- mesmo mudanças de paradigmas. a constituição de um Estado forte, com ticas e programas sociais socialmente democracia e da soberania. Por isso,
clusão social com a geração de empre- Essa crise atual permite que ques- capacidade de investimentos em polí- justos e ambientalmente sustentáveis. a necessidade de repensar o paradig-
go e renda e valorização do trabalho. tionemos com mais intensidade os ticas públicas voltadas para o atendi- Para isso, no âmbito da Jornada ma energético produtivo, enfrentar o
Suas consequências mais desastrosas pilares da dominação capitalista. Sua mento dos interesses e demandas da pelo Desenvolvimento, realizaremos desafio da desigualdade, dinamizar
são: desestruturação da nossa econo- superação deve resultar da construção maioria da população nos campos da um Ciclo de Debates sobre temas que a economia pela inclusão produtiva,
mia, fragilização do poder do Estado de um modelo alternativo, democráti- educação, da saúde e da proteção so- correspondem às questões essenciais capitalizar o potencial do desenvolvi-
e desregulamentação do nosso merca- co e popular com horizontes transitó- cial; fomentando a geração de trabalho para a conformação de um projeto de mento local, organizar instrumentos
do de trabalho. A retomada do papel rios para a sociedade socialista. É nesse decente e ampliando o poder de compra desenvolvimento para o Brasil sob a de regulação financeira. O Estado, o
ativo do Estado para a promoção do sentido que se localizam os projetos de por meio do estímulo à produção, junto ótica da classe trabalhadora, a exem- desenvolvimento e a organização so-
crescimento econômico é fundamen- Estado e de desenvolvimento defendi- com a ampliação dos direitos dos tra- plo: política internacional, política cial que defendemos fazem parte do
tal e significa reorientação da política dos por nós, que são antagônicos aos balhadores e trabalhadoras. Fortalecer agrícola e agrária, sistema financeiro e projeto democrático e popular com
econômica, das políticas sociais e da atuais, hegemonizados pelo capital. o Estado e ampliar os espaços de par- tributário, política cambial política in- horizontes transitórios para a socieda-
estruturação do mercado de trabalho. Por isso, a CUT assumiu a estra- ticipação social nas diversas instâncias dustrial, democracia e participação po- de socialista.
Mais recentemente, a crise econô- tégia de disputar os rumos do desen- decisórias é fundamental para que seja pular, comunicação, educação, saúde,
mica e financeira internacional, que
levou dezenas de países à bancarrota,
teve início no centro do capitalismo
volvimento nacional. Trata-se de uma
disputa de hegemonia com o capital
financeiro, os grandes meios de comu-
implementado um projeto legítimo de
desenvolvimento para o país.
Este projeto, portanto, deve conti-
energia, saneamento e meio ambiente,
* Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT).

mundial. Ela possui diversas dimen- nicação e os setores neoliberais orga- nuar destacando a garantia de políticas
sões: financeira, econômica, social, nizados que dão base política para o sociais universais; investimento massi-
alimentar, energética, ambiental, po- bloqueio às mudanças. Disputar um vo em reforma agrária; políticas edu- Defendemos uma proposta de
lítica e ideológica. Expressa, também, modelo de desenvolvimento que tenha cacionais; políticas de proteção social
uma crise do modelo global de produ- como elemento decisivo a participação para estruturação do mercado de tra- reorganização do Estado segundo
ção e consumo de alimentos que colo- popular nas decisões políticas; com balho, das relações de trabalho e para
ca em questão a segurança alimentar sustentabilidade econômica, social e a distribuição de renda; a bioenergia, princípios democráticos;
dos povos e compromete as iniciativas ambiental, distribuição de renda e va- o petróleo e as questões ambientais e
de inclusão social de parcelas signifi- lorização do trabalho dos trabalhadores a garantia de que os empregos gerados assentada na garantia
cativas das populações carentes.
Portanto, coloca-se como neces-
e trabalhadoras do campo e da cidade.
Defendemos uma proposta de reor-
com o crescimento econômico sejam
adequados ao Trabalho Decente, com e na ampliação de
ARTUR HENRIQUE sária uma vigorosa alteração na ma- ganização do Estado brasileiro segun- contrapartidas sociais, entre outros.
direitos – especialmente
DA SILVA SANTOS
* triz energética mundial, possibilitando
que esta contemple fontes renováveis
do princípios democráticos; assentada
na garantia e na ampliação de direitos
Defendemos a ampliação dos in-
vestimentos sociais em infraestrutura
os do trabalho.
e não poluentes de energia, que não – especialmente os do trabalho -, na urbana e rural (habitação popular, sane-
© FOTO DINO SANTOS
ANÁLISE 19
OBSERVATÓRIO SOCIAL •

As lições da crise e os
anseios por renovação Nossa luta
é por um
desenvolvimento
que priorize
todas as formas
O
mundo nos últimos duzentos industrialização, os meios de trans- que vivemos hoje uma crise mais pro- O desenvolvimento econômico sus-
anos passou por modificações portes e, por fim, produziu grandes funda, civilizacional. O modelo de de- tentável e socialmente justo parte de
rápidas, profundas e radicais. A inovações tecnológicas, represen- senvolvimento econômico resultante uma relação solidária com o nosso de vida e o espírito
ascensão do capitalismo e a revolução
industrial transformaram e acelera-
tadas mais emblematicamente pela
internet, com a consequente redu-
do sistema capitalista caminha para
um beco sem saída. Já as alternati-
próximo, com o meio ambiente e com
a Terra. Só assim pode-se entender que de solidariedade,
ram o modo de produção. A nascente
indústria sugava o sangue, o suor, o
ção de tempo, de espaço e o rompi-
mento das fronteiras entre os países.
vas socialistas tradicionais acabaram
ruindo na década de 80, sem apre-
recursos naturais são limitados, que a
natureza não é para ser subjugada e ao invés da
sonho e a vida de homens, mulheres
e crianças. Todos escravizados à ne-
Vivemos na era da simultaneidade
e da instantaneidade, para atender
sentar caminhos diferentes de desen-
volvimento. Isso nos obriga a buscar
que é preciso respeitar as mais diver-
sas manifestações do ser vivo. Estas
individualidade
cessidade de produção, de geração de
mais valia, de lucro.
assim o ritmo cada vez mais célere
do sistema. Predador por essência, o
novos rumos urgentemente.
A crise econômica mostrou que
reflexões, entretanto, não podem dei-
xar de lado questões candentes e ver-
exacerbada,
O mecanismo perverso de acumu-
lação de riqueza nas garras de poucos
capitalismo não poupou o meio am-
biente. Primeiramente, na Europa e
o gigantesco império estadunidense
não está tão sólido assim. Aprende-
gonhosas para a humanidade, como os
milhões de excluídos, legiões inteiras
do espírito do
à custa de muitos desencadeou revol-
tas, protestos, lutas e produção teó-
na América do Norte, depois no resto
do mundo, florestas inteiras foram e
mos a lição de que tudo o que é sólido
desmancha no ar. Há uma nova men-
de seres relegados à fome, à miséria e
à falta de perspectiva.
salve-se quem
rica. Karl Marx certamente foi quem
melhor desnudou esse mecanismo de
continuam a ser devastadas.
Hoje, enxames de automóveis
talidade entre as pessoas, um cansa-
ço profundo desse sistema injusto,
Propomos um desenvolvimento
que não seja refém da lógica do mer-
puder.
exploração, influenciando a maioria tomam conta das ruas, chaminés in- um anseio por renovação. De minha cado. Nós nos pautamos por uma pers-
dos movimentos e lutas da classe tra- dustriais vomitam fumaça. As cidades parte, ainda mantenho uma viva es- pectiva de desenvolvimento democrá-
balhadora. continuam a inchar, com gente se es- perança. Governos, sociedade, movi- tico, com a participação na riqueza
Mobilizações, revoltas e revolu- premendo, muitas vezes, em habita- mentos sociais e sindicais já colocam social e na distribuição e no controle
ções fizeram com que o capitalismo, ções precárias, sem saneamento. En- em sua pauta a necessidade do “de- sobre os recursos, entre os quais, os
por necessidade de sobrevivência, rea- quanto isso, a mecanização predomina senvolvimento sustentável”, embora provenientes da natureza. Estamos
lizasse reformas e concessões, de modo nas áreas rurais, substituindo a mão- existam diferenças de entendimento diante de uma grande questão política
a disfarçar sua verdadeira e cruel face. de-obra humana. A terra fica cada vez em relação a isso. e numa encruzilhada da humanidade.
Essas reformas resultaram na criação mais concentrada, produtos químicos Cabe a nós, militantes sociais, te- Há chance de mudar. O que hoje existe
de direitos e conquistas sociais para os são usados para combater as pragas óricos progressistas, defensores de um não é o definitivo. Vamos então lutar
trabalhadores, embora a raiz do siste- nas plantações, sem avaliar os efeitos mundo justo e humano, fazer a liga- por essas mudanças!
ma ainda se baseie na exploração do na saúde humana, e alterações genéti- ção política entre o desenvolvimento
trabalho. O capitalismo, por sua dinâ-
mica própria, necessita de expansão e
de acumulação. Assim criou uma so-
cas são feitas em legumes, frutas etc.
A prioridade é a produção em larga
escala, a redução de eventuais perdas
social justo e sustentável e uma nova
forma de sociedade, que não seja ba-
seada na exploração. Nossa luta é
* Presidente do Instituto Observatório Social.

ciedade voltada para o consumo de- e a geração de lucros às grandes cor- por um desenvolvimento que priorize
senfreado, utilizando-se de meios de porações desse setor. a vida, todas as formas de vida, e o
comunicação eficientes, com a função Essa é, portanto, a crônica de uma espírito de solidariedade. Defendemos
APARECIDO de fabricar necessidades artificiais e tragédia anunciada. A recente crise uma visão mais coletiva da socieda-

*
DONIZETI DA SILVA vender essas necessidades.
Para alimentar essa engrenagem,
econômica global mostrou o que a
maioria já sabia, mas que alguns ten-
de, ao invés da individualidade exa-
cerbada, do egoísmo, do espírito do
o sistema expandiu radicalmente a tavam – e ainda tentam – esconder: salve-se quem puder.
© FOTO PAOLLA BELLO
ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 21
A retomada do conceito
de desenvolvimento

V
ive-se no Brasil um momen- No entanto, existem inúmeros casos em habitacional, de saneamento, de viabili- O Homem que emergirá desse ciclo
to muito especial, pois há uma que o aumento da riqueza e da renda dade de mobilidade urbana, entre tantos deverá ter novas alternativas culturais
oportunidade real de um ciclo agravou as desigualdades econômicas, outros. Há no que investir para se cons- geradas pela elevação do nível de es-
longo de crescimento. De 2004 a 2008, sociais, culturais e políticas, ou seja, truir um novo país do ponto de vista da colaridade e da qualidade da educação.
o país experimentou um ciclo inédito não gerou desenvolvimento. sua base material. Há um espaço enorme Assim ele participa, como indivíduo e
que combinou crescimento econômi- Não cabe, neste breve artigo, re- para a consolidação dos direitos sociais como nação, de um país que promo-
co, baixas taxas de inflação e aumento cuperar a história teórica e política no campo da educação, da saúde, da se- ve um sistema de seguridade social
do investimento na frente do consumo do conceito de desenvolvimento. Mas guridade, da cultura etc. universal e que anima e incentiva a
das famílias. Este ciclo virtuoso este- é possível assinalar que o crescimen- Estamos diante de uma oportuni- diversidade como um valor universal. O Brasil é um
ve assentado na demanda interna so- to econômico é uma consequência da dade ímpar de fazer do enfrentamento O Brasil é um caso histórico e poderá
mada e em uma boa performance no forma como se desenvolve a relação dessas mazelas um novo ciclo ou um ser um líder mundial, capaz de revelar caso histórico
mercado externo. O fortalecimento do entre a produção realizada por meio novo movimento de expansão econô- que, no espaço da democracia, é pos-
mercado interno do país foi promo- do trabalho e da instituição da pro- mica. Mas é preciso ter claro que se sível fazer profundas transformações e poderá ser um
vido pela expansão do emprego, pelo
acesso de consumidores assalariados
priedade privada. Por sua vez, o de-
senvolvimento é a intenção política
trata de uma tarefa e também de um
desafio assegurar que o desenvolvi-
sociais assentadas em uma base eco-
nômica sustentável, rompendo com as líder mundial,
ao crédito consignado, pela política de
valorização do salário mínimo e das
materializada na distribuição da ri-
queza e da renda, de maneira que a
mento esteja plenamente contido nesse
novo ciclo de crescimento. A intenção
desigualdades e iniquidades.
A expansão industrial com uma capaz de revelar
aposentadorias, pelas políticas sociais
e, em especial, por aquelas associa-
apropriação privada passa a ser rela-
tivizada pelo interesse público e me-
de equidade que propiciará a definição
das estratégias distributivas já deve
estratégia de agregação crescente de
inovação, tecnologia e valor em seto-
que, no espaço
das à transferência de renda. O país
mudou a partir dos mais pobres, que
diada pelo Estado. Retomar a noção
de desenvolvimento é politizar a pro-
estar embutida no movimento de ex-
pansão econômica, de tal maneira que
res e cadeias produtivas; a ampliação
do setor de serviços e comércio na
da democracia,
ganharam cidadania econômica pelo
emprego e pelo acesso à renda.
dução econômica, colocando o Estado
como agente central da relação histó-
sejam novos o Homem e o ambiente
que sairão desse ciclo.
mesma perspectiva, em um mercado de
trabalho e de consumo que se fortalece
é possível fazer
A crise internacional chegou ao
Brasil nos últimos meses de 2008, ini-
rica entre produção e distribuição da
riqueza e da renda. Politizar é afirmar
O ambiente deverá ser ecologica-
mente sustentável, de forma que todas
pela ampliação da renda, deverão es-
tar assentadas na base política de um
profundas
cialmente com um forte impacto. Mas
a reação foi rápida: o Brasil entrou por
que liberdade e igualdade compõem
dimensões estruturantes do projeto de
as dimensões plenas, preservadas, re-
cuperadas e fortalecidas de vida sau-
projeto de desenvolvimento. Trata-se
de uma tarefa essencialmente política
mudanças sociais
último na crise e foi o primeiro a sair. uma determinada sociedade. dável constituam-se em bem econô- que, caso seja feita de forma adequada assentadas
Já estamos em pleno ciclo de retoma- O Brasil tem a oportunidade de re- mico de interesse público inalienável. e ousada, poderá criar novos paradig-
da do crescimento econômico. O saldo colocar a perspectiva do crescimento Todo o investimento que se realizará mas que mostrarão para o mundo, em em uma base
da crise é uma oportunidade inédita de econômico, capaz de fortalecer a diver- deverá ter como eixo estruturante a especial para os países das Américas,
colocar as idéias neoliberais no lugar sidade das cadeias produtivas que com- intenção de elevar a qualidade de vida África e leste europeu, as possibilida- econômica
de onde jamais deveriam ter saído. põem seu vasto parque industrial e que da população que vive e viverá naque- des da relação entre crescimento, de-
Lentamente vem sendo recuperada possam ser territorialmente descentra- le território. O investimento precisará senvolvimento e democracia. sustentável.
a noção de que crescimento econômico lizadas. Há um enorme déficit em ter- promover a construção do espaço ur-
CLEMENTE
*
e desenvolvimento não são sinônimos. mos de infraestrutura para dar suporte bano ou rural que capaz de estabelecer

*
Sociólogo, Diretor Técnico do DIEESE, membro do CDES
GANZ LÚCIO A experiência histórica revela que a so- a este crescimento – indústria de base, um padrão de vida que cresça a partir – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, do Obser-
ciedade moderna procura criar proces- malha de transportes, matriz energética da distribuição equitativa da renda e vatório da Equidade e do Conselho de Administração do CGEE
sos de incremento econômico crescente. etc. Existem, ainda, déficits tais como: da riqueza geradas pelo investimento. – Centro de Gestão e Estudos Estratégicos.
© FOTO DIVULGAÇÃO
ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 23
A mudança climática
em marcha forçada

A
o contrário do que sugere o ciclo casos, são os pobres, os mais vulnerá- tar novas tecnologias que promovam a
político internacional onde os veis, que sofrerão os efeitos das mu- redução dos gases de efeito estufa.
governos, através de organiza- danças climáticas. A segunda característica é a de que
ções internacionais, firmam compro- Diante do maior desafio da hu- a mudança climática aparece como um
missos que depois são implementados
por cada país, a fase atual das negocia-
manidade em séculos, e após a mais
esperada Conferência multilateral da
problema intangível. Não se trata de vi-
sitar uma usina de enriquecimento de
Para a maioria das pessoas,
ções a respeito da mudança climática
aponta o contrário: os países promo-
ONU – a 15ª. Conferência da Conven-
ção Quadro sobre Mudança Climática
urânio para avaliar os seus objetivos
supostamente pacíficos, ou negociar a
existe um abismo entre
vem políticas públicas domésticas, as
empresas assumem metas voluntárias,
(realizada entre 07 e 19 de dezembro
de 2009 em Copenhague), os resul-
redução de barreiras tarifárias para o
comércio internacional. Esses são ativos
preocupações mundanas
a sociedade civil monitora, e só depois tados foram decepcionantes. Não foi tangíveis, concretos. Ocorre que o aque- e o futuro, por mais
que os custos de redução de emissões alcançado um acordo internacional cimento global não apresenta problemas
estiverem devidamente contabiliza- com metas obrigatórias de redução imediatos e visíveis no dia a dia. A gran- apocalíptico que ele se
dos, os governos terão condições de se de emissões. Há apenas uma ‘Carta de de maioria não fará nada de concreto
comprometer com metas obrigatórias Intenções’ firmada no último dia da para combatê-lo sem algum tipo de in- apresente em razão de sua
de longo prazo em um grande acordo Conferência. Além do resultado tímido centivo (renúncia fiscal, financiamento,
internacional multilateral. – e do exagerado otimismo promovi- transferência de tecnologia, etc.). ameaça latente.
O perigo é real e imediato. A ONU do pela média internacional a respeito A terceira diz respeito exatamen-
aponta 300 mil mortes a cada ano por das negociações –, a COP 15 trouxe te à relação entre ciência e política. A
causa da desertificação de terras fér- avanços que devem ser considerados. mudança climática é uma negociação
teis e da alternância de secas em en- Em primeiro lugar, é preciso en- informada pela pesquisa científica, ou
chentes. Outros milhares migram anu- tender a natureza do desafio. O fenô- seja, os governos e as Nações Unidas
almente em busca de água e comida. meno do aquecimento global guarda tomam decisões a partir dos riscos devemos abrir mão de algo agora – um acordo com metas obrigatórias, a COP15
Em breve teremos uma nova categoria quatro características que o distinguem apontados pelos relatórios do IPCC custo imediato – para dispor de um ní- trouxe vários resultados positivos: 1. co-
no âmbito das Nações Unidas, já ba- de outras negociações internacionais. (Painel Intergovernamental da Mu- vel de bem estar igual (ou um pouco locou a mudança climática no topo da
tizada de “refugiados climáticos”. O Ele é, sem dúvida, um problema am- dança Climática) que sistematizam um inferior) lá na frente. Não é assim que agenda política internacional; 2. a mí-
presidente de Quiribati, uma ilha do biental global porque atinge a todos número muito grande de simulações costumamos lidar com os problemas dia, apesar dos exageros, trouxe o deba-
Pacífico, fez um acordo com a Nova indistintamente. Contudo, nas ações e a respeito do aquecimento global. O presentes que nos afligem. Para a gran- te a respeito da mudança climática para
Zelândia para gerenciar a emigração políticas para combatê-lo, ele se torna último relatório, de 2007, indica um de maioria das pessoas, existe um abis- o dia-a-dia do cidadão, com mais dis-
de sua população. As ilhas Maldivas, um problema nacional/local porque limite tolerável para o aquecimento mo entre preocupações mundanas e o cussão e conhecimento; 3. serviu como
antes um paraíso de mergulhadores, são fundamentalmente os países que global de 2 graus celcius. Como há futuro, por mais apocalíptico que ele se mais um estímulo ao setor privado para
estão procurando terras para comprar vão arcar com os custos de adaptação questionamentos a respeito da valida- apresente em razão de sua ameaça la- se antecipar às obrigações com projetos
em outros países porque dez anos, e mitigação. Ademais, é no plano na- de científica do aquecimento global, tente. As pesquisas indicam que a maio- de redução voluntária de emissões; 4.
40% do território vão desaparecer. No cional/local que o aquecimento global um elevado grau de incerteza conta- ria concorda que o problema é, de fato, promoveu a mobilização de movimen-
Brasil, enchentes e secas alternam-se se transforma em um problema eco- mina as negociações governamentais, uma grande ameaça, mas muito poucos tos sociais e ambientais no que se refere
JOÃO PAULO na Amazônia, o mar avança no Reci- nômico e social de grande magnitu- o que atrasa a definição de metas obri- estão dispostos a mudar algo significa- à uma agenda comum de luta.
VEIGA
* fe, e tornados, ciclones e tempestades de, em razão dos recursos necessários gatórias de redução de emissões. tivo em suas vidas para combatê-lo, se
atingem populações no RS e SC, com
milhares de desabrigados. Em todos os
para atender grupos sociais atingidos,
e incentivar setores e empresas a ado-
© FOTO PAOLLA BELLO
Por fim, o aquecimento global diz
respeito ao futuro. Isso significa que
não houver algum tipo de incentivo.
Apesar do fracasso em fechar um * Professor do Departamento de Ciência Política da Universi-
dade de São Paulo (USP).
ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 25
Energia e respeito
ao meio ambiente

O
Brasil passa por mais um momen- alagada –, mas também pelo aspecto rea, trabalhando em regime de turnos,
to crucial na sua história. Depois ambiental. O projeto, por exemplo, um sistema que será mantido durante
de quase três décadas, voltamos prevê que nenhum centímetro qua- a operação da usina. Com estas provi-
a ter condições de dar um salto qua- drado de área indígena será alagada, e dências, os empreendimentos afetarão
litativo na nossa economia, passando, que o futuro lago do reservatório será minimamente o meio ambiente natu-
finalmente, da promessa de “país do construído utilizando cerca de 200 ral e social de onde forem implantadas
futuro” para a realidade de país eco- km² já invadidos todos os anos nas as usinas.
nomicamente forte e socialmente justo. cheias do rio Xingu. As usinas-plataforma não são uma
No entanto, que caminho tomaremos Essas cheias desabrigam milhares ficção distante. A Eletrobrás preten-
para atingir esse objetivo que se impõe de pessoas, que, no restante do ano, de que o primeiro empreendimento a
à nossa geração? Da resposta a essa vivem em condições subumanas. Esses utilizar o conceito seja o Complexo de
pergunta, dependerá o país que lega- brasileiros, que hoje vegetam na mi- Tapajós, um conjunto de seis usinas a
remos a nossos filhos e netos. séria, morando sobre palafitas, serão ser erguido no sudoeste do Pará, com
Nós, da Eletrobrás, temos clara a reassentados em bairros urbanizados, capacidade instalada de 10.600 MW e
nossa visão do caminho que tipo de
modelo o Brasil deve seguir no Século
com casas decentes, saneamento bá-
sico, e, claro, energia elétrica. Nesses
capaz de gerar mais de 50 milhões de
MWh/ano, o suficiente para abastecer
Usinas de Belo Monte
XXI. Ele alia o desenvolvimento com
o respeito ao meio ambiente. Essa é a
locais, haverá ainda centros comuni-
tários, onde eles poderão ser capaci-
25,7 milhões de residências e o equi-
valente a 30,5 milhões de barris de
e Complexo do Tapajós
única forma, a nosso ver, de garantir
aos brasileiros um futuro no qual sus-
tados em atividades que lhes gerem
emprego e renda, permitindo o resgate
petróleo. Pelo nosso planejamento, em
fins de 2010, essas usinas já estarão
definem como
tentabilidade seja a palavra-chave de
um modo de vida, que garanta bem-
sua cidadania.
A Eletrobrás, porém, não se con-
em condições de ir a leilão.
Empreendimentos como Belo Mon-
a Eletrobrás enxerga
estar, tanto do ponto de vista econô-
mico como do ambiental.
tenta com o excelente projeto de Belo
Monte. Empresa inovadora por exce-
te e as usinas do Complexo do Tapa-
jós definem bem a maneira como a
o futuro do Brasil
De nossa parte, já estamos tra- lência, pensa em maneiras de superá-lo Eletrobrás enxerga o futuro do Brasil – o resultado da união
balhando com afinco para construir e os nossos engenheiros já imaginaram – o resultado da união entre o desen-
esse futuro que antevemos. Depois de um novo conceito, que revolucionará volvimento econômico e o bem-estar entre o desenvolvimento
anos de estudos, terminamos o Estudo a construção e a operação de empre- social, proporcionado pela tecnologia
de Impacto Ambiental (EIA) e o Re- endimentos de geração hidrelétrica: as aplicada em benefício do homem. econômico e o
latório de Impacto Ambiental (Rima) usinas-plataforma.
bem-estar social.
do Aproveitamento Hidrelétrico Belo
Monte, documentos básicos para o
prosseguimento do caminho rumo ao
Este novo tipo de maneira de cons-
truir e operar uma usina hidrelétrica
inspira-se nas plataformas de extração
* Presidente da Eletrobrás.

leilão da usina Belo Monte. de petróleo em mar aberto. Da mes-


Costumo dizer que Belo Monte é a ma maneira que nestas, as turmas que
JOSÉ ANTONIO melhor usina em estudo hoje no mun- implantarão o empreendimento não
MUNIZ LOPES
* do. Não só pelos aspectos técnicos – a
relação entre a capacidade instalada
ficarão em vilas erguidas ao lado da
obra, mas em cidades já existentes, de
de 11.223 MW para 516 km² de área onde irão para os canteiros por via aé-
© FOTO JORGE COELHO/ELETROBRAS
ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 27
Combate à desigualdade
é fundamental

O
ponto crítico central a corrigir 100 milhões de brasileiros que com-
para que o Brasil tenha um de- põem a nossa População Economica- Ter um país com
senvolvimento ideal é evidente-
mente a desigualdade. Não podemos
mente Ativa (PEA), apenas 31 milhões
são formalmente empregados, e com tantas distâncias
mais ter um país com tantas distân-
cias sociais. Isto é uma vergonha em
9 milhões no setor público, chegamos
a 40 milhões. sociais é não
termos éticos e uma burrice em ter-
mos econômicos – sai muito mais ba-
Dar instrumentos de desenvolvi-
mento para trabalhadores subempre-
somente uma
rato tirar as pessoas da pobreza que
arcar com as consequências – e um
gados, desempregados ou improduti-
vos é uma avenida ampla que temos
vergonha em
contra-senso em termos de resultado
final: os pobres não vivem bem por-
pela frente. Sobretudo porque respon-
de simultaneamente ao nosso desafio ve a transformação dos produtos nos quais construiremos o país de amanhã.
termos éticos, como
que não têm acesso ao essencial, e os
ricos não vivem bem porque vivem
crítico principal, que é a desigualdade,
e porque o principal vetor de produti-
centros urbanos regionais, evitando a
armadilha de mais um ciclo agroex-
A economia no seu conjunto não fun-
cionará se não forem bem administra-
é uma burrice em
cercados de muros, de seguranças,
de pânico da criança sequestrada. A
vidade hoje é a tecnologia. Não mais a
que apenas substitui o emprego, mas a
portador, processo que sempre retar-
dou o nosso desenvolvimento.
das as unidades básicas, as empresas.
Da mesma forma, temos de olhar cada
termos econômicos
quem interessa este Casa-grande e tecnologia que articula o econômico, O terceiro potencial, talvez o mais um dos nossos municípios, assegurar e um contra-senso
Senzala computadorizado e motori- o social e o ambiental, na linha dos importante, é a generalização do acesso que tenha acesso a banda larga, um
zado que vivemos? empregos verdes. Dá mais emprego ao conhecimento, à educação, aos sis- sistema decente de educação, solo e em termos de
O segundo ponto crítico, o am- generalizar energia solar e eólica que temas online de informação, por meio subsolo racionalmente aproveitados.
biental, é tão central quanto o pri- extrair petróleo. de um aproveitamento sistemático e É um imenso potencial de desenvol- resultado final.
meiro, mas menos presente no nos- A terra constitui outro imenso generalizado das novas tecnologias. vimento pela base, que precisa ser
so cotidiano. O que acontece com potencial. Temos mais de 200 milhões O travamento do acesso à moderni- equipado de capacidades de governo
o clima, sabemos no intelecto, mas de hectares de terra agricultável, uti- dade através da selva de patentes e correspondentes. Não temos hoje no que compram os seus políticos colocam
não sentimos na pele como sentimos lizamos menos de um terço. Hoje so- de copyrights não tem sentido, e tem Brasil sequer uma escola de formação os gastos nos custos operacionais, e os
o assalto na esquina. Por ser menos mos o país com a maior reserva mun- sido criticado por tantos estudos des- de gestores municipais. pagamos da mesma forma. Com finan-
imediata, a ameaça não é menor. O dial de terras paradas. Isto quando o de Joseph Stiglitz até o recente World Precisamos enfrentar de maneira ciamento público, pelo menos sabere-
futuro é mais distante, mas inexorá- mundo precisa desesperadamente de Economic and Social Survey 2009 das realista a corrupção, não com procla- mos aonde vai o nosso dinheiro, e tere-
vel. O Brasil, com as suas fantásticas alimentos, de fibras, de ração animal, Nações Unidas. O cerceamento da liber- mações, mas com mudança política. En- mos representantes públicos.
riquezas em solo, água, bosques, ter- de biocombustíveis. Mas isto não se dade de acesso ao conhecimento é uma quanto os nossos políticos forem eleitos Democratização econômica, cons-
ra, costas, peixe, se deu ao luxo de resolve através de gigantes do agro- imensa bobagem. Nossa visão deve ser com financiamento dos grandes grupos trução da economia sustentável, aces-
destruir à vontade, porque há muito. negócio baseado na monocultura e na menos de contabilizar quantas patentes econômicos, teremos bancada de rura- so ao conhecimento, gestão descentra-
Este é um caminho suicida. química, que produz para a exporta- temos no exterior, e sim quantas pes- listas, de banqueiros, de empreiteiras, lizada e participativa, e racionalização
Em termos de potencial, temos de ção, enriquece poucos e emprega me- soas, na base da sociedade, têm acesso da mídia e das telecomunicações, das do processo de escolha dos políticos
olhar simplesmente para os recursos nos ainda. Trata-se da visão moderna adequado ao conhecimento. montadoras, mas não teremos bancada são os eixos essenciais para viabilizar
LADISLAU DOWBOR
* subutilizados. O Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA) apresen-
de um sistema que integra diversos
cultivos, que se apoia fortemente na
Em termos de governança, temos
antes de tudo de resgatar a racionali-
do povo. É fundamental uma reforma
política que toque no essencial: o finan-
a construção do novo modelo.

*
ta uma cifra simples: temos 50% da agricultura familiar, promove a redu- dade do desenvolvimento local. Nossos ciamento público das campanhas. Não Doutor em Ciências Econômicas, professor titular da PUC-
mão-de-obra na informalidade. Dos ção de emissões de carbono, promo- 5.564 municípios são “blocos” com os é mais caro, pois os grupos econômicos SP. http://dowbor.org
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ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 29
Precisamos mudar os padrões de
produção e consumo O atual modelo de
desenvolvimento
se baseia em
padrões de
É
interessante considerar o parado- como por exemplo, a pecuária e a pro- trocar de celular a cada temporada. A
xo que a crise financeira global dução de algodão, assim como com o crise econômica vai passar em alguns
colocou: para enfrentar a crise, trabalho degradante em áreas urba- anos, mas a crise socioambiental será o produção
os governos buscam incentivar o con- nas, como é o caso dos bolivianos que desafio das próximas gerações.
sumo, mesmo sendo consenso que foi trabalham em confecções no centro O consumidor precisa mudar sua e consumo
o consumo de forma irresponsável que
levou à crise. Quem dera a crise do mo-
da cidade de São Paulo); em terceiro
lugar, serão as pessoas menos favore-
percepção de suficiência e tem o poder
da escolha para contribuir para esta mu- socialmente
delo de desenvolvimento que as mudan-
ças climáticas tornam explícita causasse
cidas que enfrentarão com maior difi-
culdade os problemas causados pelas
dança, optando por produtos e serviços
mais sustentáveis. Mas, considerando a injustos e
a comoção gerada pela crise econômica
global que observamos há um ano...
mudanças climáticas.
As mudanças climáticas em curso
atual oferta desses produtos e serviços,
sua ação ainda é limitada. Poucos são
ambientalmente
O atual modelo de desenvolvimen-
to se baseia em padrões de produção e
nos põem o desafio de revolucionar
as formas como consumimos e pro-
os municípios que ofertam a coleta se-
letiva do lixo e empresas que assumem
insustentáveis.
consumo que são socialmente injustos duzimos. Precisamos enfrentar a crise a sua responsabilidade pelo descarte de
e ambientalmente insustentáveis. Já socioambiental que o atual modelo de produtos no pós-consumo. A qualidade
sabemos que, apesar de ainda termos desenvolvimento está causando de for- do transporte público ainda está aquém
grande parte da população mundial ma rápida e efetiva se quisermos mi- do desejado e algumas das atuais al-
na margem do mercado de consumo, nimizar os impactos negativos apon- ternativas disponíveis são para aqueles
já ultrapassamos em mais de 30% a tados pelos cientistas. Um Brasil mais que têm condições de pagar. Não é justo
capacidade do planeta regenerar os sustentável significa termos um mode- que apenas os mais ricos tenham acesso
recursos naturais que consumimos. lo de desenvolvimento que permita in- a comida mais saudável, produtos mais
Não há recursos suficientes para que cluir a grande parte da população que eficientes e carros menos poluentes. É
todos sigam o modelo ocidental de ainda está à margem do mercado de um direito de todos consumir o que tem
consumo. Além disso, a mudança cli- consumo. Porém, dentro de padrões de menor impacto negativo.
mática é real, causada pelas atividades produção que garantam, por um lado, Precisamos dar mais espaço, visibi-
humanas, e se tornará irreversível em trabalho e renda para um vida digna e, lidade, recursos, políticas públicas para
poucos anos, com graves consequên- por outro lado, produzam bens e ser- iniciativas que buscam construir alter-
cias para a sobrevivência das espécies, viços mais “sustentáveis” – que, para nativas como a economia solidária, o
entre elas a humana, no planeta. serem produzidos, necessitem de me- comércio justo, a agricultura familiar e
Essa realidade é socialmente in- nos energia e recursos naturais, sejam a agroecologia. Por outro lado, precisa-
justa de diferentes formas: em primei- mais eficientes, duráveis, reciclados e mos de políticas públicas que promovam
ro lugar, o consumismo é privilégio recicláveis. padrões sustentáveis de produção e con-
de poucos; em segundo lugar, ele está Para mudar os padrões de consu- sumo; de instrumentos econômicos que
baseado em padrões de produção que mo, precisamos que mudem os modelos incentivem e de instrumentos legais que
geram poucos empregos e que, mui- de negócio – uma nova economia des- obriguem; de menos discurso e de mais
LISA GUNN
* tas vezes, se utilizam da exploração materializada, pois de nada adianta ter- práticas empresariais responsáveis.

*
de pessoas em situação de pobreza (o mos educação ambiental com a quan-
Socióloga (IFCH/Unicamp), mestre em ciência ambiental
trabalho escravo nas áreas rurais do tidade de publicidade bombardeando (Procam/USP), coordenadora executiva do Idec – Instituto Brasi-
Brasil faz parte de cadeias produtivas, que você só é feliz se tiver um carro e leiro de Defesa do Consumidor. www.idec.org.br
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ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 31
Em busca dos
círculos virtuosos

D
iariamente, ao parar em algumas drasticamente sua eficiência. tração pública reduziria as oportuni-
das principais esquinas de Be- Essa é uma tarefa difícil, mas não dades de corrupção.
lém, me envergonho com o que impossível. Outros países já a fizeram, Segundo, seria necessário am-
vejo. Crianças, jovens, adultos e ido- como a Inglaterra e Suíça, e outros es- pliar as reformas que facilitam os
sos lutam pela sobrevivência por meio tão fazendo, como a França **. Pode- investimentos privados. Apesar de
de atividades ilegais, desnecessárias mos aprender com essas experiências melhorias como a adoção do progra-
ou pouco produtivas. Uns imploram que envolveram, entre outros, esfor- ma Simples para cobrança de impos-
para limpar os pára-brisas dos carros, ços coordenados em todos os setores tos, o Brasil continua sendo um dos
outros vendem amendoins, CDs pira-
tas e bugigangas. O olhar da maioria
do governo, a valorização dos fun-
cionários públicos, a informatização,
lugares com maiores barreiras aos
investimentos. Eliminar as barreiras Será preciso fazer
deles transparece o sofrimento. Eles
são batalhadores, mas não consegui-
o uso de contratos de gestão e metas
de eficiência. A crise econômica e as
restantes atrairia mais recursos pri-
vados, que gerariam mais empregos, mais com menos –
ram oportunidades melhores; ou pior,
não estão preparados para as melhores
eleições de 2010 criam uma oportu-
nidade única de eleger um líder para
além de investimentos em infraes-
trutura necessária para melhorar a
ou seja, o governo
oportunidades que estão até sobrando
em alguns setores no Brasil.
deslanchar um programa de eficiência
governamental na escala necessária.
vida dos mais pobres, como em sa-
neamento e transportes públicos.
precisará aumentar
Infelizmente, essa situação é fre-
quente nas principais esquinas de
Se o governo aumentasse a sua pro-
dutividade em 10%, o valor disponí-
Finalmente, a melhoria da quali-
dade de vida no país deverá ser basea-
drasticamente sua
outras grandes cidades, nas favelas e
nos campos. Apesar de algumas me-
vel para investimentos aumentaria em
cerca de R$ 100 bilhões ao ano, consi-
da no uso sustentável dos recursos na-
turais. É imperativo deixar condições
eficiência. É uma
lhorias na economia nacional nos úl-
timos anos, é óbvio que falhamos gra-
derando uma arrecadação de cerca de
um R$ 1 trilhão em 2008; ou seja, o
favoráveis de desenvolvimento para as
próximas gerações. Isso só será possí-
tarefa difícil, mas
vemente em criar oportunidades para equivalente a nove vezes o programa vel se reduzirmos as emissões de gases te à inflação ocorreu justamente em não impossível,
todos. Para tanto, precisaremos pro- bolsa família. que estão provocando as mudanças um período de crise aguda – após a
mover círculos virtuosos na economia, Paralelamente ao aumento da efi- climáticas. Desenvolver poluindo me- renúncia de um presidente para fugir pois outros países
na sociedade e na política. ciência, seria necessário reduzir a cor- nos implicará também fazer mais com do impeachment e de escândalos sobre
A população marginalizada preci- rupção, com um forte envolvimento menos. Isso dependerá de investimen- o orçamento no Congresso. As crises já a fizeram.
sará de educação pública de qualida- e aumento da eficiência dos órgãos tos em ciência e tecnologia para o de- econômica, ambiental e os escândalos
de e serviços preventivos e curativos supervisores como Tribunal de Con- senvolvimento de formas mais limpas de corrupção podem agora nos inspi-
de saúde. Será desafiador prover esses tas da União, os Ministérios Públicos de produção, e de reformas nas leis rar a melhorar novamente.
serviços públicos em um mundo que e o Judiciário. Os chefes do executivo ambientais e tributárias que facilitem
provavelmente estará crescendo menos
nos próximos anos. Menor crescimento
econômico resultará em menor arreca-
também têm grande papel a cumprir.
Uma medida simples seria obrigar o
preenchimento da maioria dos car-
a adoção destas tecnologias.
Os desafios para empurrar o país
a um desenvolvimento mais inclusivo
* Engenheiro Florestal pela Faculdade de Ciências Agrárias do
Pará (atual Universidade Rural da Amazônia) e mestre em Ciências
Florestais pela Universidade Yale (EUA). É um dos fundadores e
pesquisador sênior do Imazon.

*
dação de impostos. Aumentar impostos gos de confiança com funcionários de e sustentável são enormes. Porém, é * Ver descrição de exemplos em François Bouvard, Thomas
PAULO BARRETO será cada vez mais difícil, pois a carga carreira. Desapareceria uma das prin- possível imaginar que podemos vencê- Dohrmann & Nick Lovegrove. The case for government reform
now. McKinsey Quarterly, 2009, Number 3.
tributária já atinge quase 40% do PIB. cipais moedas de troca da corrupção los, considerando que nos últimos 15 ** Ver descrição de exemplos em François Bouvard, Thomas Do-
Será preciso fazer mais com menos – – os cargos públicos comissionados. anos vencemos outros desafios gran- hrmann & Nick Lovegrove. The case for government reform now.
ou seja, o governo precisará aumentar Aumentar a transparência da adminis- diosos. O início vitorioso do comba- McKinsey Quarterly, 2009, Number 3.
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ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 33
Viabilizar o desenvolvimento
é dever de todos

C
onciliar o crescimento econômi- para a inclusão de milhões de habi-
co com justiça social e a criação tantes nos benefícios da economia e
de empregos acima dos índices o exercício pleno das prerrogativas
de expansão demográfica, com os pre- do civismo, é emblemático o trabalho
ceitos da sustentabilidade socioam- realizado pelo Senai-SP e o Sesi-SP.
biental, é a síntese do modelo ideal de Estas instituições do Sistema Fiesp,
desenvolvimento no mundo contem- precursoras do Terceiro Setor no Bra-
porâneo. Para o Brasil, de modo parti- sil, oferecem uma das maiores redes
cular, viabilizar tais conquistas impli- de ensino básico do País, cuja quali-
ca, necessariamente, solucionar alguns dade é um parâmetro cada vez mais É prioritário democratizar
gargalos persistentes. Nesse sentido, reconhecido. No seu esforço crescente
é prioritário resgatar o passivo social, para prover educação de qualidade aos as oportunidades e transformar
democratizar as oportunidades e trans- filhos dos industriários e à sociedade
formar empregos, empreendedorismo e em geral, o Sesi-SP está instituin- empregos, empreendedorismo
salários dignos nos principais meios de do a jornada de período integral em
inclusão de milhões de habitantes nas suas escolas, com horários para aulas, e salários dignos nos
prerrogativas da cidadania. É premente, estudos em bibliotecas, alimentação
ainda, adequar os padrões produtivos à saudável, acompanhamento médico e principais meios de inclusão
realidade de um planeta em processo
de mudança climática e cada vez me-
atividades culturais e esportivas.
Há, ainda, a possibilidade de o de milhões de habitantes.
nos rico em recursos naturais e fósseis. aluno ter formação profissionalizante
Nesses contextos, não basta a ação integrada, por intermédio do Senai-
do Estado, pois os desafios são imen- SP. Esta instituição, de sua parte, é consumo de recursos materiais e ener- Mérito Ambiental e o Prêmio Fiesp de A responsabilidade ante as de-
sos. Felizmente, a iniciativa privada uma das mais reconhecidas do mundo géticos e geração mínima ou nula de Conservação e Reúso da Água. Ambos mandas do desenvolvimento susten-
tem ajudado a mitigar as consequên- na educação profissional, mantendo poluentes. E todos ganham com isso: têm como finalidade reconhecer e es- tável exige imenso esforço por parte
cias, para a economia e a qualidade da cursos técnicos, superiores e de ensino o meio ambiente, porque há economia timular as boas práticas ambientais. dos setores público e privado. Não há
vida, dos problemas brasileiros não- continuado. O número de matrículas de recursos naturais e menor descarga Cabe ressaltar que nos dedicamos a es- alternativa senão vencer os desafios!
resolvidos ao longo da história. Há anuais supera um milhão. São forma- de poluentes; a própria indústria, com tudos, análises e reflexões. Mantemos É inimaginável a sobrevivência digna
relevantes contribuições no exercício dos recursos humanos para todos os mais produtividade, retorno financei- o Departamento de Meio Ambiente, da presente civilização, inclusive nas
da cidadania empresarial, em progra- ramos da indústria e com habilidades ro e o valor agregado da cidadania com técnicos altamente capacitados, nações desenvolvidas, num habitat in-
mas de inclusão, educação, assistência ecléticas, capazes, portanto, de res- empresarial; o trabalhador, com mais que se empenham em assuntos como salubre e superaquecido, com recursos
médica, alimentação, cultura, esportes ponder às novas exigências do merca- segurança e salubridade no ambiente manejo de resíduos sólidos industriais, naturais escassos, produção insufi-
e lazer. São referenciais, nessas áreas, do de trabalho. profissional; e toda a sociedade. Afi- uso do solo e da água e poluição. Den- ciente e milhões de habitantes exclu-
os exemplos da indústria, em especial Também são relevantes os avan- nal, reduzir os impactos ambientais da tre outras medidas, também criamos o ídos sumariamente dos benefícios da
nos dois grandes pilares do novo mo- ços quanto à chamada “produção produção melhora a qualidade da vida, Conselho Superior composto por am- economia pela precariedade do ensino.
PAULO SKAF
* delo de desenvolvimento: o ensino e a
produção ecologicamente correta.
limpa”; ou seja, os meios, tecnologias
e processos que possibilitam a fabri-
economiza água e energia e reduz o
uso de matérias-primas tóxicas.
bientalistas e personalidades do meio
acadêmico, dedicado ao debate da
Ou seja, todos precisam participar!

*
Na área da educação, que con- cação dos mesmos bens e a presta- Na Fiesp/Ciesp, o tema é recor- questão ambiental sob a perspectiva Presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Es-
substancia o direito humano essencial ção dos mesmos serviços com menor rente. Exemplos disso são o Prêmio de da indústria. tado de São Paulo (Fiesp/Ciesp).
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ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 35
Retomar fundamentos, cuidar
do presente e do futuro

M
uito já se debateu e se escre- Ambiente e Desenvolvimento, deveriam tes de energia solar e eólica deveriam Atlântica, que garante o fornecimento
veu sobre modelos de desen- ter sido referência para a adequação de eliminar as políticas de incentivo à de água para mais de 120 milhões de
volvimento, para o Brasil e políticas de desenvolvimento. Igual- compra de veículos particulares ou de brasileiros que vivem na região.
para o mundo em geral. O tema re- mente com as decisões das demais Con- concentração da produção e oferta de A retomada do debate sobre mode-
flete, obviamente, disputas políticas ferencias da ONU. A Cúpula do Milênio, energia em poucas corporações. Isso los e políticas de desenvolvimento pode
em nossa sociedade, ao revelar os in- em 2000, reuniu, de forma sintética, requer privilegiar sistemas de produ- e deve valer-se de propostas, compro-
teresses de grupos e setores diversos simplista e ingênua, mas com perspecti- ção e comércio local, e um novo olhar missos e acordos já celebrados interna-
em manter ou ter acesso a benefícios va pragmática, alguns dos anseios uni- sobre a ocupação e uso do território. cional ou nacionalmente. Ou alguém
sociais, econômicos, culturais e polí-
ticos, entre outros. Revela também as
versais e internacionais nos Objetivos e
Metas de Desenvolvimento do Milênio.
Políticas de Políticas de sustentabilidade do
desenvolvimento humano necessitam,
seria capaz de dizer que novos modelos
de desenvolvimento não devem aten-
perspectivas e concepções sobre o que
deve ser o desenvolvimento de uma
Esses, como também os documentos
globais que lhe serviram de base, estão
sustentabilidade pois, buscar a adequação de nossas
habitações (edificações) e habitats (ci-
der à Declaração Universal dos Direi-
tos Humanos? Em vez de reinventar a
sociedade, e quais valores e princípios marcados por diferentes concepções de precisam adequar dade, campo, áreas naturais) com os roda, por que não ganhar tempo e reto-
deveriam orientar a sua consecução. como obter “desenvolvimento”. desafios de formação de habitantes mar propostas já feitas para a transição
Na retórica, nos papéis e na le- As crises econômico-financeira e nossas habitações comprometidos com a sustentabilida- de políticas e da sociedade para a sus-
gislação, encontram-se nas diversas ambiental-climática são reveladoras de, justiça, solidariedade, democracia tentabilidade? Mas, cuidado, devemos
correntes diversos princípios comuns das mazelas de concepções “desenvol- e habitats aos e dignidade de vida. Com a formação estar atentos se os instrumentos e pla-
sobre os quais somente a prática (ou vimentistas”, inadequadas para superar de capacidades das pessoas para lide- nos são mesmo alteradores da noção
ausência de instrumentos para efeti- os problemas de esgotamento dos re- desafios de rar e atuar em prol desses valores. Mu- do que seja desenvolvimento.
vação) pode revelar as diferenças de cursos naturais, concentração de poder dar hábitos de consumo ou sistemas e Embora quase esquecida pelos atu-
concepções: igualdade, equidade, de- e riqueza, êxodos e desigualdades no formar habitantes tecnologias de produção pode signifi- ais gestores governamentais, a Agenda
mocracia, participação, bem-estar e acesso à educação, saúde, habitação, car tanto melhor saúde, qualidade de 21, programa participativo de planeja-
dignidade de vida, justiça social, pro- emprego e trabalho digno, etc. Como comprometidos vida, diminuição de custos, e simul- mento e gestão democrática da tran-
teção de minorias e de portadores de
necessidades especiais, sustentabilida-
alterar visões estabelecidas sobre o
“crescimento econômico” como o ca- com a justiça, taneamente, promoção da qualidade
ambiental, mitigação do aquecimento
sição para a sustentabilidade, pode ser
instrumento de transformação da práxis
de e integridade ambiental. O ideário
de sociedades sustentáveis tomou vi-
minho inexorável para a promoção
da dignidade da vida humana? Como a solidariedade, global e geração de empregos.
Visto que mais de 60% das emis-
da política. Seja por promover uma prá-
tica distinta (participativa) dos moldes
sibilidade à época da Rio-92, a Con-
ferencia das Nações Unidas sobre De-
conciliar necessidades de investimen-
tos em infraestrutura com o mais baixo
a democracia sões brasileiras de gases de efeito estufa
provêm de mudanças do uso do solo e
usuais de se fazer política, bem como
para propor a política da prática. Enfim,
senvolvimento e Meio Ambiente. Mas
o evento pouco adentrou nos sistemas
impacto ambiental, cultural e social?
As políticas de sustentabilidade
e a dignidade desmatamento, é imperativo que uma
nova concepção de políticas de desen-
é fundamental que a sociedade brasilei-
ra saiba o que quer, no presente, para
institucionalizados de elaboração e
gestão de políticas públicas.
requerem largos prazos para serem
efetivadas, mas isso não impede que
de vida. volvimento contemple metas de redu-
ção e prevenção da perda de cobertura
contribuir para um Brasil e um mundo
sustentável. É indispensável que o de-
Desde a Rio-92, os diversos acor- gradativamente se busquem as opções florestal. E também mecanismos po- bate incorpore um senso de urgência e
dos, legalmente vinculantes como as alterativas (e não meramente alterna- líticos, legais e financeiros que possi- trate o tema com responsabilidade.
RUBENS HARRY Convenções de Mudança de Clima e tivas) do “desenvolvimento” atual. Por bilitem seu cumprimento. Esses me-
BORN
* de Biodiversidade, ou de cumprimento
voluntário, como a Agenda 21, a De-
exemplo, investimentos na ampliação
de sistemas de transporte público, lim-
canismos devem ser pensados não só
para região amazônica, como também * Coordenador adjunto do Vitae Civilis Instituto para o De-
senvolvimento, Meio Ambiente e Paz (www.vitaecivilis.org.br) ;
coordenador da campanha tic tac tic tac pela proteção do clima
claração do Rio de Janeiro sobre Meio po e eficiente, ou na geração de fon- para os outros biomas, como a Mata (www.tictactictac.org.br).
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ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 37
Nova equação Um olhar inovador, que
considere as oportunidades

para um velho problema de fontes alternativas de


energia e a riqueza da
floresta em pé, é o caminho
para o estabelecimento
de uma economia
A
ntes que as mudanças climáticas trapartida do dinheiro público que re-
fossem percebidas mundialmen-
te como uma das maiores crises
ceberam para sair da crise econômica
mundial de 2008/2009, produzissem
verde no Brasil.
a serem superadas em nosso tempo, automóveis mais eficientes, com me-
era comum ouvir de governantes bra- nor consumo de combustível por qui-
sileiros que o meio ambiente não fazia lômetro rodado.
parte das prioridades do país. Nenhum Ainda assim, os governos brasilei-
governante se preocuparia em marcar ros não construíram uma nova postura
sua administração com propostas que no trato das questões ambientais: esta-
dessem conta do desafio de compatibi- mos dizendo o mesmo que dizíamos em
lizar o crescimento econômico com o 1972, apenas de uma forma mais suave,
uso sustentável do meio ambiente. São ou seja, cobramos dos países desenvol-
exemplos a promoção da ocupação do vidos primeiro, para depois fazermos
Centro-Oeste (“integrar para não en- nossa parte. Em 2009, Lula ofereceu vas terras para a agropecuária. A pro- ra, que hoje é feita à custa das flo- dando a braçadas na contramão.
tregar”) e a promoção (e financiamen- generoso pacote de ajuda para evitar dução de soja e a criação extensiva de restas: de 2000 a 2006 saltamos de A questão não é mais saber quan-
to) de obras impactantes por parte do que os efeitos da crise econômica atin- gado geram uma destruição que, cada US$ 20,6 bilhões em exportações para to tempo o petróleo irá durar. O nosso
Estado, como a usina hidrelétrica de gissem o país, sem que os seus benefi- vez mais, terá seu custo ambiental in- US$ 49,4 bilhões, ou seja, 140%*. O papel e momento pedem que quebre-
Balbina, ao norte do Amazonas. ciários tenham sido obrigados a adotar cluso no preço final do produto. Mais próprio governo federal tem reiterado mos algumas amarras que insistem
Um reflexo disso se deu em 1972, novos padrões de produção. Esta forma importante que atender a uma exigên- que existem áreas desmatadas e hoje em negar algo bem consolidado, a
na I Conferência Mundial sobre Meio de administrar nos coloca em uma tre- cia de mercado, contudo, é entender abandonadas na Amazônia suficien- mudança na lógica econômica. A
Ambiente, em Estocolmo, Suécia. O menda situação de desvantagem. a urgência das mudanças climáticas. tes para permitir que o Brasil dobre a nova equação que temos de formular
Brasil do regime militar se fez presente O potencial eólico do Nordeste, por Nossa posição ainda passiva interna- sua produção agrícola, sem que seja servirá para resolver o velho proble-
para afirmar o direito de alcançarmos exemplo, é o equivalente a seis “Itai- cionalmente não nos faz contribuir necessária a derrubada de uma única ma do desenvolvimento destrutivo.
o mesmo padrão econômico dos países pus”, e os cerca de 15% da população para o fim do aquecimento global. outra árvore sequer. As variáveis, no caso brasileiro, per-
desenvolvidos, mesmo que à custa da brasileira que vivem na Amazônia têm No cenário internacional, nos posi- A euforia do presidente Lula com a passam pela preservação das florestas
destruição da natureza. Acontece que, na floresta em pé uma fonte de rique- cionamos com vaidade, por termos cerca descoberta da reserva petrolífera loca- e a introdução de novas energias re-
desde as primeiras previsões palpáveis zas quase completamente inexplorada. de 45% nossa matriz energética limpa, e lizada na chamada “camada pré-sal”, nováveis em nossa matriz, sem deixar
SERGIO LEITÃO
* de quando e quanto o globo vai co-
meçar a aquecer por ação do homem,
muita coisa mudou na prática.
Um olhar inovador, que considere es-
tas oportunidades, é o caminho para
o estabelecimento de uma economia
por abrigarmos uma das maiores exten-
sões florestais do planeta. Os dados sobre
queda no desmatamento também ajuda-
estimada em 80 bilhões de barris, foi
tão grande que ele se esqueceu (ou fez
questão de não se lembrar) dos impac-
de lado a preservação dos oceanos,
reguladores climáticos naturais em
um mundo que tanto necessita regu-
A expansão de energia eólica na verde no Brasil. A importância da flo- ram a deixar o Brasil “bem na foto”. Lá tos ambientais envolvidos. O Brasil lar o clima.
China, por exemplo, vem dobrando a resta amazônica por sua riqueza em fora, tudo ok. Aqui dentro, não é bem emite anualmente 1,5 bilhão de tonela-
cada dois anos, e por lá já se investe biodiversidade é algo imensurável. assim. A ofensiva ruralista visando “des- das de gases de efeito estufa, valor que Sergio Leitão é advogado especializado em Direito Socioam-
pesado na fabricação de carros elétri- Contudo, o desmatamento da Ama- montar” a legislação ambiental, tendo praticamente dobraria com as emissões biental e atualmente exerce a função de diretor de campanhas do
cos (com introdução de 1 milhão de zônia mantém o Brasil na incômoda como coração do debate o código flores- do pré-sal (estimadas em 1,3 bilhão de Greenpeace no Brasil.
unidades em 2010). Os Estados Unidos quarta posição do ranking de maiores tal (hoje um dos mais importantes pilares toneladas). Ainda que zerássemos o Rafael Georges é sociólogo e coordenador de campa-
nhas do Greenpeace no Brasil
começam a dar sinais de mudança: o emissores de gases estufa do planeta. da preservação), é um problema real. desmatamento na Amazônia, neste ce-
RAFAEL GEORGES
*
*Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, em artigo publi-
presidente Barack Obama exigiu que Mas por que se desmata? No caso Argumenta-se que o conjunto de nário o Brasil continuaria no topo do cado no jornal Folha de São Paulo, edição de 10 de novembro de
os fabricantes de carros, como con- brasileiro, basicamente para abrir no- leis impede a expansão da agricultu- ranking dos emissores mundiais, na- 2007, página B2.
© FOTOS GREENPEACE
ANÁLISE OBSERVATÓRIO SOCIAL • 39
Um olhar para o A orientação para

Brasil pós PAC


a nova economia
descarbonizada será
geradora de grandes
oportunidades,
desafiará nossos
O
Brasil precisa criar o seu mode- evitando uma séria de impactos ne- O caminho para esse novo modelo
lo próprio de desenvolvimen-
to, voltado para a construção
gativos de enorme magnitude. É um
desafio de fundamental importância
de desenvolvimento deve ser traçado
o quando antes. As decisões tomadas
cientistas e irá
de uma sociedade educada, saudável,
segura, ética, feliz e que seja capaz
para o Brasil, que poderá ser um dos
países mais afetados pelas mudanças
hoje em relação ao planejamento da
infraestrutura, educação e tecnolo-
estimular a
de respeitar as gerações passadas, ao
mesmo tempo em que se mantenha
climáticas globais, em especial as al-
terações no regime hídrico que colo-
gia não podem ser revertidas no cur-
to prazo. Uma nova termoelétrica a
expansão de
compromissada com as gerações fu-
turas. Este modelo sustentável deve
cam em risco a agricultura e a gera-
ção de energia elétrica.
carvão mineral, quando contratada,
indica o contrato, por décadas, de
nossa capacidade
se mostrar uma evolução frente ao A orientação para esta nova eco- emissões de gases do efeito estufa. Da de pesquisa e
atual modelo baseado no crescimen- nomia descarbonizada será geradora mesma forma, o modelo educacional
to do Produto Interno Bruto (PIB), no de grandes oportunidades, desafiará implantado hoje afetará toda uma ge- desenvolvimento.
aumento da produção bens e serviços, nossos cientistas e deverá estimular ração, não há retorno.
na expansão do consumo, na explora- uma expansão significativa de nossa Nos últimos 20 anos, o Brasil con-
ção dos recursos naturais, no fluxo de capacidade de P&D. A maioria das al- seguiu avanços importantes na forma-
capitais e em outros indicadores que ternativas energéticas renováveis está ção como nação, alcançando a esta-
capturam pouco a essência da evolu- baseada em ativos muito abundantes bilidade econômica e a implantando
ção de uma sociedade sustentável. no Brasil, como as energias solar, uma efetiva política de inclusão social.
Desenvolver-se de forma susten- eólica, de biomassa e hidrelétrica. O Agora é preciso ir além, é hora de co-
tável pode significar inclusive decres- Brasil tem uma das maiores áreas de locar a sustentabilidade no centro da
cer. Por exemplo, o uso de transporte insolação do planeta e um dos maio- pauta de debate do país. O processo
público ou bicicleta como alternativa res potenciais eólicos, tanto em terra eleitoral de 2010 se apresenta como
de transporte ao carro particular con- quando em mar. Temos a maior ca- uma excelente oportunidade de fazer
tribui para um ambiente menos polu- pacidade de produção de biomassa de esta reflexão.
ído e amplia a prática física saudável. todo o planeta e domínio de tecnolo-
No entanto, baseia-se numa cadeia de
produção de menor valor agregado e a
migração de um modelo para o outro
gias de biocombustíveis.
Outras áreas também deverão
ser cobertas. Os combustíveis fósseis
* Engenherio florestal, consultor para florestas e clima e ex-
diretor geral do Serviço Florestal Brasileiro.

pode significar um decrescimento pe- – grandes vilões das emissões – são


los conceitos tradicionais. também base da indústria de plásti-
O busca do desenvolvimento sus- cos, fertilizantes e outros químicos
tentável neste século XXI está in- derivados. O Brasil já produz plásti-
trinsecamente ligada à idéia de des- co biodegradável feito diretamente
carbonização da economia global. da biomassa de cana-de-açúcar. In-
Esse processo é necessário para que vestimentos bem orientados na área
TASSO REZENDE as emissões do planeta sejam redu- de biotecnologia e nas bio-refinarias
DE AZEVEDO
* zidas em pelo menos 80% até 2050,
de forma que a temperatura média do
podem viabilizar alternativas renová-
veis para quase a totalidade dos pro-
planeta não suba mais do que 2°C, dutos da indústria petroquímica.
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41
Diálogo Social
em
debate
Por André Vendrami, Fernanda Saint’Claire e Paola Bello

A 9ª Conferência
O
fortalecimento do diálogo social em empresas e movimen- chega”, disse. “Nesses locais, também A democracia ainda MULTINACIONAIS E A CRISE
não alcançou a
tos sindicais foi o tema da 9ª Conferência Internacional temos muita dificuldade em estabele- Diálogo social em tempos de cri-
Internacional Pesquisa e Ação Sindical, realizada entre 22 e 24 de setem- cer diálogo entre empresas, sindicatos
todos, o que dificulta
o diálogo social. se foi o tema do segundo painel da
Pesquisa e Ação bro de 2009, em São Paulo. Cem representantes de redes de tra- e trabalhadores”. Conferência. O diretor de Relações
Sindical reforçou balhadores, escolas sindicais, dirigentes e assessores de centrais
participaram do evento.
O diretor do Instituto Primeiro
Plano, Odilon Faccio, apresentou uma
Institucionais da Federação Brasileira
de Bancos (Febraban), Mário Sérgio
a importância do A promoção foi do Instituto Observatório Social, da Fundação série de conceitos e desafios para o di- Vasconcelos, falou sobre as políticas
diálogo social como Friedrich Ebert (FES) e do CUTMulti – Ação Frente às Multina- álogo social no Brasil. Segundo Fac- de inclusão da Federação junto a de-
elemento da cultura cionais, projeto da Central Única dos Trabalhadores (CUT), com
apoio do Centro de Solidariedade da AFL-CIO, da FNV Mondiaal
cio, independentemente do número de
atores que envolve, o diálogo social
ficientes, negros e mulheres. Ele apre-
sentou dados recolhidos por um censo
democrática. e da DGB Bildungswerk. Confira o resumo dos principais debates. exige planejamento e compromisso. realizado pela entidade, que basearam
Para assistir aos vídeos do evento e fazer o download de docu- “Essa estratégia possibilita que todos fortalecer a cultura democrática de os projetos de inclusão. Os negros ga-
mentos mencionados e apresentações, acesse www.os.org.br. saiam ganhando, mas, para isso, pre- poder e ver que, quando há diálogo, nham 84% do valor recebido pelos
cisa ser bem planejada e ter atores ca- a relação entre sindicatos e empresa brancos nas instituições bancárias e as
pacitados”, afirmou. passa para outro patamar”. mulheres negras têm pouca represen-
DEMOCRACIA É PRÉ-REQUISITO representantes da CUT, Manoel Mes- Entre as limitações ao diálogo so- “Não há sentido em discutir o diá- tação na classe. “As mulheres em ge-
“A Conferência Pesquisa e Ação sias, da FES, Waldeli Meleiro, do IOS, cial no Brasil, Faccio apontou como logo social fora da democracia”, refor- ral são menos promovidas, o que pode
tem abordado temas fundamentais Amarildo Dudu Bolito, e da central fator grave o baixo padrão democráti- çou o diretor técnico do Departamento refletir no pouco aumento salarial”,
para o mundo do trabalho”, afirmou, holandesa FNV, Patricio Sambonino. co, tanto nas empresas quanto no país. Intersindical de Estatística e Estudos esclareceu.
na abertura do evento, o presidente do Para o secretário de Saúde do Tra- Para ele, também são limitadores a Socioeconômicos (Dieese), Clemente Para Vasconcelos, as práticas de
Instituto Observatório Social, Apare- balhador da CUT, Manoel Messias, a falta de negociação, a imposição hie- Lúcio. Para ele, diálogo exige repre- inclusão não são disseminadas em
cido Donizeti. “Esperamos colaborar dificuldade na promoção do diálogo é rárquica de poder, o acesso desigual às sentantes fortes, que possam gerar todos os bancos da mesma forma. A
para a troca de informações e experi- similar à que ainda existe no cumpri- informações e a resistência por parte mudanças no espaço de trabalho e su- Febraban apresentou seu programa de
ências sobre o diálogo social, tema que mento das leis trabalhistas. “Há muitos dos sindicatos. “Alguns sindicatos en- peração das desigualdades sociais. O inclusão de deficientes no mercado de
se mostra cada vez mais necessário”. locais de trabalho onde a legislação tendem o diálogo social como um pac- grande desafio é a execução de planos trabalho. “Dentro das cotas reservadas
Também participaram da abertura os não é cumprida e a fiscalização não to com as empresas”, disse. “É preciso e estratégias traçados. para deficientes, os bancos já ocupam
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OBSERVATÓRIO SOCIAL • 43
A participação das entidades
da sociedade civil é to”, ressalvou. Em seguida, elencou os
fundamental nas negociações. avanços já conseguidos e acertados
entre as partes, como o compromisso
Antonio Lambertucci – Secretaria Geral dos empregadores em contratar direta-
da Presidência da República. mente os trabalhadores para atividades
manuais de plantio e corte de cana-
de-açúcar com registro em carteira de
trabalho e Previdência Social.

As ideias de Lomelino foram con- setor sucroalcooleiro”, explicou. NORUEGA E ALEMANHA


vergentes com as do presidente do Aperfeiçoar as condições de tra- As diferenças entre as condições de
Sindicato dos Ferroviários de Espírito balho no cultivo manual de cana-de- diálogo social entre a Noruega e o Brasil
Santo e coordenador da Rede Sindical açúcar e criar condições de reinserção foram apontadas pelo primeiro secretá-
Vale Brasil, João Batista Cavaglieri. dos trabalhadores prejudicados com a rio da Embaixada da Noruega no Brasil,
“O Diálogo Social é o caminho. Ou a mecanização do processo de produ- Jan Eriksen. Após uma breve explicação
gente dialoga ou vamos todos para o ção são as duas grandes preocupações sobre o crescimento econômico norue-
buraco”, afirmou. nessa discussão, iniciada em julho de guês, reforçado basicamente pelas in-
2008. Em 2009, foram incorporados dústrias energéticas, Eriksen falou sobre
SETOR SUCROALCOOLEIRO às negociações o Ministério da Edu- as negociações e diálogos entre funcio-
O secretário-executivo da Secreta- cação e o Ministério do Desenvolvi- nários e patrões, com leis e regras bem
64% do total, mas não encontram Em muitos setores a dores canadenses frente à Vale: “Foi ria Geral da Presidência da República, mento Social e Combate à Fome. Entre acertadas entre as categorias.
funcionários capacitados”, afirmou. A fiscalização não chega. assinado um acordo com o governo Antonio Lambertucci, falou sobre o os temas da pauta estão contrato de O primeiro secretário deixou claro
Trabalho precário e
entidade criou um projeto de capaci- ausência de diálogo. canadense de que ninguém seria demi- projeto do governo para os trabalhado- trabalho, trabalho forçado e trabalho que o tempo é importante para que se
tação, em parceira com prefeituras e tido durante três anos após a compra res e produtores de cana-de-açúcar. “A infantil, organização sindical e pelos desenvolva uma forte relação de con-
outras entidades, como movimentos de uma mina de níquel pela Vale no participação das entidades da socieda- menos mais 15 outros pontos. fiança entre os sindicatos dos trabalha-
de Mulheres, Negros e LGBT. “Não é país. A empresa chegou com imposi- de civil é fundamental nas negociações, Segundo Lambertucci, o item que dores e patronais. Ressaltou que a No-
benevolência, é um programa de opor- ções, querendo tirar vários direitos dos portanto o presidente Lula delegou à menos tem avançado nas negociações ruega é um país pequeno, o que facilita
tunidades”, concluiu. funcionários no Canadá. Isso não é di- Secretaria Geral a função de organizar é a alimentação do trabalhador. “Há esse tipo de relacionamento. Também,
O projeto foi criticado pela secretá- álogo social”, rebateu. Ao se referir ao uma mesa de diálogo para buscar en- desafios normais que a gente vai en- por ser rico – graças à produção de
ria de Políticas Sociais da Confederação acordo sigiloso assinado entre a Vale e tendimentos que melhorassem os pa- frentar, mas o governo tem expecta- petróleo e gás –, quando as questões
dos Trabalhadores do Ramo Financeiro o governo canadense para compra da tamares das condições de trabalho do tivas de que podemos fazer dar cer- envolvem dinheiro, o governo ajuda.
(Contraf)/CUT, Deise Recoaro. Ela afir- empresa, a líder sindical cobrou trans-
mou que o grande desafio é efetivar as erros em relação a diálogos e negocia- parência: “Peço formalmente uma có-
conquistas durante a campanha sala- ções que eu cometo desde 1971, e é pia desse contrato”.
rial: “Para que esse processo dê certo, muito fácil apontar o dedo e botar a O gerente de Relações Trabalhistas
precisamos que ele seja discutido onde culpa”, disse. “Eu vou tentar conser- da Alcoa, Marcelo Mattos Lomelino,
tudo começou, na inclusão da cláusu- tar o meu lado, não posso consertar os enfatizou que não se cria credibilida-
la de Igualdade de Oportunidades na erros de vocês”. Para o representante de de uma hora pra outra: “Dialogar
Convenção Coletiva de Trabalho”. Se- da empresa mineradora, as conversas apenas na crise não frutifica, é opor-
gundo Deise, o programa de Inclusão emperram por conta das barreiras ide- tunismo”. Para ele, três pontos tornam
de Pessoas com Deficiência promovido ológicas, da “demonização” das partes fundamental o diálogo social entre as
pela Febraban não tem participação do envolvidas, falta de confiança e trans- entidades: a conscientização de que Diálogo social
movimento sindical. parência entre os negociadores, além conversar é preciso; a definição do mo- demanda a criação
O diretor corporativo de Relações da insegurança jurídica no país. delo de relação trabalhista se quer; e a de vínculos de
confiança entre
Trabalhistas da Vale, Roberto Rui, fa- A representante do United Steel vontade dos envolvidos para começar a as partes e
lou sobre a posição da empresa mine- Workers (EUA e Canadá), Carolyn Ka- dialogar, estabelecendo objetivos e me- perspectiva de
radora diante do diálogo social. “Tem zdyn, referiu-se à greve de trabalha- tas e dando continuidade ao processo. continuidade.
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OBSERVATÓRIO SOCIAL • 45
Quando a Responsabilidade Social
é adotada, a empresa leva para
Eriksen disse que seu país toma
muito cuidado com a questão da greve e
verno brasileiro quanto às condições
do trabalho na cana-de-açúcar: “O
do Ramo Químico (ICEM), Sérgio No-
vais, complementou: “Temos poucas
dedicada à Responsabilidade Social.
Desde 2002, mais de 80 países parti- dentro interesses diferentes.
tem regras rígidas para que ela não seja
feita de modo desnecessário. “Quando
diálogo foi restrito, pois várias outras
entidades poderiam ter feito parte da
experiências exitosas no Brasil, África
e Ásia. Alguns sindicatos ainda não
cipam da construção da ISO 26000. O
texto final da norma, a ser aprovado
Essa adoção exige mudança,
não se consegue negociar um novo
acordo salarial, por exemplo, a greve é
construção dessa agenda pública”.
Após apresentar os avanços dos
entendem que os diálogos sociais são
mais uma ferramenta de negociação e
em 2010, inclui questões relativas aos
Direitos Humanos e Práticas Traba-
já que produz resultados para todas
permitida e o governo tem o papel de
tentar ajudar nas negociações”, expli-
Pactos Empresariais Conexões Susten-
táveis: São Paulo – Amazônia, Magri
que a criação dessas redes não tira o
poder sindical”.
lhistas, como conquistas e convenções
consagradas pelos trabalhadores –
as partes afetadas. Paulo Itacarambi,
cou. “Caso não haja um consenso, as mostrou preocupação com os rumos das presentes nas Declarações dos Direitos vice-presidente executivo do Instituto Ethos.
duas partes ficam obrigadas a aceitar o discussões e dos diálogos sociais pelo INDICADORES Humanos e Convenções da Organiza-
que for decido pelo governo, mas isso país. “Nós temos que conseguir cons- O vice-presidente executivo do ção Internacional do Trabalho.
só acontece em casos extremos”. truir um momento, antes das eleições Ethos, Paulo Itacarambi, falou sobre Scherer disse que, apesar de pou- ta para ampliar a negociação e a ação brou que a rede não serve apenas para
Ainda na Europa, outro exemplo de de 2010, para que os atores de todos os os Indicadores Ethos, adotados por cos países possuírem representantes sindical?, os participantes elaboraram simplificar processos e fazer reuniões,
diálogo social vem da Alemanha. O re- setores possam sentar-se e discutir que diferentes organizações brasileiras. dos trabalhadores no grupo que cons- propostas de utilização da ferramenta. mas também como um meio para criar
presentante do Sindicato dos Metalúrgi- Brasil nós queremos”, enfatizou. “Está Eles são uma ferramenta de autoava- trói a norma, a unidade nas decisões Os grupos apontaram a comunicação novos formatos de comunicação que
cos da Alemanha (Ig Metall), Dirk Linder, na hora de criar um fórum nacional liação sobre práticas de Responsabi- tem favorecido os itens referentes aos como um dos principais pontos para potencializem as ações dos sindicatos.
apresentou alguns casos de como as em- para esse tipo de diálogo”. lidade Social na gestão empresarial, trabalhadores. Ele enfatizou que, até a impulsionar a proposta do diálogo Ronaldo Baltar, representante do
presas e sindicatos chegaram a acordos. O vice-presidente regional para a que auxiliam a gerenciar os impactos redação final da norma, será preciso social. Os sindicalistas decidiram pela Instituto Observatório Social (IOS) e pro-
O país usou da redução da jornada de América Latina e Caribe da Federa- decorrentes das operações. “Quando lutar por essa unidade internacional. criação de um grupo de trabalho per- fessor da Universidade de Londrina, tam-
trabalho como um dos principais meios ção Internacional dos Trabalhadores a Responsabilidade Social é adotada, “A China, por exemplo, já se declarou manente para desenvolver o tema e bém falou sobre a importância da tec-
para não demitir em tempos de crise. a empresa leva para dentro interesses contra as questões trabalhistas con- sensibilizar os dirigentes sindicais. nologia da informação como um canal
Linder apresentou dados sobre as diferentes”, observou. “Essa adoção quistadas no documento”, lamentou. importante de inclusão e participação.
negociações com a empresa Siemens: exige mudança, já que produz resul- Entre os itens da ISO 26000 relativos NOVAS TECNOLOGIAS Baltar frisou que a internet pode com-
“Garantimos no mínimo 85% do salá- tados para todas as partes afetadas”. ao diálogo social e aos direitos dos Também foi tema de debate o uso plementar os meios tradicionais como
rio e qualificação durante a redução do Para ele, há grande avanço na discus- trabalhadores estão liberdade sindical, de novas tecnologias para potencializar boletins e jornais. Também pode ser útil
tempo de trabalho, o que sempre havia são, mas as mudanças profundas ain- direito à negociação coletiva e repro- a ação sindical. O professor da Funda- para intensificar aprendizados, para a
sido negado, então é um avanço e tan- da são muito pequenas. vação ao trabalho infantil e escravo. ção Cásper Libero, Sérgio Amadeu da criação de campanhas e disseminação de
to”, disse. Com a empresa Osram GmbH A opinião foi compartilhada pelo Silveira, falou sobre o ativismo digital conceitos. “O movimento sindical pode e
Berlin, fabricante de lâmpadas, chegou- supervisor do Dieese-DF, Clovis Sche- TRABALHO DECENTE E REDES SINDICAIS e como os movimentos podem se apro- deve ser um provedor de conhecimentos
Conexões
se ao consenso de dar oportunidade a rer. Ele falou sobre a inclusão do diá- O oficial do Projeto de Monitora- priar da internet. Ele chamou a atenção com a produção de conteúdos por meio
Sustentáveis:
trabalhadores semi ou não qualificados bom exemplo de logo social no processo de construção mento e Avaliação do Progresso do Tra- para as possibilidades de comunicação desses instrumentos”, enfatizou.
de sair da empresa por dois anos e con- diálogo social. da ISO 26000, norma internacional balho Decente da Organização Interna- que as redes oferecem e como essas fer- Fomentar a criação de grupos de
seguir formações adequadas. “E isso com cional do Trabalho (OIT) no Brasil, José ramentas proporcionam muito mais for- discussão e priorizar a sistematização
os salários pagos, não totalmente pela Ribeiro, apresentou os critérios conside- mas de interação que os meios tradicio- de informações foram algumas das di-
Osram, mas com subsídios”, esclareceu. rados pela organização no debate sobre nais como rádio, jornal e TV. De acordo cas do professor Baltar para que as redes
Trabalho Decente. A OIT não possui um com Silveira, hoje as redes estão entre sindicais consolidem a sua organização.
PACTOS EMPRESARIAIS indicador único que avalie o tema, mas as principais formas de organização hu- A ferramenta Conexão Sindical, criada
O pactos empresariais também utiliza conjuntos de indicadores relacio- mana. “As grandes empresas já atuam e administrada pelo IOS, foi apresenta-
foram citados como bons exemplos nados, como oportunidades de emprego, dessa forma e quem não se adequar vai da como uma das possibilidades para a
de criação de diálogos sociais. “Um rendimentos adequados, jornada de tra- ficar em situação difícil”, disse. troca de informações e divulgação de
diálogo social produtivo precisa ter balho, saúde e segurança e igualdades Sérgio Amadeu citou uma série de acordos, leis, pautas de reivindicação
igualdade de forças dos dois lados da de oportunidade e tratamento. exemplos de como as novas tecnolo- e outras informações relevantes para a
mesa”, disse o assessor de Políticas O projeto CUTMulti realizou uma gias podem auxiliar na disseminação de ação sindical. O coordenador do projeto
Públicas do Instituto Ethos e secretário oficina com representantes de redes conhecimentos e idéias. Enciclopédias CUTMulti, José Drummond, incentivou
executivo da Iniciativa Conexões Sus- sindicais para aprofundar o tema da online, blogs, TVs virtuais, redes sociais o uso de novas tecnologias a favor da
tentáveis: São Paulo – Amazônia, Caio Conferência. Guiados pela pergunta O como orkut e facebook foram algumas construção de novas formas de organi-
Magri. Ele criticou a atuação do go- diálogo social pode ser uma ferramen- das ferramentas mencionadas. Ele lem- zação da classe trabalhadora.
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ENTREVISTAS OBSERVATÓRIO SOCIAL • 47
Cumprir a legislação Um dos
compromissos
Falta maturidade
é obrigação dos empresários dos empresários
é extinguir a
para o diálogo
terceirização
A
crise econômica mundial foi o ção. Normalmente, as multinacionais
mote para alguns dos debates vêm com argumentos de que as deci-
do setor realizados durante a 9ª Confe- sões são tomadas na matriz e usam o
rência Internacional Pesquisa e Ação diálogo mais para comunicar sobre es-
sucroenergético
E
m junho de 2009, a Presidência Instituto Observatório Social >> Como parte, porque há políticas públicas a Sindical. O impacto sobre os traba- sas decisões. Nós ainda precisamos dar
da República lançou o Compro- surgiu a iniciativa de criar o Compromisso priorizar, como as voltadas para me- lhadores e os entraves para o diálogo um passo maior, para que as empresas
misso Nacional para Aperfeiçoar Nacional para Aperfeiçoar as Condições lhorar a reinserção produtiva dos tra- e contratar a partir social estão sendo sentidos em vários estejam preparadas para não só nos
as Condições de Trabalho na Cana-de- de Trabalho na Cana-de-açúcar? balhadores que foram desempregados setores da economia. Em entrevista ao comunicar, como também negociar.
Açúcar, uma iniciativa para valorizar ANTONIO LAMBERTUCCI >> Surgiu a pela mecanização. Existem possibili- do sistema público Instituto Observatório Social, o presi-
boas práticas trabalhistas no setor partir da preocupação do presidente dades de alfabetização, direcionamen- dente da Federação Internacional dos IOS >> Quais os principais desafios para
sucroenergético brasileiro. O Compro- Lula em possibilitar que os benefícios to de políticas para cidadania, espe- de emprego. Sindicatos da Química, Energia e Mi- melhorar esse cenário?
misso reúne um conjunto de 30 práti- advindos com o crescimento do setor cialmente na origem dos trabalhadores neração (ICEM) para a América Latina NOVAIS >> O primeiro desafio é con-
cas empresariais exemplares, que ex- sucroalcooleiro pudessem ser melhor migrantes, melhoria e adequação de IOS >> O cenário brasileiro teve alguma e Caribe, Sergio Novais, fala sobre o vencer as empresas e os trabalhadores
trapolam as obrigações estabelecidas compartilhados por toda a socieda- equipamentos de proteção individual, mudança a partir da criação desse atual cenário do setor frente à crise. sobre a importância do diálogo. Al-
na lei. No lançamento, 75% das cerca de brasileira, principalmente pelos entre outras. Compromisso? guns sindicatos ainda não entendem o
de 400 empresas brasileiras do setor trabalhadores. O presidente delegou LAMBERTUCCI >> A postura dos em- Instituto Observatório Social >> Como que é o diálogo social e acabam crian-
aderiram à iniciativa – três delas, com à Secretaria Geral da Presidência da IOS >> De que forma o Compromisso presários em relação às condições de a crise econômica tem afetado o setor do certa rejeição. Ampliar o conheci-
o nome na “lista suja” do Trabalho Es- República que coordenasse o diálogo Nacional se coloca frente aos “gatos”, trabalho tem sido muito aberta. Perce- químico e de mineração na América Latina? mento não é fácil, mas estamos cami-
cravo. Presente na 9ª. Conferência In- pra se chegar a um acordo de melho- que colaboram com o trabalho degradante bemos uma grande disposição em, de SERGIO NOVAIS >> Na nossa região, nhando. Atividades como o Pesquisa e
ternacional Pesquisa e Ação Sindical, rar as condições de trabalho. Levamos e escravo? fato, investir para que as condições de no setor químico, fomos pouco agre- Ação Sindical, que convida empresas
o representante da Secretaria Geral um ano nesse processo rico e inovador LAMBERTUCCI >> O governo tem uma trabalho melhorem. Umas já estão fa- didos pela crise. Isso porque esta área e sindicatos para entender um pouco
da Presidência da República, Antonio de negociação de um acordo nacional política pública para melhorar a inter- zendo isso, outras estão bastante atra- está muito ligada à questão rural e da melhor o processo, só ajudam para que
Lambertucci, falou sobre as conquistas tripartite. Todas as partes se colocaram mediação da mão-de-obra dos traba- sadas, mas há essa disposição, o que já alimentação, que não foi afetada. Na a gente possa amanhã ter mais diálogo
e os desafios do setor sucroenergético à disposição e se comprometeram com lhadores migrantes. Um dos compro- é uma grande mudança. Argentina, houve problemas pontuais com várias multinacionais, envolven-
no Brasil. a busca, o interesse e a vontade de se missos dos empresários é extinguir a que não foram causados diretamente do o governo, para que fomente isso.
aprimorar as condições de trabalho. terceirização desse setor e contratar IOS >> De que forma o Compromisso pela crise. Por outro lado, a minera-
diretamente a partir do sistema públi- complementa o Pacto pela Erradicação ção foi bastante afetada. A mineração
IOS >> Em que consiste o Compromisso? co de emprego. Isso, na nossa avalia- do Trabalho Escravo? depende muito da exportação, que
LAMBERTUCCI >> O Compromisso Na- ção, vai contribuir enormemente para LAMBERTUCCI >> No nosso ponto de teve uma queda violenta. Isso gerou
cional, de caráter voluntário, visa dis- diminuir a ação dos “gatos”, que são vista, tanto a legislação quanto as ações fechamento de plantas e afetou as ci-
seminar as boas práticas e valorizar intermediários ilegais da mão-de-obra do Ministério do Trabalho no combate dades inteiras.
as empresas que adotarem o aperfei- desses migrantes. ao trabalho escravo são muito eficientes.
çoamento das condições do trabalho. A obrigação dos empresários é zelar para IOS >> Qual é o atual cenário do setor
Essas empresas serão reconhecidas de IOS >> Como vai ser feito o que não aconteça nenhum caso de traba- quanto ao diálogo social?
alguma maneira, terão seus nomes di- monitoramento do Compromisso Nacional? lho análogo ao trabalho escravo. Cum- NOVAIS – Poucas empresas praticam
vulgados. Agora estamos em proces- LAMBERTUCCI >> Estamos ainda ava- prir a legislação é absolutamente obriga- o diálogo social. Lamentavelmente, o
so de construção do monitoramento liando na condição tripartite, e ainda ção dos empresários, não se questiona. O setor não está maduro a ponto de as
desse cumprimento. O governo entra não concluímos a proposta. Compromisso conclama os empresários empresas sentarem conosco para bus-
como mediador, mas também como a melhorar as condições previstas na lei. car alternativas e abrir uma negocia-

ANTONIO LAMBERTUCCI © FOTOS PAOLLA BELLO


SERGIO NOVAIS
OBSERVATÓRIO SOCIAL • 49
Devastação S/A: repercussões
Denúncias ambientais feitas na última edição da
cipal problema existente na extração
de madeira amazônica é a dificuldade
na aprovação de planos de manejo flo-
restais sustentáveis, junto aos órgãos
ambientais, sendo este dos principais
fatores que contribuem para o comér-
Revista do Observatório Social geram desdobramentos cio ilegal de madeiras. Afirma ainda:

em diferentes setores. Finalizou alegando que empresas como


a que dirige potencializam, para os bra-
mas não respondeu se deixou ou se
continua comprando madeira das em-
“Os compradores de madeira utilizam o
sistema DOF – Documento de Origem
sileiros, os benefícios da venda dos re- presas denunciadas. Florestal controlado pelo Ibama ou sis-

A
edição 15 da Revista Observató- resultaram em uma queda significativa cursos naturais da floresta amazônica A Appalachian Flooring alegou que temas similares regionais. Nos sistemas
rio Social, publicada em junho no volume de madeira comprada, mas nos mercados internacionais. comprou apenas uma vez de algumas apenas é possível adquirir a madeira se
de 2009, revelou como funcio- decidimos não mais fazer quantidade, O grupo dinamarquês DLH Nordisk, das empresas denunciadas, mas que elas os documentos são liberados pelos ór-
nam redes de negócios implicadas em e sim, qualidade”, disse o gerente da uma das maiores companhias mundiais já deixaram de ser seus fornecedores. gãos ambientais. Se existem falhas nos
crimes ambientais e trabalhistas. As Interwood Brasil, Carl Borg. de comercialização de madeira, culpa A TW Wood Products disse que sistemas, certamente não é de respon-
informações apuradas permitiram fe- A exportadora Lacex Timber tam- autoridades brasileiras. Erik Albrecht- continua comprando das denunciadas. sabilidade das empresas compradoras”.
char os elos de uma corrente de ile- bém afirmou que interrompeu a com- sen, consultor ambiental do grupo DLH, Alegou que as exportadoras são autori-
galidades, que começa no interior da pra de madeira das empresas denun- afirmou que a empresa não está en- zadas pelo governo brasileiro. SEMA E MINISTÉRIO PÚBLICO
floresta amazônica e termina na casa ciadas, embora alegue que toda a volvida em qualquer esquema de ven- Representantes da Secretaria Esta-
de consumidores em todos os conti- comercialização foi feita com o aval da ilegal de madeira: “As autoridades ASSOCIAÇÕES DO SETOR dual do Meio Ambiente do Pará e do
nentes. Extração ilegal de madeira e dos órgãos de fiscalização. Cláudio brasileiras não estão fazendo esforços Associações do setor madeireiro Ministério Público Federal no estado
irregularidades nos mercados de soja Andrade, sócio-proprietário da empre- para motivar as empresas a investir em no Pará também se manifestaram após também comentaram as denúncias
e pecuária estiveram na mira da repor- sa, reforçou ainda que passou a exigir uma gestão florestal sustentável”, disse. a publicação da reportagem. Em nota publicadas. Em entrevista, o procura-
tagem. Associações, governo, órgãos documentações adicionais das madei- “Pelo contrário, as autoridades dificul- enviada à redação, a Associação das In- dor da República Bruno Araújo Soares
de monitoramento e algumas empre- reiras. “Hoje em dia, além da GF3 da tam diretamente a gestão sustentável dústrias Exportadoras de Madeira do Es- Valente afirmou que as informações
sas se pronunciaram após a publicação
da revista. A seguir, você encontra um
Sema [guia expedida pela Secretaria
de Meio Ambiente], exigimos também
Quanto mais das florestas, por meio da falta de apro-
vação de projetos de manejo florestal",
tado do Pará (Aimex) reforçou os danos
causados pela corrupção dos órgãos de
publicadas na reportagem estão auxi-
liando nas investigações. “Quanto mais
resumo dessas manifestações. [o mapeamento de] toda a cadeia de
custódia de nossos fornecedores.”
dados tivermos afirmou. Questionado sobre as ações to-
madas após a revelação do esquema de
monitoramento. “Ocorre que o excesso
de burocracia das instituições ambien-
dados tivermos sobre a questão, mais
precisos poderemos ser em encontrar
O QUE DIZEM AS EMPRESAS ENVOLVIDAS
Todas as empresas listadas na re-
As exportadoras Vitória Régia e
Pampa Exportações foram procuradas,
sobre a questão, esquentamento de madeira ilegal, Al-
brechtsen afirmou que o grupo deixou
tais do governo estadual, aliado à falta
de transparência em suas atividades, tem
os culpados e fazer as acusações”, afir-
mou. Para ele, desde que o escândalo
portagem, tanto exportadoras quanto
compradoras da madeira brasileira no
mas não se manifestaram.
Entre os compradores de madeira
mais precisos de comprar madeira de apenas um dos
fornecedores denunciados, e que prefe-
permitido e, até mesmo, fomentado o
crescimento de um mercado ilegal que
veio à tona, as empresas mais atuantes
no estado têm de procurar melhorar o
exterior, foram novamente procuradas
pela equipe de reportagem. Apenas oito
brasileira, as denúncias têm afetado as
vendas e o tema ainda se mostra indi-
poderemos riu acreditar na palavra do outro for-
necedor. "Mantemos negociação porque
acaba contaminando todo o setor, o que
impossibilita que se tenha absoluta certe-
cenário. “Algumas empresas, sobretu-
do as que trabalham com exportação
das mais de 20 listadas responderam. gesto. A americana Robinson Lumber ser em temos garantias de que este fornecedor za da origem de um produto – se é legal de madeira, têm mostrado boa von-
A exportadora Interwood Brasil, respondeu à redação com aspereza, acu- não recebe qualquer madeira prove- ou ilegal – no Pará”, diz a nota. E com- tade e mais interesse em atuar dentro
do grupo francês Interwood, declarou sando a equipe de falta de profissiona- encontrar niente da empresa sub-fornecedora, pleta: “Sem qualquer outro mecanismo dos princípios da preservação”, disse.
que, embora os fornecedores denun- lismo e inverdade, ignorando as provas também referida na reportagem". oficial para checagem da origem da ma- “Mas as ações ainda são reduzidas e
ciados ainda não tenham sido julga- apresentadas pela reportagem.Um dos os culpados O grupo Kingfisher afirmou que não deira, esta acaba sendo aceita pelos em- os resultados, pouco significativos. Da
dos pelos crimes ambientais, a empre- diretores da empresa, Hank Marchal, faz mais negócios mais com as empresas presários que, muitas vezes, são vítimas parte do MPF, o que temos são inves-
sa suspendeu as negociações com eles afirmou que possui sérios compromis- e fazer as denunciadas. Declarou que, atualmente, desse esquema entre produtores ilegais e tigações em curso que foram enrique-
até que seja encerrado o julgamento. sos com o meio ambiente e que não está compra apenas de empresas certificadas a instituição ambiental, pois confiam na cidas com as informações publicadas
Também afirmou que implantou um ligado diretamente à compra da madei- acusações. pelo FSC, e que está trabalhando com a documentação apresentada”. pelo Instituto Observatório Social.”
programa interno para o monitora- ra retirada ilegalmente da Amazônia, ONG Forest Trust (antiga Tropical Forest Presente durante o lançamento da Valente reforçou, também, a im-
mento da origem de toda a madeira mesmo tendo sido identificado na ca-
Bruno Araújo Soares Trust), para identificar exportadoras so- revista, o gerente executivo da Asso- portância de mudanças no sistema de
comprada e destinada à exportação, e deia comercial. Disse, ainda, que não Valente, procurador cialmente responsáveis. ciação Nacional dos Produtores de Pi- monitoramento da cadeia produtiva
que vem desenvolvendo projetos com pode ser acusado de compra de madeira da República. A Iron Woods disse estar aumen- sos de Madeira (ANPM), Ariel de An- da madeira no estado. “Infelizmente,
comunidades locais a fim de garantir a ilegal por ter entre seus fornecedores tando o escopo de produtos com selo drade, também enviou nota à redação. hoje, o controle ainda não é suficiente
origem de sua madeira. “Os programas empresas denunciadas na reportagem. Forest Sterwardship Council (FSC), Nela, a associação reforça que o prin- para nos dar garantia de que a madei-
© FOTO SÉRGIO VIGNES
OBSERVATÓRIO SOCIAL • 51
Fiscais do Ibama
no Pará autuam
madeireira que fornecia Quem frauda a lei que atuavam livremente sem sede pró-
pria, manipulando créditos de produtos
florestais clandestinamente. O nosso sis-

tem que pagar


produtos da derrubada
ilegal da floresta para tema [Sisflora] está interligado ao DOF
empresa exportadora. [Documento de Origem Florestal] e à
fiscalização do Ibama. Ele é manipula-
do também pela Polícia Federal e pelo

E
ra vem de origem legal, pois o siste- m junho de 2009, a Revista Ob- ANÍBAL Ministério Público Federal, que detêm
ma que fiscaliza a entrada e o fluxo servatório Social revelou um es- PICANÇO senhas de auditorias. O Ibama pode blo-
dos créditos florestais é muito falho”, quema milionário de esquenta- quear, a qualquer tempo, as atividades
observou. “No entanto, o Ministério mento de madeira retirada ilegalmente suspeitas. Quando detectadas irregulari-
Público entende que a exploração sus- da Amazônia. A fraude envolvia de madeira no Pará e madeireiras que exploram dades, na própria Sema também efetua-
tentável da madeira, além de ajudar a empresas fantasmas a servidores pú- ilegalmente territórios amazônicos? mos os devidos bloqueios.
manter o meio ambiente preservado, blicos e beneficiava gigantes da expor- PICANÇO >>Temos três tipos de empre-
pode ter uma importância muito gran- tação de madeira. Alvo de ataques da endedor: o que trabalha na legalidade; o IOS >> Após a sua chegada à Sema, o que
de para a economia do estado”. mídia, a Secretaria de Meio Ambiente que trabalha buscando a legalidade, mas tem sido feito para coibir a comercialização
Para a Secretaria Estadual do Meio do Pará perdeu o secretário Valmir Or- que, por deficiência das instituições pú- de madeira de origem ilegal?
Ambiente (Sema), ainda há muito tra-
balho até que os crimes ambientais no
Santander defende conselheiro que tega, que abandonou o posto em meio
a denúncias de que servidores da Sema
blicas, é lançado à clandestinidade ou a
uma legalidade relativa; e o que trabalha
PICANÇO >> Continuamos fortes com
as ações conjuntas de fiscalização com o
Pará sofram uma redução significati-
va. O atual secretário do órgão, Aníbal
financia desmatamento eram cúmplices da fraude. Na época,
o superintendente do Ibama no Pará,
à margem da legislação e não quer se
legalizar. Este último não mostra a cara
Ibama. Estamos contribuindo, seja com
fornecimento de informações, seja com
Picanço, assumiu o posto em meio a A Pampa Exportações, cujo presidente compõe conselho de Aníbal Picanço, pediu exoneração do e tem que ser submetido à mão forte do a logística de retirada do material apre-
grande número de denúncias de cor- sustentabilidade do Banco Real, controlado pelo Santander, foi apontada cargo para assumir a Sema, prometen- Estado. Quando ao segundo, estamos endido. Antigamente, o Ibama deixava
rupção no órgão. Até agora, poucos pela revista do Observatório Social como exportadora de madeira do eliminar a corrupção. Nesta entre- trabalhando em conjunto com o Minis- o material apreendido em suas opera-
foram os avanços. amazônica obtida ilegalmente e "esquentada" em esquemas de corrupção vista, ele comenta os escândalos e fala tério Público para trazê-lo à legalidade. ções com o próprio infrator. Quando
Em entrevista à Revista do Observa- que envolvem fiscais da Secretaria de Estado do Meio Ambiente do Pará sobre o que tem mudado no cenário Lamentavelmente, existem ainda muitas virava as costas, o material desaparecia.
tório Social logo após assumir o cargo, (Sema). Em nota oficial enviada ao Observatório Social em junho de ambiental paraense. empresas que aparentam estar legais, no Hoje estamos retirando esses produtos
o secretário assumiu a dificuldade de 2009, o Banco Santander defendeu o presidente da empresa: entanto, atuam somente no comércio e máquinas, e fazendo o infrator expe-
identificar e punir as empresas que agem “O sr. Demorvan Tomedi explicou ao banco que as informações Instituto Observatório SocialI >> O Sr. clandestino de madeiras. Enquanto não rimentar no bolso o prejuízo imediato.
contra a legislação. “Lamentavelmente, oficiais sobre o fornecedor eram coerentes com os princípios da assumiu a Secretaria do Meio Ambiente do estabelecermos mecanismos de controle Isso tudo sem prescindir da cobrança de
existem ainda muitas empresas que apa- empresa e não levantavam suspeitas”. Pará em meio a um escândalo nacional, e da cadeia de custódia dos produtos flo- multas administrativas aplicadas pelo
rentam estar legais, com todos os seus A reportagem apurou que a Pampa Exportações tem entre seus após deixar a chefia do Ibama, que ajudou restais, muitos empreendedores de boa Ibama e das ações penais conduzidas
registros regulares, no entanto, atuam fornecedores empresas sistematicamente multadas pelo Ibama e outras a desmascarar este escândalo. Agora, fé estarão vulneráveis. pelo Ministério Público.
somente no comércio clandestino de que não têm autorização para funcionar. Também constam na lista como vê o problema de fraudes e de
madeiras”, disse. “Enquanto não estabe- dos provedores de madeira empresas que sequer possuem cadastro esquentamento de madeira? IOS >> Na época em que o IOS estava IOS >> O que a Sema está fazendo quanto
lecermos mecanismos de controle da ca- nos órgãos de fiscalização e regulamentação do estado. A reportagem ANÍBAL PICANÇO >> Estamos alterando concluindo a reportagem sobre esse ao esquema de corrupção de servidores?
deia de custódia dos produtos florestais, fotografou lotes de madeira irregular destinados à Pampa Exportações no rotinas para dar maior transparência às esquema, a Sema lançou uma lista de PICANÇO >> Assim que tomei posse, no
muitos empreendedores de boa fé esta- pátio da Rio Pardo Madeiras, empresa inexistente no Cadastro Nacional operações. Promovemos a reestruturação empresas que estavam proibidas de dia primeiro de junho de 2009, disponi-
rão vulneráveis”. Picanço reforçou a im- de Pessoa Jurídica (CNPJ). O Santander não se pronunciou sobre esses do setor de geoprocessamento, adquiri- comercializar madeira, entre elas grandes bilizei todos os 15 computadores do ór-
portância da fiscalização também pelas episódios, apenas disse que a reportagem é importante para "estimular mos novos equipamentos que nos dão exportadoras. Qual foi a utilidade dessa gão à Polícia Federal para perícia. As in-
empresas compradoras. “Não queremos o debate na sociedade brasileira sobre a necessidade de garantir uma maior precisão nas análises dos planos lista? Ainda há empresas proibidas de vestigações estão sendo conduzidas pela
eximir de responsabilidade esses empre- evolução nas práticas de extração de madeira sustentável na Amazônia". de manejo para, com isso, tentar ven- exportar madeira? Polícia e, no âmbito administrativo, ins-
endedores, que poderiam perfeitamente O Instituto Observatório Social acredita que debater o problema já não cer essas fraudes detectadas pelo Ibama. PICANÇO >> A utilidade foi a de pro- tauramos processos a fim de responsa-
exercer o mínimo de controle sobre seus é mais suficiente e que o momento agora é o de realizar ações efetivas Também estamos adotando mecanismos porcionar transparência ao processo, bilizar eventuais servidores. Esperamos
fornecedores, principalmente quando para coibir práticas predatórias, como as comprovadas pela reportagem de controle de senha para utilização in- bloquear as transações das empresas e que os trabalhos de perícia nos tragam
a transação envolve grandes valores”, e que envolvem a empresa Pampa Exportações. O IOS entende que, terna por nossos servidores, com a utili- encaminhar as investigações aos órgãos elementos que possam auxiliar não só
afirmou. “Acima de tudo, enquanto po- ao apoiar o conselheiro flagrado em práticas predatórias, o Santander zação de leitura digital e toque, a fim de competentes. Há empresas ainda blo- a responsabilizar eventuais envolvidos,
der público, temos que trabalhar muito avaliza as atividades realizadas pela Pampa Exportações – empresa que, reprimir a investida de hackers. queadas. A operação Caça Fantasma, como para melhorar nosso sistema con-
para oferecer matéria-prima lícita a essa inclusive, já esteve na lista da Secretaria Estadual de Meio Ambiente iniciada no Ibama ainda quando eu era tra eventuais fraudes.
atividade, que é de extrema importância entre as proibidas de comercializar madeira. IOS >> Como o Sr. vê a relação existente superintendente do órgão no Pará, iden-
para toda a região amazônica.”
© FOTO SÉRGIO VIGNES
entre grandes empresas exportadoras de
© FOTO DAVID ALVES/AG PARÁ
tificou inúmeras empresas fantasmas
* Secretário de Meio Ambiente do Pará
NOTAS OBSERVATÓRIO SOCIAL • 53
Parceria nas Setor químico destaca pesquisas do IOS ENCONTRO UNILEVER
REDES VIRTUAIS Uma revista comemorativa aos 10 anos da Rede Basf na América do Sul,
lançada em julho, destaca a importância das pesquisas realizadas pelo Nos dias 1º e 2 de dezembro,
O projeto CUTMulti “Ação Frente Observatório Social. Segundo a publicação, o trabalho realizado pelos o IOS participou do Encontro
às Multinacionais” e o Instituto pesquisadores do IOS apontou uma série de problemas nas plantas brasileiras Sindical Internacional sobre
Observatório Social formaram uma do Grupo Basf, relacionados principalmente aos direitos fundamentais os Direitos Trabalhistas na
parceria para promover a utilização do trabalho e ao meio ambiente. “A pesquisa apontou problemas de Unilever. Realizado em Amsterdã,
da ferramenta Conexão Sindical contaminação ambiental devido a vazamentos; descaso com a política na Holanda, o evento contou com
de prevenção e descumprimento da legislação referente a acidentes
Diálogo social BRASIL-NORUEGA
junto aos membros dos comitês de a participação de trabalhadores
trabalhadores. O objetivo é fomentar e doenças do trabalho; chefias autoritárias e diálogo limitado com de 13 países, e teve como objetivo
junto ao movimento sindical as a comunidade”, ressalta a revista. Segundo o coordenador da Rede de fortalecer as organizações sindicais,
No dia 22 de outubro, o Instituto Norueguesa de Sindicatos (LO). possibilidades da utilização política Trabalhadores/as na Basf América do Sul, Fábio Lins, o trabalho realizado nacionais e internacionais, de
Observatório Social foi convidado Durante o evento foram discutidos das novas tecnologias da informação pelo IOS influenciou várias mudanças importantes no setor. trabalhadores na empresa. A Unilever
a participar do I Fórum Bilateral de conceitos e visões e apresentados casos e da comunicação na formação, é acusada de desrespeito a direitos
Diálogo Social Brasil-Noruega. de diálogo social em empresas dos dois comunicação, organização e trabalhistas, como ações ostensivas
O evento, promovido pela Secretaria- países. Também foram identificados mobilização de dirigentes sindicais, de reestruturação produtiva e
Geral da Presidência da República, em os desafios e as dificuldades para militantes e trabalhadores. PACTO DO TRABALHO ESCRAVO subcontratação de trabalhadores.
Brasília, teve como objetivo promover disseminação do diálogo social. A partir de agora todos os encontros O encontro foi promovido por meio
o diálogo social para avançar na “O processo histórico e democrático de redes organizados pelo projeto Em agosto, o Comitê inclui a comunicação com o Comitê, a de uma parceria entre a Central
definição de iniciativas tripartites entre dos países foi tido como um fator promoverão oficinas do Conexão de Coordenação e respostas às convocações e a manutenção Sindical Holandesa (FNV), a União
os dois países que contribuam para o fundamental para a diferenciação dos Sindical para capacitar os participantes Monitoramento do Pacto Nacional de informações atualizadas na Plataforma Internacional dos Trabalhadores da
desenvolvimento sustentável e social. níveis de diálogo social em cada país” das redes no uso da internet, salas de pela Erradicação do Trabalho Escravo de Monitoramento”, reforçou. Alimentação (UITA) e a Federação
Participaram do evento dirigentes afirma o coordenador de pesquisa do IOS, bate-papo, blogs, fóruns de discussão, realizou, em São Paulo, a reunião de Lançado em 19 de maio de 2005, o Internacional dos Trabalhadores
sindicais, representantes de entidades Felipe Saboya. “Apesar das diferenças, a calendários virtuais,enquetes, etc. acompanhamento da execução do Pacto Nacional pela Erradicação do Químicos, Energia e Mineiros (ICEM).
empresariais, sindicais e governamentais troca de experiências foi avaliada como Para o coordenador do CUTMulti, José Pacto. O objetivo foi reunir as entidades Trabalho Escravo é uma iniciativa O IOS foi o único representante
dos dois países. Pelo Brasil, estiveram benéfica por ambos os lados”. Drummond, a iniciativa vai tentar signatárias para debater ações a da Organização Internacional do brasileiro no evento, onde também
presentes Central Única dos O Observatório Social apresentou uma suprir os problemas de comunicação fim de garantir o cumprimento e o Trabalho (OIT), do Instituto Ethos de foi analisada a relação existente
Trabalhadores (CUT), IOS, Confederação proposta de continuidade desse debate, que muitas redes enfrentam e com acompanhamento das ações previstas Empresas e Responsabilidade Social, entre trabalhadores e empresa em
Nacional da Indústria (CNI) e Secretaria- tendo a pesquisa como principal ponto isso fortalecer a ação sindical. no Pacto Nacional. Como membro do da ONG Repórter Brasil e do Instituto cada país representado.
Geral da Presidência. Pela Noruega, de referência. Os participantes se Criado em 2003, o Conexão Sindical Comitê, o Instituto Observatório Social Observatório Social. Trata-se de um Segundo a representante do IOS no
participaram representantes do comprometeram com a manutenção tem 15 mil textos indexados, 1.900 apresentou a Plataforma Virtual de acordo no qual empresas, entidades evento, a pesquisadora Lilian Arruda,
governo e da embaixada norueguesa, desse grupo de acompanhamento informes e cerca de mil documentos Monitoramento e treinou as entidades representativas e organizações da a partir do encontro serão realizados
Confederação das Indústrias da e com o intercâmbio de informações na Biblioteca Virtual. presentes para o correto preenchimento sociedade civil comprometem-se a levantamentos importantes sobre
Noruega (NHO) e Confederação e experiências entre os dois países. Acesso em www.os.org.br/conex do formulário virtual. Representantes defender os direitos humanos, eliminar o a empresa em diferentes países,
de 37 entidades, entre empresas e trabalho escravo nas cadeias produtivas a começar por Holanda, Brasil,
organizações signatárias do Pacto e auxiliar na inclusão no mercado de Indonésia e África do Sul.
Nova fase da Universidade Global do Trabalho Nacional, estiveram presentes.
Durante todo o evento, foi reforçada a
trabalho das pessoas resgatadas de
condições degradantes de trabalho.
Nos dias 6 e 7 de julho, representantes do IOS Entre os principais pontos debatidos destacaram- importância da comunicação constante
participaram do Seminário Nacional Estratégias se a solidariedade internacional, o contrato coletivo entre o Comitê e as signatárias. “Ano
Sindicais em uma Economia Globalizada. Realizado em
Campinas (SP) pela Universidade Global do Trabalho
nacional, a representação local e regional dos sindicatos
e práticas inovadoras de organização e de negociação
após ano, percebemos o grande
aumento no número de assinaturas
Pesquisa no 10° CONCUT
(GLU), o evento atualizou o programa de disciplinas da sindical. Incentivo à participação de dirigentes sindicais, do Pacto, mas ele não pode se limitar O IOS realizou uma pesquisa com todos os delegados participantes do 10°
Universidade relacionadas a estratégias e ao movimento financiamento dos alunos e divulgação também foram a assinaturas, é preciso que haja Congresso Nacional da CUT (CONCUT), que aconteceu entre 3 e 7 de agosto
sindical. Participaram mais de 50 pessoas, entre questões discutidas. Iniciativa do movimento sindical ações e que elas sejam registradas”, em São Paulo (SP). Entre os temas pesquisados estiveram Trabalho Decente,
acadêmicos, ex-alunos da GLU, alunos da Universidade internacional e seus parceiros, o programa oferece afirmou o supervisor institucional do Meio Ambiente, Responsabilidade Social e HIV/AIDS no local de trabalho. O
Estadual de Campinas (Unicamp), dirigentes sindicais da mestrado para sindicalistas em quatro países (África IOS, Amarildo Dudu Bolito. “Por isso, evento contou com a presença de cerca de 2.500 delegados de todo o Brasil.
CUT, pesquisadores e representantes da Unicamp, CUT, do Sul, Alemanha, Brasil e Índia). No Brasil é organizado é essencial que as signatárias tenham Oitenta por cento dos participantes responderam as questões propostas. Os
Fundação Friedrich Ebert (FES) e IOS. pela CUT, IOS, Unicamp e FES. consciência da responsabilidade que resultados serão publicados no site do IOS em 2010, e também farão
assumem quando assinam o Pacto, e isso parte de publicação especial da CUT.
© FOTOS SXC.HU
NOTAS 55
OBSERVATÓRIO SOCIAL •

Nanotecnologia
EM DEBATE
Trabalho Decente em foco
Entre 17 e 19 de novembro, o IOS participou de um ciclo internacional
CONEXÃO SINDICAL
Conectando pessoas, idéias e ações pela globalização dos direitos
de debates sobre Trabalho Decente. Realizados em Bruxelas, na Bélgica,
OIS esteve representado no VI Seminário os seminários tiveram como tema Trabalho Decente e Multinacionais,
Internacional de Nanotecnologia, e Impactos das Relações Comerciais Europeias no Trabalho Decente.
Sociedade e Meio Ambiente e no VI Os eventos foram promovidos pelas entidades Solidar, War on Want e
Seminanosoma. Os eventos aconteceram European Coalition for Corporate Justice (ECCJ), membros da Rede Global.
entre 20 e 22 de outubro, em Manaus, com Entre os objetivos estavam a troca de experiências sobre o monitoramento de
apoio na organização da Fundação Djalma empresas a fim de melhorar as condições de trabalho nos países do Hemisfério
Batista. Leila Zidan, pesquisadora do IOS, Sul, analisar os efeitos das negociações comerciais da União Européia com
foi debatedora da mesa Nanotecnologia, outros países e debater como garantir o desenvolvimento sustentável nos
Riscos e Impactos Ambientais. acordos comerciais que o bloco europeu vem negociando. Participaram cerca
Foram discutidos diferentes aspectos de 70 pessoas, entre membros do Parlamento Europeu, representantes
da nanotecnologia, que é a investigação sindicais de multinacionais, membros de ONGs e da Comissão Européia.
e manipulação controlada da matéria em
escala nanométrica. Entre os temas de debate, Contribuição do IOS >> O IOS, como membro da
regulação, economia e políticas públicas em Rede Global, apresentou sua experiência de 12 anos de pesquisa
nanotecnologia, riscos e impactos ambientais. em multinacionais, destacando a sua metodologia, os resultados
As apresentações foram feitas obtidos e os casos de algumas empresas. Na discussão sobre a União
por pesquisadores de diferentes áreas. Européia, o IOS sintetizou o debate sobre as negociações na Organiza-
Os debates são de grande importância para os ção Mundial do Comércio, no âmbito da rodada de Doha, destacando
trabalhadores. Atualmente, há preocupação
dos profissionais da área de saúde no trabalho
a posição do governo brasileiro e os possíveis impactos de um acor-
do nos moldes atuais para os trabalhadores.
Informe-se, debata e troque experiências
quanto à utilização de produtos e processos
desenvolvidos em nano escala, principalmente
sobre temas importantes do mundo do trabalho
pela falta de referenciais sobre riscos à saúde Experiências >> As organizações presentes reforçaram a necessidade
do trabalhador. “Ainda não há um marco de mudança na estratégia comercial da União Européia, a fim de incluir
regulatório que monitore a utilização o conceito de trabalho decente como um de seus objetivos principais. Negociação Coletiva Liberdade Sindical
da nanotecnologia no Brasil”, afirma. Organizações como o Sindicato da Zona Franca de Comércio, do Sri Lanka,
“Por enquanto, trabalhamos com o Grupo de Monitoramento Independente, de El Salvador, e o Monitor de Discriminação de Raça / Etnia Discriminação de Gênero
os danos prováveis à saúde”. Investimento Estrangeiro Direto (FDI), da Índia, ilustraram as péssimas Trabalho Forçado Trabalho Infantil
Representantes dos ramos metalúrgico, condições de trabalho existentes em seus países devido ao comportamento
plásticos e de processamento de dados irresponsável das empresas multinacionais. Na Europa, a demanda das Saúde e Segurança do Trabalhador Meio Ambiente
acompanharam o evento. organizações de defesa dos direitos dos trabalhadores é que haja avanço Responsabilidade Social Empresarial Trabalho Decente
no marco regulatório para empresas atuantes na região.

Encontro sobre multinacionais na Colômbia


Nos dias 5 e 6 de novembro, desnacionalização da indústria têm também foram tema de debate, com
ACESSE JÁ:
representantes do IOS participaram do impactado fortemente os trabalhadores destaque para as empresas brasileiras
VI Encontro Nacional de Sindicatos
de Trabalhadores de Empresas
locais e dos países próximos.
Entre os focos do encontro esteve a
e mexicanas. “O comportamento
dessas empresas não tem se mostrado www.os.org.br/conex
Multinacionais, realizado na Colômbia criação de redes sindicais no país, para adequado, apesar da resistência dos
pela Escuela Nacional Sindical compartilhar informações e coordenar sindicatos, que sempre lutaram contra as
(ENS). O evento reuniu dirigentes ações frente às multinacionais instaladas. violações trabalhistas das multinacionais
sindicais, representantes de empresas, As multinacionais de capital latino- europeias, japonesas ou norte-
pesquisadores e especialistas. Na americano, que, nos últimos anos, têm americanas”, afirmou o coordenador
Colômbia, a abertura econômica e a crescido e se espalhado pelo mundo, de pesquisas do IOS, Felipe Saboya.
Um projeto: Apoio:

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