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  O patolÓGICO

O PATOLÓGICO
Centro Acadêmico Adolfo Lutz - Medicina Unicamp - ano mmix - agosto-setembro
editorial spasmo!
2  O patolÓGICO agosto-setembro de 2009

E Pavio
ssa edição d’O Patológico traz como tema central
a Autarquização da Área da Saúde da UNICAMP.
Aproveitamos esse jornal para estabelecer um diálogo Doutor moço,
direto com os estudantes de medicina, trazendo um Escuto seus passos.
repasse da primeira mesa de discussão e abordando em outros Não precisa ter medo.
Chega perto de mim.
textos as conseqüências da desvinculação do hospital da O barulho na noite escura,
universidade, além de outros modelos de gestão. É importante de vigílias intermináveis,
ter claro que a transformação do nosso complexo hospitalar não me é estranho.
Descanso meus pesos nesta cama.
em uma autarquia pode trazer conseqüências diretas aos Seus professores e tu cuidam de mim.
estudantes. Por isso é fundamental que todos conheçam e Fazem o que podem,
debatam o tema. Esperamos que os textos contribuam para a e o que o Senhor
dos céus assim permite.
reflexão e desenvolvimento de uma posição crítica. Mas sinto que estou a morrer.
Nas semanas que se seguem a Autarquização será um dos A morte não é ruim seu moço.
temas mais debatidos na FCM. A diretoria já divulgou que Não me olhe com esses olhos!
Não confabulo.
pretende marcar uma reunião extraordinária da Congregação Penso nas profundezas.
para aprovação do projeto de Autarquia da Área da Saúde, O corpo,
portanto não deixe de acompanhar essa discussão através do um dia descanso exige.
A gente é como o pavio duma vela:
e-mail do CAAL, de reuniões e mesas que vão acontecer. Sua Não se vê o final
participação é muito importante. Mas ele se persegue na vivência
O Patológico traz também repasses do ECEM - Campinas, Num dia o encontramos
E o fim é um sopro.
do Seminário de Extensão Comunitária e do Seminário de A fumaça de nossas vivências ainda ficará.
Avaliação do Processo Ensino-Aprendizagem da Associação A luz que produzíamos viva ainda brilhará,
Brasileira de Educação Médica, além, é claro da tradicional naqueles que, em nós, brilho viam em vida.
Não me derrame lágrimas menino!
coluna Spasmo e de textos dos leitores. Como os textos dos Apenas aperta minha mão...
candidatos a Ombudsman não foram enviados a tempo, a É que tenho medo de subir escadas...
eleição será adiada para a próxima edição.
Boa Leitura! Fabricio Donizete da Costa (XLV)
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o ecem 2009
O
ECEM (Encontro Cientifico dos Estudantes de Me- a organização do evento.
dicina) é o encontro nacional da DENEM (Direção Os espaços utilizados durante o evento foram: as salas de aula
Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) e o do IFCH como alojamento estudantil; os auditórios do IFCH, as
maior fórum deliberativo da entidade, sendo as vo- salas de aula do IEL e o auditório da FCM para espaços de dis-
tações em suas plenárias realizadas por todo estudante inscrito cussão; os vestiários da FEF; e o restaurante universitário para ali-
no evento. mentação.
Em 2009, a XXXIX edição do ECEM ocorreu entre os dias 11 e O tema do encontro foi “Trabalho em Saúde e Formação Mé-
18 de julho em Campinas, sediado pelo CAAL. Compareceram dica: a determinação social do processo saúde-doença” e a pro-
ao evento cerca de 160 estudantes de medicina de todo o Brasil, gramação foi toda construída de maneira que pudesse dialogar
que participaram de espaços de discussão, apresentação de tra- de alguma maneira com o tema central do evento. Esse tema foi
balhos científicos e da realização de um Ato Público no centro de pensado para se aprofundar a discussão de como a organização
Campinas. da sociedade em que vivemos determina o processo saúde-do-
O CAAL teve a iniciativa de organizar o ECEM em conseqüên- ença da população e a organização da assistência à saúde nos pa-
cia da intensa participação que apresenta nos últimos anos na íses. Assim, o evento contou com espaços que abordavam temas
DENEM e pela análise de que a organização do movimento estu- relacionados à educação médica, saúde e universidade.
dantil também é responsabilidade dos centros acadêmicos. Houve também debates que permeiam há tempos os espa-
A baixa adesão estudantil ao evento reflete a falta de mobi- ços da Executiva e que são de extrema importância para que o
lização das Coordenações Regionais da DENEM e dos centros estudante se aproprie e possa se aprofundar, possibilitando sua
acadêmicos em promover o debate com os estudantes, além de atuação na sua universidade, como Crise dos Hospitais Universi-
uma desestruturação do movimento estudantil de medicina em tários de Ensino (em que foi abordada a crise de financiamento
geral. Com isso não se quer dizer que no passado havia grande pela qual os HUE’s passam), Privatizações na Saúde (abordando a
mobilização e aprofundado debate no movimento estudantil de questão dos modelos de gestão privatizantes e da estreita rela-
medicina, pelo contrário, o que vivemos hoje é, em grande parte, ção público-privada que existe nos mais variados meios), REUNI,
conseqüência da superficialidade das discussões e da falta de in- Reforma Universitária, Exame do CREMESP, Transformações cur-
teresse de levá-las às bases. riculares, Escolas Médicas Pagas, História e papel do movimento
O que vivemos atualmente não significa, portanto, um retro- estudantil.
cesso em relação a épocas passadas, pois, apesar do grande nú- Além desses, houve a inserção de debates que não constam
mero de estudantes em outros ECEMs, havia pouca participação em todos os espaços da Executiva, como Esporte e práticas cor-
desses nas discussões e debates do movimento. Nesse ECEM per- porais, Humanização da prática médica, Saúde e meio ambiente,
cebemos o contrário: apesar do baixo número de inscritos, houve Criminalização dos movimentos sociais, Estágios Interdisciplina-
grande participação dos estudantes nas discussões e essas foram res de Vivência (EIVs), Produção de conhecimento na universida-
muito mais aprofundadas que em anos anteriores. de, Combate às opressões, UNIVESP, Saúde do trabalhador e Uni-
O que vem acontecendo no movimento estudantil de medici- versidade popular. Esses espaços foram de extrema importância
na é uma reestruturação, uma mudança de paradigmas, não só para o início e aprofundamento do debate com os estudantes e
no movimento nacional como também em algumas regionais. trouxeram bastante discussão entre os encontristas.
Está havendo um abandono de antigas práticas populistas e o fa- A programação contribuiu bastante para o avanço e amadure-
vorecimento à criação de espaços de debates e aprofundamento cimento de muitas discussões que são feitas dentro da executiva
nas discussões e a criação de novas pautas. e permitiu que fossem superados alguns debates que estavam
A organização do evento começou a acontecer no final do mês estagnados há algum tempo. Os espaços plenos (mesas) tiveram
de abril e encontrou muitos entraves infra-estruturais dentro da ampla participação dos encontristas e geraram discussões bas-
universidade. Os espaços pensados para a utilização como aloja- tante interessantes após a exposição dos participantes da mesa.
mento estudantil foram todos negados, tanto dentro da UNICAMP, Houve também um ato público contra as privatizações da saú-
como fora do campus; para a utilização de espaços destinados à de no centro de campinas, que começou no Largo do Rosário e
refeição, vestiários, salas de discussão e segurança tivemos que percorreu algumas ruas próximas, juntando-se com outro ato de
pagar aluguéis e funcionários, o que encareceu o orçamento do trabalhadores que estava ocorrendo concomitante ao nosso.
encontro de maneira absurda! Assim, cabe um questionamento O XXXIX ECEM teve um papel bastante importante para o mo-
bastante inquietante: como pode uma universidade pública co- vimento estudantil de medicina, pois conseguiu avançar em mui-
brar para que seus estudantes possam usufruir de seus espaços? tos debates que já vinham sendo feitos e iniciou e aprofundou
Isso é reflexo do processo de intensa privatização que a univer- outras discussões, além de trazer o debate para dentro da nossa
sidade vem sofrendo ao longo dos últimos anos e cabe a nós, universidade.
estudantes, docentes e funcionários, questionar esse processo e Houve uma boa participação dos alunos da UNICAMP no ECEM,
nos mobilizarmos para impedi-lo. agradecemos a presença de todos os estudantes que prestigia-
Mesmo com todas essas dificuldades, o evento aconteceu; ram o evento organizado pelo nosso Centro Acadêmico e espera-
à custa de muito trabalho da comissão organizadora na última mos que continuem freqüentando os espaços da DENEM.
semana que precedeu o evento e muito dinheiro gasto com o Até o próximo encontro!
aluguel de espaços públicos. Não podemos esquecer também Comissão Organizadora
a ajuda do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UNICAMP, XXXIX ECEM – CAMPINAS
que esteve presente na última semana e também contribuiu para Gestão Roda Viva
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autarquização do HC: o início


N
o dia 05 de agosto de 2009 ocorreu discutir o assunto com os participantes da mesa. As Autarquização do complexo hospitalar.
no Auditório da Faculdade de Ciências principais intervenções foram relacionadas às fun- De fato, aparentemente não há nada de errado
Médicas a reunião sobre “A Área da dações de apoio que gerenciavam esses hospitais, à em transferir o financiamento para a Secretaria Es-
Saúde da Unicamp como uma forma de contratação de funcionários e como ficaria tadual de Saúde, ainda mais quando são mostrados
Autarquia da Secretaria de Saúde de São Paulo”, a relação ensino-pesquisa dentro dos hospitais au- dados como os da USP, USP-RP... Mas quais são as
promovida pela diretoria da FCM/UNICAMP. O obje- tarquizados (desvinculados da universidade). conseqüências dessa mudança?
tivo de tal reunião era expor a situação das universi- No período da tarde ocorreu o espaço intitulado Primeiramente, os exemplos mostrados revelam
dades estaduais paulistas que têm sua área da saúde “Estrutura de Financiamento e Gestão da Área de uma grande abertura para o privado na saúde. Cla-
como uma autarquia da secretaria de saúde, além de Saúde da Unicamp.”; com a presença da Prof. Dra. ro, pois, com a autonomia da Secretaria Estadual de
discutir uma proposta para a Faculdade de Ciências Sara Teresinha Ollala Saad – coordenadora do He- Saúde, poderá ocorrer com os hospitais universitá-
Médicas da UNICAMP. mocentro; Prof. Dr. José Antonio Rocha Gontijo – di- rios o que vem ocorrendo com os hospitais estadu-
É lamentável, dessa maneira, que a divulgação retor da FCM/UNICAMP; Prof. Dr. Oswaldo da Rocha ais: sucateamento, contratação de funcionários e
dessa reunião para a comunidade acadêmica da Grassiotto – diretor executivo do CAISM; e Prof. Dr. médicos sem estabilidade e baixos salários, abertura
FCM tenha acontecido apenas no dia 17 de julho, Luiz Carlos Zeferino – superintendente do Hospital de clínicas civis e convênios, que, apesar de repassa-
em plenas férias discentes, impedindo a articulação das Clínicas da UNICAMP. rem parte de seus ganhos para o hospital, lucram em
dos centros acadêmicos para a participação no es- As exposições deram enfoque na situação pela cima de infra-estrutura pública, que deve oferecer
paço e para a melhor divulgação e discussão com qual a área de saúde está passando, com a precariza- atendimento para todos de igual e boa qualidade!
todos os estudantes da faculdade. ção dos espaços, fechamento de leitos e estagnação Além disso, os hospitais universitários ainda so-
A reunião aconteceu durante dois períodos; pela do financiamento recebido. Todas elas ressaltaram a frem problemas particulares pela desvinculação da
manhã compareceram à mesa intitulada “A Estrutura necessidade de maior financiamento para a melho- instituição de ensino: Dá para garantir espaços de
Autárquica dos Hospitais de Clínicas da USP, USP-RP ria da assistência à população, melhoria do ensino e ensino e pesquisa? Como garantir que verbas serão
e UNESP-Botucatu. Vantagens e Estrutura de Gestão.”, melhoria da área da saúde como um todo; e a medi- destinadas para este fim? Podemos realmente saber
o Prof. Dr. Marcos Boulos – Diretor da Faculdade de da que viam como necessária para a concretização se haverá ampliação de verbas e manutenção da
Medicina – USP, São Paulo; o Prof. Dr. Benedito Car- dessas necessidades acontecia através da autarqui- qualidade da instituição, com a desvinculação da
los Maciel – Diretor da Faculdade de Medicina – USP, zação. universidade? E a garantia de uso dos espaços para
Ribeirão Preto; e o Prof. Dr. Sérgio Swain Muller - Di- Após as exposições, foi aberta outra rodada de o ensino dos alunos da universidade? Outras insti-
retor da Faculdade de Medicina – UNESP, Botucatu. discussão e as intervenções ressaltaram a questão tuições podem financiar melhorias para os hospitais
O diretor da faculdade de medicina da USP – São da contratação dos funcionários e de como ficaria como moeda de troca para uso do espaço para está-
Paulo apresentou como funciona a estrutura autár- a situação daqueles que já trabalhavam no hospital; gios! E seus alunos, o ensino, a pesquisa, a universi-
quica da área da saúde. A USP é uma autarquia da também foi discutido o fato de que o espaço não dade e a população sofrem com tudo isso...
secretaria de saúde do estado de São Paulo desde prezou pela democracia, pois não havia nenhum A autarquia em si - e pensada isoladamente - não
sua criação e se expandiu através de financiamentos representante dos estudantes e dos funcionários interfere nisso, pois constitui a transferência de uma
vindos de iniciativas públicas e iniciativas privadas compondo a mesa de debate, além de ser debatida gestão pública (a da universidade) para outra públi-
(fundações de apoio, parcerias público-privadas). a falta de proposição do espaço. ca (a da secretaria), mas temos que entendê-la como
O diretor da faculdade de medicina da USP – Sobre essa falta de proposição, foi explicado que porta de entrada para todas essas conseqüências.
Ribeirão Preto, que também é uma autarquia da o espaço ocorrido durante todo o dia fora apenas Foi o que aconteceu com os exemplos que temos e
secretaria de saúde do estado desde sua criação, para mostrar à comunidade acadêmica que o pro- é o que vem ocorrendo com o SUS!
apresentou o funcionamento da fundação de apoio jeto de autarquização é algo que se está sendo pen- As discussões estão começando e devemos par-
que gerencia o hospital das clínicas da universidade sado para a área de saúde da UNICAMP. Fora apenas ticipar dessas reuniões de maneira crítica. Devemos
– FAEPA. O hospital das clínicas da USP-RP também um primeiro momento de reflexão, pois propostas exigir a elaboração de mesas com participação de
recebe investimentos da iniciativa pública e iniciati- serão criadas a partir de agora e foi prometido que todas as esferas que participam da constituição da
va privada (clínica civil). serão amplamente debatidas com toda a comunida- área da saúde da UNICAMP, e não como o que foi
O diretor da faculdade de medicina da UNESP de acadêmica, incluindo funcionários, estudantes e promovido no último dia 5, em meio às férias prorro-
apresentou a situação pela qual o hospital vem docentes, além de todas as opiniões serem conside- gadas e com o comunicado-relâmpago, em meados
passando nos últimos anos – recebe o menor in- radas nessas proposições. de julho e também no meio das férias. Gostaríamos
vestimento do estado dentre as três universidades Assim, devemos tecer algumas considerações e que no mínimo esta reunião tivesse sido adiada em
estaduais públicas de São Paulo – e que a situação questionamento sobre todas as exposições e deba- respeito aos estudantes que estavam afastados da
encontrada para suprir os problemas de financia- tes vistos durante todo o dia 05. universidade devido à epidemia de gripe suína.
mento foi tornar a área da saúde da UNESP (Botuca- Os problemas de financiamento da área de saúde
tu) uma autarquia da secretaria de saúde. A proposta da UNICAMP são evidentes, como demonstraram os Gestão Roda Viva
passaria ainda pela congregação da faculdade, mas dados mostrados pelos participantes da mesa. Por
havia certa indisposição dos estudantes e funcioná- isso, há necessidade de aumento das verbas desti-
rios com a proposta apresentada. nadas aos hospitais e ao hemocentro. Contudo, a
Após essas exposições, foi aberto para o público única alternativa debatida durante a reunião foi a
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a área de saúde e sua autarquizaçÃO


“Entendemos que as instituições públicas devem ter administrações pú-
blicas, que garantam transparência nas contas, controle social, serviços
gratuitos e ausência de lucro.“
- Orçamento do HC - Fundações e Administração Privada
Coloca-se como um dos motivos para a au- Entendemos que as instituições públicas
tarquização a necessidade de um aumento de devem ter administrações públicas, que garan-
verbas para o hospital. Será que essas verbas tam transparência nas contas, controle social,
já existem no governo do estado, ou teríamos serviços gratuitos e ausência de lucro. Em uma
que a partir de agora brigar com a secretaria proposta de autarquia do ano de 2006 já esta-
estadual de saúde por mais dinheiro para o va prevista a criação de uma fundação “Fun-
HC? dação de Apoio a Saúde”. É possível garantir
- Controle Social que, após a autarquização, o HC não passará a
Entendemos que o controle social dentro ser administrado por uma Organização Social
do hospital se faz necessário como preconiza- ou uma Fundação de Direito Privado, ou que
do pelo SUS, como podemos garantir que te- se utilize de uma fundação para aplicação de
remos um conselho gestor com participação recursos extra-orçamentários e contratação
de todos os atores (médicos, docentes, usuá- de pessoal?
Desde o início de agosto, a direção da Fa- rios, estudantes e funcionários) dentro do HC Diante de tantas dúvidas, resta-nos a certe-
culdade de Ciências Médicas está promo- autarquizado? za de que a autarquização da Área da Saúde
vendo uma série de discussões a respeito da - Direção do Hospital e da Autarquia pode interferir definitivamente na vida dos
Autarquização da Área da Saúde. Essa não é Os estudantes e funcionários terão direi- estudantes particularmente e de toda socie-
a primeira vez que esse assunto está sendo to paritário na escolha de Superintendentes, dade. Por isso é nosso papel como cidadão
debatido, em outras ocasiões chegou-se até a diretores e presidentes do HC e autarquia. Te- acompanhar esse processo e assegurar que
formular um projeto para a possível autarquia, mos como garantir que a escolha desses car- caso ela aconteça, respeite os direitos dos es-
mas ela não saiu do papel. gos não será política e imposta pelo governo tudantes, funcionários e usuários.
Antes de tudo, é preciso entender o que é estadual desrespeitando os interesses da co- A segunda reunião com a direção foi mar-
uma autarquia. Autarquia segundo definição munidade do HC (docentes, estudantes e fun- cada para o dia 09 de setembro às 09h00 no
jurídica é uma entidade administrativa au- cionários)? Auditório da FCM. Mais uma vez a data da
tônoma pública criada por lei, com receita e - Campo de estágio reunião não possibilitou grande participação
patrimônio próprios, sem fins lucrativos, para Ao se tornar um hospital vinculado à Se- estudantil, aconteceu em plena semana da
executar atividades típicas da Administração cretaria Estadual de Saúde e não mais à UNI- Intermed com dispensa de aulas do 1º ao 4º
Pública, que requeiram – para seu melhor fun- CAMP, o HC torna-se campo de estágio dispo- ano. Apesar das adversidades, na medida do
cionamento – gestão administrativa e finan- nível a qualquer estudante da área de saúde possível, os estudantes devem estar presentes
ceira descentralizada. Na prática a autarquia é de instituições públicas e particulares. É possí- nas discussões e afirmar o interesse em acom-
uma entidade pública desvinculada da admi- vel garantir que as vagas de estágio não sejam panhar de perto o processo de Autarquização
nistração direta da prefeitura, estado ou união, destinadas a instituições particulares e que o da Área da Saúde.
ela recebe um orçamento próprio e decide de espaço dos estudantes da UNICAMP seja asse-
que maneira deve gastá-lo. A UNICAMP, por gurado?
exemplo, é uma autarquia do estado de São - Direitos dos funcionários Gestão Roda Viva
Paulo, recebe como orçamento uma porcen- Acreditamos que o trabalho deve ser exer-
tagem do ICMS e decide de que maneira vai cido de maneira digna sem exploração e com
utilizá-la. Para as universidades estaduais pau- remuneração adequada. É possível garantir
listas tornar-se uma autarquia foi importante que as contratações ocorram por concurso
na conquista da autonomia universitária. público e que haja paridade de direitos entre
A proposta apresentada pela direção pre- todos os funcionários?
vê a autarquização do HC, CAISM, Hemocen- - Dupla Porta
tro e Gastrocentro. Através desse processo a Em hospitais que são autarquias, como é o
área da saúde se desvincularia da UNICAMP e caso dos HCs da USP e USP-RP existe atendi-
se vincularia à Secretaria Estadual de Saúde, mento público e privado na mesma instituição.
progressivamente deixaria de receber recur- Acreditamos que essa prática fere a criação do
sos do orçamento da universidade e passaria SUS que prevê saúde universal e gratuita para
a receber diretamente do estado de São Pau- todos e fere a dignidade dos usuários que pas-
lo. Afirma-se que a autarquia resolveria dois sam a ser atendidos segundo sua condição fi-
grandes problemas, a falta de funcionários, nanceira. É possível garantir que essa situação
que determina que, hoje, aproximadamente não aconteça na UNICAMP?
100 leitos do HC estejam fechados, e a falta de - Ensino, Pesquisa e Extensão
recursos para investimento em modernização Acreditamos que a universidade deve cum-
e recuperação da infra-estrutura. Porém a pos- prir seu papel relacionado ao ensino, pesqui-
sibilidade de criação de uma autarquia nos sa e extensão. É possível garantir que o HC,
coloca diante de várias dúvidas e pode trazer desvinculado da UNICAMP, continuará privile-
algumas conseqüências: giando essas áreas e não se voltará exclusiva-
mente para a assistência?
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SAIU NA MÍDIA: PÚBLICO > privado


“Há muita ideologia e poucos dados nas
argumentações de que o Estado é improdutivo”

A
administração pública é mais pro- no Brasil. No entanto, representa 15,5% do va-
dutiva do que o setor privado. lor agregado da produção nacional. “A produ-
Essa foi uma das conclusões a que ção na administração pública aumentou 43,3%
chegou o estudo Produtividade entre 1995 e 2006, crescimento que ficou mais
na Administração Pública Brasileira: Trajetória evidente a partir de 2004. No mesmo período,
Recente, divulgado pelo Instituto de Pesquisa os empregos públicos aumentaram apenas
Econômica Aplicada. O Ipea avaliou a evolução 25%. Isso mostra que a produtividade aumen-
da diferença de produtividade entre esses dois tou mais do que a ocupação”, argumentou o
setores entre 1995 e 2006. presidente do Ipea. “Esse estudo representa a
“Em todos os anos pesquisados, a produ- configuração de uma quebra de paradigma,
tividade da administração pública foi maior porque acabou desconstruindo o mito de que
do que a registrada no setor privado. E essa o setor público é ineficiente”, defendeu Poch-
diferença foi sempre superior a 35%”, afirmou mann.
o presidente do Ipea, Marcio Pochmann, ao Entre os motivos que justificariam o aumen-
divulgar o estudo. “No último ano do estudo to da eficiência produtiva da administração
[2006], por exemplo, a administração pública pública, Pochmann destacou as recentes ino-
teve uma produtividade 46,6% maior [do que a vações, principalmente ligadas às áreas tecno-
do setor privado]. O ano em que essa diferença lógicas que envolvem Informática; os proces-
foi menor foi 1997, quando a pública registrou sos mais eficientes de licitação; e a certificação
produtividade 35,4% superior à da privada”. digital, bem como a renovação do serviço pú-
O estudo diz que entre 1995 e 2006 a pro- blico, por meio de concursos.
dutividade na administração pública cresceu O presidente do Ipea lembrou ainda que as
14,7%, enquanto no setor privado esse cres- administrações estaduais que adotaram me-
cimento foi de 13,5%. “Há muita ideologia e didas de choque de gestão, como São Paulo,
poucos dados nas argumentações de que o Minas Gerais e Rio Grande do Sul, não cons-
Estado é improdutivo, e os números mostram tam entre aquelas com melhor desempenho
isso: a produtividade na administração pública na produtividade. “Ou tiveram ganho muito
cresceu 1,1% a mais do que o crescimento pro- baixo, ou ficaram abaixo da média de 1995 a
dutivo contabilizado no setor privado, durante 2006”, afirmou, ressalvando que essa compa-
todo o período analisado”. ração não era objetivo do estudo, mas foi uma
Segundo o Ipea, a administração pública é das conclusões observadas.
responsável por 11,6% do total de ocupados http://www.cartamaior.com.br/templates/materia-
Mostrar.cfm?materia_id=16123
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AUTARQUIA iFUNDAçÃO
“ Fica claro que assim que for instalada uma autarquia será ne-
cessário instalar também uma fundação”

N
o último dia 09 de setembro Em alguns casos as fundações acabam pessoas: as que podem pagar pelo serviço
em reunião realizada no Au- atuando como intermediárias na contrata- privado (lembrando que elas pagam duas
ditório da FCM a respeito da ção de funcionários para os serviços públi- vezes) e que tem um atendimento diferen-
Autarquização da Área de cos. Isso leva à admissão de funcionários ciado e sem filas e as que não podem pa-
Saúde, um dos professores disse essa fra- em condições salariais desiguais e sem gar e enfrentam o serviço público.
se, referindo-se a necessidade de instala- concurso público, o que fere o princípio da As fundações podem fazer compras des-
ção de uma fundação na área de saúde. impessoalidade do serviço público. Atual- tinadas ao serviço público sem licitação,
Nessa reunião ficava claro que a proposta mente o HC já está sendo processado por podendo beneficiar interesses individuais,
de desvinculação do complexo hospitalar irregularidades na contratação de funcio- isso fere os princípios da impessoalidade e
da universidade não vinha sozinha, afinal nários via FUNCAMP. da publicidade da administração pública.
um dos grandes interlocutores convidados Existem exemplos de outras universida- Na USP, fundações criadas para auxiliar
do dia foi o procurador da Fundação Facul- des em que um dos dirigentes da funda- a captação de recursos para a universidade
dade de Medicina, que administra o HC da ção é também dirigente público, isso gera transferem apenas 5% de sua arrecadação
USP-SP. conflito de interesses e beneficiamento in- para ela.
Para começo de conversa é necessário dividual. As fundações que deveriam ser de apoio
compreender o que é uma Fundação de Em outras instituições, alguns convênios à instituição pública se utilizam dos bens
Apoio. É uma entidade privada instituída firmados entre fundação e universidade públicos em benefício privado e acabam
por particulares, ganhando propor-
com recursos par- ções muito grandes.
ticulares que de- Tornam-se capazes
sempenha papel de oferecer serviços
social não exclu- a outras instituições
sivo do Estado, no privadas, passam
nosso caso saúde. a comprar imóveis
Ela pode celebrar em nome próprio,
contratos, sem li- enfim tornam-se
citação, contratar grandes instituições
pessoal sem con- privadas. No fim das
curso público e contas a universida-
no regime CLT e de que acaba ser-
não têm que obe- vindo de apoio para
decer a normas o crescimento da
da contabilidade fundação.
pública, mas tem Apesar de, ini-
que obedecer a cialmente, tentar-
normas da uni- se separar o debate
versidade a qual da autarquização
está vinculada, do debate das fun-
seja através de dações, percebe-se
sua criação, seja que nas últimas reu-
através de con- niões a própria di-
vênios firmados. Na FCM a criação de uma não são transparentes, não demonstram retoria tem trazido essas duas discussões.
fundação já está aprovada desde 2004 na de maneira clara a quantidade de recursos Além disso, não podemos esquecer que o
Congregação. públicos destinados às fundações, isso fere próprio governo do estado de São Paulo, a
A criação de uma fundação no comple- o princípio da publicidade da administra- quem iremos nos vincular com a possível
xo hospitalar da UNICAMP representaria a ção pública. autarquização, tem defendido, na última
inserção da lógica privada no serviço pú- Exemplos de outras universidades mos- semana, modelos privatizantes de gestão
blico de saúde e na universidade. E como tram que docentes que deveriam ser de nos hospitais públicos. Por isso se defen-
isso seria: dedicação exclusiva acabam atuando nas demos os serviços públicos, o sistema de
Uma fundação ligada à universidade fundações em serviços não destinados à saúde, a universidade pública e uma outra
não precisa necessariamente prestar servi- universidade, o que prejudica as ativida- realidade social, também temos que nos
ços exclusivos a ela. Ela pode prestar servi- des de ensino, pesquisa e extensão. posicionar contra as fundações.
ços a entidades privadas, dar consultorias, As fundações acabam prestando ativida-
organizar cursos captando recursos para si de privada dentro de instituição pública. É Fonte: Universidade pública e fundações privadas:
mesma e acaba se utilizando da sigla, dos o que acontece no HC-USP, onde as funda- aspectos conceituais, éticos e jurídicos – ADUSP – no-
bens públicos, de imóveis e até mesmo de ções captam recursos com serviço privado vembro de 2004
funcionários públicos sem remunerar a se utilizando do espaço público, do patri- Josué Augusto do Amaral Ro-
universidade, como acontece com exem- mônio público e de funcionários públicos cha
plos na USP. (Dupla-Porta). Isso cria duas categorias de Gestão Roda Viva
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As OSS e a privatização da saúde


A
democracia pós-regime militar no pios paulistas e o governo estadual na rota da governo pode habilitar apenas uma. Quem
Brasil teve alguns grandes avanços privatização da saúde. Hoje, o município de seriam os donos dessa uma? Lembram da taxa
nas áreas sociais, bem colocados São Paulo está segmentado em uma dezena administrativa?;
na Constituição de 88, a chamada de OSSs, que gerenciam todo tipo de serviço 7 – São cada vez maiores os relatos de que,
por alguns “Constituição Cidadã”. Dentre elas de saúde (de unidades básicas a hospitais), na busca pelo cumprimento das metas estabe-
está o Sistema Único de Saúde, um sistema tornando inviável a discussão de políticas de lecidas pelos governos e em respeito ao mo-
público de saúde que entende a saúde como saúde municipais, integração entre o serviço, delo gerencial de qualidade total, os hospitais
algo mais que a ausência de doença, que a além dos constantes relatos de opressão ao gerenciados por OSS desrespeitam os usuários
entende também como um direito de todo o trabalhador. No âmbito estadual mais de 25 dando alta da hospitalização simplesmente
cidadão, assim como um dever do Estado, um serviços já estão sob gestão de OSS. Em 2004 para cumprir o tempo máximo de internação
sistema que se pretende gratuito, universal, o governo estadual empenhou cerca 600 mi- e se negando a realizar procedimentos muito
equânime, regionalizado, descentralizado e lhões de reais para OSS, em 2009 será quase 2 custosos (como os curativos que pessoas com
profundamente controlado pela sociedade. bilhões. áreas de queimadura extensas necessitam);
O fato é que a efetivação de tudo isso não A Assembléia Legislativa de São Paulo 8 – Especificamente no âmbito da universi-
se deu bem assim. A pressão exercida pelos aprovou na semana passada uma nova lei que dade: existe uma discussão fortemente enca-
movimentos sociais não se sustentou a pon- aprofunda ainda mais essa situação. Antes minhada de transformar o Hospital das Clíni-
to de garantir que a estrutura do Estado fosse apenas serviços de saúde recém-criados po- cas da Unicamp em uma Autarquia. Soma-se
reformada de forma a possibilitar da melhor deriam ser repassados para essas entidades, a isso o dado de que uma Fundação de Apoio
maneira possível a consecução dessas ações. agora qualquer serviço o pode, além disso, à Área da Saúde já foi aprovada pela congre-
Isso, aliado a certa política de desconstrução fundações de apoio a hospitais universitários gação da Faculdade de Ciências Médicas (em
da coisa pública culminou em uma série de si- podem requerer tal habilitação, por fim, 25% 2004) e o dado de que um dos textos de regi-
tuações degradantes das políticas sociais. da capacidade instalada de hospitais públicos mento da Autarquia já inclui que esta contará
Primeiro um crítico subfinanciamento. poderá ser destinada para a venda de serviços com a ajuda da tal Fundação. Alguém se lem-
Além das receitas orçamentárias vinculadas tanto no âmbito privado direto quanto atra- bra que a lei aprovada semana passada permi-
às áreas sociais serem pequenas, cria-se a Des- vés de planos de saúde. te que fundações se transformem em OSS?
vinculação das Receitas da União, que permite E a final, como essa terceirização nos afeta É uma questão de falta de alternativas?
que 20% da receita vinculada possa ser redi- diretamente? Com certeza não. As alternativas existem para
recionada para amortização da dívida pública. 1 – Precarização do trabalhador da saúde; quem as quer criar. Logicamente que existe o
Na saúde, por exemplo, resulta-se que mesmo 2 – Permissividade à dupla-porta, mesmo tempo para a criação dessas propostas, que
com a criação da CPMF destinando recursos em hospitais universitários, construídos, equi- são mais ricas quanto mais o processo é de-
específicos para isso o orçamento final da saú- pados e custeados com o dinheiro público, ou mocrático.
de não aumenta. Poucos países da América seja, é o dinheiro dos nossos impostos finan- Fato que o Estado brasileiro, patrimonialis-
Latina têm orçamento per capita para a saúde ciando lucros da elite; ta, clientelista, burocratizado, elitista e autori-
menor que o do Brasil. 3 – Cobrança de taxa administrativa – ima- tário dificulta a gestão em saúde. Entretanto,
Outro ponto foi uma Reforma de Estado ginem 10% de taxa sobre 2 bilhões de reais? não são com gambiarras privatizantes que se
promovida no governo FHC, que além de in- “Negocião” hein?; dá conta dessa questão, mas sim com uma
centivar a privatização declarada, cria formas 4 – Legalização do clientelismo político par- verdadeira Reforma de Estado que torne as es-
de legitimar a transferência das atribuições tidário – Com as terceirizações aquela questão truturas mais ágeis e desburocratizadas, mas
estatais para o setor privado que não pela toda tão criticada de cargos comissionados que mantenha a impessoalidade típica do que
venda, mas pela contratação de prestações de políticos torna-se problema pequeno! Torna- deveria ser a gestão pública, a transparência,
serviços, por exemplo, a contratação de orga- se possível a contratação sem qualquer tipo a possibilidade de controle pela sociedade or-
nizações para fazer o gerenciamento de servi- de processo seletivo, ou seja, todos os cabos ganizada (o chamado controle social) e a pos-
ços nas áreas fins sociais. eleitorais podem ter seu emprego garantido! sibilidade de que dentro dos próprios serviços
Para incentivar ainda mais esse desmonte (como já tem ocorrido em diversos exemplos) se possa executar uma gestão participativa,
cria-se uma Lei de Responsabilidade Fiscal - Não é mais necessário realizar licitação, ou democrática, em co-gestão com trabalhado-
LRF (lei complementar 101, 04/05/00) que fixa seja, no limite podem-se contratar apenas as res e usuários, não centrada no lucro, mas sim
limites para o gasto com pessoal pelo Executi- empresas que apóiam as campanhas partidá- na saúde do usuário.
vo, qual seja 40,9% da receita corrente líquida rias de quem está no poder, ou mesmo direta- Convidamos a todos para que se mobilizem
para a União, 49% para a esfera estadual e 54% mente as empresas nas quais esses políticos em torno dessa questão, estudantes da saúde
para a municipal. Esses limites mostraram-se tem participação nos lucros (direta ou indire- ou não! Convidamos a se incorporar no lindo
totalmente insuficientes para dar conta de de- tamente); movimento social de contestação que tem
mandas sociais que são preponderantemente 5 – Sem perspectiva de progressão de car- surgido contra as ameaças de aumento das
executadas por gente! Como a Saúde e a Edu- reira fica ainda mais difícil fixar profissionais presenças das OSS em Campinas. A próxima
cação. Esta lei tem servido sistematicamente nos locais de trabalho (questão muito impor- importante agenda será o ato da Caravana do
como pretexto para o não reajuste salarial dos tante para a saúde); SUS, dia 19/09 pela manhã, na praça atrás da
serviços, a não realização de concursos públi- 6 – Questão da habilitação das organiza- catedral de Campinas. Vamos lutar para que a
cos e a terceirização da contratação de pesso- ções – para que uma OSS possa assumir ser- histórica saúde pública de Campinas seja pre-
al. viços ela primeiro precisa ser habilitada pelo servada! Vamos lutar contra a terceirização da
Em São Paulo, o governo regulamentou a ente federado responsável pelo serviço. Essa saúde e da educação pelo governo!
terceirização da gestão de serviços de saúde habilitação tem alguns pré-requisitos, mas
para OSS (Organizações Sociais de Saúde) e não obriga que o governo habilite todas as Bruno Mariani de Souza Azevedo
para OSCIPs (Organizações da Sociedade Civil organizações que cumprem com eles. Isso sig- Médico sanitarista (em co-autoria com
de Interesse Público) em 1998, com a lei com- nifica que não existe necessidade de licitação outros militantes do CEBES-CAMPINAS).
plementar 846. Essa permissão, sob a descul- para a contratação de OSS, apenas as habili-
pa de superação da LRF, colocou os municí- tadas poderiam participar caso houvesse e o
  O patolÓGICO agosto-setembro de 2009 9

manifesto dos estudantes


Manifesto dos Estudantes dos Cen- (FAS), portanto, a possibilidade de uma Além disso, na constituição federal foi
tros Acadêmicos da Saúde e Diretório Fundação gerenciar o Complexo Hospi- aprovada a participação do setor priva-
Central dos Estudantes da UNICAMP: talar da Unicamp é mais do que concre- do na saúde de maneira complementar

N
Contra a Autarquização do H.C. ta. ao sistema público, o que impede o real
os dias 5 de agosto e 9 de A criação da Fundação promoveria acesso a todos/as.
setembro a diretoria da um processo de privatização e preca- Até os dias de hoje, o financiamento
FCM/UNICAMP organizou rização da saúde, através da flexibiliza- para a saúde depende da regulamenta-
debates acerca da crise do ção de contratos (abolindo-se o regime ção da Emenda Constitucional 29, que
complexo hospitalar e apontou como estatutário e criando vínculos indiretos prevê o repasse de 10% das receitas da
solução a autarquização de toda a Área de trabalho), pagamentos e convênios união para a saúde. Entretanto, com a
de Saúde da UNICAMP. Tal autarquia privados. Também, temos exemplos Desvinculação das Receitas da União,
passaria a ter personalidade jurídica claros de abertura de dupla porta reala- cerca de 20% do dinheiro público é
própria e teria sua receita vinculada à cionada a autarquização, como o HC da destinado para o pagamento dos juros
Secretaria de Saúde do Estado de São FMUSP (Faculdade de Medicina da USP). da dívida, reduzindo as verbas públicas
Paulo, sendo desvinculada financeira- Já em outros casos, como no HU da UFF para as áreas sociais e, conseqüente-
mente do orçamento da UNICAMP. (Niterói-RJ), os estágios transformaram- mente, para a Saúde.
Os recursos financeiros repassados se em “meios de captação de recursos”, Tendo isso em vista, fica clara a ne-
para o complexo hospitalar da Unicamp onde os estudantes de faculdades par- cessidade de todos/as estudantes, bem
provém da Secretaria de Ensino Supe- ticulares têm prioridade para conseguir como a/os trabalhadora/os de se orga-
rior do Estado de São Paulo, Ministério estágios perante os estudantes da pró- nizarem para lutar pelos direitos sociais.
da Saúde, Fapesp e convênios estabele- pria universidade (por exemplo: troca Para tanto, é necessário dizer NÃO à Au-
cidos com o Poder Públi- tarquização do HC da Unicamp,
co, tanto estadual como bem como a toda e qualquer
federal. No entanto, os forma de privatização dos ser-
defensores dessa nova viços públicos de saúde. Temos,
proposta argumentam portanto, que lutar por mais
que tais recursos não verbas públicas para a educa-
suprem as necessida- ção e saúde públicas.
des em infra-estrutura e Por isso, somos:
desenvolvimento. Além • Contra a Autarquização dos
disso, alega-se que a HC da Unicamp (desvinculação
contratação de funcio- com a universidade);
nários é urgente e o • Contra as Organizações So-
modelo de gestão vi- ciais, as Fundações de Apoio e
gente impossibilita tais Fundações Estatais de Direito
melhorias. Privado;
Todavia, não há uma • Pelo fim da dupla porta nos
relação direta entre au- HUs e por 100% de leitos SUS;
tarquização do HC e • Pelo fim da Desvinculação
aumento de financiamento. Objetiva- de vaga de estágio por equipamentos das Receitas da União (DRU);
mente, a transformação em uma autar- para o hospital). • Pela regulamentação da Emenda
quia não garante um valor fixo vindo da A falta de financiamento para a edu- Constitucional 29 (EC29);
Secretaria de Saúde maior que o atual cação e saúde não se reflete apenas na • Por aumento do financiamento pú-
da universidade. Isso poderá acontecer qualidade dos atendimentos e estágios blico o para a saúde pública e para os
por meio da flexibilização nas formas realizados nos HUs. O sucateamento HUs.
de captação de verbas através da entre- dos serviços públicos daí decorrentes Escrevem esse manifesto o
ga da gestão nas mãos de entidades de expressa a adoção de um projeto políti-
direito privado (Organizações Sociais e co que visa à inserção do capital priva-
Centro Acadêmico de Enfer-
Fundações de Apoio). Desse modo, a do na área da saúde e na universidade. magem (CAE), Centro Aca-
autarquia seria apenas o primeiro pas- Desde sua implementação, o SUS tem dêmico de Fonoaudiologia
so para a administração privada através sido alvo do sistema capitalista e dos
(CAXS), Centro Acadêmico de
de uma Fundação de Apoio da Área de governos neoliberais. Apesar do proje-
Saúde. Vale lembrar que, em 2004, a to prever saúde para toda a população, Medicina (CAAL) e Diretório
Congregação da Faculdade de Ciências no momento de sua implementação, Central dos Estudantes (DCE)
Médicas da Unicamp aprovou o regi- alguns pontos que definiam seu finan- da Unicamp.
mento da Fundação da Área da Saúde ciamento foram vetados sumariamente.
10  O patolÓGICO agosto-setembro de 2009

Seminário de Extensão Comunitária


“Nada deve parecer natural explorados e de exploradores. escolhidos, alguns dividiam o que tinham com os
Nada deve parecer impossível de mu- O segundo dia foi todo reservado para a apre- demais, outros pediam comida e ficavam muito
dar” sentação do nosso projeto, que como já falamos em satisfeitos com as migalhas, e ainda houve os que
Bertold Brecht Patológicos anteriores, será de prevenção e educa- pegaram comida só para si. Conseguimos com isso

C
ção em saúde em comunidades quilombolas (CQs) uma discussão muito profícua sobre exclusão social,
ontinuando o trabalho de um dos eixos no Vale do Ribeira. Para falar sobre ele, trouxemos sobre como mudar a realidade em que vivemos e o
de atuação da Gestão Roda Viva, reali- o Prod. Dr. Celso Lopes, professor da FEA e coorde- que podemos fazer como elite que somos.
zamos nos dias 25 e 26 de agosto o I nador do Programa Comunidades Quilombolas, o A partir daí discutimos sobre a Educação popu-
Seminário de Extensão Comunitária do qual coordena os diversos projetos de extensão lar, um método de Paulo Freire que fala da educa-
CAAL. O objetivo do seminário foi trazer um pouco que trabalham nessas comunidades. Ele falou um ção dialética, construída por professores e alunos e
do significado da Extensão em Comunidade para pouco sobre o programa e a atuação dele junto aos que gera o emPODERamento daquele que aprende,
os estudantes a partir da abordagem de três esfe- projetos existentes. de modo que ele consiga guiar-se com os próprios
ras diferentes da nossa universidade, além de apre- Depois, a Nanne da XLV, que coordena um pro- pés a partir de um determinado momento. Utiliza-
sentar nosso projeto de extensão, recém aprovado jeto com as crianças das CQs falou sobre o projeto mos dois vídeos, um sobre a própria obra de Paulo
pelo III Edital da PREAC e discutir a educação popu- que é também muito recente e trabalha com crian- Freire, outro da Articulação Nacional de Extensão
lar como metodologia para o projeto. ças de 1 a 15 anos nos quilombos. Por fim, apre- Popular (ANEPOP) como subsídio para a discussão.
No primeiro dia, tivemos uma mesa de abertura sentamos o nosso projeto, e tiramos dúvidas sobre Acreditamos na extensão não-assistencialista,
seguida por uma mesa com o Prof. Dr. Mohamed como será o cronograma e a divisão das equipes. emancipadora, que permite com que as pessoas
Habib, Pró-reitor de Extensão e Assuntos Comuni- Formaremos equipes para que toda semana uma sustentem o projeto por seu próprio conhecimento
tários, o Prof. Dr. Roberto Teixeira Mendes, coorde- possa ir para os quilombos aos sábados para dar e que não as faça dependentes da nossa presença
nador da Comissão de Extensão Universitária da andamento ao projeto, assim sendo, quanto mais depois de certo tempo. É essa a extensão comuni-
FCM e o prof. Miguel Bacic, coordenador do maior equipes tivermos, melhor! tária que pretendemos exercer nas comunidades
projeto de extensão comunitária da UNICAMP, a Ao fim da mesa fizemos uma mística que pu- quilombolas.
ITCP (Incubadora Tecnológica de Cooperativas Po- desse retomar os pontos abordados na roda de Para que isso se torne viável, vamos promover
pulares). conversa no primeiro dia... Selecionamos dois vo- uma capacitação para aqueles que pretendem tra-
O objetivo da mesa era abordar a importância luntários, os quais puderam participar do real coffe balhar conosco nesse projeto. Começaremos com
da extensão comunitária institucionalmente e na break, enquanto os demais não tiveram direito a o curso promovido pelo Programa Comunidades
nossa educação, mas também versou sobre a in- mais que pães com mortadela, mas tiveram o pra- Quilombolas, necessário para qualquer um que
tencionalidade da extensão para com a comuni- zer de usufruir de algumas frases de protesto como pretenda trabalhar nos quilombos, nos dias 23,
dade. Assim, conversamos sobre a dialética entre o a que iniciou esse texto. Os abastados também ti- 24 e 25 de setembro, na hora do almoço. Divulga-
estudante e a comunidade, de maneira a levar algo veram sua reflexão, com versos como “Dizem-me: remos horários e locais em breve... A capacitação
útil para as pessoas e também ser uma ferramenta come e bebe!/ Fica feliz por teres o que tens!/ Mas prosseguirá no fim de semana subseqüente, com o
útil para os estudantes, seja no seu ensino, seja na como é que posso comer e beber,/ se a comida que próprio CAAL, a respeito do nosso projeto e da me-
sua formação cidadã. eu como, eu tiro de quem tem fome?/ se o copo de todologia. Se você se interessou pelo projeto, entre
Depois do coffee break (e que coffe!), apresenta- água que eu bebo, faz falta a/ quem tem sede?/ em contato conosco pelo e-mail chaparodaviva@
mos o documentário “Ilha das Flores” e fizemos uma Mas apesar disso, eu continuo comendo e be- gmail.com
roda de conversa sobre desigualdades, responsabi- bendo.” também de Brecht. Há braços!
lidade social, papel da universidade na sociedade, A mística levou a comportamentos diversos, Sarah Barbosa Segalla
e uma forma de intervenção na comunidade de motivados pelas frases e pela desigualdade laten-
Gestão Roda Viva
modo a reduzir as disparidades entre as classes de te: alguns quiseram derrubar as divisórias dos dois
beber, cair e levantar?!
  O patolÓGICO agosto-setembro de 2009 11

H
á um trecho de uma música mui- momentos que achamos que estamos tran- cima de tudo desaparece e o “Não” esbofeteia
to interessante que muitos já es- qüilos, sem ninguém para te dizer o que fazer. teu rosto, você entra em crise e cai. E agora,
cutaram em festas, choppadas, Festa, alegria, diversão... um puro carnaval. como levantar? Como se reerguer? Como ter
ou mesmo, nos bares da vida, Porém, chega um momento que tudo se forcas pra olhar pra frente, pra visualizar que
porém poucos pararam pra pensar no que ela vai, da mesma forma que a festa e a alegria isto seria apenas uma fase, apenas uma barrei-
pode dizer. O trecho da musica diz incessan- se vão. E assim, agente cai. Uma situação até ra pra fazer crescer?
temente: Beber, Cair e Levantar/ Beber, Cair e então inesperada aparece em nossa vida, ou Como??
Levantar... aquele péssimo resultado, aquele plano tão E isso, nenhum dos cantores no palco e nem
A música, em si, é empolgante, tanto a me- esperado não vem, ou pior, quando você re- os compositores dizem... Eles, simplesmente,
lodia quanto a letra, tornando-a irreverente cebe aquele “não”, justamente da pessoa que não dizem como fazer pra levantar. Será que
e engraçada. Mas o que poucos pararam pra você menos esperava. Conseqüentemente, não sabem, ou apenas não se preocuparam
pensar é que essa simples frase denota uma isso acaba te levando a entrar em crise. Não com este pequeno detalhe?
filosofia de vida baseada em três fases: beber, há mais interesse em festas. O ânimo desapa- Buscando respostas, pode-se encontrar um
cair e levantar. Pra falar a verdade muitos de rece. A empolgação, a alegria de viver já per- texto bíblico muito interessante que oferece
nós aqui vivemos neste modo de vida (beber, dem significado. A crise vem e devassa tudo. uma alternativa para este desfecho:
cair e levantar), demonstrando nossos altos e E ae, o que fazer? Quem dera se esses altos “ o Senhor sustenta a todos os que CAEM e
baixos. e baixos da vida fossem iguais a este refrão: LEVANTA a todos os abatidos; Perto está o Se-
Seja por motivos diversos, sempre damos tão rápido que cai, agente logo levanta, como nhor de todos os que INVOCAM...” (Salmos 145)
um jeito, independente da situação, para es- se nada tivesse acontecido, sendo uma tran- Herberti Rosique XLII
friar a cabeça, dar um descanso às pressões sição tão simples, como uma divisão de uma
Grupo de Estudos
do dia-a-dia, dos problemas da faculdade, do simples vírgula. Mas não! Quando todo aquele
internato e da própria casa. Afinal, precisamos mar de rosa desaparece, quando toda aquela Bíblia: Verdades e Mitos
nos divertir. Esse seria, então, o primeiro mo- situação confortável, que te deixava a sensa-
mento, de extravasar. É justamente naqueles ção de que estava no controle, que estava por

algumas considerações sobre a Avaliação do


processo aprendizagem nas Escolas Médicas
N
o dia 22 de agosto, ocorreu na e coletivamente construído. Caso contrário a se cristaliza em valores muito frágeis. Urge a
UNICAMP um encontro sobre avaliação será sempre aquele monstro que to- construção de uma legitimidade do processo
avaliação do processo ensino- dos tecem, sobretudo pela cultura arraigada avaliativo, com foco na sociedade.
aprendizagem nas Escolas Médi- a este processo, fortemente relacionado com Pensar a avaliação no âmago de seu ser
cas, sob a coordenação da ABEM (Associação o classificar, o punir, o premiar, o submeter, o obriga a mudança do discurso pela prática.
Brasileira de Educação Médica) e apoio da controlar... Deixamos, com essa visão predomi- Não se limita a instrumentar, a correlacionar
FCM e do CAAL. Motivado por este encontro nante e distorcida sobre avaliação, de delegar aprendizagem eficaz com sucesso pessoal,
do qual fiz parte, resolvi traçar algumas linhas a esta atriz sua capacidade de construir redes mas criar a idéia de que aprender é auto-co-
sobre o tema. de solidariedade, bem como a viabilização da nhecimento, é conhecimento do mundo so-
Aos tópicos introdutórios do encontro, troca e da parceria, benesses tão necessárias cial. Avaliação não se assenta apenas ao corpo
fez-se um panorama geral sobre a situação ao trabalho em saúde. discente. Ela envolve desde os estudantes à
da avaliação nas Escolas Médicas (EM). O de- Não se deve esquecer que os processos Instituição, vai da hetero-avaliação (avaliação
ver de sermos sempre avaliados e a criação avaliativos são carregados de intencionalida- dos pacientes) à avaliação entre pares (a visão
de uma cultura que não se amedronta frente de: avaliamos para “certificar” um produto? Ou dos meus colegas de classe frente a mim, e
à avaliação fez contraste ante as perspectivas para angariar números? Ou pela preocupação vice versa). Precisa-se avaliar para a aprendi-
de avaliação preponderantes nas EM: méto- com a saúde do processo educativo? zagem, não simplesmente avaliar a aprendi-
dos avaliativos antigos, sem fidedignidade e Avaliação é diferente de exames. Os últi- zagem. Avaliar com responsabilidade social,
meramente cognitivos. A avaliação também mos apenas são um tipo de método que per- em que pese qualidade e controle sociais. Ser
tem algo de protagonismo: não só se limita a mite a aquisição de dados que, quando ana- um valor de destaque na agenda do profes-
um grupo de docentes, que julgam o que ou lisados, embasarão a tomada de posições da sor e de todos os demais atores do processo
não avaliar – se trata de uma esfera mais am- primeira. Uma avaliação de fato precisa ser ensino-aprendizagem.
pliada – em que a avaliação é papel não restri- devolutiva, o que mostra transparência no seu Em síntese, a avaliação de fato, segundo
to ao docente, mas com participação efetiva ato e preocupação com os estudantes. Precisa Milton Santos, é observada quando esta per-
do corpo discente, da avaliação entre pares e ser, sobretudo, mais de cunho interno do que mite que se festeje os erros. Em que o orgu-
da avaliação dos usuários, tanto nos hospitais- externo, pois nasce do desejo dos autores, lho que inflama muitas EM seja dirigido para a
escola quanto nos mais diversos campos de dos “caminhantes” nas veredas do processo criação não da melhor escola, mas da melhor
prática ao ensino médico dispensados. ensino-aprendizagem em compreender seus educação. Avaliação é diálogo, com escuta
Um fato interessante: com relação à edu- passos, suas encruzilhadas e, a partir delas, sensível, em busca de um bem comum, que
cação médica, a qualidade não é considerada tomar decisões e caminhar sempre, “a delan- ultrapasse o “nós” que o diálogo circunscreve.
um adjetivo facultativo, mas uma obrigação. te”, como os dom-quixotescos. Outro reforço Avaliação não é discurso de poder sobre os
Contudo, a palavra qualidade não é tão con- positivo para preceder avaliação interna da outros. Avaliação vai contra o “deixar fazer”,
sensual como se imagina – ela envolve confli- avaliação externa é o fato de que primeiro se dos indiferentes de Gramsci.
tos, intensões várias. É um campo de luta, de deve conhecer o interior, para ser conhecido P.S: Dica de leitura (mais especificamente sobre o esta-
feitura de escolhas, entre formar e instruir. A por fora. Uma avaliação baseada somente em do atual da avaliação no Ensino Médico, vide relatório da
avaliação só trará qualidade caso seja uma ba- resultados utilitaristas (número de aprovados ABEM no link abaixo): www.vai.la/hz4
lança em que pese um conceito solidificado no Exame de Residência Médica, por exemplo) Fabricio Donizete da Costa (XLV)
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