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  O PATOLÓGICO

O PATOLÓGICO
Centro Acadêmico Adolfo Lutz - Medicina Unicamp - ano mmix - MAIO

MOVIMENTO ESTUDANTIL
N
esta edição do “O Patológico” de medicina (MEM) e a história da nossa
debateremos o tema do executiva de curso, a DENEM; e o último
Movimento Estudantil (ME) de uma estudante de nossa faculdade,
com três textos: um feito atual coordenadora regional da DENEM
pelo Diretório Central dos Estudantes que discute elementos que sempre estão
(DCE) que conta seu histórico e papel presentes no cotidiano do estudante e
na UNICAMP; outro de um estudante da de quem faz Movimento Estudantil.
USP - SP sobre o movimento estudantil leia mais >> p. 4 e 5
>> Espanha: vivências,
PasCAAL aprendizados e reflexões! p. 6
Luiz Gustavo (Frango) - XLIII
No dia 16 de abril aconteceu mais uma edição do
PasCAAL na Sociedade Pró-menor de Barão Geraldo.
>>SAIU NA MÍDIA
MEC dá ultimato a curso de
medicina da UFBA p. 7
Confira na mesma página o que acham os
estudantes da UFBA.
>>SPASMO!
Surubim - perguntas da Elicinha p.8
Fabrício D. da Costa (Bambu) - XLV
>> 100 bilhões de saudades p. 8
Homenagem ao prof. Francesco Langone.
Fabrício D. da Costa (Bambu) - XLV

GD DE MOVIMENTO ESTUDANTIL
Aprofundaremos o debate sobre
este tema.
Dia 21/05 as 18h30 na Sede
Social do CAAL.
Com Happy Hour após a
discussão!
Participem!
OMBUDSMAN
2  O PATOLÓGICO MAIO DE 2009

Balancete
ABRIL
Dia Descrição Saldo

Sobre movimen-
Débito Crédito
mesmos e seu valor para todos nós, que Saldo Mês Anterior R$ 24.775,38
recebemos quase tudo pronto, como se 01/04/2009 Faixas Seminário Hospital Universitário R$ 180,00 R$ 24.595,38

isso ou aquilo já existisse desde sempre. O 01/04/2009 Pagamento Contador R$ 1.515,00 R$ 23.080,38

tos e frangos
02/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 23.150,38
SUS, por exemplo, tem pouco mais de 20 02/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 23.220,38
anos e é protagonista na vida de todos na 03/04/2009 Pagamento Salário Funcionários R$ 2.365,27 R$ 20.855,11

Medicina UNICAMP, que vivemos perante 03/04/2009 Pagamento Patológico


03/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês
R$ 448,36
R$ 70,00
R$ 20.406,75
R$ 20.476,75

Foca - XLIII sua realidade diariamente, porém são 03/04/2009 Patrocínio Calourada R$ 100,00 R$ 20.576,75
muito poucas as oportunidades de parar 03/04/2009 Patrocínio Calourada R$ 50,00 R$ 20.626,75

e refletir o quão difícil foi instaurar um 03/04/2009 Patrocínio Calourada R$ 110,00 R$ 20.736,75
Dou os parabéns à iniciativa do CAAL sistema de saúde que abrangesse todos 03/04/2009 Patrocínio Calourada R$ 85,00 R$ 20.821,75

de fazer uma discussão mais aprofundada os habitantes (pelo menos em teoria) de


03/04/2009
03/04/2009
Pagamento Registro do Site
Venda de Kit do Calouro
R$ 30,00
R$ 35,00
R$ 20.791,75
R$ 20.826,75
sobre o tema Movimento Estudantil um país continental como o nosso. 03/04/2009 Diferença Inscrições ROEX Salvador R$ 46,00 R$ 20.872,75
(ME), uma vez que é uma entidade que Não sou o mais indicado para falar em
03/04/2009 Reembolso Calourada R$ 111,00 R$ 20.761,75

representa todos os alunos, de Medicina ME, nem sequer compareci ao Seminário


03/04/2009
03/04/2009
Reembolso Calourada
Reembolso Calourada
R$ 173,00
R$ 60,00
R$ 20.588,75
R$ 20.528,75
ou não, nos mais diferentes níveis de Hospital Universitário HC/UNICAMP 03/04/2009 Compra de Roteador R$ 249,00 R$ 20.279,75
atuação, desde dentro do próprio CAAL (dura vida de CAISM...), mas o que sei é 06/04/2009 Pagamento Telefone Telefônica R$ 490,67 R$ 19.789,08
até nacionalmente, dentro da DENEM. que ninguém sobrevive sendo alienado
07/04/2009 Pagamento Xerox R$ 267,32 R$ 19.521,76

Todos que defendem os direitos dos sobre assuntos que o rodeiam no dia- 07/04/2009 Gastos Papelaria Seminário Hospital
Universitário R$ 58,14 R$ 19.463,62

estudantes devem ser respeitados e a-dia, sejam eles políticos, econômicos, 13/04/2008 Pagamento Provedor Internet R$ 9,90 R$ 19.453,72

apoiados, já que não trabalham somente sociais etc. Ou seja, de nada vale ser o
13/04/2009 Pagamento Assinatura Correio Popular R$ 44,90 R$ 19.408,82
13/04/2009 Recebimento Aluguel Randall R$ 800,00 R$ 20.208,82
visando o próprio benefício, mas o de toda “CR 1” da turma e não fazer idéia de como 14/04/2009 R$ 240,00 R$ 19.968,82
uma classe. Portanto, o mínimo que nós anda o hospital no qual fará seu internato 15/04/2009 Pagamento Tarifa Conta Corrente R$ 37,00 R$ 19.931,82
outros, não envolvidos diretamente neste e, possivelmente, sua residência, ou
15/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 20.001,82

trabalho, devemos fazer é ter consciência também ser muito politizado e exigir
15/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês
15/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês
R$ 70,00
R$ 70,00
R$ 20.071,82
R$ 20.141,82
do trabalho árduo realizado e conhecer mudanças radicais dentro do nosso HC na 15/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 20.211,82
um pouco do que é e como funciona o ME. atual situação de crise econômica vivida 15/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 20.281,82

Todos os que foram do CAAL ou por todo o mundo.


15/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês
15/04/2009 Pagamento Professora de Francês R$ 1.400,00
R$ 70,00 R$ 20.351,82
R$ 18.951,82
participaram de algumas das discussões É por isso que ainda não vejo o Patológico 15/04/2009 Recebimento Inscrições Seminário HUE R$ 900,00 R$ 19.851,82
organizadas por este órgão ao longo da desta gestão como um informativo ideal
16/04/2009 Pagamento Hotel Palestrantes Seminário R$ 230,00 R$ 19.621,82

graduação já tiveram um contato com dentro da nossa faculdade, uma vez que
16/04/2009
17/04/2009
Pagamento Coffee Break Seminário
Repasse Reitoria
R$ 700,00
R$ 5.014,56
R$ 18.921,82
R$ 23.936,38
o assunto, ativamente, participando de ainda não encontrou um equilíbrio entre 20/04/2009 Pagamento Telefone Embratel R$ 43,10 R$ 23.893,28
seminários como o realizado em meados assuntos publicados. Como o jornal da 20/04/2009 Transferência para a Poupança R$ 380,00 R$ 23.513,28

de abril passado ou apenas ouvindo as Med UNICAMP, ele deve trazer a seus
20/04/2009 Pagamento Faixas Showmed R$ 84,00 R$ 23.429,28
22/04/2009 Patrocínio Calourada R$ 50,00 R$ 23.479,28
experiências de quem participa de grupos leitores as principais informações sobre o 22/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 23.549,28
de discussão e mesas sobre o assunto. De que aqui acontece, sejam elas de cunho 22/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 23.619,28
uma forma ou de outra, o fundamental é político, social ou outra qualquer. É claro
22/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 23.689,28

o estudante ter uma postura ativa sobre o que não é possível publicar todos os
22/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês
22/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês
R$ 70,00
R$ 70,00
R$ 23.759,28
R$ 23.829,28
seu processo de educação, consciente do eventos e acontecimentos importantes 22/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 70,00 R$ 23.899,28
local onde ele está inserido, sua função na ocorridos em tão longo espaço de 22/04/2009 Recebimento Mensalidade Aulas de Francês R$ 210,00 R$ 24.109,28

sociedade e direitos que possui, inclusive o tempo, mas parece que me enganei ao
22/04/2009 Compra de Cartucho para impressora
Gastos Transporte de Palestrantes Seminário
R$ 90,00 R$ 24.019,28

de não concordar com posições impostas pensar que edições mensais fariam d’ O
24/04/2009
HU
R$ 20,00 R$ 23.999,28

por seus “superiores” e lutar por melhores Patológico um jornal mais palatável, que
24/04/2009 Pagamento Tarifa Extrato Inteligente R$ 3,90 R$ 23.995,38

condições. Esta postura ativa não é, conseguiria conciliar assuntos acadêmicos


27/04/2009
27/04/2009
Pagamento Assinatura Jornal Folha
Pagamento Transporte Reunião Regional
R$ 90,50
R$ 390,00
R$ 23.904,88
R$ 23.514,88
necessariamente, participar de greves e e extracurriculares de forma a tornar-se 28/04/2009
Compra Passagens Aéreas Palestrantes R$ 521,88 R$ 22.993,00
discutir teorias sobre o ME, mas ter uma uma leitura agradável e ao mesmo tempo
Seminário HU

opinião sobre o assunto, não deixar que informativa. Essa já é uma crítica crônica
30/04/2009 Compra Coroa de Flores
Saldo Final do Mês
R$ 130,00 R$ 22.863,00
R$ 22.863,00
outros respondam por você no que diz em meus textos. Será que devo tomar Poupança do CAAL R$ 17.687,25
respeito à sua formação acadêmica. aulas de hipnoterapia com o Frango Saldo Total do CAAL R$ 40.550,25
À partir de então, somente, é que se e praticar na atual gestão do CAAL?
perceberá as conquistas que resultaram
na união dos estudantes em prol de si
Veremos...
Nota de falecimento
Workshop Medicina UNICAMP 2009 É com pesar que notificamos o falecimento do Profes-
sor Francesco Langone, docente do Departamento de Fi-
Gestão Roda Viva siologia e Biofísica do Instituto de Biologia da Unicamp.
No dia 4 de julho, ocorrerá o Workshop Medicina Unicamp 2009. Enviamos nossos sentimentos à família e aos amigos .
Se você quiser divulgar o evento em seu cursinho e/ou escola, passe no
CAAL e pegue um cartaz do Workshop, para levar até o local.
O Workshop é um evento que tem como intenção mostrar a estudantes do PasCAAL aconteceu...
ensino médio e vestibulandos a profissão do médico e o nosso curso de Me- Ana Carol Riedel - XLV
dicina. Foi realizado nos anos de 2005, 2006 e 2007 pelo Centro Acadêmico Gestão Roda Viva - CAAL
(além de outros anos). No dia 16 de abril o CAAL realizou mais uma edição
Contamos com a colaboração de todos! do PasCAAL, levando chocolates e alegrias para a Páscoa
das crianças assistidas pela Sociedade Pró-menor de Ba-
rão Geraldo, localizada atrás da moradia da UNICAMP.
Fruto de doações dos alunos da Medicina UNICAMP e
trabalho do CAAL, pudemos proporcionar um momen-
to doce para 90 crianças que frequentam a instituição no
período extra-escolar.
Agradecemos à contribuição de todos e continuem
participando!
  O PATOLÓGICO MAIO DE 2009 3

SEMINÁRIO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO / HC - UNICAMP


Josué Rocha - XLV dual do Rio de Janeiro. Em sua palestra ela abordou os diferentes modelos de
Gestão Roda Viva - CAAL gestão dando maior ênfase às fundações estatais de direito privado. As funda-
ções estatais de direito privado são formas de administração indireta do poder
público que foram criadas pelo governo com o objetivo de dar maior agilidade
Nos dias 14 e 15 de abril de 2009 o CAAL organizou o seminário Hospital
e efetividade para induzir mudanças em algo que estava dando errado, a admi-
Universitário/HC-UNICAMP na Faculdade de Ciências Médicas. O evento con-
nistração pública direta principalmente dos serviços de saúde. Segundo Mary
tou com 90 inscritos entre estudantes de medicina da UNICAMP e de Jundiaí,
Jane, essa proposta de fundação estatal vai de encontro aos projetos privati-
estudantes de enfermagem, fonoaudiologia, economia e professores.
zantes de reduzir as atividades exclusivas do Estado e transformar quase todas
O primeiro dia foi dedicado à discussão da crise dos hospitais universitários
as dimensões da vida social em negócios fortalecendo o capital à custa do tra-
no Brasil e da situação do HC/UNCAMP. O segundo dia foi dedicado à exposição
balhador. Ao se dar à administração publica um caráter privado e submetê-la
dos diferentes modelos de gestão dos hospitais e ao debate desses modelos.
a concorrência com o setor privado em serviços essenciais como a saúde im-
Na primeira palestra Bernardo Pilotto, trabalhador do Hospital de Clínicas
plementa-se no Estado a lógica empresarial do lucro. Além disso, as fundações
da UFPR e diretor do Sinditest-PR – Sindicato dos Trabalhadores da UFPR, UTF-
estatais de direito privado representam uma precarização do trabalho, pois os
PR e FUNPAR/HC, falou sobre a origem dos hospitais universitários ressaltando
funcionários antes contratados no regime estatutário com estabilidade asse-
sua importância atual no contexto do SUS representando cerca de 10% dos
gurada passam a ser celetistas.
leitos e 12 % das internações. Inicialmente os hospitais universitários tinham
Depois da palestra aconteceu um debate acalorado sobre os modelos de
orçamento proveniente de quatro partes: o Ministério da Educação arcava
gestão. Participaram da mesa de discussão Lenir Santos, advogada, ex-procu-
com as despesas referentes aos recursos humanos,
radora da UNICAMP e coordenadora do Institu-
o Ministério da Saúde se responsabilizava pela
to de Direito Sanitário Aplicado de Campinas,
infra-estruturara, o Ministério da Ciência e Tec-
o Dr. Francisco Eugênio Alves de Souza, vice-
nologia pelas despesas com pesquisa e os recur-
presidente da Associação Brasileira de Hospitais
sos do SUS custeavam o serviço. Com o passar
Universitários e de Ensino e diretor do HC Re-
do tempo os valores da tabela SUS foram conge-
gional do Norte do Paraná (UEL), Ramon Rawa-
lados e o MEC parou de contratar funcionários
che, estudante de medicina da Universidade Fe-
via concurso público. Para atender a demanda
deral do Ceará e coordenador geral da Direção
crescente do serviço os funcionários passaram a
Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina
ser contratados com regime de trabalho celetis-
e a professora Mary Jane.
ta via fundações de apoio com recursos que de-
Lenir Santos apresentou novamente o con-
veriam ser empregados na infra-estrutura. Essas
ceito de fundação estatal de direito privado
situações somadas geraram, segundo Pilotto,
demonstrando que a criação de fundações é
uma crise que tinha em sua essência a falta de
assegurada por lei. O Estado pode criar essas
financiamento público. Como alternativa tenta-
fundações para administrar atividades que não
se implantar diferentes modelos de gestão com
sejam de sua exclusividade como saúde, ciência
o intuito de flexibilizar a administração e a cap-
e tecnologia, educação, turismo, etc. Essas fun-
tação de recursos. Para Pilotto a maioria dessas
dações ajudariam o Estado a desempenhar suas
alternativas, além de representar prejuízo para
atividades de forma mais eficiente concorrendo com a livre iniciativa através da
funcionários e estudantes, por não garantir estabilidade no emprego e inter-
autonomia e flexibilidade de gestão. Essas fundações só seriam criadas através
ferir nos campos de estágio, não resolve o problema principal que é a falta de
de leis próprias não poderiam ter fins lucrativos, e só poderiam existir em áreas
financiamento.
em que o poder público não necessite exercer seu poder de autoridade. Suas
Na mesa que tratou da situação do HC/UNICAMP estavam presentes o su-
receitas não estariam vinculadas ao Orçamento da União, mas seriam destina-
perintendente do HC Dr. Luiz Carlos Zeferino, o Dr. Marco Antônio de Carvalho,
das pelo poder público através de contratos de gestão com livre administração
docente do departamento de clínica médica, a Dra. Giovanna Ignácio Subira
orçamentária. Segundo Lenir, o fato do regime de trabalho ser CLT não repre-
Medina, presidente da Associação dos Médicos Residentes da UNICAMP e a
senta uma precarização, pois a Consolidação das Leis Trabalhistas representou
estudante do 6º ano Ana Cláudia Vaz Tostes Lima.
um grande avanço para os direitos dos trabalhadores brasileiros, sem falar que
Em sua exposição o Dr. Zeferino apresentou dados referentes ao HC des-
com a CLT o trabalho se torna mais eficiente do que com o regime estatutário,
tacando que nos últimos anos o hospital tem conseguido quitar suas dívidas.
o qual impossibilita que até mesmo os maus funcionários sejam demitidos.
Elencou também as maiores dificuldades do hospital que são contratação de
O Dr. Francisco Eugênio, contextualizou mais uma vez a crise dos hospitais
pessoal, incorporação de tecnologia e manutenção de infra-estrutura. Atual-
universitários no Brasil e a alternativa que os novos modelos de gestão repre-
mente a maior parte dos funcionários do hospital é contratada via Funcamp
sentaram frente a crise. Falou também sobre o processo de credenciamento
pelo regime CLT. Por conta disso o hospital está envolvido em processos judi-
dos hospitais universitários. E destacou que atualmente a Associação Brasileira
ciais que determinam que o número de funcionários celetistas deve ser redu-
de Hospitais Universitários de Ensino não têm uma posição definida a cerca da
zido e o número de funcionários estatutários deve aumentar. Nos últimos anos
discussão sobre modelos de gestão.
boa parte dos recursos do hospital tem sido utilizada para pagar dívidas, o que
Ramon Rawache começou sua fala argumentando que a discussão a cerca
dificulta a implantação de novas tecnologias. Em relação à infra-estrutura, Ze-
das fundações estatais de direito privado não podia ser levada apenas no cam-
ferino argumenta que o HC é uma construção antiga que demanda inúmeras
po jurídico, era preciso ser feita uma análise global sobre o que a inserção da ló-
reformas, muitas delas já tem sido feitas como a troca dos encanamentos das
gica do direito privado na administração pública representava para a socieda-
enfermarias, mas outras ainda precisam acontecer em caráter emergencial. Por
de. Nesse sentido suas argumentações foram de encontro ao que a professora
fim, ele esclarece que apesar do financiamento também ser um problema, é
Mary Jane havia proposto inicialmente. As fundações estatais representam a
necessário haver reformas no modelo de gestão hospitalar para possibilitar
indiferenciação entre o público e o privado, a hipervalorização de questões
maior flexibilização na administração, contratação de pessoal e captação de
técnicas e gerenciais e a despolitização das relações de classe presentes nas
recursos.
políticas sociais e evidenciadas na administração pública direta. Sem falar que
O Dr. Marco Antônio iniciou sua fala resgatando o conceito de universi-
a implantação de fundações reduziria o controle social dos serviços de saúde,
dade baseado no tripé ensino, pesquisa e assistência e demonstrou que o hos-
uma das diretrizes do SUS, pois os conselhos dos quais os usuários fariam parte
pital universitário está inserido nessa realidade. Destacou o papel do docente
estariam subordinados a uma administração central. Além disso, ela representa
frente a esse conceito de universidade. Atualmente o professor é cobrado para
uma precarização do trabalho sim, pois em comparação ao regime estatutá-
ter atividades relacionadas a essas três áreas, mas muitas vezes não consegue
rio, o regime celetista apresenta menores direitos trabalhistas. O argumento
se dedicar a todas elas. Também relatou sua experiência no Pronto Socorro,
de que o regime estatutário perpetua em seus cargos maus funcionários não é
onde as necessidades de um ensino e de uma assistência de qualidade esbar-
válido, pois ele também prevê punições para funcionários que não desempe-
ram nas condições precárias da infra-estrutura.
nham corretamente suas funções.
Tanto a residente Dra. Giovanna quanto a estudante Ana Cláudia fizeram
Os participantes do seminário deram continuidade à discussão se posicio-
suas falas reconhecendo a importância do HC, mas destacando as adversi-
nando e expondo suas dúvidas referentes ao tema e após um interessante
dades a que os estudantes e residentes são submetidos todos os dias. Carga
debate acabou o segundo dia de seminário. O Seminário Hospital Universitá-
horária excessiva, necessidade de desempenhar funções que deveriam ser re-
rio/HC-UNICAMP representou um grande avanço na discussão dos modelos
alizadas por outros funcionários, falta de supervisão em alguns estágios, infra-
de gestão, trazendo até os estudantes pessoas que participam desse debate
estrutura precária como é o caso do Pronto Socorro são exemplos de situações
nacionalmente, sem falar de sua importância na discussão de nosso HC, co-
que interferem no ensino de qualidade.
locando frente a frente superintendente, docente, residente e estudante para
O segundo dia começou com uma palestra da Professora Mary Jane de Oli-
apresentar dados, fazer críticas e propor melhorias para o hospital.
veira Teixeira, professora da Faculdade de Serviço Social da Universidade Esta-
4  O PATOLÓGICO MAIO DE 2009

MOVIMENTO ESTUDANTIL
Afinal, de que estamos falando!? Nesta edição trazemos alguns textos para debater o movimento
estudantil geral e o movimento estudantil de medicina.
O DCE e a história do estudantis em todo o pais. Esse movimento vinha em resposta
a truculência da ditadura, um dos casos mais conhecidos dessa
época foi a morte do estudante Edson Luis em 1968, morto por
aumento e tiveram vitória.
SUBA (2003): Em manifestação contra os projetos de
extensão pagos que acabavam com o tripé ensino, pesquisa e

movimento estudantil PM’s no bandejão de sua universidade quanto preparava-se


para uma passeata. E nesse clima de luta que se gesta o DCE da
Unicamp, fundado em 1978.
extensão, os estudantes ocuparam um restaurante desativado
em frente ao bandejão e construíram o SUBA (Sociedade e
Universidade em Busca de Alternativas).

da UNICAMP. Para elucidar a importância que o movimento estudantil


tem para a organização da resistência e a luta pelos direitos
sociais e, principalmente, pela Educação Publica, Gratuita e
de Qualidade para todas e todos, nos 30 anos o DCE Unicamp
Campanha contra o VETO (2005): Foi aprovado o
aumento do repasse do ICMS para as Universidades na
Assembléia Legislativa (ALESP), depois de 10 anos de mesmo
valor. No entanto, o governador Alckmin vetou o aumento.
Texto produzido para o Manual da Calourada Integrada de encampou muitas lutas que procuramos demonstrar nos fatos Os estudantes resistiram, em atos na Av. Paulista e em frente a
2008 em comemoração dos 30 anos do DCE Unicamp. descritos abaixo: ALESP, com dura repressão da PM.
Revisado e atualizado pela Gestão do DCE “E preciso Nave- Intervenção do Maluf (1982): Grande mobilização contra Retomada das Eleições de RD’s (2007): Em 2003, a reitoria
gar” – 2008/09 para o Jornal “O Patológico”. a intervenção do governador Paulo Maluf, que tirou o Reitor tomou o direito dos estudantes de organizarem suas eleições
eleito democraticamente pela comunidade acadêmica Paulo para os Representantes Discentes nos orgãos colegiados da

O
movimento estudantil (ME) historicamente sempre Freire e nomeou o décimo segundo nome da lista sêxtupla de Universidade. No entanto, depois da ocupação da Reitora em
esteve alinhado as grandes lutas que se desenrolam votação, Aristodemo PINOTTI (ex-secretario de Ensino Superior, 2007, os estudantes reconquistaram esse direito.
no pais. Na ditadura militar os estudantes foram a em 2007). Decretos Declaratórios do Serra (2007): Em 2007, o
linha de frente das organizações que lutavam contra os regime SOS Universidade (1988): Em semelhança aos decretos ME da Unicamp novamente mostrou sua força combatendo
e foram decisivos para o processo de redemocratização no pais, do Serra quando em 1988 o governo estadual ensaiou retirar os decretos do Serra. Fizemos estrondosa greve geral dos
no fora Collor foram também os estudantes com suas caras a autonomia da universidade. Estudantes, Funcionários e estudantes, com a ocupação da Reitoria da Unicamp, e
pintadas que foram as ruas exigir a saída do presidente. Em Professores fizeram uma das maiores greves do estado e ocupação da Reitoria do DCE da USP e atividades que
2007 os estudantes novamente mostraram sua força lutando conseguiram retomar a autonomia. buscavam esclarecer e debater que os Decretos eram ataques
contra a Reforma Universitária do governo Lula e os decretos LUTA pela Moradia Estudantil (TABA, 1989): Os a autonomia universitária, garantida constitucionalmente. E
do Serra, ocuparam reitorias e fizeram greve. estudantes ocuparam e moraram no Ciclo Básico 1. O mais uma vez fomos vitoriosos, os decretos foram revogados
E claro que entre essas grandes lutas os estudantes não movimento TABA lutou pela construção da Moradia Estudantil, no que tange a autonomia universitária e a queda do Secretário
ficara parados, dentro da universidade não foram poucas conquistada após dois anos de ocupação. de Ensino Superior PINOTTI.
as vezes em que os estudantes se colocaram nas lutas mais Cobrança de Mensalidade (1996): Após a iniciativa do Como o tempo não para...agora o 2009, o ME da Unicamp
pontuais se organizando para os grandes momentos do governador Covas (PSDB) de cobrança de mensalidade nas novamente vem demonstrando sua força na organização dos
movimento estudantil. Na Unicamp, durante os 30 anos de universidades estaduais, os estudantes fizeram manifestações estudantes contra mais um decreto de Serra que precariza a
DCE muito foi feito, no entanto, há ainda muito a fazer e para e conseguiram barrar a cobrança. Só da Unicamp, no principal universidade publica que e a UNIVESP (Universidade Virtual
isso e preciso conhecer as lições do passado para as lutas do passeata em SP, partiram 11 ônibus. de São Paulo) que pretende aumentar exponeciamente as
presente. Greve de 2000: Estudantes e Professores de toda a rede vagas nas estaduais paulistas através da formação superior
Na década de 1970, em meio ao período decadente e de ensino publico estadual fizeram umas das maiores greves integral pela Internet, TV e plantão de duvidas em site de
não menos violento da ditadura, os estudantes mostravam da historia contra a precarização e os baixos salários do relacionamentos e nos 0800.
suas forças criando e reconstituindo suas entidades de luta. funcionalismo publico. E preciso que o Movimento Estudantil diga não contra
E nesse momento que se reconstitui a UNE (União Nacional Aumento do Bandejão (2003): A reitoria propôs um qualquer forma de precarização do Ensino. E necessário
dos Estudantes) e se fundam vários DCE’s e CA’s e entidades aumento de R$2,00 para R$3,50 no inicio do ano. O DCE junto lutarmos pela Universidade Publica, Gratuita e de Qualidade,
com os CA’s organizou o movimento “pula-catraca” contra o para Todas e Todos.

A DENEM e a história do peculiar da hisória brasileira, em que o país passa pelo cha-
mado processo de redemocratização e vê o fim do regime
militar. Embora chamada por alguns de década perdida, os
so de Medicina. Ela se propunha a realizar a transformação
de todos os curriculos das escolas médicas. No entanto isso
não ocorre e a CINAEM tem fim no ano de 2001.

movimento estudantil anos 80 foram anos de intensa luta e de organização de di-


versos setores da sociedade, como foi o caso dos trabalha-
dores que criam a Central Única dos Trabalhadores – CUT
A DENEM, durante todo esse período também discuti-
de demais temas pertinentes aos estudantes de medicina,
como a implementação do SUS, a mercantilização da edu-

de medicina. – e dos trabalhadores rurais que criam o MST. Na campo da


saúde, a luta pela saúde como direito de todos é o grande
mote do movimento conhecido como Reforma Sanitária,
um importante agente que formulou as bases do que viria
cação, o boicote ao Provão do governo FHC, por exemplo.
Mas sem sombra de dúvidas, é na educação médica e no
projeto CINAEM que a DENEM depositou a maior parte de
seus esforços.
Ciro Matsui Junior a ser o SUS (Sistema Único de Saúde), criado na Constituinte E hoje, passados mais de 20 anos da criação da DENEM,
Estudante de Medicina USP-SP de 1988. da aprovação do SUS e depois do fim da CINAEM, a DENEM
Cordenador da Regional Sul 2 da DENEM em 2006 É nesse contexto que surge a DENEM, como uma nova faz um balanço crítico de sua breve história. O SUS não foi
forma de articulação dos estudantes de medicina, na luta implantado da forma como propunha a Reforma Sanitária,

A
DENEM – Direção Executiva Nacional dos Estu- conjunta com o movimento da reforma sanitária para cria- ao contrário, durante os duros anos neoliberais da década
dante de Medicina – é a entidade que organiza e ção de um sistema de saúde universal e em defesa da edu- de 90, ele sofreu contante pressão do setor privado da saú-
representa todos os estudantes de medicina do cação pública, gratuita e de qualidade, mote esse adotado de que dele se usou para obter seus lucros. As escolas mé-
Brasil, das diferentes regiões, estados e faculdades. Criada por todo o movimento estudantil. dicas não passaram pelas transformações propostas pela
em 1986 no XVII ECEM (Encontro Científico dos Estudantes Diante desse cenário, qual seria o papel do movimento CINAEM. Na verdade, tanto o direito à educação quanto à
de Medicina) realizado em Fortaleza-CE. Isso mostra que o dos estudante de medicina e da DENEM? A grande resposta saúde sofrem constantes ataques e cada vez mais são tidos
movimento estudantil de estudantes de medicina era ante- como mera mercadoria. E no atual momento de crise do
rior a própria criação da DENEM. capitalismo, a tendência é que esses ataques aumentem.
Antes de 1986, os estudantes de medicina do país se Por isso a DENEM, hoje, passa novamente a se questio-
organizavam de outras formas. O primeiro relato de uma “Fica mais clara a necessidade do estudante nar sobre qual o papel dos estudantes de medicina. Será
que formar trabalhadores comprometidos a atuar no SUS é
articulação nacional entre os estudantes de medicina data de medicina de lutar, em conjunto com
de 1947 com a criação da UNEM – União Nacional dos Estu- o suficiente para atingir uma saúde de qualidade? Saben-
dantes de Medicina – que era uma entidade ligada a União os diversos setores da sociedade que do agora da forma como o setor privado ataca e se apro-
Nacional dos Estudantes – UNE, essa fundada em 1937. An- veita do SUS, parece insuficiente. Fica mais clara a necessi-
tes da UNEM, a organização dos estudantes de medicina se
defendem a saúde como direito, contra dade do estudante de medicina de lutar, em conjunto com
restringia ao âmbito local, e se dava por meio de sociedades os ataques e a privatização da saúde.” os diversos setores da sociedade que defendem a saúde
acadêmicas, ligas acadêmicas e centros acadêmicos. como direito, contra os ataques e a privatização da saúde.
A partir de 1967 inicia-se a discussão para a realização Mas, desde os primeiros momentos da história do mo-
de um encontro que pudesse reunir os estudantes dos cur- vimento estudantil de medicina até hoje, uma tônica per-
sos médicos do país para diferentes discussões. Mas é so- encontrada pelos estudantes nesse momento é a discussão manece – a necessidade dos estudantes de medicina de
mente em 1969 que é realizado o primeiro ECEM, que num da formação médica, iniciada com a Proposta de Tranforma- se organizarem, de lutarem e de se fazerem representar. A
primeiro momento tem um caráter mais científico, até mes- ção do Ensino Médico (PTEM), que é discutida já no ECEM e buscar constante dos estudantes por saber qual o seu papel
mo pela forte repressão do regime militar à qualquer forma 1985 e adotada como tarefa da DENEM desde sua criação. na sociedade,qual o seu papel para a tranformação dessa
de organização estudantil que o contestasse. Dai em diante Para a consolidação do SUS, era necessário a formação de sociedade marcada por enormes diferenças sociais, pela ex-
são realizados os CONEEM (Conselho Nacional de Entida- trabalhadores comprometidos em atuar e a contruir o SUS. ploração do homem também não pode cessar. Questionar-
des Estudantis de Medicina) para definir a data e o tema do Assim sendo, cabia aos estudantes de medicina lutar por se se a escola médica está formando o médico competente
próximo ECEM. Esses conselhos passam a ser coordenados transformação curriculares que atendessem a esse objetivo. e consciente de sua responsabilidade nessa transformação,
pelo secretário de biomédicas e o sub-secretário de medi- Em 1991 essa proposta ganha mais força com a criação da também deve ser uma obrigação. E a DENEM deve ser um
cina da UNE, duas diretorias que se propunham a organizar CINAEM – Comissão Interinstitucional Nacional de Avalia- instrumento que ajude o estudante e o movimento estu-
o movimentos estudantil de medicina. Assim foi até 1985. ção do Ensino Médico, da qual faziam parte a ABEM, o CFM, dantil de medicina a fazer essas reflexões e ir a luta pelos
o CREMESP, a AMB, a FENAM, além da DENEM. seus objetivos. Tanto melhor será seu sucesso nessa tarefa,
A Criação da DENEM A CINAEM se desenvolve em quatro fases e foi ela quem quanto maior for a participação dos estudantes de medi-
A década de 80 do século XX foi um momento bastante definiu a base das Diretrizes Curriculares Nacionais do Cur- cina.
  O PATOLÓGICO MAIO DE 2009 5

Consciência crítica para entender o seu cotidiano


Marília Francesconi Felicio Não é novidade que o sistema único de saúde brasileiro desqualificação e desrespeito ao trabalhador, nesse caso do
Estudante do quarto ano do curso de medicina da enfrenta problemas de financiamento. Um dado objetivo é RU – defender o racismo, ou seja, defender o que já justifi-
que o gasto em saúde per capita no Brasil vem sendo cer- cou e sustentou todo um passado escravista no nosso país e
UNICAMP. ca de um terço do gasto em países desenvolvidos, como o ainda deixa profundas desigualdades hoje, resumindo bas-
Coordenadora Regional Sul 2 da Direção Executiva Canadá. Esse dado se torna ainda mais absurdo se conside- tante a questão. Em hipótese alguma acho que deveria ser
Nacional dos Estudantes de Medicina. rarmos o desenvolvimento de novas tecnologias em saúde garantido espaço para defesa de tal posicionamento. Aliás,
que encarecem bastante um serviço considerado de quali- racismo é crime. Mas fica ao seu critério ampliar isso.

B
om, acho que podemos começar perguntando: dade ou o serviço que, acredito, deveria ser garantido. Avisei que ia usar um exemplo escandaloso. Felizmente,
para que serve o MEM (Movimento Estudantil de Mas o que o financiamento tem a ver com o interno? nenhum grupo de estudantes de Medicina defendeu isso.
Medicina)? Conheço quem diria que esses estu- Bom, talvez já tenha passado pela experiência, ou tenha ou- Esse fato ocorreu numa faculdade de Direito no Rio Grande
dantes têm mais é que estudar e cuidar das suas provas e vido falar, que a fila de espera para encaminhar um paciente do Sul há dois anos. Não pense que defendo fechar os es-
dos seus trabalhos, ainda mais num curso de medicina; ou para um serviço especializado era maior que seis meses ou paços para quem tem posição diferente da minha, coloquei
mesmo, que o MEM não é representativo. que o aparelho necessário para o exame indicado estava isso para refletirmos até que ponto se pode chegar.
Na tentativa de responder a pergunta, vou trabalhar em manutenção sem previsão de conserto. Além de outros Reforçando a necessidade dos espaços abertos, os en-
em cima dessas colocações a respeito do movimento e de problemas enfrentados em relação a materiais ou mesmo tendo como a possibilidade do embate de conteúdo e de
quem o compõe. Pensando na primeira crítica direcionada estrutura. Claro que não vou aqui simplificar a realidade idéias. Digo isso porque uma forma de desgastar esses es-
ao MEM que citei, acho lamentável e reducionista colocar de um Hospital Universitário, nem do serviço de saúde em paços e por consequência o ME é usar a tática da desqua-
o estudante apenas tendo como função estudar e ter bom dez linhas, muito menos defender melhorias no sistema lificação pessoal ao invés da contra-argumentação, ou seja,
desempenho. Mas mesmo sem concordar e assumindo a do debate claro.
crítica como verdade, fica o problema da qualidade da nos- A relação de representatividade entre uma entidade
sa formação. e a quem ela representa é uma relação de direito, ou seja,
Acredito que ao entrar na faculdade muitos crêem como
eu, que devem sair da graduação com uma boa formação: “...a entidade da qual falamos - CA, DCE, ocorre pelo processo de eleição e pelos fóruns abertos de
debate e deliberação. Todos têm o direito de comparecer,
sólida e com base na produção científica da nossa socieda- executiva de curso, etc - representa o participar, propor, votar, cobrar e debater. Isso significa que:
de. Formação essa em grande parte passada nos primeiros primeiro, a entidade da qual falamos - CA, DCE, executiva de
anos do curso e que quando consolidada nos daria possi- conjunto dos estudantes a que se propõe curso, etc – representa o conjunto dos estudantes a que se
bilidade de atuar como profissional crítico de nossas inter- e não cada estudante individualmente.” propõe e não cada estudante individualmente. E segundo,
venções no serviço de saúde, como profissional pesquisa- o estudante que defende que os espaços abertos servem
dor qualificado e como profissional capaz de se atualizar. apenas a quem participa deles, necessariamente nega qual-
Lembrando da Coordenadoria de Ensino do CAAL em quer direito seu em relação àquela entidade e ignora as opi-
2007, na qual fazíamos acompanhamento dos represen- simplesmente porque os internos enfrentam condições niões divergentes às suas.
tantes de módulos das disciplinas - especialmente dos três ruins de aprendizado. Porém, coloco tais questionamentos Qual o papel do ME? Especificamente do MEM. Na mi-
primeiros anos do curso, ou seja, o ensino básico e início para começarmos a ampliar o entendimento que temos da nha tentativa de resposta, em parte seria expor e ques-
do aprendizado prático -, listo parte dos problemas que vi formação que nos é dada e de como está condicionada ao tionar como está estruturado o ensino em saúde e o que
serem levantados pelos alunos. Má qualidade de muitas das serviço. o determina, e se o sistema de saúde tem cumprido seu
aulas dadas, em formato e conteúdo. Diminuição da carga Coloco com tranqüilidade que quem tem levantado tais papel de garantir o acesso de todos aos serviços e como
horária de muitas disciplinas básicas e, portanto, pouco pontos e procurado despertar no estudante essa consciên- tem contribuído na nossa formação. Ou ainda, expor e
tempo destinado para aprofundar nosso estudo nas dife- cia é o dito cujo, o MEM. Mas, voltando às críticas a ele... O questionar que a partir do que se propõe para as políticas
rentes áreas. Aulas insuficientes em laboratório e poucos debate mais interessante e que mais causa polêmica e an- de saúde hoje, podemos enquanto profissionais formados
professores para supervisão, atividade na maioria das vezes gústias nos envolvidos, é o da representatividade. Antes de sermos avaliados com foco simplesmente na produtividade
realizadas essencialmente por pós-graduandos. Material de qualquer coisa, coloco que só o estudante pode falar em do atendimento em saúde e cumprimento de metas, e não
estudo nas bibliotecas insuficiente para os alunos. nome do estudante. Ponto crucial para continuarmos. na qualidade do serviço.
Coloco isso baseada em dados concretos colhidos pelos Podemos começar daqui: é fato que os estudantes têm Mas todos esses questionamentos vêm da necessidade
próprios alunos. E os considero, não suficientes, mas essen- opiniões divergentes a respeito de assuntos do interesse de carnal de ser do contra? Ou é fruto de rebeldia juvenil? Mais
ciais para analisarmos com anda nossa formação: é possível todos, muitas vezes opostas. Qual é a saída para isso: igno- uma vez, coloco que não. É uma questão bastante objetiva:
de fato me preocupar apenas com meu desempenho? Cla- rar divergências? Fugir da discussão? Há quem tenha práti- vem da necessidade de entender a realidade concreta que
ro que esse debate não se encerra aqui, mas entre outras cas compatíveis com tais idéias e minha avaliação delas é a temos. Formar consciência crítica para superá-la. Para isso,
perguntas que poderíamos fazer: onde ficou a parte do co- pior possível, pois para isso partimos necessariamente para é essencial a organização do ME.
nhecimento que não dominamos pela falta de tempo? o autoritarismo, para a imposição. Organização para não cairmos na crença de que o es-
Acho importante ainda questionar nossa formação prá- Tendo fortemente a defender uma saída mais democrá- tudante individualmente num surto de consciência da re-
tica e peço licença, já que ainda não sou nem quintanista. tica. Garantir espaços dentro do ME nos quais os posiciona- alidade vai defender melhorias na sua realidade concreta.
Muitas das reclamações dos alunos do nosso curso refe- mentos possam ser expostos e se possa disputar propostas E organização não como um fim em si mesma, mas para
rente aos estágios dentro das especialidades se referem à de forma clara. Isso significa tanto espaço para colocar opi- atuarmos como movimento que se forma, formula, articula
carga horária excessiva, ao pouco tempo disponível para niões, propostas e defesas, quanto espaço para divergência. e se mobiliza. É essencial ainda compreendermos o MEM
estudo e a não supervisão docente da atuação do interno Nesse caso, o critério que usei é de organização do espaço. num contexto mais amplo, com outras possibilidades de
em muitos estágios, aliada a impossibilidade de boas dis- Porém, chego num impasse e vou extrapolar usando um diagnóstico da conjuntura que vivemos e de relações com
cussões dos casos. Mas nesse ponto quero me ater à neces- exemplo escandaloso: e se um grupo de estudantes de outros movimentos.
sidade de encaminhar o atendimento rapidamente devido medicina passasse a defender que negros não deveriam Uma entidade não se justifica por si mesma. A justifica-
ao inchaço do serviço. ter possibilidade de acesso à universidade associado à po- tiva é e está sendo construída nos espaços abertos: defesa
Atenho-me a isso em especial, pela necessidade que lítica de cotas, complementando que a entrada destes na de uma universidade pública, de qualidade e acessível e
vejo de tentarmos compreender como se dá o atendimen- universidade deveria estar restrita à cozinha do Restaurante defesa de um sistema de saúde 100% público e universal.
to em saúde no serviço público no qual estamos invariavel- Universitário? Fica o convite a todos para freqüentarem os espaços da
mente inseridos e o porquê de enfrentarmos essa situação. Não vou entrar no debate das cotas raciais. O fato é que executiva dos estudantes de medicina.
manifestar esse pensamento significa – sem mencionar

EREM Encontro Regional dos


Estudantes de Medicina
Se você se interessou pelo tema do ME, o EREM
Sexta-feira (29/05)
8h - 10h: Motirô.
10h30 - 12h - Troca de
Sábado (30/05)
8h - 12h: Grupos de Discussão:
- Produção de Conhecimento
Domingo (31/05)

Experiências: (pesquisa em medicina e indústria


é um espaço interessante para conhecer! - Transformações Curriculares
farmacêutica)
- HUEs (crise e modelos de gestão)
Alessandra Fiuza (Alê) - XLIV Manhã - Fórum de Extensão: CAEZ.
- Internato e Residência PLENÁRIA FINAL
Gestão Roda Viva - CAAL Oficinas:
- Saúde do Trabalhador e a
O EREM (Encontro Regional dos Estudantes de - Modelos de Gestão Profissão Médica
Medicina) é um evento que ocorre anualmente realizado - Iniciação Científica - Escolas Pagas
pela Coordenação Regional Sul-2 (estados de São Paulo e
Paraná) da Direção Executiva Nacional dos Estudantes de
Medicina (DENEM). 14h - 16h: Painel
O evento será realizado esse ano entre os dias 29 e - História e Papel do Movimento 13h30 - 15h30: Painel
31 de maio em São José do Rio Preto (FAMERP) e terá Estudantil.
- Exame do CREMESP e ENADE.
como tema “Medicina pra que(m)?”. 16h - 18h: Oficinas
15h30 - 18h: Grupos de Discussão:
O encontro ocorre durante três dias e há mesas - Ligas Acadêmicas.
temáticas, grupos de discussão, oficinas sobre variados - Público e Privado na Saúde
Tarde - Semana de Recepção.
temas de interesse aos estudantes de medicina. Além - Políticas de Educação Superior
- Mídias(site, jornal).
disso, todo EREM tem um motirô, que é o espaço em que (Tripé, Acesso e Permanência)
- Estágios e Vivências e NBC.
se apresenta a DENEM e o papel do movimento estudantil. - Determinação Social da Saúde
- Autonomia e financiamento do
É um ótimo evento para aqueles que estão chegando - Opressões de Gênero
ME
e que nunca foram em nenhum encontro da DENEM,
porque explica alguns temas bem debatidos do
Movimento Estudantil, mas também para aqueles que já
freqüentaram muitos espaços, porque trará Grupos de Mesa 1 - O Trabalho em Saúde e o
Noite Médico Mesa 2 - A Educação Médica Hoje
Discussão para problematizar alguns desses assuntos.
Informações sobre ônibus e inscrições em breve!
6  O PATOLÓGICO MAIO DE 2009

Espanha: vivências, aprendizados e reflexões!


Luiz Gustavo (Frango) - XLIII Saúde de Salamanca e isso me agradou muito, pois eles diversidade de modelos de consulta e tratamento,
passam a realidade do que deve ser feito em um CS. Essa diversidade de opiniões e experiências que me tornaram

D
epois de alguns meses longe da Medicina é uma grande diferença para com as nossas aulas de AIS, muito mais crítico, perceptivo e perspicaz na consulta.
Unicamp, longe de Campinas e longe do que são dadas por especialista, em sua maioria com visão Em relação à estrutura, o Centro de Saúde é incrível.
Brasil, posso dizer que meus horizontes hospitalocêntrica que não retrata o paciente com uma É muito novo e limpo, os consultórios são super bem
se ampliaram em relação ao que é Medicina e visão integral e tampouco com uma visão de Atenção estruturados, nível clínica partícula no Brasil! Me
principalmente em relação ao tipo de médico que Primária (não falo de todas as aulas, mas de muitas delas). parecia inacreditável que uma unidade de saúde
quero ser. Vim pra Espanha com uma proposta clara Começamos com aulas introdutórias sobre o pública fosse tão boa assim em relação a estrutura. Um
à Diretoria da FCM, aprender o máximo de coisas funcionamento do Sistema de Saúde espanhol, exercício de imaginação: Pense no CS Costa e Silva e
aqui e fazer o máximo pra transformar a educação da discutimos desde hierarquia até financiamento e triplique a beleza e organização. Aqui, toda a atenção
minha escola e a saúde do meu país baseado naquilo gestão. Acho que o pessoal da Preventiva poderia focar primária é informatizada e integrada. Os prontuários
que vivi e aprendi, aproveitando tudo de bom que um pouco mais sua energia em discutir esse assunto são eletrônicos e tem a história da vida toda do
encontrei nessa minha vivência, de tal forma que no segundo ano (financiamento e gestão), ao invés paciente, logo, se ele é internado por algum motivo ou
quero compartilhar com minha faculdade parte do de fazer uma coisa tão parecida com o primeiro ano passa por alguma consulta de especialidade, o hospital
que aprendi por aqui, pois creio que isso já é um (discussão de hierarquia do SUS e clínica ampliada), acessa esse prontuário e tem toda a história da vida do
começo de mudança. Infundir idéias e estimular que faz com que a maioria dos alunos crie uma paciente, quando recebe alta ou algum tratamento,
a reflexão pode trazer demasiados benefícios. incrível aversão ao departamento, pela repetitividade vai com um papelzinho ao CS e marca uma consulta
Escolhi Espanha como destino pela fama de ter dos assuntos. A partir de então, fomos de sistema a de pós alta com seu médico de cabeceira (médico
o segundo melhor sistema público de saúde da sistema, discutindo as doenças mais prevalentes e de família que acompanha o paciente desde seus 14
Europa, em específico Salamanca, dentre outros como elas devem ser abordadas na atenção primária, anos de idade), que atualiza a história do paciente no
motivos, pois sei da tradição de 800 anos da desde risco cardiovascular e DPOC, até menopausa e sistema, com esse papelzinho mágico que não funciona
Universidade e pela grande diversidade sócio-cultural anticoncepção, finalizando com aulas sobre o programa no Brasil, a chamada contra-referencia. Por isso digo
da cidade, com seus mais de 40.000 estudantes, que é um sistema informatizado e INTEGRADO.
dos quais em torno de 7.000 são intercambistas. Ademais, os médicos da unidade tem reuniões
periódicas para discussão de casos, visitas todas as
Selecionei três matérias por aqui (pelo fato de semanas aos pacientes acamados ou em situação
que estudar em Salamanca é muito caro, a matrícula de risco e se organizam de tal forma que um dia
é de 49 euros por crédito), duas extremamente por semana, cada um deles esteja “em urgências”,
diferentes, que tampouco são ministradas na o que significa que atenderá a livre demanda que
Faculdade de Medicina, mas sim nas Faculdades de chega ao CS, desde que seja uma Urgência. Sendo
Psicologia e de Fisioterapia y Enfermeria, isso para assim, cobrem com muito mais eficácia a população
abrir meus horizontes, e uma em especial, por ser local. O sistema em si, é muito parecido com o
uma área de estudos que me agrada e também para brasileiro, a diferença principal está no modelo de
desenvolver um pouco a pratica da observação crítica organização e logística e claro, no investimento.
das diferenças de serviço entre Brasil e Espanha, a
seguir desenvolvo um pouco do que é cada uma. Não contente em conhecer apenas os CS’s, fui eu,
buscar mais práticas. Rodei uns cinco departamentos
“Hipnoterapia”: Matéria de livre eleição, até encontrar o Departamento de Medicina, daí me
da faculdade de Psicologia. Trata dos fundamentos passaram ao professor Rafael Berras, que me ofereceu
da psicologia afetiva e psicanálise e o uso da que acompanhasse seus plantões, e eu prontamente
hipnose como instrumento para o tratamento de aceitei. Primeira prática em Urgências: domingo as
moléstias mentais. É uma disciplina extremamente dez da manhã, na Unidade “Virgen de La Vega”.
interessante, e o professor é um dos papas Aprendendi demais com ele, acompanhei alguns de
nacionais do assunto: Vicente Ortiz. Um professor seus plantões em duas unidades, o Hospital Virgen de
extremamente dedicado à docência e autor de PAPPS (Programa de Atención, Prevención y Promoción La Vega, mais tranqüilo, e Hospital Clínico Universitário
muitos livros que tratam do tema. Em linhas gerais, de Salud) que é um protocolo de atendimento seguido de Salamanca, mais alta demanda. Mas novamente,
nessa disciplina trabalhamos: como criar um vínculo na Espanha toda e aulas sobre atenção integral a pessoa, muito bem estruturados, com camas separadas,
entre terapeuta e paciente, como usar os princípios família e comunidade, desenvolvendo técnicas como consultórios espaçosos, sala de procedimentos com
de transferência e contra-transferência da psicanálise intervenção comunitária, genograma e estudo da família. tudo que é necessário. Eu fico contente de vivenciar
para vencer a barreira do medo e entrar no campo No entanto, infelizmente, aqui em Salamanca tudo toda essa diferença de investimentos, mas triste ao
da hipnose, um estado de focalização da consciência é muito teórico. Na graduação a prática é quase nula. ver que meu país tem um potencial tão grande que é
para que o paciente busque em sua mente o ponto Eles saem da graduação completamente crus. Vão mau aproveitado por diversos fatores, dentre os quais,
crítico que mudou ou afetou sua vida, para revivê- realmente aprender o que é uma boa exploração física o de termos o governo mais corrupto do mundo e
lo e aprender como lidar com a situação, superando na residência. Conversando com uma R2 em Medicina termos uma das maiores desigualdades sociais da
assim seus traumas e fobias. Ter contato com tudo de Família ela disse que aprendeu a aferir pressão no história (é como se vê a política no Brasil por aqui...)
isso, creio que vá me tornar muito mais apto, que primeiro ano de residência. O que não entendo é que
era, a criar vínculos com o paciente e aprender a Enfim, creio que temos muito o que mudar no
conversando, tanto com os alunos quanto com os Brasil, em relação a organização do sistema de saúde,
ouvi-lo da forma como realmente quer e merece. professores, todos acreditam que a graduação está organização do aprendizado, entre outras coisas, no
“Acupuntura en la medicina occidental”: O tema ruim e o aluno deveria ser inserido mais precocemente entanto podemos nos “vangloriar” por estudar em
é extremamente interessante, no entanto, o enfoque na prática, mas ninguém faz nada pra mudar. Nesse uma faculdade com ótima qualidade de ensino, que no
da disciplina não foi dos melhores. O docente tem uma ponto, tenho orgulho de admitir que a Unicamp tem entanto, fica apagada e marginada pela má educação
visão muito ocidentalizada da acupuntura, desvaloriza um método de ensino muito superior ao de Salamanca, e má prática de diversas outras faculdades de péssima
os artigos e pesquisas feitas na china, entretanto, o em relação à práxis (aprendizado da teoria na prática) qualidade do Brasil. E mesmo assim, fazemos parte de
interessante é que ele utiliza o método da Medicina e em relação à inserção temprana do aluno no uma pequena classe privilegiada que teve condições de
Baseada em Evidencias e exige diversos trabalhos serviço. Algo importante a dizer é que, pra trabalhar chegar onde chegou não apenas por mérito próprio, mas
sobre acupuntura baseada em evidencias. Mesmo na saúde pública aqui,tem-se que ter residência, por mérito de uma tremenda desigualdade social, para
assim foi uma assinatura muito interessante, pois logo terminam a graduação mas ainda não entram a qual viramos a cara e nos fechamos em nosso mundo
aprendi muito sobre as teorias pilares da acupuntura, realmente no mercado de trabalho, e a residência perfeito, sem notar o que se passa ao nosso redor. E não
como a Teoria do Chi (energia corporal) e do Yin e aqui é muito boa, segundo os alunos e professores. me excluo de forma alguma desse processo, mas fico
Yang (método como flui a energia através do corpo), Tendo isso em vista, apresentei toda a gama de contente por estar trabalhando na compressão disso e
além da teoria dos cinco elementos e Zang fu e como argumentos para meu professor, pedindo que pudesse na busca de uma saída que seja boa para ambos os lados.
diagnosticar doenças a partir dessas teorias e a partir realizar algumas práticas nos Centros de Saúde de
de sintomas completamente diferentes da Medicia Atualmente vemos corrupção no governo nacional,
salamanca e por fim, ele aceitou ser meu preceptor no governo estadual, nas prefeituras de nossas cidades,
Alopática Tradicional do Ocidente. De tal forma, no CS “La alamedilla”, onde trabalha. Como não há
poderei usar esses conceitos para escolher o melhor universidades e até mesmo corrupção nas nossas
muito interesse pelos estudantes em fazer práticas a faculdades. Nos acostumamos a isso e incorporamos
tratamento e fornecer opções ao meu paciente, pois mais do que exige a Universidade, eu fiquei com três
creio que ser médico, nada mais é do que ser um como algo comum, que no entanto não o é. Nos falta
preceptores: Emílio Ramos Delgado, Pilar Moreno e percepção, nos falta sair do ciclo vicioso para perceber o
assistente que ajudará ao próximo no seu processo Radwan Abou-Asali, passando consulta uma vez por
de cura, não curando-o, mas mostrando os diversos mal que estamos fazendo, para ver como crianças morrem
semana com cada um deles, logo três vezes por semana, pelas parasitoses mais simples, ou pior, que morrem
caminhos que ele pode percorrer para curar-se sozinho. das 9 da manha as 2 da tarde. Os três são muito bons de fome em nosso próprio estado, em nossa própria
“Medicina Familiar y Comunitária”: Como havia e me deixavam a vontade para intervir nas consultas, cidade, ao nosso lado. O que se passa companheiro?
dito, escolhi uma matéria mais genérica, no entanto de ficávamos na mesma sala, mas alguns pacientes que
uma área pela qual tenho muito apreço. A disciplina é Em busca de um pouco de reflexão, deixo uma frase
eles já conheciam e sabiam que eram tranqüilos, pediam que ouvi por aqui e me fez pensar um pouco: “El afecto es
muito bem organizada, as aulas são dadas apenas por pra que eu os consultasse e ficavam ali do ladinho só
professores associados, os quais não são contratados la base que nos sujeta a la vida y el amor nos libera de la
olhando... Foi uma experiência super enriquecedor, muerte. Todo es posible si nosotros lo hacemos posible”.
da Universidade, mas todos trabalham em Centros de três preceptores só pra mim, pois participava de uma
MAIO DE 2009 7

SAIU NA MÍDIA
  O PATOLÓGICO

MEC dá ultimato a curso campeonato, não se sabe ainda quem vai arcar com ele.
Segundo o reitor, o que dificulta o acesso aos recursos
do MEC é o fato de a faculdade não ter aderido ao Reuni.
alunos são obrigados a buscar fora, por conta própria, essa
complementação. “Diante da falta de livros, a gente tem
que comprar e quem não tem dinheiro pega as edições

de medicina da UFBA “Como a Famed se recusou a entrar no Reuni, não pode usar
os recursos destinados à expansão. Precisamos solicitar o
acréscimo de verbas no orçamento da universidade para
desatualizadas. Quanto à prática, eu procuro estágios
por conta própria”, informou o estudante do 6º semestre
Augusto Virgílio Fraga de Gaffga, 21 anos.
Fonte: Jornal Correio - Salvador. isso”, explicou. Ainda segundo ele, o boicote ao Enade foi a forma
Documento enviado pelo MEC diz que “o termo não que os estudantes encontraram para protestar contra os

O
Ministério da Educação (MEC) voltou a colocar vincula, por si só, qualquer transferência de recursos problemas do curso. Também estudante do 6º semestre,
o ensino de medicina da Universidade Federal financeiros entre os partícipes, ficando todas as despesas Tássia Carneiro, 23 anos, diz que a parte infraestrutural da
da Bahia (UFBA) na berlinda e, dessa vez, pode incorridas pela instituição...” . faculdade deixa muito a desejar.
ocorrer até a suspensão do curso. Porém a assessoria de imprensa da Secretaria de Ensino Entre as carências, cita a necessidade de laboratórios
Quase um ano após a divulgação do polêmico Superior (Sesu) do MEC informou que, como mantenedor que garantam aulas práticas de qualidade. “O que o
resultado do Exame Nacional de Desempenho de das universidades públicas federais, o ministério avaliará, a termo do Ministério da Educação vem nos mostrar não é
Estudantes (Enade), em que a graduação figura entre as partir das mudanças a serem empreendidas, a necessidade novidade. Já sabíamos dessas deficiências desde 2004. Se
piores do país, o MEC propôs um termo de saneamento de de repasse de recursos, assim como de contratação de não melhorou até hoje não foi por falta de vontade, mas
deficiências e deu prazo até dezembro para a Faculdade corpo docente e de técnicos administrativos. por falta de recursos”, pondera a estudante, que considera
de Medicina se adequar. Apesar de não descartar o aporte de verba, o MEC não um contrassenso do MEC apontar as falhas, mas não
Um levantamento realizado pela instituição aponta definiu valores e alega que isso só pode ser fechado após oferecer recursos para que elas sejam sanadas.
que, fora a contratação de pessoal, as ações demandam a celebração do termo.
investimentos da ordem de R$ 3,5 milhões. Sem Exigências do MEC.
orçamento, a congregação da Famed repudiou o termo e A Famed já sabia das carências . Pedagógico - Reformular e aprovar o projeto
a direção se recusa a assiná-lo. Ampliação do quadro de professores e funcionários, pedagógico do curso de medicina (PPC).
O assunto será discutido em assembleia na terça-feira reformas nas instalações físicas, ampliação do acervo da Divisão de turmas - Reestruturar os cenários de prática
(28). De antemão, o diretor da faculdade, José Tavares Neto, biblioteca e reformulação do projeto pedagógico. e divisão de turmas.
adianta que há propostas de paralisação do curso e até Essas são algumas das exigências contidas no termo Atenção primária - Adequar e ampliar o Núcleo de
mesmo de pedido de demissão coletiva dos professores. de saneamento e são conhecidas da congregação desde Atenção Primária à Saúde.
“O MEC quer que a gente resolva vários problemas do 2004, quando a própria faculdade elaborou uma lista com Docentes - Adequação do número de docentes do
curso sem dar um centavo para isso”, reclama Tavares. Hoje 27 deficiências graves. curso ao número de alunos.
o orçamento anual da Famed é de R$ 27 mil, divididos em Dentre elas, a principal é a falta de leitos no Hospital Laboratórios - Implantar o Laboratório Geral de
três parcelas, para a manutenção das duas sedes - Canela Universitário Professor Edgard Santos (Hupes), mais Habilidades, para as áreas de propedêutica, primeiros
e Terreiro de Jesus. conhecido como Hospital das Clínicas. De acordo com socorros, ginecologia, obstetrícia e técnica operatória.
Embora a Ufba responda pela Famed, o reitor Naomar o diretor, José Tavares Neto, diante da precariedade do Biblioteca - Ampliação da área e do acervo da biblioteca
Almeida explicou que, como preza a autonomia das hospital, a Famed deveria reduzir à metade o número de Computadores - Implantação de computadores
faculdades, vai respeitar a decisão. “A unidade é autônoma alunos recebidos por ano. conectados à internet na biblioteca.
e a Reitoria não vai se contrapor às decisões. Não assinarei “Medicina é artesanal, não dá para ensinar colocando Núcleo Avançado - Ampliação da área física do Núcleo
o termo porque a congregação já deliberou que não 200 pessoas em um auditório. O Hospital Universitário é o Avançado de Ensino Médico e instalação de computadores
deve ser assinado”, informou, revelando em seguida sua nosso calcanhar-de- aquiles”, pontua. Pavilhão de aulas - Adequação da área física, incluindo
preocupação com a situação. Como se não bastasse a falta de espaços adequados rede elétrica, de informática e grades de segurança.
“A Famed é a mais importante unidade no sentido para a prática médica, o acervo da biblioteca também Exigências para o HUPES.
histórico, é a raiz da Ufba. Todos estamos buscando uma deixa a desejar. Ela reúne cerca de 15 mil exemplares - a Atendimento - Implantação de Serviço de Pronto Aten-
solução para que ela tenha o reconhecimento que merece maior parte desatualizada. dimento.
no cenário nacional”, ressaltou. O cenário só veio à tona depois da repercussão do Enfermarias - Ativar os leitos de três enfermarias.
mau desempenho no Enad de 2007. Os estudantes e a Centro Cirúrgico - Ativar duas salas cirúrgicas do Centro
Reprovados. faculdade atribuem o resultado ao boicote à avaliação. Cirúrgico.
Dos 103 cursos de medicina examinados no país, o Dos 42 alunos convocados só 18 compareceram. Ambulatório - Ampliar o número de salas do Ambula-
Enade reprovou 17. As únicas universidades federais são a
tório.
da Bahia, a de Alagoas, a do Amazônia e a do Pará. Formação fica comprometida. Cirurgia - Ampliar e reformar o Serviço de Pequena Ci-
Segundo o reitor, com exceção da Ufba, todas as Tanto o diretor da Famed, José Tavares Neto, quanto rurgia.
federais já assinaram o termo. Para sair da mira do MEC, a estudantes da instituição reconhecem que as deficiências Laboratório - Instalar o Laboratório de Imunopatologia.
faculdade terá que cumprir várias medidas no sentido de do curso de medicina comprometem tanto a formação Salas - Melhorar as condições físicas e pedagógicas das
elevar a qualidade do ensino. teórica quanto a prática. salas de aula no Serviço de Anatomia Patológica.
Porém isso demanda um custo alto e, nessa altura do Na falta da oferta de condições ideais de ensino, os

TSD - O BICHO JÁ PEGOU!


não é? E PORQUE BOICOTAR?
Tem um ditado popular que diz assim: “Quando a esmola Ora, se pela vontade do MEC não vai vir mais dinheiro, in-
é demais, o santo desconfia”. E, nesse caso, o problema é que dependentemente de uma nota 05 ou uma nota 01, e os pro-
E os estudantes da UFBA respondem... a esmola é nenhuma: A Faculdade tem até o final do ano para blemas que nós já enfrentamos continuarão a existir e, pior,
resolver as deficiências que ela mesma listou, NÃO VAI RECE- serão mascarados pela nota alta, O BOICOTE SURGE COMO
Info_DAMED abril/2009 BER NENHUM CENTAVO A MAIS PARA ISSO e, se não se ade- A ÚNICA POSSIBILIDADE DE FAZER O MEC ADMITIR, TEXTU-
Gestão 2008 – Áporo quar, pode sofrer sanções – dentre elas, o seu FECHAMENTO. ALMENTE, QUE OS PROBLEMAS QUE DIZEMOS TER NO DIA-
(Diretório Acadêmico de Medicina da UFBA) As exigências do MEC vão de um Laboratório de Habilida- A-DIA DO NOSSO CURSO EXISTEM E PRECISAM SER RESOLVI-
des – orçado em R$ 500.000,00 – à reestruturação da atenção DOS. E agora podemos, publicamente, colocar o MEC numa

T
SD, ou TERMO DE SANEAMENTO DE DEFICIÊNCIAS, básica à saúde em SSA, passando também pela reabertura “sinuca de bico”, e pressioná-lo para que os recursos necessá-
é um documento enviado pelo MEC para as Facul- das enfermarias fechadas no HUPES. Ainda que haja pro- rios realmente venham.
dades que obtiveram “rendimento insatisfatório no blemas que, sozinha, a FMB não resolve (ela não manda no
ENADE” (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes). HUPES e nem na Saúde de Salvador), NÃO TEM COMO FAZER E EU COM ISSO?
Funciona como um “contrato”, a ser assinado pela “instituição NADA DISSO SEM DINHEIRO. A frase mais adequada, “na real”, seria “e nós com isso”.
reprovada”, que estabelece metas a serem cumpridas e pra- Porque esse é um problema nosso, coletivo – de estudantes,
zos para essas metas. A FMB-UFBA também recebeu o seu O BOICOTE AO ENADE. professores e funcionários. É uma oportunidade única a que
TSD. Sabe como ele foi construído? Um dos grandes motivos de, NACIONALMENTE, TODAS temos agora: de repente, todas as nossas reclamações “foram
Em novembro de 2008 a nossa Faculdade recebeu uma AS EXECUTIVAS DE CURSO (Movimento Estudantil) PUXAREM ouvidas”. E, a depender da nossa postura – passiva ou ativa
Comissão de Supervisão instituída pelo MEC para avaliá-la, O BOICOTE AO ENADE é esse: Apesar de saber que o Ensino – deixarão ou não o status de problemas crônicos. Esse desfe-
conversando com Professores, Funcionário e Estudantes – dos Público Superior é feito “nas coxas”, via “vários jeitinhos” que cho, sem um “fecho” propriamente dito da Faculdade, está, em
mais variados semestres – analisando documentos em que a garantem a continuidade dos cursos em condições precárias, parte, nas nossas mãos. Basta que nos doemos: não apenas
FMB, desde 2004, expõe suas deficiências e exige condições o MEC não traz como proposta para as Universidades o au- em prol do próximo, mas sobretudo em prol do que achamos
para melhorar seu funcionamento e visitando os campos de xílio para que elas melhorem, através da destinação de mais ser o mais justo, digno e coerente para o ensino-aprendizado
prática (COM-HUPES e CIUCP- Terreiro de Jesus). Dessas visi- verbas. A solução encontrada é a de PUNIR – porque tirar nota da Medicina na FMB-UFBA. A alma das instituições, a bem da
tas, leituras e conversas nasceu um relatório – que engloba, alta no ENADE também não garante mais verba pro curso, verdade, é a alma das pessoas que (con)vivem nela, é isso que
basicamente, todas as reivindicações feitas pela Faculdade e apenas gera um dado, bem mascarado, de que aquela facul- lhes dá vida. Com a Faculdade de Medicina da Bahia, seja no
por seus estudantes desde 2004 (Greve Estudantil) – e esse dade vai muito bem, obrigado. E isso é uma grande mentira. ontem ou no hoje, não é diferente, e nós, estudantes, fazemos
relatório deu origem ao “nosso” TSD: ele coloca como metas a Agora, uma dúvida ainda paira no ar: como uma faculdade parte disso.
serem alcançadas a solução dos problemas de que tanto nos que já vai mal, cronicamente, pela falta de recursos, vai se ade-
queixamos nos últimos 05 anos. quar a um padrão 05 estrelas em um ano sem receber verba a
Olhando grosseiramente, até aqui não há nada de errado, mais para isso? É possível? ÓBVIO QUE NÃO!
8  O PATOLÓGICO MAIO DE 2009

Eu assisto, tu assistes, nós assistimos 100 bilhões de saudades


Fernanda Godoy Falcão - XLVII Uma homenagem ao professor Langone...

A Fabricio D. da Costa (Bambu) - XLV


ssistir: v.t. 1.Estar presente, comparecer. 2.Ver, testemunhar, observar.
3.Residir, morar. 4.Auxiliar, socorrer. 5.Acompanhar, na qualidade de ajudante,

A
assistente, assessor. 6.Acompanhar (enfermo, moribundo, parturiente, etc) vida e as células neurais são comparáveis? Em alguns aspectos talvez. Tanto
para prestar auxílio. uma quanto a outra são enigmáticas. Ambas necessitam de conexões para
(Dicionário Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, 3ª edição, editora Nova Fronteira) estarem vivas. Dialogam constantemente, mesmo no terreno imperioso
De quantos modos pode-se assistir alguém! Há diversos nomes, porém poucas do silêncio. Ambas residem no mais singelo. São inquietantes por natureza. Ambas
atitudes. Basicamente se resume a três grandes significados: residir, atender e observar. possuem um limite tão tênue que beiram ao infinito. Essas semelhanças, tão
Face a isso, podemos analisar melhor os três sentidos. Residir em algum lugar é fazer de intercambiáveis, possibilitam que vida e neurônios se misturem de tal forma a produzir
um local a sua morada. A sua morada pode ser material ou subjetiva, um determinado uma substância amorfa e única, cujo significado talvez seja tangenciado pelas palavras
modo de pensar que o acolhe, um padrão no atuar que lhe dá guarida. Atender alguém missão, ciência, sabedoria, afeto, educação, paixão. Vida e células neurais são parecidas
é prestar auxílio, socorrer, estar presente, acompanhar; em todos eles é um modo de até nas fragilidades: ambas são ceifadas pela morte.
ação, uma atitude, algo dinâmico e exterior a nós, dependente do outro e dedicado a Faço uso dessas reflexões para revogar a memória de um querido professor do IB.
ele. Observar é olhar, ver aquilo que interessa, examinar, algo íntimo que visa lograr um Do Básico essencial, cujos olhos hospitalocêntricos muitas vezes recusam a apreciar. Na
objetivo no papel de espectador. última sexta-feira, primeiro de maio, nosso Prof. Francesco Langone, uma figura talentosa
e dedicada, que no primeiro ano ministra aulas sobre a junção neuromuscular, e mais
Diante do exposto, em qual desses significados se encaixaria a assistência médica?
intensamente nos acompanha no segundo ano no módulo Neurociências, deixou
Pode-se admitir a versão “residir” se o objeto for a própria Medicina. Desse modo ela
nossas sinapses confusas com a sua morte. Tão hercúleo, se desdobrava para que
passa a ser a residência de seu praticante, que faz dela sua morada e é acolhido por
não deixássemos de dar atenção a complicadas conexões, inter-relações imbricadas
ela. Vale lembrar que nenhuma casa vem até nós, nós é que devemos ter com ela,
com efeitos fantásticos, corriqueiros aos olhos do dia-a-dia, do desconhecido. Nem a
adquirindo-a através de nosso esforço e de nossa dedicação, e a partir do momento
doença era-lhe um antagonista! Chegou a abrilhantar algumas aulas frente à sombra
em que a adquirimos, devemos mantê-la, cuidá-la, pois é nosso lar, onde nos sentimos
de uma doença.
bem e seguros. O segundo significado é bem claro, o de prestar auxílio, socorrer. Porém
Uma vez, em uma de suas aulas me perguntei se devido ao fato de os gatos terem
ressalto os verbetes seguintes: estar presente, acompanhar. Estes demandam atenção e
sete vidas, seria por isso que eram tão usados para experiências. Eram um símbolo de
cuidado, e implicam num processo, não em um ato direto e curto. Por último, observar.
resiliência e, ao mesmo tempo, de doação. Hoje me pergunto se este professor que agora
Sim, deve-se observar; é através da observação que se cria a hipótese, e dela pode-se
descansa, tendo apenas uma vida aparente, mesmo perdendo esta única preciosidade,
caminhar a uma teoria e até mesmo a uma Lei. O que não se deve fazer é prestar uma
acaba que não a perdeu de fato, visto que sua lembrança é viva, uma conexão com o
assistência fragmentada, incompleta, que se equilibra em um alicerce em vez de estar
reforço positivo da dedicação pelo estudante, que não se apaga tão facilmente.
estável sobre a base toda. E nisso consiste todo este escrito: não se faz de um lugar sua
De fato seu pensamento veloz não era de fácil seguimento, sobretudo para
morada sem gostar dele, sem se sentir à vontade nele; não se fala lar (o aconchego)
neurônios iniciantes, frente aos 100 bilhões de parentes a conhecer. Entre oscilações da
da boca pra fora, isso se sente. Não se presta auxílio se não se estiver de fato presente,
voz, um bálsamo inverso aos sonolentos, Prof. Langone fazia de bailarinas um perfeito
mente, corpo e alma. A observação deve ser o princípio do ato, não o ato em si. Nesse
arranjo labiríntico. Vida e neurônios, todos contra as quedas. E o mistério dos gatos que
ponto, pergunto: que tipo de assistência você presta, ou intenta prestar? Devemos
se desviram pela magia da conversa afinada entre aferências e eferências neurais.
todos, como médicos que somos ou seremos, pensar, pelo menos uma vez, na
Vida e neurônios, um mote forte para aqueles que a cunhagem dos sentimentos
assistência de que somos seres agentes e também pacientes, não esqueçamos disso.
se vê dolorosa. Um professor dedicado, que nem as terminações livres em excesso
Como você gostaria de ser assistido? É por isso que não podemos deixar que anos
ativadas conseguiu o foco desviar, não se pode encontrar rede neural que exprima uma
de experiência como espectadores da desgraça alheia nos façam alheios aos outros,
gratidão de valor simbólico compatível ao que se recebeu em vida, de um professor
àqueles aos quais devemos servir (= prestar serviço, não deixem que a arrogância os
por excelência.
torne ignorantes). Que assitir seja o ato completo, a observação seguida da ação, que
No primeiro de maio, o trabalho de um professor se findou neste terreno. Trabalho
cuida, acompanha, e que se reflete como um prazer pessoal, o retorno ao lar no fim do
este humanamente cumprido. Espero que a vista panorâmica seja agradável, que as
dia. Não permitamos que a resistência exigida de nós pelo trabalho que escolhemos
estrelas sejam semelhantes aos neurônios, intensamente ativas, e que a neuroplasticidade
nos faça resistentes aos que nos rodeiam. Assistir não é só atender pacientes, é pensar
imposta pela árdua e inevitável tarefa do luto, rearranjem a sua imagem no cantinho
as causas e as conseqüências desse atendimento. Assisitir é fazer da nossa morada um
resguardado às saudades. Um santuário onde a vida reina soberana.
lar universal.

SPASMO! PATOCULTURAL
Surubim - Perguntas da Elicinha. CineCAAL - “Pro dia Nascer Feliz” sociais sob a ótica dos adolescentes que estudam
nelas.
Fabricio D. da Costa (Bambu) - XLV Alessandra Fiuza (Alê) - XLIV O documentário, somado a discussão
Gestão Roda Viva - CAAL levantada após a exibição, me

U
ma menina, pequena de olhos arrega- fez pensar o quanto a lógica da

N
lados, entra com sua avó em casa de es- a segunda-feira, dia sociedade capitalista perpetua a
tranhos conhecidos, envolvidos por uma 04 de maio, realizou- diferença de classes e faz com que a
conversa de combinar horários e viagens, de cará- se a 1ª edição de 2009 necessidade dos adolescentes seja
ter médico, ordem de retorno e ponto final. A me- do CINECAAL com a presença do extremamente distinta. Enquanto
nina ouve a conversa atentamente. Num momento Prof. Dr. Marcos Cassim, professor alguns vêem a escola como um
as vozes se calam, depois de um diálogo aquecido meio para o futuro promissor,
de pedagogia da Faculdade de
sobre futuro, saúde e comidas. A menina arregala
Filosofia, Ciências e Letras da USP- outros só a percebem como uma
os olhos e abre a boca:
- Vó, o que é surubim? RP. passagem necessária que se torna
- Surubim? Uai, menina, surubim é um peixe, o Discutimos o documentário “Pro secundária frente ao trabalho e/ou
melhor peixe que existe, sem espinhos! Dia Nascer Feliz”, de João Jardim, à sobrevivência.
O silêncio volta a tomar conta. A menina e a se- que mostra a realidade de escolas Fica o convite a quem não pôde
nhora de idade se despedem, descem escadas e o brasileiras de diferentes classes assistir, faz pensar muito.
portão soa gentilmente ao fundo. Ambas seguiam
de volta a casa e a menina refletia sobre a existência
de um peixe sem espinhos. Quão engraçado: um
de comer sem embaraços! Porque só o surubim é
isento de espinhos? Uai, o sabor do peixe não re-
side no minuto secreto da quase espetada? A avó
observava os olhos arregalados da menina e com
um muxoxo de entre-lábios reprimiu a menina, coi-
sas são essas de criança ficar esquentando murin-
ga? Bonecas de pano e cadernos de linha verde são
mais agradáveis. Espinhos são coisas para adultos...
As duas sumiam no final da rua, o assunto se dissi-
pava, os vestidos, um sereno, outro sóbrio, pendu-
lavam com o caminhar.

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