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Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo e Flávia Florentino Varella (orgs.). Anais do 3º.

Seminário
Nacional de História da Historiografia: aprender com a história? Ouro Preto: Edufop, 2009. ISBN: 978-85-
288-0061-6

INTERPRETAÇÕES SOBRE A CONTRACULTURA:


QUESTÕES ESPAÇO-TEMPORAIS

Leon Frederico Kaminski*

A temática da contracultura tem estado presente, embora, ainda discretamente,


cada vez mais no universo da pesquisa acadêmica no Brasil. Através do Banco de Teses da
Capes, podemos perceber o crescimento importante no número de defesas de mestrado e
doutorado que abordam de alguma forma o tema1. Por meio das informações constantes dessa
base de dados, visualizamos, além da forte concentração da produção em torno de objetos que
tratam do universo artístico e literário, uma pluralidade presente nos estudos, abarcando várias
esferas da nossa vida cotidiana. Entendemos que tal pluralidade deve-se ao impacto que a
contracultura teve nos diversos espaços da sociedade contemporânea, não se limitando à
esfera artístico-cultural. Corrobora para este entendimento a igual pulverização das áreas de
conhecimento que têm apresentado estudos sobre a contracultura. Espalhados por áreas
aparentemente improváveis, estas pesquisas revelam o próprio caráter multifacetário e
fragmentário deste fenômeno e desses movimentos que surgiram na década de 1960 e seu
impacto no pensamento e nas práticas sociais.

Em algumas das pesquisas, observamos novas interpretações concernentes às


esferas temporais, espaciais e políticas da contracultura, mas também a permanência de
perspectivas clássicas sobre o assunto.

Um dos primeiros estudos sobre o fenômeno da contracultura, e que teve bastante


importância para a divulgação de seu ideário no Brasil, foi publicado por Theodore Roszak
(1972) sob o título de The Makinf of a Counter Culture no ano de 1969 e traduzido para o
português três anos depois sob o título A contracultura: reflexões sobre a sociedade
tecnocrática e a oposição juvenil. Nesta obra, Roszak traça uma diferenciação entre as

1
*Graduado em Educação Física pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e graduando em História pela
Universidade Federal de Ouro Preto. Contato: leonkaminski@ymail.com.
No Banco de Teses da Capes constam os dados e os resumos das defesas realizadas a partir de 1987 até 2007. O
crescimento dessa produção pode ser observado no número de defesas: 1995 (1 defesa), 1996 (03), 1997 (03),
1998 (00), 1999 (04), 2000 (05), 2001 (08), 2002 (08), 2003 (08), 2004 (03), 2005 (12), 2006 (12) e 2007(19).
Cf. KAMINSKI, L. F. Arte e Pluralidade: uma análise da produção acadêmica brasileira sobre a contracultura.
In: Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo & Flávia Florentino Varella (org.). Caderno de
resumos & Anais do 2º. Seminário Nacional de História da Historiografia. A dinâmica do historicismo:
tradições historiográficas modernas. Ouro Preto:EdUFOP, 2008.

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manifestações contraculturais norte-americanas e européias. No velho mundo, a juventude


possuiria uma herança esquerdista mais arraigada que os fariam agir como “paladinos do
povo” contra a opressão da burguesia. Em razão disto, nas rebeliões juvenis de 1968, as
esperadas alianças com a classe trabalhadora não se concretizariam, tornando-os “uma
vanguarda sem seguidores” (ibid.:16). Do outro lado do Atlântico, os jovens norte-
americanos, não possuidores desse background radical, compreenderiam melhor que o grande
inimigo seria a tecnocracia – “produto amadurecido do progresso tecnológico e do ethos
científico” (ibid.:21) – que escaparia de todas as “categorias políticas tradicionais” (idem),
desta forma, eles elegeriam a política cotidiana para tentar alterar tal contexto, possibilitando
a emergência da luta pelos direitos das minorias.

Esta interpretação está bastante presente nas leituras brasileiras sobre o tema,
inclusive, guiando as análises sobre as nossas manifestações contraculturais. Leitura
obrigatória para os curiosos no assunto, O que é contracultura de Carlos Alberto Messeder
Pereira (1984), sem entrar especificamente no caso brasileiro, reforçaria a dualidade
Europa/EUA. Neste sentido, análises sobre a contracultura no Brasil têm ressaltado a
preponderância da influência norte-americana sobre a nossa (PATRIOTA, 2005; BARROS,
2001).

Mesmo sendo os EUA um importante pólo irradiador, Tiago Borges dos Santos
(2008:21) defende a perspectiva da contracultura como fenômeno desterritorializado, não
sendo construída somente neste país e depois difundida pelo resto do mundo,

pois os Estados Unidos apropriaram-se de fenômenos estrangeiros para a composição


de sua contracultura. Senão vejamos, a espiritualidade dos jovens contraculturais
voltou-se para religiões provenientes do oriente, como o zen budismo. A poesia
produzida pelos beats foi forjada a partir de obras da literatura inglesa e francesa .

O autor demonstra uma diversidade de influências internacionais em diferentes manifestações


contraculturais, inclusive, citando um estudo de acadêmicos da Sorbonne revelando o impacto
que os filmes de Glauber Rocha nas manifestações de maio de 1968 na França, assim como, a
presença do situacionismo internacional, do surrealismo, da boemia francesa do século XIX
no pensamento contracultural. Desta forma, para Tiago Borges dos Santos,

Conceber a história do fenômeno contracultural com sua gênese nos Estados Unidos,
e posterior difusão por outros países, implicaria em subentender que os EUA eram o

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único centro criativo da época, enquanto o restante das nações aguardava


passivamente a influência norte-americana (ibid.:22).

Sob esta ótica, o repertório de representações constituintes da contracultural foram


recontextualizados e ressignificados tanto nos EUA, como na Europa e no Brasil. Aqui, a
contracultura seria ativamente adaptada para articular o lastro internacional com as questões
do cotidiano da realidade brasileira.

Atrelado a esta questão espacial da contracultura, temos o problema de sua


temporalidade. Segundo algumas definições ela pode ser entendida como fenômeno datado
(das décadas de 1960/70), presente em todos os períodos da humanidade ou integrante de uma
tradição anti-moderna.

Criado pela imprensa norte-americana, nos anos 1960, para denominar os novos
movimentos culturais que surgiam na Europa e nos EUA, o termo “contracultura” ganhou
espaço e foi apropriado por esta juventude (PEREIRA, 1984).

Encontramos acepções semelhantes do verbete contracultura em três diferentes


dicionários, contudo, as definições possuem algumas distinções como os termos usados para
designar a contracultura: “subcultura”, “movimento cultural”, “arremedo de cultura” e
“prática cultural”. Abaixo seguem os verbetes presente em diferentes dicionários:

contracultura s.f. (1968) subcultura que rejeita e questiona valores e práticas da


cultura dominante da qual faz parte. (HOUAISS & VILLAR, 2001:820)

con.tra.cul.tu.ra s.f. movimento cultural que rejeita e questiona valores e práticas da


cultura dominante da qual faz parte (HOUAISS, 2004:187).

contracultura. [de contra- + cultura] S.f. Forma negativa de cultura com o fim de
combater os valores culturais vigentes; arremedo de cultura. (FERREIRA, 2004:538)

contracultura (con.tra.cul.tu.ra) sf. 1 Movimento cultural surgido na década de 1960,


que questionou os valores e práticas da sociedade ocidental e pregava a sua mudança.
2 Prática cultural que rejeita os valores culturais dominantes. (AULETE, 2004:203)

Dos quatro dicionários, somente o Caldas Aulete procura definir temporalmente a


contracultura, remetendo-a aos anos 1960. O Houaiss (2001) sinaliza o ano de 1968 como
referência do surgimento do termo. Desta forma, estes verbetes, ao não definirem
temporalmente a contracultura, abrem margem para a aplicação do termo a qualquer período
histórico.

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Luis Carlos Maciel (apud PEREIRA, 1984), um dos grandes divulgadores do


underground internacional no país, propõe que a palavra contracultura pode ser entendida de
duas formas: “como fenômeno histórico concreto e particular, cuja origem pode ser localizada
nos anos 60” (ibid.:14), ou seja, datado; ou “como uma postura (...) em face da cultura
convencional, de crítica radical” (idem), isto é, atemporal. Sob o primeiro entendimento, há
uma infinidade de estudos que realizam uma leitura da contracultura com um recorte temporal
definido, anos 1960 e 1970, ou, no mais, a partir daquela década até os dias atuais, em outros
movimentos que surgiram como, por exemplo, no punk. Assim, somente seria possível pensar
a contracultura historicamente tendo como marco o seu surgimento enquanto conceito.

O fechamento do contexto da contracultura aos anos 1960/70 pode acarretar na


não percepção das influências, rupturas e permanências oriundas dela em nossa sociedade
atual, em nosso cotidiano. Ou de forma política, desacreditar suas conquistas, como é
realizada pela revista Veja (no 2077, 2008:158), colocando a contracultura como uma
“peculiaridade dos anos 60”, onde os “remanescentes do movimento original são hoje
senhores de barba suja que cultivam uma aborrecida nostalgia dos anos 60”, e sua herança se
resume em “certa imagem publicitária da juventude”.

Sob o segundo entendimento, podem-se realizar leituras onde o termo pode ser
aplicado a qualquer contexto, independente do momento histórico. Este artifício foi usado
pela própria contracultura para afirmar-se no cenário político e cultural, quando, como mostra
Roszak (1972), os hippies buscaram referências no cristianismo primitivo. Encontramos este
argumento também em Timothy Leary (apud GOFMAN & JOY, 2007:10): “De fato, muitos
dos personagens que acabaram ocupando lugar de destaque nos livros escolares – de Sócrates
a Jesus, Galileu, Martinho Lutero e Mark Twain – eram contraculturais em sua época”. Nesta
perspectiva, não podemos deixar de citar a obra de Ken Goffman e Dan Joy (2007), onde
narram a contracultura através dos tempos, desde a Grécia antiga até os dias de hoje.

Historiograficamente, temos ainda, a tentativa de pensar a contracultura como


pertencente a uma tradição anti-moderna. Marcos Capellari (2007:229), defende que a
contracultura deva ser estudada na longa duração braudeliana, concebendo-a como “expressão
da insatisfação secular em relação à cultura dominante”, “uma antítese nascida no interior da
modernidade. (...) como um ‘duplo’ do discurso racional e das formas racionais de
organização social” (ibid.:13).

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Esta perspectiva é importante, na medida em que nos auxilia a perceber melhor as


raízes do pensamento contracultural das décadas de 1960/70 no interior de uma tradição de
crítica à modernidade; e a entendê-la como uma cultura política. Contudo, não podemos
submergir-nos na busca dessas origens, como lembra Marc Bloch (2001), e perdermos de
vista as especificidades da contracultura nacional. Preferimos, assim, apesar de seu lastro
histórico, considerar a contracultura existente somente a partir do surgimento de seu conceito,
formado a partir dos anos 1960; “uma palavra se torna um conceito se a totalidade das
circunstâncias político-sociais e empíricas, nas quais e para as quais essa palavra é usada, se
agrega a ela” (KOSELLECK, 2006:109). Evitando, desta forma, os anacronismos.

Em termos políticos, a contracultura, num sentido geral, emerge da insatisfação da


juventude com as formas tradicionais de fazer política, seja da direita ou da esquerda. Surge
no interior do imaginário da guerra fria e sua bipolarização comunismo/capitalismo (BIAGI,
1996). Como defendido por Roszak (1972), o inimigo passava a ser a tecnocracia presente
tanto nos países capitalistas, com destaque para a norte-americana, como nas comunistas. Para
Herbert Marcuse (1967), um dos principais teóricos da contracultura, o hiper-racionalismo
tecnocrático (e sua irracionalidade) e o desenvolvimento tecnológico dão uma sensação de
liberdade ao um corpo social mais amplo que se beneficiaria do progresso. As formas
prevalecentes de controle social passam a ser tecnológicos, “perece serem a própria
personificação da Razão para o bem de todos os grupos e interesses sociais – a tal ponto que
toda contradição parece irracional e toda ação contrária parece impossível” (ibid.:30). Desta
forma, o povo que seria anteriormente fermento para a transformação social transformar-se-ia
em ferramenta para a coesão social. A cultura é entendida em seu sentido amplo, permeando
todas as esferas da vida social e política, ferramenta de dominação e manutenção da ordem,
por isso contra, anti-cultura, contra a cultura dominante, contra o racionalismo que construíra
a bomba-atômica.

A questão do espaço da contracultura é importante para pensarmos a visão política


sobre o tema, pois ela era, normalmente, como despolitizada, inconseqüente, alienada e/ou
entreguista pela intelectualidade de esquerda. Roberto Schwarz (2007) descreve, por exemplo,
a contracultura no Brasil, no caso o tropicalismo, como estando em afinação com a moda
internacional, ou seja, um modismo que somente prejudicava a cultura nacional e a resistência
ao Estado autoritário. Contudo, a contracultura rejeitava a visão ortodoxa dessa mesma
esquerda. Por isso, buscou novas formas de fazer política, privilegiando o cotidiano, a ação

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individual, primeiramente deveria mudar-se a si mesmo. Para Heloisa Buarque de Hollanda


(1981:69), “a fé no marxismo como ideologia redentora é abalada pelo sentimento de que a
única realidade seria o poder”, instalando-se, desta forma, “a desconfiança em todas as formas
de autoritarismo”. É a falta de um programa, de um plano de tomada de poder e de coesão do
ideário, que seria uma das críticas da esquerda, como pode ser visto nas críticas de Augusto
Boal (2007) ao teatro Oficina e ao tropicalismo em 1968.

Embora estando presente na bibliografia da contracultura (ROSZAK, 1972;


MARCUSE, 1969, s/d) ou sobre ela (PEREIRA, 1984), a importância política da
contracultura somente tem sido valorizada pelo meio acadêmico recentemente. Deste ponto de
vista, é interessante a posição de Heloísa Starling que, em palestra recente, defendeu o modo
de vida contracultural no Brasil, nos anos 1960/70, como uma vertente radical de resistência
democrática, podendo ser caracterizada como um movimento de contestação e subversão da
ordem social2. João Pinto Furtado (2004:242) compreende que a crise dos modelos
coletivistas de ação política e a ascensão do individualismo político foram uma “resposta
historicamente dada e não necessariamente conservadora”. Este novo olhar também está
presente nos EUA. Miriam Adelman (2001:143) resenhou uma obra de Julie Sthefens 3 que
analisa as formas de fazer política dentro do radicalismo da contracultura norte-americana,
revelando que lá se interpreta como “despolitizada toda uma lógica contracultural” que teria
“na verdade uma visão diferente do político”.

Um dos termos utilizados para se referir e/ou depreciar a nossa contracultura é o


“desbunde”. Caetano Veloso (2008:460) esclarece-nos o uso desta palavra:

Esse nome que a contracultura ganhou entre nós – a bunda tornada ação com o prefixo
des a indicar antes soltura e desgoverno do que ausência – deixava o hip – quadril –
dos hippies na condição de metáfora leve demais. Desbundar significava deixar-se
levar pela bunda, tornando-se aqui como sinédoque para “corpo”.

A relação com o corpo tem valor fundamental para as novas formas de fazer política
promovidas pela contracultura. Edwar Castelo Branco (2005:13), estudando essa relação,
entende que

2
Palestra intitulada “Caia na estrada e perigas ver Ditadura Militar e contracultura no Brasil”, proferida no dia
08/10/2008, em Belo Horizonte, dentro da programação do seminário “1968: para não esquecer”, organizado
pelo Programa de Pós-graduação em História da UFMG.
3
A obra resenhada é STEPHENS, Julie. Anti-Disciplinary Protest: Sixties Radicalism and Postmodernism.
Cambridge: Cambridge University Press, 1998.

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Pode-se dizer que, se o modo tradicional de fazer política pressupunha uma exclusão
do corpo do cenário político, (...) o corpo-transbunde-libertário, requebrante,
desbundado, é um contraponto a este corpo militante. (...) este corpo transbunde se
oferece como o depositário, em si, de uma nova possibilidade de relação não
exatamente entre nós e eles, mas entre o eu e o mundo, o que implicava uma
politização do cotidiano que questionava as formas dominantes de pensamento em
suas dimensões microscópicas.

Mas, diferentemente da esquerda, os setores reacionários perceberam os perigos e


o caráter subversivo da contracultura – “o establishment contestador brasileiro pode não ter
sabido aquilatar a subversão contracultural, mas o establishment conservador soube”
(RISÉRIO, 2006:25) –, e tendeu a reprimir suas práticas. Esta repressão deu-se, além de
prisões de jovens por vagabundagem ou uso e posse de drogas, pela internação em
instituições psiquiátricas (RISÉRIO et al, 2006) e pela violência simbólica no corpo, como,
por exemplo, no corte da juba dos “cabeludos” – prática comum – como descrito por Caetano
Veloso (2008).

Entendemos, assim, que a contracultura deslocou a ação política da macro para a


micro-política, contestando todas formas de dominação no plano da ação pessoal, onde as
questões políticas, sociais e culturais são indissociáveis. Esta concepção provocou uma série
de mudanças nas relações culturais e sociais que podemos sentir ainda hoje. Em relação à
pesquisa acadêmica sobre o assunto, vislumbramos um crescimento tanto quantitativamente
quanto qualitativamente, problematizando teoricamente a contracultura, permitindo leituras
menos simplistas das significações sociais, políticas e culturais presentes no ideário e nas
práticas contraculturais e suas conseqüências em nossa sociedade.

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