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Sobre a Teologia Racional na Crítica da Razão Pura de I.

Kant.

Por: Juliano Gustavo Ozga.


Filosofia UFSM-UFOP.

Sobre a definição de teologia racional , Kant expõe o seguinte


argumento (B595): “Eis que o primeiro passo que damos fora do
mundo sensível nos obriga a iniciar os nossos conhecimentos pela
investigação do ser absolutamente necessário e derivar dos
conceitos deste ser os conceitos de todas as coisas, na medida em
que são simplesmente inteligíveis”.
Referente ao tópico de como a razão gera o ideal da razão
pura, o ideal da razão pura é definido como “ideia não somente in
concreto, mas in indivíduo, isto é, como coisa singular determinável
ou absolutamente determinada apenas pela ideia” (B596), sendo
que “as ideias, porém, estão ainda mais afastadas da realidade
objetiva do que as categorias, pois não se encontra nenhum
fenômeno em que possam ser representadas in concreto. Não
obstante, contêm uma certa integridade que nenhum conhecimento
empírico possível atinge e a razão só tem aí em vista uma unidade
sistemática de que tenta aproximar a unidade empírica possível,
sem nunca a alcançar por completa” (B595).
Sobre a três classes de inferências provacionais da existência
de Deus, defino-as como segue: 1. Prova Físico-Teológica: “partem
da experiência determinada e da natureza particular do mundo dos
sentidos, que ela dá a conhecer” (B619); 2. Prova Cosmológica: “ou
põem, empiricamente, como fundamento, apenas uma experiência
indeterminada, isto é, uma existência qualquer” (B619); 3. Prova
Ontológica: “abstraem de toda a experiência e concluem,
inteiramente a priori , a existência de uma causa suprema a partir
de simples conceitos” (B619).
Sobre a prova físico-teológica, ela pretende “ procurar se uma
experiência determinada, por conseguinte a das coisas do mundo
presente, se a sua natureza e ordenação, não fornecem um
fundamento de prova que nos possa chegar, com segurança à
convicção da existência de um ser supremo” (B649), porém, a
mesma é refutada devido ao fato de que “esta prova poderia, …,
demonstrar um arquiteto do mundo, sempre muito limitado pela
aptidão da matéria com que trabalha, mas não um criador do
mundo a cuja ideia tudo estaria submetido, o que não basta de
modo algum para o grande fim que temos em vista e que é o de
provar um Ser originário, plenamente suficiente” (B655).
A crítica kantiana é expressa pelo fato de abandonar-se o
argumento assentido sobre provas empíricas, e passar para a
contingência do mundo (inferida igualmente a partir de uma ordem
e finalidade); ou melhor, há uma transição da contingência para a
existência de um Ser absolutamente necessário, e do conceito de
necessidade absoluta da causa primeira para o conceito
universalmente determinado ou determinante da mesma
existência, ou seja, o de uma realidade que tudo compreende”
(B658).
Disso decorre que aprova físico-teológica é fundamentada na
prova ontológica, sendo aquela uma prova ontológica disfarçada,
possuindo seu propósito baseado mediante a razão pura, que desde
o início renegou referência à prova ontológica, e que submeteu tudo
a provas evidentes extraídas da experiência.
Para finalizar, a teologia transcendental conserva uma
importante utilidade negativa, descrita como “uma censura
contínua da nossa razão, sempre que esta se ocupe simplesmente
de ideias puras que, por isso mesmo, não permitem outra medida
além da transcendental” (B668).
Assim, do ponto de vista prático decorre que se “o pressuposto
de um Ser supremo e omnisuficiente como inteligência suprema,
afirmasse o seu valor sem contradição, seria da maior importância
a rigorosa determinação deste conceito de um ser necessário e
soberanamente real, e a abolição do que é contrário à realidade
suprema, do que pertence ao simples fenómeno (ao
antropomorfismo em sentido lato) e, ao mesmo tempo, a exclusão
de todas as determinações opostas quer sejam ateístas, deístas ou
antropomórficas; o que é bem fácil nem exame crítico desse
género, pois as mesmas provas, que mostram a incapacidade da
razão humana em relação à afirmação da existência de um tal ser
bastam necessariamente também para provar a vaidade de toda a
afirmação ao contrário” (B669).
Na sequencia Kant finaliza expondo o seguinte argumento: “O
Ser supremo mantém-se, pois, para o uso meramente especulativo
da razão, como um simples ideal, embora sem defeitos, um
conceito que remata e coroa todo o conhecimento humano; a
realidade objectiva desse conceito não pode, contudo, ser provada
por este meio, embora também não possa ser refutada”; bem como
“a necessidade, a infinidade, a unidade fora do mundo (não como
alma do mundo), a eternidade sem as condições do espaço, a
omnipotência, etc., são predicados puramente transcendentais e,
por isso, o conceito depurado desses predicados, de que toda a
teologia carece, só pode ser extraído da teologia transcendental”
(B670).
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:
KANT, Immanuel, Crítica da Razão Pura, Trad. Manuela Pinto
dos
Santos e Alexandre Fradique Morujão, Fundação Calouste
Gulbenkian,
Lisboa, 2a ed.

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